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Agradecimentos aos apoiadores para realização deste estudo: UFRGS-PROREXT, PRRS.

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Academic year: 2021

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LAZZAROTTO, G. D. R.; LINDENMEYER, D.; TIBULO, A. P. ; WERWMCHUK, S.

Autoria institucional: efeitos institucionais de trabalho educativo para jovens. Sessão

Temática 471: Psicologia Clínica, 30ª Congresso Interamericano de Psicologia, Buenos Aires, 29 de junho de 2005.

AUTORIA INSTITUCIONAL:

EFEITOS INSTITUCIONAIS DE TRABALHO EDUCATIVO PARA JOVENS1

A experiência no atendimento de jovens que cumprem medida sócio-educativa em função de ato infracional aponta as limitações de oferta de vagas em programas de profissionalização e em organizações que tenham disponibilidade para realizar o acompanhamento às situações de aprendizagem que extrapolam as experiências do mundo do trabalho, e envolvem demandas psicossociais emergentes deste público no contexto social brasileiro.

Neste sentido a legislação brasileira propões o Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8.069 de 1990, que apresenta a possibilidade de desenvolver projetos com o caráter de Trabalho Educativo, que conforme o Artigo 68, compreende a “atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo”.

No contexto brasileiro são desenvolvidas experiências de responsabilidade social e exercício de cidadania com demandas de profissionalização de jovens em situação de vulnerabilidade, através destes “projetos de trabalho educativo”.

Desde dezembro de 2002, a Universidade assessora em projeto de extensão a implementação de programa de trabalho educativo, iniciativa de uma organização pública2 federal, cuja função não está vinculada ao desenvolvimento de políticas públicas juvenis, que conjuga esforços com organizações da rede pública de atendimento ao adolescente entre 16 e 18 anos que cumpre medida sócio-educativa em função de ato infracional

1Agradecimentos aos apoiadores para realização deste estudo: UFRGS-PROREXT, PRRS.

2 é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a

defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e dos interesses individuais indisponíveis.

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oferecendo condições ao exercício de atividade regular remunerada orientando-se pela perspectiva do Educativo.

O Programa tem como objetivos principais: oportunizar aos adolescentes experiências de pertencimento social que contribuam na construção de alternativas no enfrentamento do contexto de vulnerabilidade e violência; sensibilizar o quadro funcional da Procuradoria em relação a problemática da violência na juventude contribuindo na problematização de políticas públicas neste contexto; possibilitar espaços de extensão universitária que contribuam na elaboração de metodologias de intervenção no contexto juvenil e na formulação de políticas públicas da juventude.

Partimos da compreensão de que as manifestações juvenis se produzem como um analisador social da sociedade brasileira e contemporânea. Nesta perspectiva, o saber psicológico se insere para constituir um processo de auto-análise e autogestão destas equipes na gestão do processo. Do lugar tradicional médico-psico-pedagógico da irregularidade (pena-tratamento/recolhimento) para um lugar de análise das formações sociais do desejo no contemporâneo

Em geral, as análises realizadas sobre estes projetos contemplam os efeitos alcançados nas formas de subjetivar os jovens participantes. Nosso ponto de vista propõe a análise institucional da rede de organizações (assistenciais, educativas, judiciárias) que se envolvem no atendimento do jovem e das equipes que constituem este fazer na construção de uma micropolítica de relações em seu trabalho cotidiano.

A Psicologia, enquanto extensão da Universidade constituída por uma equipe de estagiários e professores, mantém sua função de produção de conhecimento na sistematização de metodologias que amplie as possibilidades de elaboração de políticas para estas demandas sociais, e amplia sua oferta na extensão-assessoria ao promover de ações de formação das equipes para autonomia e gestão do programa. Neste contrato, que envolve ensino e pesquisa, há o deslocamento de relações saber-poder.

Portanto nosso objetivo é analisar os efeitos deste “programa de trabalho educativo” na micropolítica das relações de equipes em serviço no cotidiano do trabalho com os jovens. Como metodologia desenvolvemos a construção do campo de análise, tendo como interlocutores conceituais R. Loureau; F. Guattari e G. Deleuze, e do campo de intervenção, na produção da demanda e da oferta deste tipo de intervenção, considerando

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as relações universidade/formação/jovens/organizações. Assim , situamos analisadores dos processo de subjetivação produzidos na intervenção para traçar linhas de análise de um mapa com seus impasses, bloqueios e formas inventivas das relações institucionais.

Entendemos, conforme problematiza Lourau (1995; 2004) que o analisador coloca em cena as instituições que organizam a sociedade e permite deflagrar o questionamento das relações de poder instituídas, promovendo outros modos de pensar e viver.

A análise se faz nos movimentos do instituído-instituinte na rede de relações institucionais constituídas para manter o trabalho educativo e na coexistência de impasses, bloqueios e formas inventivas.

A apresentamos neste estudo três processos de análise desenvolvidos na intervenção:

Analisador – iniciativa juvenil

A organização constitui a proposta do programa como efeito de um processo histórico de servidores que a cerca de 10 anos desenvolvem projetos sociais de assistência para organizações externas . Neste cruzamento de relações o conceito de reciprocidade desta ação sempre esteve presente no que se refere a concepção de justiça, democracia e direitos humanos. A diferença deste analisador-iniciativa juvenil adquire outros sentidos á medida que a proposta de servidores é afirmada na hierarquia ascendente sendo executada dentro da organização.

Conforme coloca um servidor fundador3 do programa: “Resultado da Cultura da organização , de uma sensibilidade para sair de si mesma e se voltar para fora , ter um toque na sintonia da realidade do país. Nos humaniza, nos dá uma sintonia mais fina com a realidade que nós estamos inseridos. Não só papel, processo, burocracia , doutores. Temos aí o Brasil real no pulsar do dia a dia. È por estas pessoas que nós estamos trabalhando.”

Esta linha inventiva está entrelaçada na tensão de um “silêncio barulhento” movida pelo medo de estar convivendo com jovens marcados pela autoria da violência. É constante o movimento para discutir os preconceitos construídos a respeito destes jovens, colocando em discussão a própria produção social da violência, o medo e as formas de enfrentamento desta realidade. A existência do programa coloca em cena concepções da própria missão

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da organização, que neste caso assume uma posição histórica-política-institucional. Esta equipe elabora projeto para ser aprovado em caráter nacional, e ao mesmo tempo, há na organização o impasse entre o querer e o não-querer o projeto, pois não há uma resposta formal para esta demanda de gestão administrativa.

Analisador Organização do trabalho

A análise é produzida em questões que estão para além daquilo que o programa (e a própria organização) havia se proposto a discutir, sendo que o trabalho educativo dos jovens provoca a reflexão sobre a gestão das relações hierárquicas da organização do trabalho existente. Avaliações de um setor e de sua coordenação orientam decisões sobre os jovens, como troca de equipe e de atividades, considerando a análise da gestão da organização do trabalho conhecida até então, mas desconsiderando que a presença do jovem promove novas configurações nestas relações. Nossa análise com a chefia busca enunciar que os servidores estavam e podiam se organizar diferentemente, visibilizando outros modos de trabalhar que, até então, estavam na impossibilidade no que se refere ao modo instituído.

O programa cria outros territórios para o lugar-trabalhador, somados ao designado servidor público, seja como educador, oficineiro e multiplicador do programa que se amplia para além dos limites da Organização. Estas experimentações em alguns casos aparece investido de forma curiosa. Certa vez, quando questionado (em uma reportagem para um canal de televisão) sobre seu envolvimento com a apresentação de uma música criada pelos jovens no programa, um dos servidores apresentou-se dizendo: “nós

somos músicos trabalhando nesta organização”. Ele, também músico, expressou com a

produção juvenil seu trabalho desejante, lugar de singularização, que difere de trabalho burocrático na organização, marcado até então pelo objetivo financeiro. Assim como este, vários outros servidores têm formação e interesse em outras áreas e, neste projeto, inserem estes saberes no seu cotidiano de trabalho com uma outra articulação com a organização. Este movimento das relações de pode-saber no trabalho é expressa no surgimento de oficinas, organizadas pelos servidores que tem alguma formação acadêmica específica, para construir um espaço de discussão coletiva com os jovens sobre aspectos da formação

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escolar, experiências culturais, etc. Uma linha inventiva de busca de encontro de servidores com os jovens, produzindo outros sentidos para a produção de seus conhecimentos.

Encontramos ainda, um dos setores que não teria um lugar de valorização na hierarquização da atividades fins da Organização e a partir do programa, passa a ser convocado em reuniões internas e com organizações conveniadas nu lugar de representação institucional, problematizando e “confrontando” opiniões divergentes, seja com níveis hierárquicos internos, seja algum posicionamento de outras instituições envolvidas.

A criação de outros universos de existência dentro da organização do trabalho, favorece movimentos em relação aos lugares que os servidores vão conseguindo construir para si e para o trabalho. Somos parte deste agenciamento, em que os analisadores situam os modos de trabalhar e subjetivar nesta interface do programa de trabalho educativo - Organização pública . De acordo com Guattari e Rolnik (1995), pode-se dizer que a subjetividade, longe de ser uma instância psíquica relativamente estável, embora susceptível a mudanças no contato com o meio, é essencialmente produzida e modelada por agenciamentos coletivos de enunciação, que implicam o funcionamento de máquinas de expressão o mais diversas, tanto de natureza extrapessoal, extra-individual (sistemas maquínicos, econômicos, sociais), quanto de natureza infra-humana, infrapsíquica, infrapessoal (sistemas de percepção, de sensibilidade, de afeto, de desejo).

Assim, o plano de expressão daquilo que se produziu para um servidor a partir das relações estabelecidas com o trabalho educativo não diz respeito apenas a esse indivíduo; ele é a voz de uma enunciação agenciada por linhas produzidas a partir do coletivo do projeto.

Analisador Universidade-Saber-Psicologia

A presença da psicologia também opera como analisador à medida que compõe relações nos movimentos de análise, oscilando entre relações transversais, verticais e horizontais4 constituídas pelo seu saber-poder. Somos convocadas ao “fazer com” em relações horizontais promovidas na convivência de diferentes organizações ( universidade, organizações conveniadas de encaminhamento dos jovens) que buscam afirmar o programa

4 Considerando análise de Félix Guattari no texto transversalidade in: GUATTARI, F. Revolução Molecular:

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num projeto ampliado de política pública juvenil. E também somos solicitadas para “analisar com” na tensão de uma relação em que buscamos produzir a transversalidade: produzir na demanda que nos coloca na verticalidade de uma posição de saber acadêmico/saber psicológico para praticar um espaço de acolhimento, onde o saber se produz no encontro5 e na abertura deste encontro para produção de sentidos, a potência da relação em análise.

Este modo de produzir a intervenção compartilha a crítica de Guattari e Rolnik (1995) àqueles que separam e criam oposição entre as economias, da política e a do desejo, criando os partidários que saem em defesa de cada um desses territórios, acusando um ao outro de estarem sendo redutores em suas análises e estratégias de transformação. Colocados nessa lógica de dois pólos, muitos indivíduos, grupos ou associações passam a se autonomear de “verdadeiros revolucionários” – aqueles que sabem melhor expressar os anseios dos outros indivíduos e grupos –, enquanto, do outro lado, encontram-se os que se mostram indiferentes a esses “assuntos políticos”, pois o desejo, a princípio, não se misturaria com a política. Manter a dicotomia das economias serve, portanto, à manutenção de territórios impermeáveis à diferença. Afirmamos a política desejante, pois é em sua composição que temos a potência para as questões emergentes da vida contemporânea .

Analisadores e Autoria Institucional

O estudo aponta que o exercício da cidadania como objetivo que se busca “para” o jovem, coexiste aos efeitos institucionais operados pelos espaços de análise de equipes e de organizações quanto aos modos de constituir relações de saber/poder na materialidade educativa do trabalho. As aprendizagens de pertencimento e solidariedade ocorrem na rede de relações institucionais que produzem tanto impasses e bloqueios, como formas inventivas singulares e coletivas na gestão da proposta

Propomos o conceito de “autoria institucional” como emergência de forças que afirmam possibilidades de diferenciação em práticas coletivas que desterritorializam processos institucionais e constituem abertura para outros modos de governar a vida,

5 Considerando a noção de encontro e produção de sentido proposta por Gilles Deleuze in. DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. São Paulo: Escuta,1998

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operador que amplia a análise de efeitos da complexidade das relações grupais e organizacionais em intervenções institucionais contemporâneas. As instituições trabalho e educação estariam sendo convocadas para outras configurações a cada movimento do Programa ( intra-organização e infra-organização). A análise institucional se produz no constante movimento do programa no processo de construção coletiva de analisadores que criam modos de expressão na coexistência da demanda da organização – da demanda juvenil . Trata-se do acontecimento, quarta dimensão do sentido para Deleuze (2000), para além da manifestação do eu, da do designação trabalho educativo, da significação infração, temos um plano de experimentação de sentidos. A “autoria institucional”, pensada por um caráter enunciador de análise coletiva, empreende um mergulho no campo do desejo, desterritorializando o instituído do ser trabalhador, do ser infrator, do ser psicólogo, do ser operador da política pública. Se há alguma vocação desta dita autoria, ela estaria aí: afirmar sua potência de análise, isto é, produtor de efeitos de sentidos variados.

Bibliografia:

GUATTARI, Félix ; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis -RJ, Vozes,1986.

LOURAU, R. Objeto e método da análise institucional. In.: ALTOÉ, Sonia (org.) "René Lourau- analista em tempo integral. São Paulo: Hucitec, 2004.

Referências

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