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Educação popular e educação ambiental: suas convergências conceituais

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

José Roberto de Lima Dias

EDUCAÇÃO POPULAR E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SUAS CONVERGÊNCIAS CONCEITUAIS

Ijuí 2014

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JOSÉ ROBERTO DE LIMA DIAS

EDUCAÇÃO POPULAR E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SUAS CONVERGÊNCIAS CONCEITUAIS

Monografia apresentada ao Curso de História da Unijuí, como requisito parcial para a obtenção da Licenciatura em História, sob a orientação do Prof. Dr. Ivo dos Santos Canabarro.

Ijuí 2014

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RESUMO

Este trabalho procura situar os espaços de trabalho da Educação Popular e da Educação Ambiental, destacando quais propostas educativas estão em pauta em suas respectivas agendas de lutas, bem como se dá as aproximações conceituais de ambos os campos do saber. A pesquisa assumiu o caráter de uma abordagem qualitativa através do trabalho bibliográfico, perpassando pelas nuances hermenêuticas para sua análise. Com isso, procura-se compreender a dimensão educativa de ambas as áreas do conhecimento e identificar quais contribuições a Educação Popular oferece para a Educação Ambiental para a construção de uma sociedade sustentável. Estas duas áreas educativas assumem a dimensão política ao desenvolvem práticas que visam resgatar a cidadania e desenvolver um trabalho no sentido de eliminar as desigualdades sociais. A discussão aponta para o fato de que os graves conflitos sociais são consequências diretas dos interesses políticos e econômicos do capitalismo. Portanto, para que a democracia exista para todos necessita-se construir uma sociedade com justiça social, que agregue através da educação de caráter popular, as lutas para um meio ambiente sustentável.

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SUMÁRIO

1. À guisa de introdução ...04

2. Os caminhos da Educação Popular...08

3. Desenvolvimento econômico e os efeitos socioambientais...17

3.1 Educação Ambiental X Educação Popular...20

3.2 Convergências entre Educação Ambiental e Educação Popular...24

4. Considerações finais...30

5. Referências...33

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1. À guisa de introdução

Neste trabalho monográfico propõe-se fazer aproximações entre a chamada educação popular e a educação ambiental visando extrair todas as possibilidades identitárias de ambos saberes, de forma que tais perspectivas possam colaborar no sentido de um melhor alcance qualitativo no processo de uma educação mais plena e realizadora.

Defende-se que a Educação Popular através de seus conceitos pode oferecer contribuições significativas para uma compreensão crítica de Educação Ambiental. Enfim, o que está se buscando neste trabalho é saber em que medida a Educação Popular poder aproximar-se da Educação Ambiental, de modo que uma autêntica pedagogia de cunho popular possa validar as discussões, de forma educativa, para a renovação do pensamento sobre a preservação da natureza e a manutenção da vida em seu ecossistema.

Das lutas dos movimentos organizados que mais empreendem esforços para que a bandeira da transformação social ocorra, que atinja o sonho de libertação, está aquela que tem se destacado através das ações desses movimentos sociais, a qual se caracteriza como uma das possíveis vias de efetivação: a Educação Popular.

Os ventos da renovação na educação, particularmente na de cunho exclusivamente popular, abarca todos aqueles que se sentem excluídos pelo capitalismo avassalador, que cria as maiores dificuldades para o cidadão comum, o pobre, o marginalizado socialmente, que não tem acesso aos bens produzido pela sociedade. Neste sentido, a luta por uma nova cultura pedagógica que transforme o homem comum em protagonista da sua própria história, faz parte da busca de soluções dos problemas educacionais. Isto requer, conforme o pensamento de Adorno (1995), que haja uma tomada de direção no rumo da educação emancipatória, visando formar sujeitos capazes de atuarem na sociedade ativamente.

Pois, o sistema socioeconômico capitalista através do ativo desenvolvimento industrial, um dos componentes principais da economia capitalista, tem sido o grande propulsor da degradação da natureza e do

processo de urbanização inconsequente, provocando de forma acentuada a exclusão social.

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Diante de tudo isso, surge uma das grandes preocupações da sociedade contemporânea, que afetam as deliberações do homem sobre suas ações e diz respeito às questões ambientais. Essa preocupação alcança mais visibilidade quando percebemos as consequências sociais de políticas públicas e interesses do capital na implementação de novos nichos de industrialização, sem levar em consideração a necessidade de uma urbanização planejada para que diminua os conflitos sociais daí decorrentes e instaure uma nova “racionalidade ambiental”, conforme propõe Enrique Leff (2010). Tal racionalidade significa:

[...] um conjunto de interesses e de práticas sociais que articulam ordens materiais diversas que dão sentido e organizam processos sociais através de certas regras, meios e fins socialmente construídos. Estes processos especificam o campo das contradições e relações entre a lógica do capital e as leis biológicas; entre a dinâmica dos processos ecológicos e as transformações dos sistemas socioambientais. (p. 134)

Para isso, é preciso superar a racionalidade econômica do modelo capitalista, cuja lógica reprodutivista e colonialista encontra na educação a mais fiel representante. Faz-se necessário derrubar as fronteiras da educação oficial, mantenedora e reprodutora da racionalidade instrumental, tendo em vista uma educação de caráter profundamente libertadora e orientadora, que respeite a diversidade, incluindo o meio ambiente. Uma concepção deste quilate precisa engendrar no mundo uma visão popular de educação que supere a dinâmica atual do modelo capitalista, que apenas vê resultados, através da exploração impiedosa do homem e da natureza.

Esse projeto histórico de transformação social, que visa a autonomia e independência dos sujeitos, passa necessariamente por uma ampla e irrestrita educação integral, uma educação potencializadora, que dialogue com todos os saberes, acadêmicos ou empíricos. Daí que a concepção de uma educação progressista para a população, como projeto global e alternativo, exige a sintonia com os temas sociais da atualidade.

Conforme Paludo (2008), para Brandão (1985) há diferentes caminhos para se interpretar o sentido de Educação Popular:

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Ela pode ser compreendida como educação das classes populares; como saber da comunidade/conhecimento popular; como ensino público. Entretanto, ela também pode ser compreendida como uma das concepções de educação das classes populares. É neste último sentido que se situa a contribuição de Paulo Freire. (p. 7)

A Educação Popular enfim, no sentido freireano, assume objetivamente a proposta de construção de uma consciência crítica para todos os sujeitos oprimidos, através da educação libertadora e emancipatória, por isso, incorpora de forma plural na sua luta, as questões ambientais, como parte da dinâmica de transformação social.

A Educação Popular como prática da liberdade se concretiza na ação engajada do povo por sua organização política e consequentemente por tudo que diz respeito a necessidade de “[..] intervenção no mundo para retificá-lo e não apenas para mantê-lo mais ou menos como está”. (FREIRE, 2000, p. 60) Dessa forma, esta concepção de educação das classes populares contribui para a elucidação da realidade e humanização do mundo.

Por outro lado, a Educação Ambiental também oferece um vasto campo de possibilidades e estratégias para a ruptura do modelo desenvolvimentista excludente, pois a crise ambiental exige uma reflexão crítica da sociedade na sua relação com a natureza, na busca de minimizar os efeitos.

A crise ambiental nada mais é que o questionamento do atual modelo de sociedade, isso revela a necessidade de uma ação no caminho da sensibilização. Assim, em sua perspectiva crítica, o papel da Educação Ambiental frente a persistência da pobreza e da miséria, o qual vem agravando a problemática ambiental, tem sido o da formação de novos valores e modelos de comportamento. (PORTO-GONÇALVES, 2010)

Nesse sentido, discutir a relação entre Educação Popular e Educação Ambiental, implica situar o legado de Paulo Freire, numa leitura do mundo, para a compreensão da realidade vivida pela humanidade no atual contexto planetário. Emerge daí entender os novos conceitos engendrados a partir dos anos 90 nos estudos sobre a temática ambiental ou a ressignificação dos antigos conceitos, pela perspectiva transformadora proposta pela Educação Popular.

Como sabemos a ação humana não é apenas biologicamente determinada, mas se dá principalmente pela incorporação das experiências e

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conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração; a transmissão dessas experiências e conhecimentos – através da educação e da cultura – permite que, no homem, a nova geração não volte ao ponto de partida da que a precedeu.

A atuação do homem diferencia-se do animal porque, ao alterar a natureza, através de sua ação, deixa a marca da atividade humana, que pode ser positiva ou negativa. Significa dizer que, nesse processo, o homem altera a si próprio através da interação com a natureza e essa permanente transformação tem deixado marcas indesejáveis sobre o meio-ambiente, como decorrência da produção da existência humana.

Nesse sentido, a Educação Popular ao propor um novo projeto de sociedade, com base numa orientação humanista e libertadora, incorporou na sua agenda de lutas os problemas ambientais. Esse campo de lutas intensifica-se pela perspectiva da proposta pedagógica defendida por Paulo Freire como forma de superação de tudo aquilo que desumaniza a vida humana.

Diante desse horizonte de expectativas a proposta deste trabalho bibliográfico assume o caráter qualitativo da pesquisa como abordagem metodológica, perpassando pelas nuances hermenêuticas para sua análise. Com isso, procura-se compreender a dimensão educativa de ambas áreas do conhecimento e identificar quais contribuições a Educação Popular oferece para a Educação Ambiental e que os aproxima em termos conceituais.

Embora saiba-se da enorme dificuldade que há em situar um determinado tema no campo historiográfico devido a hiper-especialização do conhecimento histórico, entendemos que do ponto de vista do campo historiográfico o presente trabalho situa-se no âmbito da História Cultural. Mas, como sempre há uma interconexão entre os campos, não se faz uma história puramente política, cultural ou econômica. Portanto, este trabalho, quanto a sua dimensão histórica, também dialoga com a História da Educação e a História Ambiental, sem falar que a epistemologia que sustenta esta análise tem por base a Teoria Crítica.

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2. Os caminhos da Educação Popular

A Educação Popular no Brasil tem uma história, é herança de muitas lutas dos movimentos sociais, que de longa data empenharam-se na construção de uma nova sociedade, é o sonho de alguns idealistas que assumiram a responsabilidade de serem as vozes do povo, mas não como mais um líder a organizar o grito dos excluídos. Eles foram homens simples que se preocuparam com o povo, afinal sempre na história da humanidade surgiram lideranças que se destacaram pela sua visão de mundo, estavam muito à frente de seu tempo, eles deixaram registros indeléveis na memória do povo. No caso da Educação Popular, Paulo Freire é o símbolo desta luta incansável, que se manteve através de suas práticas pedagógicas sempre comprometida com o povo.

Uma pedagogia de caráter popular autentica contempla a cultura de uma forma geral, humanizando os saberes, onde o aprendizado se faça de forma permanente e ampla a partir do conhecimento popular e que ressignifique a vida, o planeta como um todo, como um grande ecossistema. Esse debate em torno das lutas sociais exige da Educação Popular, conforme esclarece Brandão, a promoção de uma educação

[...] que exercite sua capacidade de direção e fomente as tomadas de decisões junto a ‘atores sociais’ envolvidos nos mais variados contextos. Deve-se recriar o próprio saber e não apenas uma acumulação de conhecimento fragmentário e distante de seu cotidiano. (BRANDÃO, 1990, P. 20)

Sob tais circunstâncias, para que ocorra a transformação social, é preciso pensar a educação como possuidora de uma papel fundamental, que não seja segundo Bauman (2008), separada dos restos dos compromissos e relações de vida, pelo contrário esta precisa incidir sobre as relações sociais e a cultura. Essa condição é o que dá sentido à Educação Popular, é a possibilidade, diz Brandão, “[...] de ela não só ser um meio real de compromisso de educadores [...] com um projeto histórico de humanização libertadora através do trabalho político do povo, mas também reproduzir-se, por isso mesmo, como um movimento pedagógico”. (2006, p. 101)

Esse tipo de educação não pode ser apenas um processo de ajuste, tal preocupação já foi demonstrada pelos filósofos da Escola de Frankfurt. Para

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Adorno (1995) a educação deve ir além, precisa de autonomia e racionalidade, mas sobretudo precisa alcançar a emancipação. Diríamos que uma educação do povo e para o povo, que alcance as massas oprimidas, como forma de libertação e superação, que satisfaça as suas necessidades e aspirações.

Com certeza a tarefa invariável da educação é preparar para a vida. No entanto, deve significar, primeiro e sobretudo, um sistema aberto e universalizante, de trocas de saberes (Brandão, 2006). Significa ainda, cultivar a capacidade de conviver com uma variedade de pontos de vistas e a tolerância em relação à diferença. Evidente que a educação oficial em seu processo formativo, não atende a essas expectativas, visa apenas em última instância, moldar o povo conforme os interesses do sistema. Afinal o atual modelo de educação foi herdado sob o signo da ordem, portanto, não passa de uma estrutura rígida que decide qual conhecimento precisa ser passado adiante. Cabe então pensar com Paulo Freire, quando ele se refere ao educador humanista e revolucionário:

Sua ação, identificando-se, desde logo, com a dos educandos, deve orientar-se no sentido da humanização de ambos. Do pensar autêntico e não no sentido da doação, da entrega do saber. Sua ação deve estar infundida da profunda crença nos homens. Crença no seu poder criador. (1987, p. 35)

O educador comprometido com a pedagogia da transformação social deverá saber conduzir seus educandos a romperem com o determinismo historicamente construído. Para isso, os princípios da Educação Popular deverão valorizar a construção de experiências concretas de forma compartilhada, ampliando dessa forma o conhecimento a partir das diversas fontes de saberes. Resgatar a dimensão educativa das massas oprimidas, a sabedoria popular, significa humanizar o conhecimento empírico.

Conforme explica Zitkoski (2005), o sentido último da proposta pedagógica em Freire implica em um novo projeto de sociedade, que em última instância é a humanização da espécie humana, a busca incessante da libertação de tudo aquilo que nos desumaniza. A construção do conhecimento nessa perspectiva pode auxiliar os seres humanos a problematizarem seu mundo para enfrentarem tudo que lhes provoca sofrimento a partir do diálogo crítico, buscar uma nova dimensão de futuro fundamentado na utopia e na esperança.

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A lógica capitalista estruturou-se a partir de um modelo de conhecimento que o ajuda a fortalecer-se e reproduzir seu sistema. Diante dessa estrutura montada a hegemonia capitalista não consegue dar respostas aos problemas sociais da humanidade, pelo contrário, tem fomentado o individualismo e a concentração da riqueza. Os problemas sociais e ambientais cada vez mais ganham visibilidade em escala planetária, diante do crescimento econômico excludente e desordenado.

Portanto, como forma de quebrar esse paradigma do modo de produção capitalista, de construir outra sociedade possível, as forças populares mobilizam-se, para através de suas lutas, buscarem o bem coletivo, a construção de uma práxis educativa que estabeleça o respeito a diversidade e lhes dê subsídios para a implantação de uma sociedade que respeita todas as formas de vida. Nesse sentido, a orientação pedagógica freireana pela perspectiva da Educação Popular apresenta-se atualíssima.

Embora a globalização venha reforçando o projeto neoliberal do capitalismo, outra forma de globalização alternativa, contra-hegemônica, está em pauta na atualidade. Ao referir-se à esta alternativa, aponta Santos, que ela é “[...] constituída pelo conjunto de iniciativas, movimentos e organizações que, através de vínculos, redes e alianças locais/globais, lutam contra a globalização neoliberal mobilizados pela aspiração de um mundo melhor”. (SANTOS, 2002, p. 14).

A Educação Popular permite aos sujeitos envolvidos no processo educativo conhecer sua própria realidade, isso conduz a elaboração da consciência crítica, uma vez que fundamenta-se no referencial teórico e metodológico estabelecido a partir da práxis de educadores e educadoras comprometidos com a prática pedagógica popular. Nesse sentido, há a potencialização do conhecimento dos sujeitos envolvidos visando um outro desenvolvimento sustentável e a possibilidade de transformar a sociedade.

Os conhecimentos estabelecidos com ênfase na Educação Popular transcendem a realidade vivida pelos oprimidos, eles permitem a superação dos problemas econômicos e socioculturais impostos pelo sistema, inclusive alertando para as questões ambientais. Segundo Loureiro (2004), trata-se de uma proposta pedagógica crítica que leva as massas oprimidas a questionarem,

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na medida de sua emancipação, os padrões industriais e de consumo do capitalismo.

A pedagogia libertária de Paulo Freire sugere que os processos de participação são fomentados e facilitados por meio de ações educativas, cujo espaço de interlocução é proporcionado pelos saberes técnico-científico e popular, próprio da comunidade. Nesse cenário, o exercício da cidadania desperta nos educandos uma visão ampla e crítica da realidade, levando-os a uma atuação comprometida com a transformação do espaço social nos quais estão inseridos.

Emerge nesse contexto a necessidade da politização do debate em torno de todas as ações humanas, daí que a Educação Popular passa a se constituir em um instrumento de exercício da cidadania e de reorientação de suas práticas, na medida em que dinamiza e rompe com as fronteiras tradicionalmente convencionadas das relações hierarquizadas na sociedade, da submissão e da opressão. Essa motivação na perspectiva da mudança e da esperança indica, conforme evocava Freire, a necessidade do indivíduo “ser e estar com o mundo”, de saber realizar o enfrentamento. Nesse sentido, infere Freire sobre a educação transformadora:

Uma das tarefas da educação popular progressista, ontem como hoje, é procurar, por meio da compreensão crítica de como se dão os conflitos sociais, ajudar o processo no qual a fraqueza dos oprimidos se vai tornando força capaz de transformar a força dos opressores em fraqueza. Esta é a esperança que nos move. (1992, p. 126)

A educação popular expressa a busca da liberdade. Liberdade no sentido político, cujo exercício se espelha no respeito aos direitos dos outros, mas contendo o germe do rompimento através da ação política, de regras desumanas. A compreensão que Freire tinha da educação como prática da liberdade, é algo que diz respeito da forma como ele encarava-a em sua teoria e práxis, tal prática expressa sua concepção epistemológica de educação emancipadora. Segundo Gadotti, “[...] a educação popular tem-se constituído num paradigma teórico que trata de codificar e descodificar os temas geradores das lutas populares”. (2007, p. 21-27).

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Conforme as massas se constituem como sujeitos críticos elas passam a reivindicar melhor qualidade de vida, uma vez que entra em questão a possibilidade de sua emancipação pela perspectiva de uma educação integral, a qual ganha legitimidade a partir das suas práxis.

Nesse cenário se torna relevante a proposta educativa de Freire. Afinal, como aponta o referido educador, em sua Pedagogia do oprimido (2011), a educação plena dos sujeitos que são explorados pela lógica da racionalidade capitalista, deve ser uma luta de homens e mulheres que potencializem suas forças via autogestão para que se construa a liberdade levando em conta seus saberes.

A Educação Popular sozinha não pode transformar a realidade social, especialmente se considerarmos que “o neoliberalismo concebe a educação como uma mercadoria, reduzindo nossas identidades às de meros consumidores, desprezando o espaço público e a dimensão humanista da educação”. (GADOTTI, 2007, p. 21-27). No entanto, a concepção educativa de caráter popular entende como necessária a transformação social para que seja reorganizada a partir das classes populares, as dimensões: ambiental, educacional, econômica, do respeito às diferenças étnicas, da saúde pública e dos direitos dos cidadãos.

Não podemos esquecer que as forças hegemônicas que controlam o sistema de produção e o capital se articulam muito bem, movidos pelos interesses de classe. Há uma intencionalidade nesse sentido em manter os excluídos sob total controle, através da negação ao direito de instruir-se. Portanto, a educação com a tutela do Estado, no atual modelo que o sistema engendrou, mostra que quanto mais subserviente for o trabalhador e sem nenhuma formação, mais fácil de manipulá-lo.

Essa brutalidade que o capitalismo engendrou via racionalidade econômica tem fomentado miséria, conflitos sociais, produzido guetos e demonstrado o descaso das autoridades para com a educação. Diante desse contexto histórico em que as classes mais desfavorecidas estão mergulhadas, emerge a força necessária para a luta de homens e mulheres, do campo e da cidade, através dos movimentos sociais, os quais constroem sua caminhada em direção à liberdade e a emancipação plena. Compreensível, portanto, que esses movimentos sociais numa luta contra-hegemônica, conforme o pensamento

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gramsciano, busquem com maior radicalidade pressionar por políticas públicas, por uma postura política clara, a serviço das classes populares. Esse exercício de cidadania é realizado via Educação Popular, onde são feitas análises da realidade, da compreensão de mundo, em que a situação da vida é evidenciada. A complexidade das sociedades diante da globalização da economia mundial impõe aos oprimidos a necessidade da luta, o direito de agir frente a lógica estabelecida pelo sistema. Como diz Freire, é preciso projetar o sonho, não perder a capacidade de reflexão, do exercício da liberdade, não se deixar estar prisioneiras às determinações externas.

Por grande que seja a força condicionante da economia sobre nosso comportamento individual e social, não posso aceitar a minha total passividade perante ela. Na medida em que aceitamos que a economia [...] exerce sobre nós um poder irrecorrível [...] não temos outro caminho senão renunciar à nossa capacidade de pensar, de conjecturar, de comparar, de escolher, de decidir, de projetar, de sonhar. Reduzida à ação de viabilizar o já determinado a política perde o sentido da luta pela concretização de sonhos diferentes. (2000, p. 27-28)

Portanto, pensar as práticas pedagógicas a través da educação popular, como parte de um amplo projeto pedagógico de transformação social, conforme aponta Gadotti, significa dizer que educadores e educandos devem se construírem como sujeitos críticos e protagonistas da sua própria história, é o convite que Freire nos faz. Ele incentiva a construção de projetos pedagógicos que em sua essencialidade priorizem a formação de homens e mulheres criativos e participativos. (2007, p. 21-27).

A “pedagogia do oprimido” tal como proposta por Paulo Freire, confere ao ato educativo esta função profundamente social e humanizadora, ao mesmo tempo que apresenta uma dimensão ativamente política, convidando os educandos a reconhecerem como sujeitos histórico-sociais, capazes de transformar a realidade.

O fundamental da Educação Popular, como educação problematizadora e conscientizadora, que preocupa-se com as relações sociais do homem com a natureza e com os outros homens, é entender que ela é sustentada por uma concepção dialética, onde educador e educando aprendem juntos numa relação

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dinâmica, incluindo, segundo Clodovis Boff, “[...] ao mesmo tempo a consciência e o mundo, a palavra e o poder, o conhecimento e a política [...]”. (1999, p. 4) A categoria pedagógica da conscientização preocupa-se com a formação da autonomia intelectual do sujeito para intervir na realidade.

A força transformadora da Educação Popular está na sua capacidade de potencializar os saberes, a autonomia e organização das classes populares, já que a concepção de progresso instaurada nas sociedades ocidentais carrega um forte apelo ideológico, o qual define a lógica mercantil, onde tudo deve ser transformado em valor de mercado, mesmo que isto custe o sofrimento e a miséria dos mais pobres. Os resultados do desenvolvimento, contraditoriamente geram desigualdades em todas as dimensões da vida social, educacional e inclusive ambiental. Dessa forma, a educação Popular também é um movimento de luta e resistência das classes desfavorecidas.

Esse contexto é profundamente provocador de inquietações, indignação e inconformismo. O progresso tecnológico do neoliberalismo tem dado motivos de sobra para se rediscutir as bases em que ela está assentada, pois a ausência de limites desenvolvimentistas, que levam a destruição da natureza e perpetuam os bolsões de miséria no mundo, exigem uma tomada de posição de todos os seres humanos no sentido de se promover, segundo Lourenço Zancanaro, “[...] a educação, a saúde, a conservação do meio ambiente e a ética como política pública [...]” (2003, p. 60). Tais mudanças se inserem em uma responsabilidade pedagógica de todos aqueles que acreditam ser possível construir uma nova sensibilidade social e ambiental.

Por ser justamente a situação que vivemos hoje, a de exclusão social e sofrimento humano, que a educação, em uma perspectiva popular, ganha novas dimensões. A Educação Popular apresenta-se como um movimento de resistência, como uma possibilidade de abrir janelas, na visão Gadotti, de educar para outros mundos possíveis:

Educar para outros mundos possíveis é educar para conscientizar, para desalienar, para desfetichizar. O fetichismo da ideologia neoliberal é o fetiche da lógica burguesa e capitalista que consegue solidificar-se a ponto de fazer crer que o mundo é naturalmente imutável. O fetichismo transforma as relações humanas em fenômenos estáticos, como se fossem impossíveis de serem

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modificadas. Feticihizados, somos incapazes de agir porque o fetiche rompe com a capacidade de fazer. Fetichizados apenas repetimos o já feito, o já dito, o que já existe. (2007, p. 21-27).

Consequentemente, a Educação Popular se torna essencial para fundamentar e subsidiar as práticas educativas que visam superar as situações de opressão e pobreza. Acredita-se que esta concepção de educação pode contribuir para reacender a chama da esperança das classes populares, sua práxis produz uma cultura de aprendizagem coletiva e solidária. Propõe uma relação educativa, cujos procedimentos de ensino-aprendizagem (ação-reflexão-ação), promove a formação do homem como um ser social, comprometido com as causas de seu tempo, insatisfeito, curioso, sonhador, esperançoso e fundamentalmente, transformador.

A construção de uma nova sociedade, justa e igualitária, reafirma-se como projeto político pedagógico da Educação Popular, nele os sujeitos compartilham seus problemas, traçam estratégias de enfrentamento, debates, os quais, afirma Gadotti, “[...] podem mudar radicalmente nossa maneira de produzir e reproduzir nossa existência no planeta, portanto, é uma educação para a sustentabilidade”. (2007, p. 21-27). Enfim, a Educação popular pode possibilitar a conscientização, a compreensão da realidade e abrir campos de ação concreta no mundo.

Retomando as palavras de Freire, explica o educador, a Educação Popular está relacionada com “[...] a educação dos oprimidos, a educação dos enganados, a educação dos proibidos [...]”. (p. 2008, p. 74). Nessa perspectiva, os conceitos presentes nesta concepção educativa, ensejam uma experiência concreta de melhoria das condições de vida, projetando uma transformação radical da sociedade, para isso, dialoga com os mais diferentes temas da atualidade através da ação organizada do seu campo conceitual.

Nesse sentido, conforme Maria Silva (2006), a educação como prática social popular, demanda a construção de um repertório de ações coletivas, que visam a realização de seus projetos por uma vida melhor e da humanização do ser humano. Isso pode significar, diz Danilo Streck (2010), a reivindicação de espaço na estrutura existente, mas pode também representar o engajamento na luta por rupturas e pela busca de novas possibilidades de organização da vida comum. Poderia ser traduzido, conforme o pensamento de Freire, como a

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capacidade de sonhar coletivamente, na perspectiva da construção do inédito viável.

Diante de tudo que aqui foi exposto, cabe dizer, que a teoria e a práxis freierana transcendem as fronteiras das disciplinas, suas abordagens, segundo Gadotti, “[...] transbordam para outros campos do conhecimento, criando raízes nos variados solos, fortalecendo teorias e práticas educacionais, bem como auxiliando reflexões não só de educadores [...]” (GADOTTI, 2007, p. 21-27), mas de todos àqueles que sonham com um mundo mais humanizado. Exemplo disso, são as aproximações que se dão entre a Educação Popular e a Educação Ambiental, elas tem em comum o compromisso com os mais pobres, com a emancipação humana. Em síntese, indiscutivelmente os textos freireanos tornam-se atuais, por permitirem o diálogo com o contexto da educação socioambiental.

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3. Desenvolvimento econômico e os efeitos socioambientais

Como decorrência da aceleração do processo de industrialização, instaurou-se na sociedade brasileira uma lógica que tem priorizado o desenvolvimento da racionalidade econômica em detrimento do desenvolvimento das possibilidades humanas, ambientais e de todas as formas de vida. Tais problemas, assinalam que esse modelo predominante não tem dado a devida relevância aos problemas sociais, pois além de comprometerem o meio ambiente, evidenciam graves conflitos sociais como consequência direta da expansão industrial e comercial que são fomentados pelos interesses econômicos.

O modelo de desenvolvimento implantado na sociedade capitalista aponta que a sociedade vem se desenvolvendo sem uma necessária preocupação dos governantes e muito menos pela elite que detém o controle do processo produtivo. A histórica concentração de riquezas nas mãos das classes dominantes precisa ser desentranhada para compreender-se a realidade social, cultural e econômica produzida, bem como entender-se quais são as consequências de tudo isso sobre o meio ambiente e quais conflitos urbanos emergem deste contexto.

As questões ambientais tem sido uma das grandes preocupações da sociedade contemporânea. O uso irracional dos recursos naturais tem desencadeado miséria e pobreza em muitas regiões do planeta, dessa forma consequentemente os conflitos aparecem como resultado direto de interesses do desenvolvimento econômico capitalista. Tais evidências levaram os mais diferentes setores da sociedade a repensar o modo de vida, a cultura de consumo e a própria relação do homem com a natureza.

Para Cunha (1997), as transformações desencadeadas no mundo moderno pela ciência, pelas artes e pelo novo modo de produção econômico, o ritmo das mudanças acelerou-se e é nesse processo de mudanças devastadoras, que o processo de modernização urbano-industrial tem gerado problemas sociais. Dentre esses problemas, os de ordem ambiental se manifestam hoje com muita intensidade.

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A industrialização e a consequente urbanização das cidades têm gerado problemas ambientais graves para as cidades. Funtowicz e De Marchi asseguram que, de longa data, sabemos que a manutenção do consumo exagerado, a atividade intensa na produção industrial e na agricultura trazem efeitos danosos para os ecossistemas e a qualidade ambiental, em muitos casos os efeitos são irreversíveis. Exemplo disso, garantem os pesquisadores, são as indústrias agroalimentares as quais são retroalimentadas pelas intervenções científicas em seus processos de produção, passando a constantes aumentos de produtividade, o que exige:

[...] permanente utilização de pesticidas químicos, fertilizantes, sementes híbridas ou geneticamente modificadas, assim como de outros inputs de capital. Estes desenvolvimentos tecnológicos podem afetar sobremaneira a vulnerabilidade dos sistemas de produção alimentar ante mudanças tecnológicas, naturais ou econômicas. (2010, p. 67)

O próprio fenômeno da urbanização das cidades, embora possa ser concebido como resultado de uma ação planejada, muitas vezes, é o resultado desastroso de um movimento natural como decorrência do aumento populacional e da ocupação irregular do espaço. Nesse cenário, o sistema socioeconômico capitalista através do ativo desenvolvimento industrial, um dos componentes principais da economia capitalista, tem sido o grande propulsor da degradação da natureza e do processo de urbanização inconsequente.

Para Feenberg (2002), as sociedades modernas industriais estão hoje numa via de mão dupla, deparando-se com direções diferentes de desenvolvimento técnico. Elas podem tanto intensificar a exploração dos seres humanos e da natureza quanto pegar um novo caminho que leve à reconstrução social. O autor acentua que o grande impasse do capitalismo é não ter condições de concertar os problemas ecológicos e sociais que ele causa, dado a sua fragilidade. Nesse sentido, quanto mais a indústria acumula super poderes, mais o sistema expõe sua fragilidade. Esses contextos reproduzem potencialidades, valores, que só podem ser aceitos se houver uma nova organização da sociedade.

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Diante de tudo isso, surge uma das grandes preocupações da sociedade contemporânea, que afetam as deliberações do homem sobre suas ações, ela diz respeito às questões ambientais. Essa preocupação alcança mais visibilidade quando percebemos as consequências sociais de políticas públicas e interesses do capital na implementação de novos nichos de industrialização, sem levar em consideração a necessidade de uma urbanização planejada para que diminua os conflitos sociais daí decorrentes e instaure uma nova “racionalidade ambiental”, conforme propõe Enrique Leff (2010). Tal racionalidade significa:

[...] um conjunto de interesses e de práticas sociais que articulam ordens materiais diversas que dão sentido e organizam processos sociais através de certas regras, meios e fins socialmente construídos. Estes processos especificam o campo das contradições e relações entre a lógica do capital e as leis biológicas; entre a dinâmica dos processos ecológicos e as transformações dos sistemas socioambientais. (p. 134)

Essa sequência de eventos que dizem respeito a problemática ambiental e as desigualdades sociais advindas do modelo desenvolvimentista, abre-se numa série de movimentos em que estão na pauta as mais diferentes propostas e intencionalidades. Queremos dizer que isso é uma experiência humana, onde entra em jogo a luta de classes, os interesses do capital e as contradições desse embate, afinal, tudo nasce das necessidades vivenciadas pelos sujeitos sociais que problematizaram sua própria experiência.

Com o desenvolvimento do capitalismo, a partir dos desdobramentos da Revolução Industrial, a natureza transforma-se cedendo ao poder de domínio do homem. Como resultado dessa questão histórica que emerge no âmbito do capitalismo, a sociedade globalizada vive uma profunda crise ambiental que outra coisa não é senão reflexo da própria crise existencial humana. A exploração econômica de forma predatória tem trazido efeitos danosos ao meio ambiente e à sociedade. Em razão disso, os mais afetados são os menos favorecidos, as classes mais pobres que não se inserem e não se beneficiam dos resultados do sistema produtivo, logo, não entram na partilha da redistribuição da renda uma vez que, conforme explica Leff,

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[...] a natureza aparece como os objetos de trabalho e os potenciais da natureza que se integram ao processo global da produção capitalista e, em geral, os processos produtivos de toda formação social, como um efeito do processo de reprodução/ transformação social. (2010, p. 50)

Nesse cenário, aponta Leff (2009), a educação ambiental surge como alternativa para a construção de uma nova racionalidade social, concebida como um processo que visa potencializar um saber interdisciplinar e de novos métodos para analisar os complexos processos socioambientais. Ainda, segundo este autor:

A sensibilização da sociedade, a incorporação do saber ambiental emergente no sistema educacional e a formação de recursos humanos de alto nível foram considerados como processos fundamentais para orientar e instrumentar as políticas ambientais. (LEFF, 2009, p. 222)

Diante de uma racionalidade instrumental científica e técnica que se impõe através da expansão do capitalismo, instaura-se uma nova ordem social cujo aparato produtivo oprime o sistema social como um todo. Cabe, então, a orientação do desenvolvimento sustentável de modo a garantir o respeito aos valores essenciais do próprio existir humano, flexibilizando e permitindo que as camadas populares possam deliberar sobre seus problemas através de acordos sociais. Então, o pensamento ambientalista surge como forma de proteção da natureza e de valorização da racionalidade substantiva do homem comum, de modo que ele consiga elaborar uma visão crítica da sociedade e interferir no referido contexto, produzindo uma ação engajada benéfica no processo de transformação da sociedade.

3.1 Educação Ambiental X Educação Popular

De acordo com Isabel Carvalho (2008), a Educação Ambiental como um novo paradigma de comportamento e reflexões, nasce no Brasil, a partir dos anos 80 e se firma de forma expressiva nos anos 90, a partir da Conferência da ONU para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável (CNUMAD), em 1992. Embora ela seja resultado das lutas e anseios dos movimentos ecológicos,

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ela passa a fazer parte no decorrer do tempo da agenda das práticas educativas. Portanto, a Educação Ambiental assume uma posição de destaque no desenvolvimento de projetos ambientais que permitam construir um novo alicerce nas transformações culturais e sociais da humanidade, pois, é somente pela educação que se pode fomentar possibilidades de tomadas de decisões em prol de uma transformação socioambiental.

Tão logo a Educação Ambiental assumiu no Brasil um papel de relevância social, ela passou a incorporar os posicionamentos da teoria crítica como instrumento de preocupação para a formação e emancipação dos sujeitos. As questões sociais a partir da Educação Ambiental Crítica ganham centralidade, ensejando um processo de mudança de comportamento e aquisição de novos valores e conceitos convergentes às necessidades do mundo atual.

Pensar em Educação Ambiental só é possível a partir de um modelo que leve em consideração a humanização da sociedade. Nesse contexto, a ênfase na perspectiva freireana traz para a Educação Ambiental uma proposta concreta, que em última instância significa construir uma postura crítica diante do enorme descaso com a degradação da natureza.

Esse perfil socioeducativo de natureza popular poderá ser um fator agregador, uma vez que propõe uma pedagogia popular como forma de inserção do homem em um horizonte de responsabilidade para com tudo que diz respeito à vida, interagindo com todas as áreas do conhecimento.

A sensibilização da sociedade diante dos inúmeros problemas por ela enfrentados, só se torna relevante se a educação conseguir através de uma visão crítica contribuir para a formação de cidadãos conscientes e solidários. Pois, a educação oficial não consegue contemplar tais referenciais por ser extremamente deficiente e tendenciosa, não poderia ser de forma diferente, afinal ela está a serviço da economia capitalista.

A educação brasileira na sua ação formativa nada mais tem feito que avalizar o uso do meio ambiente em nome do progresso. Nesse sentido, os recursos naturais do país estão a serviço de projetos desenvolvimentistas em escala internacional, gerando enorme destruição no nosso ecossistema e acentuando ainda mais os conflitos sociais, as lutas de classe e a miséria do povo.

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Temos convicção que Educação Popular freireana se aproxima da Educação Ambiental na medida em que fornece subsídios para a questões ambientais, pois aquela está pautada em uma possibilidade de melhoria de vida com ênfase nos temas tratados pela realidade das comunidades. Esse modelo de educação centra sua prática pedagógica na formação da cidadania, sinalizando para o sentido do coletivo como forma de ser ambientalmente consciente da dimensão social.

As experiências dos movimentos sociais, no que concerne a projetos educacionais, mostram de forma positiva os avanços que estão realizando em seus projetos pedagógicos, exemplo disso é o modelo de educação popular desenvolvido pelo MST, que propositivamente vem transformando o paradigma atual do conhecimento e os métodos educacionais, o qual tem somado para uma formação consciente das responsabilidades que toda sociedade deve ter em relação à problemática ambiental.

Em tempos de globalização e de racionalidade instrumental, muitos educadores se sentem impotentes para dinamizar o processo de ensino/aprendizagem que considere a dimensão ambiental popular com base em uma relação dialógica, como propõe Freire (1987). Essa é uma discussão, que espera-se no futuro seja a expressão de um compromisso social por parte dos educadores.

A proposta freireana vai ao encontro de um futuro democrático e sustentável, mas a apropriação de tais conceitos, passa pela necessidade de incorporar nas práxis dos educadores uma pedagogia do ambiente, que tenha por base a construção de novos saberes, que respeite os interesses sociais, o respeito pelo outro, cujos efeitos educativos possam romper “[...] com a homogeneidade e centralização do poder na ordem econômica, política e cultural dominante”. (LEFF, 2009, p. 244)

A emergência ambiental atingirá uma solução positiva na medida em que a população consiga adquirir uma noção mais exata do que significa ser cidadão. Para isso, a Educação Popular poderá desempenhar importante papel na condução de uma consciência ecológica, transformando em realidade a vida da sociedade, atingindo os mais diferentes setores: político, econômico, social ou cultural. Mas, conforme as palavras de Berna: “[...] não basta se tornar mais consciente dos problemas ambientais sem se tornar também mais ativo, crítico

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e participativo [...]” (2001, p. 18). Essa relação do indivíduo com o meio ambiente é uma questão de exercício de cidadania, a qual forma a identidade do próprio povo.

É de fundamental importância a participação popular na resolução dos problemas ambientais, pois o homem é parte da natureza, nela tudo está interligado, há uma dependência recíproca para que ambos sobrevivam. Assim, a Educação Ambiental, nas palavras de Camargo, assume a partir da dimensão popular a condição de proponente de uma

“[...] filosofia de vida que resgata valores éticos, estéticos, democráticos e humanistas. Seu objetivo é assegurar a maneira de viver mais coerente com os ideais de uma sociedade sustentável e democrática. [...] Parte de um princípio de respeito à diversidade natural e cultural, que inclui a especificidade de classe, de etnia e de gênero [...]. (2002, p. 22)

Não resta dúvida que a Educação Ambiental se insere no processo educativo, a questão é sabermos qual proposta pedagógica consegue lidar com as questões ecológicas, uma vez que nem tudo na natureza desenvolve-se de modo sustentável. Além disso, quando pensamos em uma educação crítica, emancipadora e libertadora estamos falando de uma educação que consiga repensar o progresso material e ajude superar a estruturas sociais existentes.

A educação tradicional apenas reproduz e ajuda a manter o capitalismo avassalador, cujos efeitos do capital em expansão é o aumento da pobreza e da desigualdade social. Como decorrência amarga desse processo é a destruição e devastação do meio ambiente, especialmente quando se enraízam os bolsões de misérias nos grandes centros urbanos.

Desta forma, existe a necessidade de uma divisão de responsabilidades em relação à degradação do meio ambiente. Sabemos que o modelo de desenvolvimento é “socialmente perverso e politicamente injusto”, conforme aponta o relatório do Brasil para a Conferência Internacional da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), mas também cabem aos cidadãos, as classes populares, identificar quais ações pode-se fazer para que o mundo seja um lugar melhor e a sociedade se torne mais justa. Se somos também a causa dos problemas, é verdade que as soluções precisam partir de nós.

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A participação das camadas populares no que se refere a uma educação preservacionista do Meio Ambiente, precisa lançar o olhar no sentido de desvelar a proposta freireana. Somente quando houver uma organização suficiente, como força contestatória, poderá o povo ter voz para criticar os marcos referenciais da educação dominante e então, romper com o estilo de desenvolvimento do capitalismo.

Não se pode esquecer que a análise dos problemas ambientais passa pela discussão dos conflitos sociais, pois os processos de destruição ecológica nada mais são, segundo Leff (2010), que o resultado de práticas inadequadas do uso do solo, as quais geram marginalização social, desnutrição, pobreza e miséria extrema, como consequência direta do modo de produção capitalista.

Somente uma Educação Ambiental popular poderá cumprir o papel de agente promotora de cidadania, da autonomia, da justiça social, com participação e democracia. Estes componentes básicos da Educação Popular são capazes de estabelecer uma relação benéfica com o meio natural, pois tem a finalidade de estabelecer um audacioso plano, modificar o rumo da sociedade, engendrando um nível superior de racionalidade e justiça.

3.2 Convergências entre Educação Ambiental e Educação Popular

Pensar a Educação Ambiental como uma lógica permeada por princípios da Educação Popular, significa recuperar a função prospectiva e propositiva do conhecimento de acordo com a práxis freireana. Segundo Ana Freire (2003), a obra de Paulo Freire, sua teoria do conhecimento, abre possibilidades para refletirmos sobre as problemáticas socioambientais. Nesse contexto, pensar na preservação do ambiente diz respeito a humanização do mundo, à necessidade, a partir de práticas educativas, de tornarmos respeitosa a nossa relação com a natureza. Além disso, é também uma forma de fundamentar a luta dos trabalhadores(as) para superar as adversidades socioambientais, as quais estão tornando inviável todas as esferas da vida. Esclarece Ana Freire que:

Essa tarefa implica necessariamente uma reflexão sobre o real, sobre o concreto, sobre o que está aí: a devastação ambiental, a fome, as doenças, a miséria, o desemprego, a corrupção, a falta de terras para cultivar no país dos grandes latifúndios, a

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falta de escolas, de moradias, de saneamento e de políticas públicas sociais de modo geral, enfim, sobre tantos problemas [...] que afligem [...] mulheres, homens ou crianças. (2003, p. 16)

Várias são as possibilidades de intervenção nos problemas ecológicos que afetam a sociedade. Nesse sentido, segundo Loureiro (2004), compreender a educação como um processo social em construção e disputa, possibilita se avançar na crítica e em uma atuação mais consciente nas estruturas sociais. A Educação Popular se insere neste campo de lutas, preocupa-se com os temas emergentes e seus pressupostos conceituais oferecem subsídios para a construção de uma educação socioambiental dialógica e crítica.

Freire propõe que se faça uma reflexão acerca da contribuição da educação para a tomada de consciência, o que faz com que o sujeito ocupe uma postura crítica diante de seus problemas, uma postura de decisão e de responsabilidade social e política. Freire ainda aponta que a tomada de consciência leva à inserção dos sujeitos na história como protagonistas. Utilizando-se das categorias por ele chamadas de “situações limites”, “atos limites” e “situações limite”, Ana Freire (2003), diz que os problemas ambientais são “situações limite” da humanidade, que lamentavelmente é “percebido destacado”, portanto, a Educação Ambiental deve começar pelo resgate da consciência disso.

Para Freire as ações em prol de mundo melhor, envolvem, diz a viúva do educador, Ana Freire (2003), a capacidade “criativa” e “esperançosa” dos sujeitos, na luta pelo sonho utópico de uma manhã melhor. Não a “utopia” fantasiosa e irrealizável, mas a capacidade de tomar a realidade como objeto de estudo e de reflexão para viabilizar possibilidades de solução tomando os temas e problemas como desafio.

Nessa perspectiva, ações em Educação Ambiental, pautadas em metodologias da Educação Popular, significam construir em prol do meio ambiente uma pedagogia dialógica, que permita o “inédito viável”, como sonho possível, ser a extensão de práticas libertadoras. O “diálogo” é para Freire o caminho para estabelecer o equilíbrio e a harmonia no mundo, uma forma de eliminar a verticalidade do conhecimento, próprio do autoritarismo. “Como posso dialogar, se me sinto participante de um “gueto” de homens puros, donos da

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verdade e do saber, para quem todos os que estão de fora são “essa gente”, ou são “nativos inferiores”? (FREIRE, 1987, p. 46)

É pelo diálogo que se estabelece o processo de humanização. Humanização e desumanização são possibilidades de ser, enquanto prática de liberdade ou como opressão (FREIRE, 1987, p. 30). O diálogo em torno da Educação Ambiental, aponta Ana Freire, é mais do que uma questão científica, política ou epistemológica. É uma questão ético-antropológica de luta pela vida. (2003, p. 19)

A conscientização, de forma dialógica no âmbito da Educação Ambiental, se processa como inconformismo à opressão e à exclusão social. Neste aspecto, como princípio metodológico da educação libertadora a Educação Ambiental promove a reflexão em direção à construção de sociedades sustentáveis. Dá-se nesse sentido, o caráter emancipatório da Educação Ambiental, conforme se percebe nas palavras de Tozoni-Reis:

A educação em busca de tematização do ambiente que se pretenda crítica, transformadora e emancipatória, tem na educação libertadora referência e inspiração. Além de identidade filosófico-política, busquemos também inspiração didático-pedagógica nestas referências. O processo de conscientização como princípio metodológico traz a possibilidade de construção da metodologia do tema gerador1 como um importante recurso para a educação ambiental por seu potencial reflexivo e problematizador. (2006, p. 107)

A Educação Ambiental propõe um resgate ao pensamento da complexidade, buscando uma prática educativa que envolva a interdisciplinaridade das diferentes áreas do conhecimento. Deste modo, o caráter emancipatório da Educação Ambiental como movimento dialético, exige

1 A metodologia freireana do “tema gerador” é uma proposta interdisciplinar, cujo princípio metodológico visa a promoção de uma aprendizagem plena, não atomizada. O ato educativo nesta proposta pedagógica se dá a partir do conhecimento prévio dos educandos, com isso, ocorre uma aproximação entre conhecimento e transformação social. O tema gerador oferece suporte para o diálogo das disciplinas. "Estes temas se chamam geradores porque, qualquer que seja a natureza de sua compreensão como da ação por eles provocada, contém em si a possibilidade de desdobrar-se em outros tantos temas que, por sua vez, provocam novas tarefas que devem ser cumpridas" (FREIRE, 1987, p. 53)

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a transformação da consciência ingênua em consciência ambiental crítica, processo pelo qual os sujeitos comprometem-se na transformação do mundo.

Na complexidade ambiental, segundo Leff (2009), torna-se necessário o desencadeamento de um processo de desconstrução e reconstrução do pensamento. Desse modo, a formação ambiental, conforme o referido autor supracitado, implica gerar novos saberes que sejam capazes de inventar utopias que levem às mudanças históricas. Enfim, criar novos conhecimentos que fomentem uma nova racionalidade social.

Quando se fala em transformação social para um mundo melhor, não quer dizer apenas condições de sobrevivência dos seres, explica Ana Freire (2003), mas a utopia democrática de uma sociedade com equidade, com justiça e solidariedade. Essas proposições sugerem que a sustentabilidade homem-natureza é a “situação-limite” a que Freire se referia, é a práxis do ser humano na superação e construção de alternativas para a sustentabilidade. Construir uma práxis socioambiental, significa comprometer todos os envolvidos a uma nova postura ética, social, cultural, econômica, histórica e ecológica. Essa orientação está expressa no último texto que Freire escreveu sobre o assassinato do indío pataxó Galdino de Jesus, em 1997:

[...] urge que assumamos o dever de lutar pelos princípios éticos mais fundamentais como do respeito à vida dos seres humanos, à vida dos outros animais, à vida dos pássaros, à vida dos rios e das florestas. Não creio na amorosidade entre mulheres e homens, entre seres humanos, se não nos tornarmos capazes de amar o mundo. A ecologia ganha uma importância fundamental neste fim de século. Ela tem de estar presente em qualquer prática educativa de caráter radical, crítico ou libertador. (2000, p. 66-67)

Portanto, a Educação Ambiental vai além de apenas um conjunto de práticas de defesa do meio ambiente, ela assume em sua práxis educativa a dimensão da ética humana como uma “ação-reflexão crítica” dos problemas concretos, das realidades vivenciadas pelos sujeitos/educandos, seja à nível local ou global. Nesse cenário, destaca-se o conceito de “solidariedade”, o qual conforme entendido em Educação Popular, só se torna possível na diferença, no diálogo com o outro e com a discussão positiva de suas ideias e aspirações. A

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categoria “solidariedade” é fundamental para as relações solidárias de respeito e comprometimento com o meio ambiente, pois os conflitos naturais de diversas percepções a respeito do meio ambiente exigem a reconciliação, a compreensão e interesse, dentro do princípio da oscilação das diferenças.

Em um mundo em que a predominância de valores econômicos sobre os éticos e humanistas desaparece frente aos interesses particularistas, a noção freireana de cidadania, pela perspectiva da Educação Popular, assume em Educação Ambiental o estado de conscientização, condição essa entendida como de luta pela libertação e humanização do homem. Essa cidadania exigirá a intervenção e ação de cada sujeito na participação no destino do planeta. Para Freire:

Nosso compromisso, enquanto cidadão nesta sociedade globalizada é o de uma visão mais clara e ampla com a qualidade ambiental para um presente e futuro próximo, onde o homem terá oportunidade a sua vez e voz, tendo como vista não o espaço próximo de ação, mas também o horizonte planetário. (FREIRE, 2000, p. 66-67)

Este desafio nos exige uma nova postura frente às questões ambientais, significa tomar o meio ambiente como problema pedagógico, como práxis unificadora que favoreça mudanças significativas das consciências em prol de processos emancipatórios efetivos. Nesse sentido, a criticidade, intrínseca a Educação Popular, estabelece a base necessária para o diálogo com Educação Ambiental. Por outro lado, a construção de alternativas para os problemas da ambientais só poderá ocorrer se houver a conscientização dos sujeitos. Todos esses aspectos são importantes para uma Educação Ambiental crítica e transformadora.

Em síntese, a ação transformadora do homem no mundo exige a postura da mudança, da não aceitação de tudo aquilo que oprime e explora o ser humano, bem como da degradação do meio ambiente. Esse processo de superação da indiferença em relação aos contextos desumanizantes é uma questão do ato de conscientizar-se, o qual só é possível na medida em que a educação comprometida com o social, com a potencialização de todos os sujeitos, assuma uma perspectiva crítica e libertadora

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As aproximações conceituais entre Educação Popular e Educação Ambiental, como proposta educativa das camadas populares, permite reconhecer a realidade em que estão inseridos estes sujeitos, por isso, ambas firmam-se enquanto educação política, potencialmente libertadora através de suas práticas e teorias. Essa confluência conceitual alcança visibilidade devido a ambos os campos do saber reivindicarem a politização das massas como estratégia de luta pela reorganização social e pelas questões ambientais. Quando a Educação Popular e a Educação Ambiental trabalham pela transformação das relações sociais injustas e fazem críticas a forma como a riqueza e o poder é distribuído, bem como os reflexos que tudo isso tem sobre o meio ambiente, tais ideias se convergem e se complementam.

Em síntese, a influência da Educação Popular sobre a Educação Ambiental, especialmente a de concepção transformadora, é decorrência da aproximação de educadores populares junto de movimentos sociais e ambientalistas. Trata-se da recepção das pedagogias críticas e emancipatórias, cujo referencial é Paulo Freire.

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4. Considerações finais

Partindo de algumas questões norteadoras iniciais, foi possível que acompanhássemos a trajetória, bem como caracterizássemos as diversas fases do desenvolvimento da Educação Popular e da Educação Ambiental. A Educação Popular é um processo no qual todos somos aprendizes: ora educadores, ora educandos. Emerge daí um chamado, a partir do real e do sentido do ser, ao conhecimento que se pretende fundado no determinismo e na certeza, para inaugurar um saber com vistas à potencialização da criatividade e das possibilidades populares. Um chamado para a reconstrução social do mundo, que escapa das relações de poder que detém o processo de transmissão de saberes, implica em aprendizados novos a partir da sabedoria popular, a qual funda uma pedagogia do povo, incorporando todas as experiências, inclusive as de ordem ambiental.

Embora a Educação Popular em sua origem fosse construída como luta dos movimentos sociais, ela foi abrindo-se ao longo do tempo de forma plural e tomando para si a defesa da natureza, foi entendendo que esse é um processo de construção coletiva do saber. O diálogo com todos os sujeitos sociais emergentes passou a ser uma condição necessária, por isso, conceitos tão caros à Educação Popular como, libertadora, popular, comunitária, crítica, cidadania, humanização, desumanização, opressor, oprimido, diálogo, participação, consciência, etc., passaram também a convergir no sentido da aproximação de uma Educação Ambiental.

Tais temas estão na ordem do dia, especialmente quando as questões ambientais, junto com todo o peso de um sistema opressor, metamorfoseiam a paisagem e o cotidiano da vida das pessoas, gerando inúmeros conflitos. A problemática ambiental no Brasil que se acelera neste século XXI, com todas as nuances implicadas no fenômeno, precisa ser compreendida em toda sua dimensão, como um fenômeno histórico-social característico da sociedade de consumo, fruto do estímulo recebido pelo sistema capitalista. Além disso, fica claro que a exploração da natureza até o esgotamento de suas fontes e a destruição do meio ambiente gera um impacto social. Isso significa dizer, conforme Mônica Meyer, que

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[...] quando a exploração desse patrimônio excede às necessidades básicas vitais materiais e imateriais dos seres humanos e tem como meta a apropriação privada da riqueza, com geração de lucro e poder, o bem natural passa a ser mercadoria, essência do capitalismo. (2010, p. 128)

Concorre ainda para esse quadro caótico de destruição dos recursos naturais e de desintegração social, as cidades que concentram enormes aglomerações humanas, as quais produzem excessiva quantidade de lixo, muita poluição do ar, bem como poluição sonora e visual. Nessas aglomerações, percebemos uma queda na qualidade de vida, uma vez que esses centros urbanos industriais, ao transformarem o meio ambiente, provocam alterações não somente socioambientais, mas também culturais e sociais, aflorando com isso inúmeros conflitos entre diversos setores da sociedade.

Diante de tais preocupações, a sustentabilidade, segundo Leff (2009), é hoje um caminho de viabilização do desenvolvimento, ela precisa ser debatida e problematizada no contexto do planejamento econômico e da organização urbana das cidades. Significa em última instância a construção de uma nova racionalidade social, a qual deve ser traduzida como possibilidades de viabilizar o encontro do homem com a natureza, no sentido de estabelecer uma relação que lhe permita utilizar-se do meio natural de forma equilibrada.

Nesse contexto, a emergência da Educação Ambiental como contingência dos movimentos sociais traz, em sua própria origem, o encaminhamento prático de como a questão ambiental pode ser socialmente construída. Não há mais lugar no mundo para desmandos socioambientais, para o desenvolvimento predatório da natureza, para a reprodução das estruturas sociais, que nada mais é do que a manutenção da miséria, da pobreza e das injustiças sociais. É nesse campo de conflitos sociais que a base teórico-prática da Educação Popular como da Educação Ambiental centra-se, buscando a “[...] construção de um novo ethos social, baseado em valores libertários, democráticos e solidários”. (CARVALHO, 2001, p. 47)

A Educação Popular e da Educação Ambiental aproximam-se conceitualmente na medida em que permutam temas e propostas para a organização social, sobretudo quando ambas defendem a educação plural, libertadora e emancipadora.

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Como foi possível observar até aqui, fica claro que a Educação Popular através da pedagogia do povo, pode muito contribuir com a Educação Ambiental, oferecendo uma vasta possibilidade de troca de saberes, pois ambas se completam como uma única educação em direção a uma racionalidade social mais justa e igualitária, pois seus pressupostos ajudam a problematizar e socializar experiências que legitimam a existência humana.

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