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A responsabilidade na investigação-acção La responsabilité dans le domaine de la recherche-action

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Academic year: 2021

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A responsabilidade na investigação-acção

La responsabilité dans le domaine de la recherche-action

Catarina Sobral (Universidade de Lisboa)

Resumo

A comunicação a apresentar visa espelhar os critérios éticos que estão a ser tidos em consideração num processo de investigação-acção colaborativa ainda em curso, no âmbito do doutoramento de formação de professores. Sabe-se que a investigação-acção foi uma (de entre três principais) das forças que afectaram a dimensão ética da investigação, como a conhecemos actualmente. A investigação-acção colaborativa é um método de investigação e, simultaneamente, uma estratégia de formação, que implica a orientação e concretização de processos de investigação-formação colaborativa, na qual educadores e formador são investigadores como também sujeitos e objectos da pesquisa. São, pois, tidos em conta os interesses dos sujeitos da investigação e, como tal, qualquer tipo de engano para com aqueles teria, inevitavelmente, como consequência o colocar em causa o próprio processo de investigação.

Toda e qualquer investigação que envolva pessoas baseia a sua actuação em critérios éticos. As questões éticas podem e devem ter um tratamento constante em qualquer momento do processo de investigação: início (concepção), meio (trabalho de campo, de análise, de pesquisa, entre outros) e fim (publicação de resultados). Aliás, não raramente a ética é vista como sendo um problema que frequentemente necessita de ser resolvido situacional e espontaneamente. Entre muitos outros critérios (de pragmática, de correcção, etc.), os de ordem ética encontram-se intimamente implícitos na relação estabelecida entre investigador e sujeitos, para além de serem considerados aspectos como sejam: a confidencialidade da informação, o consentimento informado e o anonimato dos intervenientes, entre outros; valoriza-se também o estabelecimento de um pacto de confiança, onde impera o respeito e a honestidade.

Acresce-se que as questões éticas adquirem mais acuidade quando a investigação envolve crianças. No caso concreto, a investigação envolve directamente todas as educadoras de uma instituição e, consequentemente, de modo indirecto as crianças dos seus respectivos grupos. Ao fazer investigação com crianças, o adulto deve demonstrar-lhes respeito, isto é, ser ético no relacionamento com elas; tendo em mente que aquelas são detentoras de um saber – elas sabem mais acerca do seu mundo do que o adulto (educadora de infância e/ou investigador).

Résumé

La communication à présenter a pour objectif celui d’exposer les critères éthiques qui sont pris en considération dans le processus de recherche-action collaborative, qui est encore en cours, dans le cadre du doctorat en formation de professeurs. Nous savons que la recherche-action a été une (des trois principales) force qui a atteint la dimension éthique de la recherche, comme nous la connaissons actuellement. La recherche-action collaborative est une méthode de recherche et, simultanément, une stratégie de formation, qui implique l’orientation et la concrétisation de processus de recherche-formation collaborative, où éducateurs et formateur sont aussi bien des chercheurs que des sujets et des objets de la recherche elle-même. Ainsi, les intérêts des sujets de la recherche sont tenus en compte et donc tout type d’erreur envers eux-mêmes aurait, inévitablement, la conséquence de mettre en cause le processus de recherche en soi.

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397 Toute recherche, qui a pour objet d’étude les personnes, fonde son action sur des critères éthiques. Les questions éthiques peuvent et doivent avoir un traitement constant à tout moment du processus de recherche : début (conception), milieu (travail de terrain, d’analyse, de recherche, entre autres) et fin (publication des résultats). En outre, il n’est pas rare que l’éthique soit vue comme étant un problème qui fréquemment a besoin d’être résolu en situation et spontanément. Parmi beaucoup d’autres critères (de pragmatique, de correction, etc.), ceux d’ordre éthique se trouvent intimement implicites dans la relation établie entre chercheur et sujets, tout comme sont considérés des aspects comme : la confidentialité de l’information, le consentement informé et l’anonymat des intervenants, entre autres ; l’établissement d’un pacte de confiance, où le respect et l’honnêteté règnent, est également valorisé.

Nous pouvons ajouter que les questions éthiques acquièrent plus de acuité quand la recherche étudie des enfants. Dans ce cas précis, la recherche incorpore directement toutes les éducatrices d’une institution et, par conséquence, de façon indirecte tous les enfants des groupes respectifs. En faisant de la recherche avec des enfants, l’adulte doit leur montrer son respect, c’est-à-dire, doit être éthique dans sa relation avec eux ; en étant conscient que ces derniers sont détenteurs d’un savoir – ils connaissent mieux leur monde que l’adulte (éducatrice et/ou chercheur).

Introdução

A questão ética foi desde sempre objecto de estudo de filósofos e outros investigadores, tendo consciência da sua relevância nas relações humanas. Com efeito, um trabalho de investigação deve reflectir sobre aspectos de ordem deontológica, que subsistem devido ao facto da investigação envolver pessoas, cujos direitos devem ser preservados e respeitados, obedecendo, por isso, a determinados princípios éticos. Tal como afirma Moreira (1994), “… as questões éticas são um lugar comum: a grande maioria dos investigadores depara-se em maior ou menor grau com tais questões ao longo das respectivas pesquisas” (Pp. 65 e 66). Aliás, não raramente a ética é vista como sendo um problema que frequentemente necessita de ser resolvido situacional e espontaneamente. Entre muitos outros critérios, os de ordem ética encontram-se intimamente implícitos na relação estabelecida entre investigador e sujeitos, para além de serem considerados aspectos como sejam: a confidencialidade da informação, o consentimento informado e o anonimato dos intervenientes, entre outros; valoriza-se também o estabelecimento de um pacto de confiança, onde impera a honestidade e o respeito. Mesmo porque, é usual dizer-se que agir eticamente é agir da forma como agimos com as pessoas que respeitamos.

De seguida, é apresentada uma descrição sucinta relativa às questões éticas tidas como substracto de um estudo de investigação-acção em colaboração com educadoras de infância de uma instituição educativa, que se encontra em fase de desenvolvimento.

1. Objectivos e Metodologia

Este estudo enquadra-se numa metodologia de investigação qualitativa interpretativa, sendo o método de investigação o estudo de caso e a estratégia metodológica a investigação-acção colaborativa, a qual assenta numa “… dinâmica de exposição do pensamento, discussão de dados e ideias, procura do consenso e superação de conflitos… incentivando maior envolvimento na apropriação de novo conhecimento, na resolução de problemas e na construção de estratégias…” (Roldão, 2007) que possam

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398 ser utilizadas ao nível das decisões práticas de determinados aspectos da vida das pessoas e o investigador tem uma participação activa na causa da investigação. De entre os vários objectivos que este estudo apresenta, destaca-se a promoção de uma investigação participativa, tendo por base uma reflexão crítica sobre os modos de actuação das educadoras em situação de conflito entre pares. Existe uma variedade de métodos e técnicas de investigação que estão a ser utilizados para a orientação da investigação-acção colaborativa – ao longo de todo o percurso – de entre os quais refere-se a observação participante, análise documental, entrevista e análise de conteúdo.

A investigação está a ter lugar numa escola localizada na área da grande Lisboa, que alberga duas valências: creche e jardim-de-infância. Todas as educadoras da instituição envolveram-se na participação de um grupo de formação/reflexão sobre a temática da gestão/mediação de conflitos entre crianças.

Inicialmente o grupo reuniu-se para formação, na modalidade de círculo de estudos e posteriormente passou a reunir-se de um modo mais informal, com uma frequência quinzenal, embora em dois sub-grupos – o das educadoras da creche e o das educadoras do jardim-de-infância; havendo, pelo menos uma vez por mês, uma sessão conjunta na qual se reúnem todas as educadoras (das duas valências).

2. A ética no percurso da investigação-acção colaborativa

Como em todo o trabalho empírico, esta investigação iniciou com a indispensável negociação relativamente ao “acesso ao terreno”. Foi contactada a Direcção da Instituição, à qual foi apresentado o propósito da investigação. Após consentimento desta, combinou-se uma reunião com o grupo de educadoras de forma a sensibilizar para a temática em questão: gestão/mediação de conflitos na infância. O grupo de educadoras manifestou interesse, chegando mesmo a afirmar que, efectivamente, sentiam que se tratava de um tema bastante pertinente e necessário nos dias que correm. Surgiu, então, a proposta de um trabalho colaborativo e a hipótese de ser levado a cabo um círculo de estudos. Ao entrar no campo, a postura assumida enquanto investigadora, desde o início, foi a de uma pessoa humilde que procura merecer o respeito dos sujeitos e que procura ter uma atitude de respeito para com cada um daqueles com quem é levada a cabo a investigação.

Visto tratar-se de um projecto de investigação-acção, o percurso teve início com um brainstorming de perguntas de partidas relacionadas com as necessidades sentidas por cada educadora no seu grupo de crianças. Este momento possibilitou a identificação de aspectos comuns que as educadoras gostariam de aprofundar em termos de investigação. Este é, aliás, um dos pontos que Tripp (2005) menciona como sendo uma das metas de um projecto de investigação-acção: “… trate tópicos de interesse mútuo” (P. 455).

Embora este trabalho tenha por suporte o grupo de educadoras, é realizado com o empenho individual de cada uma daquelas que realizam a investigação da sua própria actuação em situação de conflito entre crianças, através de um processo de ciclos contínuos de: reflexão, planeamento, acção, observação e assim sucessivamente, em espiral. Fomenta-se, pois, a troca de informação partilhada entre todas as participantes, necessária para a revisão e (re)definição da actuação pedagógica. São partilhadas dúvidas, estratégias, observações, reflexões e suscitadas discussões em torno de assuntos relevantes para e na prática de cada uma das educadoras, sendo dada prioridade aos casos que apresentam maior premência.

Acresce-se, ainda, que se trata de um processo flexível e não há uma sequência linear entre as diferentes fases de cada ciclo, isto porque, muitas vezes podem estar a ocorrer em simultâneo vários momentos de um ciclo.

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399 Apresentam-se de seguida alguns dos pressupostos e atitudes adoptadas ao longo do trabalho de investigação, que se encontra ainda em curso.

Dar a conhecer as finalidades

A entrada no campo empírico passou por um processo de negociação de acesso ao terreno com a direcção da Instituição e com o grupo de educadoras. Foi dado a conhecer o projecto inicial do estudo: objectivos, metodologia e garantias. De referir que num projecto desta natureza, apenas é possível ter um horizonte meramente projectado, isto porque, todo o processo começa por ser delineado e vai sendo (re)organizado em conjunto por todo o grupo de trabalho.

Participação Voluntária

A própria participação apresenta também algumas implicações éticas e, por este motivo, torna-se necessário analisar a participação não só na etapa de proposta, mas também durante toda a sua duração. Sempre que é feito um ponto da situação mais global relativamente ao processo de investigação/formação em curso, é reforçada a vontade de prosseguir com o trabalho de investigação. As educadoras são participantes que constroem, analisam e reflectem a própria realidade que se estuda.

Garantir a confidencialidade dos dados

Outra das ramificações éticas a ter em conta diz respeito à necessária garantia de confidencialidade dos dados, uma vez que se encontram envolvidas pessoas e os resultados do estudo poderão afectar as suas vidas e, como tal, a investigação encontra-se a ser conduzida de forma a que as participantes não sejam prejudicadas em termos pessoais e/ou profissionais mediante a divulgação de quaisquer dados comprometedores.

Assegurar o direito à privacidade (anonimato)

O anonimato e a negociação sobre o carácter público ou privado da informação são, de acordo com Marcelo et al. (1991), as estratégias mais utilizadas para assegurar a veracidade do caso em estudo, sem perder em rigor analítico. No caso concreto que se apresenta, as participantes escolheram nomes fictícios que serão utilizados na redacção do estudo. Às crianças, são atribuídas letras aquando dos registos das observações.

3. Questões éticas na investigação com crianças

Quando a investigação envolve crianças, há uma maior acuidade no que concerne às questões éticas. O primeiro passo a ser cumprido foi obter total consentimento por parte dos responsáveis da instituição e informar os pais relativamente ao estudo em curso. E também as educadoras explicaram às crianças que iriam, em conjunto com outra educadora (eu – que vão conhecendo de passagem pelos diversos espaços da instituição), estudar os conflitos que ocorriam no grupo e tentar aprender mais para melhor poderem ajudá-las a ultrapassar os problemas do dia-a- -dia com os pares. Este procedimento vai de encontro àquilo que Fine e Sandstrom (1998) afirmam:

“… o nosso sentimento é de que deve dizer-se o máximo possível às crianças, mesmo que algumas delas possam não compreender toda a explicação. A sua idade não deve diminuir os seus direitos, ainda que o seu nível de compreensão tenha de ser tido em consideração nas explicações que são partilhadas com elas” (P. 28).

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400 Dado que o enfoque do estudo é a actuação das educadoras em situação de conflito entre crianças, os comportamentos destas últimas têm de ser descritos mediante observações realizadas pelas educadoras, as quais intervêm de acordo com a interpretação que fazem da ocorrência. Contudo,

“não podemos viver as vidas de outras pessoas, e fazê-lo é um pouco mostrar má-fé. Podemos apenas escutar o que… elas dizem sobre as suas vidas. Qualquer significado que tiremos de como é a vida interior de outra pessoa resulta das suas expressões, e não de qualquer tipo de intrusão mágica da nossa parte na sua consciência. Tudo se passa à flor do entendimento” (Geertz, 1986, citado por Graue e Walsh, 2003, p. 77).

Ainda que as investigadoras sejam as próprias educadoras, acabam por ser umas desconhecidas no mundo das crianças. Conscientes desta realidade, acredita-se que

“o objectivo mais óbvio da investigação qualitativa com crianças será talvez conseguir conhecê-las e ver melhor o mundo pelos seus olhos. A um nível mais profundo, este estilo de investigação parte, cumulativamente, do princípio de que os menores têm um bom conhecimento dos seus mundos, que estes mundos são especiais e dignos de nota, e que nós, como adultos, podemos beneficiar ao olhar o mundo através dos seus corações e das suas mentes” (Fine e Sandstrom, 1998, p. 12).

4. Considerações Finais

Toda e qualquer investigação que envolva pessoas baseia a sua actuação em critérios éticos. E, numa investigação que tenha como estratégia metodológica a investigação-acção, é mais susceptível ao facto de que qualquer tipo de engano para com as participantes tenha, inevitavelmente, como consequência o colocar em causa o próprio processo de investigação. As probabilidades disso vir a acontecer são diminutas, visto que desde início se procurou estabelecer uma relação (entre investigadora e participantes) assente no respeito mútuo, que envolve a consideração, a lealdade e a honestidade. Ao longo do trabalho (em curso) parecem estar a ser cumpridos todos os procedimentos éticos inerentes à realização do estudo: a participação voluntária, o direito à privacidade, o anonimato, a confidencialidade, entre outros. Tudo isto, de modo a ser possível vislumbrar um pouco mais acerca do mundo das crianças, para que adultos/educadores possam ajudá-las, de forma cada vez mais adequada, a crescer, superando os seus conflitos de forma positiva, dotando-as de competências que lhes permitam aprender a viver juntos (Delors et al., 1998), como cidadãos justos e responsáveis, numa perspectiva de educação para a Paz.

Bibliografia

Delors et al. (1998). Educação: Um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da comissão internacional sobre educação para o século XXI. Rio Tinto: Edições ASA;

Fine, G.A. & Sandstrom, K.L. (1988). Knowing Children Participant Observation with Minors. London: SAGE Publications;

Graue, M.E. & Walsh, D.J. (2003). Investigação Etnográfica com crianças: Teorias, Métodos e Ética. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Pp. 75-114;

Marcelo, C. et al. (1991). El studio de caso en la formación del professorado y la investigación didáctica. Sevilha: Secretariado de Publicaciones de la Universidad de Sevilla;

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401 Moreira, C. D. (1994). Planeamento e estratégias da investigação social. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas;

Roldão, M. C. (2007). “Colaborar é preciso – questões de qualidade e eficácia no trabalho dos professores”. Noesis, Nº71, Out./Dez.;

Tripp, D. (2005). “Pesquisa-acção: uma introdução metodológica”. Educação e Pesquisa. V. 31, n 3, pp. 443-466, Set./Dez. São Paulo.

Referências

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