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CURSO REGULAR DE DIREITO CONSTITUCIONAL PROFESSORES VICENTE PAULO E FREDERICO DIAS

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Academic year: 2021

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AULA 7: REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Na aula de hoje, estudaremos o tópico "repartição de competências", que nos dará conhecimento sobre como a Constituição Federal de 1988 partilhou as competências do Estado brasileiro entre os diferentes entes que integram a nossa Federação.

Para compreendermos bem o que estudaremos na aula de hoje, basta-nos pensar da seguinte maneira: em 1988, a Assembléia Nacional Constituinte possuía numa das mãos todas as competências do Estado brasileiro e, na outra, os quatro entes federados - União, estados, Distrito Federal e municípios - para receber essas competências. Como foi feita essa divisão de competências? Que princípios nortearam essa divisão? Quais competências foram outorgadas à União? Quais matérias foram atribuídas aos municípios? Partindo dessa ideia, detalharemos, nos itens seguintes, esses e muitos outros aspectos pertinentes à repartição constitucional de competências, sempre com foco no que tem sido cobrado pelas diferentes bancas examinadoras.

1) Noção: repartição de competências e Estado federal

Vimos na aula pretérita que o Estado brasileiro é do tipo federado, porque integrado por diferentes entidades políticas - União, estados, Distrito Federal e municípios -, todas dotadas de autonomia política, nos termos da Constituição Federal (CF, art. 18).

Pois bem, repartição de competências tem tudo a ver com Estado federado. Na verdade, podemos dizer que a repartição constitucional de competência é o núcleo, é a essência de um Estado federado. Por quê? Ora, simplesmente porque a autonomia dos entes federados está assegurada, precisamente, nas competências que lhes são atribuídas pela Constituição. Afinal, onde está a autonomia dos municípios? Nas competências que lhes são asseguradas pela Constituição. Onde está a autonomia do Distrito Federal? Nas competências que lhe são atribuídas pela Constituição. Onde está a autonomia dos estados? Nas competências que lhe são reservadas pela Constituição.

Com efeito, ao enumerar as competências próprias de um ente federado, a Constituição Federal está, automaticamente, assegurando a esse ente a autonomia política para o exercício de tais competências, sem ingerência dos demais entes federados. Por isso é que se diz que "repartição de competências e autonomia política são dois lados de uma mesma moeda", isto é, ao indicar competências como próprias de determinado ente, a Constituição está, na verdade, assegurando-lhe autonomia política para atuar nessa esfera. Ou, ainda, por isso é que se diz que "estudar repartição de competências é, em essência, compreender a formação de um Estado federado".

2) Cláusula pétrea

Questão muito debatida entre os constitucionalistas é saber se "repartição de competências" é, ou não, cláusula pétrea na Constituição Federal de 1988.

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Enfim, o modelo de repartição estabelecido pelo poder constituinte originário, em 1988, é inflexível, ou pode ser modificado por meio da aprovação de emenda constitucional? Uma competência que foi originalmente atribuída privativamente à União (art. 22), pode, hoje, ser transferida, por emenda constitucional, para o âmbito da legislação concorrente (art. 24)? Ou será que alterações dessa natureza são vedadas, por ter a Constituição Federal gravado a repartição de competências como cláusula pétrea?

A resposta a essas questões exige, antes de tudo, bom senso, diante do caso concreto, e pode assim ser resumida: repartição de competências não constitui cláusula pétrea, isto é, o modelo originariamente estabelecido pela Constituição Federal de 1988 pode sofrer alterações por meio de emenda constitucional; entretanto, tais alterações serão inconstitucionais caso tendam à abolição da forma federativa de Estado, pois esta, sim, foi expressamente gravada como cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4°, I).

Vejamos uma situação hipotética, que certamente nos auxiliará na compreensão do que chamados, acima, de "bom senso". A princípio, não haveria inconstitucionalidade alguma na transferência, por emenda constitucional, de certa competência municipal para os estados-membros (afinal, como vimos, "repartição de competências" não é cláusula pétrea). Entretanto, seria flagrantemente inconstitucional uma emenda constitucional que suprimisse dos municípios a sua competência para instituir e arrecadar os tributos municipais, repassando tal atribuição para os estados-membros, pois essa medida implicaria grave ofensa à autonomia política municipal (haveria, neste caso, forte tendência à abolição da forma federativa de Estado, com ofensa à cláusula pétrea prevista no art. 60, § 4°, I).

Há uma ótima questão do Cespe sobre esse aspecto. Foi na prova de Técnico Judiciário do TRT 1a Região, elaborada pelo Cespe em 2008:

"Por constituírem a medida do modelo federativo brasileiro, os dispositivos constitucionais que disciplinam a competência legislativa, são considerados implicitamente pétreos, e por isso não podem ser modificados por emenda constitucional."

Como comentamos, os dispositivos que disciplinam a repartição de competências entre os entes federativos podem ser alterados por emenda constitucional. O que não seria admitida seria uma alteração na repartição de competências que tendesse à abolição da própria Federação. Esta sim (a Federação) constitui cláusula pétrea. Diante disso, incorreta a questão.

3) Espécies de competências

As competências são tradicionalmente classificadas em administrativas, legislativas e tributárias.

As competências administrativas (materiais) são aquelas que indicam o campo de atuação político-administrativa do ente federado. São, assim, competências para atuação efetiva, para executar tarefas, para a exploração

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da respectiva atividade - e assim por diante. Por exemplo: competência da União para emitir moeda (CF, art. 21, VII).

As competências legislativas estabelecem o poder de normatizar as matérias, isto é, para estabelecer normas sobre as respectivas matérias. Por exemplo: compete privativamente à União legislar sobre trânsito e transporte (CF, art. 22, XI).

Importante! Note-se que, aqui, na competência legislativa, não se está a dizer que somente a União prestará serviços de transportes. Não, não. Não é isso. Os demais entes federados também poderão explorar o serviço de transporte (eles dispõem de competência administrativa para tal, conforme veremos adiante), mas somente a União poderá legislar sobre essa matéria (pois só ela dispõe de competência legislativa para disciplinar essa matéria). Enfim, os demais entes dispõem da competência administrativa para a exploração do serviço de transporte, mas não dispõem da competência legislativa para baixar normas sobre trânsito e transporte.

As competências tributárias, como a própria denominação indica, estabelecem o poder para instituir tributos de que dispõem todos os entes federados, como umas das formas de manutenção da sua autonomia.

4) Modelos de repartição

A doutrina faz referência aos seguintes modelos de repartição de competências: modelo clássico e modelo moderno; modelo horizontal e vertical.

O modelo clássico é aquele em que a Constituição enumera as competências da União e reserva as demais (não enumeradas, portanto) aos estados-membros. Esse modelo é denominado "clássico" porque foi o primeiro a ser adotado, no surgimento da forma federativa de Estado, nos Estados Unidos da América.

O modelo moderno é aquele em que a Constituição, além de enumerar as competências da União, enumera também hipóteses de competência concorrente e de competência comum. Esse modelo passou a ser adotado por muitos Estados após a primeira guerra mundial.

E no Brasil, que modelo adotamos? A Constituição Federal de 1988 adota o modelo moderno de repartição, pois, além de enumerar expressamente as competências da União (CF, arts. 21 e 22), o texto constitucional também indica expressamente a competência comum (CF, art. 23) e a concorrente (CF, art. 24).

O modelo horizontal é aquele em que as competências são outorgadas aos diferentes entes sem a existência de subordinação na atuação do ente federado sobre a respectiva matéria.

O modelo vertical é aquele em que as competências são outorgadas a diferentes entes, mas é estabelecida uma relação de subordinação na atuação desses entes sobre a respectiva matéria.

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Novamente, a pergunta: e no Brasil, que modelo adotamos? A Constituição Federal de 1988 adotou os dois modelos de repartição - horizontal e vertical -, com predominância para a repartição horizontal.

Com efeito, temos repartição horizontal, por exemplo, nos arts. 21, 22, 23, 25, 30 e 32, § 1°. Já o modelo de repartição vertical que temos é a competência legislativa concorrente da União, dos estados e do Distrito Federal (CF, art. 24).

Veja que, nos casos de repartição horizontal - arts. 21, 22, 23, 25, 30 e 32, § 1° -, o ente federado exercerá sua competência com plena autonomia, sem subordinação aos demais entes federados. Ao contrário, no caso de repartição vertical - art. 24 -, há uma relação de subordinação entre os entes federados no trato das respectivas matérias (por exemplo: as leis específicas estaduais não poderão contrariar as normas gerais expedidas pela União; a União não poderá, sob o pretexto de editar normas gerais, invadir a competência dos estados para editar normas específicas para estes - e assim por diante).

Ah, neste momento, não se preocupe com a diferenciação entre as competências acima indicadas nesses vários artigos da Constituição Federal (21, 22, 23, 25, 25, 30 e 32, § 1°), pois todas essas competências serão, ainda, detalhadamente estudadas nesta aula. Neste momento, é importante, apenas, você diferenciar os modelos de repartição e saber quais deles foram adotados pela Constituição Federal de 1988. Certo?

5) Técnica adotada pela Constituição Federal de 1988

Ao definir o modelo brasileiro de repartição de competências, a Constituição Federal de 1988 adotou como princípio geral para a partilha das competências entre os entes federados o princípio da predominância do interesse.

Vamos entender bem esse princípio. Já vimos que, em 1988, o poder constituinte originário possuía numa das mãos todas as competências do Estado brasileiro, e, na outra, os quatro entes federativos para, entre eles, repartir tais competências. Que critério adotar? Como decidir que matérias seriam atribuídas à União, aos estados, ao Distrito Federal ou aos municípios? Decidiu-se, então, pela adoção do critério da predominância do interesse, isto é, a competência deveria ser atribuída ao ente federativo de acordo com o interesse nela predominante.

Assim, as matérias de interesse predominantemente local foram atribuídas ao município, pois este é o ente federado local; as matérias de interesse predominantemente regional foram reservadas ao Estado, pois este é o ente federado regional; e as matérias de interesse predominantemente nacional foram outorgadas à União, pois este é o ente federado nacional.

Ao Distrito Federal, em razão da vedação à sua divisão em municípios (CF, art. 32), foram atribuídas as competências de interesse predominantemente local (municipais) e regional (estaduais).

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Um bom exemplo para a compreensão da aplicação do princípio da predominância do interesse é a competência para a exploração do serviço de transporte terrestre de passageiros, em que temos o seguinte:

a) se o transporte é dentro do município (intramunicipal), há uma predominância do interesse local e, portanto, a competência para a exploração foi outorgada ao do município;

b) se o transporte é entre diferentes municípios que integram um mesmo Estado (intermunicipal, mas dentro do mesmo Estado), há uma predominância do interesse regional e, portanto, a competência para a exploração foi outorgada ao Estado;

c) se o transporte é entre diferentes estados ou entre o Brasil e outros países (interestadual ou internacional), há uma predominância do interesse nacional e, portanto, a competência para a sua exploração foi outorgada à União.

A predominância do interesse foi, portanto, o princípio adotado como regra para a repartição de competências pela Constituição Federal de 1988.

Norteado por esse princípio da predominância do interesse, o legislador constituinte originário partiu para a repartição das competências propriamente dita, entre os diferentes entes federados. E agora, que rumo tomar? Como fazer essa divisão no texto da Constituição? Será que ele enumerou expressamente as competências de todos os entes? Bem, guiado pelo princípio da predominância do interesse, o legislador constituinte originário optou pela seguinte técnica:

a) enumerou expressamente as competências da União - competência enumerada expressa (CF, artS. 21 e 22);

b) enumerou expressamente as competências dos municípios - competência enumerada expressa (CF, art. 30);

c) outorgou ao Distrito Federal as competências estaduais e municipais (CF, art. 32, § 1°);

d) não enumerou expressamente as competências dos estados-membros, reservando a eles as competências que não lhes são vedadas na Constituição -competência não-enumerada, remanescente ou residual (CF, art. 25, § 1°); e) criou uma competência administrativa comum, outorgando-a a todos os entes federados - competência administrativa comum (CF, art. 23);

f) criou uma competência legislativa concorrente entre a União, os estados e o Distrito Federal - competência legislativa concorrente (CF, art. 24).

Cuidado! Observe que a Constituição Federal não enumerou taxativamente as competências dos estados-membros, reservando a eles a competência remanescente ou residual (CF, art. 25, § 1°). Ao contrário, as competências da União e dos municípios são definidas indicativamente, isto é, constam de uma enumeração expressamente indicada no texto Constitucional (ao contrário das competências dos estados, que são do tipo remanescente, não-enumerada ou residual).

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Neste ponto, cabem algumas considerações importantes, pequenas exceções ao modelo, que as bancas repetem e repetem em suas provas!

A primeira consideração diz respeito ao princípio da predominância do interesse. Vimos que esse princípio norteia o modelo geral de repartição de competências na Constituição Federal de 1988. Acontece, porém, que essa regra não é absoluta. Por que não? Porque há casos excepcionais que fogem desse critério, como, por exemplo, a competência para a exploração do gás canalizado - que, embora seja assunto de interesse predominantemente local (de interesse da comunidade local), foi outorgada aos estados, e não aos municípios (CF, art. 25, § 2°).

A segunda consideração diz respeito às competências do Distrito Federal. É certo que, como regra, podemos afirmar que a Constituição Federal outorgou ao Distrito Federal as competências estaduais e municipais (CF, art. 32, § 1°). Porém, não é correto dizer que todas as competências dos estados foram repassadas ao Distrito Federal. Há exceções a essa regra. As exceções estão estabelecidas nos incisos XIII e XIV do art. 21, segundo os quais compete à União organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

A terceira consideração diz respeito à competência remanescente dos estados-membros. É verdade que, como regra, a Constituição não enumerou expressamente a competência dos estados, reservando a eles as competências que não lhes são vedadas em seu texto (CF, art. 25, § 1°). Porém, não é correto afirmar que os estados-membros não possuem nenhuma competência enumerada na Constituição. Novamente, há exceções a essa regra. Com efeito, a Constituição enumerou aos estados, dentre outras, a competência para exploração do gás canalizado (CF, art. 25, § 2°), para a criação de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões (CF, art. 25, § 3°), para a modificação dos limites territoriais dos municípios (CF, art. 18, § 4°), bem assim para organizar sua própria Justiça (CF, art. 125). Portanto, guarde bem isto: embora seja a regra, nem todas as competências dos estados-membros são do tipo residual, remanescente ou não-enumerada; excepcionalmente, a Constituição Federal enumera expressamente algumas competências aos estados-membros, nos seguintes dispositivos: art. 18, § 4°; art. 25, §§ 2° e 3°; art. 125; art. 145; art. 149, § 1°; art. 155.

A quarta consideração também diz respeito à competência remanescente dos estados-membros. Embora no quadro geral de repartição de competências caiba aos estados a chamada competência residual, em se tratando de competência tributária (competência para instituir tributos), a União é que dispõe de competência residual. Com efeito, a União dispõe de competência residual para instituir novos impostos além daqueles discriminados na Constituição (CF, art. 154, I), bem assim para instituir novas contribuições de seguridade social (CF, art. 195, § 4°). Ademais, ainda em se tratando de competência tributária, os estados-membros dispõem de competência expressamente enumerada para instituir impostos, taxas e

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contribuições de melhoria (arts. 145 e 155) e contribuição previdenciária cobrada de seus próprios servidores (CF, art. 149, § 1°).

Muitos detalhes, muitas informações para memorizar, mas, a culpa não é nossa! E, pode acreditar, são esses detalhes que farão a diferença na prova! Você verá, na resolução dos exercícios desta aula, a importância desses pontos aqui por nós destacados.

Uma última dica de concursando! Na hora da prova, o princípio da predominância do interesse poderá ser muito útil para a resolução de questões "decorebas" que exijam conhecimento sobre a competência para a exploração de determinada matéria. Se você não souber a quem compete a matéria, tente pensar no seguinte: qual o interesse que predomina nessa matéria? Será que o interesse local, o interesse regional ou o interesse nacional? Na maioria das vezes, esse princípio dá uma ajudazinha! Dê uma olhada agora nos incisos do art. 21 (competência exclusiva da União) e do art. 30 (competência dos municípios) da Constituição. Você perceberá que praticamente nenhum deles precisará ser decorado para a prova, é só pensar na predominância do interesse (a maioria dos incisos do art. 21 traz matérias em que o interesse nacional salta aos olhos - logo, de competência da União; já os incisos do art. 30 trazem matérias em que o interesse local é facilmente identificado - logo, de competência dos municípios!).

São detalhes importantíssimos para sua prova. Vejamos algumas questões que os abordam.

Primeiramente, julgue esta assertiva do concurso de Auditor Fiscal do Trabalho, realizado pela Esaf em 2003:

"A repartição de competências é o ponto nuclear da noção de Estado Federal, tendo a CF/88 adotado como princípio geral de repartição de competência a predominância do interesse."

Na primeira parte, o enunciado afirma que repartição de competências é o ponto nuclear de um Estado Federado. De fato, a repartição de competências é a essência do Estado Federado, pois esse tipo de Estado está alicerçado na autonomia dos entes federados que o integram, e essa autonomia é assegurada, precisamente, na repartição de competências.

Já a parte final do enunciado afirma que a Constituição Federal de 1988 adotou como princípio geral para a repartição de competências o princípio da predominância do interesse, o que também está certo, como vimos.

Agora, julgue os dois itens a seguir, da prova Agente Técnico Legislativo Especializado da Assembleia Legislativa de São Paulo, aplicada pela FCC em 2010.

"São reservadas aos Municípios as competências que não lhes sejam vedadas pela Constituição, ditas competências remanescentes."

"Compete aos Estados legislar sobre assuntos de interesse local."

As duas assertivas estão erradas. A primeira porque as competências remanescentes foram atribuídas aos estados-membros. Significa dizer que são

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reservadas aos estados-membros as competências que não lhes sejam vedadas pela Constituição (CF, art. 25, § 1°).

A segunda porque, segundo o critério da predominância do interesse, compete aos municípios legislar sobre assuntos de interesse local (CF, art. 30, I); afinal, esse é o ente federado local.

6) Principais competências enumeradas na Constituição Federal São quatro as competências mais cobradas em concursos públicos: a) competência exclusiva da União;

b) competência privativa da União; c) competência comum (ou paralela); d) competência concorrente.

Nos subitens seguintes, abordaremos os aspectos relevantes sobre cada uma dessas competências, para que você, na prova, esteja pronto para os detalhes que caracterizam cada uma delas.

6.1) Competência exclusiva da União

A competência exclusiva da União está prevista no art. 21 da Constituição Federal. Trata-se de competência administrativa e de natureza indelegável, isto é, não há possibilidade de sua delegação aos estados, ao Distrito Federal ou aos municípios.

Ora, veja que é fácil perceber a indelegabilidade, senão vejamos este exemplo: é da competência exclusiva da União manter relações com Estados estrangeiros (CF, art. 21, I) e emitir moeda (CF, art. 21, VII). Ora, difícil imaginar a União delegando competência para o Estado da Bahia emitir moeda ou para o Município de Fortaleza celebrar um tratado internacional com os EUA.

Logo, nessas matérias da competência exclusiva da União não há espaço para atuação administração dos demais entes federados, tampouco para atuação legislativa (ou seja: não há espaço para os demais entes federados explorarem tais matérias, tampouco para sobre elas legislar).

6.2) Competência privativa da União

A competência privativa da União está prevista no art. 22 da Constituição Federal. Trata-se de competência legislativa (para edição de normas sobre as respectivas matérias), mas de natureza delegável (a União poderá delegar tal competência aos estados-membros, na forma disciplinada no parágrafo único do art. 22, a seguir estudada).

O mais aspecto mais importante sobre essa competência é, sem dúvida, a possibilidade de delegação, prevista no parágrafo único do art. 22, nestes termos:

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"Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo."

Já que esse é o aspecto mais cobrado em prova sobre essa competência, vamos aos detalhes importantes sobre essa possibilidade de delegação da competência legislativa privativa da União aos estados-membros:

a) essa delegação só poderá ser efetivada por lei complementar do Congresso Nacional, que é aprovada por maioria absoluta (CF, art. 69). Lei ordinária do Congresso Nacional não pode efetivar a delegação;

b) embora a Constituição não seja expressa, essa possibilidade de delegação alcança também o Distrito Federal. Quando a Constituição diz "autorizar os estados", entenda-se "autorizar os estados e o Distrito Federal", pois cabem ao Distrito Federal as competências legislativas outorgadas aos estados (CF, art. 32, § 1°);

c) essa delegação, se houver, deverá alcançar todos os estados e o Distrito Federal, sob pena de ofensa ao art. 19, III, da Constituição, que veda o estabelecimento de preferências entre si. Portanto, a União não poderá efetuar tal delegação em favor de somente alguns estados; se o fizer, deverá beneficiar a todos os estados-membros e o Distrito Federal;

d) essa possibilidade de delegação é somente para legislar sobre "questões específicas" no âmbito das respectivas matérias enumeradas no art. 22 da Constituição. Por exemplo: não poderá a União delegar competência para os estados legislar sobre "direito do trabalho", mas somente sobre "questões específicas no âmbito do Direito do Trabalho";

e) a possibilidade de delegação não alcança os municípios (isto é, a delegação por parte da União, se houver, só poderá alcançar os estados e o Distrito Federal).

Muitos detalhes, não? Pois é, mas valorize-os, pois eles são reiteradamente cobrados em provas de concursos, pelas mais diferentes bancas examinadoras! Ainda sobre a competência privativa da União (CF, art. 22), há um aspecto

importante para ser examinado com muita atenção.

Por se tratar de competência privativa da União, os estados e os municípios não podem suprir a omissão legislativa da União em relação às matérias apontadas nos incisos do art. 22 da Constituição Federal. Isto é, se a União não legislar sobre as matérias enumeradas nos incisos do art. 22 da Constituição, os estados, o Distrito Federal e os municípios não poderão sobre elas legislar.

Veja este exemplo: determina a Constituição que é da competência privativa da União legislar sobre direito penal (CF, art. 22, I); daí, indago-lhe o seguinte: se a União não tipificar determinada conduta como crime, os estados e os municípios poderão fazê-lo? Enfim, diante do silêncio da União, poderão os estados e municípios, no seu âmbito, tipificar condutas como crime? É evidente que não, pois compete privativamente à União legislar sobre direito penal. Como visto anteriormente, sobre as matérias do art. 22, os estados só

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poderão legislar sobre questões específicas, e somente se houver delegação da União por meio de lei complementar (CF, art. 22, parágrafo único).

Portanto, em se tratando das matérias enumeradas nos incisos do art. 22 da Constituição Federal (competência privativa da União), os estados-membros só poderão legislar sobre questões específicas pertinentes a tais matérias e, ainda assim, somente se houver delegação da União, por lei complementar (CF, art. 22, parágrafo único). Concorda com isso? Muito bem, é isso mesmo. Entretanto, há, em alguns incisos do art. 22 da Constituição, matérias que fogem a essa regra, isto é, que fogem dessa necessidade de delegação da União por lei complementar. Vejamos um exemplo. O inciso XXVII do art. 22 determina que é da competência privativa da União legislar sobre normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, estados, Distrito Federal e municípios (CF, art. 22, XXVII).

Como se vê, nessa matéria (licitações e contratos administrativos), a competência privativa da União restringe-se à fixação de normas gerais. Significa dizer que, em se tratando de licitação e contratação pelos demais entes federados (estados, Distrito Federal e municípios), a União só dispõe de competência privativa para fixar normas gerais. Logo, nesse caso, os demais entes federados poderão fixar normas específicas, suplementares às normas gerais expedidas pela União, sem necessidade da delegação por lei complementar, prevista no parágrafo único do art. 22.

Aliás, pense bem: nesse caso, seria totalmente despropositada eventual delegação da União para que os estados pudessem legislar sobre questões específicas! Por quê? Ora, simplesmente porque a União estaria delegando uma competência de que não dispõe, haja vista que, em se tratando de licitações e contratos, a sua competência privativa restringe-se à fixação de normas gerais (afinal, se não é da sua competência privativa legislar sobre questões específicas acerca de licitações e contratos, estaria a União delegando aos estados uma competência que não lhe pertence!).

Então, em se tratando de licitações e contratações, os demais entes federados poderão legislar sobre questões específicas (já que essa competência não é privativa da União), independentemente da delegação por lei complementar prevista no parágrafo único do art. 22. Esse mesmo raciocínio é aplicável aos incisos do art. 22 que atribuem à União, apenas, competência para a fixação de normas gerais, tais como os incisos IX e XXIV.

Muito importante esse aspecto! Portanto, valorize essa informação. Não é qualquer um que conhece esses detalhes. E isso faz diferença na prova, como fez no seguinte enunciado elaborado em 2010 pelo Cespe:

"Ao legislar sobre normas gerais, a União, no que diz respeito à sua competência, não deixa margem de atuação legislativa para os estados-membros, caso o assunto tenha sido esgotado."

Depois da nossa explicação você já sabe que, nessa hipótese, desde que respeitadas as normas gerais da União, os estados-membros poderão editar normas específicas sobre o assunto. Logo, incorreta a questão.

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"A CF conferiu à União diversas competências administrativas, sendo a sua principal característica a delegabilidade a outros entes federativos." As competências administrativas, materiais, atribuídas à União são as chamadas competências exclusivas, que têm como principal característica a indelegabilidade. Logo, incorreta a questão.

Pronto! Não confunda mais essas duas competências da União: Competências da União

Exclusiva (CF, art. 21) Privativa (CF, art. 22) Administrativa Legislativa

Indelegável Delegável 6.3) Competência comum

A competência comum (ou paralela) está prevista no art. 23 da Constituição Federal. Trata-se de competência administrativa outorgada a todos os entes federados.

Tal competência é também denominada "paralela" porque, nas matérias ali indicadas, os entes federados atuam em igualdade de condições, isto é, não há relação de subordinação entre eles. Logo, a omissão de um ente federado não impede a atuação de outro, tampouco a atuação de um prejudica a atuação dos demais.

Como se trata de atuação paralela, a fim de se evitar a superposição de esforços dos diferentes entes federados, estabelece a Constituição Federal que "leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional" (CF, art. 23, parágrafo único).

6.4) Competência concorrente

A competência concorrente está prevista no art. 24 da Constituição Federal. Trata-se de competência legislativa, em que a Constituição Federal estabelece uma concorrência legislativa entre a União, os estados e o Distrito Federal (os municípios não integram essa concorrência legislativa). Conforme vimos, é modelo de repartição vertical de competências, haja vista que diferentes entes federados atuarão sobre as mesmas matérias, mas

não em condições de igualdade. Com efeito, os diferentes entes federados disporão sobre as mesmas matérias, mas haverá subordinação nessa atuação, na forma a seguir estudada.

Vamos, então, recordar como funciona essa "concorrência legislativa" entre a União, os Estados e o Distrito Federal.

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Na legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais (CF, art. 24, § 1°). Logo, no tocante aos demais entes federados, caberá à União, apenas, fixar as regras gerais sobre as respectivas matérias.

A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados (CF, art. 24, § 2°). Assim, o fato de a União estabelecer as normas gerais não impede que os estados suplementem a legislação federal, expedindo normas específicas, desde que, evidentemente, não haja desrespeito por parte dos estados a essas normas gerais expedidas pela União. Vale dizer: os estados poderão suplementar as normas gerais expedidas pela União, desde que não as contrariem.

Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades (CF, art. 24, § 3°). Significa dizer que a omissão da União quanto à expedição das normas gerais não impede a atuação dos estados. A atuação dos estados não depende da edição prévia de lei federal sobre normas gerais. Ao contrário: diante da inexistência de lei federal de normas gerais, poderão os estados legislar plenamente sobre a respectiva matéria. Vale dizer: a omissão da União quanto à expedição de normas gerais implica competência legislativa plena para os estados editarem suas próprias leis sobre a matéria, para o atendimento de suas peculiaridades.

Em razão dessas duas previsões - §§ 2° e 3° do art. 24 -, os estados podem atuar de duas maneiras distintas na legislação concorrente: suplementando a lei federal de normas gerais existentes ou, na ausência destas, legislando plenamente sobre a respectiva matéria.

Por isso, alguns constitucionalistas (Alexandre de Moraes, por exemplo) dividem a atuação suplementar dos estados em duas: complementar e supletiva.

A atuação suplementar do estado é "complementar" quando ele edita normas específicas em complementação à lei federal de normas gerais expedida pela União (CF, art. 24, § 2°).

A atuação suplementar do estado é "supletiva" quando ele legisla plenamente sobre a matéria, diante da inexistência de lei federal de normas gerais (CF, art. 24, § 3°).

A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (CF, art. 24, § 4°). A relevância desse dispositivo é deixar claro que o fato de a União ser inicialmente omissa quanto à expedição da sua lei de normas gerais, dando azo à legislação plena dos Estados, não impede que ela (União) posteriormente saia da inércia e edite tal lei federal de normas gerais. E que, nesse caso, essa lei federal de normas gerais superveniente prevalecerá sobre a lei estadual, suspendendo a eficácia desta, no que lhe for contrário.

Vamos trabalhar melhor essa informação, abaixo.

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Momento 1: a União é omissa, isto é, não edita a lei federal de normas gerais sobre a matéria.

Momento 2: o estado, no uso da competência legislativa plena, adquirida diante da omissão da União, edita sua própria lei sobre a matéria.

Momento 3: a União resolve sair da sua inércia e edita, supervenientemente, a sua lei federal de normas gerais.

Momento 4: se houver conflito entre a lei federal superveniente e a lei estadual editada anteriormente (editada no uso da competência legislativa plena, enquanto a União estava omissa), prevalecerá a lei federal, que suspenderá a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrária.

Momento 5 (este momento não está expressamente previsto na Constituição, mas é decorrência lógica do sistema): se a União revogar a sua lei federal de normas gerais, a lei estadual que estava com a sua eficácia suspensa voltará automaticamente a produzir eficácia, salvo se já houver sido revogada por outra lei estadual.

Cuidado! Essas regras de funcionamento da legislação concorrente - previstas nos parágrafos do art. 24 - devem ser memorizadas e muito bem compreendidas por você, porque são muito cobradas em provas!

Temos, ainda, que examinar os seguintes aspectos importantes: a) Atuação excepcional da União;

Embora na legislação concorrente a regra seja a expedição de normas gerais pela União, é possível que a União edite também normas específicas, desde que em relação aos seus próprios órgãos e entidades. Como assim?

Quando a Constituição determina que "a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais", entenda-se: "limitar-se-á a estabelecer normas gerais em relação aos estados e ao Distrito Federal". Ou seja: essa limitação não impede que a União edite normas específicas no seu âmbito, em relação aos órgãos e entidades federais. Entendeu?

Vamos para um exemplo, que a coisa fica mais fácil. O inciso IX do art. 24 determina que compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre educação. Então, no tocante à prestação do serviço de educação pelos estados e Distrito Federal, a União só poderá estabelecer normas gerais (caberá aos estados e ao Distrito Federal fixar as normas específicas, nos respectivos âmbitos). Entretanto, no tocante ao serviço de educação prestado por instituições federais (da União), competirá à União estabelecer não só as normas gerais como também as normas específicas (afinal, se a União não estabelecesse essas normas específicas em relação aos seus próprios órgãos e entidades, quem o faria? Não faz o menor sentido pensar que os estados e o Distrito Federal editariam normas específicas para órgãos e entidades da União!).

b) Atuação excepcional dos estados-membros;

Em regra, cabe aos estados a edição de normas específicas suplementares às normas gerais editadas pela União. Entretanto, os estados podem também

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editar normas gerais, desde que diante da omissão da União, quando adquirem competência legislativa plena, para o atendimento de suas peculiaridades. Quando a Constituição determina que, diante da omissão da União, os estados adquirirão "competência legislativa plena", está permitindo que os estados legislem plenamente sobre a matéria, editando, no seu âmbito, tanto as normas gerais (inexistentes, devido à omissão da União), quanto as normas específicas necessárias para o atendimento de suas peculiaridades.

Em síntese: na legislação concorrente, a regra é a União editar normas gerais e os estados editarem normas específicas suplementares; porém, é bom lembrar que a União poderá também editar normas específicas (em relação aos seus próprios órgãos e entidades) e os estados poderão editar normas gerais (diante da inexistência de lei federal de normas gerais, em face da omissão da União).

c) Conflito entre lei federal e lei estadual;

O texto constitucional prevê a possibilidade de ocorrência de conflito entre a lei estadual (editada diante da omissão da União) e a lei federal superveniente de normas gerais (CF, art. 24, § 4°). Esse conflito, diz a Constituição, será resolvido em favor da lei federal superveniente, que suspenderá a eficácia da lei estadual no que lhe for contrário (a suspensão de eficácia não incide sobre toda a lei estadual, mas somente sobre os seus dispositivos que contrariarem a lei federal).

Cuidado! Não se trata de revogação (retirada da norma estadual do mundo jurídico), mas sim de mera suspensão de eficácia (a norma estadual

permanecerá no ordenamento jurídico, mas sem produzir efeitos). Com isso, se amanhã a lei federal de normas gerais for revogada, a lei estadual voltará a produzir automaticamente seus efeitos, salvo se houver sido revogada por outra lei estadual.

Agora, uma pergunta: em regra, como são resolvidos os conflitos entre lei federal e lei estadual no âmbito da legislação concorrente? Podemos afirmar que, nesses conflitos, a lei federal sempre prevalecerá?

De jeito nenhum. Na verdade, no âmbito da legislação concorrente, o conflito entre lei federal e lei estadual é resolvido ora em favor da legislação federal, ora em favor da legislação estadual, a depender da natureza da matéria disciplinada por tais normas, da seguinte forma: se a matéria disciplinada for "norma geral", prevalecerá a legislação federal; se a matéria versada for "norma específica", prevalecerá a norma estadual.

Somente numa situação específica, relativa à expedição de normas gerais, determina a Constituição a prevalência da lei federal: a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (CF, art. 24, § 4°). Mas, lembre-se: mesmo nesta situação específica, a lei federal não revogará a lei estadual, mas somente suspenderá a eficácia desta.

Enfim, na legislação concorrente, a lei federal prevalecerá sobre a estadual quando o conflito entre tais espécies normativas envolver "normas gerais". Isso porque, na legislação concorrente, a competência para estabelecer

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normas gerais pertence à União. Tanto é assim que a própria Constituição estabelece expressamente essa primazia da lei federal de normas gerais sobre a legislação estadual, ao dispor que a lei federal de normas gerais superveniente suspenderá a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (CF, art. 24, § 4°).

Portanto, cuidado na hora da prova! Não é sempre que na legislação concorrente haverá prevalência da lei federal sobre a estadual. Se o conflito entre tais espécies normativas envolver o tratamento de "normas específicas", prevalecerá a norma estadual, pois a União não dispõe de competência para fixar normas específicas no âmbito dos estados.

d) Situação dos municípios;

Sabe-se que os municípios não integram a competência legislativa concorrente, como não deixa dúvida a redação do art. 24 da Constituição (CF, art. 24: "Compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre"). Significa dizer que os municípios não concorrem com a União e os estados no tocante a legislar sobre as matérias enumeradas nos incisos do art. 24 da Constituição. Os municípios concorreriam se existisse uma regra que estabelecesse o seguinte: "se a União e os estados forem omissos, os municípios exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades". Mas, como se sabe, essa regra não existe!

Entretanto, os municípios poderão editar normas suplementares às leis federais ou estaduais editadas no desempenho da legislação concorrente. Isso porque dispõe o art. 30, II, da Constituição que compete aos municípios suplementar a legislação federal e a estadual, no que couber.

Portanto, os municípios também podem suplementar uma lei federal ou uma lei estadual resultante da legislação concorrente, por força da autorização do art. 30, II, da Constituição.

Cuidado! Esse ponto é bastante sutil! Vamos lá: os municípios não integram a competência legislativa concorrente, isto é, os municípios não concorrem com a União e os estados no tocante a legislar sobre as matérias enumeradas nos incisos do art. 24 da Constituição; porém, os municípios podem suplementar uma lei federal ou uma lei estadual editada no uso da competência legislativa concorrente, com fundamento no art. 30, II, da Constituição.

e) Confusão com os casos de omissão da União.

Cuidado! Os candidatos têm a tendência de aplicar as regras de funcionamento da legislação concorrente a todas as outras espécies de competência, o que é um erro grave! Ora, os estados e o Distrito Federal podem legislar plenamente diante da omissão da União no âmbito da competência legislativa concorrente, prevista no art. 24 da Constituição. Essa regra não vale para as demais competências.

Para que não haja mais confusão, vamos examinar, competência a competência, o que os entes federados poderão fazer diante da omissão da União:

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a) competência exclusiva da União (CF, art. 21) - não há espaço para atuação dos demais entes federados no trato dessas matérias, nem por delegação; portanto, se a União for omissa, os demais entes não terão o que fazer;

b) competência privativa da União (CF, art. 22) - se a União for omissa, os demais entes não são livres para legislar sobre essas matérias (lembre-se do exemplo do direito penal, mencionado anteriormente); porém, há a possibilidade de a União autorizar os estados e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas no âmbito dessas matérias, desde que por lei complementar; essa possibilidade de delegação não alcança os municípios; c) competência comum (CF, art. 23) - trata-se de atuação paralela, em que todos os entes federados atuam em condições de igualdade; portanto, a omissão de um ente federado não impede a atuação de outro, tampouco a atuação de um ente federado proíbe a atuação de outro; logo, se a União for omissa, os demais entes poderão atuar administrativamente sobre as matérias do art. 23 da Constituição, pois, como dito, todos os entes atuam em pé de igualdade;

d) competência legislativa concorrente (CF, art. 24) - trata-se de repartição vertical de competências, em que a União, os estados e o Distrito Federal concorrem entre si quanto a legislar sobre as respectivas matérias; logo, se a União for omissa, os estados e o Distrito Federal exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades; vale lembrar, ainda, que, se houver lei federal ou estadual, essa legislação poderá ser suplementada pelos municípios, no que couber, com fundamento no art. 30, II, da Constituição.

Então, por favor, na sua prova, não leve a regra aplicável à legislação concorrente para as demais espécies de competências disciplinadas na Constituição!

Haja informações sobre a legislação concorrente! Não é à toa que ela é a mais cobrada em concursos!

Explicadas as principais competências cobradas em concursos, passemos, agora, à indicação resumida das competências de cada ente federado, começando pelas competências da União.

Mas, antes, tente resolver agora a seguinte questão da FGV (Inspetor de polícia civil do RJ, aplicada em 2008):

"Estão em desacordo com o sistema de repartição de competências adotado pela Constituição Federal/88:

(A) poderes delegados para a União.

(B) poderes remanescentes para os Estados.

(C) poderes definidos indicativamente para os Municípios.

(D) áreas comuns de atuações paralelas da União, Estado, Distrito Federal e Municípios.

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A questão pede que o candidato identifique, dentre as alternativas, aquela que está contrariando as diretrizes gerais da repartição de competências estabelecida pela Constituição Federal. Vejamos uma a uma, de acordo com o que vimos anteriormente.

A alternativa "a" está errada. Na verdade, é o contrário. A União poderá delegar determinadas competências (legislar sobre questões específicas das matérias listadas no art. 22 da CF/88) para estados-membros e DF.

A alternativa "b" está de acordo com a repartição de competências estabelecida pela CF/88. São reservadas aos estados-membros as competências que não lhes sejam vedadas pela Constituição (CF, art. 25, § 1°). Trata-se da chamada competência remanescente.

A alternativa "c" está de acordo com a nossa repartição de competências, uma vez que, ao contrário da competência estadual, as competências dos municípios são listadas de forma expressa.

A alternativa "d" está de acordo com a nossa repartição de competências, pois há uma área comum de atuação paralela para os entes da Federação. Trata-se da chamada competência comum, prevista no art. 23 da Constituição.

A alternativa "e" está de acordo com a repartição de competências prevista na Constituição, pois alude ao art. 24 (competência concorrente).

Então, o gabarito é letra "a". 7) Competências da União

A União dispõe das seguintes competências:

a) competência administrativa exclusiva (CF, art. 21); b) competência legislativa privativa (CF, art. 22);

c) atua, em condições de igualdade, na competência administrativa comum ou paralela (CF, art. 23);

d) atua, com a competência de editar normas gerais, na competência legislativa concorrente (CF, art. 24).

e) competência tributária expressa para instituir os diferentes tributos -impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições e empréstimos compulsórios (arts. 145, 148, 149 e 153);

f) competência tributária residual - para instituir novos impostos e novas contribuições de seguridade social, além daqueles já discriminados no texto da Constituição Federal (arts. 154, I, e 195, § 4°);

g) competência tributária extraordinária - para, na iminência ou no caso de guerra externa, instituir impostos extraordinários (CF, art. 154, II).

7.1) Importantes Jurisprudências do STF sobre Repartição de Competências Profs. Vicente Paulo e Frederico Dias www.pontodosconcursos.com.br

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Selecionamos algumas jurisprudências relevantes do STF para que você possa conhecê-las e levá-las para sua prova. Mas, para tornar a aula mais dinâmica, optamos por mencioná-las a partir de questões de concurso.

Vamos começar pela jurisprudência mais relevante para fins de concurso: a quem compete a edição de normas concernentes às instituições bancárias? O Cespe cobrou tal assunto no enunciado a seguir.

"( CESPE/ANALISTA ADMIN ISTRATIVO/STF/2008) Lei municipal que obrigue a instalação, em estabelecimento bancário, de equipamentos de segurança é considerada constitucional, pois aborda um assunto de interesse eminentemente local."

Essa é uma jurisprudência bastante batida do STF, reiteradamente cobrada em concursos.

I) Em primeiro lugar, lembre-se de que, se o assunto diz respeito a interesse local, a competência para legislar é dos municípios (CF, art. 30, I). Nessa linha, o STF entende que "é competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial." (Súmula 645).

II) Ao contrário, cabe à União (e não ao município!) a competência para a fixação do horário de funcionamento de agências bancárias - tendo em vista que o tema extrapola o interesse meramente local.

III) Por sua vez, no que se refere à legislação sobre segurança e qualidade de atendimento aos clientes, inclusive de instituições bancárias, trata-se de competência municipal. Ou seja, compete aos municípios legislar sobre instalação de equipamentos de segurança, sanitários, bebedouros, tempo máximo de espera na fila etc.

Enfim, a assertiva está correta.

Agora, vejamos uma questão da Esaf sobre o assunto.

"(ESAF/PFN/2006) Não fere a Constituição Federal norma municipal que estipula tempo máximo para que as agências bancárias situadas no território do Município atendam clientes em fila de espera."

Como comentado, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, cabe aos municípios legislar sobre qualidade de atendimento dos clientes de instituições bancárias. Logo, a assertiva está correta.

De qualquer forma, não se esqueça de que compete à União (e não ao município) a competência para a fixação do horário de funcionamento de

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agências bancárias.

Sigamos analisando outras jurisprudências do STF.

"(CESPE/PROCURADOR DO MUNICÍPIO/VITÓRIA/2007) A vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária é inconstitucional."

É inconstitucional, por ofensa à autonomia federativa, a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária. Logo, a assertiva está correta.

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Segundo o STF, uma vinculação dessa natureza afetaria a autonomia do ente federativo, que passaria a estar obrigado a reajustar os vencimentos dos seus servidores de acordo com a variação de índice da União. Esse assunto foi sumulado pela nossa Corte:

"É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária" (Súmula 681).

A Esaf já cobrou o mesmo assunto.

(ESAF/PROCURADOR/FORTALEZA/2002) É inconstitucional a lei municipal que concede reajuste automático de vencimentos aos servidores municipais pela variação de índices apurados por órgãos do Governo Federal.

De fato, "é inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária". Portanto, correto o item.

Outra jurisprudência frequentemente cobrada diz respeito à competência para definir crimes de responsabilidade, vejamos:

"(ESAF/PROCURADOR/FORTALEZA/2002) Cabe aos Estados-membros definir os crimes de responsabilidade do Governador e disciplinar o respectivo processo."

Segundo entendimento consolidado do STF, compete privativamente à União legislar sobre crime de responsabilidade (mesmo de autoridades estaduais e municipais); afinal, trata-se da competência para legislar sobre direito penal, competência da União (CF, art. 22, I):

"São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento" (Súmula 722).

Questão incorreta.

É importante você conhecer também as jurisprudências relacionadas com a competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte (CF, art. 22, XI). Deixe-nos utilizar uma questão para sintetizar isso:

"(ESAF/PFN/2006) Não fere a Constituição Federal Lei estadual que, versando sobre trânsito de automóveis no território do Estado, proíbe a instalação de barreiras eletrônicas e impõe a desativação das já existentes."

Os estados, o Distrito Federal e os municípios não podem legislar sobre trânsito e transporte, por se tratar de competência privativa da União (CF, art. 22, XI).

Com base nessa competência, o STF entende que é inconstitucional lei estadual que disponha sobre:

I) licenciamento de motocicletas destinadas ao transporte remunerado de passageiros, pois cria nova forma de transporte coletivo remunerado;

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II) colocação de barreiras eletrônicas e instalação de aparelhos de controle de velocidade de veículos automotores em vias locais.

Portanto, a questão está incorreta.

Por outro lado, o STF admite que lei estadual autorize o Poder Executivo a apreender e desemplacar veículos de transporte coletivo de passageiros encontrados em situação irregular; nesse caso, uma norma dessa natureza insere-se no poder de polícia do Estado e não na competência de legislar sobre trânsito e transporte de forma geral.

"(CESPE/PROCURADOR DO MUNICÍPIO/VITÓRIA/2007) Se determinado município Y editar lei que proíba a instalação de nova farmácia a menos de 500 metros de estabelecimento da mesma natureza, tal lei será considerada inconstitucional, pois a norma exorbita de sua competência para o zoneamento da cidade, afrontando princípios constitucionais como a livre concorrência, a defesa do consumidor e a liberdade do exercício das atividades econômicas, que informam a ordem econômica consagrada pela Constituição Federal brasileira."

Apesar de se tratar de tema de interesse local, tal lei municipal seria inconstitucional. Segundo o STF:

"Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área" (Súmula 646 do STF).

Portanto, a assertiva está correta.

"(CESPE/ANALISTA ADMIN ISTRATIVO/STF/2008) O DF, por deter competência normativa relativa aos estados e municípios, poderá, legitimamente, editar ato normativo que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios."

O entendimento a que essa questão se refere você não pode errar. Afinal, há súmula vinculante sobre ele:

"Súmula Vinculante 2: É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias."

A edição dessa súmula surgiu do fato de que muitos estados vinham editando leis próprias instituindo e disciplinando loterias estaduais, jogos de bingos e outros tipos de jogos e sorteios oficiais - contrariando o art. 22, XX, da CF/88, segundo o qual compete à União legislar sobre sistemas de consórcios e sorteios. Portanto, a questão está incorreta.

(CESPE/ANALISTA/DIREITO/2008) Os estados podem, por meio de lei, anistiar seus servidores de ilícitos penais praticados contra a administração pública estadual.

É competência exclusiva da União conceder anistia (CF, art. 22, XVII). Ademais, compete privativamente à União legislar sobre direito penal (CF, art. 22, I).

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Atenção! O Supremo Tribunal entende que a anistia de infrações disciplinares de servidores estaduais é competência do estado-membro. Só caracteriza competência da União quando se cuidar de anistia de crimes (ilícitos penais).

Segundo a Corte, conferir à União - e somente a ela - o poder de anistiar infrações administrativas de servidores locais constituiria exceção radical e inexplicável ao dogma fundamental do princípio federativo - qual seja, a autonomia administrativa de Estados e Municípios.

Portanto, podemos concluir que caso o ato se caracterize como infração administrativa disciplinar, a anistia seria de competência do ente a que o servidor estivesse vinculado (no caso em questão, competência do estado-membro). Caso se caracterize como ilícito penal, aí sim a competência seria da União. A questão está incorreta.

Por fim, vale a pena mencionar jurisprudência do STF no sentido de que os serviços funerários constituem serviços municipais, dado que dizem respeito a necessidades imediatas do Município.

7.2) Divisão da competência privativa da União (segundo José Afonso da Silva) O art. 22 da Constituição apresenta, em 24 incisos, toda a competência privativa da União; ou seja, todos os assuntos sobre os quais compete à União legislar privativamente.

Pois bem, o prof. José Afonso da Silva propõe uma classificação para essas competências privativas, dividindo-as em três grupos de distintos:

(i) competência legislativa privativa sobre direito administrativo; (ii) competência legislativa privativa sobre direito processual; e

(iii) competência legislativa privativa sobre direito material não administrativo.

Objetivamente, você vai perceber que José Afonso classifica a grande maioria das competências privativas como sendo sobre direito administrativo (abrangendo atividades administrativas e serviços prestados pela Administração Pública). Os direitos processuais são basicamente três (direito

processual civil, direito processual penal e direito processual do trabalho); o que não pode ser classificado nem como direito administrativo e nem como direito processual é classificado na categoria de direito material não administrativo.

Então, para sua prova, não fica tão difícil assim:

a) o direito processual são somente aqueles três (processual civil, processual penal e processual do trabalho);

b) o direito material não administrativo vai abranger os demais assuntos (que não se enquadrem como direito administrativo), quais sejam: direito civil, direto comercial, direto penal, direto político-eleitoral, direto agrário, direto marítimo, direto aeronáutico, direto espacial e direto do trabalho.

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Dentro de direito comercial, ainda temos: comércio exterior e interestadual e propaganda comercial; dentro de direito político-eleitoral temos: nacionalidade, cidadania e naturalização.

Ainda se enquadram como direito material não administrativo: populações indígenas; condições para o exercício de profissões; e seguridade social.

c) o direito administrativo abrange diversas atividades administrativas e serviços prestados pela Administração Pública, a saber:

- desapropriação;

- requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;

- águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; - serviço postal;

- sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; - diretrizes da política nacional de transportes;

- jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

- regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;

- trânsito e transporte;

- emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; - organização do sistema nacional de emprego;

- organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios, bem como organização administrativa destes;

- sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; - sistemas de consórcios e sorteios;

- competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais; - registros públicos;

- atividades nucleares de qualquer natureza;

- defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;

Ok, ok. Agora, você não precisa mais assustar se uma questão te perguntar, por exemplo, se "Em repartição de competências, o direito marítimo é classificado como direito administrativo" ou se "o direito agrário é classificado como direito administrativo". Nenhum deles pode ser classificado como direito administrativo. Na verdade, segundo José Afonso da Silva, constituem exemplos de direito material não administrativo.

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8) Competências dos estados-membros

Conforme vimos, as competências dos estados-membros não estão expressamente indicadas no texto da Constituição, cabendo a tais entes federados aquelas competências que não lhes são vedadas pela Constituição (CF, art. 25, § 1°). É a chamada competência não enumerada, residual ou remanescente.

Entretanto, lembre-se: não é correto afirmar que os estados-membros não possuem nenhuma competência enumerada na Constituição, pois há exceções a essa regra. Assim, a Constituição enumerou aos estados a competência para exploração do gás canalizado (CF, art. 25, § 2°), para a criação de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões (CF, art. 25, § 3°), para a modificação dos limites territoriais dos municípios (CF, art. 18, § 4°), bem assim para organizar sua própria Justiça (CF, art. 125).

Portanto, guarde bem isto: embora seja a regra, nem todas as competências dos estados-membros são do tipo residual, remanescente ou não-enumerada; excepcionalmente, a Constituição Federal enumera expressamente algumas competências aos estados-membros, nos seguintes dispositivos: art. 18, § 4°; art. 25, §§ 2° e 3°; art. 125; art. 145; art. 149, § 1°; art. 155.

Em resumo, podemos afirmar que os estados-membros dispõem das seguintes competências:

a) competência remanescente, não enumerada (CF, art. 25, § 1°); b) competência administrativa comum ou paralela (CF, art. 23); c) competência legislativa concorrente (CF, art. 24);

d) competência legislativa delegada pela União, por lei complementar - se houver delegação da União, obviamente (CF, art. 22, parágrafo único)

e) competência tributária expressa - para a instituição de impostos, taxas, contribuições de melhoria e contribuições previdenciárias (arts. 145; 149, § 1°; e 155).

9) Competências do Distrito Federal

A Constituição determina que o Distrito Federal reger-se-á por lei orgânica aprovada por dois terços da Câmara Legislativa (CF, art. 32, caput) e que cabem a esse ente federado as competências reservadas aos estados e municípios (CF, art. 32, § 1°).

Desse modo, a lei orgânica do Distrito Federal é uma "norma híbrida", composta de competências - administrativas e legislativas - estaduais e municipais.

Entretanto, não é correto dizer que todas as competências dos estados foram repassadas ao Distrito Federal. Há exceções a essa regra. As exceções estão estabelecidas nos incisos XIII e XIV do art. 21, segundo os quais compete à União organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria

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Pública, a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

Logo, não se esqueça disto: embora equiparada hierarquicamente à Constituição Estadual, a lei orgânica do Distrito Federal não contém todas as matérias constantes da Constituição Estadual. Por que não? Porque, no Distrito Federal, cabe à União (e não ao próprio Distrito Federal) organizar e manter a Defensoria Pública, o Ministério Público, o Poder Judiciário, a Polícia Civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiro Militar (CF, art. 21, XIII e XIV).

Em resumo, podemos afirmar que o Distrito Federal dispõe das seguintes competências:

a) competência remanescente dos estados-membros, não enumerada (CF, art. 25, § 1°);

b) competência enumerada dos municípios (CF, art. 30);

c) competência administrativa comum ou paralela (CF, art. 23); d) competência legislativa concorrente (CF, art. 24);

e) competência legislativa delegada pela União, por lei complementar - se houver delegação da União, obviamente (CF, art. 22, parágrafo único)

f) competência tributária expressa - para a instituição de impostos, taxas, contribuições de melhoria e contribuições previdenciárias da competência dos estados e dos municípios (arts. 145; 149, § 1°; 149-A; 155 e 156).

10) Competências dos municípios

As competências dos municípios estão expressamente indicadas no art. 30 da Constituição Federal, podendo ser legislativa (incisos I e II) ou administrativa (incisos III a IX).

Além dessas competências expressamente enumeradas, os municípios ainda dispõem das seguintes competências:

a) competência administrativa comum ou paralela (CF, art. 23);

b) competência tributária expressa - para a instituição de impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições previdenciárias e contribuição de iluminação pública (arts. 145; 149, § 1°; 149-A; e 156).

Acreditamos que, agora, você já está pronto para resolver quaisquer questões sobre esse assunto na sua prova! Você verá, nos exercícios seguintes, que as questões não têm como fugir dos aspectos que foram por nós examinados nesta extensa aula!

1. (CESPE/AGENTE E ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL SUBSTITUTOS/PCRN/2008) O princípio geral que norteia a repartição de competência entre as entidades componentes do Estado federal é o da predominância do interesse, segundo o qual à União caberão aquelas matérias e questões de predominante interesse geral, nacional, ao passo que aos estados tocarão as matérias e assuntos de predominante Profs. Vicente Paulo e Frederico Dias www.pontodosconcursos.com.br

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interesse regional, e aos municípios concernem os assuntos de interesse local. José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 24.a ed., 2005, p. 478 (com adaptações). Com referência ao texto acima e com base na CF, assinale a opção correta.

a) A CF enumerou, expressamente, as competências administrativas dos estados-membros.

b) Ao DF são atribuídas apenas as competências legislativas reservadas aos estados.

c) A CF conferiu à União diversas competências administrativas, sendo a sua principal característica a delegabilidade a outros entes federativos. d) Compete privativamente à União legislar sobre trânsito e transporte. Entretanto, diante de interesse local, a União pode delegar esta competência legislativa, por meio de lei complementar, a apenas um estado-membro da Federação.

e) A CF enumerou as competências administrativas e legislativas dos municípios.

A alternativa "a" está errada, pois aos estados foi atribuída a chamada competência remanescente (CF, art. 25, § 1°).

A alternativa "b" está errada porque ao Distrito Federal foram atribuídas as competências estaduais e municipais (CF, art. 32, § 1°). Lembre-se, de qualquer forma, que nem todas as competências dos estados foram atribuídas ao DF. Segundo os incisos XIII e XIV do art. 21, compete à União organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública, a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

A alternativa "c" está errada. As competências atribuídas à União estão nos arts. 21 e 22 da CF/88. O art. 21 apresenta as diversas competências administrativas, materiais, atribuídas à União (a chamada competência exclusiva). Essas competências têm como principal característica a indelegabilidade.

A alternativa "d" está errada. O art. 22 apresenta as competências legislativas da União (a chamada competência privativa da União). Essas competências podem ser delegadas aos estados e ao DF por meio de lei complementar (ao contrário da competência exclusiva).

Portanto, realmente compete privativamente à União legislar sobre trânsito e transporte (CF, art. 22, XI), competência essa que pode, mediante lei complementar, ser delegada aos estados para o trato de questões específicas (art. 22, parágrafo único). Todavia, entende-se que a União não poderá realizar essa delegação a apenas um, ou apenas a alguns estados-membros. Ora, isso ofenderia a isonomia federativa, contrariando o dispositivo segundo o qual é vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios criar preferências entre si (CF, art. 19, III).

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A alternativa "e" está certa e é o gabarito, pois a Constituição Federal enumerou expressamente as competências dos municípios (tanto administrativas, como legislativas).

2. (CESPE/ADVOGADO/CORREIOS/2011) Compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente e ao consumidor.

De fato, compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente e ao consumidor (CF, art. 24, VIU). A assertiva está correta.

3. (CESPE/ADVOGADO/CORREIOS/2011) A CF atribuiu à União a competência privativa para legislar sobre serviço postal, admitindo, contudo, que os estados legislem sobre questões específicas a respeito do tema, desde que haja lei complementar autorizadora.

Compete privativamente à União legislar sobre serviço postal (CF, art. 22, V). Como se trata de matéria inserida no âmbito da sua competência privativa, a União poderá, por Lei complementar, autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas concernentes ao tema. (CF, art. 22, parágrafo único). O item está correto.

4. (CESPE/ADVOGADO/IPAJM/2010) Ao legislar sobre normas gerais, a União, no que diz respeito à sua competência, não deixa margem de atuação legislativa para os estados-membros, caso o assunto tenha sido esgotado.

Em certos assuntos (licitações, por exemplo), compete privativamente à União editar as normas gerais, válidas para todos os entes.

Nessa situação, as normas gerais da União deverão ser observadas pelos estados-membros; mas isso não significa que eles não possam editar suas próprias regras específicas. Ou seja, desde que respeitadas as normas gerais da União, os estados-membros poderão editar normas específicas visando a dar completa aplicabilidade àquele assunto, consideradas as suas peculiaridades.

Portanto, incorreta a questão.

5. (CESPE/TÉCNICO JUDICIÁRIO/SEGURANÇA JUDICIÁRIA/TRE/ BA /2010) Em caso de urgência, a exploração dos serviços de gás canalizado em determinado estado poderá ser regulamentada por medida provisória editada pelo governador.

A Constituição veda expressamente que a exploração dos serviços locais de gás canalizado (competência expressa dos estados-membros) seja regulamentada por medida provisória. A assertiva está errada.

6. (CESPE/ANALISTA DE INFRA ESTRUTURA/MPOG/2010) Se determinado estado-membro editar lei que estabeleça obrigações a serem observadas pelos empregadores em suas relações com os empregados, tal lei será inconstitucional, visto que é de competência privativa da União legislar a respeito de direito do trabalho.

Referências

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