O governo Dilma Rousseff: política
econômica e pesrpectivas
Fernando Ferrari Filho
Professor Titular da UFRGS e Pesquisador do
CNPq
ferrari@ufrgs.br
e
http://www.ppge.ufrgs.br/ferrari
FCE/Decon
Cenário Externo
Crises fiscal e financeira na zona do euro (PIIGS) e restrições do Pacto
de Estabilidade e Crescimento;
Recuperação lenta da economia norte-americana;
Desaquecimento da economia chinesa;
Performance recente da economia brasileira
• PIB: 7,5% (2010) e 2,7% (2011);
• Inflação: 5,1% (2010) e 6,5% (2011);
• Selic, final de período: 10,75% (2010) e 11,0% (2011);
• Câmbio (R$/US$), final de período: 1,75 (2010) e 1,87 (2011);
• Balança comercial, US$ bilhões: 15,0 (2010) e 29,8 (2011);
• BP transações correntes, US$ bilhões: - 50,0 (2010) e - 52,6 (2011);
• Resultado fiscal/PIB: 2,6% (2010) e 3,1% (2011).
• Inflação acumulada
(i) últimos 12 meses: 5,1%
(ii) no ano (janeiro/abril): 1,87% (3,2% em 2011)
• Saldo comercial acumulado até abril
(i) últimos 12 meses = US$ 29,1 bilhões
(ii) no ano (janeiro/abril)= US$ 3,3 bilhões (US$ 5,0 bilhões em
2011)
• Variação cambial
(i) últimos 12 meses: 21,2%
(ii) no ano (janeiro/abril): 6,2% (- 6,3% em 2011)
• Selic, final de período: 9,0% (abril) x 12,0% (em 2011)
• Desemprego médio 1º trimestre: 5,8% (6,3% em 2011)
• PIB trimestral: 0,15% (0,6% em 2011)
Medidas econômicas do Governo, 2011 e 2012
Início de 2011
• Ajuste fiscal: redução de R$ 50,0 bilhões nas despesas primárias (fevereiro); • Aumento do IOF para cartões de crédito no exterior (março);
• Elevação do IOF sobre crédito ao consumo: 1,5% para 3,0% (abril); • Aumenta da exigência do recolhimento compulsório (junho);
• Elevação do superávit primário em R$ 10,0 bilhões (agosto);
Segundo semestre/2011
• Plano Brasil Maior (2011 – 2014): política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior (agosto);
• Redução do IOF sobre crédito ao consumidor: 3,0% para 2,5% (dezembro);
• Elevação em 30 pontos percentuais do IPI para veículos com menos de 65,0% de conteúdo nacional;
• Redução de tributos para produtos da linha branca e da construção civil, desoneração PIS/Confins, redução do IOF para pessoa física, eliminação do tributo para aplicações de estrangeiros nas debêntures de infraestrutura e redução do IOF sobre aplicações de estrangeiros em renda variável na Bolsa de Valores (dezembro).
2012
• Redução da Selic: 10,5% para 9,0%;
• Programa Reintegra: desoneração de resíduos de tributos indiretos (Cide, IOF, PIS, Cofins etc.) sobre os produtos industrializados brasileiros exportados (janeiro);
• Ampliação de três para cinco anos o prazo mínimo para cobrança de alíquota de 6,0% do IOF sobre empréstimos realizados no exterior por firmas e instituições financeiras (março);
• Pacote de benefícios para a indústria: diminuição do PIS e Cofins, maior taxação para importados com equivalente nacional, desoneração de 20,0% da contribuição patronal sobre a folha de pagamentos de empresas de onze setores industriais, redução de IPI sobre bens de consumo etc. (abril);
• Alteração nas regras da poupança (abril);
• Negociação junto aos bancos públicos e redução dos spreads (abril); • Programa Brasil Carinhoso, complementar ao Bolsa Família (maio).
Principais problemas econômicos e o que
fazer?
• Problemas? Desequilíbrio no balanço de pagamentos em
transações
correntes,
desindustrialização
da
economia
e
“descontrole” da inflação.
• O que fazer? (i) Política cambial: intervenções cambiais,
acumulação de reservas, controles de capitais etc.; (ii) Política
fiscal: austeridade vis-à-vis responsabilidade fiscal; (iii) Política
monetária: redução da taxa Selic, “restrição” (expansão
qualitativa) de crédito, desindexação da economia (eliminação da
LFTs) etc.; e (iv) Política industrial.
Obs.: (i) Equação de inflação? Pt = a + b.Pt-1 + c(Yt – Y*t), Pt e Pt-1 são inflações corrente e pretérita, a = choque de oferta, b = fator inércia, (Yt – Y*t) = hiato do produto e c = sensibilidade relação inflação-hiato do produto. Suposições? B = 0,8 e c = 1, caso Yt – Y*t ≠ 0; e (ii) Desde o regime de metas para a inflação, os preços livres cresceram cerca de 30,0%, enquanto os preços administrados cresceram ao redor de 70,0%.
Variáveis que condicionam a performance da
economia brasileira
• Variáveis exógenas: (i) PIBs dos EUA, dos países da zona do euro,
do Japão e da China, (ii) comportamento das taxas de juros e das
políticas fiscais internacionais, (iii) solução (ou não) da crise do euro
e credibilidade (ou não) dos EUA em manterem ajuste fiscal
compatível à alavancagem da dívida pública, (iv) dinâmica do SFI e
(v) preços das commodities;
• Variáveis endógenas: (i) Metas para a inflação, metas de superávit
fiscal e taxa de câmbio, (ii) resultado externo, (iii) relação
investimento/PIB, (iv) evolução do crédito e inadimplência, (v)
expansão do mercado interno, (vi) condições de oferta e
infraestrutura e (vii) marcos regulatórios.
Cenários
• Cenário “provável”: (i) PIB mundial relativamente estagnado e
instabilidades no SFI, (ii) estabilização (up) dos preços das
commodities, (iii) Banco Central Europeu e Fundo de Estabilização
Europeu administrando a crise na zona do euro (saída à la
monetização da dívida soberana e ajuste fiscal) e ajuste fiscal dos
EUA em conformidade com o acordo da alavancagm da dívida
pública e (iv) ligeira flexibilidade da política fiscal sem, contudo,
desvio da meta fiscal, política monetária flexível e desvalorização e
estabilização cambial;
• Cenário pessimista: (i) Recessão mundial e turbulências no SFI,
(ii) volatilidade dos preços das commodities, (iii) ruptura ou ajuste
fiscal drástico de alguns países do euro e dificuldades de ajuste
fiscal e de rolagem da dívida pública norte-americana e (iv)
Política fiscal contracionista, política monetária e creditícia flexível
e desvalorização e volatilidade cambial.
Cenários
Variáveis Cenário “Provável” Cenário Pessimista
PIB (%) [2,5; 3,0] [1,5; 2,5)
IPCA (%) [5,0; 5,5] [6,0; 6,5]
Superávit Fiscal/PIB (%) 3,0 4,0
Balança Comercial (US$ bilhões)
[20,0; 25,0] [10,0; 15,0]
Selic, final de período (%) 8,5* 8,0**
Taxa de Câmbio, final de período (R$/US$)
1,9 2,1
Notas: (*) Juros reais ao redor de 2,8% ao ano; e (**) Juros reais ao redor de 1,5% ao ano.
Estratégia econômica para o Brasil?
• Modelo? Consenso de Brasília (export-led growth e domestic-led growth); • Política monetária: regras x discricionariedade? Discricionariedade! Se,
todavia, prevalecer a ideia de regras, então: flexibilidade do target da meta para a inflação, “democratização” do Conselho Monetário Nacional, adequação das metas para a inflação à meta de crescimento, ampliação do intervalo de tempo para a convergência para o target etc.;
• Política fiscal contracíclica: períodos de crise, expansão fiscal x períodos de prosperidade, austeridade fiscal. Orçamentos corrente e de capital (à la Keynes);
• Reforma financeira: operações de swaps de títulos pós-fixados por títulos pré-fixados, eliminação das LFTs, mudanças nas regras da poupança (maturação e rentabilidade maiores, visando funding para longo prazo), dinamização dos mercado de capitais e de títulos de dívida privada e fortalecimento dos bancos públicos;
• Reforma tributária: ID x II, impostos sobre capital e riqueza etc. Enfim, reforma tributária progressista;
• Política industrial, visando aumentar a competitividade das empresas;
• Maior inserção externa: diversificação da pauta de exportação e dos parceiros comerciais;
• Política cambial: taxa real efetiva de câmbio de equilíbrio para evitar volatilidade e apreciação da taxa nominal de câmbio = f(câmbio administrado a partir de um Fundo de Estabilização Cambial e controle de capitais – IOF, mercado, vis-à-vis reservas compulsórias, institucional; abrangentes x portfolio; e ex ante ou ex post);
• No âmbito institucional, Estado não somente para corrigir as falhas de mercado, mas, também, para atuar onde o mercado não consegue sinalizar informações para os agentes econômicos;
• Em suma, mudanças estrutural-institucionais e maior coordenação entre as políticas fiscal, monetária e cambial.