O limiar do eterno: tempo intemporal
Tempo, história e sociedade
O tempo nas sociedades medievais era uma ideia solta, com alguns
eventos importantes(comemorações religiosas, feiras, chegada das
estações) no papel de marcadores temporais, enquanto a maior parte da vida diária passava desligada da noção exata de tempo.
A Rússia tinha o objetivo de
organizar a vida em torno do tempo. A primeira tentativa de ajuste originou-se com Pedro, o
Grande, as reformas de Pedro, em termos mais amplos introduziram a distinção entre do dever religioso e o tempo secular a ser dedicado ao Estado. Medindo e tributando o
tempo das pessoas, bem como
dando o seu exemplo pessoal com o intenso cronograma de trabalho
No primeiro estágio da União
Soviética;
Taylorismo – organização científica do trabalho, com base na medição do tempo de trabalho para o menor
movimento da linha de montagem. Enquanto no fordismo a aceleração do
trabalho estava associada a dinheiro com aumento de pagamento.
No stalinismo não só o dinheiro era um mal segundo a tradição russa, mas o tempo deveria ser acelerado por motivação ideológica.
Portanto, “stakhanovismo”
significava trabalhar mais por
unidade de tempo como um serviço para o país.
Em 1990, a queda do comunismo
deslocou os russos, em especial as novas classes profissionais, do
horizonte de longo prazo do tempo histórico para o curto prazo de
tempo monetizado característico do capitalismo, dessa forma pondo um fim à separação estatista secular
As sociedades contemporâneas
ainda estão em grande parte
dominadas pelo conceito de tempo cronológico, a modernidade pode ser concebida como o domínio do
tempo cronológico sobre o espaço e a sociedade.
Na verdade desenvolvendo sua lógica mediante a inclusão da distribuição da vida no contrato social com base no tempo cronológico. A libertação do capital em relação ao tempo e a fuga da cultura ao relógio são
novas tecnologias da informação e embutidas na estrutura da
sociedade em rede.
O tempo intemporal é apenas a forma dominante emergente do tempo
social na sociedade em rede porque o espaço de fluxos não anula a
Tempo como fonte de valor: o cassino
global
Surgiu um mercado de capitais
global unificado, funcionando em
tempo real. A explicação do volume fenomenal de fluxos financeiros
transnacionais, está na velocidade das transações. O tempo é crucial para a geração de lucros em todo o sistema.
É a velocidade das transações, às
vezes com programação
computacional automática para tomadas de decisão quase
instantâneas, que gera o ganho ou a perda. De forma que é apropriado dizer que o tempo gera dinheiro.
A flexibilidade da jornada de trabalho e
a empresa em redes
Formas flexíveis de gerenciamento,
utilização contínua de capital fixo, desempenho intensificado de
trabalhadores, alianças estratégicas e conexões interorganizacionais,
tudo isso promove a compressão do tempo de cada operação e a
aceleração da movimentação de recursos.
Como o potencial de realização de valor do trabalho e das
organizações é muito dependente da autonomia de profissionais
esclarecidos, há necessidade de mão-de-obra qualificada para
gerenciar seu tempo de maneira flexível, adaptando-se a
cronogramas flexíveis.
O sistema de gerenciamento flexível da produção em rede depende da temporalidade flexível, da
capacidade de acelerar ou
desacelerar o produto e os ciclos de lucros.
O encolhimento e a alteração do tempo
de serviço
O número de horas de trabalho e sua distribuição no ciclo vital e nos
ciclos anuais, mensais e semanais da vida das pessoas constituem
uma característica central, de como elas se sentem, se divertem e
Sua evolução diferencial em vários
países e períodos históricos reflete a organização econômica, o estado da tecnologia, a intensidade das lutas sociais e os resultados de contratos sociais e reformas institucionais.
Também o desafio real da nova
relação entre trabalho e tecnologia não diz respeito ao desemprego em massa, mas à diminuição geral do tempo de serviço para uma
Negação da morte
O tempo na sociedade e na vida é medido
pela morte. A morte foi o tema central
das dificuldades ao longo da história, seja reverenciada como a vontade de Deus,
seja afrontada como o último desafio humano. Tem sido exorcizada nos ritos para acalmar os vivos, aceita com a
resignação dos serenos, combatida com o desespero dos românticos, mas nunca
É uma característica distintiva de
nossa nova cultura, a tentativa de banir a morte de nossa vida.
A matriz dessa tentativa vem da
crença racionalista no progresso
todo poderoso, são as descobertas extraordinárias da tecnologia médica e da pesquisa biológica nas ultimas
duas décadas que fornecem base material para a mais antiga
aspiração da humanidade: viver como se a morte não existisse,
apesar de ser a nossa única certeza.
Quando realmente ocorre, a morte
é apenas mais uma mudança
temporária na tela de espectadores distraídos.
Guerras instantâneas
A morte, a guerra e o tempo são sócios
históricos seculares, e uma das
características mais surpreendentes do paradigma tecnológico emergente é que essa associação seja alterada, pelo menos para a guerra das potencias dominantes. O advento da tecnologia nuclear teve
efeito de cancelar conflitos armados de
grande escala entre as maiores potências, afastando uma condição que marcou a
primeira metade do século XX como o
Interesses geopolíticos e
confrontos sociais continuam a fortalecer a hostilidade
internacional, interétnica e
ideológica ao limite de objetivar-se a destruição física: as raízes da guerra estão na natureza
humana, segundo a experiência histórica.
Tempo virtual
A cultura da virtualidade real associada a um
sistema multimídia eletronicamente integrado contribui para a transformação do tempo em
nossa sociedade de duas formas: simultaneidade e intemporalidade.
A informação instantânea em todo o globo,
mesclada a reportagens ao vivo de lugares
vizinhos, oferece instantaneidade temporal em precedentes aos acontecimentos sociais e
expressões culturais. A comunicação por
computadores possibilita o dialogo em tempo real, por escrito.
Tempo, espaço e sociedade: o limiar
do eterno
Então, afinal o que é tempo, este conceito de compreensão difícil que confundiu Santo
Agostinho, desorientou Newton, inspirou Einstein? E como o tempo esta sendo transformado em
nossa sociedade?
O autor faz um apelo a Leibniz, para quem tempo é a ordem de sucessão das “coisas”, de forma que
sem as “coisas” não existiria o tempo.
O conhecimento atual sobre o conceito de tempo em física, biologia, história sociologia não parece ser contestado por essa conceitualização sintética e clara.
Podemos entender melhor a transformação atual da temporalidade recorrendo ao conceito leibniziano de tempo
O autor propõem a idéia de que o tempo
intemporal, como ele chama a
temporalidade dominante de nossa sociedade, ocorre quando as
características de um dado contexto, o
paradigma informacional e a sociedade em rede, causam confusão sistêmica na
ordem seqüencial dos fenômenos sucedidos naquele contexto. Essa confusão pode tomar a forma de
compressão da ocorrência dos fenômenos, visando à instantaneidade, ou então de
introdução de descontinuidade aleatória na sequencia. A eliminação da sequencia cria tempo não-diferenciado, o que