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ENSINO DE ASTRONOMIA EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS: UMA ATIVIDADE COM UM GRUPO DE ESCOTISMO

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ENSINO DE ASTRONOMIA EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS: UMA

ATIVIDADE COM UM GRUPO DE ESCOTISMO

Leopoldo Gorges Neto

Acadêmico da Licenciatura em Física do IFSC leo.gorges@hotmail.com

Egon Henrique Dums

Acadêmico da Licenciatura em Física do IFSC egondums@hotmail.com

Eduardo Paganelli

Acadêmico da Licenciatura em Física do IFSC wr.paganelli@gmail.com

Luiz Henrique Martins Arthury

Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC) Professor do Instituto Federal de Santa Catarina luiz.arthury@ifsc.edu.br

Resumo:

Apresentamos uma atividade de ensino de astronomia em espaços não formais realizada com um grupo de escoteiros, centrada no uso de softwares acessíveis para esse fim. Pretendemos com essa atividade realizar uma transposição de assuntos sobre astronomia que contemplassem alguns conhecimentos naturalmente trabalhados pelo grupo, mas buscando também transcender esse contexto em benefício de um entendimento mais abrangente de nosso sistema solar. Entre os resultados constatados, destacamos o interesse demonstrado pelos participantes frente ao uso de tecnologias da informação para esse fim e sobre o tema em geral, sugerindo que práticas correlatas possam se constituir em um elemento importante para o ensino de ciências em geral.

Palavras-Chave: Ensino de Astronomia; Ensino em Espaços não Formais; Tecnologias da Informação.

ASTRONOMY TEACHING IN NON-FORMAL SPACES: AN

ACTIVITY WITH A SCOUTING GROUP

Abstract:

We present an astronomy teaching activity in non-formal spaces carried out with a group of scouts, focused on the use of accessible software for this purpose. We intend to carry out a transposition of subjects about astronomy that contemplate some knowledge naturally worked by the group, but also seeking to transcend this context in favor of a more comprehensive understanding of our solar system. Among the results found, we highlight the interest shown by the participants regarding the use of information technologies for this purpose and on the topic in general, suggesting that related practices may constitute an important element for science education in general.

Keywords: Astronomy teaching; Teaching in Non-Formal Spaces; Information Technologies.

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Introdução

O ensino de ciências, muitas vezes, fica limitado às salas de aula nas escolas, fazendo com que muitas pessoas tenham contato com temas científicos somente nesse espaço. Mas a sociedade vai muito além da escola, e estender o contato da população em geral com a ciência é algo do qual se beneficia tanto a sociedade quanto a ciência.

Dentre a variedade de assuntos científicos que despertam a curiosidade da população, a astronomia certamente ocupa uma posição privilegiada. Paradoxalmente, é um assunto relativamente pouco revisitado na educação formal (MARQUES e FREITAS, 2015), e fora do âmbito escolar o contato com a astronomia é ainda mais reduzido, geralmente ficando limitado à índole de cada um. Felizmente, para esses casos, hoje se dispõe de uma boa variedade de canais de informação na internet, ainda que isso faça surgir um outro problema, a saber, a dificuldade de se discernir fontes de boa qualidade frente a um oceano de informações com um amplo espectro de qualidade. Pensamos que reside também nesse contexto o papel indispensável do professor como sujeito mais capaz em uma relação de ensino e aprendizagem, conforme modelo proposto por Vigotski em sua descrição das zonas de desenvolvimento proximal (GASPAR, 1997).

Em um trabalho realizado em 2009, Langhi e Nardi sugeriram estudos que analisassem os resultados de atividades de astronomia em espaços não formais também como possibilidade de integração com os ambientes formais, contribuindo com trabalhos para a área, a fim de apontar caminhos para o aprimoramento da educação da astronomia no Brasil. Aceitando de bom grado essa sugestão, nesse trabalho relatamos uma atividade de popularização da astronomia, com ênfase em astronomia de posição, realizada junto a um grupo de escoteiros da região de Jaraguá do Sul - Santa Catarina. Além dos diversos aspectos pretendidos com a educação e divulgação cientificas, tivemos o intuito de que o conteúdo abordado também pudesse ser de utilidade prática para os indivíduos, não em um sentido meramente pragmático, mas para que realmente se apropriassem desses conceitos, percebendo um pouco mais sobre o cosmos que o cerca.

Para obtermos um retorno qualitativo das atividades, após sua implementação sondamos os chefes escotistas em relação à nossa proposta, cujos resultados serão apresentados na sequência.

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O ensino de astronomia em espaços não formais

Quando nos referimos à educação formal, estamos pensando naquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos específicos associados a um currículo escolar. Um espaço não formal de ensino, em decorrência, é aquele que ocorre fora do contexto específico escolar1 (GASPAR, 1992), justamente o caso do presente trabalho. Com o intuito de classificar as características do ensino formal, não formal e informal, no âmbito da Astronomia, Langhi e Nardi (2009) estabeleceram uma categorização do panorama geral da educação em Astronomia no Brasil, sendo ela: educação básica, graduação e pós-graduação, extensão, pesquisa, popularização midiática, estabelecimentos e materiais didáticos. Entende-se estes cinco últimos como atividades de ensino não formal de astronomia, uma vez que: a) a extensão busca envolver a comunidade externa às instituições de ensino na realização de cursos de curta duração, oficinas e eventos diversos de demonstração e divulgação; b) a pesquisa visa articular questões e desenvolver tentativas de enfrentamento das mesmas, desde o ensino de astronomia até a astronomia amadora em eventos regionais e nacionais; c) a popularização midiática está relacionada com a divulgação científica em diversos meios, como revistas populares (não científicas), programas de rádio e TV, e internet; d) os estabelecimentos são basicamente os planetários e observatórios astronômicos, os institutos e clubes locais de astronomia amadora, e as sociedades científicas em geral; e) por fim, os materiais didáticos são as apostilas de cursos, páginas específicas na internet e softwares em geral.

É importante que as atividades em qualquer uma dessas instâncias contemplem também questões relacionadas à formação continuada de professores e com a alfabetização científica e tecnológica da comunidade inserida em seu contexto (LANGHI e NARDI, 2009). Ainda, reconhecemos a importância e contribuição dos diversos canais de divulgação, mas

[...] talvez não esteja sendo levado em conta as pesquisas na área de ensino e de divulgação científica, bem como seus aportes teóricos. Deste modo, caso essas instâncias não respeitem a produção de pesquisa sobre educação em astronomia, suas ações de educação formal, informal e não formal, bem como de popularização, estariam baseadas no senso comum (LANGHI e NARDI, 2009).

1 Além da educação formal e não formal, também se costuma mencionar uma educação informal, que é

aquela que ocorre de modo incidental, através das experiências quotidianas do indivíduo (Gaspar, 1992, p. 158).

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Por isso pretendemos pensar as atividades com base em discussões sobre o ensino de astronomia e o ensino de ciências em geral, para que as escolhas de nossa proposta estivessem consonantes com o discutido na área, conforme veremos na sequência.

Marques e Freitas (2015) fizeram um levantamento dos estabelecimentos presentes no país voltados à popularização da astronomia, sendo contabilizados 126 observatórios, 48 planetários (fixos e móveis), 32 museus ou centro de ciências, e 266 associações, clubes ou grupos. Não foram apurados nenhum planetário ou observatório no estado de Santa Catarina2, e nove clubes e grupos de astronomia ligados a

instituições. Entretanto, lembramos que a Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, possui um planetário fixo, e dispõe de um observatório que atende o público semanalmente (UFSC, 2019). Ainda, a Universidade do Estado de Santa Catarina, em Pinhalzinho, possui um planetário itinerante que está em atividade desde 2014 (UDESC, 2019). O levantamento demonstrou que, na região sul do país, o estado de Santa Catarina é justamente o de menor número de estabelecimentos voltados à popularização da astronomia. Consideramos isso um motivo a mais para justificarmos, principalmente em nossa região, práticas como a que apresentamos aqui.

Sobre a atividade que realizamos com escoteiros, é sabido que, entre suas diversas ocupações, há a necessidade de saber se localizar geograficamente (RODRIGUES e NUNES, 2011), o que está diretamente relacionado com os temas abordados pela astronomia de posição. Rodrigues e Nunes (2011) apontam a dificuldade encontrada pelos chefes (orientadores dos escoteiros) na abordagem de temas relacionados à localização, principalmente sem bússolas, e na falta de materiais adequados para essa abordagem.

Com exceção dos cursos específicos de graduação em astronomia, essa disciplina costuma ser ofertada nas graduações em física, geografia, ciências, algumas engenharias e em alguns cursos de licenciatura em ciências naturais devido a inclusão de tópicos de astronomia no currículo formal (SARAIVA et al., 2015). O curso de Licenciatura em Física do Instituto Federal de Santa Catarina, campus Jaraguá do Sul, possui a disciplina de Astronomia e também a disciplina de Projetos de Astronomia, que incentiva os futuros docentes a uma imersão nesse campo tão cativante. Ainda, o curso oferta as disciplinas de Estágio II, centrada no desenvolvimento de atividades em 2 Esses valores foram atualizados, no referido artigo, para três observatórios e um planetário em Santa

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espaços não formais, e Tecnologia da Informação e Comunicação, que visa a elaboração de atividades aportadas por tecnologias com o intuito de serem implementadas no ensino. Com os subsídios dessas disciplinas, buscamos engendrar uma atividade voltada à popularização da astronomia, particularmente com escoteiros da região.

As atividades

Inicialmente, buscamos avaliar quais assuntos poderiam ser considerados mais relevantes para o grupo escolhido para a implementação (descrito na sequência), para posteriormente engendrarmos uma sequência de atividades que contemplasse o pretendido. Para escolher os assuntos a serem contemplados nas atividades, naturalmente precisávamos conhecer as características de um grupo de escotismo.

Os escoteiros se organizam em três modalidades, que se diferenciam somente no foco das atividades, mas preservam os mesmos valores: a Modalidade Básica apresenta grande flexibilidade de atividades, com formação mais voltada para a prática excursionista, de campismo e montanhismo; a Modalidade do Mar é a realização das atividades preferencialmente na água, independentemente do tipo de ambiente (rio, mar, lago, lagoa ou pantanal); e a Modalidade do Ar procura desenvolver e aproximar os jovens às práticas do aeromodelismo, esportes aéreos, estudo da meteorologia e cosmografia e demais atividades ligadas à aeronáutica (ESCOTEIROS, 2019).

O grupo com o qual entramos em contato no município de Jaraguá do Sul tinha como proficiência a Modalidade do Ar, executando atividades relacionadas com conhecimentos em astronáutica, além de desempenhar práticas de trilhas e acampamentos. Em conversa com os chefes escotistas, responsáveis pela orientação dos jovens escoteiros, foi constada uma limitação nas práticas voltadas ao entendimento da astronomia de posição, e assim buscamos contemplar esse assunto em nossa proposta. Quando foram realizadas as atividades, em 2019, o grupo compunha-se de escoteiros entre os seis e vinte e um anos de idade, e para contemplar adequadamente estas diferentes faixas etárias preferimos dividir as atividades em dois níveis: um voltado ao grupo dos seis aos onze anos e outro voltado ao grupo dos doze aos vinte anos.

Foram selecionados os seguintes temas para serem trabalhados: elementos de história da astronomia, localização e pontos cardeais, estações do ano e fases da lua, sistema solar e, por fim, constelações. Essa ordem foi subjetivamente escolhida de modo a ir do menor para o maior, em termos de perspectiva, e as exposições foram

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pensadas de modo a se afastar, da compreensão dos participantes, imagens inadequadas típicas dos temas apresentados (LANGHI e NARDI, 2007).

Para apresentar alguns elementos da história da astronomia, fizemos uma exposição subsidiada por uma apresentação eletrônica (figura 1). Abordar aspectos históricos é importante para localizar melhor os temas discutidos em relação à produção do conhecimento pela humanidade, o que pode, além de permitir uma visão mais adequada da atividade científica (HENRIQUE, ANDRADE e L’ASTORINA, 2010), também instigar os participantes em relação aos problemas postos ontem e hoje, e as maneiras de enfrentá-los.

Dentre os temas abordados, estavam presentes a história do desenvolvimento de alguns calendários, e alguns monumentos históricos associados, como o de Newgrange, na Irlanda, que foi construído por volta de 3000 a.C. de tal forma a identificar o dia do solstício de inverno, de acordo com a luz nascente do Sol incidindo no interior do mesmo (MARR, 2018). Apresentamos ainda alguns importantes astrônomos e suas respectivas contribuições, chegando em temas contemporâneos. Por exemplo, mostramos um vídeo do foguete Falcon Heavy, da SpaceX, que foi lançado em 20193, atualizando os escoteiros quanto aos avanços recentes na exploração espacial. Além disso, apresentamos o telescópio refrator de Galileu e também o telescópio espacial Hubble, discutindo e comparando a gama de imagens possíveis com ambos.

Figura 1: Apresentação eletrônica - História da astronomia

Fonte: Autores

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O tema sobre localização e pontos cardeais incluiu noções sobre leitura de mapas e a bússola. Para esta abordagem, utilizamos slides para a ilustração da rosa dos ventos e outras imagens correlatas, como as linhas de campo magnético da Terra. Com o intuito dos escoteiros terem contato com esses objetos, foi levado um conjunto de bússolas e mapas onde, através de nossas orientações, realizaram uma atividade de buscar sua localização apenas com estes equipamentos (figura 2).

Figura 2: Atividade sobre pontos cardeais, bússolas e mapas

Fonte: Autores

Discutimos ainda as prováveis causas do magnetismo da Terra e de como ocorre a orientação da bússola por meio desse fenômeno. Foram também distribuídos ímãs aos escoteiros para que pudessem perceber a perturbação causada nas bússolas.

Na sequência apresentamos aos escoteiros noções sobre as estações do ano com o auxílio do software online simulador de estações (SPUTNIK, 2019) onde é possível representar a incidência de luz solar na Terra em função de sua posição orbital e inclinação, acompanhando o calendário (figura 3).

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Figura 3: Simulador das estações do ano

Fonte: Autores

Para discutir os demais temas, buscamos uma forma interativa de levar os assuntos para os escoteiros. A forma escolhida foi usar um software livre (ApowerMirror, desenvolvido para Android) que permite compartilhar a tela do smartphone com o computador, possibilitando assim sua projeção. O software em questão faz a “ponte” entre a tela do smartphone e a área de trabalho do Windows de tal maneira que tudo o que acontece no smartphone é espelhado para a tela do computador. Para que tal conexão ocorra, é necessário que o computador e o smartphone estejam conectados na mesma rede. Em nosso caso, por não haver uma conexão de rede sem fio no local onde foram realizadas as atividades, criamos uma rede ponto a ponto usando o próprio smartphone, compartilhando assim os dados do celular com o notebook.

Figura 4: Aplicativo ApowerMirror

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Com a rede devidamente configurada, podemos assim abrir o aplicativo. A figura 4 ilustra a tela do smartphone já espelhada na área de trabalho do computador. Na sequência utilizamos dois aplicativos desenvolvidos para Android destinados ao estudo da astronomia, o Solar System Scope e o Star Chart, também de licença gratuita. Através do Solar System Scope, podemos observar a disposição dos planetas em relação ao Sol, as estrelas mais próximas e até mesmo a nossa localização na Via Láctea.

Figura 5: Tela inicial do aplicativo Solar System Scope

Fonte: Autores

Como é possível visualizar na figura 5, o aplicativo oferece uma ampla visão do Sistema Solar, assim como detalhes de algumas constelações ao redor. No tópico sobre as fases da Lua, grande parte da abordagem ocorreu com o auxílio desse software, sendo possível demonstrar suas fases e detalhes de sua órbita. Um recurso interessante é a possibilidade de avançar os dias, mostrando assim a alteração das fases ao longo do tempo. Utilizamos ainda, com a participação de alguns escoteiros, a lanterna do celular para representar a interação do Sol com a Lua, demonstrando como as fases da Lua não são uma projeção da sombra da Terra, como por vezes se supõe. Buscamos ainda exemplificar como as constelações nos possibilitam uma orientação sem bússola, ou seja, empregando o céu como referência para encontrar os pontos cardeais (figura 6), tendo como exemplo a localização do ponto cardeal sul a partir da constelação Cruzeiro do Sul. Além disso, foi possível ilustrar as constelações zodiacais e a sua trajetória no céu seguindo a linha da eclíptica.

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Figura 6: Apresentação com o Solar System Scope

Fonte: Autores

Um recurso interessante do Solar System Scope é que, caso algum planeta seja selecionado para ser observado no aplicativo, todos os demais elementos ficam em escala. Assim é possível ter uma noção das distâncias e tamanhos dos corpos celestes presentes em nosso sistema, algo importante para ultrapassar as escalas do imaginário popular, que costumam ser bastante equivocadas (e alguns livros didáticos infelizmente não ajudam nesse sentido, como visto, por exemplo, em Langhi e Nardi, 2007, e em Nascimento, Carvalho e Cruz Silva, 2016).

Utilizamos também outro aplicativo, o Star Chart, pela quantidade de informações que oferece sobre os corpos celestes, permitindo abordar em nossa exposição as características gerais dos planetas, curiosidades e comparações com a Terra (figura 7).

Figura 7: Apresentação com o Star Chart

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Esse aplicativo possui em seu menu a opção “Explore Mode”, que permite uma abordagem mais dinâmica, onde é possível realizar uma “viagem” pelo Sistema Solar. Nessa função, buscamos elencar características do Sol e dos planetas, de forma a trazer curiosidades sobre os mesmos. Vale ressaltar que alguns pontos despertaram imenso interesse nos escoteiros, como por exemplo as temperaturas do Sol e de Vênus, a quantidade de satélites naturais de Júpiter e Saturno, a duração de um dia em Mercúrio, a possibilidade de vida em Encélado e Europa, e também a grandeza dos outros planetas em relação à Terra, bem como suas distâncias.

Para cada tema foram destinados entre vinte e trinta minutos, totalizando em torno de três horas cada exposição. Mostramos no quadro 1, a seguir, uma síntese das atividades acima descritas.

Quadro 1 - Síntese das atividades

Tema Tempo Objetivo Atividade

História da Astronomia 30 min. Apresentar a evolução da Astronomia desde a antiguidade até o período contemporâneo.

Utilizando apresentação de slides, expomos as principais

construções e instrumentos utilizados para observações astronômicas, contemplando desde o período pré-histórico até o período contemporâneo. Localização e pontos cardeais 30 min. Demonstrar o funcionamento de bússolas e a localização por cartografia.

Com uma abordagem mais experimental, utilizamos um conjunto de bússolas e mapas para que os escoteiros pudessem entender na prática seu

funcionamento. Estações do

ano e fases da Lua

20 min. Elucidar a origem das estações do ano, bem como as fases da Lua.

Escolhemos explorar as concepções relacionadas às estações do ano, com vista as constantes interpretações equivocadas neste âmbito. Empregando o software Solar

System Scope, mostramos as

mudanças das fases da Lua e o que as ocasionam.

Sistema Solar

40 min. Ilustrar os principais corpos celestes

Utilizamos o software Star Chart e a opção “explore mode” para

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presentes no Sistema Solar e algumas de suas características.

ilustrar aos escoteiros os planetas constituintes do Sistema Solar, bem como o Sol, e suas

características. Constelações 30 min. Expor as principais

constelações presentes no hemisfério sul e a localização através dessas.

Utilizando o Solar System Scope, mostramos as principais

constelações e as formas de se obter os pontos cardeais a partir delas.

Fonte: Autores

Resultados

Visando obter dados qualitativos acerca da atividade realizada com os grupos, elaboramos um questionário sobre a importância da atividade e a sua relevância para o escotismo na visão dos seus chefes escotistas, tendo em vista que observaram as atividades e puderam acompanhar o comportamento e a repercussão das mesmas entre os escoteiros. Esse questionário foi enviado por e-mail aos cinco chefes participantes, os quais nomeamos aqui como chefes A, B, C, D e E.

Um dos resultados mais evidentes que percebemos foi a imersão dos participantes nas atividades, em boa parte devido à utilização das tecnologias da informação. Observamos que a praticidade em relação à sua instalação e utilização possibilita que seja facilmente implementada em outras atividades semelhantes. Um ponto positivo a esse respeito é a extensa gama de aplicativos gratuitos disponíveis na rede, com uma relativa qualidade de informações e apelo visual que pode ser bem explorado pelos professores.

Questionamos os chefes escotistas sobre o interesse demonstrado pelos escoteiros na apresentação e, assim como nossa percepção a respeito, o resultado foi bastante positivo:

Todas as crianças estavam muito focadas e interessadas em aprender mais sobre o tema abordado, acredito que principalmente pela forma como foi apresentado a elas, com a utilização dos aplicativos e imagens bem chamativas (Chefe B).

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Foi notório o entusiasmo dos escoteiros quanto à abordagem no âmbito da astronomia, demonstrando grande curiosidade, como sugerem as inúmeras perguntas levantadas durante a apresentação. Além disso, foi possível perceber que o fator “imersão” proporcionado pelas imagens advindas dos softwares utilizados cumpriu o objetivo que tínhamos de manter a atenção dos escoteiros durante as atividades.

Nossa proposta de levar assuntos relacionados à astronomia de posição para escoteiros foi baseada na prática do escotismo, sendo desse modo considerado algo naturalmente pertinente para o público alvo. Perguntamos então aos chefes escotistas sobre a visão deles em relação à utilidade dos assuntos tratados para as atividades desenvolvidas no grupo de escoteiros. Os chefes mostraram-se em geral muito satisfeitos com os assuntos trazidos para o grupo, mencionando que grande parte dos conhecimentos tratados, como os relacionados à orientação pelo céu, são importantes e podem ser explorados em diversas atividades práticas do grupo. Também foi relatada a importância de a criança entender como e por que elas aplicam determinadas técnicas e conhecimentos dentro do escotismo.

[...] é uma forma das crianças entenderem como funciona e por que elas aplicam determinadas técnicas. Além disso, desperta o interesse e planta a curiosidade de buscar respostas de perguntas que elas têm sobre a aérea. Vi várias crianças levando os conhecimentos que obtiveram aos pais e familiares após a atividade, aumentou ainda mais a rede de conhecimento (Chefe C).

Na preparação do material a ser apresentado, e também em nossas falas, mantemos o cuidado para não causar possíveis interpretações equivocadas. Entendemos que não podemos evitar totalmente que isso ocorra, mas certamente podemos diminuir essa possibilidade ao pensarmos atentamente nossas transposições.

Perguntamos também aos chefes sobre a importância de atividades como as realizadas, para a sociedade em geral. Alguns trechos de respostas:

Contribuem passando conhecimento, que a grande maioria não conhecem nada ou pouco sobre o assunto e instigam a conhecer mais (Chefe B).

Contribuem mostrando a eles um universo inteiro de assuntos que eles podem ter interesse. Ainda também mostra o quanto não conhecemos sobre determinados assuntos e instiga suas mentes a buscar (Chefe C).

Para compartilhar um conhecimento muito interessante que pode despertar um interesse nas crianças em explorar mais o assunto, e para conscientizar a respeito da preservação e perpetuação destes conhecimentos (Chefe E).

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Entendemos a importância das temáticas envoltas do quotidiano dos estudantes, neste caso, os escoteiros. Entretanto, enfatizamos que consideramos de extrema importância apresentar um universo muitas vezes desconhecido e imensamente maior do que o quotidiano do aluno. Pensamos que a ciência também é utilidade em ação, mas é, sobretudo, uma jornada para um mundo mais vasto.

Finalmente, esse retorno dos chefes se constituiu como uma primeira avaliação das potencialidades da proposta. É a partir deles que pretendemos que atividades correlatas sejam conduzidas com outros grupos, sendo que em uma próxima oportunidade pretendemos avaliar mais de perto o retorno dos escoteiros.

Considerações finais

O astrofísico e divulgador científico Neil deGrasse Tyson chamou atenção para um aspecto que julgamos muito importante para a educação científica:

[...] a maioria das exposições da astrofísica é concebida [...] principalmente em exposição de fotos, algumas admiráveis e muito belas. [...] O problema aqui é que, depois de ver essas exposições, saímos mais poéticos sobre a beleza do universo, mas não estamos mais próximos de compreender como é que tudo funciona (TYSON, 2016, p. 164).

Pensamos que uma das características fundamentais que o ensino da astronomia em espaços não formais deva almejar seja a popularização do entendimento da natureza em níveis que ultrapassem uma mera projeção de fotos bonitas. Não que essas não sejam importantes, pelo contrário, pensamos que são necessárias. Mas pensamos também que aprender sobre astronomia, de fato, envolve uma preocupação com o efetivo aprendizado, de modo que seus participantes saiam não apenas mais poéticos, conforme mencionado acima, o que julgamos essencial, mas também com uma percepção duradoura dos assuntos tratados. E, para isso, é claro que qualquer material educativo proposto deve ser devidamente mediado por um profissional da educação, devidamente preocupado com o potencial didático da atividade.

Hoje dispomos de inúmeros recursos tecnológicos que podem servir de estímulo para que os estudantes compreendam o que está sendo proposto com uma certa ludicidade, mas nas mãos de um professor atento e preocupado certamente estaremos em condições mais profícuas para o aprendizado. E se conseguimos bons resultados em situações como a proposta, em espaços não formais, pensamos que na educação formal

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não deva ser diferente. Diferentes autores salientam que grande parte dos alunos tem um contato bastante reduzido com a astronomia durante o período escolar (LANGHI e NARDI, 2009, DIAS e SANTA RITA, 2008). Isso deveria ser algo preocupante, não apenas porque a astronomia é amplamente citada como componente essencial a ser trabalhada na educação básica (BRASIL, 2018), mas também porque nós, professores, deveríamos estar convencidos, mais do que ninguém, do papel instigador e centralizador da astronomia para se tratar um amplo espectro de temas científicos (LANGHI e NARDI, 2009, p. 8). Ainda, conforme sugestões de Langhi e Nardi, os diferentes contextos de ensino podem se complementar, permitindo “o desenvolvimento da educação em astronomia e de sua pesquisa, e justifica-se pelo fato desta ciência desenvolver o importante papel em promover, no público, o interesse, a apreciação e a aproximação pela ciência em geral” (2009, p. 8).

É importante lembrarmos que boa parte de nossa ciência praticamente começou com a astronomia, e que foi nesse contexto que Newton produziu as bases da ciência moderna. Que jamais descuidemos desse tópico no ensino! A astronomia ocupa um papel central no maravilhamento das pessoas em relação ao universo, e é uma pena que a escola, muitas vezes, não tem aproveitado esse potencial. Em relação à importância da astronomia no quotidiano do aluno, seja pensando em espaços formais ou não formais, basta nos perguntarmos, assim como Tyson: qual o tamanho do universo em que queremos viver?

Referências

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ensino Médio. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018.

DIAS, C. A.; SANTA RITA, J. R. Inserção da astronomia como disciplina curricular do ensino médio. Revista Latino-americana de educação em astronomia, n. 6, p. 55-65, 2008.

ESCOTEIROS. Escoteiros do Brasil. Portal eletrônico. Disponível em: < https://www.escoteiros.org.br/>. Acesso em: 27 de novembro de 2019.

GASPAR, Alberto. Cinquenta anos de Ensino de Física - muitos equívocos, alguns acertos e a necessidade do resgate do papel do professor. In: XV Encontro de Físicos do norte e Nordeste, Natal, RN, 12 a 18 de outubro de 1997.

GASPAR, A. O ensino informal de ciências: de sua viabilidade e interação com o ensino formal à concepção de um centro de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 9, n. 2, p. 157-163, ago. 1992.

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HENRIQUE, A. B.; ANDRADE, V. F. P.; L’ASTORINA, B. Discussões sobre a natureza da ciência em um curso sobre a história da astronomia. Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia, RELEA, n.9, p. 17-31, 2010.

LANGHI, R.; NARDI, R. Ensino da astronomia no Brasil: educação formal, informal, não formal e divulgação científica. Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 31, n.4, p. 4402-4412, 2009.

LANGHI, R.; NARDI, R. Ensino de astronomia: erros conceituais mais comuns presentes em livros didáticos de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 24, n. 1, p. 87-111, abr. 2007.

MARR, L. E. F. The Ritual Origins of the Roof-Box at Newgrange [tese] / Laura E. Freeman Marr. Saint Mary’s University, Halifax, Nova Scotia, 2018, 58p.

MARQUES, J. B. V.; FREITAS, D. Instituições de educação não-formal de astronomia no Brasil e sua distribuição no território nacional. Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia, n. 20, p. 37-58, 2015.

NASCIMENTO, L. A.; CARVALHO, H. R.; CRUZ SILVA, B. V. A astronomia, a historiografia da ciência e os livros didáticos: uma história mal contada? Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v.7, n.5, p. 40-52, 2016.

RODRIGUES, R, M.; NUNES, A. S. A cartografia no espaço escoteiro. Simpósio Nacional Espaço, Economia e Políticas Públicas. Anais, v. 1, n. 1, 2011. Disponível em: <https://www.anais.ueg.br/index.php/sineep/article/view/163>. Acesso em: 04 de dezembro de 2019.

SARAIVA, M. F. O.; MÜLLER, A. M.; VEIT, E. A. Fundamentos de astronomia e astrofísica na modalidade a distância: uma disciplina para alunos de graduação em física. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 37, n. 3, 2015.

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<http://espacoastronomiaudesc.blogspot.com/>. Acesso em: 27 de novembro de 2019. UFSC. Observatório Astronômico da UFSC. Disponível em:

Referências

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