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SERVIÇO SOCIAL Direitos Humanos, Diversidade Humana e Serviço Social

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SERVIÇO SOCIAL –

Direitos Humanos, Diversidade Humana e

Serviço Social

CAPITAL, FRONTEIRAS E ÓRFÃOS: ADOÇÃO INTERNACIONAL E

SERVIÇO SOCIAL NO RIO GRANDE DO NORTE

Resumo: O presente artigo tem por objetivo geral analisar criticamente os diversos aspectos

sociais e jurídicos intrínsecos à adoção internacional, tendo como espaço de análise o estado do Rio Grande do Norte. Dessa forma, visa-se conjecturar os determinantes da adoção internacional, atentando para a relação existente entre adoção internacional e o atual modelo de produção capitalista, compreendendo, assim, a adoção internacional como uma consequência da dinâmica da relação estabelecida entre países de capitalismo central e periférico. Através de nossas análises, chega-se à conclusão que, embora haja legítimos questionamentos impostos a adoção internacional, não devemos desconsiderá-la de forma precipitada, uma vez que adotantes estrangeiros geralmente adotam menores que, de acordo com dados empíricos, meramente por suas características físicas não corresponderem ao perfil predominantemente requisitado por adotantes brasileiros, dificilmente encontrarão amparo familiar no Brasil antes de atingirem a maioridade. Ignorar esse fato seria ignorar as necessidades imediatas de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento; as necessidades de crianças e adolescentes que sofreram e sofrem duras violências contra seus direitos humanos todos os dias. Tivemos como objetivo específico de estudo a compreensão da prática profissional do assistente social no processo de adoção internacional. Buscou-se respaldo teórico para a tese por meio de pesquisa bibliográfica, houve o estudo de artigos publicados e livros que abordam a temática e interpretação crítica de informações e dados disponibilizados em portais da internet, além da realização de uma entrevista semi-estruturada com a assistente social da Primeira Vara da Infância e Juventude da comarca de Natal/RN.

Palavras-chave: Adoção Internacional. Serviço Social no espaço ocupacional Jurídico.

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1. INTRODUÇÃO

De acordo com Iamamoto (2010), no período que compreende o pós Guerra Fria e início do século XXI, o capital financeiro assume o comando do processo de acumulação, envolvendo não apenas a economia, mas também a política, a sociedade e a cultura. Nesse momento do desenvolvimento do capital a inserção dos países periféricos na Divisão Internacional do Trabalho carrega as profundas marcas históricas de subalternidade que foram preponderantes na formação e desenvolvimento dessas nações; tais marcas se atualizam e se redimensionam na contemporaneidade. As novas condições históricas trazidas pelo capital financeiro metamorfoseiam a questão social intrínseca ao modelo de produção capitalista, acrescentando novas determinações a relações sociais historicamente produzidas.

Iamamoto (2010) ainda argumenta que a radicalização do desenvolvimento desigual estrutura as relações de dependência entre países no cenário mundial. A subalternidade econômica de algumas nações decorre da relação de dependência estabelecida na arena do Capitalismo Mundial entre países chamados de centrais e países chamados de periféricos1. O desenvolvimento dos países de capitalismo periférico permanece subordinado ao desenvolvimento dos países de capitalismo central, tal relação, que, insistimos, expressa subalternidade, não é consequência da simplista ideia de “natural potencial agroexportador” de algumas nações, ou da ainda mais inidônea ideia de que certas nações não teriam “competência para se desenvolver industrial, econômica e socialmente”, mas sim da posição inferior que essas nações ocuparam historicamente e ainda ocupam na dinâmica capitalista mundial, ditada pelo imperialismo.

A natureza da relação econômica estabelecida entre países capitalistas centrais e periféricos gera fortes desigualdades no que concerne as respectivas

1 Os chamados países centrais permanecem no centro da economia mundial, nos espaços

em que ocorrem a maior manifestação da ciência e da tecnologia, onde os fluxos financeiros se movimentam com mais intensidade. Nos países periféricos o desenvolvimento da ciência é menor, os fluxos financeiros se manifestam igualmente com menor intensidade. Tendem a exportar majoritariamente commodities e importar tecnologia.

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sociedades desses países. As sociedades dessas nações não são iguais no acesso ao mercado de trabalho, ou na precarização desse mercado de trabalho, não são iguais no acesso a serviços como saúde e educação, ou na má qualidade de serviços como saúde e educação, não são iguais no acesso e valorização da cultura, ou no descaso e inferiorização da cultura.

Disparidades se manifestam também na esfera da adoção. Muitos argumentam que adoção internacional consistiria simplesmente em uma reafirmação da desigualdade estrutural entre países ricos e pobres, uma vez que se mostra uma via de mão única; isso porque há um número significativo de adotantes de países considerados de Primeiro mundo que adotam as crianças de países de Terceiro mundo, o que não acontece opostamente. É como se ocorresse uma “exportação de crianças de países pobres para países ricos”. Por outro lado, é importante observarmos a realidade brasileira atual mostra que existem milhares de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento, constante vítimas de violações de direito, e sem perspectiva de retorno para o grupo familiar ou colocação em família brasileira adotiva, a quem não pode ser negado o direito de através de um adotante estrangeiro, receber amparo familiar, ainda que isso, do ponto de vista social, se constitua numa medida claramente paliativa.

Com isso em mente, decidimos por realizar um projeto relacionado à adoção, com foco em adoção internacional no Brasil, refletindo sobre o papel do Serviço Social no processo de adoção por estrangeiros. Para isso contamos com um respaldo teórico interdisciplinar, envolvendo especialmente as áreas do Serviço Social e do Direito de Família e Internacional, e realizamos uma entrevista semi-estruturada com a assistente social da Primeira Vara de Infância e Juventude da Comarca de Natal, órgão jurídico responsável pela adoção internacional no estado do Rio Grande do Norte.

2.0 DESENVOLVIMENTO

2.1 Um breve panorama a respeito de adoção internacional no Brasil

O verbo adotar (do latim adoptare) remete à aceitação, acolhimento, tomar por filho, atribuir ao filho gerado por outra pessoa os direitos de seu filho biológico. A

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adoção se constitui em uma escolha consciente e clara, por meio de uma decisão legal, a partir da qual uma criança ou adolescente não gerado biologicamente pelo adotante torna-se irrevogavelmente seu filho (Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA, artigo 48).

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente é direito da criança permanecer no seio da família biológica, logo, considera a adoção uma medida a ser adotada “excepcionalmente” (art. 19). A adoção só deve ocorrer em situações extremas nas quais o juiz chegar à conclusão que é impossível a manutenção do menor na família de origem, assegurando dessa forma o direito constitucional à convivência familiar e comunitária.

Para Rizzini, Naiff e Baptista (2006) a criança ou o adolescente só é afastado da família caso seus direitos sejam violados; Define-se por casos de violação intrafamiliar: abuso sexual, abuso físico, omissão, exploração do trabalho infantil. Mesmo que nenhuma das violências acima citadas ocorram, a situação de pobreza acaba sendo um uma motivação constante para que uma criança seja afastado da família. Yazbek (1993) afirma que pobreza evidencia aqueles/as, que de forma permanente ou transitória, estão privados de um mínimo de bens ou mercadorias necessárias à sua conservação e reprodução social. As condições de pobreza ás quais permanecem submetidas uma grande massa populacional têm forte vínculos com o agravamento da questão social, que se refere ao conjunto de múltiplas expressões das desigualdades sociais, engendradas pela sociedade capitalista. O Brasil, país de capitalismo periférico, enfrenta as graves consequências do acirramento da questão social, tais como: desemprego, analfabetismo, baixa escolarização, aumento da violência. Como não poderia deixar de ser, o RN também se vê rodeado por densas problemáticas intrínsecas á subalternidade, pobreza e desigualdade sociais perpetuadas pelo atual modelo de produção.

Se por um lado, a ausência de recursos materiais não é suficiente para que haja a perda do poder familiar no Rio Grande do Norte ou em qualquer outro estado do Brasil, por outro, a ineficácia e a falta de políticas públicas e de amparo para com as famílias no cuidado aos filhos, impede essas famílias de se inserir no mercado de

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trabalho e assim, gerar renda suficiente para sua reprodução; além disso, são poucas as creches públicas de horário integral que podem cuidar das crianças enquanto os pais trabalham. É notório que a desigualdade socioeconômica do brasileiro e do norte-rio-grandense compromete o acesso e a garantia de direitos básicos de todos os cidadãos, em especial, das crianças e adolescentes.

No Brasil, a desproporcionalidade2 do número de crianças a serem adotadas em relação ao número de adotantes, sendo o último expressivamente maior, se justifica pela demora nos processos que levam à adoção e ao fato de que o perfil de criança em geral pretendido pelo adotante brasileiro é muito diferente do das crianças e adolescentes que vivem nas instituições.

Dutra e Maux (2010) apontam que ainda que a experiência da adoção seja singular para cada família, existem aspectos que são frequentemente observados na adoção no Brasil, tais como a forte relação entre adoção e caridade; adoção e infertilidade; além dos mitos e medos em que circundam a revelação da adoção para o filho. É facilmente observável a preferência dos adotantes brasileiros por crianças de pouca idade e com características físicas próximas às suas, buscando dessa forma, reproduzir ao máximo possível à experiência que viveriam se tivessem um filho biológico.

Os números da adoção no Brasil revelam que muitos dos pais têm o sonho de adotar, desejam adotar uma criança de pouca idade3. A Justiça Brasileira sempre

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Dados estatísticos do Cadastro Nacional de Adoção, disponibilizados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), relativos ao perfil dos pretendentes à adoção e das crianças aptas a serem adotadas no país revelam que atualmente existem 6396 crianças à espera de adoção e 35077 candidatos a adoção no Brasil. Do total de crianças a serem adotadas, 42 (0.66%) estão no Rio Grande do Norte. A maioria das crianças e jovens disponíveis para adoção é do sexo masculino 3585 (56.08%), de cor parda 3130 (48.96%) e possuem irmãos, 4305 (67.31%). Sobre os pretendentes à adoção, sabe-se que 298 (0.85%) são do Rio Grande do Norte.

3 É válido ressaltar que a idade também é um forte empecilho ás adoções no Brasil.

Ainda segundo dados disponibilizados eletronicamente Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a maioria dos pretendentes aceitam crianças até 3 anos de idade, 6951 (19.8%), quando apenas 223 (3.49%), correspondem a esse perfil. Por outro lado, é um número pouco

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busca que irmãos sejam adotados juntos para não perderem o vínculo familiar. A maior parte das crianças e adolescentes em instituições de acolhimento possui irmãos igualmente disponíveis para adoção, 4305 (67.31%). No entanto, a grande maioria dos adotantes, 24699 (70.46%) pretende adotar somente uma criança. A questão étnica também se expressa na adoção brasileira: 8012 (22.86%) candidatos a adoção só aceitam crianças brancas. Tristemente, o preconceito racial ainda é um forte fator que impede as adoções no Brasil.

A adoção internacional4 pode ser definida como o instituto jurídico de ordem pública que concede a uma criança ou adolescente em estado de abandono a possibilidade de viver juntamente com uma nova família, em outro país, tendo dessa forma, assegurados amparo familiar, uma vez obedecidas as leis tanto do país do adotante quanto do adotado. A adoção internacional geralmente ocorre quando não foi encontrada uma família brasileira disponível para acolher a criança ou o adolescente. Segundo o CNJ, a maioria das crianças adotadas por estrangeiros são maiores de 6 anos e, comumente, com grupos de irmãos.

De acordo com o artigo 31 do (ECA) a colocação da criança em família substituta estrangeira deve ser uma medida excepcional. Isso não porque há discriminação para com estrangeiros, mas para proteger a cultura, a etnia da criança. Ainda de acordo com o estatuto, o país de destino da criança necessita, assim como o Brasil, ser ratificante da Convenção de Haia.

Também está em vigor no Brasil a Convenção Relativa à Proteção as Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída na Haia em 29 de maio de 1993, aprovada pelo decreto legislativo n°1, de 1999, e promulgada pelo decreto de n. 3.097, de 1999. A Convenção está inspirada em que a adoção internacional pode, apresentar a vantagem de dar uma família permanente a criança para quem não se possa encontrar uma família adequada em seu país de origem, e na necessidade de prever medidas para garantir que as adoções internacionais sejam feitas no interesse expressivo o dos pretendentes que se dispõe a adotar crianças de até 16 anos, 18 (0.05%), ainda que o maior número de crianças disponíveis para adoção corresponda a essa faixa etária, 613 (9.59%). Diante da análise dos dados é comprovável que quanto mais velha uma criança é, menos chance tem de ser adotada no Brasil.

4 A adoção internacional ocorre quando os adotantes forem pessoas residentes e

domiciliados fora do Brasil, o que engloba tanto estrangeiros quanto brasileiros que morem no exterior.

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superior da criança e com respeito aos seus direitos fundamentais, assim como para prevenir o sequestro, a venda ou o tráfico de crianças. (LÔBO,2010, p.293)

A adoção internacional é permeada de difíceis questões principalmente em países com alto grau de pobreza de sua população, sem condições favoráveis de vida para uma grande parte crianças nascidas, como o Brasil, que por suas características econômicas e sociais permanece muito propenso a pedidos de adoção. De acordo com Lôbo (2010), é por meio de documentos enviados pelas autoridades competentes de seu país, que o estrangeiro deverá comprovar que está apto pra adotar, mediante a apresentação de um estudo psicossocial (art.51 do ECA). Poderá haver um estudo prévio de comissão judiciária de adoção sendo condicionada pela adoção internacional. Para que o estrangeiro recorra a adoção internacional ele deverá primeiramente, solicitar as autoridades de seu país de origem, que encaminha em um relatório com as informações dele para a autoridade central estadual brasileira, caso se considere que ele está apto para adotar, por conseguinte os documentos serão traduzidos e autenticado por consulados do Brasil. Caso os pretendentes a adoção preencham as exigências legais, a autoridade central do estado emitirá um laudo de habilitação, para que, ao tê-lo em mãos possa requerer a adoção junto ao juiz da infância e juventude.

A comissão deve conservar centralizado o registro de estrangeiros interessados na adoção (art.52). O §5º do art. 227 da Constituição Federal determina a adoção será assistida pelo poder público, de acordo com a lei, estabelecendo casos e condições de sua confirmação por parte do estrangeiro. Para estas adoções além das exigências de condição de direitos internos, a Convenção Interamericana sobre conflito de leis em se tratando de adoção de menores, de 1984, promulgada pelo decreto nº 2.429, de 1974 determina que as autoridades que outorgaram a adoção poderão pedir que o adotante (ou adotantes) comprove suas condições moral, psicológica, físicas, e financeiras por meio de instituições privadas ou públicas cujo propósito explicitado tenha relação com a proteção do menor.

O adotando não poderá sair do território nacional antes da efetivação da adoção pelo transito em jugo sentencial conforme estabelece o art. 51 do ECA.

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Diante disso, o Brasil se responsabilizou5 em prevenir e proibir os atos ilegais que giram em torno da adoção internacional e a transferência ilegal de crianças e adolescentes brasileiros para fora do país, mediante a força da Convenção Sobre os Direitos da Criança de 1990. Após a sentença passar por julgamento, a autoridade judiciária estabelecerá a expedição do alvará autorizando a viagem e também, para a obtenção do passaporte.

2.2 O fazer profissional do assistente social forense no processo de adoção internacional no Rio Grande do Norte

O interesse em analisar o papel do assistente social no processo de adoção internacional nos leva à Primeira Vara da Infância e Juventude Natal/RN, localizada no Fórum Desembargador Miguel Seabra Fagundes, Rua Dr. Lauro Pinto, 315 - Lagoa Nova, Natal - RN, 59064-250.

Visando coletar informações relevantes sobre o papel do assistente social no processo de adoção internacional na Primeira Vara da Infância e Juventude de Natal/RN, realizou-se uma entrevista semi-estruturada com uma (01) profissional do Serviço Social da Primeira Vara de Infância e Juventude de Natal/RN, que atende à demanda da adoção internacional no Rio Grande do Norte. A profissional referida foi convidada a contribuir como sujeito da pesquisa, fornecendo elementos sobre sua rotina de trabalho, mediante a uma entrevista semi-estruturada, aceitando imediatamente participar.

5 A UNICEF se posiciona com sensatez a respeito da adoção internacional. O Fundo

das Nações Unidas para a Infância, nos diz que a Convenção Sobre os Direitos da Criança, que orienta o trabalho da UNICEF, claramente estabelece que toda criança tem o direito de crescer em ambiente familiar, e ser cuidada e protegida por sua própria família, sempre que possível. Dessa forma, reconhece-se a importância e o valor das famílias nas vidas das crianças. A UNICEF defende que as famílias que necessitam de assistência para cuidar de suas crianças têm o direito de recebê-la. Quando, mesmo contando com assistência, a família de uma criança está indisponível, inapta ou não deseja cuidar da criança, medidas apropriadas devem tomar ser para garantir que a criança cresça em um ambiente familiar saudável. Uma dessas medidas pode ser a adoção internacional: Para casos específicos em que crianças que não podem ser amparadas por uma família em seu país de origem, a adoção internacional poder ser a melhor solução permanente. A UNICEF declara apoiar a adoção internacional, quando obtida em conformidade com os padrões e princípios da Convenção de Haia, realizada em 1993, assinada por noventa e cinco países. Também afirma que acima de tudo, tem por foco específico prevenir as raízes das causas do abuso, exploração e violência infantil.

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Fávero (2007) defende que:

Nas ações que as Varas da Infância e Juventude operacionalizam, os instrumentos e técnica de intervenção dos quais o Serviço Social lança mão são, fundamentalmente, a entrevista, a visita domiciliar, a observação, com os objetivos de pesquisar e analisar acontecimentos, situações de vida. Nas relações que estabelece com a criança, o adolescente e a família, o assistente social recolhe dados que sistematiza em um relatório, o qual subsidia a decisão judicial. (FÁVERO, 2007, p.48)

Sobre as suas principais funções no processo de adoção internacional, a profissional esclarece:

Tem a audiência; o casal que vem de fora, digo o casal, mas pode ser o homem ou a mulher, [...] é o requerente, o pretendente. Quando termina a audiência, algumas vezes eu participo da audiência, outras não, com o juiz, o promotor, o defensor, o intérprete, todos que compõe a audiência, o juiz determina no mínimo 30 dias para o acompanhamento àquela criança com aquele pretendente, com aquele casal, com aquela pessoa estrangeira. Se chama esse período de estágio de convivência. O estatuto prevê 30 dias de estágio de convivência, e comumente o juiz determina 30 dias. O meu trabalho começa como? Terminou a audiência, então o casal vai com a criança pra uma casa, pra um hotel, pra uma pousada, e dois dias, três dias depois eu vou, eu não preciso dizer e agendar, [...] eu levo a máquina fotográfica, eu me apresento, [...] eu já me apresento aqui, então eu vou observar o quê? Meu foco e meu trabalho é a criança e o adolescente. [...] Então eu vou observar qual a empatia, qual a relação, qual a sensação que ele está tendo com aquela adoção, com aquele casal, com aquele pretendente. Muito embora saibamos que a criança e o adolescente já passaram por um preparo. Enquanto o casal está sendo no exterior formado, capacitado, a criança e o adolescente, também está esperando o casal estrangeiro, e é trabalhada a questão de clima, de espaço, de idioma, de pátria, de tudo que vai acontecer na vida dele. Mas assim, uma coisa é ele ser preparado, outra coisa é ele se deparar, ele ver, saber, conhecer aquele casal. [...] No estágio de convivência eu costumo ir uma vez, duas vezes, três vezes, as vezes que forem preciso nesses 30 dias. [...] O primeiro entrave eu percebo é a questão do idioma, mas isso logo é contornado, e observo como está a criança com o casal e como está o casal com a criança, se realmente houve a aceitação recíproca. Á partir daí a gente vai trabalhar as questões da adoção, sempre com a criança e o adolescente pertinho. Quando a criança é um pouco pequena eu trabalho de uma outra forma, quando se trata do adolescente eu puxo pra perto pra gente conversar. E aí eu vou tirando as dúvidas do casal e vou tirando as dúvidas também da criança, as angústias, as preocupações, e o casal também fica um pouco ansioso. No término dos 30 dias, nós já estamos com condição

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de fazer o relatório e apresentar ao magistrado. E aí [...] o juiz ele dá o despacho e ele concede a adoção. (AS)

De acordo com o Conselho Federal de Serviço Social (2014), para o desenvolvimento do estudo social, geralmente o assistente social estuda a situação, realiza uma avaliação, emite um parecer por meio do qual muitas vezes aponta medidas sociais e legais a serem tomadas. Na realização do estudo o profissional pauta-se pelo que é expresso verbalmente e também pelo que não é falado. O relatório social, laudo social, ou parecer social, transforma-se em instrumento de poder ou num saber convertido em poder de verdade, que é decisivo para definição do futuro de crianças, adolescentes e famílias. Tais documentos apresentam informações colhidas e interpretações realizadas, e aquele ou aqueles que os lerem, geralmente são agentes que emitirão uma decisão a respeito dos sujeitos envolvidos na ação judicial. Mediante a isso, muitos argumentam que a assistente social no judiciário é “os olhos do juiz”.

A grosso modo é assim que acontece, porque é a assistente social que vai lá na favela, que ouve, que conversa, [...] se tem uma criança a ser visitada, eu vou à casa da criança. [...]. Eu saio conversando com as pessoas. [...] então eu faço esse apanhado, eu registro com fotos, quando permitido é, eu ouço a criança que é o protagonista da sua própria história [...] e aí eu trago todas essas informações. [...] Vou colocar tudo isso em linguagem técnica, dentro do meu código de ética, dentro da minha área, na minha fala como assistente social e aí eu entrego ao juiz, ao promotor, que é um só documento, que se chama estudo social, relatório social ou um parecer técnico, e aí o quê que faz o defensor, o promotor e o juiz, que veem e cada um dá seu devido parecer; o juiz dá o despacho, e aí convoca-se uma audiência, na audiência [...] as pessoas vão entrando e ele já sabe quem são as pessoas, porque no parecer já está a fotografia. A criança, caso tenha 10 anos, uma idade que possa dialogar, e queira conversar, e o juiz queira conversar, se tem algo importante a perguntar, ás vezes pra não expor muito a criança ela não entra, nem vem, mas se necessário for, quando ela entra, o juiz já sabe de quem se trata. [...] está tudo bem esmiuçado, de uma forma técnica, sucinta, então ele já sabe como formular as perguntas [...] (AS)

A assistente social esclarece como se configura o processo de adoção internacional no Rio Grande do Norte.

De acordo com a convenção de Haia, o casal ou o pretendente se inscreve lá, na autoridade judiciária de lá, cada país tem a sua representatividade. Então ele se inscreve [...] e diz, manifesta sua

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motivação, então ele vai receber o acompanhamento do psicólogo, do assistente social, a visita, serão feitos estudos, curso de capacitação e lá ele diz “Gostaria de adotar uma menina ou menino”... Dificilmente um casal estrangeiro adota um recém-nascido porque existe a questão das prioridades. O bebezinho ele é adotado pelo brasileiro, quando é a criança de 8,10 anos e não foi possível ser adotada por uma família brasileira, aí ela vai ser adotada por uma família estrangeira, e passa a ter duas nacionalidades. A questão da nacionalidade está presente na Constituição. [...] a partir daí, depois que esse casal está inscrito, está apto pra adotar, o próprio país de domicílio desse casal, seja qual for, exceto Estados Unidos, [...] essa própria autoridade central do domicílio do pretendente, mantém contato com o Brasil, mas onde exatamente? Com Brasília e a partir daí a autoridade central de Brasília recebe a informação que esse casal deseja adotar uma criança brasileira. Em todas as unidades federativas existem crianças a serem adotadas. A nossa desigualdade social é gritante. Então se o casal lá porventura conhece o Rio Grande do Norte, se já esteve aqui, se tem algum familiar aqui ou passou férias, [...] então ele coloca a observação, então vem de Brasília pra cá. Quando chega aqui não, não vem pra Primeira Vara, vem pra CEJAI6. CEJAI é uma comissão de adoção internacional que faz parte do poder judiciário, mas é dentro da corregedoria do poder judiciário do Rio Grande do Norte, então vem a documentação que se chama processo, bastante volumoso, vem com fotografia com todas as informações, então chegando aqui [...] na própria comissão, a própria comissão mantém contato com a Primeira Vara que é a Vara competente e diz: “Nós temos um casal que pretende adotar uma criança”, então fazemos o contato com uma unidade de acolhimento. Temos Casa de Passagem I, Casa de Passagem II, Casa de Passagem III. Essas Casas de Passagem são muito por questão de faixa etária. Recém-nascido tá lá na Casa de Passagem I, tem seis anos? Tá lá na Casa de Passagem II, tem treze anos? Casa de Passagem III. E nós temos ainda As Aldeias, que é uma ONG que trabalha em parceria conosco. Então tem essa criança com esse perfil ou um adolescente que o casal nessa formação espera? Isso aí envolve idade: um casal de sessenta anos estrangeiro fica difícil dele adotar uma criança de cinco anos, não fica? [...] existe uma discrepância grande. (AS)

6 Para favorecer a execução da Convenção de Haia, o decreto n° 3.174, de 1999 define

como Autoridade Central Brasileira a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, do Ministério da Justiça, que representa os interesses do estado brasileiro na preservação dos direitos de crianças e adolescentes adotados via adoção internacional, além de receber comunicações oriundas das Autoridades Centrais dos Estados contratantes e transmiti-las ás autoridades centrais dos estados brasileiros, dentre outas funções. Com influência sobre as Comissões Estaduais e Judiciária de Adoção Internacional (CEJAI). O órgão CEJAI se encarrega de atividades complementares e de subsidiar o juiz da infância e da juventude.

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Segundo a Comissão Estadual e Judiciária de Adoção Internacional do Rio de Janeiro (2015), os estrangeiros que decidem adotar uma criança brasileira não costumam especificar as características étnicas das crianças, e comumente, demonstram admirar a cor da pele, o cabelo, as características físicas, e isso fortalece a autoestima de crianças e adolescentes.

Eles não têm esses preconceitos que nós brasileiros temos. Se for um brasileiro, uma brasileira, ela quer um bebê, e a quer uma menina, ela quer uma criança com três meses, ela [a adotante] pode ser negra, mas ela quer uma criança dos olhos azuis, verdes e tudo mais. Eu tô dizendo o que a pesquisa sinaliza [...] Já tive casos de trabalhar numa adoção, a nível nacional, trabalhei muitos anos em adoção nacional, trabalhei muitos anos com acolhimento, abrigo, orfanato, [...] e em um caso, o trabalho estava exitoso, durante um estágio de convivência de adoção nacional, e no outro dia o casal chegou e disse: “Nós não vamos querer a criança.” “Eu não acredito”, pensei. A criança já estava toda preparada, alimentada. [...] Aí o casal chegou e disse [...] “Nós levamos a criança ao pediatra ontem à tarde e foi descoberto que a vulva da criança é escura, isso quer dizer que quando ela tiver com uns doze, quinze anos ela está numa cor morena. Aí eu olhei assim. [De forma sarcástica] “Quê mais?” [...] Essa devolução vem permeada de frustração para a criança. [...] E eu olhei pra criatura e pro moço, e de brancos de olhos azuis, eles não tinham nada. (AS)

3.0 CONCLUSÃO

Num mundo que é dividido em dois pólos sociais, que são também espaciais, (Iamamoto, 2010, p.111.) em que produção e acumulação se retroalimentam ao passo em que colidem, as consequências dessa luta atingem os mais desprotegidos. A questão social pulsa, por vezes latente, disfarçada; outras, manifesta, sob holofotes, dentro de um capitalismo imperialista, que tira das nações latino-americanas a possibilidade de ditar as regras de seu próprio destino. O Brasil, país de capitalismo periférico, ocupa uma posição de subalternidade da dinâmica do capital, tal posição define suas características econômicas, políticas e sociais. Impedido por fatores externos de investir adequadamente em políticas públicas que garantam o desenvolvimento social, o estado brasileiro deixa desassistidos cidadãos e cidadãs, que, uma vez não conseguindo se inserir no mercado de trabalho, e dessa forma, adquirir os meios necessários para garantir a sua reprodução social e de sua

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família, são vitimados pela miséria, que é o subfruto do capitalismo. Diante disso, não são raros os casos em que por não terem condições objetivas de cuidar dos seus próprios filhos, abrem mão de seu poder pátrio, entregando-os ás instituições de amparo infantil, ou, por vezes cabe ao estado o papel retirar crianças dos braços de seus pais, por esses não terem condições materiais e/ou psicológicas de garantir-lhe a dignidade. Da mesma forma, o agravamento da questão social obriga jovens a lutar por si mesmos e por sua família entrando no mundo da delinquência (Yazbek, 1993, p. 14 -15). Ás crianças moradoras de orfanatos e casas de passagem, resta a incerta perspectiva da adoção. A adoção é notadamente uma alternativa para a garantia do direito estabelecido na Constituição Brasileira de que toda criança tem de se desenvolver em ambiente familiar, no entanto, por muitas vezes ela é encarada como um meio para que adultos possam concretizar seus sonhos de ter um filho. Como tudo que envolve sonhos, há a fantasia, há idealização por parte dos adotantes brasileiros em relação ao perfil da criança a ser adotada. Tal idealização pouquíssimas vezes se consolida na realidade, uma vez que a ampla maioria dos meninos e meninas a serem adotados não corresponde ao perfil imaginado pelos adotantes. Diante dessa “falta de entendimento” entre adotantes e adotados, inúmeras adoções deixam de ocorrer no Brasil. Nesse impasse, milhares de crianças brasileiras permanecem tendo o direito a família negado, desenvolvendo-se sem amparo familiar.

A adoção já é por si só um processo consideravelmente difícil, tal complexidade se agrava ainda mais quando a língua e cultura de adotantes e adotados é diferentes. Remover crianças de sua nação, cultura, enviando-as para um país distinto, jamais poderia ser classificado como o mais adequado a se fazer. A adoção nacional deve ser uma medida excepcional, e a adoção internacional, uma medida a ser aplicada em última instância. No entanto, a adoção internacional, por vezes, é a única forma de se garantir os direitos de crianças e adolescentes. Se existe a possibilidade concreta de menores em instituições de acolhimento encontrarem um ambiente familiar saudável, um lar, através de um família substituta estrangeira, negar isso a elas seria cometer mais uma violência contra seus direitos, ainda que essa não seja a medida ideal. A importância da adoção internacional se

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mostra quando observamos que mesmo diante de regras mais rígidas do que a imposta a brasileiros, os estrangeiros foram responsáveis, entre 2008 e 2015, por 657 adoções de crianças, de acordo com dados do Cadastro Nacional de Justiça (CNJ). Através do instituto da adoção internacional, 657 crianças, que possivelmente iriam atingir a maioridade em instituições de acolhimento, tiveram a oportunidade de se desenvolver em meio familiar.

Inserido no contexto de adoção internacional, assistentes sociais atuam como importantes agentes que assessoram o Poder Judiciário, através de estudos sociais (atribuição privativa do assistente social), proporcionando assim, subsídios imprescindíveis para análise ampla e completa das vivências de adotantes e adotados, sem os quais juízes não poderiam chegar a suas decisões. O Assistente Social não atua como um perito, mas como profissional reflexivo, que emite análises conjunturais críticas e profundas a respeito da realidade social em que adotantes e adotados permanecem inseridos, considerando suas respectivas características econômicas, culturais e sociais; tal análise crítica implica em determinações que sentenciam o destino de crianças, adolescentes e famílias. Também cabe ao profissional do Serviço Social ter em mãos informações e indicadores que possibilitem identificar expressões da questão social, tendo como bússola o projeto ético-político da profissão. Defender intransigentemente os direitos humanos, e dedutivamente os direitos da criança, é, talvez, a mais sublime missão histórica do Serviço Social.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Cadastro Nacional de Adoção. Relatórios estatísticos. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf > Acesso em 21 mar. 2016. _______________. Conselho Nacional de Justiça. CNJ Serviço: Entenda como

funciona a adoção internacional no Brasil. Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/81164-cnj-servico-entenda-como-funciona-a-adoc ao-internacional> Acesso em: 21 mar. 2016.

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Referências

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