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Saúde Coletiva ISSN: Editorial Bolina Brasil

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ERLACH GOLDMAN, ROSELY; DA SILVA SANTOS, ÁLVARO Reflexões sobre a epidemia e transmissão vertical do HIV no Brasil

Saúde Coletiva, vol. 3, núm. 10, 2006, pp. 58-62 Editorial Bolina

São Paulo, Brasil

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58 Saúde Coletiva 2006;03(10):58-62

R

OSELY

E

RLACH

G

OLDMANObstetra. Mestre e

Doutora em Enfermagem. Disciplina Enfermagem Obstétrica da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/EPM

Á

LVARODA

S

ILVA

S

ANTOSEnfermeiro Sanitarista. Mestre em Administração em Serviços de Saúde. Doutor em Ciências Sociais. Professor da Universidade Anhembi Morumbi e Universidade Nove de Julho. Líder do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e da Família (NESCOF) – UNINOVE

Recebido: 05/01/2006 Aprovado: 12/05/2006

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Reflexões sobre a epidemia e transmissão

vertical do HIV no Brasil

Este estudo contempla uma revisão bibliográfica sobre a in-fecção pelo HIV no Brasil, as mudanças no perfil epidemiológi-co e suas repercussões no progressivo crescimento das taxas de transmissão vertical do HIV. Inicialmente, as pessoas in-fectadas eram jovens, homossexuais ou bissexuais masculinos e alguns usuários de drogas injetáveis. Hoje, a população mais afetada encontra-se em idade reprodutiva e a relação é de um homem para uma mulher. As políticas de saúde e as condu-tas adotadas, frente a este grave comprometimento da saúde pública brasileira também são analisadas, sobretudo, o com-bate à transmissão vertical do HIV. A prevenção e tratamento da gestante soropositiva e do recém-nascido para redução da carga viral materna, cuidados específicos no trabalho de parto e intraparto, e a supressão do aleitamento materno, levam à diminuição da transmissão vertical, evidenciando adequada assistência à mãe e seu filho.

Descritores: Transmissão vertical, HIV, Gestação.

This study contemplates a bibliographical review about the HIV infection in Brazil, the changings in the epidemiological profile and its repercussions in the progressive growth of rates of HIV vertical transmission. Initially, the infected people were young, homosexuals or bisexual masculine and some users of injected drugs. Today, the most affected population is in the reproductive age and the close alliance is of one man for one woman. The politics of health and the adopted conducts face to this record problem of the brazilian public health are also analyzed, above all, the combat to the vertical transmission of HIV. The preven-tion and treatment of the soropositive pregnant woman and the newly born for the reduction of the maternal viral load, specific cares during labour and intrapartum, and the suppression of the breastfeeding, decrease the vertical transmission, evidencing an appropriate attendance to the mother and her son.

Descriptors: Vertical transmission, HIV, Pregnancy. Este estudio contempla una revisión bibliográfica sobre la infec-ción por el VIH en Brasil, los cambios en el perfil epidémico y sus repercusiones en el crecimiento progresivo de las propor-ciones de transmisión vertical de VIH. Inicialmente, las personas infectadas eran jóvenes, homosexuales o bisexuales masculinos y algunos usuarios de drogas inyectables. Hoy, la población más afectada se encuentra en edad reproductiva y la relación es de un hombre para una mujer. Las políticas de salud y las conductas adoptadas frente a este grave comprometimiento de la salud pública brasileña también son analizadas, sobre todo, el combate a la transmisión vertical del VIH. La prevención y

trata-miento de la mujer embarazada soropositiva y del recién nacido para reducir la carga viral materna, cuidados específicos en el trabajo de parto y intraparto y la interrupción del amamanta-miento maternal causan disminución de la transmisión vertical, con asisténcia adecuada a la madre y a su hijo.

Descriptores: Transmisión vertical, VIH, Gestación.

INTRODUÇÃO

A

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) apresenta-se como uma pandemia, cuja descoberta levou a humani-dade a profundas transformações comportamentais, tanto no aspecto individual como coletivo. Em 1981, ocorreu sua identi-ficação como uma infecção por meio do vírus da imunodefici-ência humana que apresenta caráter mundial. Sua expansão e controle mostram-se instáveis e de difícil controle.

A ameaça da epidemia do HIV em qualquer sistema de saú-de posaú-de ser compreendida pela dimensão dos danos causados às populações, não só no aspecto humano, mas, socioeconômi-co. A gravidade assume proporção hercúlea frente à impossibi-lidade de se encontrar uma solução terapêutica biológica defi-nitiva, restringindo os alicerces ao combate de sua propagação aos mecanismos pedagógicos de formação e desenvolvimento comportamental do ser humano.

A estimativa de cinco milhões de novos portadores do HIV no ano de 2005 mostra uma das maiores elevações nas taxas registra-das desde 1981, com um número total de 40,3 milhões de pesso-as infectadpesso-as. Estes dados foram revelados pelo relatório anual da UNAIDS, órgão da ONU responsável pelo combate à doença1.

Na América Latina, em 2005, 1,6 milhões de pessoas por-tadoras do vírus HIV foram afetadas, com aumento de 300 mil novos casos em relação a 2003. No Brasil, registraram-se 362.364 casos de AIDS até junho de 2004, com 69% dos sos masculinos. Em 2003, a taxa de incidência foi de 18,4 ca-sos por 100 mil habitantes, discretamente menor à taxa veri-ficada em 1999, de 19,5 casos por 100 mil habitantes. Entre os homens, a taxa apresentou uma tendência de estabilização variando de 26 casos por 100 mil, em 1998, a 22 casos por 100 mil homens, em 2003. Nas mulheres, a tendência tem sido crescente, com a maior taxa observada, em 2003, de 14 casos por 100 mil mulheres2.

O aspecto preocupante é a predisposição ao crescimento da epidemia em todas as áreas do País, exceto a região Sudeste, embora a maior concentração de casos esteja justamente nesta região, com incidência de 24,6 casos por 100 mil habitantes. Esta região foi a mais atingida pela epidemia de AIDS, tendo

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al-60 Saúde Coletiva 2006;03(10):58-62 cançado uma incidência de 29,4 casos por 100 mil habitantes

em 1998. Desde então, observa-se uma redução gradativa das taxas de incidência1,2.

No Brasil, a epidemia revela uma mudança marcante em seu perfil epidemiológico intrinsecamente relacionado ao perfil de-sigual entre as diversas camadas sociais. A concentração inicial se dava em áreas cosmopolitas como São Paulo e Rio de Janeiro, em comunidades predominantemente jovens, masculinas e com perfil homossexual, além de indivíduos hemofílicos sofre um processo de transformação pelo fenômeno do empobrecimento da população, além do avanço ao interior do País3,4,5.

O aumento na transmissão heterossexual levou a uma di-nâmica diferenciada, com expressiva elevação dos casos em mulheres, sobretudo jovens e com baixa renda e escolaridade. Atualmente a população mais afetada encontra-se em idade re-produtiva, entre adultos de 18 a 24 anos e com proporção de um homem para uma mulher4,5.

POLÍTICAS DE SAÚDE

A infecção pelo vírus HIV trouxe para debate questionamentos fundamentais para toda a sociedade concernente aos padrões de moralidade, ética e relacionamentos interpessoais.

A doença é envol-ta de estigmas, mitos e preconceitos morais e sociais intensos in-fluenciando o aspecto emocional, as relações familiares, afetivas, so-ciais e profissionais do individuo soropositivo.

Apesar do amplo conhecimento das di-versas formas de trans-missão, observa-se o receio na simples apro-ximação e contato com o portador do vírus, re-forçando a necessida-de necessida-de intenso trabalho educacional para aper-feiçoamento no cuida-do cuida-do ser humano, fra-gilizado, além do constante esforço para sua prevenção.

Neste quesito, a conscientização das pessoas é importante para a própria suscetibilidade e necessidade de modificar for-mas comportamentais que favoreçam a transmissão do vírus6.

O fator expõe um dos componentes mais difíceis de serem abordados, pois envolve a subjetividade nos relacionamentos socioeconômicos, culturais e psicológicos. Esta individualidade requisita distinta forma de análise às necessidades imprescindí-veis de saúde e equilíbrio.

O conhecimento exato da distribuição e disseminação da in-fecção pelo HIV são de fundamental importância para adequar os diversos programas de prevenção e controle do HIV/AIDS.

Em nosso País, a epidemia atingiu, inicialmente, os segmen-tos sociais mais favorecidos, em indivíduos com mais de oito anos de escolaridade. Utilizando o fator escolaridade como

in-dicador socioeconômico, percebe-se que desde o início da dé-cada de 1990, os homens com maior escolaridade apresentam uma redução nas taxas de incidência e aumento significativo, do que aqueles com menos de oito anos de estudo. Nas mulhe-res, a expansão dos casos ocorre indistintamente quanto à con-dição socioeconômica, porém, com maior incidência naquelas com menos de oito anos de estudo7.

O aumento da infecção entre as mulheres em idade repro-dutiva decorrente da mudança do perfil epidemiológico condu-ziu ao progressivo crescimento das taxas de transmissão verti-cal do HIV no País, responsáveis por altos índices de casos de AIDS entre os indivíduos menores de 13 anos5.

O Ministério da Saúde mostra que 95% das gestantes têm pelo menos uma consulta de pré-natal. Embora a porcentagem seja alta, apenas 65% das mulheres foram submetidas ao teste anti-HIV, em 2002. Só 52% dos casos receberam o resultado antes do parto, índice que se elevou para 57%, em 2003. As diferenças regionais também são observadas, pois apenas 44% das gestantes nas regiões Norte e Nordeste realizaram o teste em 2002, com 24% conhecendo o resultado antes do parto8.

A BUSCA DE SOLUÇÕES

As políticas governamentais procuram incentivar a descen-tralização das ações e projetos em DST e HIV/AIDS junto aos governos estaduais e municipais, por meio de suas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, além de projetos com organi-zações comunitárias, setor privado e outras formas organizati-vas da sociedade civil e a cooperação técnica com organismos internacionais. Um aspecto importante para o combate à epide-mia deve ser à busca do desenvolvimento tecnológico com in-vestimentos em pesquisa para aquisição de novas tecnologias7.

O governo também busca garantir a disponibilidade de me-dicamentos e de outros insumos médicos a preços acessíveis, em face da dependência exclusiva do mercado brasileiro dos fornecedores internacionais de matérias-primas e de alguns bens necessários.

O Plano de Ações e Metas (PAM) consiste no programa ocial elaborado, anualmente, abrangendo a proposta física e fi-nanceira para o combate a DST/HIV. Baseado no diagnóstico e na situação atual dessas doenças, o programa tem o objetivo de fornecer resultados pelo Projeto de Combate e consolidar as metas alcançadas9.

O período gestacional é um importante fator para o diagnós-tico, tratamento das mulheres soropositivas com drogas anti-re-trovirais, prevenção na transmissão vertical, além da orientação ao aleitamento materno e práticas sexuais seguras.

O Comitê Assessor para Recomendações de Profilaxia da Transmissão Vertical do HIV e Terapia Anti-retroviral em Ges-tantes reunido em outubro de 2003 elaborou as Recomenda-ções de Terapia Anti-Retroviral (TARV) e as demais condutas relacionadas à profilaxia da transmissão vertical do HIV. O documento teve como alicerce conhecimentos científicos dis-poníveis e a participação de especialistas na área, levando em consideração as condições de implementação destas orienta-ções no Sistema Único de Saúde (SUS)8.

A transmissão perinatal do vírus HIV pode ocorrer durante a gestação, principalmente nas últimas semanas de gestação, intra-útero por via transplacentária (35%), porém a maior parte dos

"A AIDS APRESENTA-SE

COMO UMA PANDEMIA,

CUJA DESCOBERTA LEVOU A

HUMANIDADE A PROFUNDAS

TRANSFORMAÇÕES

COMPORTAMENTAIS".

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casos de transmissão vertical do HIV ocorre durante o trabalho de parto e no intraparto, provavelmente, pela exposição mucocutâ-nea da criança ao sangue ou secreção cer-vicovaginal materna (65%). No puerpério, a transmissão ocorre pelo aleitamento mater-no. Affonso et al10 citando Burrow, apon-tam que o HIV pode ser transmitido da mãe para a criança, dentre outras vias pela ama-mentação, o que deve ser trabalhado pelos profissionais de saúde, já que isto pode cau-sar tristeza e outros sentimentos á mãe.

A carga viral elevada e a ruptura prolon-gada das membranas amnióticas constituem importantes fatores na transmissão vertical do HIV11. Na gestação, o diagnóstico

preco-ce da infecção pelo HIV é de suma impor-tância na tentativa de reduzir a transmissão perinatal. O Ministério da Saúde recomenda

a realização do teste anti-HIV no período pré-natal para toda gestante, independente da situação de risco da mulher para a in-fecção pelo HIV12.

Deve-se ressaltar que este teste é voluntário, confidencial e após o consentimento da mulher. O exame proposto deve se-guir as recomendações do Ministério da Saúde, utilizando dois antígenos diferentes. NA ocorrência de resultado reagente ou indeterminado em um ou nos dois testes dessa amostra, deve-se obter uma deve-segunda amostra. Os resultados reagentes na deve- se-gunda amostra são confirmados pelo Western Blot12.

Estudos mostram que a taxa de transmissão vertical do HIV, sem qualquer intervenção, ocorre em torno de 20%12. Mas, o

emprego de anti-retrovirais combinados, associados à cesaria-na eletiva e uma carga viral menor do que 1.000 cópias/ml ao final da gestação promovem uma redução da transmissão verti-cal do HIV para níveis entre zero e 2%.

O uso de terapia anti-retroviral combinada é capaz de re-duzir significativamente a carga viral plasmática do HIV para níveis indetectáveis13. Vários medicamentos anti-retrovirais

po-dem ser utilizados como a zidovudina, a lamivudina e a ne-virapina que apresentam excelente passagem transplacentária. A didanosina também atravessa a placenta, porém, em menor grau. Os inibidores de protease também alcançam baixos ní-veis de concentração no cordão umbilical.

O uso da zidovudina (AZT) é recomendado pelo AIDS Cli-nical Trials Group (PACTG 076) durante a gestação na dose de 500 a 600 mg via oral diariamente a partir da 14ª semana até o parto; durante o trabalho de parto e parto em dose de 2 mg/kg EV em 60 minutos, seguido por 1mg/kg até o clampeamento do cordão e AZT para o neonato deve incluir 2 mg/kg VO de 6/6 horas, por seis semanas, devendo ser iniciado 8 a 12 horas após o nascimento, no máximo 24 horas, o que leva a uma re-dução na transmissão vertical do HIV em 67,5%,8,14.

A eficiência na utilização da zidovudina na redução da trans-missão vertical foi observada em pesquisas realizadas nos Esta-dos UniEsta-dos, Europa, África e Ásia, mesmo quando esta medica-ção é usada tardiamente na gestamedica-ção, inclusive, quando prescrita apenas para o recém-nascido, até 48 horas após o nascimento15.

Quando comparada aos outros anti-retrovirais, a resistência

a zidovudina ocorre lentamente, sobretu-do quansobretu-do associada à elevada carga viral. Além disso, a redução da transmissão verti-cal do HIV com o uso de zidovudina ocorre independente do nível de carga viral, mes-mo em mulheres com carga viral menor de 1.000 cópias/ml15.

A instituição de protocolos para diag-nóstico e tratamento das gestantes soropo-sitivas conseguiu reverter à tendência de expansão verificada até o inicio da déca-da de 1990, reduzindo as taxas de trans-missão vertical para 7%. Apesar disso, a discrepância entre as regiões do Brasil novamente é observada, já que os percen-tuais de transmissão vertical do HIV per-manecem ainda maiores nas regiões Norte (15%) e Nordeste (11%)8.

A avaliação de mulheres que recebem TARV (Terapia Anti-Retroviral) combinada e potente mostra que as taxas de transmissão são muito baixas. Desta forma, a trans-missão vertical do HIV é baixa quando esquemas anti-retrovirais potentes são utilizados, pois reduzem drasticamente a carga viral materna do HIV.

As gestantes infectadas pelo HIV devem receber a profilaxia com drogas anti-retrovirais e a zidovudina deverá fazer parte de qualquer esquema terapêutico que venha a ser adotado para a gestante HIV positiva. A orientação de tratamento e não apenas de profilaxia dependerá de critérios clínicos e laboratoriais.

O questionamento sobre a via de parto e os cuidados intra-parto devem ser levados em consideração, pois podem gerar du-vidas quanto a melhor conduta a ser seguida nesse momento.

Estudos randomizados sobre a opção do parto cesárea de-monstram um fator protetor na transmissão vertical do HIV16;

com sua redução em até 50%. Quando associado à administra-ção de AZT na gravidez, esta taxa poderá aumentar para 87% na diminuição do risco de transmissão do vírus17.

Alguns serviços especializados no atendimento às mulheres HIV positivas preconizam a realização de cesárea eletiva nas gestações com 38 semanas completas, membranas integras e fora de trabalho de parto. O respeito ao livre direito da pa-ciente na decisão quanto à preferência do tipo de parto deve ser sempre atendido, após uma adequada orientação dos co-nhecimentos atuais sobre a transmissão vertical. Esta indicação acompanha a orientação do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologista a fim de diminuir a probabilidade do início de trabalho de parto ou a rotura das membranas18.

O monitoramento da contagem de CD4 e a quantificação da carga viral nas gestantes portadoras do HIV associados ao uso de medicamento anti-retroviral na gestação, além de uma adequada avaliação da situação clínica e obstétrica da mulher é decisiva para a opção da melhor via de parto18.

Os exames devem ser realizados no início do pré-natal e, pelo menos, no período próximo ao parto entre a 32ª e 36ª semana, sen-do recomendasen-do o parto cesárea nas mulheres soropositivas com carga viral acima de 1000 cópias ou carga viral desconhecida8.

O parto cesárea deve ser realizado utilizando a técnica “sem sangue” (bloodless) com a cauterização sistemática dos

"O CONHECIMENTO EXATO DA

DISTRIBUIÇÃO E DISSEMINAÇÃO

DO HIV SÃO DE FUNDAMENTAL

IMPORTÂNCIA PARA ADEQUAR OS

DIVERSOS PROGRAMAS

DE PREVENÇÃO E CONTROLE

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62 Saúde Coletiva 2006;03(10):58-62 vasos sangüíneos, procedendo sempre que possível no parto

a retirada do neonato, mantendo a bolsa das águas íntegras, e trocando os campos secundários antes da realização da his-terotomia para reduzir a quantidade de secreções com a qual o recém nascido irá entrar em contato. A ligadura do cordão umbilical, sem ordenha, deverá ser feita imediatamente após a expulsão do recém-nascido18.

No parto vaginal procede-se a administração de AZT mesmo nas mulheres que não receberam AZT oral na gestação, utili-zando AZT injetável no trabalho de parto e parto, até o clam-peamento do cordão umbilical. Neste caso, também, deve ser ligado o cordão umbilical, sem ordenha, imediatamente, após a expulsão do recém-nascido. A episiotomia deve ser evitada sempre que possível17,18.

No trabalho de parto, as condutas intervencionistas como amniocentese, cordocentese, amniotomia, escalpo cefálico, uso de fórceps e vácuo-extrator devem ser evitados em decorrência do aumento de morbidades. A manutenção da integridade da bolsa d’água até o período expulsivo é a mais adequada17,18.

Nas gestantes em trabalho de parto prolongado ou com mem-branas rotas em período maior que quatro horas, deve ser ini-ciado imediatamente o AZT endovenoso, devendo ser indicado o uso de ocitócitos para corrigir a dinâmica uterina e reduzir o tempo de trabalho de parto. Estas medidas são necessárias, pois a taxa de transmissão aumenta progressivamente após quatro ho-ras de bolsa rota, em torno de 2% a cada hora até 24 hoho-ras7,18.

Nos cuidados neonatais, procede-se a aspiração delicada e não traumática das vias aéreas, evitando traumatismos de mucosas, além do banho imediato com água e sabão para a retirada de toda e qualquer secreção materna que, eventualmente, tenha entrado em contato com seu tegumento. O neonato deverá receber zido-vudina após o parto, solução oral, na dose de 2 mg/kg a cada 6 horas, por seis semanas, iniciando com seis a oito horas de vida7.

O uso de zidovudina pelo recém-nascido poderá provocar anemia, sendo recomendada a realização de hemograma com-pleto para o monitoramento da criança no inicio do tratamento

e após 6 e 12 semanas8.

A criança deve receber quimioprofilaxia para pneumonia pelo Pneumocystis carinii, com sulfametoxazol e trimetoprima na dosa-gem de 750mg m2/dia, divididos em duas doses diárias, três vezes

por semana, ou em dias consecutivos a partir da sexta semana de vida até a definição do diagnóstico da infecção pelo HIV8.

O aleitamento materno eleva o risco de transmissão em 7% a 22%, sendo assim é contra-indicado, além do aleitamento cruzado (amamentação por outra mulher) e o uso do leite ma-terno com pasteurização domiciliar. A lactação pode ser inibi-da utilizando mediinibi-das clínicas como enfaixamento inibi-das mamas, compressas geladas e, eventualmente, um inibidor da lactação. A criança deverá ficar com sua mãe em alojamento conjunto e esta deve receber orientações para a realização de sexo seguro com uso de preservativos7.

CONCLUSÃO

A responsabilidade e a atenção contínua devem ser, parte da po-líticas públicas e de toda a equipe multidisciplinar, no combate a epidemia da DST/AIDS, especialmente, à gestante soropositiva para que se produza resultados efetivos. Goldman19 cita que os

profissionais de saúde envolvidos na assistência a mulher devem possuir uma visão integral de suas necessidades inseridas em uma sociedade complexa e exigente, cuja abordagem deve ser estruturada em princípios básicos como a integralidade e a uni-versalidade do atendimento, além da igualdade entre as pessoas. O aumento progressivo da participação da mulher por meio das transmissões heterossexuais teve repercussão direta na transmissão da mãe soropositiva para seu filho no período gestacional, parto ou aleitamento materno. Desta forma, o esforço para o combate à epidemia da AIDS deve ser constante e abrangente.

A prevenção e tratamento com a diminuição da carga viral materna, cuidados específicos no trabalho de parto e intraparto, assim como a orientação da puérpera e do recém-nascido pro-movem uma efetiva queda na transmissão vertical evidenciando uma adequada assistência à mãe e seu filho.

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