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Para os Turbosoldiers e os trastes da City of Satan. Pela originalidade, pelo ridículo, pelo mal-estar, pela inspiração. Para Allan, meu preferido.

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Academic year: 2021

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Para mim mesma, em desespero lúcido. Com a esperança de que eu consiga, com os anos de estrada, tornar-me capaz de morrer sozinha. Para Tainá, minha consultora nas madrugas insones.

Para os Turbosoldiers e os trastes da City of Satan. Pela originalidade, pelo ridículo, pelo mal-estar, pela inspiração. Para Allan, meu preferido.

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E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de

indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e sequência — e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez — e tu com ela, poeirinha da poeira!” Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa:

“Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?”

Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?

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Sumário

Prefácio 11

1. Fora da minha cabeça 17

2. O homem de laranja 31

3. Meu aniversário 41

4. O último cigarro 49

5. Gotas grossas de tempo 61

6. Refém 75 7. A viúva de branco 85 8. É só carne 97 9. As Meretrizes 131 10. Coração envenenado 145 11. Cruzando a ponte 169

12. Assassinato de mim mesma 183

13. O menino de ouro 201

14. Sonâmbula 209

15. O que importa é a aparência 215

16. Superfreak 225

17. Um novo episódio 235

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19. Mil e uma noites 253

20. Gina’s got a gun 261

21. Criaturas da noite 269

22. Só as pétalas 281

23. Para tentar reconstruir 287

24. Boa-noite, fantasmas 299

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Tomo um grande gole de ar que me engasga e me afo-ga no nada. Estou submersa, e é no silêncio. Busco desafogo ao perder a bênção da respiração. Refresco-me com a priva-ção repentina. Minha garganta não está preparada para sentir o gosto da verdade, mas prossigo. Há uma necessidade de so-brevivência ridícula, escondida por debaixo da súplice pelo escuro. Estou nua, mas uso um belo tailleur. Sinto cada um dos seus olhares inquietos me despindo, me queimando.

Continuem, por favor.

Antes de começar a me envolver neste ninho de recor-dações, aviso que ainda é difícil de entender os aconteci-mentos que despertaram esta tragédia aterrorizante. Também quero deixar claro que não estou tentando educar ou ensi-nar alguma lição preciosa. Este desabafo é somente uma maneira de tentar aliviar as memórias, e fazer com que fi-quem um pouco mais distantes. Foi por isso que resolvi fa-lar. Tudo vem à minha cabeça com tanta rapidez, que acabo ficando presa dentro das lembranças. Não prestando aten-ção, mas tentando encontrar uma maneira de escapar delas, por serem tão corrosivas.

Acredito que, se eu contar tudo exatamente como me lem-bro, poderei chegar a uma conclusão. É que ainda confundo o ponto de vista que tinha com o ponto de vista que caiu sobre a minha cabeça — aquele que fui obrigada a adquirir. Então, se

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eu calçar sapatos de telespectador, talvez consiga finalmente julgar os personagens do jeito que me ensinaram a fazer: dis-tinguindo-os do Bem e do Mal. Talvez assim, arrisco dizer, possa me sentir na pele menos dolorida de alguém que não sou eu, alguém menos eu. Alguém, qualquer alguém, mas, por favor, não eu. E quando digo isso, estou falando sério. Hoje já não faço a mínima questão de viver minha vida. Gostaria de viver a vida de outro, passar pelo menos um dia na vida de outro.

Estou desesperadamente paralisada nesta cadeira. Preciso descobrir se sou culpada por não conseguir seguir em frente, ou se a vida é mesmo essa caixinha de surpresas malignas. Preciso compreender tantas coisas, que é difícil sa-ber por onde começar. Será que tive sorte ou azar de ter sido chutada para fora da minha família com apenas quatro meses de vida? Preciso saber se fiz certo em temer voltar para des-cobrir quem eram as pessoas que fizeram aquilo comigo, e se errei em só ter ido muito tarde.

Foi com esta idade que minha mãe biológica me entregou para a adoção, adianto. Ela conviveu quatro meses inteirinhos comigo e depois teve a coragem ou covardia de simplesmente desistir de mim. De decidir que preferia me ter longe a me ter por perto. Ela se chamava Lara Paulo Max. Nome esquisito, eu sei.

Cresci na casa de Maria das Graças Santana. Ela é minha verdadeira mãe.

Por um lado pode-se dizer que tive uma boa infância. Por outro, saibam que sempre carreguei o sentimento de abando-no, o sentimento traiçoeiro de solidão, mesmo quando nem sabia o que era isso. Foi somente na adolescência que desco-bri por que me sentia tão diferente das outras pessoas, e por que não me sentia à vontade com o contato físico. Havia algo

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faltando, uma quina sempre corroída. Eu detestava não saber a verdadeira identidade das pessoas que me deram à luz. Ima-ginava como seria viver os dias sem saber que, mesmo quan-do criança, eu já não era querida, já não era desejada.

Meu destino foi deturpado para que eu fosse presenteada com um forte sentimento de fracasso e um medo esmagador de me apegar às coisas e às pessoas. Dediquei-me integral-mente ao uso do colete à prova de balas e decidi que sempre moraria perto de alguma estrada.

É que alguém que está acostumado a viver com medo, tem sempre uma saída de emergência por perto. Uma escapatória em vista, um plano B, C ou D. Uma certeza de que, se tudo der errado, haverá uma maneira de simplesmente desaparecer em um estalar de dedos. O grande problema de ter esse sentimen-to, porém, é que ele faz com que seja difícil achar um lugar do qual você possa fugir.

Muitas vezes o medo é entorpecente e causa uma Morte lenta ao cérebro. Eu vivia tentando disciplinar o meu a não permitir que eu fosse girada no ar pelo amedrontamento até que caísse de cara no chão. Não queria deixar o medo me matar, quando me batia tanto pavor da Morte. Tanto pavor que por muito tempo deixei de amar as coisas vivas, com te-mor de que Ela as fosse tocar.

A primeira pessoa que a Morte me levou foi Maria das Graças. Foi quando fiquei sozinha neste mundo gigante e desconhecido.

O desconhecido surgiu na minha janela quando ela mor-reu. Ela, a quem eu tinha me apegado de verdade. O desco-nhecido estava em dobrar a esquina, em experimentar uma nova comida, em procurar um emprego, e até em cumprimentar um estranho. Nada fazia sentido algum, e eu não conhecia o

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mundo sem ela. Não conhecia o mundo sem seu abraço cari-nhoso, sem seus lábios fininhos me dizendo que tudo ficaria bem. Sem ela para me amar, o amor do mundo inteiro parecia ter secado.

Eu comprovava meu retrocesso quando tentava dormir em posição fetal. Havia andado para trás. Era criança de novo, e sentia medo.

Sentia que cada vez que temia o que estava me esperan-do, me transformava mais e mais em um monstro solitário. Cada vez que sentia medo de alguma coisa, mais esta coisa parecia me perseguir. Era como se eu estivesse atraindo tudo que me apavorava por ter esses pensamentos com tanta frequência. Eu só pensava em fugir. Parecia uma criança com medo do bicho papão em um quarto escuro — qualquer som-bra na parede acelerava meu coração.

Cada vez que tento fugir das memórias, elas retornam mais fortes. Tenho a impressão de que as estou alimentando, nu-trindo. Posso dizer que é por isso que estou colocando as car-tas na mesa, abrindo o jogo. Estou tentando ser corajosa. Mesmo que isso signifique que vocês possam me machucar.

Não me olhem com tanta pena...

Sei que ainda devem estar confusos sobre quem sou e o que quero contar, então serei mais clara. Literalmente. Vou narrar essas memórias árduas que moram dentro de mim. Memórias de abandono, fracasso, medo e Morte. A história da minha vida, a vida de Clara Cápula Santana. Se não esti-verem a fim de viajar comigo por esses lugares escuros, não tem problema. Retirem-se agora, antes que seja tarde.

Contudo, sinto que vocês vão ficar. Tem algo nessa mi-nha negatividade que atrai as pessoas.

Referências

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