Proc.º n.º R. Co. 6/2010 SJC-CT
Sumário: Registo de aumento de capital social precedido do registo
de acção judicial relativa a deliberação anterior. Qualificação daquele
pedido de registo.
Recorrente: «M… – Produtos de Limpeza, Lda.» representada pelo
advogado M….
Recorrida: Conservatória dos Registos Predial e Comercial de ….
Relatório
1 – Em 7 de Janeiro de 2010, a coberto da ap. 2, foi introduzido na
Conservatória ora recorrida o pedido de registo do aumento de capital social da
sociedade «M… – Produtos de Limpeza, Lda».
O processo registal foi instruído com uma cópia da acta lavrada em 30 de
Dezembro de 2009 e com o respectivo pacto social actualizado.
2 – Da análise da situação jurídica vertida nas fichas respeitantes à referida
sociedade resulta, com pertinência para a decisão dos autos, o seguinte:
Em 13 de Outubro de 1992 foi registada a constituição da sociedade
comercial por quotas «M… – Produtos de Limpeza, Lda.» com o capital social de 3
000 000,00 Euros, dividido por três quotas de 1 000 000,00 Euros cada uma,
pertencentes a Manuel …, à sociedade «F… – Máquinas e Artigos para a Indústria
Alimentar» e à sociedade «M… – SGPS, Lda.»
1.
Em 27 de Dezembro de 2007, sob o depósito n.º 738, foi registada a
transmissão da quota do sócio Manuel … a favor da sociedade «M… – Gestão e
Investimentos, Lda.»
2.
1 Esta sociedade alterou a sua denominação para «M… – Gestão e Investimentos Imobiliários, Lda.» na sequência da inscrição de alteração do contrato social levada a efeito a coberto da apresentação n.º1, de 22 de Julho de 2002. Tal alteração, contudo, não se encontre reflectida na sociedade «M… – Produtos de Limpeza, Lda», de que aquela é sócia, gerando alguma dificuldade na análise do posterior registo de aumento de capital.
2 Sobre a referida quota incidia já um registo de penhora efectuado a coberto da ap. 02/20030828, no qual figuram como executado o referido Manuel … e como exequente Maria ….
Em 18 de Fevereiro de 2008 foi registada por depósito (n.º 25) a acção
judicial
3instaurada por Manuel … contra as sócias «F…» e «M…» na qual pede
que:
a) «ser a menção constante da acta “aprovada por unanimidade” declarada
não escrita e ser assim operada a sua rectificação para “por maioria” dos votos a
favor das referidas sócias e o voto contra do sócio Manuel …;
b) ser declarada a invalidade da deliberação da assembleia geral da
sociedade «M… - Produtos de Limpeza, Lda», datada de 27 de Dezembro de 2007,
que aprovou a aquisição da quota de 1 000 000,00 € do sócio Manuel … pela
sociedade M…, com fundamento em nulidade por violação dos bons costumes e
com fundamento na anulabilidade por violação do direito de informação e aos
elementos mínimos de informação; e
c) ser declarada a nulidade do cancelamento do registo de transmissão da
quota do sócio e ora autor Manuel … na ré «M… - Produtos de Limpeza, Lda» para
a sócia M…».
Este pedido veio a ser ampliado tendo sido reflectido nas tábuas mediante o
depósito n.º 780/20081116, cujos termos, que aqui damos por integralmente
reproduzidos, se podem sintetizar no seguinte:
No caso de não proceder o pedido formulado em a) da petição inicial, deve a
acta notarial ser declarada falsa na parte em que atesta que a proposta de
deliberação foi aprovada por unanimidade e que se procedeu à sua leitura e à
explicação do seu conteúdo aos intervenientes, devendo a assinatura do referido
sócio Manuel … e qualquer declaração favorável que lhe seja imputada ser
anulada nos termos do disposto no artigo 247.º do Código Civil e anulado, se não
mesmo considerado nulo ou inexistente, o negócio da cessão da quota e
determinado o cancelamento do registo da transmissão da quota do referido autor
para a Ré M… (dep. n.º 738/20071227).
Em 23 de Novembro de 2007 (dep. n.º 5 705), foi novamente registada penhora sobre a referida quota, figurando como exequentes as sociedades «M… – Gestão e Investimentos Imobiliários, Lda.», M… – Produtos de Limpeza, Lda.» e «F… – Máquinas e Artigos para Indústria Alimentar, Lda.».
3 Anteriormente tinha sido registado (dep. n.º 10/20080118) o procedimento cautelar de suspensão de deliberação social tomada em assembleia extraordinária de sócios da sociedade «M… - Produtos de Limpeza, Lda» que teve lugar no dia 27 de Dezembro de 2007 e que aprovou a aquisição da quota do sócio Manuel pela sociedade «M… – Gestão e Investimentos Imobiliários, Lda.», mas, a pedido do gerente Óscar …, foi cancelado em 2 de Março de 2010 (dep. n.º 31), com base em sentença judicial transitada em julgado.
Em 7 de Janeiro de 2010 foi efectuado como provisório por natureza, nos
termos da alínea b) do n.º 2 do artigo 64.º do CRC, o registo de aumento do
capital da sociedade «M… - Produtos de Limpeza, Lda» para 4 500 000,00 Euros,
sendo o reforço – 1 500 000,00 € – integralmente subscrito pela sócia «M… –
Gestão e Investimentos Imobiliários, Lda.», cuja qualificação agora se impugna.
3 – O despacho de qualificação proferido pela Senhora Conservadora é do
seguinte teor:
«O registo de aumento de capital é lavrado provisoriamente por natureza,
nos termos do artigo 64.º, n.º 2, al. b), do Código do Registo Comercial, por se
entender que o mesmo é incompatível com um eventual procedimento dos
registos de acção judicial constantes dos depósitos n.ºs 25/20080218 e
780/20081126.
4 – O aludido despacho não mereceu concordância do recorrente que,
inconformado, o impugna nos termos e com os fundamentos que aqui se dão por
integralmente reproduzidos, e dos quais destacamos, particularmente, os
seguintes:
4.1 – O registo do aumento do capital social deve ser efectuado em termos
definitivos dada a sua compatibilidade com os registos da acção judicial
efectuados mediante depósito (25/20080218 e 780/20081126).
4.2 – O que se peticiona na acção referida é a declaração de invalidade de
uma outra deliberação da assembleia geral da recorrente através da qual se
aprovou a aquisição da quota do sócio Manuel … para a sociedade M…, sendo que
a situação da segunda deliberação (a do aumento de capital) é, por assim dizer,
uma situação expectante pelo que lhe deverá ser eventualmente aplicável «o
conceito de validade (ou invalidade) suspensa ou pendente – cfr. Lobo Xavier, in
Anulação de Deliberação Social e Deliberações Conexas, 1998, pág. 537.
Ora, este eventual estado de pendência dos efeitos jurídicos da deliberação
de aumento do capital não postulará uma qualificação minguante do respectivo
pedido de registo.
4.3 – Com efeito, só perante a superveniência da sentença que anule a
deliberação que aprovou a aquisição da referida quota se poderá concluir pela
eventual invalidade de deliberação do aumento de capital.
Enquanto tal pendência não for resolvida a deliberação do aumento de
capital produz todos os seus efeitos, e só a eventual anulação judicial da
deliberação acima mencionada poderá vir a ter efeito retroactivo.
4.4 – O entendimento vertido na decisão que culminou com a elaboração do
registo como provisório por natureza conduziria, na prática, a uma verdadeira
suspensão dos efeitos da deliberação desse aumento enquanto estivesse pendente
a acção de anulação proposta, carecendo de fundamento legal.
Relembramos, adrede, que o pedido de suspensão da deliberação social foi
indeferido por sentença transitada em julgado.
Requer, por isso, que seja dado provimento ao recurso e que seja ordenada
a elaboração do aludido registo nos termos peticionados, isto é, com carácter de
definitividade.
5 – Os argumentos expendidos pela recorrente não foram de molde a
convencer a Senhora Conservadora a alterar a qualificação efectuada pelo que
procedeu à sustentação da decisão prolatada aduzindo os argumentos que aqui se
dão por integralmente reproduzidos e dos quais salientamos, em síntese, os
seguintes:
5.1 – Resulta das tábuas que se encontra registada uma acção judicial cujo
pedido consiste na «nulidade do cancelamento do registo de transmissão da quota
do sócio e ora autor Manuel … para a sócia M…», a declaração de anulação (ou
eventualmente nulidade ou inexistência) da mesma cessão de quotas e o
cancelamento do registo por depósito 738/20071227 (transmissão da quota do
referido autor para a Ré M…)».
5.2 – Consequentemente, o registo do aumento de capital peticionado só
como provisório por natureza poderá ser efectuado – alínea b) do n.º 2 do artigo
64.º do CRC, sendo que a opção por esta qualificação é, por assim dizer, um «mal
menor» já que permite a vigência do registo do aumento de capital enquanto a
querela judicial não for definitivamente resolvida.
6 – Expostas as posições em confronto cumpre apreciar visto que o
processo é o próprio, as partes têm legitimidade, o subscritor da petição
encontra-se devidamente mandatado
4, o recurso é tempestivo e inexistem questões prévias
ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito.
Assim, a posição deste Conselho vai expressa na seguinte
Deliberação
I – O registo da acção judicial efectuado por depósito não se
enquadra na facti species da alínea n) do n.º 1 do artigo 64.º do Código
do Registo Comercial
5.
4 O pedido de registo foi assinado pelo gerente Óscar … tendo a petição de recurso sido subscrita pelo advogado M…, nos termos da procuração, conferida pela sociedade ora recorrente, que se encontra junto aos autos.
5 Como se sabe, a reforma do registo comercial levada a efeito pelo Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março, introduziu significativas mudanças no Código do Registo Comercial das quais importa, para o caso, destacar a possibilidade de determinados factos terem ingresso nas tábuas mediante depósito – cfr. o que dispõe o n.º 1 do artigo 53.º do CRC.
O registo por depósito engloba também os registos de acções judiciais sempre que respeitem a factos que, por seu turno, estejam sujeitos a registo por depósito, por força do prescrito nos artigos 9.º e 53.º, n.º 5, alínea g), ambos do CRC.
Este registo, sem prejuízo dos regimes especiais de depósito da prestação de contas, consiste no mero arquivamento dos documentos que titulam os factos sujeitos a registo, em conformidade com o prescrito no n.º 3 do artigo 53.º do referido Código, os quais devem ser mencionados na respectiva ficha de registo bem como as menções gerais e especiais previstas, respectivamente, nos artigos 14.º e 15.º do Regulamento do Registo Comercial, consoante o caso concreto.
Por conseguinte, o qualificador não aplica, ao pedido de registo por depósito, o princípio da legalidade nos precisos termos em que se encontra plasmado no artigo 47.º do CRC, daí que não possa proceder à qualificação dos registos por depósito nem como provisórios por natureza ou por dúvidas, nem, naturalmente, recusar a sua elaboração por depósito.
O seu raio de acção, neste tipo de registo, é hoje muito redutor visto que se encontra limitado à rejeição do pedido nos casos previstos no n.º 2 do artigo 46.º do CRC e, mesmo assim, apenas nas situações em que os registos não sejam efectuados via online uma vez que estes, atenta a sua singularidade, escapam àquela filtragem.
Não se desconhece que este novo regime tem merecido críticas severas de alguns doutrinadores (vd., entre outros, MENEZES CORDEIRO, in Código das Sociedades Comerciais, 2009, págs. 637 e segs.) que consideram que do registo «deixou de derivar todo um conjunto de efeitos substantivos» e se operou uma quebra da harmonia sistemática até então indiscutível, e que, por isso, reivindicam uma reforma corajosa e clarificadora da insustentável situação actual.
II – Decorrentemente, os registos efectuados em momento posterior
ao registo da referida acção não podem ser qualificados como provisórios
por natureza nos termos do disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 64.º
do citado Código
6.
III – O registo da acção judicial que vise a rectificação da acta
notarial ou a declaração parcial da sua falsidade, e a declaração de
invalidade da deliberação da assembleia geral da sociedade «M… -
Produtos de Limpeza, Lda» acolhida naquele documento, bem como a
anulação da transmissão da quota do sócio Manuel … para a sociedade
«M… – Gestão e Investimentos Imobiliários, Lda.» e o cancelamento do
registo correspondente não interfere, para já
7, com a qualificação do
subsequente registo do aumento de capital
8, posteriormente deliberado
9 10.
Na mesmo senda também FERREIRA DE ALMEIDA, in O Registo comercial na reforma do direito das
sociedades de 2006, pág. 287, salienta que lhe parecem «negativas as alterações aplicáveis ao registo
de actos relativos a direitos sobre quotas. Julgo que esta (substancial) privatização do registo redunda em retrocesso».
6 Esta norma tem inerente uma qualificação do pedido, ou dito de outra forma, respeita a registos a efectuar ou efectuados por transcrição.
7 A propósito do registo de quotas este Conselho já se pronunciou no sentido de que há casos em que o registo por depósito não pode deixar de ser considerado na qualificação dos registos posteriormente efectuados por transcrição por força do princípio da legalidade consagrado no artigo 47.º do CRC – vd. a Deliberação tomada no proc.º R.Co.3/2008 SJC-CT.
Contudo, a situação configurada nos autos encontra-se aqui num estado de latência que só se estabiliza com a prolação da decisão final ao contrário do que aconteceu no caso apreciado na referida Deliberação.
De qualquer modo, tendo em consideração o princípio da publicidade inerente aos registos (sejam eles efectuados por depósito sejam mediante transcrição, já que a lei, neste tocante, não distingue), ninguém pode ignorar a existência do aludido registo da acção que paira, como a espada de Dâmocles, sob o registo do aumento de capital.
8 Como se sabe, nas sociedades por quotas, a regra supletiva é a da deliberação de alteração por maioria de três quartos dos votos correspondentes ao capital social ou por um número ainda mais elevado de votos exigido pelo contrato de sociedade, como flui do disposto nos artigos 85.º, no n.º 1, e 265.º, n.º 2, do CSC, na redacção introduzida pelo artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 357-A/2007, de 31 de Outubro.
No caso dos autos, verifica-se que a deliberação do aumento de capital social foi tomada por unanimidade dos sócios que, ao tempo, tinham essa qualidade.
No entanto, a procedência da acção terá como um dos seus efeitos alterar a posição societária verificada no momento da deliberação impugnada, isto é, coloca no lugar da sócia «M… – Gestão e
Investimentos Imobiliários, Lda.», enquanto titular de uma das quotas de 1 000 000,00 euros, o ex-sócio Manuel ….
9 O complexo e delicado problema do destino de deliberações sociais conexas com deliberação precedente anulável, tomadas em momento anterior ao da prolação da sentença anulatória da deliberação precedente foi exaurientemente tratado por LOBO XAVIER, in Anulação de Deliberação Social
e Deliberações Conexas, 1998.
No caso configurado nos autos, verificamos que se encontra registada uma acção judicial com os contornos atrás descritos (e que, por isso, nos dispensamos de os repetir), tendo sido peticionado o registo de aumento de capital da sociedade «M… - Produtos de Limpeza, Lda», deliberado em momento posterior ao do registo da aludida acção, o qual mereceu a qualificação (indevida, como já salientámos) de provisório por natureza em virtude da preexistência do registo da aludida acção judicial.
Tratando-se de deliberações nulas coloca-se, segundo LOBO XAVIER, in ob. cit., págs. 70 e segs., o problema de saber «se realmente a validade da segunda deliberação depende do anterior acto nulo, ou seja de uma situação jurídica que neste radica, e quais os exactos termos de tal dependência» já que «a nulidade opera desde logo, ipso iure ou ipsa vi legis, sem necessidade de decisão judicial, de modo que, no caso apontado, a sorte da deliberação tomada em primeiro lugar estava fixada, e já nenhuns efeitos se lhe podiam reconhecer, no momento em que se aprovou a deliberação subsequente.
A nulidade opera desde logo sem que haja lugar a colocar-se o problema da eficácia retroactiva da sentença que a declara. Como sentença proferida em acção de simples apreciação não pode dizer-se, em bom rigor, que a decisão que declare a nulidade tem efeito retroactivo.
No entanto, se a deliberação for meramente anulável, a situação em que se encontra a segunda deliberação, vale por dizer, a deliberação do aumento do capital social, é, de harmonia com os ensinamentos de LOBO XAVIER, in ob. cit., págs. 537 e segs. (aliás, invocados pela recorrente em abono da sua pretensão), «uma situação por assim dizer expectante – susceptível de se resolver quer pela invalidade quer pela validade – em que se encontra a deliberação». Para tal fim, será «adequado o conceito de validade (ou invalidade) suspensa ou pendente».
A esta luz, a sentença anulatória da deliberação primeiramente tomada não é causa de invalidade da outra, mas funciona tão-somente como evento resolutivo do estado de pendência que se verificava em relação à validade (ou invalidade) desta última.
Ora, sendo assim, ressalta também por via deste excurso que se revela ilegítima a qualificação minguante do registo do aumento de capital visto que se traduziria, na prática, na inviabilização da plena oponibilidade do facto – aumento de capital – a terceiros.
O registo definitivo do referido aumento de capital mostra-se compatível com o estado de pendência em que se encontram os efeitos jurídicos da respectiva deliberação, visto que só em face da decisão judicial que efectivamente anule a deliberação da assembleia geral e a transmissão da quota (ou declare a falsidade parcial da acta notarial) será possível concluir definitivamente pela invalidade da deliberação de aumento do capital.
A sentença é, por assim dizer, uma sentença constitutiva (vd. artigo 4.º, n.º 2, alínea c), do CPC): é ela que altera a ordem jurídica até aí existente, fundada na validade (resolúvel) da deliberação – cfr., sobre o ponto, PINTO FURTADO, in Deliberações dos Sócios, 1993, pág. 420.
A aludida pendência será, portanto, resolvida pela validade da deliberação do aumento de capital se a deliberação impugnada judicialmente não obtiver procedência (o que corresponde à estabilização dos efeitos que o acto, mesmo no caso de nulidade suspensa, já havia produzido) ou pela invalidade da deliberação de aumento do capital, na situação inversa.
Esta asserção encontra apoio na doutrina firmada por LOBO XAVIER, in Anulação …, págs. 540 e 541, do qual transcrevemos, por ilustrativo, um breve trecho: «Quando, dadas duas deliberações sucessivas, só em face da superveniência de sentença que anule a primeira é possível concluir definitivamente pela invalidade da segunda, diremos que esta invalidade se encontra pendente ou suspensa. Tal pendência será efectivamente resolvida no sentido da invalidade (anulabilidade ou nulidade, com a plenitude das suas consequências), no momento em que tem lugar a referida sentença; será resolvida no sentido da validade, logo que a anulação da deliberação primeiramente tomada se revele impossível (normalmente através do decurso do prazo sem que haja sido intentada a acção respectiva).
Neste sentido, veja-se também a conclusão (e respectiva fundamentação, aplicável in casu com as devidas adaptações) firmada no parecer do Conselho Técnico proferido no proc.º n.º R. Co. 27/2006DST-CT, publicado na Intranet, a propósito do registo do aumento de capital subsequente ao registo de acção com pedido de anulação da transformação de uma sociedade por quotas em anónima, anteriormente registada em termos definitivos.
Aí se referiu, inter alia, que no âmbito do recurso da decisão de qualificação do aumento de capital não tem que se antecipar a decisão a proferir após a sentença final que recair sobre a acção registada, já que essa tarefa incumbe em primeira linha ao conservador que vier a efectuar o registo da decisão judicial.
A referida acção, embora o seu registo tenha sido efectuado definitivamente dada a sua natureza, ainda não produziu os seus efeitos normais. Tal só virá a acontecer com a prolação da decisão final que defina e fixe a plenitude dos seus efeitos.
Consabidamente, esta decisão final tanto pode ser de procedência (total ou parcial) como de improcedência dos pedidos formulados pelo autor.
A estabilidade dos efeitos da deliberação impugnada só se verificará então nesse momento, sendo que na economia do parecer apenas nos compete realçar que, além de não ser lícito sindicar o mérito da decisão judicial, se nos afigura que não revela pertinência a antecipação de cenários hipotéticos em torno da procedência ou improcedência da aludida acção para projectar o futuro do presente registo de aumento de capital.
Acresce ainda, por outro lado, que a qualificação registal pertence em primeira instância ao conservador perante o qual vier a ser pedido o registo da decisão ou a promoção de outras diligências subsequentes, ou contemporâneas, que os interessados julguem conveniente desencadear em face do decidido em sede judicial.
Efectivamente, só em momento posterior, sendo deduzido recurso hierárquico com esse objecto e se assim o entender o presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, I.P. (cfr. o que dispõem
Em conformidade com o exposto, entendemos que o presente recurso
hierárquico merece provimento.
Lisboa, 21 de Outubro de 2010.
Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 21 de Outubro de
2010.
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora.
Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em
22.10.2010.
os artigos 92.º, n.º 1, e 102.º, n.º 1, do CRC), este Conselho se deverá pronunciar sobre a questão que então vier a ser concretamente impugnada.
10 Por fim, importa ainda salientar que diversa seria a solução para o caso se estivesse registada a suspensão da deliberação que aprovou o aumento do capital social e posteriormente fosse peticionado o registo desse mesmo aumento de capital.
No caso de ter sido pedida a suspensão da deliberação do aumento de capital aí sim o registo do respectivo aumento posteriormente peticionado é que não poderia deixar de ser recusado.
A este propósito LOBO XAVIER, in Separata da Revista de Direito e de Estudos Sociais, Ano XXII, n.ºs 1-2-3-4, págs. 261 e segs., «O Conteúdo da Providência de Suspensão de Deliberações Sociais», salienta que «registada a suspensão, deve o conservador recusar o registo da deliberação suspensa, se porventura não tiver sido ainda efectuado, a essa data, e for posteriormente requerido. É a doutrina harmónica com a ideia de que se encontra paralisada a eficácia do acto que foi objecto da providência, muito embora este fundamento de recusa não esteja compreendido na letra do artigo 243.º do CRPred, aplicável no domínio do registo comercial» (ao citado preceito corresponde actualmente, como é sabido, o artigo 48.º do Código do Registo Comercial que manteve a situação inalterada).