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A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DAS MISSÕES EDUCATIVAS VENEZUELANAS (DE ): MISSÃO ROBINSON, MISSÃO RIBAS E MISSÃO SUCRE

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A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DAS MISSÕES EDUCATIVAS VENEZUELANAS (DE 1999-2008): MISSÃO ROBINSON, MISSÃO RIBAS E

MISSÃO SUCRE

SIMONE VALENTINI1

FRANCIS MARY GUIMARÃES NOGUEIRA2

RESUMO: À Venezuela vive atualmente um momento de sua história em que se

processam profundas mudanças no âmbito político e social, associado a essas mudanças o governo Chávez deu início, á partir de 2003, a uma série de políticas sociais de caráter massivo denominado de missões. Estas se definem como a estratégia mais ampla de inclusão, tendo como propósito fundamental enfrentar as causas e as conseqüências da pobreza e da exclusão com a participação protagônica do povo. Dentre esse conjunto de Missões está a implementação de um conjunto de Missões Educativas denominadas de Missão Robinson, Missão Ribas e Missão Sucre, que compreendem um novo modelo educacional visto pelo governo como sendo um elemento fundamental para operar as transformações no campo social e econômico venezuelano. Desta forma, essas Missões Educativas se orientam a sanar os problemas enfrentados pela educação no decorrer de muitos anos naquele país. Busca-se de acordo com o governo, produzir ações que, ao mesmo tempo, garantam os direitos sociais à inclusão, produção e ao emprego, e também, a inclusão política garantindo a participação e o protagonismo nos assuntos públicos. Este trabalho é resultado do projeto de pesquisa intitulado “A Concepção de Educação das Missões Educativas Venezuelanas (1999 – 2008): Missão Robinson, Ribas e Sucre” que objetivou descobrir e destacar qual a concepção de Educação destas Missões Educativas. Sendo assim, a partir de leituras e fichamentos de documentos primários e de fontes secundarias foi possível identificar que as orientações pedagógicas assumidas como elementos centrais desse novo modelo se orientam pela concepção de educação fundamentada pelo relatório de Jacques Delors que apresenta estes quatro conceitos: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a viver juntos, como sendo os quatro pilares para a educação. Essa orientação defendida pelo Relatório tem sua raiz no projeto Educacional Escolanivista, que, fundamentadado nos princípios liberais,defende uma escola pública, gratuita, universal e laica, onde o individuo é livre para desenvolver seus talentos e aptidões e a escola, por conseqüência, é responsabilizada junto com o aluno pelo seu sucesso ou fracasso.

1 Acadêmica do 2º ano de Pedagogia da UNIOESTE - Universidade Estadual do Paraná; Bolsista

de Iniciação Científica (PIBIC/PICV); e integrante do Grupo de Pesquisa em Políticas Sociais (GPPS). E-mail: si_valentini@hotmail.com

2 Orientadora deste artigo; Doutora em educação; Pesquisadora do GPPS; docente do Curso de

Pedagogia e do Programa de Mestrado em Educação da UNIOESTE/Campus de Cascavel. E-mail: guimanog@terra.com.br

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Palavras-chave: Concepção de Educação das Missões educativas: Missão Robinson,

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Introdução

Nas eleições de 1998, após vencer os partidos conservadores e dominantes, Hugo Chávez convoca o povo a impulsionar mudanças profundas na estrutura política, econômica e social da sociedade, buscando refundar a República com base na justiça social e combater a exclusão, a corrupção moral e a desnacionalização.

A candidatura de Chávez, baseada nos ideais bolivarianos3, propôs um governo popular frente ao governo das elites. Logo após a eleição, em meados do ano seguinte, Chávez convoca um referendo para votar a nova constituição, que é aprovada pela maioria do povo venezuelano em 15 de dezembro de 1999. Essa nova constituição constitui a República em Estado democrático social de direito e de justiça, e estabelece modelos alternativos a democracia representativa e ao neoliberalismo, estabelecendo um modelo de democracia participativa e co-responsável.

Hugo Chávez alcançou a presidência com a firme promessa de enfrentar os males endêmicos da sociedade venezuelana e promover a autodeterminação das comunidades excluídas. Buscando alcançar esse objetivo, um dos passos mais significativos foi a criação das Missões sociais Bolivarianas implementadas a partir de 2003, após o fim do “Paro petroleiro”4 implantadas com recursos advindo diretamente da PDVSA – Petróleos de Venezuela, S.A.

De acordo com o capítulo VI artigo 102 dos Direitos Humanos e Educativos, presentes na nova Constituição, a educação é um direito Humano e um dever social fundamental devendo ser democrática gratuita e obrigatória. E o Estado deve assumi-la como função incontestável e de máximo interesse em todos os níveis e modalidades, e como instrumento do conhecimento científico, humano e tecnológico a serviço da sociedade.

Nessa perspectiva, dentre as políticas sociais implementadas em 2003, todas foram orientadas para o desenvolvimento do Projeto Revolucionário Bolivariano. Neste se encontra o conjunto de Missões voltadas para a educação da população marginalizada que se encontrava até o determinado momento excluído do ensino

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Ideais de Simon Bolívar, Herói venezuelano, que esteve à frente da luta pela independência da

Venezuela, independência esta conquistada após muita luta e uma guerra civil que durou cerca de 10 anos (1811 – 1821). Esse exército liderado por Bolívar objetivava para além das fronteiras Venezuelanas libertar outras colônias do julgo espanhol.

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Movimento liderado pela Fedecamera - Federação dos Empresários da Venezuela -, que provocou a paralisação da PDVSA – Petróleos da Venezuela - foi a quarta e mais duradoura greve enfrentada pelo governo Chávez que teve a duração de três meses (dezembro de 2002 a fevereiro de 2003) e que, em última instância, pretendia, mediante a criação de um colapso social, derrubar o presidente Chávez.

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tradicional, são elas, Missão Robinson, Ribas e Sucre. Essas Missões são voltadas para os jovens e adultos que se encontravam fora da faixa etária normal, com o objetivo de acabar com a ignorância entre a população adulta excluída e promover sua plena, cidadania, abordando as distintas etapas de alfabetização, escolarização primária e

secundária, acesso a educação superior e especialização universitária. Segundo Chávez,

As Missões são componentes fundamentais do novo Estado social de direito e de justiça. Os que estavam excluídos agora estão incluídos, junto a todos: estudando, capacitando-se, organizando-se, trabalhando com uma nova cultura, com uma nova consciência. Porque as Missões estão gerando uma nova realidade, junto a uma nova ordem cultural, em uma ordem psicológica, em uma ordem ideológica e em uma ordem filosófica, além de uma realidade concreta e prática, que estão gerando: no social, no econômico e no educativo (Las Misiones Bolivarianas, 2006 a, p.13.).

Essas Missões se executam por meio da participação direta das comunidades populares na organização e implementação dos programas, buscando promover a organização social, política e econômica das comunidades, para construir o poder popular e garantir a efetividade de sua participação crítica nas propostas que são politicamente importantes ao governo bolivariano.

Como identifica José Cademartori, economista Chileno, membro do governo de Salvador Alende,

Es importante destacar que todas estas Misiones y proyectos no se implementan de modo paternalista, burocrático ni clientilístico, sino mediante una participación ciudadana activa, sin exclusiones partidistas. Las comunidades locales, los bairrios, los comités de salud locales, La intervención vecinal em la distribución Del presupuesto comunal, los círculos bolivarianos, [...], todo ello, da cuenta de esta revolución participativa y masiva a la que se está incorparando El pueblo venezuelano por primera vez em su historia. (VENEZUELA, 2006, P.55/56)

Sendo assim, a elaboração deste trabalho, está vinculado ao projeto denominado “A concepção de Educação das Missões educativas na Venezuela (de 1999 – 2008): Missão Robinson, Ribas e Sucre, desenvolvido entre agosto de 2007 e julho de 2008, tendo como objetivo identificar qual a concepção de educação das Missões Educativas venezuelanas. Para realizá-lo foram necessárias leituras e sistematização, sob a forma de fichamento de documentos oficiais venezuelanos e de fontes secundárias que permitiram conhecer e destacar a concepção educacional das Missões Educativas que estão sendo implementadas desde 2003.

Após conhecer o projeto pedagógico venezuelano foi possível destacar que elementos centrais desse novo modelo de educação se orientam pela concepção de

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educação fundamentada no Relatório de Jaques Delors que, por sua vez, tem suas raízes na concepção educacional da Escola Nova.

Após essa breve introdução, falaremos agora especificamente em cada uma das três Missões para que possamos compreender como se desenvolvem, e identificar com mais clareza a concepção de educação dessas Missões Educativas.

Missão Robinson

A Missão Robinson, que se divide em Robinson I e Robinson II, foi lançada em 2003 e teve e conseguiu o objetivo de erradicar o analfabetismo presente entre os jovens e adultos que se encontravam fora da faixa etária normal. A Missão Robinson I foi lançada em julho de 2003 por meio do Plano Nacional de Alfabetização e após um ano e meio de atuação conseguiu erradicar 1 milhão e 500 mil analfabetos, levando a Venezuela a ser declarada “território livre do analfabetismo” de acordo com os parâmetros da UNESCO. Sua implementação ocorreu com o apoio da República de Cuba, que tem dado assessoria e disponibilizado o método de alfabetização “Yo, si Puedo”, premiado pela UNESCO. Essa Missão se desenvolve em diversos tipos de ambientes, nas próprias comunidades, incluindo locais comunitários e públicas. Sua efetivação conta com a assistência e assessoria de 70 pedagogos cubanos e a participação voluntária de mais de cem mil Facilitadores.

A Missão Robinson II é a segunda fase do processo educativo dos setores excluídos, iniciada em outubro do mesmo ano, tem como objetivo garantir os estudos básicos da população alfabetizada assim como da população excluída da educação básica, que deverão graduar-se em educação primária ao longo de uma formação de dois anos. A formação dos alunos dessa Missão conta com a ajuda das mesmas ferramentas pedagógicas utilizadas na Robinson I, que contém conteúdos transmitidos por vídeos acompanhados por uma cartilha idêntica e com a presença de Facilitadores.

Ao implantar esse novo projeto educacional o governo entende que,

A educação é um direito humano e um dever social, obrigatório e gratuito, que também constitui a raiz essencial da democracia. Está orientada ao desenvolvimento pleno da personalidade para uma existência digna, que transcorra como uma valoração ética do trabalho e com uma consciência de participação cidadã na tomada de decisões. (VENEZUELA, 2005, p. 3).

Como observamos, em consonância com a perspectiva do Relatório de Jaques Delors, onde

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O sistema educativo tem, pois, por missão explícita ou implícita, preparar cada um para o papel social, [...], cada membro da coletividade deve assumir as suas responsabilidades em relação aos outros. Há, pois, que preparar cada pessoa para esta participação, mostrando-lhe os seus direitos e deveres, mas também desenvolvendo as suas competências sociais e estimulando o trabalho em equipe. (DELORS, Jacques, 2007, p.61).

Missão Ribas

A Missão Ribas se ocupa de incorporar os excluídos da educação secundária e profissional diversificada aos quem não tiveram oportunidade de terminá-la, ou que nunca puderam acessá-la. Desde o início dessa Missão, objetiva-se superar as lógicas, métodos, modelos e esquemas da administração escolar que tem gerado um sistema de exclusão ao longo do processo histórico. Dirigida a jovens e adultos com o seguinte perfil:

Novo Republicano Bolivariano e nova Republicana Bolivariana, cidadãos e cidadãs capazes de valorizar-se a si mesmo e a sua comunidade para viver em democracia, de maneira participativa, protagonica e co-responsável com o marco do ideário bolivariano, com visão holística e em harmonia com o ambiente, para a construção de uma sociedade de convivência, cooperação, solidariedade, justiça e, então, de paz. (VENEZUELA, s/d).

É implementada também por métodos de educação a distância com o apoio de Facilitadores, organizações populares e instituições públicas. Iniciada em novembro de 2003, em meados de 2006 já contava com mais de 600 mil cidadãos e cidadãs inscritos em todo o território nacional. Essa Missão concede o titulo depois de um período de dois anos.

As maiores responsabilidades da coordenação desta Missão é o acompanhamento integral, coordenando e promovendo atividades de formação e orientação a facilitadores e facilitadoras. Garantindo a constituição e permanência de facilitadores e facilitadoras nos coletivos (que cada facilitador permaneça em um coletivo).

A Missão Ribas está se construindo e inovando em processos que se baseiam nas necessidades, interesses, motivações, e capacidades dos aprendizes, de tal maneira que o currículo, o planejamento e a avaliação se centrem no ser humano e no desenvolvimento de seus processos e capacidades humanas. A estratégia da Missão Ribas é através dos vídeos seguidos de tarefas, discussões, reflexão, uma construção coletiva e avaliação dos processos.

Essa Missão é concebida como um processo profundamente humano, de caráter integral, que reconhece os distintos ritmos e desenvolvimentos de cada jovem e adulto

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como pessoa única e de caráter único em congruência com o enfoque filosófico do país expressado na constituição. Este sistema avalia, de maneira geral e contínua, o desenvolvimento das capacidades humanas e intelectuais no Ser, Fazer, Conhecer e Conviver como um todo que define a concepção integral do fazer educativo na Missão Ribas.

Dimensões do Ser -fazer- conhecer- conviver: Novo republicano e nova republicana Bolivarianos (as), cidadãos e cidadãs capazes de valorizar a si mesmo e a sua comunidade para viver em democracia, de maneira participativa, protagonica e co-responsável no marco do ideário bolivariano, com uma visão holística e um harmonia com o ambiente, para a construção de uma sociedade solidária, de justiça, e então, de paz ( VENEZUELA, s/d).

Como constatamos no Relatório de Jaques Delors sua concepção de educação vai ao encontro da concepção da Missão Ribas

As Missões que cabem à educação e as múltiplas formas que pode revestir fazem com que englobe todos os processos que levem as pessoas, desde a infância até o fim da vida a um conhecimento dinâmico do mundo, dos outros e de si mesmas, combinando de maneira flexível as quatro aprendizagens fundamentais – aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. (DELORS, Jacques, 2006, p.104).

Missão Sucre

Para completar o ciclo, se criou a Missão Sucre, que tem como objetivo facilitar o acesso à educação superior daqueles setores da população que não tinham e não têm oportunidades de acesso, devido às exclusões do sistema educativo formal. Atualmente conta com a participação de meio milhão de cidadãos. A Missão Sucre facilita a formação a distância nas comunidades populares e nas aldeias universitárias que se vêm criando em todo o território nacional, que são qualquer ambiente transformado para ministrar aulas. Os vídeos também são usados nessa Missão, contando agora, com a presença de um professor-assessor que ministra todas as disciplinas, e a presença de um professor-tutor que “acolhe” os alunos nas salas e orienta-os para a elaboração de projetos para a intervenção na própria escola e na sociedade.

Essa Missão, por sua vez, se articula com os programas da Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV)5, que promove a municipalização da educação superior, garantindo sua pertinência social e a integração dos estudantes em suas próprias comunidades.

“O projeto educacional bolivariano propõe mudanças na forma e no conteúdo do processo de formação.” El modelo educativo que se pretende impulsar se plantea el

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desarrollo de estrategias que privilegien los cuatro pilares de um nuevo tipo de educacion: aprender a conocer, aprender a hacer, aprender a vivir juntos y aprender a ser”. (VENEZUELA, apud RIZZOTTO,2007, p.48).

Constatamos abaixo como há vinculações diretas com o Relatório de Jacques Delors que prevê:

Uma nova concepção ampliada de educação devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de nós – essa nova concepção baseia-se no desenvolvimento das capacidades do aprender a ser, conhecer, fazer e viver juntos (DELORS, Jacques, 2006, p.90).

Com a criação da UBV e da Missão Sucre, o governo pretendeu dar uma nova direção ao ensino de terceiro grau, no sentido de formar profissionais vinculados com as comunidades, comprometidos com o projeto de “refundação do Estado Venezuelano” e tendo a equidade e a democratização como uma das principais bandeiras da educação (VENEZUELA, 2005, p.04). Para isso seria preciso formar um novo homem com traços humanitários, comprometidos e solidários, como afirma o Relatório Jacques Delors. Estes pressupostos orientaram e orientam a criação de cursos de formação em nível de graduação na UBV, que inicialmente se constituem de dez: comunicação social, estudos jurídicos, gestão ambiental, gestão social do desenvolvimento local, agro ecologia, arquitetura, estudos políticos, informação para gestão social e gestão em saúde pública.

Observe que todos os cursos propostos buscam formar profissionais que possam contribuir para a implantação do Projeto Revolucionário Bolivariano.

O conjunto de cursos, presentes na UBV, localizada em Caracas, não se reproduz igualmente em todas as regiões do país. Pelo próprio entendimento de desenvolvimento

5 A Universidade Bolivariana de Venezuela (UBV) foi criada em 2003 com o objetivo de, junto com a Missão Sucre, dar uma nova direção para o ensino superior, no sentido de formar profissionais vinculados com as comunidades, comprometidos com o projeto de “refundação do Estado venezuelano” e com a reconstrução da “Venezuela Bolivariana”. (RIZZOTTO, 2007, p.38)

endógeno, que prioriza as potencialidades e necessidades das comunidades locais, a definição de quais cursos deveriam ser ofertados depende do planejamento e das demandas locais.

Resultados e discussões

Os dados levantados por meio destas fontes permitiram destacar a concepção de educação das Missões Educativas da Venezuelana identificando que a implantação

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dessas Missões buscam uma formação educacional que não se pretenda neutra, ao contrário, a vinculação do processo formativo a um determinado projeto de sociedade é justificado como elemento fundamental para operar as transformações no campo social e econômico.

Desta forma a revolução educativa nas Missões é concebida como um processo profundamente humano, que reconhece os distintos ritmos e desenvolvimentos de cada jovem e adulto como pessoa única e mutável em congruência com o enfoque filosófico do país expressado na nova constituição e nas concepções da UNESCO.

Esse sistema avalia o desenvolvimento das capacidades humanas e intelectuais do SER, FAZER, CONHECER e CONVIVER ( VENEZUELA s/d). Essas orientações pedagógicas assumidas como elementos centrais no atual modelo educacional venezuelano têm origem em organismos internacionais como a ONU/UNESCO, e foram apresentadas de forma mais acabada no relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, denominado “Educação um Tesouro a Descobrir”, coordenado por Jacques Delors e lançado publicamente pela UNESCO, em 1996 (RIZZOTTO, Maria Lucia Frizon), como afirmado acima.

De acordo com o Relatório, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a viver juntos - Aprender a conhecer, que também significa aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação. Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional, mas de uma maneira mais ampla competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Aprender a viver juntos, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências. Aprender a ser, para melhor desenvolver sua personalidade a estar à altura de agir com cada vez mais capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal ( DELORS, Jacques, 2006, p.102).Com base nessa concepção de educação, o processo educacional defendido pelo novo governo venezuelano é concebido diretamente como um elemento fundamental para se operar as transformações no campo social e econômico.

A educação se situa no coração do desenvolvimento tanto da pessoa humana como das comunidades. Cabe-lhe a missão de fazer com que todos, sem exceção, façam frutificar os seus talentos e potencialidades criativas, o que implica, por parte de cada

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um, a capacidade de se responsabilizar pela realização do seu projeto pessoal. (DELORS, Jacques, 2007, p.16).

Essa definição de educação tem suas raízes no projeto educacional da Escola Nova, que, com base nos princípios liberais – liberdade, individualismo, propriedade, igualdade, democracia – onde o aluno é livre para aprender o que lhe interessa, desenvolvendo seus talentos, e a pedagogia ao centra-se no aluno, valoriza a experiência, defende uma escola pública, gratuita, universal e laica onde a educação aparece como uma perspectiva redentora e salvacionista, responsável pelo desenvolvimento pessoal e social e mediadora das relações entre indivíduos, grupos e nações. Esta concepção considera a escola autônoma em relação à sociedade, sendo chamada a desenvolver os talentos e aptidões que são naturais de cada indivíduo e por conseqüência sendo responsabilizada e responsabilizando o próprio individuo pelo seu sucesso ou fracasso.

Sendo assim, a concepção das Missões educativas define que a educação passa a ter responsabilidade de formar um novo homem que deve estar “a serviço da refundação da Republica”, ocupando-se de conhecimentos que tenham sentidos para a vida (RIZZOTTO, Maria Lucia Frizon, 2007). A educação que se pretende hoje na Venezuela centra sua ação na criança, no educando, na vida e na atividade considerando o homem “completo desde o nascimento e inacabado até morrer”, onde deve-se respeitar os talentos e aptidões de cada individuo que é livre para desenvolvê-los e onde o Estado deve responsabilizar-se por garantir a gratuidade e o acesso de todos os cidadãos.

Conclusão

Portanto, a partir dos dados levantados, identificou-se que há vinculações entre a concepção de educação das Missões Robinson, Ribas e Sucre, desenvolvidas no Governo Chávez, com a concepção assumida pela UNESCO que aparece de forma mais acabada no relatório coordenado por Jacques Delors.

Conforme constatamos acima, esse projeto educacional defendido pelo projeto bolivariano em consonância com o Relatório de Delors, aponta a educação como responsável pela formação de “um novo homem”, que busque desenvolver seus talentos, sendo o projeto educacional responsável por ajudar a nascer, um novo humanismo, com um componente ético essencial, e um grande espaço dedicado ao conhecimento das culturas e dos valores espirituais das diferentes civilizações e ao

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respeito pelos mesmos para contrabalançar uma globalização em que apenas se observam aspectos econômicos ou tecnicistas. (DELORS, Jacques, 2007, p.49

Essa concepção tem suas raízes na concepção de educação escolanovista que tem sua vinculação direta com o pensamento liberal. Compreendendo, de acordo com os princípios liberais uma educação pública, gratuita, universal e laica que responda as necessidades de toda a população, desenvolvendo os talentos e aptidões de cada indivíduo e, portanto responsabilizada pelo seu sucesso ou fracasso.

Referências

RIZZOTTO, Maria Lúcia Frizon. A formação de profissionais de saúde no âmbito do

Projeto Revolucionário Bolivariano na Venezuela. Relatório de Pós-Doutorado,

Universidade Federal de Santa Catarina, 2007. p. 1-60.

DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 10 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2006. p. 9-117.

ÁUREGUI, Luis Bravo. La educación en tiempos de Chávez. Una revisión crítica y académicamente orientada del proceso de la educación nacional a partir de 1999. Venezuela: El Nacional, 2006. p. 7-84.

VENEZUELA. Ministério da Comunicação e Informação. A Educação bolivariana. Caracas, 2005. Coleção Temas de Hoje. Disponível em: www.mci.gov.ve. Acesso em: out. de 2007.

VENEZUELA. Misión Ribas: Política Educativa de la Misión José Félix Ribas. Nueva etapa. Caracas: s/d. [documento1].

VENEZUELA. Ministério de Comunicación e Información. Las Misiones

Bolivarianas. Caracas, 2006a. (Coleccion Temas de Hoy).

VENEZUELA. Ministério de Educacíon y Deportes. Escuelas Bolivarianas: Avance cualitativo del proyecto. Caracas, 2006b.

VENEZUELA. Constitución de la República Bolivariana de Venezuela. Gaceta Oficial Extraordinário nº 5662 de 24 de septiembre. 2003.

VENEZUELA. Ministerio de Educación y Deportes. Escuelas Bolivarianas: Avance cualitativo del proyecto. Caracas, 2006b.

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