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O PAPEL DA ESCOLA NA SOCIEDADE: ALGUMAS CONCEPÇÕES DE WEBER E BOURDIEU. Resumo

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Academic year: 2021

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O PAPEL DA ESCOLA NA SOCIEDADE: ALGUMAS CONCEPÇÕES DE WEBER E BOURDIEU

Suellen Celina Vitcov Ribeiro – IE/UFMT – shuribeiro@hotmail.com Juliana Assis da Cruz – IE/UFMT- juliassis2010@yahoo.com.br

Resumo

Este estudo apresenta alguns apontamentos introdutórios de uma pesquisa que está em andamento sobre o papel da escola na sociedade seguindo algumas concepções sociológicas que foram teorizadas nos estudos de um autor clássico, Max Weber (1864-1920) e numa abordagem mais contemporânea, de Pierre Bourdieu (1930-2002). O objetivo desse trabalho é fazer uma releitura das idéias desses estudiosos sobre a principal função da Escola na sociedade. Espera-se que esta pesquisa contribua para que os professores ou futuros educadores reflitam sua formação e/ou prática, buscando compreender qual o papel da instituição escolar e o que esta representa para a sociedade.

Palavras-chave: Escola; Formação de Educador; Sociologia.

Introdução

A escola, como toda instituição social, sempre foi objeto de inúmeras pesquisas. Desde sua origem até os dias atuais busca-se conhecer a importância de tal instituição para a sociedade, uma vez que esta influencia e interfere na formação dos indivíduos que nela permanecem (concluem sua escolarização) ou que por ela passam (desistem). No mundo contemporâneo, é indispensável e quase obrigatória alguma escolarização para a inserção no mercado de trabalho. Neste mercado apenas sobrevivem aqueles que conseguem se adaptar bem às suas regras.

Sendo a Escola o foco deste estudo, objetiva-se encontrar respostas sobre a função desta instituição na obra de alguns nomes importantes da Sociologia da Educação, como Max Weber (1864-1920) e Pierre Bourdieu (1930-2002). Estes dois sociólogos fazem interpretações da importância e/ou contribuição da escola em nossa sociedade. Ambos trazem inesgotáveis contribuições que se manifestam até os dias atuais, apesar de terem produzido suas obras em diferentes contexto e período histórico

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vivido. Espera-se que esta investigação contribua para que os professores ou futuros educadores reflitam sua formação e/ou prática, buscando compreender qual o papel da instituição escolar e o que ela representa para a sociedade.

Max Weber e a Escola

Segundo as concepções weberianas sobre a Escola, a educação escolar seve para que alguns indivíduos sejam reconhecidos socialmente através de honras sociais positivas ou negativas. Para Weber, a situação estamental é a probabilidade de certos grupos sociais serem reconhecidos positivamente ou negativamente: “as possibilidades de alcançar honras sociais são determinadas primordialmente pelas diferenças nos estilos de vida desses grupos e, portanto, principalmente pelas diferenças na educação” (WEBER, 2002, p. 210):

Segundo o autor, a sociedade é divida por estamentos, ou seja, não somente pela situação econômica (capital). Os indivíduos se relacionam de acordo com seus interesses comuns, almejando uma determinada posição social. A educação, nesta concepção, passa a ser um bem e/ou diferencial importante, uma vez que não são distribuídos igualitariamente a todos os indivíduos da sociedade. Segundo a pesquisadora Rita Amélia Vilela (2001, p. 90):

através dos sistemas escolares (e das práticas sociais no interior destes sistemas) se desenvolve um processo peculiar de imposição dos caracteres dos grupos sociais e do poder estabelecido. Na obra de Weber é possível demonstrar como, através dos processos de inculcação e legitimação de determinados tipos de conduta e de certos bens culturais, se estabelece o processo de manutenção e reprodução dos modelos reinantes na estrutura social.

Para Weber, a educação escolarizada é um dos componentes da ação1. A educação escolarizada é também um meio pelo qual o individuo pode ascender socialmente, uma vez que a educação poderia ser considerada uma forma de “poder”, onde aqueles que a possuem são prestigiados e desfrutam de um tratamento diferenciado. Nessa concepção, a escola seria como um dos fatores de estratificação social, um meio de destingir e privilegiar alguns indivíduos. De acordo com Weber: “o desenvolvimento do diploma universitário, das escolas de comércio e de engenharia, e o clamor universal pela criação dos certificados educacionais em todos os campos levam à

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É importante compreender que para Weber o objeto de estudo da Sociologia é a ação dos homens em sociedade: a ação social.

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formação de uma camada privilegiada nos escritórios e repartições” (WEBER, 2002, p. 168).

Para Weber, um dos fatores que afetou diretamente a educação e que está presente até hoje em nossa sociedade é a racionalização e a burocratização. Conforme o professor Alberto Tosi Rodrigues (2007, p. 65):

A racionalização e a burocratização alteraram radicalmente os modos de educar. E alteraram também o status, o reconhecimento e o acesso a bens materiais por parte dos indivíduos que se submetem à educação sistemática Educar no sentido da racionalização passou a ser fundamental para o Estado, porque ele precisa de um direito racional e de uma burocracia montada nos moldes racionais.

Esse tipo de educação faz com que a escola “crie”, ou melhor, forme homens racionais, treinados para atender à lógica do capitalismo moderno, o que Weber denomina de “pedagogia do treinamento” ou educação especializada. A sociedade ao se racionalizar opta por uma escola onde se pratique a pedagogia do treinamento e esse tipo de educação não preza pela emancipação do desenvolvimento do talento humano, mas, ao contrário, pela preparação racionalizada para viver em sociedade, na qual o objetivo primordial relaciona-se à aquisição de poder e dinheiro.

Pierre Bourdieu e a Escola

Os estudos de Bourdieu provocaram uma verdadeira transformação na interpretação sociológica sobre a educação que predominava até os meados do século XX.

Tradicionalmente, os estudos sociológicos apontavam a escola como uma instituição neutra, “que difundiria um conhecimento racional e objetivo e que selecionaria seus alunos com base em critérios racionais” (NOGUEIRA, 2004, p.13). Inspirada pelo funcionalismo, esta interpretação atribuía à escola a salvação dos problemas vivenciados pela sociedade francesa, “supunha-se que, através da escola pública e gratuita, seria resolvido o problema do acesso à educação e, assim, garantiria, em principio, a igualdade de oportunidades entre todos os cidadãos” ( NOGUEIRA, 2004, p.12).

A teoria de Bourdieu sobre a educação nos oferece outra percepção da escola, nela o autor aponta que essa instituição serve de reprodução das desigualdades existentes na sociedade, na qual se “mantêm e legitimam os privilégios sociais (NOGUEIRA, 2004, p.13). Para o sociólogo francês, a origem social da família e os

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capitais que ela possui interfere diretamente no processo de ensino-aprendizagem do aluno na instituição escolar. Bourdieu define vários tipos de capitais: o capital econômico, o social e o cultural. O capital econômico refere-se aos os bens e serviços que ele dá acesso; o capital social às relações sociais influentes do individuo, como por exemplo, o prestígio social; e, por fim, o capital cultural é tudo aquilo que é subjetivo ao indivíduo, sendo transmitido pela família ou socialmente. Para Bourdieu, o capital cultural seria o fator principal para as desigualdades do sistema escolar.

Segundo os pesquisadores Maria Alice Nogueira e Cláudio Nogueira (2006, p. 60-61):

Em primeiro lugar, a posse de capital cultural favorecia o desempenho escolar na medida em que facilitaria a aprendizagem dos conteúdos e dos códigos (intelectuais, lingüísticos, disciplinares) que a escola vincula e sanciona(...) A educação escolar, no caso das crianças oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação familiar, enquanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante, ou mesmo, ameaçador. (...) A posse de capital cultural favorecia o êxito escolar, em segundo lugar, porque proporcionaria melhor desempenho nos processos formais e informais de avaliação.

Segundo essa concepção, as crianças que possuem maior capital cultural teriam mais chance de sucesso escolar, pelo fato de que aquilo que aprendem na escola seria uma extensão dos conhecimentos vivenciados em casa.Por exemplo: a fala. As crianças de famílias que apreciam a língua culta poderiam ter mais oportunidade de se destacar daquelas crianças oriundas de famílias que não detém essa “cultura do falar bem”. Além disso, segundo Bourdieu, a avaliação escolar ultrapassa a verificação de aprendizagem e consiste em um verdadeiro julgamento cultural, estético e moral dos alunos, exigindo dos alunos o reconhecimento de tudo que é da cultura legitima (elite). Bourdieu define esta forma de “avaliação” como expressão da violência simbólica, uma vez que legitima e exalta a cultura de apenas um grupo social como válida para todos. Ainda no que se trata de capital cultural legado pela família, este desempenha papel primordial na escolha e orientação dos estudos e principalmente no prosseguimento deste. A escolha do destino escolar dos indivíduos depende das estratégias objetivas que a família formula de acordo com a sua classe social, visto que, essa escolha se torna implícita ou explicita de acordo com os valores culturais/sociais herdados e/ou estabelecidos pelas famílias devido à sua posição social. São as condições objetivas que definem as atitudes dos pais e detêm as escolhas da carreira escolar.

(...) grupos sociais, com base nas experiências e nos exemplos de sucesso ou fracasso no sistema escolar vividos por seus membros, formulam uma estimativa de suas chances objetivas no universo escolar e passam a adequar, inconscientemente, seus investimentos a essas chances. Concretamente isso significa que os membros de cada

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grupo social tenderão a fazer projetos, mais ou menos ambiciosos e a investir uma parcela maior ou menor dos seus esforços - medidos em termos de tempo, energia e recursos financeiros – na carreira escolar dos seus filhos conforme percebam serem maiores ou menores as probabilidades de êxito.(NOGUEIRA, 2004, P. 64).

Segundo Bourdieu, as classes sociais existentes na sociedade formulam estratégias no que se refere ao êxito ou fracasso escolar de seus filhos. Conforme o autor, os grupos sociais adotam estratégias de investimento escolar. Os indivíduos das classes populares tenderiam um investimento menor no campo educacional, já que o seu retorno seria baixo, incerto e a um longo prazo e essa camada disponde de pouco capital econômico e social para um maior investimento, preferem as carreiras escolares de curta duração para sua inserção no mercado de trabalho (NOGUEIRA, 2004, p.72) . No que se refere às classes médias, nota-se uma intensificação no investimento da escolarização dos filhos, porque se percebe uma chance de ascensão social através da carreira escolar, essa classe possui uma boa quantidade de capitais, o que faz com que tenham condições de um maior investimento na escolarização dos filhos, buscando se distanciar cada vez mais das classes populares e uma certa aproximação com a elite (NOGUEIRA, 2004, p. 76). E, por fim, a elite, por possuírem um elevado volume de capitais, seja ele cultural, social e econômico o investimento na carreira escolar apenas legitimaria o êxito de seus filhos, uma vez que o sucesso escolar seria visto como algo natural devido suas condições objetivas desse grupo (NOGUEIRA, 2004, p.82).

Para Bourdieu, a escola adota uma postura conservadora na medida em que ela reproduz e legitima as desigualdades sociais existentes. Mesmo alargando o acesso das classes sociais menos favorecidas à escola, certas estruturas adotadas pela instituição escolar reforçariam esta desigualdade, uma vez que, “tratando, formalmente, de modo igual, em direitos e deveres, quem é diferente, a escola privilegiaria, dissimuladamente, quem por sua bagagem familiar, já é privilegiado” (NOGUEIRA, 2004, p. 86).

Considerações Finais

Podemos perceber que os sociólogos Weber e Bourdieu, cada um em sua época e de acordo com suas convicções, proporcionaram inúmeras contribuições para a Sociologia da Educação.

Um esforço de síntese das interpretações destes dois autores pode apontar para as semelhanças entre o pensamento weberiano e bourdieusiano: ambos delineiam a escola ou a educação escolarizada com um diferencial para os indivíduos que podem

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desfrutar dela. Percebe-se também uma aproximação nestas interpretações ao defenderem a idéia de que é desigual o acesso à escola e que a escola, por sua vez, reproduz e legitima as estruturas de poder existentes na sociedade. Concordam também que a massificação dos certificados escolares leva à sua desvalorização.

Essa pesquisa está apenas se iniciando, no entanto, espera-se sinceramente que este estudo tenha contribuído para a discussão sobre o papel da instituição escolar para a sociedade e quais as suas funções. Pretende-se dar continuidade a estas reflexões no sentido de discutir sobre que tipo de escola queremos para a nossa sociedade e qual a postura que deve ser assumida pelos educadores frente aos seus dilemas.

Referências Bibliográficas

NOGUEIRA, Maria Alice; NOGUEIRA, Cláudio M. Martins. Bourdieu & a educação. 2.ed. Belo Horizonte, Autêntica, 2006.

RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. 6.ª ed. Rio de Janeiro, Ed. Lamparina, 2007.

VILELA, Rita Amélia. Max Weber (1864-1920): entender o homem e desvelar o sentido da ação social. In: TURA, Maria de Lourdes Rangel (org.). Sociologia para Educadores. Rio de Janeiro, Quartet, 2001. p. 63-96.

WEBER, Max. A Psicologia Social das Religiões Mundiais. In: Ensaios de Sociologia. 5.ª ed. Rio de Janeiro, LTC Editora S.A., 2002. p. 189-211.

WEBER, Max. Burocracia. In: Ensaios de Sociologia. 5.ª ed. Rio de Janeiro, LTC Editora S.A., 2002. p. 138-170.

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