Composição Botânica da Dieta de Bovinos nos Relevos Côncavo e Convexo, em
Pastagem Natural de Viçosa - MG
Maristela de Oliveira Bauer1, Domício do Nascimento Júnior2, Adair José Regazzi3, Eldo Antônio Monteiro da Silva4
RESUMO - O experimento foi conduzido em dois relevos, côncavo e convexo, de uma pastagem natural da UFV - MG. As amostras de fezes e da pastagem foram realizadas nos meses de julho, agosto e setembro de 1994 (período seco) e em dezembro de 1994, janeiro e fevereiro de 1995 (período chuvoso). A matéria seca total disponível foi estimada pelo método do rendimento comparativo e a composição botânica, pelo método peso seco por posto (BOTANAL). A composição botânica da dieta dos animais, determinada pelo método microhistológico, foi semelhante entre os relevos, entretanto, os animais manifestaram preferência estacional por gramíneas. O capim-gordura (Melinis minutiflora Pal. de Beauv) foi o principal componente da dieta dos animais, 44% na área côncava e 37% na área convexa (período chuvoso) e 24 e 26% (período seco), respectivamente. A participação do capim-sapé (Imperata brasiliensis Trin.) na dieta durante o período seco foi superior ao período chuvoso (5 e 3%) nos dois relevos. O capim-rabo-de-burro (Andropogon bicornis L.) apresentou maior participação no relevo côncavo, para os períodos seco e chuvoso (8 e 5%). As dicotiledôneas foram altamente selecionadas no período seco. O capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa (Ness), Staph), apresentou baixa participação (< 1%) no pasto. O componente “outras gramíneas” exibiu seleção consistente.
Palavras-chave: composição botânica, composição botânica da dieta, técnica microhistológica
Botanical Composition of the Diet of Cattle on the Concave and Convex Reliefs of a
Natural Pasture at Viçosa - MG
ABSTRACT - An experiment was realized on the concave and convex reliefs of a natural pasture at UFV, Minas Gerais. Samples of the feces and pasture were collected during the months of July, August and September of 1994 (dry period) and in December of 1994, January and February of 1995 (rainy period). The total dry matter available was estimated by the comparative yield method, and the botanical composition by the dry weight method, using the BOTANAL procedure. The botanical composition of the animals diet determined by microhistological technique, was similar between the reliefs, and animals showed a seasonal preference for the grasses. Molasses grass (Melinis minutiflora Pal. de Beauv) was the principal component of the animals diet, 44% in the concave area and 37% in the convex area (rainy season), and 26 and 24% (dry season), respectively. The participation of the sapegrass (Imperata brasiliensis Trin.) in the diet during the dry period was superior to that in the rainy period (5 and 3%), in both reliefs. The rabo-de-burro grass (Andropogon bicornis L.) showed a major participation on the concave relief for the dry and rainy periods (8 and 5%). The shrubs were highly selected in the dry period. Jaragua grass (Hyparrhenia rufa (Ness), Staph) presented a lower participation (<1%) in the pasture. The component, “other grasses”, were consistently selected by animals.
Key Words: botanical composition, botanical composition of the diet, microhistological technique
Introdução
Pesquisas que envolvem interações entre animais e pastagens requerem a realização de avaliações mais específicas. HEADY (1964) chamou a atenção para a importância de se conhecer a preferência alimentar dos diversos animais herbívoros e as conseqüências ecológi-cas desta seleção, para a população de plantas e animais.
O conhecimento do hábito alimentar dos herbívo-ros permite, fundamentalmente, escolher a pastagem adequada aos diferentes tipos de herbívoros, selecio-nar os tipos de animais de acordo com o recurso forrageiro disponível e a espécie para ressemeadura em pastagens depauperadas, estimar a possibilidade de sobre-pastejo por diferentes espécies de animais e identificar novas espécies em que se basear o manejo 1Estudante de Doutorado/UFV.
2Professor do Departamento de Zootecnia/UFV. 3Professor do Departamento de Informática/UFV. 4Professor do Departamento de Botânica da UFV.
mento recomendado por Scott e Dahl (1980), citados por DUARTE et al. (1991).
No processo de montagem, utilizaram-se a solu-ção de Hoyer (BAKER e WHARTEN, 1952) e a clareadora de Hertwig (BAUMGARTNER e MARTIN, 1939). Foram preparadas cinco lâminas de cada amostra e analisaram-se vinte campos de obser-vações por lâmina, por meio de um microscópio binocular com aumento de 125 vezes. Em cada cam-po, encontraram-se de 1 a 10 fragmentos identificáveis. A porcentagem em peso de cada componente foi obtida pela seguinte relação (DUARTE et al.,1991): % = Freqüência de cada componente
Σ das freqüências de todos os componentes identificados Devido ao número de espécies, optou-se pelo destaque do capim-gordura (Melinis minutiflora Pal. de Beauv), capim-sapé (Imperata brasiliensis Trin.), capim-rabo-de-burro (Andropogon bicornis L.), ca-pim-jaraguá (Hyparrhenia rufa (Ness) Staph), gra-ma-batatais (Paspalum notatum Flugge), por agrupa-mentos das ciperáceas (Cyperus spp), “outras gramíneas” e dicotiledôneas. Dentre estes grupos, as dicotiledôneas foram constituídas pelos padrões de ervas e arbustos e o grupo “outras gramíneas” cons-tituiu-se de todos os padrões epidérmicos de gramíneas diferentes dos padrões dos componentes graminóides citadas anteriormente.
A estimativa da produção de matéria seca total do pasto foi avaliada mensalmente pelo método do Rendi-mento Comparativo e a composição botânica, pelo mé-todo do Peso Seco Ordenado, testado para as condições de Viçosa-MG, por PACHECO et al. (1987) e DIOGO et al. (1988). Os dados foram processados pelo progra-ma BOTANAL (HARGREAVES e KERR, 1978).
Para estimar a palatabilidade relativa de cada espécie na dieta, calculou-se o índice de seleção obtido pela proporção do componente na dieta, divi-dido pela proporção deste na pastagem, de acordo com a expressão proposta por Hodgson (1979), des-crita por TORREGROZA S. et al. (1993).
A análise estatística de cada componente da dieta foi feita por meio do seguinte modelo:
Yijk = µ + Ei + Mj(i) + ∈k(ij), com i = 1,2; j = 1,2 e 3; k = 1,2 e 3, em que
Yijk = observação referente ao animal k, no mês j, dentro da época i;
µ = média geral; (HOLECHEK et al., 1982). Assim, têm-se buscado
métodos rápidos, precisos e baratos para determinar a composição botânica da dieta dos animais. Apesar de existirem várias técnicas envolvidas nessa determina-ção, o êxito dessas análises depende basicamente de um método aplicável a cada condição em particular.
Dentre os métodos utilizados, a análise fecal, por meio da técnica microhistológica, tem recebido aten-ção especial por parte dos pesquisadores (CROKER, 1959; STORR, 1961; FREE et al., 1970; BÓO et al., 1993; e BARTOLOME et al., 1995), pela sua facili-dade de utilização, em razão de não interferir no comportamento dos animais e permitir amostragem praticamente ilimitada, por requerer pouco equipa-mento, permitir comparar a dieta de dois ou mais animais ao mesmo tempo e por ser um método muito eficiente quando se pretende avaliar a dieta animal em comunidades mistas.
Os objetivos deste trabalho foram determinar a composição botânica da dieta de bovinos, em condições de pastejo, utilizando-se a técnica microhistológica; comparar a composição botânica da dieta dos animais obtida nos relevos côncavo e convexo; e avaliar a seletividade exercida pelos animais, em relação à composição botânica da forragem disponível na pas-tagem.
Material e Métodos
O trabalho foi conduzido em área de pastagem natural, pertencente ao Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, localizada no Campus Universitário, com aproximadamente 8 ha. Essa área foi roçada, adubada e diferida por um ano; em seguida, subdividida de acordo com os segmentos do relevo do local (REZENDE et al. 1972), côncavo e convexo, descritos por PIMENTEL et al. (1982).
As amostras de fezes foram coletadas utilizando-se utilizando-seis animais mestiços holandês/zebu de aproxima-damente 300 kg, com idade em torno de 18 meses, visto que três animais ficaram na área convexa e três na área côncava. A coleta foi feita diretamente no reto do animal, após um período de adaptação de cinco dias, na segunda semana de cada mês, durante cinco dias consecutivos, compreendendo os meses secos (julho, agosto e setembro de 1994) e os chuvosos (dezembro de 1994, janeiro e fevereiro de 1995). Foi realizada uma amostra composta para cada animal em cada mês, acondicionando-as em vidros contendo álcool absoluto com aproximadamente 200 gramas e posteriormente analisadas de acordo com
Tabela 1 - Comparações da composição botânica da dieta dos animais (%) entre os relevos côncavo e convexo
Table 1 - Comparison of the botanical composition of the animal diet between the concave and convex reliefs
Componente Relevo côncavo Relevo convexo Comparação
Component Concave relief Convex relief Comparison
Capim-gordura 34,04 31,57 N S Capim-rabo-de-burro 6,21 2,58 * Capim-sapé 4,41 3,81 N S Capim-jaraguá - 1 - -Grama-batatais 0,69 2,66 * Outras gramíneas Others grasses 28,81 32,18 N S Dicotiledôneas 25,24 26,55 N S Ciperáceas 0,49 0,54 N S
* Diferença significativa (P<0,05) pelo teste F ( Significant difference (P<.05) by F test).
NS Diferença não-significativa pelo teste F (NS - Non - Significant difference by F test).
1 Não-incluídos na análise estatística (Not included in the statistical analysis).
que a respectiva divisão era significativamente dife-rente de 1, podendo ser maior que 1, caracterizando seletividade, ou menor que 1, caracterizando rejeição. Para avaliar o efeito do relevo e suas interações, efetuou-se a análise de variância conjunta dos dados da dieta utilizando-se o seguinte modelo estatístico: Yijkl = µ + Ri + Ej + (M/E)k(j) + REij + R(M/E)ik(j) + ∈l(ijk) com i = 1, 2; j = 1, 2; k = 1, 2 e 3; l = 1, 2 e 3; em que
Yijkl = observação referente à avaliação l, no relevo i, na época j, no mês k;
µ = média geral; Ri = efeito do relevo i; Ej = efeito da época j;
(M/E)k(j) = efeito do mês k dentro da época j; REij = efeito da interação relevo vs época; R(M/E)ik(j) = efeito da interação relevo vs mês dentro da época; e
∈l(ijk) = erro aleatório associado à observação Yijkl, suposto normal e independentemente distribuído com média zero e variância σ2.
Foi admitido o modelo fixo, isto é, somente o erro
∈l(ijk) como aleatório e, assim, no teste F, todas as fontes de variação tiveram como denominador o quadrado médio do resíduo. As médias para o fator mês foram comparadas pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Os resultados da comparação da composição botânica da dieta dos animais são apresentados na Tabela 1. Verificou-se por meio da análise de variância conjunta dos dados, pelo teste F, não haver diferença estatística para os componentes da dieta dos animais nos dois relevos estudados, exceto para o capim-rabo-Ei = efeito da época i;
Mj(i) = efeito do mês j dentro da época i; e
∈k(ij) = erro aleatório associado à observação Yijk, suposto normal e independentemente distribuído com média zero e variância s2.
Na comparação da composição botânica da dieta selecionada com a composição botânica da forragem disponível, utilizou-se o teste t de Student, a 5% de probabilidade, testando-se a hipótese H0:m = m0 vs Ha:m ≠ m0, cuja estatística do teste é a seguinte:
( )
t X m
s X
= −
em que
X = estimativa da composição botânica da dieta; e m = valor obtido para composição botânica da pastagem (considerado um valor paramétrico).
O erro-padrão da média foi obtido pela fórmula seguinte:
(
)
s X QMR r = , em que s(X) = erro-padrão da média;QMR = quadrado médio do resíduo da ANOVA; e r = número de observações para estimar X.
Assim, a estatística t = (X-m)/s(X) tem distribui-ção t de Student com 12 graus de liberdade, corres-pondente ao número de graus de liberdade associado ao resíduo. Os resultados do teste de t para composi-ção botânica foram utilizados como critérios para avaliar os índices de seleção, determinados para cada componente da dieta, iguais ou diferentes de 1. Se o teste não mostrava diferença significativa entre a porcentagem na dieta e a porcentagem do pasto, significava que a divisão era igual a 1, ou seja, indicando que não houve seletividade e nem rejeição. Se o teste mostrava diferença significativa, indicava
Tabela 2 - Comparações da composição botânica da dieta dos animais (%) entre as épocas seca e chuvosa
Table 2 - Comparison of the botanical composition of the animal diet between the dry and rainy season
Componente Época seca Época chuvosa Comparação
Component Dry season Rainy season Comparison
Capim-gordura 25,46 40,19 * Capim-rabo-de-burro 5,44 3,36 * Capim-sapé 5,24 2,98 * Capim-jaraguá -1/ - -Grama-batatais 1,68 1,66 N S Outras gramíneas Others grasses 28,73 32,27 N S Dicotiledôneas 32,75 19,04 * Ciperáceas 0,53 0,49 N S
* Diferença significativa (P<0,05) pelo teste F (Significant difference (P<.05) by F test).
NS Diferença não-significativa pelo teste F (Non-Significant difference by F test).
1 Não-incluídos na análise estatística (Not included in the statistical analysis). de-burro e grama-batatais, que estão relacionados
com a disponibilidade dos mesmos nos relevos cônca-vo e convexo, respectivamente .
Verificou-se elevação significativa na participa-ção do capim-gordura na dieta selecionada pelos animais do período seco para o período chuvoso (Tabela 2), enquanto os demais componentes apre-sentaram menor participação no período chuvoso, exceto grama-batatais, “outras gramíneas” e ciperáceas, que não apresentaram diferenças signifi-cativas. O comportamento estacional do capim-gor-dura na dieta dos animais pode ter relação com o estádio fenológico da planta, apesar de ser considera-do uma espécie de alta palatabilidade, pois, na época das chuvas, as gramíneas, em geral, apresentam teci-dos mais jovens, devido às rebrotações mais intensas, o que lhes conferem maior valor nutritivo nessa época. TORREGROZA S. et al. (1993) verificaram que o valor percentual do capim-gordura na dieta, relativo à época chuvosa, foi estatisticamente maior que na época seca. Encontraram, também, valores nutricionais mais elevados.
Dentro da época seca, todos os componentes, exceto o capim-rabo-de-burro e a grama-batatais, não apresentaram diferenças significativas entre os relevos côncavo e convexo (Tabela 3). No entanto, dentro do período chuvoso, o capim-gordura apresen-tou menor participação na dieta dos animais da área convexa. Esse fato pode ter relação com o material morto acumulado, devido ao diferimento da área, e com o acamamento observado durante o período experimental, uma vez que o capim-gordura era a espécie dominante nessa área. Já a rebrotação do capim-gordura, segundo MORAES (1977), é devida, principalmente, à sobrevivência dos meristemas apicais, fato de ocorrência pouco provável durante o
pastejo, em razão da elevada altura média desses meristemas em idades relativamente precoces.
O capim-gordura foi um dos componentes de maior participação na dieta dos animais, mas sua porcentagem na mesma foi quase sempre menor que sua porcentagem no pasto, pois os índices de seletividade encontrados para o capim-gordura foram menores (P<0,05) que o valor de referência, para todos os meses, exceto janeiro e fevereiro (Tabelas 5 e 6), indicando rejeição. Situação semelhante foi encontrada por SIMÃO NETO (1976), em que este componente teve participação expressiva na dieta (11 a 18%). Vale ressaltar também que, por causa do processo de digestão, pode ter ocorrido subestimação do capim-gordura na dieta, causado por um confundimento com gramíneas do grupo “outras gramíneas”, uma vez que este grupo reúne as espécies de gramíneas de modo geral. Este confundimento foi admitido por DUARTE et al. (1991), que consideraram difícil a discernibilidade da epiderme de espécies de gramíneas quando se utilizam amostras provenientes de fezes, pela técnica microhistológica, por causa da semelhan-ça entre os padrões epidérmicos.
A aceitabilidade da grama-batatais pelos animais foi baixa, uma vez que esta gramínea foi rejeitada nos meses estudados na área convexa, exceto julho, quan-do sua participação na dieta foi similar à participação no pasto (Tabela 6). Na área côncava, sua participa-ção na dieta foi inexpressiva (Tabelas 4 e 5). Contu-do, SIMÃO NETO (1976) e MACEDO et al. (1978), trabalhando com pastagem nativa na região de Sete Lagoas-MG, observaram que a grama-batatais foi um suporte forrageiro bastante eficiente, pois esteve presen-te na dieta dos animais em altas porcentagens (> 21%). CARVALHO FILHO et al. (1984) associa a preferên-cia dos animais pela grama-batatais ao estádio de
Tabela 3 - Comparações da composição botânica da dieta dos animais, obtidas nos relevos côncavo e convexo, dentro das épocas seca e chuvosa
Table 3 - Comparison of the botanical composition of the animal diet between the concave and convex reliefs, during dry and rainy season
Época seca Época chuvosa
Dry season Rainy season
Componente Relevo côncavo Relevo convexo Relevo côncavo Relevo convexo
Component Concave relief Convex relief Concave relief Convex relief
Capim-gordura 24,5a 26,4a 43,6a 36,8b
Capim-rabo-de-burro 7,8a 3,1b 4,7a 2,0b
Capim-sapé 5,5a 5,0a 3,3a 2,6a
Capim-jaraguá -1 - -
-Grama-batatais 0,3b 3,1a 1,1b 2,2a
Outras gramíneas
Others grasses 27,9a 29,6a 29,8a 34,8a
Dicotiledôneas 33,4a 32,1a 17,0a 21,0a
Ciperáceas 0,55a 0,5a 0,4a 0,6a
Valores médios para o mesmo componente, dentro de cada época, seguidos de letras diferentes são diferentes (P>0,05) pelo teste de F.
1 Não-incluídos na análise estatística.
Mean values for the same component, within the same season followed by different letters are different (P>.05) by the F test.
1Not included in the statistical analysis.
Tabela 4 - Médias mensais da composição botânica da dieta (%) selecionada, obtidas por meio de amostras fecais, durante as épocas seca e chuvosa, nos relevos estudados
Table 4 - Montthly averages of the botanical composition of the selected diet (%) obtained from faecal sample, during the dry and rainy seasons, in the reliefs studied
Relevo côncavo Relevo convexo
Concave relief Convex relief
Componente Época seca Época chuvosa Época seca Época chuvosa Component Dry season Rainy season Dry season Rainy season
Jul. Ago. Set. Média Dez. Jan. Fev. Média Jul. Ago. Set. Média Dez. Jan. Fev. Média Jul. Aug. Sep. Mean Dec. Jan. Feb. Mean Jul. Aug. Sep. Mean Dec. Jan. Feb. Mean Capim-gordura 29a 18b 26ab 24B 24b 52a 55a 44A 33a 30a 16b 26B 27b 35b 48a 37A Capim-rabo-de-burro 12a 6b 6b 8A 13a <1b <1b 5B 5 a 2b 2b 3A 2 a 2a 3a 2A
Capim-sapé 7 a 5 a 5 a 5A 6 a 2b 3b 3B 7a 3b 5ab 5A 4 a 2 a 2a 3B
Capim-jaraguá -3 - - -
-Grama-batatais <1a <1a <1a <1A 2 a 1 a <1a 1A 7 a <1b 2b 3A 3 a 2ab 1b 2A
Outras gramíneas 24a 27a 32a 28A 39a 27b 24b 30A 32a 20b 37a 30A 42a 36a 26b 35A
Others grasses
Dicotiledôneas 26a 45a 30b 33A 16a 18a 17a 17B 16b 43a 37a 32A 21a 22a 20a 21B
Ciperáceas 1a <1 a <1a <1A 1 a 0 a <1a <1A <1a <1a <1a <1A <1a <1a <1a <1A
1 Valores médios mensais para o mesmo componente, dentro de cada combinação relevo e época, seguidos de letra minúscula diferente, são
diferentes (P>0,05) pelo teste de Duncan.
2 Valores médios de época para o mesmo componente, dentro de cada relevo, seguidos pela mesma letra maiúscula não diferem entre si, pelo teste
de F (P>0,05).
3 Não-incluídos na análise estatística.
1 Mean monthly values for the same components, within each combination relief and season, followed by different small letter are different (P>.05) by Duncan test . 2 Mean values for the same components, within each same reliefs, followed by different capital letter are different (P>.05) by F test .
3 Not included in the statistical analysis.
rebrotação. TORREGROZA S. et al. (1993) verifica-ram, também, preferência dos animais por essa gramínea na época chuvosa, especialmente no mês de dezembro, entretanto, na época seca, sua participa-ção foi inexpressiva.
Embora o capim-rabo-de-burro tenha sido rejei-tado em todo período experimental na área côncava, sua presença na dieta foi estacional, ou seja, maior na época seca (Tabela 4). Esta participação pode estar relacionada a sua distribuição, bastante intercalado
ao capim-gordura, associado a sua disponibilidade, o que favoreceu a preensão pelos animais. Quanto à área convexa, os índices de seletividade registraram seleção, mas o percentual na dieta foi baixo para essa gramínea; então, seria um equívoco considerar que o capim-rabo-de-burro foi altamente selecionado (Ta-bela 6), uma vez que o percentual do pasto foi nulo. No entanto, a parede celular desta espécie é bastante espessa e FREE et al. (1970) verificaram que plantas com esse tipo de epiderme, praticamente não se
alte-ram com o processo de digestão, enquanto outras são mais afetadas. Isso permite supor que possa ter havi-do subestimação dessa espécie na amostragem havi-do pasto ou ter havido confundimento com o capim-sapé no processo de identificação, pois o arranjo e a forma das células são semelhantes.
A porcentagem do capim-sapé na área côncava manteve-se uniforme nos meses secos, mas com redu-ção significativa (P<0,05) no período chuvoso. Os índices de seletividade registraram rejeição em todos os meses estudados, exceto julho, em que o percentual da dieta se aproximou daquele do pasto (Tabela 5). A diferença apresentada na composição botânica da dieta dos animais para o capim-sapé, apenas entre as épocas seca e chuvosa, parece também estar relacio-nada com sua distribuição na vegetação. Uma outra hipótese é a de que, com o rebaixamento da vegetação, houve rebrotação do capim-sapé. OBEID (1973) con-siderou que essa gramínea é bem aceita pelo gado apenas na fase inicial de crescimento.
O capim-jaraguá praticamente não foi encontrado no pasto; conseqüentemente, sua participação na di-eta foi baixa, tanto no período seco, quanto no período chuvoso, para os dois relevos.
Na amostragem dos meses secos, o grupo “outras gramíneas” não apresentou diferenças significativas na composição da dieta dos animais, enquanto nos
meses de janeiro e fevereiro houve redução em torno de 35%, em relação ao mês de dezembro, no relevo côncavo. No relevo convexo, essa redução foi menor (Tabela 4). Os índices de seletividade registraram alta seletividade deste componente, em ambos os relevos (Tabelas 5 e 6)
As dicotiledôneas apresentaram comportamento semelhante nos dois relevos, com destaque para época seca (Tabela 4). Todavia, os índices de seletividade indicaram seleção para as duas épocas no relevo convexo (Tabela 6) e apenas para época seca no relevo côncavo (Tabela 5). Durante praticamente todo o ano elas apresentaram-se verdes, provavel-mente em função do sistema radicular mais profundo, situação também verificada por SIMÃO NETO (1976), MACEDO et al. (1978), RODRIGUEZ et al. (1978) e TORREGROZA S. et al. (1993). A identifi-cação de alguns fragmentos do componente dicotiledôneas baseou-se mais nas características dos tricomas, geralmente estrelares, pois, na maioria das vezes, não foi possível discernir a estrutura celular em virtude da pigmentação dos fragmentos. ALIPAYO et al. (1992) relataram que o processo de digestão causa separação das células e dos tricomas, aumentando a presença relativa de dicotiledôneas. Por outro lado, o material arbustivo pode apresentar aspecto mais coriáceo, tornando-se mais representativo nas amos-Tabela 5 - Índice de seletividade dos principais componentes da dieta selecionada, obtido por meio de amostras fecais,
durante as épocas seca e chuvosa, no relevo côncavo
Table 5 - Selectivity index of the main components of the selected diet obtained from fecal samples, during the dry and rainy seasons, in the concave relief
Relevo côncavo Concave relief
Componente Época seca Época chuvosa
Component Dry season Rainy season
IS = 1,01 Jul. Ago. Set. Média Dez. Jan. Fev. Média
July Aug. Sep. Mean Dec. Jan. Feb. Mean
Capim-gordura 1b2 0,5c 0,3c 0,5c 0,4c 0,5c 1,0b 1,3a 0,9b Capim-rabo-de-burro 1b 0,5c 0,3c 0,3c 0,4c 0,8c 0,3c 0,0c 0,2c Capim-sapé 1b 1,1b 0,5c 0,5c 0,6c 0,5c 0,1c 0,2c 0,3c Capim-jaraguá 1b -3 - - - - - - -Grama-batatais 1b - - - -Outras gramíneas
Others grasses 1b 6,4a 4,2a 3,9a 4,5a 8,7a 4,1a 3,6a 5,1a
Dicotiledôneas 1b 2,3a 4,5a 2,8a 3,1a 1,4b 1,6b 1,7a 1,6b
Ciperáceas 1b 0,3c 0,5b 0,4b 0,4c 0,9b 0,0c 0,0c 0,2c
1 O índice de seletividade = 1 significa iguais participações dos componentes na dieta e no pasto, ou seja, ausência de seleção; valores menores
ou maiores que 1 significam rejeição ou seleção, respectivamente.
2 Valores referentes ao mesmo componente com letras diferentes das de referência apresentaram diferenças (P<0,05) entre a porcentagem da dieta
e a do pasto pelo teste t.
3 Não foi calculado (divisão por zero).
1 The selectivity index = 1 means equal participation of the components in the diets and on the pasture, i.e., no selection; values lower or higher than 1 mean rejection
and selection, respectively.
2 Values refering to the same components with letters different from the reference presented differences (P<.05) between the percentages of the diet and pasture by
t test.
tras. Apesar disso, no presente trabalho, atribui-se o problema de acurácia ao erro de observação, em razão da pigmentação dos fragmentos.
As ciperáceas tiveram participação baixa e bas-tante variável; no mês de janeiro, sua participação foi zero, no relevo côncavo (Tabela 4), sendo rejeitado em todos os meses avaliados (Tabela 6).
Conclusões
As composições botânicas da dieta dos animais entre os relevos côncavo e convexo foram semelhan-tes.
Os animais manifestaram preferência estacional por gramíneas, sendo o capim-gordura o principal componente da dieta dos animais, apresentando maiores porcentagens no período chuvoso.
Os animais rejeitaram o sapé, o capim-rabo-de-burro e a grama-batatais nas duas áreas e na maior parte dos meses amostrados.
Durante a época seca, o componente dicotiledôneas mostrou-se um importante suporte forrageiro, em razão da marcada seletividade exercida pelos animais.
O componente “outras gramíneas” apresentou con-sistente seleção nas épocas e nos relevos estudados.
Informações complementares, como digestão di-ferenciada das epidermes, serão necessárias para que
se possa estimar com acurácia a composição botânica da dieta de animais, em pastagens naturais, por meio da análise microhistológica de fezes, em decorrência da presença de grande número de espécies.
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durante as épocas seca e chuvosa, no relevo convexo
Table 6 - Selectivity index of the main components of the selected diet obtained from fecal samples, during the dry and rainy seasons, in the convex relief
Relevo convexo Convex relief
Época seca Época chuvosa Dry season Rainy season
Componente IS=1,01 / Jul. Ago. Set. Média Dez. Jan. Fev. Média
Component July Aug. Sep. Mean Dec. Jan. Feb. Mean
Capim-gordura 1b2/ 0,4c 0,4c 0,2c 0,3c 0,4c 0,6c 1,0b 0,6c
Capim-rabo-de-burro 1b 3/ - - -
-Capim-sapé 1b 3,8a 2,2b 3,8a 3,3a 1,5b 0,6b 1,2b 1,1b
Capim-jaraguá 1b - - -
-Grama-batatais 1b 1,0b 0,1c 0,2c 0,3c 0,3c 0,2c 0,1c 0,2c
Outras gramíneas 1b 8,1a 4,4a 46,5a 9,5a 5,7a 6,0a 3,0a 4,7a
Others grasses
Dicotiledôneas 1b 4,7a 5,5a 10,1a 5,9a 3,1a 4,1a 1,3a 2,5a
Ciperáceas 1b 0,2c 0,1c 0,2c 0,2c 0,2c 0,1c 0,0c 0,1c
1O índice de seletividade = 1 significa iguais participações dos componentes na dieta e no pasto, ou seja, ausência de seleção; valores menores ou
maiores de 1 significam rejeição ou seleção, respectivamente.
2 Valores referentes ao mesmo componente com letras diferentes das de referência apresentaram diferenças (P<0,05) entre a porcentagem da dieta
e a do pasto pelo teste t.
3Não foi calculado (divisão por zero).
1The selectivity index = 1 means equal participation of the components in the diets and on the pasture, i.e., no selection; values lower or higher than 1 mean rejection
and selection, respectively.
2 Values refering to the same components with letters different from the reference presented differences (P<.05) between the percentages of the diet and pasture by
t test.
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Recebido em: 12/06/96 Aceito em:14/11/96