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USO DO CONHECIMENTO LOCAL SOBRE PLANTAS MEDICINAIS EM TRÊS ÁREAS RURAIS DA RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO (RBCV)

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Academic year: 2021

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USO DO CONHECIMENTO LOCAL SOBRE PLANTAS MEDICINAIS

EM TRÊS ÁREAS RURAIS DA RESERVA DA BIOSFERA DO

CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO (RBCV)

Cruz, B. B.1; Freitas, M. S.1; Pinto, P. R. C.1; Futemma, C. 1

¹ UFSCar, Campus Sorocaba. Rod. João Leme dos Santos, Km 110 - Sorocaba /SP. CEP: 18052-780.

e-mail: brunabotti@yahoo.com.br

RESUMO

O conhecimento local sobre o uso de plantas para fins medicinais apresenta grande importância etnobotânica, pois este é mantido pela oralidade e constitui muitas vezes o único recurso terapêutico disponível as populações autóctones. Assim, o presente trabalho buscou verificar as principais espécies e usos de plantas medicinais dentro da (RBCV). Foram aplicadas entrevistas seminestruturadas em três áreas rurais pertencentes à RBCV. No total foram encontradas 38 espécies pertencentes a 22 famílias, sendo Lamiaceae a mais bem representada. Em geral, o maior número de espécies foi indicado para doenças dos aparelhos digestivo e respiratório, assim como para lesões e também doenças do aparelho gênito-urinário, o que pode estar relacionado com a precariedade da infraestrutura, falta de saneamento básico e profilaxias. Em relação à riqueza total e de espécies exclusivas, foi possível observar um padrão decrescente em função da maior proximidade à zona urbana, o que pode estar associado com o grau de preservação dos remanescentes florestais, que é maior nas áreas mais isoladas, fornecendo uma variada gama de espécies vegetais. Além disso, nas áreas mais próximas aos centros urbanos há maior facilidade de acesso a médicos e fármacos e de meios de comunicação e divulgação, o que pode levar a perda do caráter utilitário do conhecimento popular. Por fim, destaca-se a necessidade de maiores estudos para investigar o papel dos diferentes grupos sociais que podem influenciar no conhecimento etnobotânico, e até contribuir para a perda da sua integridade.

Palavras-chave: Mata Atlântica; etnobotânica; grau de isolamento; caráter utilitário. INTRODUÇÃO

As populações humanas que habitam as florestas tropicais desenvolvem diversas formas de explorar a grande diversidade de ambientes e recursos para a sua sobrevivência (PINTO et al., 2006). Neste sentido, destaca-se o vasto conhecimento sobre o uso de plantas para fins medicinais destas sociedades tradicionais ou autóctones, o qual apresenta aspectos etnobotânicos de grande interesse, uma vez que estas informações são passadas de geração para geração, ou pelo convívio social (AMOROZO, 2002; ALBUQUERQUE, 2005).

O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico para muitas comunidades (PINTO et al., 2006). O uso de plantas no tratamento e na cura de enfermidades é muito antigo e ainda hoje, nas regiões mais pobres do país e até mesmo nas grandes cidades brasileiras, plantas medicinais são comercializadas em mercados populares, feiras e encontradas em quintais residenciais (MACIEL, 2002). De acordo com estimativas recentes da Organização Mundial da Saúde – OMS, 80% da população de países em desenvolvimento do mundo dependem da medicina tradicional e cerca de 90% da medicina tradicional envolve o uso de extratos de plantas, o que significa que aproximadamente de 3,5 a 4,0 bilhões de pessoas dependem destas plantas como fonte de medicamento (PAVAN-FRUEHAUF, 2000).

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Apesar de sua grade importância, a continuidade destes conhecimentos vem erodindo em função da maior exposição das comunidades às pressões econômicas e culturais das sociedades envolventes, maior acesso a medicamentos e grande deslocamento das pessoas de seus ambientes naturais para os centros urbanos, levando a perda do caráter utilitário do conhecimento popular (FONSECA-KRUEL & PEIXOTO, 2004). Além destas ameaças, é importante ressaltar que a pesquisa científica sobre o uso tradicional de plantas medicinais no Brasil é recente, sendo assim, pouco documentada e mantida, muitas vezes, apenas pela oralidade (PINTO et al., 2006).

Assim, o presente trabalho buscou verificar as principais espécies e usos tradicionais de plantas medicinais dentro da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo – RBCV, que abriga importantes remanescentes da Mata Atlântica na região sudeste do país (HANAZAKI, 2004; RODRIGUES et al., 2006), subsidiando identificar as principais espécies utilizadas para fins terapêuticos e avaliar a relevância destes conhecimentos para os entrevistados e as comunidades rurais em questão.

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado em três áreas rurais pertencentes à Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (Figura 1), duas localizadas no município de Ibiúna, sendo que a propriedade mais isolada está inserida na Bacia Hidrográfica do rio Paiol e a intermediária na do rio Murundú, já a terceira propriedade, mais próxima dos centros urbanos, está localizada no município de Ribeirão Pires, a 40 km da cidade de São Paulo.

A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde é constituída por 73 municípios e possui uma área de 1.540,032 hectares, sendo que 1.760,311 correspondem à áreas rurais. A formação vegetacional típica é Floresta Atlântica, principalmente Ombrófila Densa e Semidecidual nas áreas amostradas (RBCV, 2003).

As três áreas selecionadas foram selecionadas para o estudo, partindo-se do princípio de que constituem áreas rurais, e formam um gradiente em relação à proximidade com a zona urbana, sendo as propriedades localizadas em Ibiúna, as mais isoladas e a do município de Ribeirão Pires, a mais próxima.

Para a coleta de dados etnobotânicos foram realizadas entrevistas semi-estruturadas em três propriedades localizadas em áreas rurais da RBCV da Cidade de São Paulo. Este tipo de entrevista possui um roteiro mental acerca dos tópicos a serem seguidos, todavia permiti-se uma conversação entre o pesquisador e o entrevistado, o que, segundo Rodrigues (2007), pode ser muito útil em situações em que poderá não haver hipóteses de voltar a entrevistar as mesmas pessoas posteriormente.

As entrevistas foram realizadas nas propriedades que possuem jardins, canteiros ou hortas e onde foram encontrados habitantes que consentiram em participar da coleta de dados, buscando-se levantar as seguintes informações básicas: quais espécies vegetais são utilizadas para fins medicinais; os principais usos; com quem o entrevistado aprendeu o conhecimento; quem cuida das plantas; de onde elas são provenientes; se há troca de material na vizinhança/comunidade e se há algum ritual envolvido.

As informações foram registradas durante as entrevistas na forma de tópicos, em uma folha de papel simples, seguindo-se um roteiro e as plantas foram fotografadas.

Os dados foram analisados comparativamente entre as três propriedades amostradas, de forma que, fossem identificados padrões distintos entre o cultivo e uso das espécies em função do grau de isolamento em relação à área urbana.

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As espécies foram observadas em ambientes diversos, como quintais, roças e áreas de remanescentes. No total foram encontradas 38 espécies pertencentes a 22 famílias e; as famílias mais bem representadas foram Lamiaceae (seis espécies), que também foi mais representativa no trabalho de Moraes et al. (2005), o que pode estar relacionado com o caráter cosmopolita da família (TOLEDO et al., 2004), Asteraceae (cinco espécies) e Zingiberaceae (três espécies).

Em geral, o maior número de espécies foi indicado para doenças do aparelho digestivo e aparelho respiratório, em seguida, vêm as lesões e doenças do aparelho gênito-uninário. Resultados semelhantes têm sido registrados para outros locais, tanto no Brasil, quanto em outras partes da América Latina (MAHOPATRA et al., 1989; AMOROZO, 2002). Isto pode estar relacionado com precariedade da infraestrutura, falta de saneamento básico e profilaxias, o que torna a incidência de verminoses, contaminações alimentares e outros males comuns em zonas rurais (MAHOPATRA et al., 1989).

Em relação à riqueza de espécies, foi possível observar um padrão decrescente em função da maior proximidade à zona urbana. Neste sentido, a propriedade mais isolada (Bacia Hidrográfica do rio Paiol), apresentou 20 espécies, a intermediária (Bacia Hidrográfica do rio Murundú), 16 espécies e mais próxima (município de Ribeirão Pires), 9 espécies. Este fato pode relacionado com a maior facilidade de acesso a médicos e fármacos, além de meios de comunicação e divulgação, como a internet, nas áreas mais próximas a centros urbanos (FONSECA-KRUEL & PEIXOTO, 2004). Conforme aumentam as interferências externas, que geram conflitos entre os modos de pensar e agir tradicionais e as novas idéias e tecnologias, a tendência é que a riqueza de plantas utilizadas com fins terapêuticos se torne restrita às espécies cultivadas e às invasoras cosmopolitas (AMOROZO, 2002; PINTO et al., 2006).

Das 38 espécies levantadas, 14 espécies foram exclusivas à propriedade mais isolada, 9 à propriedade com proximidade intermediária da zona urbana e 7 da mais próxima da zona urbana. O grau de exclusividade pode ser explicado em função dos níveis de preservação dos remanescentes e do isolamento destes que dificulta o acesso e, consequentemente, o extrativismo predatório nestas áreas. Isso implica na maior disponibilidade de espécies nativas e variedades para o uso terapêutico destas populações mais isoladas em relação aos centros urbanos (PAVAN-FRUEHAUF, 2000).

Além disso, os habitantes das propriedades mais isoladas sobrevivem da agricultura de pequena escala, portanto não possuem renda fixa, tornando-os mais dependentes do uso dos recursos autóctones, uma vez que o acesso a medicamentos convencionais e médicos é financeiramente inviável muitas vezes, somado à dificuldade de locomoção a postos de saúde e farmácias (ALMEIDA et al., 2010).

Outro ponto importante detectado é referente à questão religiosa, pois nenhum entrevistado utiliza as espécies vegetais para fins ritualísticos, enxergando-os como práticas negativas, ocultistas e relacionando-as a magia. Entretanto, todos os entrevistados freqüentam assiduamente grupos religiosos, os quais consideram, muitas vezes, os “rituais”, práticas de conotação negativa. Por isso, sugere-se que maiores estudos sejam realizados de forma que, o resultado seja ratificado.

CONCLUSÕES

Pode-se, concluir, que as espécies utilizadas nas áreas rurais da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo são em sua maioria utilizadas para tratar males digestórios e respiratórios, em função da precariedade de infraestrutura e saneamento. Também, a riqueza de espécies apresenta um padrão decrescente em função à maior proximidade com a zona urbana, que promovem a modificação dos usos dos recursos

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naturais, e da menor dependência dos usos tradicionais das espécies, uma vez que, o acesso a médicos e medicamentos é facilitado. Por fim, destaca-se a necessidade de maiores estudos para investigar o papel dos diferentes grupos sociais que podem influenciar no conhecimento etnobotânico, e até contribuir para a perda da integridade deste.

AGRADECIMENTOS

Aos entrevistados, que nos receberam da melhor forma possível, pela troca de conhecimentos, amizade e hospitalidade nos trabalhos de campo.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à Etnobotânica. Rio de Janeiro: Ed. Interciência, 2ª. Ed. 2005.

ALMEIDA, C. F.C. B. R.; RAMOS, M. A.; AMORIM, E. L. C.; ALBUQUERQUE, U. P. A comparison of knowledge about medicinal plants for three rural communities in the semi-arid region of northeast of Brazil. Journal of Ethnopharmacology, n.127, p.674-684. 2010. FONSECA-KRUEL, Viviane Stern da; PEIXOTO, Ariane Luna. Etnobotânica na Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica, São Paulo, v. 18, n. 1. 2004. Disponível

em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-33062004000100015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 07 Jun. 2010.

HANAZAKI, N. Etnobotânica. In BEGOSSI, Alpina (org.). Ecologia de Pescadores da Mata

Atlântica e da Amazônia. São Paulo: Ed. Hucitec. NEPAM/UNICAMP, NUPAUP/USP,

FAPESP, 2004.

INSTITUTO FLORESTAL. Centro de Referência em Informação Ambiental. Mapa de Zoneamento da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo. 2004. Disponível em: < http://www.rbma.org.br/mab/unesco_03_rb_cinturao.asp> Acesso em: 31 Mai. 2010.

MACIEL, M. A. M., PINTO, A. C. & VEIGA Jr., V. F. Plantas Medicinais: A Necessidade de Estudos Multidisciplinares. Química Nova, v. 25, n.3. São Paulo. Maio 2002.

MOHAPATRA, S. C.; MOHAPATRA, P.; SINGH, I. J.; GAUR, S. D. Epidemiology of gastro-intestinal and respiratory tract diseases in rural áreas of varanasi (India). European Journal of Epidemiology, v. 5, n.1. 1989

MORAIS, S. M.; DANTAS, J. D. P.; SILVA, A. R. A.; MAGALHÃES, E. F.. Plantas medicinais usadas pelos índios Tapebas do Ceará. Revista Brasileira de Farmacognosia, João Pessoa, v. 15, n. 2. 2005.

PAVAN-FRUEHAUF, S. Plantas Medicinais de Mata Atlântica: Manejo Sustentado e Amostragem. São Paulo. Ed. Annablume, FAPESP, 2000.

PINTO, E. P. P.; AMOROZO, M. C. M.; FURLAN, A. Conhecimento popular sobre plantas medicinais em comunidades rurais de mata atlântica - Itacaré, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v.20, n.4, pp. 751-762. 2006.

RODRIGUES, E. A.; VICTOR, R. A. B. M.; PIRES, B. C. C. A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo como marco para a gestão integrada da cidade, seus serviços ambientais e o bem estar humano. Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 71-89, 2006.

RODRIGUES, J. S. C. Estudo etnobotânico das plantas aromáticas e medicinais. In:

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Aromáticas e Medicinais. Curso Teórico-Prático, pp. 168-174, 3ª Ed., Edição da Faculdade

de Ciências da Universidade de Lisboa - Centro de Biotecnologia Vegetal, Lisboa, Portugal. TOLEDO, M. G. T. de; ALQUINI, Y.; NAKASHIMA, T.. Caracterização anatômica das folhas de Cunila microcephala Benth. (Lamiaceae). Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, v. 40, n. 4. 2004.

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