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ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

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Academic year: 2021

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Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT

E

STUDO DA

C

OMPETITIVIDADE

DA

I

NDÚSTRIA

B

RASILEIRA

_____________________________________________________________________________________________ COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DE PAPEL

Nota Técnica Setorial do Complexo Papel e Celulose

O conteúdo deste documento é de exclusiva responsabilidade da equipe técnica do Consórcio. Não representa a opinião do Governo Federal.

Campinas, 1993

Documento elaborado pelos consultores Maurício Mendonça Jorge (Pesquisador do CECON/IE/UNICAMP e professo da UFSCar), Sebastião José Martins Soares (Desenvolvimento Consultoria e Planejamento Ltda.) e Nilton de Almeida Naretto (IESP/FUNDAP).

A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos (FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo.

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CONSÓRCIO

Comissão de Coordenação

INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ

FUNDAÇÃO DOM CABRAL

FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR

Instituições Associadas

SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY

INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA

DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA

Instituições Subcontratadas

INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE ERNST & YOUNG, SOTEC

COOPERS & LYBRANDS BIEDERMANN, BORDASCH

Instituição Gestora

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EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA

Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE) João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI) Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU)

Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE) Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI) Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE) Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE)

João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE) Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI)

David Kupfer (UFRJ-IEI) Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI) Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC)

Contratado por:

Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT

COMISSÃO DE SUPERVISÃO

O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por:

João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES) Lourival Carmo Monaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC)

Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES) Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC)

Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT)

Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ)

Eduardo Gondin de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES) Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE)

Guilherme Emrich (BIOBRAS) Renato Kasinsky (COFAP)

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RESUMO EXECUTIVO ... 1

APRESENTAÇÃO ... 21

1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS... 24

1.1. Características Estruturais da Produção e dos Mercados ... 24

1.2. Padrões de Concorrência e Estratégias Empresariais ... 31

2. DIAGNÓSTICO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA... 40

2.1. Breve Histórico da Evolução da Indústria ... 40

2.2. Caracterização Geral da Indústria ... 44

2.3. Avaliação da Competitividade Atual da Indústria: Oportunidades e Obstáculos ... 57

3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS... 69

3.1. Políticas de Reestruturação Setorial ... 69

3.2. Políticas de Modernização Empresarial ... 73

3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos ... 76

4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE... 81

BIBLIOGRAFIA ... 82

RELAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS... 83

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RESUMO EXECUTIVO

1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

1.1. Características Estruturais da Produção e dos Mercados

O setor de papéis, pela multiplicidade de usos e mercados, divide-se em diversos segmentos: papel de imprensa (newsprint), papéis de imprimir e escrever, embalagens de papel e papelão, papéis para fins sanitários (tissue), cartões e cartolinas e papéis especiais. A produção mundial de papéis, em 1990, atingiu um total de 238 milhões de toneladas. Os EUA são os líderes em diversos segmentos. O Japão é o segundo produtor em diversos deles, dividindo a liderança com os EUA em papéis especiais. Os EUA e o Japão respondem individualmente por cerca de 30% e 12% da produção.

A exceção é o segmento de papel de imprensa, no qual o Canadá é líder mundial, respondendo por cerca de 28% do total produzido. Cabe destacar ainda a produção de Finlândia, Suécia e China. Mas vários países, mesmo não possuindo recursos florestais abundantes, notabilizam-se também como produtores. Pode-se citar Alemanha, França, Itália, Coréia e Taiwan.

O consumo mundial de papéis também se concentra nos países desenvolvidos. Os cinco maiores consumidores representam 61% e a penas os EUA são responsáveis por 33% do consumo mundial. O conjunto dos doze países maiores consumidores, que respondem por cerca de 77% do consumo, integra o bloco dos quatorze maiores produtores; apenas a Finlândia e a Suécia não são grandes consumidores.

Os principais fluxos de comércio internacional de papel refletem os desequilíbrios entre produção e consumo nas diversas regiões. Observa-se que: (i) os maiores fluxos em quantidade e em proporção ao total produzido correspondem aos papéis de imprensa, de imprimir e escrever, e de embalagens; (ii) o comércio de papéis sanitários (tissue) é restrito; (iii) o comércio entre países europeus envolve papéis de imprimir e escrever, embalagens e cartões, sendo que as exportações se concentram nos países escandinavos, Alemanha e Áustria e os maiores importadores são Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Holanda e Bélgica; (iv) a participação dos EUA e Canadá no mercado externo de embalagens é significativa, representando cerca de 36% do total exportado; (v) a forte integração comercial entre EUA e Canadá resulta em grande importação de papel de imprensa (newsprint) canadense pelos EUA, sendo que muitas compras têm caráter de negócios

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intra-firmas; (vi) a presença asiática no comércio exterior é pequena, em virtude do uso intenso de reciclagem.

TABELA 1

PRODUÇÃO, CONSUMO E COMÉRCIO EXTERIOR DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO*

(1990)

(em 1000 t) País Imprensa Imprimir & Embalagens Sanitários Cartões e Especiais e Total

Escrever Papelão (a) Diversas (b) Cartolinas Indefinidos

Produção Mundial 32809 67598 61664 23867 13318 24659 14521 238436 EUA 6001 20093 24466 7503 5264 2742 5450 71519 Japão 3479 9251 8275 1185 1366 3382 1148 28086 Canadá 9069 3599 2045 497 472 761 23 16466 China 400 2139 2000 4880 730 1700 1870 13719 Alemanha 1118 5009 2082 1309 828 1286 241 11873 Brasil 246 1289 1680 505 404 470 122 4716 Consumo Mundial 33275 66144 60808 23445 13167 23476 16515 236830 EUA 13044 22411 21972 6833 5352 2508 5612 77732 Japão 3787 8974 8407 1180 1366 3371 1133 28218 Alemanha 1922 5477 2935 1594 801 1591 240 14560 China 411 2132 2400 5012 730 1850 1894 14429 Inglaterra 1859 2978 2037 404 549 1156 290 9273 Brasil 424 875 1313 491 398 413 112 4026 Exportações 14685 18208 9666 4569 1243 5870 1929 56170 Canadá 7943 2526 732 324 64 166 10 11765 Finlândia 1202 4251 558 360 78 1035 214 7698 Suécia 1772 1303 1334 827 162 1315 62 6775 EUA 486 488 2699 974 31 260 268 5206 Alemanha 413 2207 455 529 110 337 41 4092 Brasil 10 484 367 24 10 62 5 962 Importações 15254 17437 8436 4189 1095 5120 3184 54714 EUA 7529 2806 206 304 119 26 430 11419 Alemanha 1217 2675 1308 814 83 642 40 6779 Inglaterra 1308 2153 908 369 128 680 150 5696 França 498 1622 707 216 133 665 59 3900 Itália 385 863 693 351 79 288 101 2760 Brasil 188 70 8 2 6 5 15 294

* Dados de cartões e cartolinas e especiais e indefinidos ajustados segundo reclassificação dos autores. (a) Kraftliner e papelão ondulado.

(b) Embalagens leves e de papel Kraft. Fonte: PPI/ANFPC.

Além disso, a maioria das empresas produtoras é especializada em um ou dois tipos de papel, sobretudo no caso de tissue, de modo que a concentração é ainda maior em cada segmento do que na média do setor. Não obstante, existem empresas diversificadas, que atuam em diferentes segmentos e nos setores de engenharia, bens de capital, química, produtos florestais e construção civil.

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1.2. Estratégias Empresariais de Sucesso

A indústria de papéis tem se caracterizado pela concentração produtiva, pela importância do investimento e respectivas condições de financiamento; pela perspectiva de mercados globalizados - com padronização de produtos, difusão de tecnologias e declínio do custo de transporte; pela evolução relativamente lenta do consumo, que corresponde ao crescimento vegetativo da população das maiores regiões consumidoras; e pela crescente exigência em termos de qualidade dos produtos e dos processos produtivos, vinculados à crescente preocupação ecológica e a alterações na legislação, com novos requisitos de proteção ao meio ambiente.

As empresas operantes no mercado internacional, confrontadas com estas condições, buscam ampliar seu poder de competição, através de estratégias produtivas de melhoria nas fibras utilizadas e nos produtos e equipamentos, e de estratégias de mercado, com integração de produtores na cadeia produtiva e concentração patrimonial.

As estratégias produtivas relativas a material fibroso estão relacionadas à busca de matéria-prima de melhor qualidade, menor custo e maior possibilidade de acesso à oferta. Verifica-se avanço no uso de fibras de base florestal replantada, de fibras recicladas e de mistura de fibras. As estratégias produtivas relacionadas a produtos e processos visam ampliar as economias de escala, via introdução de máquinas modernas e maiores, que incorporem novas tecnologias de processo. Assim, a apropriação do progresso técnico depende do fortalecimento da interação com o setor de bens de capital, com a engenharia de projeto e a automação industrial. Neste quadro, a capacitação tecnológica interna do produtor de papel ganha importância ainda maior na medida em que aumenta o rigor no controle de processo, com vistas a garantir qualidade e controle ambiental. As empresas líderes apresentam expressivos gastos em pesquisa e desenvolvimento. A introdução de inovações tecnológicas gera ganhos no rendimento em fibras (com a redução da perda de fibras ocorrida no processo de secagem) e em energia (com a busca de alternativas tais com a biomassa e o gás natural) e alcança também os produtos, definindo maior teor de carga e menor gramatura.

As estratégias de verticalização da indústria visam a integração para a frente na cadeia produtiva por parte dos produtores de celulose e se sobrepõem ao barateamento de custos, permitindo ao mesmo tempo agregar mais valor ao produto e aproximar-se do consumidor final. As estratégias de concentração do mercado de papel, em virtude da forte competição e do contínuo aumento de escalas produtivas conduzem a estratégias de incorporação, associação (joint-ventures) e fusões entre produtores, com concentração produtiva e patrimonial.

As unidades industriais menos competitivas são as que apresentam produção não integrada à celulose, ou que não atendem ao uso de reciclagem, e equipamentos que não permitem

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automação ou ganhos de escala. O processo de desativação de unidades produtivas obsoletas é lento, não apenas porque são investimentos em geral já amortizados, mas também porque mecanismos de política cambial e tarifária eventualmente podem lhes garantir uma sobrevida.

1.3. Principais Fatores de Competitividade

Os principais fatores de competitividade do setor de Papel podem ser classificados em: a) empresariais: potencial financeiro, atualização de equipamentos, capacitação gerencial, capacitação tecnológica e produtiva e adoção de métodos gerenciais modernos; b) estruturais, dos quais os mais importantes são: a verticalização, que no entanto deve ser relativizada no caso do uso intenso de reciclados; escalas adequadas de produção e padrões rigorosos de qualidade e controle ambiental; e c) fatores sistêmicos, destacando-se: a infra-estrutura física, em especial de energia; e os fatores macroeconômicos, entre eles o câmbio, a oferta de crédito de longo prazo, a incidência tributária e os serviços tecnológicos.

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2. DIAGNÓSTICO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA

2.1. Diagnóstico da Competitividade da Indústria Brasileira

A indústria brasileira de papel e celulose faturou US$ 5,1 bilhões em 1992, com produção de papel de 4.921 mil toneladas. O Brasil atua em todos os segmentos de papéis, com a seguinte distribuição da produção em 1992: imprensa 4,8%; imprimir 22,6%; escrever 5,8%; embalagens 45,2%; cartões e cartolinas 9%; sanitários 10,2% e especiais 2,4%. A produção deve crescer cerca de 13% devido à conclusão de projetos e implantação de novas máquinas. Os papéis exportados são basicamente do tipo commodities, (offset e kraftliner). Em 1992, quase 40% da produção e mais de 70% das exportações se fixaram nestes produtos. As vendas ao exterior cresceram bastante e atingiram 1.235 mil t, traduzindo uma estratégia agressiva das empresas brasileiras, defrontadas com a queda da venda interna de papéis e com o aumento da capacidade produtiva ocorrido.

O setor papeleiro apresenta concentração produtiva e heterogeneidade estrutural. No momento verifica-se uma redefinição estrutural nos diversos segmentos e mercados que deve elevar o grau de concentração, dada a entrada em operação dos grandes projetos gestados na década de oitenta, as aquisições de empresas e ao fato de que muitos produtores praticamente não investiram, sobretudo os de alcance regional e não-integrados à celulose. A produção de papel está concentrada nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina (85% do total em 1992). Os produtores baseados no Paraná e Santa Catarina são especializados nos segmentos de embalagens

kraft e papel de imprensa e de imprimir de celulose fibra longa; os instalados em São Paulo são

líderes nos segmentos de imprimir e escrever, cartões e cartolina e especiais, e fortes também em papel kraft - miolo; a maioria dos produtores de papéis sanitários, de porte menor e que atendem basicamente ao mercado interno, localiza-se em São Paulo, mas a concentração é menor. As maiores empresas são verticalizadas até a base florestal. As estrangeiras, altamente especializadas, operam em apenas um segmento; as nacionais têm atuação diversificada, com pelo menos duas linhas de produtos de papel e penetrando agora também na área da celulose de mercado.

Na busca da competitividade no setor, pode-se identificar cinco estratégias:

(a) redefinição dos produtos e mercados da empresa: buscou-se aumentar a participação no mercado externo através de: (i) modernização e aumento de escala no parque produtivo; (ii) integração para a frente (inclusive em celulose e papel); (iii) reestruturação patrimonial com fusões e aquisições de empresas. A estratégia as conduziu a formas mais agressivas de atuação comercial no exterior e à identificação de produtos de características padronizadas;

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(b) capacitação tecnológica, otimização e melhoria da qualidade do processo e dos produtos: visou elevar a produtividade e a conformidade às especificações de qualidade da clientela;

(c) desenvolvimento gerencial e de recursos humanos: as empresas caminharam no sentido da profissionalização dos quadros dirigentes e estruturas administrativas, da mudança de conceitos de gestão e sistemas decisórios, com vistas a obter um modelo de administração mais participativo. No período recente, ganharam força também mudanças no relacionamento com fornecedores e clientes;

(d) adequação do suprimento e redução de custos de insumos: procurou-se adequar a estrutura de custos, através da redução dos custos dos insumos florestais, energéticos e químicos, mão-de-obra e transportes;

(e) redefinição de engenharia financeira: dado o longo prazo de maturação e o elevado montante do investimento na indústria de papel, as empresas buscaram aprimorar sua capacitação para obter recursos em condições adequadas de custo e prazos. Embora o funding das empresas instaladas no Brasil tenha sido basicamente de recursos próprios e de crédito público (BNDES), a crescente participação dos setor privado interno (debêntures e mercado de ações) ou externo (eurobônus, commercial papers e empréstimos do IFC) tem exigido uma redefinição de suas estratégias de engenharia financeira.

2.2. Oportunidades e Obstáculos à Competitividade

Entre as principais oportunidades e obstáculos à competitividade no setor de Papel é fundamental destacar:

(a) a presença no mercado externo deve permanecer crescente, pois as empresas elevaram sua capacitação gerencial e comercial, e a formação do Mercosul é também fator de estímulo. Ainda é possível avançar muito na comercialização externa, em termos de inserção nos principais mercados, produto, logística de distribuição, financiamento e seguro. Embora a distância dos mercados e a infra-estrutura portuária no Brasil, que encarece o transporte, sejam importantes obstáculos. Outra estratégia é a de diversificação das linhas de produto, com a busca de produtos de maior rentabilidade e valor agregado. Uma oportunidade interessante envolveria o avanço na verticalização até a área de serviços e tratamento gráfico do papel;

(b) a qualidade do papel brasileiro em média é compatível com o padrão exigido pelos clientes internos e externos. Mesmo assim, a pesquisa de campo, realizada no Estudo, indica que apenas 23% dos produtos são de "última geração".

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(c) no relacionamento entre produtores de papel, gráficas e convertedores, e indústrias de bens de consumo pode-se ampliar a parceria no sentido de atender às crescentes exigências de qualidade. Ao longo da cadeia, pode crescer a interação entre usuários e produtores e a assistência em tecnologia e comercialização. Há, contudo, diversos médios e pequenos produtores, cuja falta de qualidade dos produtos para atender aos requisitos derivados do uso de máquinas mais modernas nos setores gráfico, editorial e de papelão ondulado pode significar sua exclusão do mercado.

(d) de acordo com a tendência mundial de reforço ao poder competitivo derivado das características do processo, seja nos equipamentos, na gestão da qualidade ou na organização da produção, intensifica-se a importância de processos que não agridam o meio ambiente e que busquem o aproveitamento de recicláveis. O estreitamento da relação comercial com os clientes/usuários supõe também evoluir nas etapas pós-produção (relacionamento comercial, logística de distribuição e assistência técnica). O dispêndio com assistência técnica das empresas brasileiras é ainda irrisório e o controle e a garantia de qualidade podem ser aperfeiçoados.

(e) a capacitação tecnológica da empresa brasileira no processo industrial parece ser menor do que a dos principais produtores mundiais de papel. As líderes estão relativamente adequadas aos parâmetros de controle ambiental, mas muitas empresas de porte médio e pequeno, instaladas em grandes centros urbanos, necessitam de investimentos para se enquadrar às diretrizes de tratamento de efluentes e proteção ao ambiente.

(f) a grande heterogeneidade do setor se traduz principalmente nas diferenças de atualização tecnológica dos equipamentos. Existe enorme variedade de máquinas de papel, com uma boa quantidade de máquinas de gerações antigas. O parque produtivo em funcionamento no país mostra uma desatualização frente ao padrão médio de idade e largura dos produtores escandinavos ou canadenses. O setor é, no Brasil, um dos mais desenvolvidos na automação industrial, dentre os de processo produtivo contínuo. Mesmo assim, a difusão do controle microeletrônico de processo é reduzida. A situação apresentada mostra a necessidade de atualização dos equipamentos. A presença no país das empresas líderes mundiais em bens de capital para papel, que fornecem máquinas de qualidade e tecnologia satisfatórias, embora a preços ainda superiores aos do mercado internacional, é um ponto importante que deve ser trabalhado nos próximos anos. Entre as máquinas de menor escala e produtividade, concentradas em médios e pequenos produtores, muitas estão em condições precárias e sem viabilidade para sofrerem reforma, e fatalmente serão sucateadas. Sua substituição é aspecto estrutural crucial para a evolução do setor.

(g) o desafio competitivo para o conjunto das empresas líderes, portanto, está em manter sua atualização tecnológica e melhorar em aspectos do processo produtivo, o que poderá conduzir à certificação pela ISO-9000 e talvez ao enquadramento no ecolabelling. No momento, diversas

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empresas se encontram em processo de certificação pela ISO-9000 e também estão sendo debatidos os parâmetros do certificado ambiental brasileiro. Cabe acelerar a definição deste certificado, sem o qual ficará vulnerabilizada a posição brasileira no mercado europeu. Para as menores empresas, cabe buscar a capacitação produtiva via atualização das máquinas de papel e equipamentos, que permita ganhos de escala e produtos de maior qualidade. Necessitam de investimentos em equipamentos de controle ambiental e na qualidade do insumo fibroso, mas a lucratividade atual parece não permitir. O quadro acima sinaliza um risco potencial para o setor, mormente quando se considera que os padrões de exigência dos clientes estão mais rigorosos. A indústria deve assim reforçar sua trajetória de melhoria de processo e produtos nos próximos anos. O caminho da melhoria da qualidade envolve desenvolvimento tecnológico dos insumos e da atividade florestal, dos equipamentos e das estruturas de atendimento ao cliente.

(h) a inserção externa e a modernização industrial exigem maior qualificação de recursos humanos, incluindo gerência e técnicos. A educação básica e o treinamento de mão-de-obra são hoje fatores determinantes de competividade. A qualificação nas atividades de comércio exterior e no conhecimento de automação industrial são cruciais. Na planta industrial parte dos trabalhadores está se tornando inadequada para atender às novas demandas. Na pesquisa de campo do projeto, no entanto, constatou-se que o treinamento ainda tem sido pouco priorizado. É preciso reforçar a atuação no aspecto do treinamento e requalificação profissional. A perspectiva é de que estes dispêndios cresçam no período 1993-1998. O setor de papel é intensivo em capital e está reduzindo o nível de emprego. O número de trabalhadores empregados hoje equivale ao de 1982 e a maior parte se concentra nas atividades florestais. O custo do trabalho tem certo peso, apesar do valor recebido pelo assalariado ser baixo, em virtude do ônus dos encargos sociais. A redução do emprego não tende a reduzir o custo da mão-de-obra pois deverá crescer o gasto com programas de treinamento de empregados;

(i) quantos aos insumos produtivos pode-se afirmar que:

- os produtores verticalizados no suprimento de insumos florestais arcam com a imobilização de capital em terras, a implantação e manutenção de florestas e a pesquisa neste campo, em particular no manejo florestal adequado às condições de solo e clima de cada área. Os produtores não-integrados, por sua vez, compram celulose no mercado, sendo o fornecimento interno realizado, atualmente, de forma normal e regular. A intensificação do uso de reciclados exigirá incentivo à coleta, que é limitada pelo grande volume de exportações de papel, mas favorecida pela concentração urbana e industrial. O fornecimento atual de aparas é problematizado pela flutuação de preços e irregularidade de oferta causados pelo tipo de coleta, tratamento e distribuição do insumo. Tais flutuações geram movimentos de importação, inclusive em regime de drawback;

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- nos insumos químicos e minerais, constatou-se dificuldades no suprimento de alguns deles, embora os problemas, atualmente, sejam bem menores em virtude do excesso de oferta mundial e da abertura do mercado, que aumentaram o poder competitivo dos importados e conduziram à redução dos preços e melhoria de qualidade do produto nacional;

- nos insumos energéticos, como a produção de papel é intensiva em energia (madeira, eletricidade, vapor, carvão óleo combustível e gás natural), a questão central é a redução no seu consumo. Para os produtores integrados existe a possibilidade de uso de vapor e madeira para alimentar as caldeiras e, no caso da presença de recursos hídricos, para autogeração de eletricidade. A qualidade do fornecimento de energia elétrica foi criticada pela ocorrência de variações de tensão que prejudicaram o processo produtivo. O baixo investimento realizado no setor elétrico traz a perspectiva de gargalos futuros de oferta. E o preço deve aumentar em função da necessidade de remuneração do capital das companhias geradoras e distribuidoras. Ademais, as mudanças bruscas dos preços relativos da energia elétrica, óleo combustível e gás natural prejudicam o planejamento da matriz de uso de energia;

(j) infra-estrutura de transportes (portos, ferrovias e rodovias): a logística de localização da planta industrial requer otimizar seu abastecimento e escoamento, através da proximidade da base florestal, das regiões urbanas (consumidores, mão-de-obra, fornecedores) e do acesso ao mercado exterior (sobretudo portos). Em qualquer caso, há deslocamento considerável de insumos e de produtos, seja madeira, pastas, aparas, papel ou artefatos.

(l) o custo e a disponibilidade de capital de longo prazo é o grande limite às estratégias de modernização das empresas do setor. A inserção no mercado de crédito internacional e o apoio financeiro do BNDES são componentes cruciais para a realização de qualquer projeto. Hoje, do ponto de vista dos empresários, os recursos do Banco são limitados em volume e mais caros do que o do concorrente externo. O acesso às fontes de financiamento no mercado internacional, entretanto, é crescente. A captação de recursos tem sido realizada por bancos e por empresas de porte e bom perfil financeiro e capacidade de exportação e tem se dirigido para o lançamento de eurobônus e também para o lançamemto de ADRs no mercado americano de capitais.

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3. PROPOSIÇÃO DE POLÍTICAS

3.1. Políticas de Reestruturação Setorial

A reestruturação da indústria de papel envolve redefinir produtos e mercados, melhorar qualidade e produtividade, e adequar o suprimento de insumos, o que exige de início o reforço financeiro das empresas.

(a) fortalecimento financeiro das empresas: na medida em que os recursos de crédito são limitados, as empresas líderes da indústria devem atrair o apoio financeiro de novos acionistas, inclusive investidores institucionais, grupos estrangeiros do setor e grupos nacionais de outros setores. Cabe considerar com particular atenção a integração ou ao menos parceria com produtores de celulose para mercado, em moldes similares ao da Bahia Sul. É preciso, de outro lado, alavancar o potencial financeiro das médias empresas para que efetivem seus processos de atualização tecnológica. Inicialmente, cabe apoiar iniciativas de reestruturação, fusão e demais formas de associação entre empresas que consolidem capacidades financeiras mais elevadas.

(b) redefinição de produtos e mercados: para as grandes empresas, especializadas em

commodities de exportação, o desafio competitivo é alcançar escalas mundiais de produção,

substituir máquinas antigas de papel por máquinas de última geração ou manter atualizadas as de penúltima geração. Pode-se pensar na integração para a frente, alcançando as etapas de conversão e distribuição. Tendo em vista que o mercado mundial não deverá apresentar grande dinamismo, cabe consolidar presença externa ainda mais agressiva na comercialização e no marketing, com vistas a ampliar oportunidades de negócios. Uma presença mais forte no Mercosul, em particular na Argentina, deve ser analisada.

Na distribuição externa, o setor estabeleceu recentemente com a CODESP um contrato de prestação de serviços no porto de Santos que deverá reduzir os custos de exportação. Devem ser estimulada outras iniciativas de ação conjunta, articuladas por interesses comuns e complementariedade de linhas de produtos. Entre elas a articulação entre os exportadores de

kraftliner que se utilizam dos portos do sul do país no sentido do planejamento do embarque de

cargas para facilitar a frequência de navios.

A estratégia de concentração em commodities é de certa forma reativa, pois busca a vantagem efetiva na escala de produção. Uma alternativa complementar, e que reduz o risco da concentração em commodities, é direcionar as máquinas menores e/ou as plantas não-integradas para linhas cuja escala ainda seja reduzida, mas que apresentem maior valor agregado e conteúdo tecnológico. A ausência de escala e a menor largura das máquinas podem ser compensadas pela

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flexibilidade para atender pequenos lotes de produção e pela possibilidade de upgrading das máquinas.

Apesar do menor investimento em relação às grandes plantas, é provável que a participação nos mercados de especialidades se fixe em empresas que disponham de requisitos de tecnologia e qualidade, o que, em geral, limita os pretendentes às empresas de médio e grande porte, estrangeiras ou nacionais aptas a realizar acordos externos ou inovação tecnológica interna. Para algumas empresas, seria uma forma de explorar a excessiva heterogeneidade dos equipamentos instalados.

Para as empresas de porte médio e pequeno apresenta-se o desafio competitivo urgente da modernização e a especialização em nichos de produtos mais promissores, pois observa-se equipamentos desatualizados e redução na demanda de suas linhas de produtos. A produção limitada quase que exclusivamente ao mercado interno e em produtos de menor valor agregado é marcante. Apesar da consciência a respeito, a reduzida geração própria de recursos tem impedido as iniciativas. Para superar a eventual não integração com a base florestal, pode-se enfatizar ainda o uso da reciclagem.

Em importantes produtos de vocação regional mas de demanda estável podem ser consolidadas parcerias tecnológicas e acordos de fornecimento com clientes. Seria interessante a fusão de médios produtores, evitando-se o alijamento daqueles impactados por sua obsolescência tecnológica. Muitos produtos de papel ingressaram numa curva descendente de ciclo de vida, dada sua substituição por outros tipos de papéis ou materiais. Para as empresas atingidas, a inércia fatalmente conduzirá à saída do mercado;

(c) adequação do suprimento de matérias-primas:

(1) fibra reciclada: o maior uso de reciclados é tendência mundial que deverá se repetir no país, não só pela eventual exigência do importador estrangeiro, mas por propiciar redução de desperdício e do lixo sólido, e garantir também menor necessidade de fibra virgem e assim de imobilização de capital. Apesar do país exportar proporção relevante de sua produção, muito ainda se pode fazer para aumentar a oferta de reciclados, sobretudo pela oportunidade oferecida pela concentração urbana do país.

O volume gerado pelas famílias é estimado em 500 mil t/ano e é precariamente coletado. A cultura da reciclagem deve fazer parte de programas escolares e campanhas institucionais para evitar o desperdício e estimular a reciclagem. A curto prazo, a oferta poderia ser estimulada com esquemas de reembolso financeiro. Em materiais tais como o metal, observam-se inúmeros exemplos de coleta via postos de troca em supermercados ou hospitais. Na coleta de papel,

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Curitiba é um exemplo: o papel usado é trocado por vale-transporte e cadernos, envolvendo a prefeitura, escolas e empresas de transporte.

A irregularidade no fornecimento de papel usado torna necessário reordenar a relação entre usuários e fornecedores, inclusive por meio de contratos de fornecimento de médio prazo e articulação de associações cooperativas de compra, estocagem, venda e processamento.

(2) economia florestal: é preciso preservar as áreas com cobertura florestal nativa remanescentes e desvincular definitivamente estas áreas da atividade de exploração florestal. Cabe realizar o planejamento da ocupação e de zoneamento econômico-ecológico do espaço, que defina, de forma coordenada com as diretrizes de reforma agrária, áreas propícias à agricultura, pecuária e silvicultura, onde poderiam ser definidos distritos florestais, que poderiam incluir regiões impraticáveis para agricultura, degradadas pela exploração econômica improdutiva ou já direcionadas para a exploração florestal. Para as áreas aptas à formação de florestas de produtores integrados e independentes haveria mecanismos de fomento florestal (crédito e seguro) e apoio dos setores industriais aos quais fornecessem, o que reduziria a imobilização do capital da indústria em terras.

(3) suprimento energético: é de enorme importância aumentar a autogeração, com aproveitamento da própria energia vapor gerada no processo e de recursos hídroelétricos e florestais próximos à fábrica. Cabe mapear todas essas alternativas, pois a dependência de energia comprada no mercado pode reduzir a competitividade do setor. O investimento privado em energia elétrica pode ser estimulado pelos mecanismos de troca de energia excedente auto-gerada por consumo equivalente em qualquer outro ponto do sistema, o que levaria ao aproveitamento máximo de pequenas quedas d'água.

3.2. Políticas de Modernização Empresarial

A competitividade da indústria supõe consolidar parâmetros competitivos similares aos dos líderes nacionais e mundiais. A cada empresa cabe definir, a partir de sua posição atual, um plano de otimização e redefinição produtiva. A heterogeneidade do setor não impede afirmar que todas as empresas podem avançar em atualização de equipamentos e processos, inserção em novos mercados, introdução de produtos, ganhos de escala, capacitação tecnológica e gerencial, e proteção ao meio ambiente.

(a) otimização e a atualização do processo produtivo:

(1) máquinas de papel e de conversão de papel: a otimização pode ser obtida por intermédio de três linhas de ações: substituição de máquinas por outras de maior escala;

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instrumentação das máquinas, em particular pela introdução de controles digitais de processo industrial; e melhoria do processo, pela redução do consumo de energia na depuração da polpa e da perda de fibras na formação e secagem da folha de papel; pela adequação da linha de produtos às características das máquinas;

(2) equipamentos para produção de celulose: aumento da escala de produção, proteção ambiental e fechamento do ciclo produtivo com sistema de recuperação de reagentes e rejeitos, utilização da energia-vapor gerada e tratamento de efluentes do processo;

(3) equipamentos e instalações para tratamento ambiental: sistema de condensação do licor negro e estações de tratamento de efluentes líquidos e sólidos;

(4) processamento de fibra reciclável: centrais de processamento mecânico (seleção e limpeza) e químico (destintamento e branqueamento) do papel usado. Neste último caso, o processo é poluidor e exige investimento razoável mas bem menor do que em uma planta de celulose, e por isso é acessível aos produtores não-integrados;

(5) racionalização das etapas de produção: a integração floresta/celulose é marcante, mas ainda pode-se aproximar à produção de celulose as máquinas de papel e de conversão, o que eliminaria o custo de secagem, transporte e nova dissolução da celulose.

(b) capacitação tecnológica em processo e produto: a difusão de tecnologia depende da relação com fornecedores de equipamentos e do aprendizado decorrente da operação de máquinas modernas. No caso das empresas líderes deve-se adicionar ao ganho de escala a vantagem competitiva na inovação em processos e produto. Cabe endogeneizar a capacidade de inovar, o que inclui aprofundar a interação com empresas de bens de capital e engenharia de projeto, mas também o aprendizado interno no projeto de equipamentos e na análise dos atuais, e a pesquisa de produtos, sobretudo os derivados de novas tecnologias. Isto só é alcançável com trabalho sistemático em pesquisa e desenvolvimento.

No desenvolvimento da capacidade técnica das empresas de médio e pequeno porte, urge atualizar equipamentos e substituir máquinas fora de padrões de produtividade. Cabe ativar a interação com produtores de máquinas de papel ou de equipamentos de controle de processo. No controle ambiental muito ainda pode ser realizado.

A capacitação tecnológica poderia ser dinamizada através de: programas de parcerias e associações entre produtores brasileiros; convênios de cooperação do setor com institutos e empresas internacionais; programas de intercâmbio técnico com outros países, inclusive visitas de professores e técnicos aposentados estrangeiros; maior interação com institutos de pesquisa nacionais, públicos e privados, e incentivo a carreiras de pesquisa na área; ação das universidades

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e do governo com vistas a divulgar técnicas de manejo silvicultural e prestar serviços de assistência técnica aos médios e pequenos produtores; centros de formação profissional de nível médio;

(c) desenvolvimento de recursos humanos: é necessário formar os recursos humanos que irão realizar e absorver as atividades de desenvolvimento tecnológico e seus resultados práticos. Em certos casos, cabe também avançar na profissionalização da gerência, com a adoção de métodos e sistemas de gestão mais eficazes para o desenvolvimento da empresa.

(d) melhoria da qualidade: o lançamento do PBQP estabeceleu o conceito e reforçou a conscientização dos empresários sobre a questão da qualidade e produtividade. O impacto está sendo sentido em diversos pontos da cadeia produtiva. A continuidade desta linha de ação exige disseminar o conceito "qualidade" (com campanhas institucionais mostrando exemplos bem sucedidos e trabalhos nas universidades) principalmente para os trabalhadores (integrados aos cursos do SENAI). Exige, ademais, o incentivo a programas de qualidade total, com vistas a melhor atender a clientes em qualidade, confiabilidade e prazos;

3.3. Políticas Relacionadas aos Fatores Sistêmicos

A competitividade sistêmica da economia brasileira depende de um contexto macroeconômico mais favorável e da recuperação e articulação do papel do Estado. A falta de confiança das empresas para retomar o investimento expressa a necessidade de transpor os obstáculos gerados pela instabilidade e estagnação econômica, para que se efetivem estratégias de modernização:

(a) estabilidade: cabe definir rumos estratégicos de longo prazo para o país, estabelecer posicionamento estável de política econômica, fortalecer as instituições políticas e normalizar as relações com a comunidade internacional. A estabilização de preços é crucial, mas o controle de preços não é recomendado por levar a subterfúgios e distorções. Pode-se impedir abusos de monopólios via abertura às importações e mecanismos de defesa do direito econômico. De todo modo, a convivência com índices elevados de inflação aumenta a relevância de uma gestão estável do câmbio e dos preços relativos da matriz energética (gás natural, óleo combustível e eletricidade);

(b) crescimento: a retomada do crescimento do mercado interno pode gerar ganhos de produtividade, alavancar a competitividade das exportações e assim a rentabilidade das empresas. O ganho de produtividade obtido com a reestruturação produtiva realizada até aqui não pode ser mensurado pois existe grande capacidade ociosa. O potencial do mercado interno é enorme e sua

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ampliação permitiria colher os frutos da reestruturação e prepararia nova fase no processo. Dificilmente poder-se-á prosseguir na modernização unicamente com base no mercado externo. A retomada interna associada a uma política de rendas teria impacto sistêmico, em termos de aumento de demanda, distribuição de renda e qualificação de mão-de-obra. O resultado seria o desenvolvimento do consumo de manufaturados, do nível de escolaridade e hábitos higiênicos da população, com impacto, respectivamente, sobre a demanda de embalagens e cartões, papéis de imprensa e de imprimir e escrever, e papéis sanitários.

A revisão total do papel estratégico do Estado na busca do desenvolvimento é um desafio a ser enfrentado pela sociedade e envolve o gasto público em infra-estrutura econômica e social, o apoio ao financiamento, a desoneração tributária e a regulação estatal:

(c) ação pública na área de infra-estrutura: as deficiências de infra-estrutura produtiva e social permitem concluir que o gasto público global deve ser realocado, mas não reduzido. O Estado poderia desenvolver um plano de qualidade total e busca de maior eficiência no gasto, tal como o setor privado. Reivindica-se o uso do imposto no sentido da criação da infra-estrutura e qualificação de recursos humanos necessários à expansão da indústria. Sugere-se um esforço de parceria do Estado com o setor privado, que permita a este realizar sua expansão e assim gerar mais impostos a médio prazo.

Na medida em que a indústria de papel e celulose interioriza o crescimento, pela necessidade de estar próxima à base florestal, ela torna o desenvolvimento espacialmente mais equilibrado. Parte do investimento das diversas esferas de governo deveria assim ser alocada na infra-estrutura portuária, rodoviária e ferroviária destinada à movimentação de seus insumos e produtos; e no fornecimento de energia, com a expansão da oferta de gás natural, eletricidade, pela conclusão dos projetos em São Paulo e Norte-Nordeste e energia térmica em Santa Catarina. O gasto destinado à educação básica, habitação, saúde e saneamento básico deve ser priorizado, sobretudo nas comunidades distantes em que se encontram os trabalhadores destas empresas.

Este esforço poderia estar conjugado aos planos de expansão da indústria e dimensionado com base na própria perspectiva de arrecadação de tributos e encargos sociais. A articulação poderia ser desenvolvida, a nível dos municípios, por convênios entre empresas e prefeituras para gestão administrativa de obras do município; a nível federal, através dos conselhos que deliberam sobre a aplicação dos recursos do FAT e FGTS, em particular pelos representantes dos trabalhadores.

O governo também poderia priorizar o apoio à inserção das empresas brasileiras nos mercados externos e à defesa de seus interesses junto aos organismos externos de comércio, ampliando a ação diplomática voltada para assuntos econômicos e de comércio exterior.

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Atualmente se faz necessário aferir a adequação das leis de outros países relativas a parâmetros para produtos importados e respectivos processos produtivos;

(d) apoio financeiro: a participação do Estado no apoio ao investimento é indispensável. A escassez de capital do setor torna prioritária a busca de condições de financiamento do sistema oficial. Este apoio, sempre constante no setor, pode ser alavancado com algumas medidas de reforço no sentido de: (i) caracterizar o Banco do Brasil como instituição de fomento às atividades agrárias, apto a realizar financiamento de capital de giro para a constituição e renovação de florestas, em particular para pequenos proprietários rurais; (ii) expandir a linha de crédito da FINEP para estudos e projetos de qualidade de processos e equipamentos; (iii) reativar mecanismos de financiamento à comercialização no exterior tais como o PROEX: cabe ampliar recursos e prazos, e estender o apoio até o crédito para instalação comercial no exterior; (iv) ampliar o financiamento à compra de equipamentos pela linha FINAME: cabe aumentar recursos e a proporção de participação no valor investido, principalmente quando estiver associado à proteção ambiental, reciclagem ou autogeração de energia; (v) ampliar o financiamento a projetos de expansão produtiva pelo BNDES: alterar prazos de carência de modo a coaduná-los não com a entrada em operação do projeto mas com o término de sua curva de aprendizagem, ou pelo menos definir menores parcelas iniciais de amortização; aumentar a participação no valor do investimento e reduzir o custo dos empréstimos; flexibilizar a exigência de disponibilidade conjunta de floresta, celulose e papel caso a empresa comprove parceria com produtores dos insumos ou suprimento de fibra reciclável; sensibilizar fundos de pensão para participação em projetos co-financiados; ampliar o

funding do BNDES com aumento da captação externa: específico para empresas exportadoras (com hedge cambial), permitiria conceder empréstimos nas condições praticadas no exterior;

(e) desoneração tributária: uma mudança na estrutura de arrecadação deve buscar três pontos: estabilidade das regras: as mudanças seguidas observadas no imposto de renda geram ônus na contratação de consultorias ou montagem de assessorias de planejamento tributário, sem contar o tempo gasto pela gerência para deliberar sobre estas questões; simplificação: envolve desburocratizar sistemas tributário, trabalhista e previdenciário e eliminar a quantidade excessiva de impostos. É preciso reduzir também a complexidade do cumprimento da obrigação fiscal nos tributos remanescentes. A simplificação da legislação pertinente facilitaria ao Estado fiscalizar o pagamento, enxugar a máquina de arrecadação e evitar ações judiciais contra si; fiscalização e punição à sonegação e ao contrabando: além de uma questão ética, é um aspecto competitivo, pois a competição é comparativa. A falta de fiscalização favorece os infratores e define concorrência predatória. É preciso ampliar a fiscalização, agilizar o processo judicial de cobrança de impostos atrasados e sonegados e aprovar lei que reforme legislação penal para punição de crimes fiscais.

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Na medida em que a fiscalização propicie maior arrecadação, tornar-se-ia possível manter o valor arrecadado e mesmo assim eliminar impostos e reduzir alíquotas sobre: (i) investimentos: as compras de equipamentos devem ser isentas de tributos. Tal distorção já foi parcialmente eliminada com a prorrogação da Lei 8.191, que suspendeu o IPI para bens de capital até o final de 1994. Cabe tornar permanentes estas medidas e ainda ampliá-las com a suspensão dos demais impostos (ICMS, PIS e COFINS); (ii) faturamento: o PIS/PASEP e o COFINS são tributos perniciosos pelo efeito cumulativo em cadeias produtivas longas. Sua eliminação, e simultâneo vínculo de outras receitas às respectivas aplicações, permitiria ajustar o sistema tributário à nova situação de abertura externa; (iii) linhas editoriais: a imunidade tributária nos papéis de imprensa, que já se aplica em relação ao produto importado, pode ser considerada para o produto nacional, pelos mesmos motivos que garantem esta última, o que elevaria seu poder competitivo frente à concorrência externa e seria mais abrangente do que a elevação de tarifas de importação;

(f) regulação estatal: poderia ser aperfeiçoada no sentido de: alterar a legislação

anti-dumping, pela abertura da denúncia a qualquer pessoa física ou jurídica; simplificar procedimentos

para autorização pelo Banco Central de investimento no exterior; definir a legislação sobre meio ambiente, no sentido de precisar de forma inequívoca os padrões de controle ambiental e os prazos necessários à sua adoção, e as competências das diversas esferas de governo no controle e fiscalização dessas normas; criar e regulamentar o selo ecológico nacional e promover ação diplomática no sentido de torná-lo aceito internacionalmente; atualizar o Código Florestal, em particular no sentido de distinguir norma aplicáveis às florestas naturais e às plantadas; simplificar aprovação e controle de projetos florestais e de fiscalização da extração e transporte da madeira; simplificar as exigências para a geração de energia fora do sistema Eletrobrás; regulamentar a Lei de Patentes.

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3.4. Proposições de Políticas para Papel - Quadro Sinótico

AGENTE/ATOR OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA

EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD 1. Reestruturação Industrial

Objetivo: Fortalecimento financeiro das empresas

Ações: - atrair investimentos de instituições

e empresas X X X

- estimular a integração de empresas X X X - alavancar o potencial financeiro de

empresas de porte médio X X X - apoiar iniciativas de reestruturação,

fusão e associação de empresas X X X

Objetivo: Redefinir produtos e mercados

Ações: - ampliar a escala de produção de

commodities X

- especializar em produtos de maior

valor agregado X

- aumentar a agressividade na

cialização e no marketing X

Objetivo: Adequar o suprimento de matérias-primas

Ações: - estimular o uso de fibras recicladas X X

- estimular a coleta seletiva de papel X X X - reordenar a relação

dores de aparas X X

- planejar a ocupação das áreas de

silvicultura X X X X

- definir zoneamentos para a ocupação

com florestas-"distritos florestais" X X X X X - definir mecanismos de fomento

florestal X X

- estimular a autogeração de energia X X - regulamentar a troca de energia

excedente X X X

2. Modernização Produtiva

Objetivo: Otimização e atualização do processo produtivo

Ações: - estimular a instalação de máquinas e

equipamentos modernos X - difundir técnicas de racionalização

do processo X X X X X

Objetivo: Capacitação tecnológica em processo e produto

Ações: - estimular programas de parceria e

associações com produtores X X X X - promover maior interação

universidade e institutos de pesquisa X X X - expandir o intercâmbio técnico com

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AGENTE/ATOR OBJETIVOS / AÇÕES DE POLÍTICA

EXEC LEG EMP TRAB ASSOC ACAD Objetivo: Desenvolvimento de recursos humanos

Ações: - avançar na profissionalização das

gerências X X X

- estimular o treinamento em todos

os níveis X X X

Objetivo: Melhoria da qualidade

Ações: - difudir o PBQP X X X X X

- disseminar o conceito de "qualidade" X X X X - incentivar programas de qualidade

total X X X X

3. Fatores Sistêmicos

Objetivo: Estabilizar a economia

Ação: - adotar uma política de estabilização

efetiva X X X

Objetivo: Retomada do crescimento

Ação: - adotar medidas que estimulem o

cimento da economia X X X X

Objetivo: Melhoria da infra-estrutura

Ações: - desregulamentar e modernizar os

portos X X

- estimular a auto-geração de energia X X - investir em infra-estrutura de

transportes X X

- investir em infra-estrutura urbana X X

Objetivo: Apoio financeiro ao setor

Ações: - financiar a atividade florestal X X - expandir o crédito público

(FINEP e BNDES) X X

Objetivo: Desoneração tributária

Ações: - rever os impostos incidentes sobre

o faturamento X X - manutenção das regras e simplificação X X

Objetivo: Regulação estatal

Ações: - alterar a legislação anti-dumping X X - definir a legislação de meio ambiente X X - simplificar a legislação nos casos

de autogeração de energia, projetos

florestais, investimentos no exterior X X Legendas: EXEC - Executivo

LEG - Legislativo

EMP - Empresas e Entidades Empresariais TRAB - Trabalhadores e Sindicatos

ASSOC - Associações Civis ACAD - Academia

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4. INDICADORES DE COMPETITIVIDADE

Esta seção procura apontar os principais indicadores de competitividade necessários para o monitoramento do setor de papel de mercado no Brasil. As sugestões estão condensadas no quadro abaixo:

Indicadores de Competitividade A) Desempenho

Evolução do Faturamento Líquido

Evolução do Faturamento por Tonelada de Produto Market-share no mercado interno e mundial

Evolução da Margem de Lucro

Capacidade de Endividamento da Empresa Evolução das Exportações e Importações B) Eficiência Produtiva

Produtividade Florestal (m3/ ha/ ano)/ Rendimento da Polpa (%) Eficiência Energética/ Consumo de Madeira (m3/ tonelada de celulose)

Automação da Planta Industrial/Velocidade por Gramatura da Máquina de Papel

Consumo de Reagentes Químicos por Tonelada de Celulose e Papel Utilização de Cloro no Branqueamento

Custo de produção/Escala de Produção

Nível de Perdas/Recuperação de Reagentes Químicos Vazão de Efluentes

Idade Tecnológica da Planta

Utilização de Papéis Reciclados: taxa de utilização e taxa de recuperação

C) Capacitação

Atividades Internas de P&D Tamanho da Equipe Composição da Equipe Despesas de Investimento

Tipos de Atividades Desenvolvidas Número de Contratos e Parcerias Gastos com Treinamento de Pessoal

Número de Horas de Treinamento por Níveis Hierárquicos Formas de Gestão Administrativa

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APRESENTAÇÃO

Esta Nota Técnica Setorial trata do setor de Papel, que integra o Complexo Celulose, Papel e Gráfica. Para a elaboração deste estudo foi entrevistado um grande número de pessoas, foram visitadas as principais empresas e parte de suas respectivas plantas industriais. Foram analisados relatórios reservados de empresas do setor e de firmas de consultoria especializadas, relatórios de atividades de empresas e a literaturatura especializada no setor. A Associação Nacional dos Fabricantes de Papel e Celulose (ANFPC), especialmente, propiciou total e irrestrito apoio à realização do estudo, fornecendo estatísticas e publicações setoriais, promovendo reuniões para discussão de aspectos específicos, mobilizando empresários e contribuindo com comentários nos seminários realizados ao longo do desenvolvimento dos trabalhos.

O primeiro capítulo desta Nota trata do cenário internacional, com ênfase na abordagem das características estruturais da produção e dos mercados, das estratégias exitosas adotadas pelos produtores e das tendências de desenvolvimento e de consolidação da competitividade desse segmento no exterior. Segue-se o diagnóstico da competitividade da indústria brasileira, que inclui breve histórico de sua evolução, a caracterização geral de setor e a avaliação detalhada da competitividade atual e das tendências observadas, identificando-se os obstáculos e as oportunidades que se apresentam para o desenvolvimento do segmento no Brasil. No terceiro capítulo são apresentadas proposições de políticas, abrangendo as referentes à reestruturação setorial, à modernização empresarial e às externalidades ao segmento aqui designadas como fatores sistêmicos. Indicadores de competitividade são expostos no último capítulo, apresentando-se um elenco de aspectos/características/índices cujo monitoramento permanente permitirá acompanhar e avaliar a evolução da competitividade do setor.

Segue-se abaixo uma relação dos entrevistados/consultados:

Instituições:

BNDES: Fábio Erber - Diretor

Zilda Maria Borsoi Coelho - Gerente

Terezinha Moreira - Depto. de Estratégias Setoriais e Empresariais

Angela Regina Pires Macedo - Gerente da Area de Operações Industriais

FINEP: Vitória Cerbino - Gerente de Projetos

IPEF: Walter Suiter

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Francisco Braz Saliba

José Carlos B. Rossi

Jerônimo J. G. Ruiz

Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Papel do Estado de São Paulo

Empresas:

Grupo Ripasa: Osmar Elias Zogbi - Diretor Superintendente

Mauro Gonçalves Marques - Diretor

Irton Cezarino - Assessoria Técnica

Marco Antônio de Freitas Stella - Superintendência de Produção

Luiz Carlos Morales - Gerência de Produção de Celulose e Utilidades

Grupo Votorantim: Raul Calfat - Diretor Superintendente

Gerson Abdelmassik Justo - Diretor Industrial

Adalberto Pecchio - Gerente do Departamento Técnico

Champion: Manuchehr Nikobin - Diretor Industrial

José Roberto Rocha Delbim - Gerente de Engenharia de Processo e Novos Projetos

Grupo Igaras: Ronald Seckelmann - Diretor Administrativo-Financeiro

Cia Suzano: Aureliano Ieno Costa - Diretor Administrativo

Luiz José Rosa - Gerente Geral de Planejamento e Controle Econômico

João Baptista do Nascimento - Gerente de Custo e Orçamento

Armando Luiz de Souza Mesquita - Gerente Geral do Centro de Pesquisa

Inpacel: José Carlos Gomes Carvalho - Diretor Presidente

Marco Antônio Dorigon - Superintendente

Grupo Klabin: Alfredo Cláudio Lobl - Diretor Geral

Jahir de Castro - Diretor de Comercialização

Eraldo Sul Brasil Merlin - Diretor de Operações

Marcello Pillar - Diretor

Mário Parmigiani Jenschke - Diretor Superintendente da Divisão de Embalagem

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Osni Marcos Bruzamolin - Eng. Florestal

Adamas: George Henry Grego - Diretor Superintendente

Papirus: Dante Ramezoni

Santa Terezinha: Rui Haidar

Pirahy: Luiz José de Sabóia e Silva - Diretor Presidente

São Roberto: Roberto Nicolau Jeha

Manikraft: Olímpyo da Silva Caseiro

Rigesa: p/ Raja Mulhim Bitar

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1. ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

1.1. Características Estruturais da Produção e dos Mercados

A produção do papel se dá pela transformação de uma mistura de material fibroso e cargas minerais, que definem características de coesão às fibras. O material fibroso pode ser celulósico ou não; no caso da celulose, usa-se fibra virgem (cuja produção pode estar integrada ou não) ou papel usado reciclável. Esta mistura é depurada e utilizada no preparo da massa lançada nas máquinas, em telas para a formação de folha de papel, segundo especificações precisas de gramatura, resistência, maciez e permeabilidade que se deseja do produto. O processo de formação ocorre em meio aquoso, necessário à consolidação da trama entre fibras, eventualmente com a introdução de materiais adesivos. Em seguida, as máquinas realizam o processo de secagem e ao final se obtém o papel na forma de bobinas. A escala de produção e a produtividade alcançada dependem das características de largura e velocidade operacional da máquina, que varia segundo o produto fabricado e a instrumentação de controle de processo disponível.

O papel pode ser comercializado na forma de bobinas ou então passar por máquinas apropriadas para aplicação de revestimento com materiais plásticos, adesivos etc. ou para corte em formatos específicos (folhas ou cutsize). Pode passar ainda por unidades convertedoras dos produtos em artefatos de papel e papelão.

Pela multiplicidade de usos e diversidade dos mercados é necessário analisar o setor de papéis e derivados em seus diversos segmentos. O mercado pode ser dividido em seis segmentos: papel de imprensa (newsprint), papéis de imprimir e escrever, embalagens de papel e papelão, papéis para fins sanitárioss (tissue), cartões e cartolinas e papéis especiais. A seguir apresenta-se uma sumária caracterização destes segmentos:

Papel de Imprensa: caracteriza-se por elevadas escalas de produção, em geral integradas com a produção de celulose de fibra longa e com a utilização crescente de material reciclado. É comum a utilização de processos mecânicos na produção da pasta celulósica, sobretudo a partir do desenvolvimento dos processos de alto rendimento;

Papéis de Imprimir e Escrever: a produção de papéis brancos se divide entre os revestidos e os não-revestidos. No primeiro caso, o seu uso está diretamente vinculado com as áreas de publicidade (mídia impressa) e editoração (revistas e livros), enquanto no segundo caso os principais produtos são os papéis para xerografia, formulários contínuos, livros e cadernos. Os papéis revestidos são mais sofisticados e caros que os não-revestidos, que em geral são padronizados. Neste segmento, embora predominem os processos químicos de produção de

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celulose, é crescente a concorrência dos processos mecânicos (em particular, para produção de LWC - Light Weight Coated);

Embalagens: inclui as embalagens de papel kraft (kraftliner) e diversos tipos de embalagens leves (envelopes, sacolas, sacos multifolhados e papéis para embalagens flexíveis). O papel kraft, de grande resistência ao tracionamento, é o principal insumo no processo de fabricação de sacos, usados sobretudo para cimento e fertilizantes, e de embalagens de papelão ondulado, caixas de papelão compostas por capa e miolo ondulado. A produção de kraftliner é caracterizada pela escala elevada, integração com a fabricação de celulose não-branqueada, predomínio do uso de processos químicos e de madeira de fibra longa. Cabe notar ainda a integração para frente, atuando as empresas também no processo de conversão em caixas de papelão, sacos, envelopes e outros artefatos de papel. A utilização de reciclados é crescente e a facilidade de coleta e manuseio de caixas de papelão usadas também estimula esta tendência;

Papéis para Fins Sanitários: possui basicamente três produtos: os papéis higiênicos, as toalhas e os lenços de papel. No segmento de tissue, a baixa relação entre valor agregado e peso é o principal fator de definição locacional/estrutural, e frequentemente orienta para a proximidade entre a fábrica e o mercado consumidor. Isso determina uma estrutura de oferta baseada em um maior número de plantas industriais, de menor escala, distribuídas geograficamente. A resultante é uma configuração na qual as fábricas apresentam escalas médias de produção (entre 30 mil e 60 mil t/ano). A maioria não é integrada à produção de celulose, de modo que o segmento é um dos maiores consumidores de celulose de mercado. Ademais, viabilizam-se empresas menores, que podem atender a mercados regionais. Por outro lado, as grandes empresas relativamente especializadas nestes produtos são muito internacionalizadas, dispondo de plantas em diversos países;

Cartões e Cartolinas: inclui basicamente os cartões revestidos (coated) para embalagens de bens de consumo, além de cartolinas e cartões para impressos. Existem três tipos de cartão para embalagem: cartão tipo cartucho duplex (duas camadas, com uma base suporte e camada revestida com aplicação de látex); cartão triplex (contém três camadas e recebe aplicação em duas delas); e cartão branco. A utilização da reciclagem é elevada, sendo que em algumas empresas a participação alcança até 100%. Em geral, a base ou miolo é feita de aparas. Os principais clientes na ponta final da cadeia produtiva são as grandes empresas de alimentos, produtos de higiene e limpeza e farmacêuticos. Este segmento, portanto, concorre com outros materiais para embalagem, como o plástico, vidro, isopor, aço e alumínio. Está também fortemente vinculado ao parque gráfico, que executa a impressão sobre o cartão revestido. A globalização é mais difícil neste segmento, em virtude da necessidade de parceria com a indústria gráfica e das especificações muito particulares dos clientes finais. Em função destes aspectos, as escalas de produção são relativamente menores;

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Papéis Especiais: inclui-se aqui uma diversidade de tipos de papéis de imprimir e escrever diferenciados e de papéis e papelões destinados a diversos usos industriais específicos e ao uso doméstico (filtros)1. Os principais produtos em papéis de imprimir e escrever especiais são os papéis de segurança (cheques, títulos, papel-moeda), os papéis decorativos e os papéis térmicos e copiativos (papel de fax, papel foto), que inclusive apresentam alta taxa de crescimento no seu consumo. Em papéis e papelões para fins industriais, os principais clientes são as indústrias de automóveis, calçados, fumo, materiais plásticos e elétricos. A principal característica comum às empresas aqui incluídas é a diferenciação e elevado valor agregado dos produtos, em geral baseados no domínio de tecnologias específicas. Os mercados de cada produto são relativamente reduzidos, o que define menores escalas de produção ou uma grande concentração da oferta em poucos produtores mundiais.

A produção mundial de papéis, que em 1990 atingiu um total de 238 milhões de toneladas, está muito concentrada num pequeno número de países produtores. Apenas os quinze maiores são responsáveis por um total de quase 80% da produção. Os EUA e o Japão respondem individualmente por cerca de 30% e 12% do mercado (Tabela 1).

Quando se examina a produção por segmentos verifica-se que a concentração é um pouco maior do que a média em imprimir e escrever e menor em cartões e cartolinas. Os EUA são os líderes em diversos segmentos. O Japão é o segundo produtor em diversos deles, dividindo a liderança com os EUA em papéis especiais.

A exceção é o segmento de papel de imprensa, no qual o Canadá é líder mundial, respondendo por cerca de 28% do total produzido. Cabe destacar ainda a produção de papel da Finlândia, Suécia e China, respectivamente concentradas em papéis de imprimir e escrever, imprensa e embalagens. Estes países apresentam forte base florestal. Vários países cujo mercado interno é grande absorvedor de papéis notabilizam-se também como fortes produtores, mesmo não possuindo recursos florestais abundantes. Pode-se citar Alemanha, França, Itália, Coréia e Taiwan.

O consumo mundial de papéis de todos os tipos também apresenta uma elevada concentração nos países desenvolvidos. Se considerarmos os cinco maiores consumidores, a participação chega a 61%. Apenas os EUA são responsáveis por 33% do consumo mundial. É interessante registrar que os doze países maiores consumidores, que respondem por cerca de 77% do total consumido, constituem um conjunto que integra o bloco dos quatorze maiores produtores; apenas a Finlândia e a Suécia, presentes neste bloco, não são grandes consumidores.

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TABELA 1

PRODUÇÃO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO* (1990)

(em 1000 t) País Imprensa Imprimir & Embalagens Sanitários Cartões e Especiais e Total

Escrever Papelão (a) Diversas (b) Cartolinas Indefinidos

Eua 6001 20093 24466 7503 5264 2742 5450 71519 Japão 3479 9251 8275 1185 1366 3382 1148 28086 Canadá 9069 3599 2045 497 472 761 23 16466 China 400 2139 2000 4880 730 1700 1870 13719 Alemanha 1118 5009 2082 1309 828 1286 241 11873 Finlândia 1429 4682 708 528 167 1172 272 8958 Suécia 2273 1655 1777 861 283 1443 134 8426 França 422 2773 2192 445 284 639 294 7049 Itália 233 2247 1314 373 248 1011 175 5601 Inglaterra 696 1387 1303 101 440 687 210 4824 Brasil 246 1289 1680 505 404 470 122 4716 Coréia 522 966 1384 247 196 888 321 4524 Espanha 173 833 1305 150 244 403 337 3445 Taiwan 83 498 1672 81 141 472 390 3337 Áustria 333 1377 507 201 98 385 31 2932 Leste Europeu (c) 2072 2454 2874 1843 258 3364 2470 15335 Demais da Europa Ocidental 1658 2555 1773 351 459 1329 556 8681 Demais da América Latina 735 1185 1669 812 815 553 157 5926 Demais da Ásia/Oceania 1451 2982 1715 1706 457 1632 317 10260 África 416 624 923 289 164 340 3 2759 TOTAL 32809 67598 61664 23867 13318 24659 14521 238436

* Dados de embalagens, cartões e cartolinas e especiais e indefinidos ajustados segundo reclassificação dos autores. (a) Kraftliner e papelão ondulado.

(b) Embalagens leves e de papel Kraft.

(c) Leste Europeu inclui Alemanha Oriental e URSS. Fonte: PPI/ANFPC.

Por outro lado, verifica-se que a participação do consumo de cada tipo de papel no consumo total do país converge para uma mesma composição. Em geral, o consumo de papéis para imprimir e escrever e de imprensa tende a se situar em algo próximo a 40% do total; os papéis de embalagem, inclusive cartões, representam cerca de 45%, e os sanitários e especiais menos de 10% cada. É evidente que existem diferenças. A mais notável parece ser o maior consumo de papéis de imprimir e escrever em relação às embalagens em países como Alemanha, Inglaterra e Japão (Tabela 2).

(32)

TABELA 2

CONSUMO MUNDIAL DE PAPEL POR PAÍS E SEGMENTO* (1990)

(Em 1000 t) País Imprensa Imprimir & Embalagens Sanitários Cartões e Especiais e Total

Escrever Papelão (a) Diversas (b) Cartolinas Indefinidos

Eua 13044 22411 21972 6833 5352 2508 5612 77732 Japão 3787 8974 8407 1180 1366 3371 1133 28218 Alemanha 1922 5477 2935 1594 801 1591 240 14560 China 411 2132 2400 5012 730 1850 1894 14429 Inglaterra 1859 2978 2037 404 549 1156 290 9273 França 788 3297 2464 481 372 1078 274 8754 Itália 608 2544 1976 533 141 964 188 6954 Canadá 1146 1574 1393 298 442 838 33 5724 Espanha 410 1305 1487 120 267 337 415 4341 Coréia 548 925 1437 247 194 521 438 4310 Brasil 424 875 1313 491 398 413 112 4026 Taiwan 304 497 1506 120 163 389 341 3320 Holanda 483 1017 552 219 180 582 17 3050 México 425 582 929 332 327 296 91 2982 Austrália 654 818 750 202 177 150 50 2801 Leste Europeu (c) 1835 2473 2302 1628 198 3511 2736 14683 Demais da Europa Ocidental 2047 3505 2778 770 659 1272 699 11730 Demais da América Latina 479 976 1075 687 376 296 341 4260 Demais da Ásia/Oceania 1739 2880 2050 1813 297 1896 1442 12117 África 362 904 1045 481 178 457 139 3566 TOTAL 33275 66144 60808 23445 13167 23476 16515 236830

* Dados de embalagens, cartões e cartolinas e especiais e indefinidos ajustados segundo reclassificação dos autores. (a) Kraftliner e papelão ondulado.

(b) Embalagens leves e de papel Kraft.

(c) Leste Europeu inclui Alemanha Oriental e URSS. Fonte: PPI/ANFPC.

Os fluxos de comércio internacional de papel refletem naturalmente os desequilíbrios entre produção e consumo nos diversos países e regiões. As Tabelas 3 e 4 apresentam os dados de 1990 relativos às importações e exportações dos principais países atuantes nestes mercados e os fluxos mais importantes de produtos. Algumas observações podem ser feitas:

(i) os maiores fluxos em quantidade e em proporção ao total produzido correspondem aos papéis de imprensa e de imprimir e escrever, existindo também intercâmbio significativo de embalagens;

(ii) o restrito comércio de papéis sanitários, exceto em alguns países europeus pela proximidade entre produtores e consumidores: a produção de sanitários representou 6% do total do setor, mas as vendas externas apenas 2%;

(iii) o fluxo de comércio entre países integrantes da CEE envolve sobretudo papéis de imprimir e escrever, embalagens e cartões. As exportações estão concentradas nos países escandinavos, Alemanha e Áustria. Os maiores importadores são Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Holanda e Bélgica. Em imprimir e escrever ocorre na Europa fenômeno interessante: as importações e exportações agregadas são altas pois existe tendência de crescente especialização

Referências

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