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DISPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM EROSÕES E IMPACTOS SANITÁRIO-AMBIENTAIS EM BAURU-SP (BRASIL) Cavaguti Nariaqui*, Hamada Jorge

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Academic year: 2021

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DISPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM EROSÕES E IMPACTOS SANITÁRIO-AMBIENTAIS EM BAURU-SP (BRASIL)

Cavaguti Nariaqui*, Hamada Jorge

FET/UNESP - CAMPUS DA UNESP - CEP 17.033-360 - BAURU-SP - BRASIL

RESUMO

Durante décadas, a maioria dos municípios brasileiros, tem feito, sem nenhum tipo de tratamento, a disposição final dos resíduos sólidos urbanos (lixo doméstico e hospitalar) em erosões, acreditando estar resolvendo dois problemas: o do lixo e o da erosão. Bauru, cidade localizada na parte central do Estado de São Paulo, com área urbana de 120,26 km2 ocupada por 300.000 habitantes que produzem aproximadamente 150 t/dia de lixo doméstico, também seguiu este procedimento, especialmente à partir de 1987, gerando as chamadas “ boçorocas-lixões” , que provocam graves impactos sanitário-ambientais, reduzindo significativamente a qualidade de vida. O trabalho descreve o procedimento; mostra a inadequabilidade da sistemática e analisa as graves consequências degradacionais do meio ambiente, alertando o Poder Público e as Administrações Municipais dos inúmeros e graves problemas gerados ao meio ambiente e à comunidade por este tipo de procedimento, que continua sendo utilizado em centenas de municípios brasileiros.

Palabras clave: Disposição de lixo urbano, lixo em erosão, boçoroca-lixão, impacto ambiental, impacto sanitário.

INTRODUÇÃO

Bauru, cidade localizada no centro do Estado de São Paulo, conta com 300.000 habitantes em sua área urbana (de 120,26 km2), produz aproximadamente 150 ton/dia de resíduos sólidos urbanos (lixo doméstico e hospitalar) que, sem receber qualquer tipo de tratamento, era disposta em erosões de solo, dando origem as chamadas “ boçorocas-lixões” , acreditando estarem resolvendo os dois principais problemas ambientais da cidade: o do lixo e o da erosão. Pesquisa de campo realizada nas áreas das principais “ boçorocas-lixões” existentes em Bauru-SP, demonstram que este tipo de procedimento constitue um verdadeiro crime ecológico.

OBJETIVOS

1. Descrever o rpocedimento; 2. Analisar e evidenciar os graves impactos sanitário-ambientais consequentes; 3. Alertar o Poder Público e as Administrações Municipais à respeito dos inúmeros problemas gerados ao meio ambiente e à comunidade por este tipo de procedimento

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A. Acompanhamento da coleta, transporte e disposição final do lixo urbano em erosões; B. Visita técnica aos órgãos municipais responsáveis pelo manejo e disposição final do lixo urbano; C. Localização e

levantamen-to levantamen-topográfico das principais “ boçorocas-lixões” de Bauru; D. Pesquisa de campo nas boçorocas-lixões para observações “ in loco” e execusão de sondagens; E. Cubagem do lixo em cada “ boçoroca-lixão” e, coleta de amostras representativas do solo, da água e do lixo; F. Análises laboratoriais; G. Análise dos resultados e conclusões gerais.

RESULTADOS

1. O procedimento adotado é o seguinte: todo lixo urbano (média de 150 ton/dia) é coletado por caminhões compactadores, sendo transportado e descarrregado à montante da erosão. Imediatamente, dezenas de pessoas (os catadores de lixo) sem qualquer tipo de proteção (uniformes, botas, luvas ou máscaras), em condições degradantes, vasculham esse lixo à procura dos chamados recicláveis (papéis, plásticos, vidros e metais), separando-os e comercializando-os para sua sobrevivência, constituindo um grave problema social. Os recicláveis separados constituem aproximadamente 10% (em peso) do lixo inicial. Se lembrarmos que, neste lixo urbano temos resíduos sólidos gerados por serviços de saúde, fica evidente que, além das condições subhumanas de trabalho, ocorre a constante ameaça à saúde. Após ação dos catadores, o restante 90% é empurrado para o interior da erosão com trator-esteira. Quando o volume de lixo assim lançado preenche a erosão, é coberto com fina camada de solo (inferior à 30 cm), gerando a “ boçoroca-lixão” , cuja superfície apresenta um aparente aspecto visual bom. O “ front” deste aterro recebe (ou não) uma pequena cobertura de solo;

2. Em Bauru, este procedimento foi usado desde o início do século formando várias “ boçorocas-lixões” . Somente à partir de 1987 (até meados de 1993), foi “ enterrado” nas erosões, um volume de lixo urbano calculado em 227.030 toneladas, constituindo as seguintes “ boçorocas-lixões” : Erosão 1 = Jardim Paulista, com 44.233 t.; Erosão 9 = CESP, com 102.384 t.; Erosão 11 = Posada da Esperança I e II, com 22.472 t.; Erosão 12 = Jardim Célia, com 20.060 t e diversas outras (como o Mary Dota e da Célio Daibém) com 37;901 t. (FIGURA 1);

3. Este tipo de procedimento, além de não resolver nenhum dos problemas (lixo e erosão), degrada toda área da antiga erosão, gerando novos e mais graves problemas sociais, sanitários e ambientais;

4. O impacto social consiste na formação dos chamados catadores de lixo; 5. Os impactos sanitário-ambientais são os seguintes:

5.1. Elevação da temperatura da camada de terra que cobre o lixo, consequente do processo exotérmico de decomposição da matéria orgânica, dificultando o desenvolvimento normal da cobertura vegetal (ex: CESP);

5.2. Formação de uma pequena depressão alongada acompanhando o eixo da erosão original, em virtude do recalque provocado pela decomposição gradual da fração orgãnica do lixo aterrado,. Essa depressão alongada age como elemento estrutural que favorece a concentração das águas de escoamento superficial que, na estação chuvosa, reativa o processo erosivo (ex: Jardim Paulista);

5.3. Formação de trincas e desnivelamentos da superfície em virtude do recalque causado pela redução de volume do lixo por decomposição. Essas trincas favorecem a infiltração da água de esocamento superficial, que acelera a retomada do processo erosivo. (ex. Pousada da Esperança II);

5.4. Retomada do processo erosivo em maior intensidade, pois o lixo é de alta permeabilidade e de menor resistência à erosão, Boçorocas com lixo tem sido reabertas, ocorrendo a formação de novas boçorocas de dimensões maiores que as originais, com espalhamento do lixo à jusante (ex. Pousada da Esperança I); 5.5. Torna a área inadequada para qualquer tipode construção, pois a obra irá sofrer recalques destrutivos, em virtude da decomposição da fração organica e redução de volume do lixo. Este fato causou, recentemente, a destruição total de 3 moradias no Conjunto Habitacional Mary Dota;

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5.6. No “ front” dos aterros de lixo sem cobertura de terra e nas boçorocas reativadas, o lixo exposto, além dos problemas de poluição visual e de contaminação do ar, favorece a proliferação de vetores transmissores de doenças, tais como moscas, mosquitos, pernilongos, baratas e ratos (ex. Pousada da Esperança II);

5.7. Nas erosões com lixo visível (CESP, Pousada da Esperança, Jardim Paulista) é observável a exudação de chorume no pé do talude de lixo. Este chorume contamina o solo e os recursos hídricos. Amostras de água perene coletadas ao longo do talvegue das boçorocas-lixões da CESP, do Jardim Paulista e da Pousada da Esperança I e II, após devidamente analisadas, mostram claramente a contaminação dos recursos hídricos superficiais, tanto física quanto química e bacteriologicamente. Resultados serão mostrados na exposição do trabalho;

5.8. A contaminação do lençol freático pelo lixo enterrado em erosão, foi comprovado no Jardim Célia. A parte final desta antiga erosão encontra-se a mais de 100 metros do Córrego Água das Flores. E, à meia distância, temos nascentes (minas de água). Amostras coletadas nas nascentes (5 amostras) e devidamente analisadas nos laboratórios do Departamento de Água e Esgoto comprovam a contaminação; 5.9. Drenos para biogás construídos em 1992/93 na boçoroca´lixão da CESP evidenciam através do forte cheiro, a produção e desprendimento do biogás à partir da decomposição do lixo urbano. Logo as erosões aterradas com considerável volume de lixo e que não apresentam saída para o biogás, constituem área de grande risco à incêndios e explosões;

5.10. Crianças e adolescentes da circunvizinhança entram em contato direto com as águas contaminadas dessas “ boçorocas-lixões” seja para banhos ou lazer (como documentado nas erosões-lixões da CESP, Pousada da Esperança I e II, Jardim Paulista e Jardim Célia). Muitos problemas de saúde pública foram causados por este procedimento;

5.11. Gado, suínos e animais domésticos foram registrados caminhando e ingerindo estas águas contaminadas, servindo como meio de transmissão de doenças;

5.12. Presença de seringas, chapas de raios X, frascos de medicamentos, restos de curativos foi observada em todas “ boçorocas-lixões” comprovando a presença de lixo hospitalar infectante disposto misturadamente ao lixo doméstico. Este fato aumenta drasticamente a periculosidade para a saúde pública representada pelas “ boçorocas-lixões” ;

5.13. Pneus podem ficar acumulados, favorecendo a proliferação de moscas, mosquitos e pernilongos. Na erosão da CESP, é possível observar este acúmulo de pneus, constituindo perigoso meio de proliferação de mosquitos transmissores de doenças.

CONCLUSÕES GERAIS

As boçorocas-lixões comtaminam o ar, o solo e os recursos hídricos, gerando problemas sociais, de saúde pública, de engenharia e de valor imobiliário. O uso do lixo urbano no controle de erosão não resolve o problema da erosão e nem do lixo. Há necessidade de conscientização dos problemas consequentes pelas autoridades e comunidade, afim de impedir esse tipo de degradação que reduz a qualidade e tempo de vida do munícipe e, desenvolver projetos de recuperação dessas áreas degradadas.

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FIGURA 1 - MAPA CADASTRAL DAS PRINCIPAIS “ BOÇOROCAS-LIXÕES”

REFERÊNCIAS

CAVAGUTI, N. (1994). Erosões Lineares e Solos Urbanos: Estudos, Caracterização e Análise da Degradação do Meio Físico em Bauru-SP, Bauru: Universidade Estadual Paulista - UNESP (Tese de LIvre-Docência - inédito), 2 v., 548p.

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CURRICULUM VITAE

NARIAQUI CAVAGUTI

Geólogo pela Universidade de São Paulo (1964) e Livre Docente pela UNESP (1994) Professor Adjunto da Faculdade de Engenharia e Tecnologia da UNESP/Bauru (Geologia Aplicada e Ambiental) e professor orientador de pesquisas de pós-graduação na UNESP (FET/Bauru = Engenharia Ambiental; FAAC/Bauru = Análise Geoambiental e FCA/Botucatu = Drenagem Agrícola e Meio Ambiente);

Pesquisador em Engenharia Ambiental (Erosão/Assoreamento; Resíduos Sólidos Urbanos e Industriais; Recursos Hídricos/Contaminação);

Fundador e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Pesquisadores Nikkeis; do Fórum Pró Batalha e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Tietê-Batalha;

Referências

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