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A Lei Maria da Penha no contexto indígena: Das Marias diversas às Marias Indígenas

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A Lei Maria da Penha no contexto indígena: Das Marias diversas às Marias Indígenas

Lindomar Lili Sebastião 1 lin.terena@hotmail.com

Ex-bolsista do Programa Internacional de Pós – Graduação da Fundação Ford.

Mestra em de Ciências Sociais/ Antropologia pela PUCSP/2012.

O trabalho proposto propõe discutir a aplicabilidade da Lei Maria da Penha no contexto indígena, em especial as mulheres Terena da região PIN2 Taunay e Ipegue.

Nas últimas décadas, os Terena intensificaram a relação com a sociedade purútuye3, aglutinando valores culturais exógenos à sua tradição. Isto proporcionou o surgimento de novas formas de organização, ressignificação e atualização de sua tradição. Nesse aspecto, o presente projeto tem por objetivo pesquisar as transformações que vêm ocorrendo dentro do sistema de organização social da cultura Terena, em especial com as mulheres, buscando compreender os direitos da mulher e a forma de operacionalização da Constituição Federal e da Lei 11.340/2006 Maria da Penha dentro de uma sociedade específica. Partiremos de uma visão histórica e etnográfica que leve em conta as relações sociais que permeiam o universo das mulheres com as demais esferas da vida dos Terena e sua forma de organização social, em conexão com os debates, contextos, questionamentos e aplicabilidade das leis relativas aos direitos das mulheres na sociedade nacional. A intensão é verificar como as mulheres reorientam sua condição de gênero a partir do acesso a leis nacionais de proteção às mulheres e como se o reordenamento das relações de gênero internas a comunidade Terena.

1Lindomar Lili Sebastião é graduada em História pela UCDB, Pós-Graduada em Gestão

Escolar pela UCB, EX- Bolsista do Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford, e mestra em Ciências Sociais pela PUCSP. Índia Terena de Aquidauana – MS.

2 Terra Indígena.

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Como povo, os Terena são de origem chaquenha, que em meados do século XVIII, se instalaram no lado oriental do rio na região de Miranda e Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, segundo

Castelnau ápud Oliveira (1976, p.23).

Nesse espaço, buscavam manter sua tradição, praticando a caça, a pesca, o plantio, construindo artefatos, praticando a espiritualidade por meio de seus rituais e preservando fortemente a língua original. Tidos como excelentes agricultores geravam da terra sua alimentação como fonte de sobrevivência.

A bibliografia histórica e atual sobre os Terena relata que em sua trajetória vivenciaram momentos marcantes, a contar: a relação interétnica, a aliança entre os Guaná e os Guaykurú; a saída do Êxiva4, no Paraguai; a Guerra do Paraguai, a

participação no exército brasileiro; o período pós guerra conhecido como o período de servidão (Kaúti), onde os Terena eram obrigados a trabalharem nas terras de fazendeiros para sua sobrevivência; Rondon e o SPI: sob o projeto de emancipação daqueles considerados arredios; o tempo despertar: marcado pelas conquistas, principalmente a inserção dos jovens nas universidades, de acordo com o pesquisador Terena ( Do CARMO MIRANDA,2006).

A guerra do Paraguai foi um forte fator de dispersão deste povo, percebendo que se encurralavam cada vez mais sob o fogo cruzado da guerra, buscaram refugiar-se em outras regiões. Mas foi no pós-guerra o maior sacrifício vivido quando estes tiveram que se reorganizar submetendo-se ao trabalho escravo nas fazendas, a discriminação vivenciada que perdura em tempos atuais, a educação secular e religiosa, bem como os conflitos gerados da religião ocidental imposto pelo homem branco e adotado em partes pelos Terena. Todos esses fatores contribuíram para essa dispersão do povo, e com a criação do SPI foram formadas diversas reservas indígenas no Mato Grosso do Sul, um espaço menor do que foram os territórios tradicionais. Entretanto, foram nesses pequenos espaços, demarcados como reservas, que os Terena novamente se reagrupam em comunidade estáveis, lograram recompor suas formas de sociabilidade e a reprodução de seu ethos. A vida em reserva implicou na submissão a formas

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organizacionais impostas pelo Serviço de Proteção ao Índio. Na reserva também se instituíram a presença e a participação de outras agências do estado e da sociedade nacional. Com elas os Terena interagiram e interagem ativamente, incorporando novos materiais, com as quais constroem as condições de reprodução física e cultural.

A intenção desse trabalho de pesquisa (em nível de doutorado) é dar continuidade ao tema “mulher indígena” – as Terena, descortinar seus direitos vindos da tradição junto à introdução dos direitos constitucionais vindos da sociedade envolvente. A intensão é descrever e analisar a histórica das transformações no modo de ser mulher Terena e como esse processo se conecta a negociação de conhecimentos, instrumentos culturais e, em que medida ele promove o reordenamento das relações de gênero. Embora o estudo seja desenvolvido numa única aldeia, ele pode servir de parâmetro para a histórias dessas transformações nos contextos vividos pelos Terena em dezenas de comunidades.

O Estado de Mato Grosso do Sul constitui a segunda maior população indígena do Brasil – sendo a primeira, a Amazônia. Possui cerca de 63 mil pessoas. Oito povos compõem o panorama intercultural do MS: os Kaiowá, os Guarani, os Terena, os Kadiweu, os Guato, os Ofaie, os Kamba e os Kiniquinau, sendo a população Terena, o segundo maior contingente populacional com aproximadamente 24.7735 pessoas.

Pesquisadores, antropólogos e cronistas clássicos, situam os Terena pertencentes a família de tronco lingüístico Aruak, como, também, são conhecidos como sendo um dos sub-grupos constitutivos do grande grupo Guaná (que reuniria outros povos como os Laiana, Kiniquinau, Echoaladi e os próprios Guaná). Os Terena, descritos pela literatura como agricultores eficientes, procuravam sempre melhores terras para a sobrevivência de suas famílias e para a formação de novas alianças com outros povos, que proporcionasse domínios estratégicos sobre as regiões em que passavam e/ou permaneciam, como ocorreu entre os Guaykurú.

As fontes mais antigas dão conta da presença dos Terena em terras chaquenhas a pelo menos cinco séculos – para os antigos Terena, o Chaco corresponde ao Exiva - tendo a migração dos Terena para os territórios brasileiros ocorrido somente na metade

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do século XVIII devido pressão das tropas espanholas. Os Terena instalaram-se, em sua maioria, nas margens do rio Miranda e Aquidauana, então sul de Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul. Por meio do SPI – Serviço de Proteção ao Índio – criado em 1910, os Terena foram conduzidos para outras regiões do Brasil, como a região norte e sul do antigo Mato Grosso e a região sudeste (CARVALHO, 1997).

Tanto quanto outros povos, os Terena aparecem como os indígenas que mais contribuíram para a formação da região Centro-Oeste, seja como produtores de bens de consumo dos primeiros moradores portugueses e brasileiros da região, seja como mão- de-obra aplicada nas fazendas que começaram a se proliferar depois da guerra contra o Paraguai, (1864 – 1870) que resultou em grandes perdas dos territórios tradicionalmente ocupados pelos Terena. No inicio do século XX, foram também arregimentados como força de trabalho na construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e na instalação da Linha Telegráfica. É importante ressaltar que além das contribuições dos Terena acima citadas, a participação da mulher indígena foi um elemento importante para a formação da população do Centro Oeste brasileiro, através das relações matrimoniais interétnicas com os purútuye ,colonos e bandeirantes. De fundamental importância para a viabilidade das fazendas, foi a incorporação da mulher Terena enquanto força de trabalho, principalmente nas sedes das fazendas (PEREIRA,2009). Isto porque no período inicial da implantação das fazendas, a tecnologia rudimentar impunha grande dependência de mão de obra para as atividades de processamento de alimentos, destinados à alimentação dos trabalhadores. No inicio do século XX, aconteceu o reagrupamento dos Terena em pequenas reservas demarcadas por Rondon. Atualmente, os Terena encontram-se confinados em pequenas áreas, insuficiente para a sobrevivência física e cultural, sendo esta a realidade vivida por outras populações indígenas do Brasil. Por conta da insuficiência de terras, várias comunidades terena estão empenhadas em reaver territórios de ocupação tradicional que foram expropriados durante o avanço das frentes de ocupação agropastoril. Frente a esse cenário, torna-se gritante a problemática referente à questão territorial em seu aspecto de reconstrução cultural, ou enquanto espaço de afirmação de identidade e autonomia. A luta pela recuperação das terras invadidas, frente ao avanço do processo de colonização, é uma

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luta diária, tanto para acabar com o confinamento geográfico imposto quanto para realizar os projetos culturais buscados (BRAND apud BROSTOLIN, 2005). Situação vivenciada na atualidade nas terras indígenas da região do município de Dois Irmãos do Buriti e Aquidauana.

Nesse processo de reorganização territorial há mudanças na cultura tradicional vivenciadas pelos indígenas. O contato com a sociedade envolvente trouxe novos valores, elementos exógenos que aglutinam em seu cotidiano, ressignificando a cultura, ao que denominamos de a “soma cultural6”. A pesquisa procurará situar como as

mulheres percebem e se inserem nas lutas por direitos sociais, inclusive territoriais. A pesquisadora Maria Cristina Galan (1994) aponta para a transformação cultural dos Terena ser consequência do intenso contato com a sociedade envolvente, nos últimos dois séculos. Deste contato aglutinaram-senovos elementos culturais vindo do mundo dos purutúye a exemplo a própria forma de legitimar o líder, na figura do cacique. Deve-se observar que as aglutinações, empréstimos e incorporações, sempre implicaram em releituras e adaptações, que as colocam a serviço da reprodução das figurações sociais terena.Algumas décadas atrás elegiam o líder tradicional – cacique – pelo sistema hereditário. Este deveria conter outras qualidades consideráveis para um líder, como por exemplo, ter a capacidade política de organização social, capaz de articulação e persuasão frente às problemáticas, e, além desse perfil, deveria ser pertencente ao estrato social dos nâti7. Com a intensa interação da sociedade Terena

com a sociedade envolvente, passamos a adquirir alguns costumes longe de nossa tradição. Atualmente os nossos líderes são escolhidos e legitimados pelo voto direto e aberto (SEBASTIÃO, 2012. P.42). Este sistema também é descrito por BALDUS (1979, p. 36): “Geralmente, o filho primogênito do chefe é o sucessor do pai, se não há

filhos mais velhos do irmão do pai”.

Neste novo cenário, surge também a presença das mulheres nos cargos de lideranças, antes ocupados exclusivamente pela classe masculina. Em toda

6 SEBASTIÃO/2012. Dissertação de mestrado.

7 A classe social dos Terena se define em estratos social classificados em três camadas, sendo composta

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historiografia dos Terena, não encontramos nenhum relato escrito pelos pesquisadores apontando a mulher ocupar um cargo de prestígio dentro da hierarquia da liderança tradicional. Porém, no século XXI,O ano de 2009 tornou-se um marco histórico para as mulheres Terena com a vitória da primeira mulher cacique nas urnas eleitorais da aldeia Marçal de Souza. Dona Enir Bezerra, 54 anos, natural da aldeia Limão Verde, município de Aquidauana/MS

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Após a ousadia de Enir Bezerra, outras mulheres passaram também a participarem das chapas para candidaturas a líderes, convidadas pelos próprios líderes atuais do momento, como forma de abrir portas de entrada para as mulheres Terena, tal como afirma uma das lideranças, Maurílio Pacheco, ex-cacique da aldeia Água Branca:

No final do meu mandato como cacique dessa aldeia, reuni minhas lideranças e lancei uma proposta para cedermos uma vaga para as mulheres se candidatarem a cacique também, porque pensei: tem mulher senadora, tem mulher governadora, tem mulher vereadora, prefeita e pensei, porque não tem mulher Terena cacique? Ela também tem direito8.

Isto demonstra o quanto os Terena são abertos á exterioridade, procuram interagir de modo proativo com a sociedade nacional, incorporando práticas e materiais culturais. Atualmente, com o crescente envolvimento das mulheres com o chamado movimento indígena e movimentos feministas, muita coisa tem mudado dentro das comunidades, é freqüente agora não só os homens irem a viagens para discutir sobre direitos, mas também as mulheres têm tido esse espaço e oportunidade, o que tem acarretado certos conflitos, visto que nem sempre os homens admitem a ida de suas mulheres, gerando momentos de tensão dentro das comunidades. Muitas mulheres, no entanto, têm quebrado as barreiras dos conflitos domésticos e têm buscado novas oportunidades dentro do mundo da política e dos movimentos sociais, o que demandará análises sobre os impactos atuais e futuros dessa que já é uma realidade em muitas aldeias, não só dos índios Terena, mas de outras etnias também.

Diga-se também que as mudanças no comportamento das mulheres terena devem-se ao fato de forças políticas e econômicas em que a sociedade envolvente

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interfere nas questões políticas, sociais e econômicas internas, proporcionando a elas uma nova visão de mundo. Como bem salienta Wolf, em relação às transformações que atingiram povos indígenas dos Estados Unidos: “A questão não é se o indígena norte-americano produziu materiais culturais distintos próprios, mas se fizeram isso sob a pressão das circunstancias, as imposições de novas demandas e mercados e as conseqüências de novas configurações políticas” (WOLF, 2003, p.295).

Apesar das indígenas conquistarem os espaços para atuarem nas discussões que se referem ao seu povo, este tem se dado lentamente. Há muito que se discutir no que se refere aos direitos da mulher indígena e quais leis se devem aplicar?

Durante décadas, percebe-se que as mulheres de diversas nacionalidades vêm lutando pelo direito à igualdade. No Brasil, o ano de 2006 torna-se um marco na história de lutas das mulheres, sob a conquista do “direito da mulher”, uma bandeira de luta erguida pela biofarmaceutica Maria da Penha Maia9. A Lei 11.340/2006 aplica-se no

teor da rigorosidade da violência práticada contra qualquer mulher, independente de religião, credo, pertencimento étnico e classe social como bem descrito no Artigo 2º da Lei 11.340/2006:

Toda mulher, independente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas às oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

De acordo com o depoimento da atual ministra Eleonora Menicucci à Revista PAGU, edição de 13 de janeiro de 2013, a implantação da Lei em sua totalidade, no atual governo, ainda é um desafio, segundo ela:

A implantação da Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência contra as mulheres e aumentou o rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar, é um grande desafio para o atual governo. A implantação da Lei Maria da Penha implica na criação de uma rede forte de atendimento às mulheres. [Hoje]

9 Maria da Penha Maia, após sofrer tentativas de assassinato pelo marido, professor universitário,

tornou-se paraplégica. Sua luta durou 20 anos até contornou-seguir a condenação de tornou-seu agressor. Suas denúncias chegaram até à comissão de Interamericana de Direitos Humanos da organização dos Estados Unidos. Bandeira,Lourdes/2009.

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são apenas cinco casas-abrigo [para mulheres] na cidade de São Paulo. No mínimo [deveria] ter uma para cada subdistrito de prefeitura. ( Revista PAGU, edição janeiro de2013).

A violência contra a mulher é considerada violação dos Direitos Humanos. Esta violação presente dentro do universo feminino engloba as diversas formas de violência, tal como podemos aqui registrar: física, psicológica, sexual, matrimonial e moral. É evidente a preocupação do legislador ao construir as contemplações da Lei. Porém, peca-se, se assim podemos designar a forma de operacionalização desta Lei, dentro do contexto das Marias Indígenas! O que fazer? Como fazer? Que Lei aplicar? Neste sentido, Wiecko V. de Castilho (2008), procuradora federal e integrante da elaboração do anteprojeto que culminou na Lei 11340/2006, afirma não terem realmente pensado as diversidades existentes entre as mulheres e nem tão pouco as violências causadas por homens do mesmo grupo étnico, podendo estar dentro ou fora de convívio da aldeia.

Assim cremos ser necessário e pertinente, reflexões e discussões no âmbito do contexto e convívio das mulheres indígenas para então chegar ao denominador comum das resoluções das violências contra as próprias. Pois, é provável que a violência contra essas mulheres podem não estar tão explícitas (como por exemplo, entre os Terena), o que nos levam a pensar a sua inexistência. Porém, podem estar na forma mais silênciosa na qual não vemos e nem ouvimos. Castilho (2008) afirma que a violência contra a mulher indígena: “é um tema ainda invisível... Há relatos de mulheres Guarani que apanham dos homens dentro de casa, mas tudo é escondido, vedado”.

Em outros povos a violência contra a mulher tem sido presente em seu cotidiano. As mulheres têm sofrido inúmeras violências partindo de dentro do convívio familiar pelo parceiro. Neste cenário de violência, as indígenas têm afirmado ser o alcool o responsável pelas práticas violentas de seus parceiros. O que nos causam indagações a respeito, será realmente o único elemento causador da violência? Quais os tipos de violências relatadas pelas mulheres indígenas? Quais as soluções que elas propõem? Nos vários encontros de organizações femininas indígenas, as pautas dos debates sempre são voltadas para questões mais gerais como os direitos coletivos voltados a

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educação, a saúde, a demarcação das terras reivindicadas; mas pouco se fala sobre a questão especifica das mulheres, principalmente no tocante a questão da violência.

Torna-se plausível aqui registrar que durante as discussões em reuniões, encontros e oficinas, deixam perecer as discussões referentes aos direitos da mulher. O assunto tem sido introduzido aos poucos e pouco, tem se observado a falta de informação e, a distorção das informações referente à Lei 11.340/2006.

Uma das preocupações levantadas entre as indígenas está em torno de que, se o marido for enquadrado de acordo com o que rege a lei, afetará a forma de sobrevivência de sua família, pois, se preso o homem, quem é que vai caçar pescar, ajudar na roça, ou no trabalho externo (fazenda, boia fria, ou usinas de álcool, etc.) tão necessário hoje a subsistência? Esse se torna um dos pontos cruciais da questão, pois envolve a discussão das relações entre os gêneros dentro de um contexto cultural diferenciado, implicando desta forma, as relações estabelecidas entre eles. O debate tem sido um canal de fortalecimento das lutas das indígenas, relatados por elas na Carta de VIII Assembleia Estadual de 2008 referindo-se à Lei Maria da Penha, como bem descreve Castilho (2008):

Fortaleceu e reavivou a nossa luta que vem de muitos anos em defesa dos direitos das mulheres e contra o consumo e venda de bebida alcoólica nas comunidades indígenas, por ser ela a causa dos mais diversos tipos de violência, discriminação e enfraquecimento das lideranças em defesa dos nossos direitos.

Ricardo Verdum (2008) aponta ser provável que as mulheres indígenas queiram informações mais claras a respeito da Lei Maria da Penha, para então decidirem o melhor mecanismo legal a ser tomado. E nesta mesma ótica, Freitas (2008) destaca que as leis internas – as indígenas – precisam ser avaliadas, modificadas e adequadas para garantir o direito de homens e mulheres, ou seja, o direito igualitário.

No entanto, Castilho (2008) enfatiza que a aplicação dessa lei deva ser cuidadosamente avaliada, levando-se em conta o direito das indígenas se autodeterminarem. Já Sacchi (2003) coloca ser importante aos povos indígenas decidirem quais os aspectos devem ou não ser adotados e/ou preservados conforme sua organização social.

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