• Nenhum resultado encontrado

ALGUNS ASPECTOS CULTURAIS DOS TERENA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ALGUNS ASPECTOS CULTURAIS DOS TERENA"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

ALGUNS ASPECTOS CULTURAIS DOS TERENA

Eder Alcântara de Oliveira-6º Semestre de História1

eder_terena@hotmail.com

Vera Lúcia Ferreira Vargas - orientadora2

veraterena@terra.com.br

O presente texto tem por objetivo contextualizar parte da história dos índios Terena, especificamente a que esta relacionada com a dança Kipaé, também conhecida como dança do bate pau entre os não índios. A pesquisa em questão se deu na sua maioria na aldeia Buriti, que esta localizada na Terra Indígena Buriti, no município de Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia em Mato Grosso do Sul, que compreende atualmente nove aldeias; sendo elas: Buriti, Córrego do Meio, Água Azul, Lagoinha, Barrerinho, Oliveira, Recanto, Olho D’Água e Terreré. Em um primeiro momento era uma pesquisa vinculada ao Programa Rede de Saberes da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, que logo após o seu início também se tornou pesquisa de iniciação cientifica pela mesma instituição de ensino.

No que se refere à bibliografia sobre os índios Terena, foi realizada uma releitura de alguns textos de Roberto Cardoso de Oliveira, entre eles: “Do índio ao bugre: o processo de assimilação dos Terêna” sendo que esse texto é a segunda edição, do “O processo de assimilação dos Terêna”. Esse texto foi o resultado do trabalho de campo realizado por Oliveira entre os Terena em 1955, quando esteve pela primeira vez entre esses índios por meio do Serviço de Proteção aos Índios – SPI. A continuidade desse trabalho resultou alguns anos depois em sua tese de doutorado na USP, sob a orientação de Florestan Fernandes, intitulada “Urbanização e tribalismo: a integração dos índios Terêna numa sociedade de classes”. E como o seu próprio título evidencia esse trabalho analisa as relações existentes entre a sociedade indígena e a sociedade nacional. Dentro dessa perspectiva, esse autor escreveu ainda “Os diários e suas margens: viagem aos territórios Terêna e Tükúna (2005)” sendo este a publicação de parte de seu diário de campo de 1955 que possibilitou a produção dos trabalhos anteriores mencionados, no entanto, agora com explicações do autor “as margens” sem alterar o conteúdo do mesmo. Ou seja, “um

1 Acadêmico do 6º Semestre de história, bolsista PIBIC/REDE DE SABERES/UCDB, e também estagiário

do Centro de Documentação Teko Arandu/NEPPI/UCDB.

2 Professora, Doutoranda e faz parte da Equipe de Pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações

(2)

encontro imaginário entre o jovem pesquisador e o velho professor”. (OLIVEIRA, 2005, p. 17).

Em seu primeiro trabalho, no entanto, para esse texto utilizou-se a sua segunda edição com o título de “Do índio ao bugre: o processo de assimilação dos Terêna” que foi publicado em 1976, Roberto Cardoso de Oliveira, fez algumas considerações sobre os Terena e as atividades realizadas pelo SPI junto a esses índios. Chamando atenção para a designação pejorativa do termo bugre que era imposta aos Terena pelos regionais como uma forma de identificá-los como bêbados e preguiçosos entre outros rótulos negativos.

A continuidade de seus trabalhos entre os Terena resultou em sua tese de doutorado pela Usp, intitulada: “Urbanização e tribalismo: a integração dos índios Terêna numa sociedade de classes” publicada em 1968. Evidenciando a sua preocupação com a mobilidade dos Terena entre a aldeia e a cidade.

Roberto Cardoso de Oliveira publicou em 2002 “Os diários e suas margens: viagem aos territórios Terêna e Tükúna”, pode-se dizer que a contribuição desse trabalho esta nas observações realizadas pelo “jovem etnólogo e o velho professor” nas margens do diário, estabelecendo novos desafios para os pesquisadores que trabalham com a temática indígena, especialmente com os Terena. Primeiramente pela própria leitura que o autor faz de si mesmo. E segundo que uma das razões dessa mesma publicação foi para atender aos pedidos das próprias lideranças indígenas que constantemente solicitavam para lhes mandarem o que havia sido escrito sobre os Terena.

Entre os seus escritos esse autor fez algumas menções sobre a participação dos índios Terena na Guerra do Paraguai, já apontando o que ficou também evidente nas entrevistas realizadas, a importância da participação indígena nesse conflito.

No que se refere as entrevista cabe destacar que a contribuição para as suas realizações foram: primeiramente fazer parte da comunidade que forma a aldeia Buriti, segundo estar realizado uma pesquisa voltada para o aspecto cultural dos Terena, com informações fornecidas pelos próprios índios, respeitando e valorizando os conhecimentos dos mais velhos que habitam a aldeia, meio encontrado também para eles acreditarem na importância desse trabalho, para a divulgação de parte de sua cultura, contada por eles mesmos. Assim, iniciou-se o denominado trabalho de campo.

Mesmo sendo realizado por um índio Terena que também era morador da aldeia Buriti, foi preciso primeiro comunicar o cacique sobre a pesquisa e sua opinião sobre ela. A resposta foi simples: “sendo você uma pessoa que mora aqui na aldeia não vai querer o mal para o nosso povo; por mim não tem problema; só que tenho que comunicar os meus

(3)

companheiros e o meu vice, e o resto da liderança”. E ao se reunir com todas as lideranças da aldeia, o cacique obteve a resposta afirmativa de todos para o desenvolvimento dessa pesquisa.

Somente depois desse processo foi que se começou a pensar na forma que esse trabalho se desenvolveria, sabendo da importância das manifestações culturais, mas com pouca visibilidade na comunidade. Por isso optou-se em conhecer melhor a realidade cultural da aldeia com as pessoas mais velhas, os anciãos; então se começou a perceber que eles realmente estavam vendo que a cultura, a historia de seu passado, da aldeia, seria escrita por uma pessoa de seu povo e que essa pesquisa serviria para que outros índios e não índios soubessem da sua história. Nesse momento percebeu-se, que as informações seriam concedidas, então dessa maneira a se deu a busca pelos contatos e as entrevistas, sendo realizadas.

E foi assim que aconteceu: sempre na primeira entrevista falava-se sobre coisas simples, contando do passado e como eram os costumes, a história de sua chegada na região, como eram as danças, a comida, a organização social, a pajelança. Somente, então, no outro dia, voltava com um gravador, uma caneta e papel para anotar, pois sabia que eles não teriam receio de contar, uma vez que já estavam preparados e lembrando mais coisas.

Foi dessa forma que no trabalho de campo foi possível conversar muito com os mais velhos, experiência que foi de extrema importância para essa pesquisa. Assim se deu o trabalho, sabendo que a pesquisa é uma das atividades que vai fortalecer o conhecimento e os relacionamentos com as pessoas da aldeia, sendo elas jovens crianças, anciãos, mulheres, cacique.

Dentre as entrevistas realizadas o objetivo era obter informações acerca dos aspectos culturais dos Terena, principalmente o da dança Kipaé, no entanto, muitas outras informações foram mencionadas entre elas, a participação desses índios na Guerra do Paraguai.

A importância dessa guerra é constantemente mencionada e destacada entre esses índios como um dos grandes feito dos Terena. A própria reivindicação para a demarcação de seu território esta vinculada a sua participação nesse conflito. Pois foi no pós-guerra que de fato se concretizou o povoamento do então sul de Mato Grosso, e com ele se intensificou os conflitos entre índios e fazendeiros que se estabeleciam na região se apropriando de terras que antes eram ocupadas pelos índios.

Segundo Vargas (2003) a própria constituição das então reservas indígenas que se formaram no início do século XX, sob a orientação do Serviço de Proteção aos Índios SPI,

(4)

foi por meio das reivindicações dos próprios Terena, que devido a sua participação na mencionada guerra, sentiram-se no direito de reivindicar do Império, a permanência nos territórios que ocupavam e que formavam as suas aldeias, processo semelhante ocorreu em toda a região, destacando que mesmo sendo insuficientes para a sua sobrevivência, foram as suas ações que lhes garantiram.

Compreendendo a dinâmica que envolve as várias ações dos povos indígenas, principalmente aquelas referentes à constituição de uma terra indígena, e concordando com Oliveira Filho (2000) que essas ações não podem ser consideradas como um processo de mão única, ou seja, determinada por órgãos ligados ao Estado. Mas, sim que esses povos indígenas também fizeram e fazem parte desse processo como sujeitos históricos responsáveis pela sua construção - reivindicações e conquistas e manutenção. (OLIVEIRA FILHO, 2000).

E por meio das reivindicações tanto dos Terena quanto dos fazendeiros da região o governo brasileiro reservou 2.000 hectares de terras em 1928, sendo demarcada somente em 1945, estabelecendo-se uma superfície de 2.140 hectares, formando atualmente a Terra Indígena de Buriti, que ainda permanece com as suas questões territoriais tramitando na justiça brasileira.

O território é fundamental para os índios Terena, local de produção e reprodução cultural e econômica. Assim compreender alguns de seus aspectos culturais é fundamental torna-se necessário, para entender a manutenção de sua identidade étnica, que se pode dizer esta vinculada também com a sua memória. E entre as suas práticas culturais mais conhecidas pelos não índios constam à dança Kipaé.

Assim em entrevista com o índio Terena Elizeu Lili, que nasceu na aldeia do Bananal, município de Aquidauana, e atualmente esta com 60 anos de idade e reside na cidade Campo Grande, foi o formador do grupo de dança TE, e incentivou a participação dos índios Terena a praticarem a dança Kipaé, em idioma Terena, traduzindo a dança da Ema, um dos objetivos desse grupo era justamente, esclarecer para os demais não índios que a denominação de “Bate-Pau” era equivocada, e de certa forma pejorativa. Assim aponta que o surgimento da mesma se deu por:

Alguns velhos da nossa comunidade [contam] que essa dança surgiu devido a um sonho que o Pajé teve, ele sonhou e viu alguém apresentando essa dança no sonho, e ele adotou essa dança e levou essa dança pra sua comunidade ai surgiu a dança da ema

(5)

foi assim que surgiu a dança da ema Kipaé. (Entrevista Elizeu Lili, 2007).

Essa dança é apresentada por homens ou crianças, do sexo masculino, ou seja, somente os homens podem dançá-la. As mulheres possuem a sua própria dança que é denominada de Siputrena. Segundo Lili:

As tintas que usamos são extraídas do buriti e do urucum, que são as cores vermelha e preta. Os colares são variados, feitos com sementes, dentes, ossos e unhas de animais. As saias são fibras resistentes e flexíveis das folhas do buriti, planta nativa do pantanal. (Lili, s/d, p. 6)

No principio essas vestimentas eram realizadas com penas de Ema, no entanto, com a conscientização da preservação da fauna e da flora, essas vestimentas foram substituídas pelas fibras do buriti. Atualmente na aldeia Buriti, as tintas para a pintura corporal são extraídas da fruta do jenipapo que misturada ao carvão produzem a cor preta, e o urucum a cor vermelha, e por meio das cinzas (obtidas pela queima do carvão) produz a cor esbranquiçada.

Fonte: Eder Alcântara de Oliveira, 2006

A imagem em questão evidencia as saias feitas com a palha do buriti, bem como os principais instrumentos musicais que fazem parte dessa dança, que são: o tambor e a flauta, fabricados artesanalmente.

Segundo Lili 1996, ao se iniciar a dança toca-se a aflauta (pife) instrumento utilizado para iniciar a música, este instrumento é feito de um pedaço de bambu que tem vários furos e cera de abelha que da o som de flauta. É acompanhado por um tambor (caixa),

(6)

instrumento feito com couro de animal e madeira, estes dois instrumentos acompanham toda a dança.

Essa dança esta dividida em sete partes sendo comandada pelo cacique da dança, ele é o responsável pela sua coreografia, e a cada grito os seus passos vão se alterando, o primeiro deles é denominado passos do Jaburu, pois imitam os passos dessa ave pantaneira, formando duas filas. O segundo é realizado com as taquaras de bambu e os seus movimentos que segundo Elizeu Lili, 2007 é nesse momento que existe a representação da guerra, porque são duas alas, cada uma delas representam um povo guerreiro, estão fazendo uma demonstração de como eram usadas as suas armas, não significando que era a Guerra do Paraguai, mas sim as guerras que existiam entre os povos indígenas. Nesse momento a diferentes formas das taquaras de bambu se chocar umas com as outras, representando as diferentes formas de ataques entre eles, também é diferenciados os passos dessa dança, destacando-se o momento da vitória onde o cacique é elevado do chão pelos demais componentes ao se juntarem as taquaras.

Em seguida vem o bodoque são os arcos e flechas, utilizados nas mencionadas guerras, representando as armas dos guerreiros, única parte que é representada sem as taquaras de bambu.

Essa dança Kipaé é uma dança milenar dos Terena, sendo realizada em datas comemorativas, entre elas o dia 19 de abril, o dia do índio, e as referentes às questões indígenas, ou mesmo, em outros eventos quando são convidados, sendo este o casa da ilustração seguir.

(7)

Fonte: Centro de Documentação Teko Arandu

As imagens representam os índios Terena apresentando a dança Kipaé para os não índios a na Universidade Católica Dom Bosco UCDB, no lançamento do Programa Rede de Saberes.

Fonte: Centro de Documentação Teko Arandu

Essas imagens se referem à apresentação cultural dos Terena na abertura do I Seminário Internacional dos Povos Indígenas, realizado na cidade de Campo Grande no Estado de Mato Grosso do Sul, na Universidade Católica Dom Bosco, evidenciando que esses índios continuam a praticar e a evidenciar a sua cultura.

A Dança Kipaé é uma dança conhecida entre a população dessa região, entre outros fatores, a sua pratica seremete também à participação de seu povo na Guerra do Paraguai como já foi mencionado anteriormente, como era uma dança que já se realizava antes desse conflito, e sua composição representava as lutas existentes entre os povos indígenas, ela também foi associada à participação dos Terena junto ao Exército brasileiro, pode-se dizer que foi mais uma das formas encontradas por esses índios para registrar a sua história.

(8)

Nesse texto contextualizou-se parte da história do povo Terena, mesmo ficando fragmentada por falta ainda de informações e principalmente de experiência acadêmica no trato com as fontes que se conseguiu constituir para este trabalho fica registrado mais uma contribuição para a história indígena e por outro lado fica também a necessidade de se continuar com o desenvolvimento dessa pesquisa, pois essa é apenas a primeira parte dos resultados obtidos.

Referencia Bibliográfica

Abaixo-assinado do índios Terena do Posto de Buriti, em 1951. Microfilme 355, fotg. 391-2, DEDOC, Arquivo FUNAI, Brasília.

AZANHA, Gilberto. Resumo do relatório circunstanciado de revisão de limites da Terra Indígena de Buriti. 2001a. In: PROCESSO 0465/93. 12p.

______. Dados gerais e história sobre os Terena do “Buriti”. Volume I, 2001b. In: Processo 0465/93 87p.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Urbanização e Tribalismo : a integração dos índios Terêna numa sociedade de classes. Rio de Janeiro : Zahar, 1968.

______________________. Do índio ao Bugre : o processo de assimilação dos Terêna. 2. Ed. Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1976a.

______________________. O diário e suas margens: viagem aos territórios Terena e Tükúna. Brasília: UNB, 2002.

OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de. (Org.). Ação indigenista e utopia milenarista : as múltiplas faces de um processo de territorialização entre os Ticuna. In: ALBERT, Bruce; RAMOS, Alcida Rita. (Org.). Pacificando o Branco : cosmologias do contato no Norte-Amazônico. São Paulo : UNESP, 2000.

VARGAS, Vera Lúcia Ferreira. A construção do território Terena (1874-1966): uma sociedade entre a imposição e a opção. (Dissertação) Mestrado em História, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS, 2003.

LILI, Elizeu. Grupo TÊ. Apresentações Culturais. 1996. mimeo.

LILI, Elizeu. Grupo TÊ. Voz e arte de um povo que existe a mais de 500 anos. 2000. mimeo

LILI, Elizeu, depoimento [-2007]. Entrevistador: Eder Alcantara Oliveira - 2007. 01 fita cassete. Entrevista concedida ao trabalho de elaboração de pesquisa sobre a dança Kipaé.

(9)

Referências

Documentos relacionados

ACIOLI, M.D.; O processo de alcoolização entre os Pankararu: um estudo em etnoepidemiologia, Campinas, SP. in: Fazendo Gênero 9, Diásporas, Diversidades, Deslocamentos, agosto

Resumo do Caso: Trata-se do reconhecimento internacional da violação do direito a não ser submetido a escravidão e tráfico de pessoas (artigo 6.1 da Convenção Americana sobre

META 3 - Criar estratégia para identificar e valorizar os aspectos culturais e ambientais dos produtos oriundos de comunidades quilombolas, povos indígenas e demais povos e

Além disso, a maioria dos antigos mitos indígenas sobre o fenômeno da pororoca, que traz uma grande onda do mar para os rios volumosos da Amazônia, mostra que ele ocorre perto da

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) divulgou nota prevendo “um horizonte sombrio aos povos que habitam a Terra Indígena Vale do Javari,

Entre as várias discussões estão como já dito a questão da terra, em especial dos povos indígenas. Os povos indígenas em 1988, com a Constituição Federal teve o seu

Queremos ouvir e olhar para grupos de diferentes povos, que vivem em espaços urbanos, e mostrar o contexto, o cotidiano, a luta e os desafios da vida em cidades como Campo

Solidariedade também aos povos indígenas da Terra Indígena (TI) Vale do Javari e à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que se dedicaram com todas suas forças