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Capítulo 2 ANÁLISE HISTÓRICA DAS RESSACAS DO MAR NO LITORAL DE FORTALEZA (CEARÁ, BRASIL): ORIGEM, CARACTERÍSTICAS E IMPACTOS

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Academic year: 2021

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apítulo

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Davis Pereira de Paula1*, Jáder Onofre de Morais2, Óscar Ferreira3, João

Alveirinho Dias3

1. Introdução:

As ressacas do mar induzem uma série de impactos im-portantes como a erosão de praias, dunas e falésias, galgamentos oceânicos e inundação de zonas costeiras. Como consequência do desenvolvimento urbano mal ou não planejado dos espaços cos-teiros, as frentes urbanas têm sofrido bastante com os impactos das ressacas do mar, que geralmente são acompanhadas de danos nas infraestruturas e com efeito direto sobre o uso dos recursos costeiros (CIAVOLA et al., 2007).

1Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, Departamento de Engenharia Civil, Programa de Pós-graduação em Geografia-UVA, davispp@yahoo.com.br

2Universidade Estadual do Ceará-UECE, Departamento de Geografia, Programa de Pós-graduação em Geografia-UECE, Pesquisador Pq do CNPq, jaderonofre@gmail.com 3Universidade do Algarve, Centro de Investigação Marinha e Ambiental, Faro, Portu-gal, oferreira@ualg.pt; jdias@ualg.pt

*Autor de correspondência: davispp@yahoo.com.br

ANÁLISE HISTÓRICA DAS RESSACAS DO MAR NO LITORAL

DE FORTALEZA (CEARÁ, BRASIL):

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As mudanças mais rápidas e bruscas na paisagem costei-ra (natucostei-ral e antropizada) ocorrem, especialmente, ducostei-rante um evento de alta energia (FERREIRA, 2005; ALMEIDA et al., 2010). Contudo, a caracterização dos impactos sobre a morfolo-gia costeira e as estruturas urbanas não é fácil, sendo, por vezes, inconclusiva. A principal limitação é a disponibilidade de séries observacionais históricas de ondas e marés que permitam defi nir, com precisão, os limiares para ocorrência de impactos.

Os estudos que relatam a infl uência das ressacas do mar na evolução da morfologia costeira (e.g. praias e dunas frontais) são recentes e escassos no Brasil (em especial no Nordeste brasileiro). Para quantifi car o impacto das ressacas do mar é preciso defi nir previamente a origem e as suas características, o que é difícil, pois não existe um sistema de monitorização por meio de ondógrafos, com exceção do litoral de Pernambuco, que desde 2011 possui uma boia — medindo altura, período e direção das ondas — ins-talada a 2 km da costa, em frente ao Porto de Suape, no municí-pio de Ipojuca.

As estruturas de engenharia costeira, a ocupação humana e outras atividades socioeconômicas aumentaram a vulnerabilidade da costa aos processos oceânicos (por exemplo, ondas de ressa-ca) e potencializaram o risco de erosão costeira e de galgamentos oceânicos, às vezes causando fortes danos físicos, econômicos, sociais e patrimoniais em núcleos urbanos costeiros (e.g. Fortale-za, Natal, João Pessoa, Recife, Paulista e Rio de Janeiro). Apesar disso, a pressão humana (por exemplo, demanda turística) tem aumentado durante os últimos anos sem qualquer preocupação com a capacidade de resiliência do sistema costeiro. Dessa for-ma, o presente estudo teve por objetivo precípuo colaborar para

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um melhor entendimento do assunto, especifi camente no que concerne à origem, as características e os impactos induzidos por eventos de ressaca do mar no litoral de Fortaleza (Ceará, Brasil).

2. Área de Estudo

A cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, loca-liza-se na região Nordeste do Brasil, na Costa Atlântica, a apro-ximadamente -3º43’02” (latitude) e 38º32´25´´ (longitude), a sua área territorial é de 313, 14 km2 e altitude média de 16 m (IPECE, 2013). O litoral em questão possui mais de 20 km de extensão, onde situam-se mais de 10 praias urbanas, todas arti-fi cializadas direta ou indiretamente por estruturas rígidas de en-genharia costeira (e.g. espigões, enrocamentos e quebra-mares) (Figura 1). A densidade demográfi ca dos bairros litorâneos é de aproximadamente 7 mil hab/km².

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O litoral de Fortaleza está situado em uma zona de clima Tropical Quente Subúmido, caracterizado por duas estações bem defi nidas — uma chuvosa (concentrada especialmente em quatro meses) e uma seca (ocorre em mais de 60% do ano). No pri-meiro semestre do ano, os índices pluviométricos podem atingir, em média, 1.405 mm, correspondendo a mais de 90% do total anual. O comportamento térmico é caracterizado, basicamente, por temperaturas elevadas e amplitudes reduzidas. A temperatura média anual é de 26,9ºC, com variações que não ultrapassam os 5ºC. O regime de ventos é sazonal e, ao longo do ano, apresenta valores médios de 3,0 m/s (verão) e de 4,3 m/s (inverno).

O litoral de Fortaleza tem um ambiente de mesomaré com amplitudes variando entre 2 m e 4 m com regime semidiurno. Segundo o INPH (1996), o nível mais elevado verifi cado nos registros maregráfi cos foi de 3,67 m, enquanto que o mais baixo foi de 0,2 m. O nível médio (NM) é de 1,55 m. Ondas com altura signifi cativa igual ou superior a 2,0 m ocorrem apenas em 1,38% do ano, sendo provenientes principalmente de ESE (mas também, em menor frequência do quadrante E a NE). É de relevar, embora com frequência muito pequena, a ocorrência de ondas com altura signifi cativa superior a 2,4 metros, provenientes de ESE. As ondas com períodos longos, superiores a 12 segundos (swell), ocorrem cerca de 15% do ano e têm proveniência, es-sencialmente, de NE (8,8% das ocorrências) e de NNE (4,5%). Neste contexto, é de ressaltar a ocorrência de ondas com períodos de pico superiores a 18 segundos, com frequência anual de 0,6% (INPH, 2002).

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3. As ressacas do mar no litoral de Fortaleza

As ressacas em Fortaleza não são temporais como os que ocorrem nas altas e médias latitudes com ondas que ultrapassam os 4m de altura. No Brasil, é comum os casos de sobre-elevação provocados por abaixamento de pressão atmosférica nas regiões Sul e Sudeste, onde as frentes frias percorrem o litoral sul-ameri-cano, atingindo latitudes relativamente altas até 20ºS (CAMAR-GO e HARARI, 1994).

Conforme Melo et al., (1995), no litoral do Ceará, mais es-pecifi camente no de Fortaleza, as ressacas do mar estão associadas à ação de furacões extratropicais do Hemisfério Norte que provo-cam fortes tempestades, resultando na chegada de ondas Swell na costa Nordeste do Brasil. Melo e Alves (1993) destacaram que no litoral de Fortaleza as ondas preponderantes são de curto período, mas entre dezembro e março ocorrem ondas de longo período provenientes do Hemisfério Norte, como aconteceu nas ressacas que atingiram a cidade entre os dias 5 e 6 e 24 e 25 de janeiro de 1992.

Os mesmos autores, analisando as condições meteorológi-cas no Atlântico Norte, observaram a formação de dois temporais nas proximidades do Arquipélago Açores e relacionaram-nos com os eventos de ressaca do mar que atingiram o litoral de Fortaleza alguns dias depois (Figura 2). Segundo Melo e Alves (1993), não deveria haver relação causal devido à distância entre o local de formação da tempestade e a costa atingida. As ressacas que atin-gem a cidade de Fortaleza parecem estar associadas à agitação no Atlântico Norte, sobretudo aos eventos tempestivos nos Açores.

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Figura 2. Área de ação das ondas de longo período, extraído de Melo e Alves (1993).

Viana (2000) descreveu a ocorrência de uma sequência de ressacas na costa norte do Nordeste brasileiro entre os anos de 1999 e 2000. Para o autor, as ressacas nesta região são o resultado de uma coincidência entre marés muito altas e ondas longas vindas do quadrante norte, geralmente ocorrendo a partir do mês de dezembro, causadas por furacões extratropicais. Essas ressacas, forçadas remotamente, não se enquadram nos modelos

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tradicionais de ressacas causadas por efeitos de tempestades locais. Em sua análise preliminar observou a ocorrência de uma grande ressaca entre os dias 23 e 27 de outubro/1999. Nesse período, o Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH) noticiou por meio do seu técnico (Aluízio dos Santos Araújo), em Fortaleza, que no dia 23/10/99 foi registrado pelo ondógrafo (instalado ao largo do Porto do Pecém) ondas com Hmax de 4 m e Hs de 1,7 m, Tp de 20 s de e direção de 35º (Figura 3). O marégrafo registrou um nível de maré de 3,2 m, isso signifi cou 10 cm acima da maré prevista pela tábua de maré da DHN para o dia. No dia seguinte o jornal Diário do Nordeste estampou em sua capa a seguinte matéria “Destruição de casas e ruas em Fortaleza e Pecém pela ressaca do mar (matéria veiculada no dia 24/10/99)”.

Figura 3. Espectro Direcional de Ondas obtido no ondógrafo Datawell Waverider do INPH

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Viana (2000) calculou que ondas de 20s viajam no ocea-no com velocidade média de 1.375 km/dia, de maneira que um grupo de ondas causadas por um furacão em 45N levaria 3,8 dias para chegar ao litoral de Fortaleza. O mesmo autor observou por meio de imagens do satélite Topex/Poseidon que no dia 18/10/99 havia a formação de um furação na região dos Açores.

De acordo com as considerações de Melo et al., (1995) e Viana (2000), a comunidade científi ca brasileira tem utilizado o termo ressaca do mar com diferentes defi nições, tornando sua compreensão por vezes confusa e inconclusiva. Em trabalhos de-senvolvidos por Paula et al., (2011 e 2012), as ressacas do mar são caracterizadas como fenômenos naturais induzidos, especialmen-te, pelo empilhamento da massa de água junto à costa, provocan-do uma sobre-elevação momentânea provocan-do nível de água acima provocan-do nível médio (Wave setup), o que facilita o galgamento das estru-turas urbanas e potencializa os danos ao patrimônio edifi cado.

É importante destacar que o resíduo de maré (maré obser-vada ou real) que ultrapassa os valores da maré prevista (ou teó-rica) constitui um fenômeno associado à ressaca do mar, ou seja, a sobre-elevação do nível do mar de índole meteorológica (Storm surge) para o litoral de Fortaleza é induzida, principalmente, por forçamentos naturais (ondas, marés e ventos). Assim, as ressacas do mar em Fortaleza ocorrem quando há transferência de energia para coluna de água através da quebra das ondas, ação dos ventos (Wind setup), processos astronômicos (super lua e maré equinocial) e fenômenos meteorológicos (ciclones tropicais e depressões sub-polares muito cavadas) que envolvam variações do nível do mar.

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As ressacas do mar podem ocorrer durante boa parte do ano, o que vai diferenciar é ação das forçantes naturais e os im-pactos costeiros. Por exemplo, entre os meses de dezembro e maio, o forçamento é induzido por ondas (Swell/wave setup) que provocam o empilhamento da massa de água na costa. Nesse pe-ríodo pode ocorrer a associação das ondas de longo pepe-ríodo com uma maré de sizígia (maré viva). Logo, o efeito destrutivo do evento é potencializado, ocorrendo danos ao patrimônio público edifi cado ao longo da costa. Em menor grau de energia e impac-to, podem ocorrer ressacas do mar induzidas por bojos de maré solares e lunares, o que reforça a amplitude das marés. Nesse caso podemos destacar à ação das marés equinociais (que ocorrem, especialmente, fevereiro a abril) e dos eventos de Super Lua (que ocorrem, especialmente, junho e agosto). Em ambos os casos, o poder destrutivo do evento é menor, pois ocorrem na presença de ondas do tipo Sea. Contudo, podem ocorrer também na presença de ondas Swell, o que elevaria a magnitude do evento.

Os eventos de ressacas do mar também podem ser poten-cializados pela ação dos ventos (Wind setup), que provocam eleva-ção vertical do nível de água. No litoral de Fortaleza, esse cenário ocorre, especialmente, entre os meses de setembro e novembro (temporada de ventos fortes) e, geralmente, está associado a onda locais (menor poder destrutivo) (Figura 4).

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Figura 4. Imagens da orla de Fortaleza após eventos de ressaca do mar induzidos por diferentes forçantes. 4A – Ressaca do mar ocorrida em Fevereiro/12 induzida por ondas Swell e potencializada por uma maré de sizígia; 4B – Ressaca do mar ocorrida

em outubro/13 induzida por ação associada de vento, onda e maré.

O quadro 1 sintetiza os principais cenários de ocorrência de ressaca do mar e seus impactos associados.

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Qu ad ro 1 . S ín te se d os m ec an is m os re sp on ve is p el a ge ra çã o da s r es sa ca s d o m ar e m F or ta le za . Cenário/F or çantes *P eríodo de ocorr ência C aracterística do ev ento/I mpactos costeir o O ndas (S w ell/wav e setup ) + M ar é viv a D ez embr o - M aio O primeir o cenário é considerado o mais energético, pois o ev ento de ressaca do mar é induzido pelo empilhamento da massa de água por ação das ondas de longo período que atingem a costa. N esse caso, a coincidência com uma mar é de sizígia ou viv a potencializa o ev ento, pois o nív el de água a ser deslocado ver tical-mente é maior , atingindo cotas topográ fi cas continentais que não são atingidas normalmente pelo alcance máximo do espraio da onda (wav e runup ). D ean et al., (2005) destacam que o empilhamento da massa d´água (wav e setup ) é um componente do espraio máximo da onda tal qual os ventos e os componentes bar ométricos do stor m surge são componentes do wav e runup . N esse caso, as terras costeiras situadas em por ções topográ fi cas inferior es ao nív el de água al-cançado pelo empilhamento são atingidas durante um ev ento de ressaca do mar , tendo como consequência dir eta danos à estr utura urbana, que geralmente é acompanhado por destr uição do patrimônio edi fi cado ao longo da costa, desig-nadamente um risco elev ado para orlas costeiras (como For tale za). N esse cenário as ondas são formadas fora do raio de ação dos ventos locais, ondas pr ov enientes do quadrante N or te/N or deste. O ndas (S w ell/wav e setup ) + Vento (wind setup ) + M ar é viv a ( wind tide ) Setembr o -N ov embr o O segundo cenário também é bastante energético, quando da coincidência da conjunção de todas as for çantes naturais (onda, vento e mar é) env olvidas em um ev ento de ressaca do mar em For tale za. N o período designado há pr edominância de ondas de cur to período (5s a 8s), mais também há ocorr ência de ondas de longo período (acima de 12s). Essas ondas associadas aos episódios de ventos for tes, característicos do período, sobr elev am o nív el de água junto a costa. Além de hav er uma indução ver tical da mar é induzida tanto pelos ventos quanto pela energia das ondas. N esse caso, o espraio máximo das ondas atinge as estr uturas urbanas sem grandes di fi culdades, ocasionado alagamento da costa (por ser tem-porário) e danos ao patrimônio edi fi cado, con fi gurando outr o cenário de risco elev ado .

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Vento ( wind setup ) + M ar é viv a ( wind tide ) Setembr o -N ov embr o O ter ceir o cenário é menos energético que os dois anterior es, contudo isso não signi fi ca que seja menos danoso . N ele, o empilhamento da massa de água é induzido pela ação dos ventos. Segundo H ubber t e M cI nnes (1999), a elev ação ver tical do nív el da água ocorr e quando tensões do vento sobr e a super fície da água pr oduz em uma sobr e-elev ação momentânea do nív el do mar (wind tide ). N esse cenário, o alcance máximo do espraio das ondas é, por ve zes, menor que o anterior , ocasionado modi fi cações volumétricas na alta praia, o que pode pr o-vocar em ár eas densamente urbanizadas (como For tale za) o desmor onamento de estr uturas urbanas que av ançaram sobr e essa zona e modi fi cações rápidas do per fi l praial. E m geral, nesse cenário as ondas são formadas localmente e a mar é é induzida por fator es não astr onômicos (v ento, pr essão atmosférica e agitação marítima). As ondas são geralmente de cur to período, característica mar cante da agitação marítima de For tale za. O risco é designadamente médio, o que vai induzir consequências pr ejudiciais ao patrimônio edi fi cado é a

locali-zação das mesmas, que por v

ez

es facilitam ação energética do mar

. M ar é equinocial + O ndas ( Sea ) Fev er eir o-A bril Agosto - S etembr o O quar to cenário é composto por resíduos de mar é que ultrapassam os valor es pr evistos por ocasião dos equinócios (mar és viv as equinociais). N esse caso, há uma pequena sobr e-elev ação induzida pela associação dos astr os (sol, lua e ter-ra), cujo os mo vimentos são bem conhecidos. Segundo Pugh (1987), os bojos de mar é solar es e lunar es refor çam a amplitude das mar és. Assim, as mar és viv as equinociais são mais energéticas. Associada as mar és equinociais ocorr em ondas de menor período e formadas localmente. Logo, o alcance máximo do espraio das ondas é menor do que o obser vado nos cenários anterior es e o seu impacto associado também. N esse cenário, os impactos costeir os ocorr em es-pecialmente ao longo da face de praia. N o caso da existência de dunas frontais, o nív el de espraio concentra-se na base da duna, ocorr endo recuo e desmor o-namento da crista. Em síntese, são impactos costeir os mor fológicos com baix o

risco ao patrimônio edi

fi cado, a considerar sua posição na linha de costa.

O período de ocorr

ência é o inter

valor médio para ocorr

ência dos ev

entos, podendo hav

er v

ariação

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4. Caracterização das ressacas do mar em Fortaleza

Geralmente, os estudos de ressaca do mar/temporais/tem-pestades são baseados em dados instrumentais. No caso do litoral de Fortaleza, os registros são escassos e incompletos em termos de série temporal. Dessa forma, para suprir a ausência dessas infor-mações, adotaram-se dois métodos de análise — o primeiro foi baseado em informações coletadas nos jornais locais, enquanto que o segundo foi com base em dados de previsão de onda.

As ressacas do mar, como visto anteriormente, são fenôme-nos naturais e intrínsecos a zona litorânea que, juntamente com o adensamento urbano desordenado da orla costeira potenciali-zam a vulnerabilidade ambiental e os danos físicos, a exemplo dos municípios litorâneos de Fortaleza, Rio de Janeiro, Florianópolis e Recife, dentre outros. No caso do Rio de Janeiro, Pontes e Zee (2010) analisaram a situação das ressacas através de um levanta-mento no banco de dados da imprensa local, isso devido à limi-tação de recursos e de sistemas de monitoramentos ambientais.

Outros trabalhos também utilizaram o método de coleta de dados em meios de comunicação escrita como os de Caruzzo & Camargo (1998) e Campos e Camargo (2006). Pontes e Zee (2010) utilizaram os dados obtidos com a pesquisa documental em jornais para correlacionar o aumento de ressacas com o au-mento da ocorrência de processos erosivos no litoral do Rio de Janeiro.

No estudo das ressacas do mar em Fortaleza, na ausência de uma base de dados longa, optou-se pela análise de matérias jornalísticas. Dessa forma, para suprir a ausência dessas informações, adotou-se o método hemerográfi co, que consiste na aquisição de dados e informações em hemerotecas. Nesse caso utilizaram-se as bibliotecas dos jornais O Povo e Diário do

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Nordeste, recuperando-se todas as matérias sobre o tema publicadas entre 1953 e 2010. Destas foram extraídas as seguintes informações: a) data da matéria; b) título da matéria; c) região atingida; d) dados do clima oceanográfi co (Hs, Tp e Dº); e) nível de atuação da maré; e f) tipo de impacto costeiro (físico/social). Em alguns casos os registros de maré foram complementados com dados de previsão de maré da Diretoria de Hidrografi a e Navegação – DHN.

As informações adquiridas foram inseridas em uma base de dados, em que sua organização foi elaborada com dados de entrada das características oceanográfi cas (Hs,Tp, Dº e maré) e impactos costeiros (consequências observadas no litoral a partir das matérias) em fi cheiros ASCII. A leitura da base de dados e o processamento foram realizadas com o software Matlab, permitindo a determina-ção das condições mínimas de ressaca que causaram impactos, ou seja, os limiares de ocorrência para impactos costeiros.

O processamento das informações permitiu estabelecer o nível máximo de atuação da agitação marítima a cada evento de ressaca. A associação entre as consequências ambientais e as in-formações de agitação marítima permitiu estabelecer dois níveis de impactos com relação às consequências: Impacto 1 – corres-ponde a consequências menos graves, incluindo principalmente alterações morfológicas (erosão de dunas e praias); Impacto 2 – correspondente a danos ou destruição de infraestruturas urbanas (casas, praças, calçadões, pontes e estradas).

4.1. Determinação dos impactos costeiros induzidos por ressacas do mar a partir de dados de jornais

Entre 1953 e 2010, foram registrados 162 eventos de res-saca do mar, isto é, cerca de três episódios por ano. Os resultados devem ser interpretados numa lógica de inter-relação (processo/

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resposta), ou seja, considerando a lógica mediática em que o im-portante é a notícia e o que não é notícia (não afeta pessoas ou bens) não é geralmente publicado. Por exemplo, a erosão de uma duna não ocupada durante um evento de ressaca não tem aspectos de drama social e, consequentemente, não é normalmente divulga-da pelos meios de comunicação. Entretanto, quando se verifi cam danos físicos em edifi cações (como casas ameaçadas de desabamen-to, destruição de estradas e calçadões), existe interesse potencial dos leitores e, por consequência, os jornais noticiam o fato.

Em outras palavras, o registro das ressacas do mar em jor-nais ocorre em função do nível de ocupação do litoral e a reper-cussão dos dramas sociais. Isto foi observado no conjunto de da-dos obtida-dos, visto que mais de 95% da-dos eventos de ressaca foram registrados e publicados a partir da década de 1980, momento em que houve a intensifi cação da ocupação/urbanização do lito-ral de Fortaleza (Figura 5).

Figura 5. Registro das notícias sobre ressacas do mar no litoral de Fortaleza entre os anos de 1953 e 2010.

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Na fi gura 5 é possível observar que os registros das ressa-cas do mar por matérias jornalístiressa-cas apresentam dois períodos distintos: o primeiro está compreendido entre os anos de 1953 e 1979 — período em que o evento tinha efeito contemplativo, pois não havia destruições e aspectos de drama social, além dis-so, o baixo índice de urbanização da costa minimizava o efeito destrutivo das ressacas do mar (Figura 6 A) — o segundo está compreendido entre os anos de 1980 e 2010 — momento em que o evento deixa de ser contemplativo para ser temido pela so-ciedade, isso devido aos danos causados, levando a sua publicação nos meios de comunicação social (Figura 6 B).

Figura 6 - A) Espectadores contemplando o espetáculo da ressaca do mar na Praia dos Diários em 10/02/1982; B) Destruição do calçadão da Praia de Iracema 11/03/1997. Fonte: (A) Jornal Diário do Nordeste e (B) Jornal O Povo.

Na fi gura 5 ainda é possível observar que a partir de 1982 ocorreu um aumento signifi cativo nos registros de ressaca em Fortaleza. Entre 1982 e 2010 (28 anos) os jornais ( O Povo e Diário do Nordste) noticiaram mais de 95% de todos os registros de eventos do período em análise (57 anos). Tal resulta, por cer-to, do aumento no número de infraestruturas de uso comum aí

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construídas (e.g. estradas, calçadões, barracas de praia, obras de de-fesa costeira, etc.). A partir da década de 80 do século passado, houve amplifi cação dos casos de danos ou destruições, levando os casos a mídia.

A análise dos dados aludidos revela que as ressacas apresen-tam forte sazonalidade: a temporada de ressacas ocorre, especial-mente, de setembro a maio, com maior frequência entre os meses de dezembro e março (84%). O mês de janeiro é o que apresenta a maior frequência individual, com mais de 30% das ocorrências. Podemos observar que ao longo de 75% do ano pode haver al-gum evento de ressaca do mar em Fortaleza (Figura 7).

Figura 7. Gráfi co de frequência mensal dos eventos de ressaca do mar noticiados no litoral de Fortaleza entre os anos de 1953-2010.

Na fi gura 7 é possível fazer duas observações quanto ao agente indutor das ressacas do mar no litoral de Fortaleza. A pri-meira é que a ocorrência de ressacas entre os meses de setembro e novembro é induzida pelos ventos fortes que atingem a costa do Ceará. Nesse período a velocidade média dos ventos é de 30 km/h, com rajadas de até 70 km/h4. No primeiro semestre do ano esse valor médio não ultrapassa os 14 km/h. Nessa época do ano, 4 Dados observados na matéria veiculada pela TV Verdes Mares em 2008 através do seu portal eletrônico “Última Hora” > http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noti-cias.asp?codigo=232083&modulo=178<.

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a diferença da pressão atmosférica que gera o movimento do ar, aumenta no Oceano Atlântico. Os ventos alísios que sopram em regiões equatoriais como o Nordeste do Brasil se intensifi cam. No litoral do Ceará eles são ainda mais fortes. A segunda observação é que as ressacas do mar que ocorrem entre os meses de dezembro e maio são impulsionadas pelas ondas de longo período, como já descrito no quadro 1.

A integração das informações qualitativas (consequências) e quantitativas (clima oceanográfi co) permitiu estabelecer dois limiares para ocorrência de impactos costeiros (I e II) induzi-dos por ressacas do mar no litoral de Fortaleza (Tabela 1). Os dados processados permitiram classifi car 85 eventos do total de 162 eventos registrados (mais de 50% do total). Dos 85 eventos classifi cados, 15 foram qualifi cados como de impacto do tipo I, enquanto que 70 foram considerados do tipo II (Figura 8). Essa disparidade entre os registros se deu porque os meios de comuni-cação não se interessam muito pelo impacto I (só erosão da praia não causa dano físico), pois o que é noticiado é o dano, pelo que há mais notícias e maior robustez no impacto II.

Tabela 1. Limiares hidrodinâmicos para ocorrência de impactos costeiros.

Tabela 1. Limiares hidrodinâmicos para ocorrência de impactos costeiros.

Consequência Nível de água (NA) Impacto costeiro Impacto I NA ≥ 3,5 m Erosão de dunas e praias

Impacto II NA > 4,0 m Dano à estrutura urbana

Tabela 2. Limiares hidrodinâmicos para ocorrência de impactos costeiros a partir de dados de previsão de ondas.

Consequência Nível de água (NA) Impacto costeiro Impacto I NA ≥ 3,5 m Erosão de dunas e praias

Impacto II 4,0 ≥ NA ≤ 4,5 m Dano à estrutura urbana

Impacto III > 4,5 M Potencial de alagamento

Tabela 3. Registros dos impactos costeiros induzidos por ressacas do mar no litoral de Fortaleza entre os anos de 2008 e 2011.

Impacto costeiro

Ano I II III

2008 128 28 12

2009 97 30 54

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Figura 8. Determinação do número de eventos de ressaca do mar com impacto tipo I e II para o litoral de Fortaleza.

4.2. Determinação dos impactos costeiros induzidos por ressacas do mar a partir de dados de previsão de ondas

Os dados de altura signifi cativa de onda (Hs) foram obti-dos do modelo de previsão WaveWatch III do Centers for Environ-mental Prediction –NCEP/NOAA. Para a presente análise foram extraídos dados de onda (altura, período e direção) para o litoral central do Ceará, que engloba o litoral de Fortaleza. Os dados de previsão de ondas estavam disponíveis de janeiro/08 a agosto/11. Essas informações foram complementadas com dados de previsão de maré da Diretoria de Hidrografi a e Navegação – DHN para o Porto do Mucuripe (lat.3º42,9`S/Long.38º28,3´W). Os dados foram usados para estabelecer as características das ondas e o ní-vel máximo de atuação da maré a cada evento de ressaca. A esses dados foram adicionados os registros históricos de galgamentos, danos em estruturas urbanas e erosão da praia obtidos por Paula et al., (2011) para o litoral de Fortaleza.

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Para determinar os limiares hidrodinâmicos para ocor-rência de ressacas do mar em Fortaleza com consequências so-cioambientais foi utilizada a função “SE” (IF) do software Excel. Essa função permite testar, em um conjunto de dados, condições hidrodinâmicas para ocorrência de ressacas do mar com impac-tos costeiros, quais sejam: Impacto I – erosão da praia; Impacto II – dano à estrutura urbana; e Impacto III – potencial de ala-gamento. Em observações de campo (de fevereiro a agosto de 2011), constatou-se a adequação dessas informações às condições hidrodinâmicas testadas pela função “SE”. Nos experimentos de campo foi delimitado o alcance máximo do espraio das ondas sobre a praia e a localização das estruturas urbanas, utilizando um DGPS (Diff erential Global Positioning System/GTRG2/GLO-NASS) a funcionar em modo cinemático.

A integração dos dados hidrodinâmicos previstos e dos impactos costeiros permitiu defi nir três limiares (Tabela 2). Para ocorrência de impactos costeiros em Fortaleza, o empilhamento da massa de água junto à costa deve ultrapassar 4 m para que o alcance máximo do espraio da onda (wave runup) atinja as estru-turas urbanas.

Tabela 2 – Limiares hidrodinâmicos para ocorrência de impactos costeiros a partir de dados de previsão de ondas.

Tabela 1. Limiares hidrodinâmicos para ocorrência de impactos costeiros.

Consequência Nível de água (NA) Impacto costeiro Impacto I NA ≥ 3,5 m Erosão de dunas e praias

Impacto II NA > 4,0 m Dano à estrutura urbana

Tabela 2. Limiares hidrodinâmicos para ocorrência de impactos costeiros a partir de dados de previsão de ondas.

Consequência Nível de água (NA) Impacto costeiro Impacto I NA ≥ 3,5 m Erosão de dunas e praias

Impacto II 4,0 ≥ NA ≤ 4,5 m Dano à estrutura urbana

Impacto III > 4,5 M Potencial de alagamento

Tabela 3. Registros dos impactos costeiros induzidos por ressacas do mar no litoral de Fortaleza entre os anos de 2008 e 2011.

Impacto costeiro

Ano I II III

2008 128 28 12

2009 97 30 54

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2

Impacto I – Erosão da praia

Foram contabilizados 91 eventos (com duração mínima de 2 dias) com potencial efeito para provocar erosão da praia, apro-ximadamente 25 eventos por ano.

Impacto II – Potencial dano em infraestruturas urbanas

Os danos causados ao patrimônio edifi cado (e.g. estradas, calçadas e casas) são resultantes da potencial erosão das praias induzida pelo impacto das ressacas do mar. Isso ocorre quando há infraestruturas urbanas limitando a praia (Mendoza e Jiménez, 2009). Consequentemente há erosão da praia interna e o recuo da linha de costa em direção à malha urbana, em alguns casos com galgamentos (Overtopping) do calçadão da Avenida Beira-Mar, em Fortaleza, e recuo da linha de costa, originando situações de riscos para o patrimônio edifi cado.

A frequência com que esse tipo de evento tem-se repetido aumentou um pouco entre os anos de 2008 e 2011, possivelmen-te devido à inpossivelmen-tensifi cação da ocupação desse trecho cospossivelmen-teiro por estruturas urbanas, que naturalmente elevam o risco costeiro (e.g. perda de patrimônio edifi cado) a eventos de alta energia. En-tre os anos de 2008 e 2011 foram contabilizados, nos resultados do modelo, 41 eventos (duração média de 3 dias) com potencial para provocar danos ao patrimônio edifi cado, isto é, 11,3 ressa-cas/ano.

O trecho mais afetado está situado entre o Porto do Mucuri-pe e a Praia da Barra do Ceará (litoral norte) que está totalmente artifi cializado por estruturas de engenharia costeira (e.g. espigões, marinas e enrocamentos), corresponde a um litoral humanizado, sendo ainda caracterizado pela alta densidade populacional (mais de 8.000 hab/km2, IBGE, 2010), reduzida faixa de praia e dunas antropizadas, completamente cobertas pela malha urbana.

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2

Impacto III - Potencial de Alagamento

O alagamento da frente urbana de Fortaleza ocorre quando o nível de água (setup) está acima da elevação do topo das estrutu-ras rígidas ou da crista da duna, potencializando o alcance máxi-mo dos espraio das ondas (Figura 9). Nesse caso, há galgamento das estruturas por ação combinada dos fatores naturais descritos no quadro 1. No caso da orla turística de Fortaleza, a cota média do calçadão da Avenida Beira-Mar é de 4,5 m acima do ZH. Em trechos como o da Praia dos Diários a cota média é de 4,0 m, altimetria que não impede que o espraio máximo (wave run-up) das ondas galgue as estruturas continentais.

Figura 9. Alagamento da Avenida Beira-mar após a ressaca do mar ocorrida no dia 28/10/13.

A interação de ondas-estruturas é complexa, pois envolve processos não lineares como a propagação e a transformação das ondas e variáveis climáticas (e.g. pressão atmosférica e ventos) (Didier e Neves, 2009). Com base nos dados do modelo foi pos-sível observar que, em média, o litoral de Fortaleza é atingido por 28 eventos com duração média de 4 dias, o que contabiliza cerca de 8 eventos por ano, e cerca de 32 dias (totais) de ressacas por ano com potencial de alagamento.

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Seção

2

Ressacas do Mar/Temporais e Gestão Costeira

Os resultados mostram que o número de eventos que pro-vocam danos ao patrimônio edifi cado (impacto II) e alagamen-to (impacalagamen-to III) aumenalagamen-tou de 2008 para 2011, enquanalagamen-to o que provoca erosão da praia manteve-se estável (Tabela 3). A série de dados não permite constatar se houve alteração dos parâmetros oceanográfi co-climáticos, mas sim relacionar o aumento dos im-pactos do tipo II e III à intensifi cação da urbanização do litoral de Fortaleza, com consequente avanço sobre a zona de praia.

Tabela 3. Registros dos impactos costeiros induzidos por ressacas do mar no litoral de Fortaleza entre os anos de 2008 e 2011.

Impacto I NA ≥ 3,5 m Erosão de dunas e praias

Impacto II NA > 4,0 m Dano à estrutura urbana

Tabela 2. Limiares hidrodinâmicos para ocorrência de impactos costeiros a partir de dados de previsão de ondas.

Consequência Nível de água (NA) Impacto costeiro

Impacto I NA ≥ 3,5 m Erosão de dunas e praias

Impacto II 4,0 ≥ NA ≤ 4,5 m Dano à estrutura urbana

Impacto III > 4,5 M Potencial de alagamento

Tabela 3. Registros dos impactos costeiros induzidos por ressacas do mar no litoral de Fortaleza entre os anos de 2008 e 2011.

Impacto costeiro Ano I II III 2008 128 28 12 2009 97 30 54 2010 97 47 26 2011 83 47 30

Nota: Os registros no ano de 2011 foram disponibilizados, apenas, até o mês de agosto.

Nota: Os registros no ano de 2011 foram disponibilizados, apenas, até o mês de agosto.

4.3. Áreas afetadas pelas ressacas do mar

Na identifi cação das áreas mais afetadas pelas ressacas do mar também foram utilizadas as informações extraídas das maté-rias jornalísticas (1953-2010) associadas aos limiares para ocor-rência de impactos costeiros. Desta forma foi possível identifi car os trechos costeiros mais vulneráveis do litoral de Fortaleza a um evento de ressaca do mar. Nesse caso, as praias que apresentaram maior registro de danos ao patrimônio edifi cado foram Pirambu, Formosa, Iracema, Meireles, Mucuripe e Titanzinho (Figura 10).

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2

Figura 10. Praias mais afetadas pelas ressacas do mar em Fortaleza entre os anos de 1953 e 2010.

Na fi gura 10 é possível observar que as matérias veiculadas nos jornais locais apontam como principais áreas afetadas pelas ressacas do mar em Fortaleza as praias de Iracema (31,3%), Pi-rambu (27,5%) e Meireles (27%). Essa disparidade observada entre as praias mais afetadas e menos afetadas pode ser explicada por dois fatores principais: o primeiro é porque os meios de co-municação não se interessam por áreas com impactos I e II (esse último quando não há grande adensamento populacional), pois o que é noticiado é o drama social; o segundo é porque as três praias mais afetadas congregam valores sociais, culturais e econô-micos que são atrativos à imprensa, são eles: grande adensamento populacional, patrimônio edifi cado em risco, áreas com valor tu-rístico (no caso da Iracema e o Meireles) e área de risco social (no caso do Pirambu).

De forma geral, as praias localizadas no litoral central e oeste de Fortaleza são vulneráveis a um evento de ressaca do mar, em que mais de 50% das praias de Fortaleza apresentam impactos do tipo II (dano à estrutura urbana) e III (potencial de alagamen-to). Na fi gura 11 é possível identifi car os impactos costeiros por trechos praiais ao longo do litoral de Fortaleza.

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Figura 11. Mapa de impactos costeiros induzidos por ressacas do mar nas praias do litoral de Fortaleza.

5. Considerações Finais

Para o litoral de Fortaleza as consequências socioambientais decorrentes de um evento de ressaca do mar passaram a ter maior notoriedade a partir da intensifi cação da urbanização, que expôs ainda mais a costa à ação energética do mar, vulnerabilizando o sistema de retroalimentação (feedback) das praias e colocando-as em estado de risco. A partir dos resultados e discussões apresenta-dos é possível afi rmar que as ressacas do mar que atingem o litoral de Fortaleza são resultantes de uma sobre-elevação dinâmica, que tem como forçantes indutoras ondas, marés e ventos, que são responsáveis pelo empilhamento vertical da massa de água junto à costa. Situação que leva à ocorrência de ressacas do mar em Fortaleza. Neste trabalho também foi possível estimar um quadro de limiares para ocorrência de três impactos derivantes das con-dições de ondas e marés: Impacto I – Erosão da praia; Impacto

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2

II - Potencial dano em infraestruturas urbanas; e Impacto III - Potencial de alagamento.

Os dados colhidos nos jornais de Fortaleza publicados entre 1953 e 2010 revelaram uma tendência de aumento da frequência dos episódios de ressaca que provocam consequências socioeco-nômicas, colocando em risco o patrimônio edifi cado.

Os resultados mostram que o número de eventos que pro-vocam danos ao patrimônio edifi cado e alagamentos aumentou de 2008 para 2011, enquanto que o que provoca apenas erosão da praia manteve-se estável. A série de dados não permite constatar se houve alteração dos parâmetros oceanográfi co-climáticos, mas sim relacionar o aumento dos impactos do tipo II e III a intensi-fi cação da urbanização do litoral. A soma dos níveis de água pre-cisam ultrapassar 4m para que haja alagamento de alguns trechos costeiros no litoral de Fortaleza. O método baseado em previsões (ondas e marés) pode ser aplicado nas defi nições dos impactos provocados por ressacas do mar. Contudo, é imprescindível pro-ceder, no futuro, correlação direta com dados observacionais.

Em Fortaleza a intensa urbanização da costa é fator condi-cionante da vulnerabilidade deste litoral a eventos de alta energia (ressacas do mar). Nesse caso as estruturas de engenharia costeira não são completamente efi cazes na defesa do patrimônio edifi ca-do, ocorrendo destruições de bens públicos (estrada, calçadão e postes de energia) e privados (casas e barracas de praia) e alaga-mento de alguns trechos da costa. Por fi m, constata-se que o mé-todo baseado em relatos de jornais foi um importante indicador na análise dos impactos socioambientais, permitindo estabelecer inter-relações entre a dinâmica do meio e as consequências que não seriam possíveis de analisar apenas com dados observacio-nais. Contudo, é imprescindível proceder, no futuro, correlação

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2

direta com dados medidos, complementados com modelos com-putacionais, para que se possam estabelecer com mais detalhes e rigor os limiares das ondas de ressaca e de maré com potencial para induzirem impactos prejudiciais à sociedade.

Agradecimentos:

O s autores agradecem o apoio do Conselho Nacional de De-senvolvimento Científi co e Tecnológico – CNPq (479255/2009-1 / 4838(479255/2009-1(479255/2009-1/20(479255/2009-13-0) e a Fundação Cearense de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico – FUNCAP (PRONEX).

6. Referências Bibliográfi cas

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