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POSTURA DA CABEÇA DE INDIVÍDUOS OPERANTES E INOPERANTES DURANTE DIGITAÇÃO EM TECLADO TRADICIONAL DE MICROCOMPUTADOR COM DIFERENTES INCLINAÇÕES

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POSTURA DA CABEÇA DE INDIVÍDUOS

OPERANTES E INOPERANTES DURANTE

DIGITAÇÃO EM TECLADO

TRADICIONAL DE MICROCOMPUTADOR

COM DIFERENTES INCLINAÇÕES

Rosemeri Peirão (UFSC) rosemerip@yahoo.com.br Adriana Seára Tirloni (UFSC) adri@tirloni.com.br Diogo Cunha dos Reis (UFSC) biomecanica43@yahoo.com.br Antônio Renato Pereira Moro (UFSC) moro@cds.ufsc.br

Apesar do grande aumento de usuários de computador existem poucos estudos que relacionam a postura e a técnica de digitação. O objetivo deste estudo foi comparar a postura da cabeça entre usuários de computador que dominam a técnica de digiitar com todos os dedos sem olhar para o teclado (operante) e inoperantes, durante a digitação em teclado tradicional de microcomputador com e sem o uso das hastes de inclinação. Essa pesquisa do tipo descritiva e exploratória avaliou a digitação de quatro indivíduos do sexo feminino. Utilizou-se um computador (CPU e Monitor 17’) e um teclado tradicional modelo KB-2001 da PPTI®, uma câmera JVC®, um calibrador e software de análise de movimento DGEEME. Os pontos anatômicos foram marcados (ATM e glabela), foi registrada a posição angular neutra da cabeça (PN), e realizada a filmagem da atividade de digitação em duas inclinações do teclado (6º e 1º, com e sem o uso das hastes, respectivamente). Os valores angulares da cabeça durante a digitação foram corrigidos através da PN obtido para cada uma das digitadoras, e posteriormente classificados segundo os critérios de avaliação de Iida (2005) e Hignett e McAtamney (2000). Para a análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva e aplicaram-se os testes não-paramétricos de Mann-Whitney e de Kruskal-Wallis adotando-se um nível de significância de 0,05. De acordo com os resultados foi observado que a posição da cabeça de todos os indivíduos durante a digitação nas duas inclinações do teclado permaneceu sempre na faixa recomendada para a prevenção de riscos ergonômicos. A análise cinemática da movimentação da cabeça durante a digitação apresentou diferença estatística (p<0,001) entre as duas inclinações do teclado para

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todos os indivíduos pesquisados. Foi encontrada diferença significativa (p<0,001) entre a maioria dos indivíduos, exceto entre a operante 2 e inoperante 2 (p=0,488) sem o uso das hastes de inclinação do teclado. Foi observada diferença estatística entre as posições da cabeça de operantes e inoperantes durante a digitação com o uso das hastes de inclinação (p<0,001) do teclado, porém não foi encontrada diferença sem o uso das hastes de inclinação (p=0,169). Conclui-se que o fato das inoperantes digitarem olhando para o teclado não interferiu na postura da cabeça quando comparado com as operantes. E que o treinamento de digitação desenvolvido pelas operantes desse estudo não interferiu na postura da cabeça durante a digitação quando comparadas com as inoperantes. Recomenda-se comparar a postura da cabeça de indivíduos que possuem níveis técnicos de digitação determinados não somente pela formação n

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3 1. Introdução

A análise ergonômica dos postos de trabalho parte do estudo das interações entre homem, máquina e ambiente, abrangendo, dessa forma a análise da tarefa, da postura e dos movimentos do trabalhador e das suas exigências físicas e cognitivas, visando melhorar, de forma integrada e não-dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas (IIDA, 2005).

O desenvolvimento da Ergonomia aconteceu inicialmente na área do trabalho, projetando máquinas e equipamentos de segurança com desenho adequado à população que a utilizaria, organizando corretamente as atividades ocupacionais, a fim de minimizar o estresse sobre o sistema musculoesquelético decorrente da permanência prolongada nas posturas em pé e sentada ou do excesso de repetitividade de movimentos (ANARUMA e CASAROTO, 1996).

A ciência ergonômica tomou um enorme impulso no Brasil nos últimos anos, devido principalmente a pressão social imposta sobre as empresas, as quais levaram em consideração que a prática da não-ergonomia levava a formação de um contingente de trabalhadores restritos (COUTO, 2007).

Segundo Shimt (1997) existem vários aspectos do design de posto de trabalho que influenciam na saúde dos trabalhadores, como métodos organizacionais usados nos implementos de novas tecnologias, o controle ótimo dos trabalhadores, o conteúdo das tarefas, a pressão do trabalho, a presença do companheiro de trabalho, a segurança e a qualidade das condições ergonômicas e do ambiente de trabalho. Para as intervenções que controlam os efeitos sobre as novas tecnologias é necessário examinar questões organizacionais, características de tarefas, design de tecnologias, design ambiental e características individuais do trabalhador, objetivando atingir a melhor possibilidade de resultados para redução do estresse e otimização da saúde. Lewis et al. (2001) avaliou a eficácia de um programa de treinamento ergonômico direcionado a 170 usuários de computador no ambiente de escritório, através da aplicação de questionários, antes e depois do programa de treinamento. Ele concluiu que o programa de treinamento ergonômico foi eficaz no benefício da postura do trabalhador no posto de trabalho assim como na redução da presença de sintomas musculoesqueléticos.

O uso do computador tem levado a um aumento de todos os tipos de problemas relacionados às extremidades musculoesqueléticas superiores (FAGARASANU, KUMAR e NARAYAN, 2005). O Anuário Brasileiro de Proteção (2006) que aborda dados atualizados relacionados sobre prevenção, relata que os casos de sinovites e tenosinovites, dorsalgias e lesões no ombro correspondem a quase metade do número total de doenças ocupacionais, e de acordo com Cailliet (2000) as dores e disfunção no pescoço só são superadas pelas patologias lombares.

Estudos apresentados por Iida (2005) afirmam que 30 a 40% de digitadores se queixavam de dores no pescoço, ombros e braços. Segundo Borges e Souza (2002) o segundo maior elemento causador de desconforto é o teclado. Sendo que os principais fatores responsáveis por esses problemas são: a disposição das teclas, a inclinação do teclado, o bloco numérico, o teclado em português (Brasil) vs. teclado português (Portugal), a cor das teclas/cor das inscrições, o tipo de teclado (tecnologia de contato), a sensibilidade das teclas, a altura sobre a mesa em relação ao

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4 operador e quando destacável ou acoplado a outras partes do computador. Embora os estudos tenham mostrado que teclados ergonômicos podem oferecer benefícios durante a digitação, o teclado tradicional ainda é o mais utilizado. Uma das razões para essa resistência à mudança é o tempo dedicado a aprender a digitar em um novo teclado (ANDERSON, 2007).

A postura é o fator mais importante no dimensionamento do espaço de trabalho. Muitas vezes há a necessidade de inclinar a cabeça para frente para se ter uma melhor visão, como nos momentos que o acento está muito elevado, que a mesa esta muito baixa ou quando a cadeira está longe do trabalho. Isto provoca fadiga rápida dos músculos do pescoço e do ombro, devido principalmente ao momento provocado pela cabeça que possui um peso elevado (4 a 5 kg) (IIDA, 2005).

Uma revisão de literatura realizada por Linton (2000) indicou uma alta correlação entre as variáveis psicológicas e as dores nas regiões da cabeça e das costas. Korhonen et al. (2003) constataram que 34,4% dos trabalhadores que usavam computadores tinham dores na região do pescoço, devido pobres condições do ambiente de trabalho. Os resultados ainda apresentaram que as mulheres, os fumantes, os sedentários e os indivíduos que relatavam alto nível de estresse mental apresentaram uma maior tendência no aumento de riscos de dores na região do pescoço. Para minimizar o desconforto corporal e conseqüentemente prevenir lesões, estudos mais atuais vêm apresentando recomendações quanto ao uso do computador. Iida (2005) relata que as dores no pescoço começam a aparecer quando a cabeça inclina mais de 30º para frente (flexão), e recomenda a realização de ajustes no posto de trabalho para restabelecer a postura vertical da cabeça com até 20º de inclinação. De acordo com Couto (2007) o pescoço com posicionamento estático fletido a mais de 40º é classificado como sendo uma postura de alto risco ergonômico, e o posicionamento estático com objeto visualizado acima da linha horizontal dos olhos é classificada como sendo uma postura de risco ergonômico nas diversas situações de trabalho. Apesar do grande aumento de usuários de computador (IBGE, 2003) existem poucos estudos sobre a técnica de digitação. Além disso, na literatura os estudos (GALEN, LIESKER e HAAN, 2007; BAKER et al., 2007; FAGARASANU, KUMAR e NARAYAN, 2005) não descrevem a relação do nível técnico com a postura corporal assumida durante a digitação. No estudo de Gertz et al. (2005) foi investigada a relação entre a força aplicada sobre a tecla durante a digitação e o nível de qualidade técnica do operador, sendo constatado que indivíduos com melhor qualidade de técnica de digitação aplicam menor carga vertical sobre a superfície da tecla.

Baddeley e Longman (1978), ao pesquisar sobre o aprendizado da digitação, constataram que o treinamento no teclado é razoavelmente bem assimilado pelos aprendizes, no entanto a velocidade e a acurácia regride quando a tarefa de digitar não for praticada freqüentemente. Bastos et al. (2004) investigaram a influência do aprendizado de uma tarefa motora durante a datilografia, através do monitoramento do tempo de execução de tarefas e do número de erros de cada uma, concluindo que a aprendizagem motora apresenta-se efetiva de acordo com as variáveis analisadas.

De acordo com Tirloni et al. (2008) é necessário estudar a utilização das hastes que vêm acopladas aos teclados, as quais são usadas aleatoriamente, sem o entendimento da sua função pelos usuários de computadores. As hastes aumentam a inclinação do teclado e conseqüentemente provocam mudanças na postura do punho durante a digitação. No entanto

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5 ainda é desconhecida a variação da postura da cabeça durante a digitação com diferentes inclinações do teclado e entre digitadores com diferentes níveis qualidade técnica.

Sendo assim o objetivo deste estudo foi comparar a postura da cabeça entre usuários de computador que dominam a técnica de digitar com todos os dedos sem olhar para o teclado (operante) e inoperantes, durante a digitação em teclado tradicional de microcomputador com e sem o uso das hastes de inclinação.

2. Metodologia

Esta pesquisa descritiva, do tipo exploratória, avaliou a postura durante a digitação de quatro estudantes (duas de graduação e duas de pós-graduação) do sexo feminino, sendo duas operantes (38 e 29 anos, 167 e 173 cm de altura, 60 e 57 kg) e duas inoperantes (24 e 22 anos, 152 e 159 cm de altura, 50 e 58 kg). O termo operante foi atribuído aos indivíduos deste estudo que dominavam a técnica de digitar com todos os dedos sem olhar para o teclado, sendo estes formados em cursos de datilografia com duração de 40 horas. As operantes tinham o hábito de digitar em teclado sem o uso das hastes, a inoperante 2 possuía o hábito de digitar sem o uso das hastes de teclado e a inoperante 1 utilizava com freqüência um computador Notebook.

Os dados foram coletados no Laboratório de Biomecânica do Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em dezembro de 2007 e março de 2008, utilizando-se a cinemetria como método Biomecânico para análise do movimento. Primeiramente os sujeitos foram orientados sobre os procedimentos da coleta de dados e em seguida foi simulado um posto de trabalho que foi ajustado conforme as características antropométricas de cada indivíduo segundo recomendações ergonômicas (IIDA, 2005).

Anteriormente a coleta das filmagens os indivíduos realizaram um aquecimento de dois minutos digitando um texto diferente daquele utilizado nas coletas, e em seguida eram orientados a se posicionar de maneira neutra a frente do computador para registro da posição angular neutra da cabeça (PN). Posteriormente digitaram um texto de 165 palavras impressas em fonte Arial tamanho 12, durante dois minutos utilizando um teclado tradicional de microcomputador com a utilização das hastes, e outros dois minutos sem a utilização das hastes. A tarefa consistia em ler o texto que estava posicionado a frente do teclado, digitar e olhar para o monitor (conferência do texto).

Para o posto de trabalho utilizou-se uma mesa de escritório convencional de 72 cm de altura, um computador (CPU e Monitor 17’) e um teclado tradicional modelo KB–2001 da PPTI®, com 108 teclas e disposição QWERTY. As inclinações do teclado foram determinadas pelo uso das hastes, que de acordo com a verificação das imagens de fotografias exportadas para o software CorelDraw 10, encontrou-se 1o de inclinação do teclado sem a utilização das hastes e 6o com a utilização das hastes. O software editor de texto utilizado pelos sujeitos para a digitação foi o Microsoft Office Enterprise 2007, com resolução de tela de 1280 x 1024 pixels, zoom de 150% e fonte Arial tamanho 12.

Para a coleta de dados foi utilizada uma câmera JVC®, modelo GR-D90U, 60 Hertz,posicionada a 95 cm de altura e a uma distância de 160 cm até a articulação do cotovelo, e disposta

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6 perpendicularmente ao conjunto indivíduo e posto de trabalho; e um calibrador composto por quatro pontos de referência formando um quadrado (50x50cm) e dispostos em um plano.

Uma fotografia na posição neutra do indivíduo olhando em direção ao computador foi tratada no software CorelDraw 10, onde foi calculada a posição angular neutra da cabeça (PN) através do ponto da glabela e de uma linha horizontal traçada sobre o ponto ATM (Figura 1) obtendo assim os seguintes resultados: operantes (18º e 16º), e inoperantes (14º e 3º). Utilizou-se um software de análise de movimento DGEEME, versão 0,98b para analisar 899 quadros/frames em 30s da atividade de digitar em cada posição do teclado (com e sem hastes de inclinação), selecionados pelos pesquisadores dentre os dois minutos coletados. Para a análise dos movimentos de flexão e extensão da cabeça durante a digitação foram demarcados os pontos anatômicos da articulação têmporo-mandibular (ATM) e glabela (ponto entre as sobrancelhas) (Figura 1). Após a análise dos dados obteve-se os valores angulares da cabeça de cada quadro durante a digitação, os quais foram corrigidos através da PN obtido para cada uma das digitadoras. Posteriormente os quadros foram classificados segundo os critérios de avaliação da postura da cabeça de Iida (2005) e Hignett e McAtamney (2000) (Tabela 1).

Figura 1 – Posto de trabalho, marcação dos pontos anatômicos de referência e cálculo da posição angular neutra da cabeça (PN)

Os dados descritivos foram apresentados em forma de média, desvio-padrão e percentual. Para o tratamento estatístico das variáveis angulares cinemáticas do movimento da cabeça foi testada a normalidade dos dados através do teste de Kolmorogov-Smirnov. Tendo sido constatado que os dados não apresentaram distribuição normal, aplicou-se os testes não-paramétricos de Mann-Whitney e de Kruskal-Wallis para comparação das variáveis independentes. Adotou-se o nível de significância de 0,05.

3. Resultados

Na Tabela 1 estão apresentadas as classificações da postura da cabeça dos indivíduos de acordo com critérios de Iida (2005) e Hignett e McAtamney (2000).

Classificação movimento Tipo de Faixas

Operantes (n=2) Inoperantes (n=2) Sem hastes Com hastes Sem hastes Com hastes

n % n % n % n %

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7

Ideal

Flexão 0º a 20º 1798 100 1798 100 1798 100 1798 100

Não ideal >20º - - - -

TOTAL 1798 100 1798 100 1798 100 1798 100

Tabela 1 – Classificação da postura da cabeça de acordo com Iida (2005) e Hignett e McAtamney (2000)

Adotando os critérios de Iida (2005) e Hignett e McAtamney (2000), foi observado que a posição da cabeça, tanto das operantes como das inoperantes, durante a digitação com e sem o uso das hastes do teclado, permaneceu sempre na faixa considerada ideal, isto é, recomendada para a prevenção de riscos ergonômicos (Tabela 1).

A Tabela 2 apresenta os valores angulares médios (DP), máxima flexão (valor mínimo) e máxima extensão (valor máximo) da posição da cabeça das operantes e inoperantes durante a digitação em um teclado tradicional de microcomputador em duas inclinações (6º e 1º, com e sem o uso das hastes, respectivamente).

Operantes Inoperantes

Com hastes Sem hastes Com hastes Sem hastes

1 2 1 2 1 2 1 2

Máximo -1,14 -9,78 -1,30 -7,80 -0,89 -4,47 -2,98 -11,13

Mínimo -9,98 -17,04 -14,03 -18,03 -11,85 -13,18 -14,67 -15,61

Média -5,67 -13,56 -9,10 -13,77 -7,46 -9,97 -9,51 -13,69

DP 1,76 1,47 2,41 1,32 2,16 1,36 2,23 0,78

Valores negativos = flexão da cabeça abaixo da PN; Valores positivos = extensão da cabeça acima da PN; Máximo = valor máximo da posição da cabeça em extensão; Mínimo = valor máximo da posição da cabeça em flexão.

Tabela 2: Apresentação dos valores angulares (graus) da máxima extensão (valor máximo) e máxima flexão (valor mínimo) da cabeça assim como da média (DP) dos valores angulares das operantes e inoperantes

Na Tabela 3 estão apresentados os resultados dos testes de comparação da digitação com e sem o uso das hastes de inclinação do teclado em cada indivíduo.

Operantes Inoperantes 1 2 1 2 Com hastes (6º) -5,67 (1,76) -13,56 (1,47) -7,46 (2,16) -9,97 (1,36) Sem hastes (1º) -9,10 (2,41) -13,77 (1,32) -9,51 (2,23) -13,69 (0,78) p <0,001* <0,001* <0,001* <0,001* *p<0,05

Tabela 3- Apresentação das diferenças estatísticas entre os dados angulares (graus) da cabeça COM e SEM o uso das hastes de inclinação do teclado de cada um dos indivíduos.

Conforme observado na Tabela 3, a análise cinemática da movimentação da cabeça durante a digitação apresentou diferença significativa entre as duas inclinações do teclado para todos os indivíduos pesquisados.

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8 Na Tabela 4 estão apresentadas as diferenças estatísticas inter e intra-indivíduos operantes e inoperantes.

Com Hastes (6º) Operante 2 Inoperantes 1 2 Operantes 1 <0,001* <0,001* <0,001* 2 <0,001* <0,001* Inoperante 1 <0,001* Sem Hastes (1º) Operantes 1 2 <0,001* <0,001* <0,001* <0,001* 0,488 Inoperante 1 <0,001* *p<0,05

Tabela 4 - Apresentação das diferenças estatísticas inter e intra-indivíduos operantes e inoperantes com e sem o uso das hastes de inclinação do teclado

Pode-se observar que foi encontrada diferença significativa entre a maioria dos indivíduos, exceto entre a operante 2 e a inoperante 2 sem o uso das hastes de inclinação do teclado (Tabela 4 e Figura 2).

Na Figura 2 estão apresentados os gráficos das variações angulares da postura da cabeça durante a digitação com e sem o uso das hastes do teclado, onde os valores positivos representam a extensão da cabeça acima da PN e os valores negativos, a flexão da cabeça abaixo da PN.

Figura 2 – Gráfico das variações angulares da postura da cabeça durante a digitação com e sem hastes do teclado de indivíduos operantes e inoperantes

Foi observada diferença significativa entre as posições da cabeça das operantes e das inoperantes durante a digitação com o uso das hastes de inclinação do teclado (6º) (p<0,001), porém não foram encontrados esses resultados entre as posições da cabeça de operantes e inoperantes durante a digitação sem o uso das hastes de inclinação (1º) (p=0,169).

4. Discussões

Palmer et al. (2001) ao examinar a relação dos sintomas da região superior do corpo com o uso do teclado de computador, através de questionários distribuídos para sujeitos britânicos de 16 a 64 anos, contatou que o uso do teclado foi associado com o desconforto nos ombros, punhos e mãos. O mesmo resultado foi observado no estudo de Chiu et al. (2002), onde foi avaliado os possíveis fatores de riscos da dor no pescoço em 800 universitários acadêmicos de Hong Kong

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9 durante um ano, através de questionários. Os resultados apresentaram que 46,7% dos universitários apresentaram dor no pescoço sendo observada uma associação significativa entre a dor nessa região e a postura da cabeça (inclinação para frente) durante a digitação.

Ariëns at al. (2001) pesquisou a relação entre a dor na região do pescoço com os movimentos de flexão e de rotação do pescoço durante a posição sentada de 1334 trabalhadores. Os resultados apresentaram que houve um aumento significativo dos riscos de dor no pescoço em trabalhadores que ficam sentados por mais de 95% do tempo do trabalho, sendo que existe uma forte relação entre a flexão do pescoço e a dor nesta região. Foi observado também um aumento dos riscos de dor no pescoço em trabalhadores que trabalham mais de 70% com a cabeça numa posição de 20º a 70º de flexão, e mais de 95% do tempo sentados, sendo que não foi apresentada uma forte relação entre a rotação do pescoço e a dor nesta região.

No presente estudo tanto a cabeça das operantes como das inoperantes encontraram-se numa posição classificada como ideal e recomendada para a prevenção de riscos ergonômicos, durante a atividade de digitação em teclado tradicional de microcomputador com duas inclinações.

Hünting, Läubli e Grandjean (1981) observaram a variação angular da região do pescoço de trabalhadores com diferentes funções, e constataram um forte relacionamento entre o grau de inclinação da cabeça e a dor nesta região. Dessa forma, segundo os autores, o layout do posto de trabalho, especificadamente da posição do documento, determina substancialmente a postura da cabeça.

Como pode ser observado no atual estudo, foi encontrada diferença significativa na postura da cabeça durante a digitação em diferentes inclinações do teclado (1º e 6º). Diferentemente Liao e Drury (2000) objetivando avaliar a postura de seis trabalhadores (possuíam habilidade de digitação com velocidade acima de 100 caracteres por minuto) em três níveis de alturas do teclado (altura da postura do cotovelo ou superfície da mesa, 60 mm acima do primeiro, e 120 mm acima do primeiro), encontraram que a postura da cabeça não apresentou diferença significativa durante a digitação nas três alturas do teclado.

Já Galen, Liesker e Haan (2007) não avaliaram a postura, mas sim o desempenho (velocidade e taxa de erros durante a digitação) de indivíduos em dois tipos de teclados (um convencional de posição horizontal e um vertical dividido), mostrando que a velocidade e o número de erros foram semelhantes em ambos os teclados. Concluindo dessa forma que essas variáveis não variam de acordo com a inclinação do teclado.

Um estudo realizado por Bergqvist et al. (1995) apontou uma forte associação entre um grupo de trabalhadores (entrada de dados) que dispunham de pouco tempo para descanso, com o aumento significativo de desconforto nas regiões do ombro e do pescoço, assim como das mãos e braços, quando o teclado estava inclinado abaixo da posição do antebraço. Do mesmo modo Costa e Xavier (2006), com o objetivo de avaliar a relação entre as queixas de dores nos ombros e pescoço de 6 funcionários de uma empresa de informática com a utilização dos laptops, constatou que as dores neta região do corpo passaram a ser mais freqüentes com o uso exclusivo desses computadores, os quais induzem a uma freqüente posição inclinada da cabeça para frente devido a disposição da tela.

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10 Sommerich et al. (2002) investigou a postura da cabeça e do pescoço durante a digitação no computador notebooks; no notebook mais o mouse externo posicionado a direita; e no notebook mais o mouse posicionado a direita e mais um teclado externo posicionado abaixo do computador (17º acima do ângulo de visão das outras configurações). Os resultados da postura da cabeça e do pescoço indicaram que na terceira configuração (notebook+mouse+teclado) a média do ângulo da cabeça foi cerca de 16,5º com a horizontal. Para as outras duas configurações a media foi de 35º, sendo que esta diferença foi causada pela localização do monitor. O melhor resultado da postura da cabeça e do pescoço foi durante a digitação na terceira configuração onde se observou uma inclinação da cabeça de 5º a 15º e do pescoço cerca de 5º.

O presente estudo encontrou significativa diferença da postura da cabeça entre operantes e inoperantes com o uso das hastes de inclinação do teclado (6º), porém não foi encontrada diferença significativa sem o uso das hastes (1º). Esses resultados podem ser decorrentes da postura da cabeça não ser somente influenciada pela visualização ou não das teclas durante a digitação e pela inclinação do teclado, mas também por outras variáveis não medidas neste estudo como a taxa de erros e a velocidade da digitação dos indivíduos pesquisados.

De acordo com Karni, et al. (1995, apud BASTOS et al., 2004) o aprendizado gradual produz diminuição no erro embutido na tarefa, produz aumento da coordenação e maior agilidade e velocidade na execução do movimento, implicando dessa forma no nível de desempenho na digitação. Porém Gertz et al. (2005) reforça que aquele que domina a técnica de uso do teclado não precisa visualizar a tecla que será acionada.

Fagarasanu, Kumar e Narayan (2005) avaliaram o efeito do treinamento de digitação de 8 horas em dois teclados ergonômicos (Maltron e Goldtouch). A velocidade da digitação aumentou 48% em ambos os computadores, passando de 39,77 palavras por minutos (ppm) para 58,92ppm no teclado Goldtouch (p=0,027) e de 19,71ppm a 29,26ppm no teclado Maltron (p=0,008). Como pode ser observado, o treinamento apresentou um efeito estatisticamente significativo sobre o desempenho da digitação indicando que uma formação complementar ou a experiência de digitação em teclados alternativos reduzem os riscos de lesões musculoesqueléticas.

Gertz et al. (2005), com o objetivo de investigar a relação entre a força aplicada sobre a tecla de computador durante a digitação e o nível de qualidade técnica do operador, analisou o registro da força aplicada sobre uma tecla (H) de 16 indivíduos dispostos em três grupos (os que não dominavam a técnica de digitação, os que dominavam a técnica e os intermediários). Ele concluiu que indivíduos com melhor qualidade de técnica de digitação aplicam menor carga vertical, sobre a superfície da tecla durante a digitação e também tendem a pressionar a tecla na parte superior, ou seja, na parte da superfície mais distante do seu corpo (ou mais próxima do monitor).

5. Conclusões

Apesar de encontrado diferenças significativas, nas variáveis angulares da posição da cabeça de todos os indivíduos durante a digitação em teclado tradicional com e sem o uso das hastes de inclinações, a postura da cabeça nestas situações não proporciona condições de riscos ergonômicos, ou seja, não é um causador de distúrbios musculoesqueléticos. Conclui-se que o fato das inoperantes digitarem olhando para o teclado não interferiu na postura da cabeça quando comparado com as operantes. E que o treinamento de digitação desenvolvido pelas operantes

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11 desse estudo não interferiu na postura da cabeça durante a digitação quando comparadas com as inoperantes.

Dessa forma recomenda-se que estudos sejam realizados com o objetivo de comparar a postura da cabeça de indivíduos que possuam níveis técnicos de digitação determinados não somente pela formação no curso de datilografia e/ou digitação, mas também por outras variáveis como a velocidade da digitação e a taxa de erros. Dessa forma, também é recomendado analisar a relação da postura da cabeça com as variáveis velocidade de digitação e a taxa de erros.

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