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MEMÓRIAS DA PAISAGEM: DO JARDIM SUSPENSO DO VALONGO PARA O NOVO OLHAR DA PEQUENA ÁFRICA.

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MEMÓRIAS DA PAISAGEM: DO JARDIM SUSPENSO DO VALONGO PARA O NOVO OLHAR DA PEQUENA ÁFRICA.

Matheus Ribeiro Cunha Arquiteto e Urbanista, especialista em Gestão e Restauro Arquitetônico pela UERJ e Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROARQ na Universidade Federal do Rio de Janeiro– UFRJ Contato: matheus.cunha@fau.ufrj.br

RESUMO

Este artigo é resultado do trabalho final de conclusão do curso de especialização em Gestão e Restauro Arquitetônico pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e tem o objetivo de fomentar o debate do esvaziamento da memória negra das cidades. A pesquisa nasce da análise da construção do Jardim Suspenso do Valongo no período “bota abaixo” de Pereira Passos, através do entendimento do racismo estrutural e institucional que atravessam as dinâmicas urbanas e salvaguarda dos bens que se relacionam com a identidade africana e afro-brasileira. Além disso, o trabalho expõe como resultante uma intervenção que objetiva reverter essa narrativa, provocando novas percepções através da reflexão e da paisagem. Materializando esses conflitos, a proposta expõe o simbolismo do Jardim Suspenso implantado no território da Pequena África e se associa às movimentações sociais e políticas do período.

Palavras-chave: Memória; Paisagem; Patrimônio Cultural; Herança Africana

1. INTRODUÇÃO

Indagar e questionar a própria história é uma oportunidade que nos possibilita fazer uma análise mais profunda das significações que foram dadas a essência dos objetos, de sujeitos e ações ao longo do tempo. É a partir da perspectiva hegemônica e colonizadora, considerando a política de embranquecimento, que será possível ter um panorama da

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construção da identidade brasileira, possibilitando, a partir de um olhar decolonial, indagações sobre as verdadeiras marcas omissas.

No encontro dessa epistemologia decolonial, podemos ter novos desdobramentos e reflexões a partir do reconhecimento de uma história que não é lecionada dentro das estruturas basilares de ensino regular e acadêmico, revelando ações que refutam no comparativo o outro lado da história, mas qual história?

Grada Kilomba diz que o colonialismo é a política do medo, é a criação de corpos desviantes e dizer que nós temos que nos defender deles. E o processo de reversão desse pensamento, na busca de uma autonomia identitária, é o ato de reconhecer uma ancestralidade colonial para abrir a reflexão com um senso crítico de discernimento. Enxergar nosso passado para entender o presente e então avançar numa percepção que desconstrói uma estrutura ideológica que não nos pertence.

E o caminho de ruptura do pensamento hegemônico nos permite fazer uma análise mais crítica na estruturação das cidades, sobretudo nas políticas de salvaguarda dos patrimônios. Desta forma, o local do estudo de caso se insere nesse contexto de omissão de valores culturais.

Norteado por este pensamento, o objeto para esta reflexão é o Jardim Suspenso do Valongo e seu entorno denominado Pequena África, local de grande valor histórico-cultural. Localizado na região portuária do Rio de Janeiro, o lugar foi durante séculos palco de diversas transformações urbanas. Com isso, podemos considerar que a cada camada de “nova cidade” construída, um pouco mais de sua memória é apagada.

2. DISCUSSÃO TEÓRICA

A análise nasce do aproveitamento da ampla vista do Jardim Suspenso do Valongo para a Região Portuária, reconhecendo através da imagem uma narrativa pautada na reversão dos valores que são atribuídos hoje, a partir das transformações urbanas nos últimos 2 séculos que moldaram essa paisagem. A discussão vem tangenciando os conceitos de patrimônio imaterial na contribuição da construção de uma territorialidade, costurando a relação indivíduo - lugar, resultando, assim, na identidade de paisagem.

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Essa imaterialidade, segundo a carta da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural e Imaterial de 2003, é constituída a partir de práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares associados. Dentro dessa conceituação, a partir da análise dos acontecimentos históricos da Região Portuária do Rio de Janeiro no século XX, podemos traçar o caráter desse território moldado sob influência das manifestações culturais trazidas de África. Esse choque cultural resultou em outras formas de expressão, a fusão bem definida por Stuart Hall como Nova Identidade.

Um bom exemplo é o das novas identidades que emergiram nos anos 70, agrupadas ao redor do significante black, o qual, no contexto britânico, fornece um novo foco de identificação tanto para as comunidades afro-caribenhas quanto para as asiáticas. O que essas comunidades têm em comum, o que elas representam através da apreensão da identidade black, não é que elas sejam, cultural, étnica, linguística, ou mesmo fisicamente, a mesma coisa, mas que elas são vistas e tratadas como “a mesma coisa” (isto é, não brancas como o “outro”) pela cultura dominante. É a sua exclusão que fornece aquilo que Laclau e Mouffe chamam de “eixo comum de equivalência” dessa nova identidade. (HALL, 2005, p.86)

Esse conflito cultural resultou em uma nova identidade como forma de resiliência dentro desse novo território, considerando, sobretudo, as políticas escravocratas. Influenciando, assim, de forma brutal nas políticas públicas urbanísticas e higienista da Região Portuária e de todo o Rio de Janeiro.

Nessa conjuntura, Abdias Nascimento relaciona o processo de dominação e escravização dos corpos pretos com o apagamento da sua ancestralidade e memória como principal diretriz. Se no período escravocrata a ruptura das relações de mulheres e homens negros com sua terra, seu povo e seus deuses foi fundamental para o controle deste grupo, no pós-abolição essa prática é mantida através da queima de documento referentes ao tráfico e a escravidão, e da destruição de instrumentos de tortura (NASCIMENTO, 1980). Ações de extermínio da memória individual e coletiva refletem para além das políticas sociais, são questões que se materializam nas dinâmicas espaciais e urbanas que estão

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diretamente associadas à memória afetiva e simbólica, que caracterizam as relações de pertencimento e a apropriação de uma territorialidade como morada.

Figura 01 - Ilustração De Augustus Earle, Capoeira, C. 1820. Fonte: BNC.

3. OBJETO DE ANÁLISE

No Rio de Janeiro, aproximadamente quatro milhões de negros escravizados chegaram entre 1779 a 1831, desembarcando do Cais do Valongo, Praça do Peixe – atual Praça XV- e praias do entorno no período em que o tráfico negreiro transatlântico foi proibido. Considera-se a região do Valongo todo o perímetro que vai desde a Rua Barão de Tefé até a Cidade do Samba e, além do Cais, podemos incluir outros lugares que se relacionam com o período escravocrata como: o lazareto, que era o destino das pessoas pretas enfermas; o Cemitério dos Pretos Novos, local que recebia as pessoas escravizadas que morreram antes de serem vendidas; os armazéns de engorda, que era o lugar de “fortalecimento” físico para a comercialização desses indivíduos - localizado no Largo do Depósito, que hoje é a Praça dos Estivadores.

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Figura 08 - Mapa esquemático da presença negra na região do Valongo. Fonte: Cartografias do Invisível – Stéfany Silva, 2021

O Jardim Suspenso do Valongo foi idealizado aos moldes eurocêntricos no objetivo de embranquecer a região para descaracterizar a paisagem cultural do território diaspórico e negro do Valongo, através do planejamento “Bota-Abaixo” de Pereira Passos.

Construído em 1906, nos parâmetros dos jardins românticos ingleses, o lugar é um marco dentro da narrativa da estruturação das camadas que se sobrepõe à Pequena África. Com o projeto paisagístico de Luís Rey, a ideia de concepção, além de referenciar os jardins românticos, era apresentar caminhos lúdicos, uma cascata e estátuas de divindades romanas que estavam anteriormente localizadas no Cais da Imperatriz.

Esse cenário do Rio de Janeiro, datado no final do século XX, foi marcado por um grande momento de transição econômica, social e política, e isso teve influência direta nas ações higienistas e sanitarista da intervenção no território carioca.

Essa reestruturação vinha adaptar a cidade senhorial-escravista aos padrões da cidade capitalista, onde terra é mercadoria e o poder é medido por acumulação de riqueza. A face urbana desse processo é uma espécie de projeto de “limpeza” da cidade, baseado na construção de um modelo urbanístico e de sua

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imposição através da intervenção de um poder municipal recém-criado. (ROLNIK, 1989, p. 6)

O Rio de Janeiro como capital da nação precisaria ter uma roupagem “limpa”. Partindo de referências de caráter eurocêntrico, a reforma foi introduzida para além do espaço físico, afetando diretamente a sociedade que vivia à margem desse padrão, com ações que levaram à Revolta da Vacina, Lei da Vadiagem, o desmonte dos morros e entre outros. Com isso, muitos lugares que são símbolo dessa memória foram enterrados e destruídos.

Figura 02 - Caricatura de Oswaldo Cruz limpando a imundice do Morro da Favela. Fonte: O Malho, nº 247, 08/06/1907- Domínio Público, Wikicommons

Chegando no século XXI, mais uma nova e grande reforma se inicia na região: o Porto Maravilha. Esse grande projeto de investimento público e privado, foi levado pelo interesse da nova roupagem da zona portuária, tendo em vista que a região seria palco de alguns eventos internacionais que o país sediaria – Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016).

Nessas obras de revitalização, descobriu-se o Cais do Valongo. Essa “descoberta” iniciou-se a partir das obras de drenagem da Rua Barão de Tefé. E essa revelação causou um impacto, tanto político como cultural. Dias seguintes a notícia já era destaque nos principais meios de comunicação.

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Das escavações do Projeto Porto Maravilha na Avenida Barão de Tefé, na Região Portuária, surgiu um tesouro arqueológico. Trata-se do Cais da Imperatriz e do Cais do Valongo, ambos do século XIX. A descoberta empolgou o prefeito Eduardo Paes, que, no último sábado, foi acompanhar as obras de drenagem e se deparou com a novidade.

-- Fui lá no sábado vistoriar as obras, e, quando vi aquilo, fiquei absolutamente chocado. Vou fazer uma praça como em Roma. Ali estão as nossas ruínas romanas. (O Globo, 2/3/2011)

Ao retirar uma parte da camada da cidade do século anterior, é revelado um pouco da memória que foi apagada, mas qual será de fato a atribuição de valor depositada para esse lugar? Quem se reconhece dentro dessa nova reforma aos moldes “romanos”? Quais são os verdadeiros interesses?

As políticas de salvaguarda por vezes ignoram a questão humano-cultural, tomando como prioridade as relações econômicas e políticas na validação do reconhecimento do bem. Choay em Alegoria do Patrimônio relaciona esses valores pessoais negligenciados pelos valores econômicos, quando o bem se torna indústria.

[...] difusão da “cultura” precipita uma mudança semântica: esta perde seu caráter de realização pessoal e torna-se indústria. Os monumentos e o patrimônio histórico adquirem dupla função: obras que propiciam saber e prazer, à disposição de todos, mas também produtos culturais, prontos para serem consumidos. Metamorfose do valor de uso em valor econômico. (CHOAY, 2001, p. 211)

A comercialização distancia o bem da pessoa que habita e, por muitas vezes, atravessam questões sociais na construção dos símbolos que compõem a cidade. Por um viés de uma ação hegemônica, os bens são valorizados a partir de perspectivas não democráticas. A pesquisa busca compreender como o racismo influencia as relações para além das sociais e seu reflexo nas dinâmicas espaciais e urbanas, sobretudo na obliteração da memória negra individual e coletiva da cidade, com uma intervenção/manifesto que objetiva ressignificar essa narrativa através de um percurso que direciona o olhar do visitante para a paisagem não contada.

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O debate de cidade, a partir de um recorte de classe, nos leva a discutir problemas de ordem social, política, ideológica e econômica. O combate à pobreza, à fome, à falta de saneamento básico, à ausência de educação e cultura, e muitas outras deficiências sociais deveriam ser supridas pela garantia constitucional. Contudo, esses direitos não abrangem a maioria da população brasileira.

A segregação espacial das cidades brasileiras está enraizada no processo pós-abolicionista da não reintegração social, reforçado por políticas públicas que fomentaram essa falta de desenvolvimento socioeconômico da população que foi escravizada. E as nossas cidades hoje é o reflexo do início dessa história.

É impossível esperar que uma sociedade como a nossa, radicalmente desigual e autoritária, baseada em relações de privilégio e arbitrariedade, possa produzir cidades que não tenham essas características”. (MARICATO, 2001, p. 51) O racismo estrutural, segundo Fanon (1956), é identificado quando os sistemas responsáveis pelas dinâmicas sociais reproduzem as condições de desigualdade da população preta, impedindo o acesso a direitos essenciais a todo ser humano.

Além disso, a perspectiva da cidade formada por um processo colonizador e de escravização, é necessariamente pautada na utilização da eugenia na legitimação da dominação e opressão do povo preto. A medida que a cidade se transforma, os mecanismos de defesa de uma política supremacista precisa acompanhar esse processo. Argumentos científicos que afirmam a inferioridade do negro através da biologia, acabam por dar lugar a outros relacionados a cultura, o que podemos definir como racismo institucional.

Considerando o passado escravocrata e o sistema capitalista, ao observarmos o atual cenário, fica claro a primordialidade do fomento dessas desigualdades. As relações de convívio do século XXI é uma resultante da necessidade hierárquica de poder, no qual a legitimação do privilégio de determinados grupos precisa ser naturalizada a partir das opressões sofridas por outros grupos.

O território da Pequena África é marcado por essa característica da segregação como reflexo dessas operações urbanas.

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As consequências da miséria e falta de moradia da população majoritariamente preta estão presentes, resultado da busca desse “embelezamento” e “limpeza”. Consequência esta que levou a população para as áreas periféricas e morros, que até hoje são lugares marginalizados e sem assistência do Estado.

As grandes periferias e favelas concentram grande parte da população negra das cidades, definindo-a e estigmatizando-a pela pobreza e violência. Essa é uma narrativa é construída e promovida desde o início da estruturação das cidades.

Além disso, a especulação imobiliária nos dias atuais é também um potencializador dessa segregação, colaborando cada vez mais para a expulsão da população pobre de áreas próximas aos centros das cidades. Essa contribuição gera a expansão do tecido urbano e, como consequência, a inserção desses grupos às margens da cidade, em bairros afastados e carentes de equipamentos de educação, cultura, saúde e transporte.

As identidades demarcam fronteiras na cidade. Os espaços se configuram pelas relações econômicas, sociais e também identitárias. As identidades se firmam também, em relação às diferenças. Essas diferenças se estabelecem de acordo com relações de classe, de sexo, de consumo e de poder. Uma das formas de se negar o espaço do outro é negando sua existência, anulando sua identidade e, portanto, tornando-o invisível frente ao outro. (RIBEIRO, 2009, p. 188) Dentro desse recorte segregacionista, no qual historicamente a população negra foi posta à margem por ações e iniciativas do Estado, temos, então, ferramentas para identificar ações de esvaziamento da memória das cidades, reconhecendo o papel do espaço no estímulo às práticas racistas da cidade.

7 A INTERVENÇÃO

A partir do debate da salvaguarda e patrimonialização e preservação de edificações, conjuntos arquitetônicos e monumentos, podemos dizer que esse diálogo é pautado na defesa da preservação da história e memória desses. Olhando para a cidade, ao ver essas representações de símbolos ou sua ausência, cabe questionar quem são os responsáveis por essa tomada de decisão e quais histórias podem ser preservadas.

Nesse contexto, a escolha do local de intervenção se direciona a esse debate, e a ação projetual se materializa no objetivo de ressignificar o lugar, tendo em vista os processos

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de transformações urbanas que objetivaram, sob um discurso higienista, a destruição da história e vivências de grupos que fizeram e fazem parte da cidade.

Considerando os aspectos históricos, culturais e as relações atuais, percebe-se a necessidade de racializar a discussão sobre a herança das cidades e a produção de novos pensamentos na construção das novas paisagens, trazendo a problemática do racismo estrutural e institucional.

A intervenção parte da compreensão da necessidade de um olhar mais sensível e crítico para lugares em que o poder do apagamento se estruturou, entendendo que as dinâmicas urbanas conduzem essa segregação para além dos delimitadores espaciais. Além disso, refletindo, também, nas dinâmicas de convívio social, seja pela falta de pertencimento e identidade ou até mesmo pela segregação de parte da população que pertence a essa camada social marginalizada.

A proposta vem fortalecer o território diaspórico da Pequena África a partir da intervenção dos Jardim Suspenso do Valongo, com o objetivo de ressiginficar o Jardim, direcionando, a partir dele, um novo olhar sobre a velha importante história do seu entorno.

Desta forma, a partir da análise da paisagem do entorno, e tomando partido no aproveitamento da sua ampla vista para a região, a intervenção contará essa narrativa pautado na reversão dos valores atribuídos hoje para o lugar e seu entorno. O objetivo é reconectar a paisagem a partir de uma intervenção no lugar onde outrora foi construído para apagar essa relação identitária da região.

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Figura 19 – Mapa dos pontos das vistas. Fonte: Mapa base Google

Como partido formal, o projeto da intervenção busca trazer experiências sensoriais ao visitante, provocando estranheza ao percorrer os corredores de blocos de taipa. Essa matéria incomum, os blocos, vem fazer uma analogia ao que foi o Jardim Suspenso do Valongo: um corpo estranho em um território marcado.

A estratégia para caracterização desse “corpo estranho” é trazer uma volumetria robusta que leva para um aspecto brutal da intervenção. Não deixando de considerar a materialidade de taipa no objetivo de fazer uma analogia ao barro, às obras e reformas urbanas, e à arquitetura vernacular da cultura africana. O intuito é expor através da intervenção os conflitos históricos que marcaram a paisagem.

Os marcos dessa paisagem são potencializados através do direcionamento do olhar. No momento em que o visitante percorrer entre os corredores, ele será direcionado a momentos de desnudez do circuito, revelando-se às paisagens que marcam a velha narrativa de uma memória que foi apagada.

Pontos de visadas que marcam paisagens como: Cais do Valongo, Praça do Estivadores, Morro da Providência, Conjunto de sobrados da Rua Barão de Tefé.

Figura 21 - Maquete com os pontos de visadas estratégicas para a paisagem do entorno. Fonte: Produção do Autor.

As estátuas romanas que compõe o conjunto têm uma relevância dentro das provocações dessa nova narrativa. A proposta induz o questionamento das referências eurocêntricas

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dentro desse “conflito”, no qual são representados e materializados na estética dos blocos de taipa.

Figura 23 – Visada que representa a referência eurocêntrica imersa no conflito. Fonte: Produção do Autor

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Figura 26 – Vista para o Cais do Valongo. Fonte: Produção do autor.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fomentando o debate do esvaziamento da memória negra nas cidades, através da perspectiva das diversas narrativas que são omissas, o trabalho vem expor os componentes estruturantes que marcam a paisagem do século XXI.

A pesquisa levantou os conflitos sociais do início do século XIX até os dias atuais, no entendimento do reflexo da segregação urbana dentro do recorte racial como fruto desses acontecimentos.

Como isso pode influenciar na salvaguarda e preservação do patrimônio contemporâneo? Esse questionamento leva para a relação da memória e o território no que tange o direito à cidade. Na atribuição de valor, seja para um bem ou um lugar, o indivíduo precisa ter como ferramenta a sua memória, o conhecimento da sua história. Quando isso não acontece, a falta do pertencimento anda ao lado da falta de identidade, com isso, o distanciamento da pessoa com o espaço em que ela habita.

Na discussão da ruptura do pensamento eurocêntrico da salvaguarda patrimonial - no qual as ações de preservação por parte de órgãos responsáveis priorizam alguns bens em detrimento a outros - e da segregação urbana e social no direito à memória, o trabalho vem permeando esses debates na preservação e ressignificação da memória afro-brasileira no Rio de Janeiro.

Na tentativa de reconectar a memória desse território, a intervenção remonta, através de trechos delimitados da paisagem, os fragmentos históricos apagados. A proposta provoca, através de um percurso, sensações que refletem as opressões sofridas, elucidando recortes do entorno em que esses conflitos aconteceram.

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Além disso, este trabalho traz a associação das referências eurocêntricas na materialização dessa nova narrativa, no entendimento da implementação representativa do Jardim – incluindo seu estilo romântico inglês e suas esculturas romanas- no território da Pequena África.

O objetivo deste trabalho é o incentivo ao debate da estruturação das cidades, fomentando, assim, novos desdobramentos e o senso crítico da sociedade no que permeia o direito a memória e identidade, refletindo nas referências - tangíveis ou não - que compõe a sociedade contemporânea do século XXI.

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