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Processo 6300/19.9T8FNC-A.L1-4 Data do documento 24 de março de 2021 Relator Eduardo Sapateiro

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Extinção do posto de trabalho > Compensação > Presunção legal > Aceitação do despedimento

SUMÁRIO

I – A interpretação dos números 4 e 5 do artigo 366.º do C.T./2009 não pode deixar de ter em linha de conta a evolução legislativa que, de uma forma impressiva, foi procurando responder a algumas das dúvidas que a doutrina e a jurisprudência foram levantando em torno de tal regime legal – consagração de uma presunção legal, sua natureza jurídica, atos necessários para a sua ilisão, carência ou não de uma declaração expressa de oposição ao despedimento objetivo, obrigatoriedade da devolução da compensação e momento para tal devolução -, encontrando-nos face a uma presunção legal ilidível, que, para ser afastada, tem de se consubstanciar, pelo menos, na devolução total da compensação paga ou, pelo menos, disponibilizada ao trabalhador despedido, tendo tal devolução de ocorrer num prazo relativamente curto (e ponderado por critérios de oportunidade e razoabilidade) após o seu recebimento e como uma das formas de manifestação de oposição à referida cessação do contrato de trabalho.

II - Os textos legais que a tal realidade respeitam, não suportam minimamente uma interpretação que procure estabelecer o esgotamento dos prazos de

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caducidade das correspondentes impugnações judiciais (artigos 387.º e 388.º do C.T./2009 – 60 dias e 6 meses, respetivamente) como limite máximo admissível para a restituição juridicamente eficaz, à entidade empregadora, da referida compensação por parte do trabalhador.

III - O legislador laboral demanda do trabalhador que pretende impugnar judicialmente o despedimento objetivo de que foi alvo uma atitude proactiva, positiva, diligente, que evidencie, objetiva e subjetivamente, um propósito sério, pautado pela boa-fé, em restituir em tempo razoável a compensação do artigo 366.º do CT/2009, que lhe foi paga oportunamente pela entidade empregadora.

IV - Não se descortina, na situação constatada nos autos, qualquer motivo objetivo, plausível e justificativo para a omissão da devolução da dita compensação, parecendo-nos antes que o Autor, ao contrário da singela missiva sem retorno que enviou à sua ainda entidade empregadora, deveria ter antes desenvolvido diligências e procedimentos empenhados, eficientes e eficazes a disponibilizar efetivamente e num prazo razoável e curto a dita compensação, salvo situações verdadeiramente excecionais, equiparadas ao justo impedimento do artigo 140.º do NCPC.

(Elaborado pelo relator).

TEXTO INTEGRAL

N | | Texto Parcial: | S | | | | | Meio Processual: | APELAÇÃO | | Decisão: | CONFIRMADA A DECISÃO | | | | | Sumário: | I – A interpretação dos números 4 e 5 do artigo 366.º do C.T./2009 não pode deixar de ter em linha de conta a evolução legislativa que, de uma forma impressiva, foi procurando responder a algumas das dúvidas que a doutrina e a jurisprudência foram levantando em torno de tal regime legal – consagração de uma presunção legal, sua natureza

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jurídica, atos necessários para a sua ilisão, carência ou não de uma declaração expressa de oposição ao despedimento objetivo, obrigatoriedade da devolução da compensação e momento para tal devolução -, encontrando-nos face a uma presunção legal ilidível, que, para ser afastada, tem de se consubstanciar, pelo menos, na devolução total da compensação paga ou, pelo menos, disponibilizada ao trabalhador despedido, tendo tal devolução de ocorrer num prazo relativamente curto (e ponderado por critérios de oportunidade e razoabilidade) após o seu recebimento e como uma das formas de manifestação de oposição à referida cessação do contrato de trabalho.

II - Os textos legais que a tal realidade respeitam, não suportam minimamente uma interpretação que procure estabelecer o esgotamento dos prazos de caducidade das correspondentes impugnações judiciais (artigos 387.º e 388.º do C.T./2009 – 60 dias e 6 meses, respetivamente) como limite máximo admissível para a restituição juridicamente eficaz, à entidade empregadora, da referida compensação por parte do trabalhador.

III - O legislador laboral demanda do trabalhador que pretende impugnar judicialmente o despedimento objetivo de que foi alvo uma atitude proactiva, positiva, diligente, que evidencie, objetiva e subjetivamente, um propósito sério, pautado pela boa-fé, em restituir em tempo razoável a compensação do artigo 366.º do CT/2009, que lhe foi paga oportunamente pela entidade empregadora.

IV - Não se descortina, na situação constatada nos autos, qualquer motivo objetivo, plausível e justificativo para a omissão da devolução da dita compensação, parecendo-nos antes que o Autor, ao contrário da singela missiva sem retorno que enviou à sua ainda entidade empregadora, deveria ter antes desenvolvido diligências e procedimentos empenhados, eficientes e eficazes a disponibilizar efetivamente e num prazo razoável e curto a dita compensação, salvo situações verdadeiramente excecionais, equiparadas ao justo impedimento do artigo 140.º do NCPC.

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(Elaborado pelo relator) | | Decisão Texto Parcial: | Acordam em Conferência no Tribunal da Relação de Lisboa

I – RELATÓRIO

AAA, contribuinte fiscal n.º (…) e residente ao (…) Santa Cruz, veio intentar -através da declaração feita nesse sentido no artigo 24.º do Requerimento Inicial do procedimento cautelar de suspensão de despedimento [por extinção do posto de trabalho] que apresentou no Juízo do Trabalho do Funchal em 20/12/2020 - a presente ação de impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento com processo especial mediante a qual pretende impugnar a regularidade e licitude do despedimento de que foi alvo pela sua entidade empregadora BBB., pessoa coletiva n.º (…), com sede na (…) Funchal.

Designada data para Audiência de Partes, que se realizou, com a presença das partes (fls. 54 e 55) - tendo a Ré sido citada para o efeito, por carta registada com Aviso de Receção - não foi possível a conciliação entre as mesmas.

Regularmente notificada para o efeito, a Ré apresentou articulado motivador do despedimento nos moldes constantes de fls. 56 e seguintes.

Na sua motivação de despedimento a Ré, em síntese, suscitou a exceção de aceitação do despedimento por extinção de posto de trabalho uma vez que procedeu ao pagamento da compensação legal devida pela cessação do contrato ao Autor através de transferência bancária e este não procedeu à sua devolução.

Conclui, assim, que o Autor aceitou o despedimento, o que constitui facto impeditivo da ilicitude do despedimento por extinção do posto de trabalho. No mais alega que a extinção do posto de trabalho do Autor é lícita por verificação dos motivos justificativos.

Afirma que o posto de trabalho de Diretor-Geral do (…) HOTEL é ocupado desde o dia 27 de Novembro de 2017 pelo trabalhador (…) e este não carece de dois postos de trabalho de Diretor-Geral. E a extinção de um dos postos de trabalho

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reduzirá os custos, em termos que enuncia e se dão por reproduzidos, pelo que decidiu proceder a uma reestruturação da organização produtiva através da extinção de um dos postos de trabalho. Os motivos justificativos em causa são estruturais, tendo sido observado o procedimento legal que enuncia. O Autor não transmitiu o seu parecer fundamentado, mas solicitou a intervenção da Direção Regional do Trabalho, a qual elaborou um relatório, que junta. Foram observadas as formalidades legais. Nega ter tido uma conduta culposa ao manter ao serviço, no posto de trabalho em causa, outro trabalhador. E não dispõe de outro posto de trabalho vago compatível com a categoria profissional facto a posto a extinguir, em termos que enuncia. Atualmente, o contrato de trabalho a termo certo do trabalhador (…) foi convertido em contrato de trabalho sem termo e o Autor e este têm o mesmo nível académico, sendo que o Autor aufere uma retribuição superior.

A final opõe-se à reintegração do Autor. Alega ainda que o contrato de trabalho do Autor cessará no dia 20 de janeiro de 2020, pelo que, caso o tribunal declare que o despedimento foi ilícito às retribuições referidas no artigo 390.º, n.º 1, do Código do trabalho devem ser deduzidas as importâncias que o Autor tenha auferido com a cessação no dia 20 de Janeiro.

Juntou processo relativo aos procedimentos e diligências adotados com vista a formalizar e consubstanciar o referido despedimento do Autor por extinção do seu posto de trabalho.

*

Notificado para o efeito, o Autor contestou a motivação da Ré pela forma expressa no articulado de fls. 158 e seguintes, respondendo à exceção de aceitação, uma vez que foi notificado da decisão de extinção do seu posto de trabalho em 18.12.2019, com efeitos a 20.01.2020, sendo que a Ré havia feito uma transferência da indemnização devida a 16.12.2019, valor que ficou disponível 48 horas depois. E tal ocorreu desacompanhada de qualquer comunicação escrita ou recibo de vencimento. Apenas pelo articulado da Ré

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soube que o depósito de 5.498,43 € correspondia ao pagamento isolado da parcela indemnizatória. A Ré indicia a intenção de criar uma situação menos clara e confusa ao Autor. A Ré tem conhecimento da conta bancária do Autor e é mais difícil devolver essa quantia à procedência por depósito na conta da Ré. No dia 20.12.2019 o Autor interpelou a Ré, por carta registada com aviso de receção solicitando a conta e banco onde poderia depositar a quantia e a Ré de má-fé ignorou e intencionalmente escondeu-a do tribunal. De má-fé invoca a exceção de aceitação por não devolução do dinheiro. O Autor procedeu de acordo com a norma do artigo 366º, n.º 5, do Código do Trabalho reagindo de imediato.

Pugna que a entrega ou a colocação à disposição do empregador do valor recebido de compensação é a condição para o ato presuntivo se ilidir e a única norma a impor ao trabalhador um prazo é a do n.º 2 do artigo 387.º, do Código do Trabalho.

Peticiona a condenação da Ré como litigante de má-fé, com a sua condenação em multa.

Entende que não foram cumpridos os requisitos previstos no artigo 368.º, n.ºs. 1 e 2 do Código do Trabalho e a Ré colocou outra pessoa no lugar do Autor para impor a sua pretensão.

Não aceita a equivalência de formações dos dois trabalhadores, entendendo que não deve ser dada primazia ao critério salarial, sendo a remuneração do Autor padrão no mercado.

*

A Ré apresentou resposta ao pedido de condenação como litigante de má-fé, impugnando o alegado, sendo que o Autor não identifica sequer que facto omite a Ré que seja relevante para a boa decisão da causa. Admite que o Autor se refere ao envio de uma carta recebida a 23.12.2019. E pugna pela aceitação do despedimento. Na decisão de despedimento a Ré fez constar expressamente o valor a pagar. O Autor conhece e pode a todo o momento fazer um qualquer

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depósito na conta da Ré ou por cheque ou numerário. E, pelo menos desde 08.01.2020 sabe a conta bancária da Ré, indicada na oposição ao procedimento cautelar. Mas não o fez. É instruído e está patrocinado por advogado. Quem tinha o ónus de alegar que tinha enviado uma carta era o Autor e não a Ré, pelo que deve ser julgado improcedente o pedido de litigância de má-fé. (fls. 167 e seguintes).

*

Foram designadas, a fls. 207 a 209, datas para a realização de Audiência Prévia, que se efetuou a fls. 212 e 213 e onde foi prolatado o competente despacho saneador, que considerou válida e regular a instância, admitiu a resposta da Ré ao pedido deduzido pelo trabalhador no sentido da sua condenação como litigante de má-fé, relegou para sentença final o julgamento da exceção perentória da aceitação do despedimento por parte do Autor arguida pela empregadora, absteve-se de selecionar a matéria de facto, admitiu os róis de testemunhas das partes, assim como os documentos juntos pela empregadora, tendo finalmente sido designada data para a realização da Audiência Final, cuja prova aí produzida seria objeto de gravação.

*

Procedeu-se à realização, no dia 24/6/2020, da Audiência Final com observância do legal formalismo, conforme ressalta da Ata de fls. 219 e 219 verso, tendo o Autor trabalhador optado pela sua reintegração.

*

Foi então proferida, a fls. 220 a 225 verso, sentença com a data de 19/7/2020, onde, em síntese, se decidiu o seguinte:

«Nestes termos, tudo visto e ponderado, julgo a ação improcedente por não provada e, consequentemente, absolvo a Ré empregadora do peticionado.

*

Custas pelo Autor. Valor: 12.072,85 €.

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Registe e notifique». *

Tal decisão do tribunal da 1.ª instância fundou-se na seguinte argumentação jurídica [[1]]:

«Da Presunção de Aceitação do Despedimento

No seu articulado, a Ré empregadora alega a exceção de aceitação do despedimento atenta a não devolução da compensação legal paga ao Autor, conforme supra.

Em contestação, o Autor trabalhador pugna, em suma, que a colocou à disposição da Ré, uma vez que a interpelou para que indicasse o IBAN para proceder à devolução, o que não mereceu qualquer resposta.

Cumpre apreciar e decidir.

Com relevo para a questão em apreço importa considerar que o Autor foi despedido por extinção do posto de trabalho pela Ré por carta datada de 13.12.2019, recebida pelo Autor a 18.12.2019, com efeitos no dia 20.01.2020. Da comunicação do despedimento consta que será paga a título de compensação o valor de no valor de € 5.498,43, o qual foi transferido para o Autor trabalhador, por transferência bancária realizada a 16.12.2019. Valor que ficou disponível 48 horas depois.

Por seu lado, apurou-se que o Autor por carta registada com aviso de receção datada de 20 de Dezembro de 2019, remetida à Ré, com o assunto “devolução de indemnização”, solicitou “que indiquem o modo de devolução da quantia paga a título de compensação, como por exemplo indicação de IBAN da V. conta bancária, para efeitos do disposto nos termos dos artigos 372.º e 366.º, n.º 4 e 5 do Código do Trabalho”.

A questão a apreciar resume-se a saber se se verifica a exceção da extinção do direito do Autor à impugnação do despedimento, em virtude da aceitação deste por força do recebimento da compensação que lhe era devida, nos termos das disposições conjugadas dos n.ºs 4 e 5 do artigo 366.º do Código do Trabalho.

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Com relevo dispõe o artigo 366.º, do Código de Trabalho, por remissão do artigo 372.º, do mesmo Código, sob a epígrafe “Compensação por despedimento coletivo”, que “em caso de despedimento coletivo, o trabalhador tem direito a compensação correspondente a 12 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade”.

E, segundo o n.º 4, “presume-se que o trabalhador aceita o despedimento quando recebe do empregador a totalidade da compensação prevista neste artigo”, presunção que “pode ser ilidida desde que, em simultâneo, o trabalhador entregue ou ponha, por qualquer forma, a totalidade da compensação paga pelo empregador à disposição deste último” (n.º 5 do mesmo artigo).

Esta é uma presunção legal “juris tantum” que se consubstancia no pagamento, feito pelo empregador ao trabalhador alvo de despedimento fundado em razões objetivas, da totalidade da compensação prevista nos n.ºs 1 e 2 do artigo 366º, do Código do Trabalho e na aceitação desse pagamento por parte do trabalhador.

É, pois, uma presunção legal ilidível, que, para ser afastada, tem de se consubstanciar, pelo menos, na devolução total da compensação paga ou, pelo menos, da disponibilizada ao trabalhador despedido, tendo tal devolução de ocorrer num prazo relativamente curto (e ponderado por critérios de oportunidade e razoabilidade) após o seu recebimento e como uma das formas de manifestação de oposição à referida cessação do contrato de trabalho.

A aceitação pelo Autor trabalhador pressupõe a assunção, por parte deste, de uma conduta que, de alguma forma, indique ter feito sua a compensação que, em tais circunstâncias, lhe foi paga pelo seu empregador.

E a simultaneidade a que se alude na norma deve relacionar-se com qualquer manifestação assumida pelo trabalhador no sentido da não-aceitação do despedimento de que tenha sido alvo.

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despedimento por parte do trabalhador, exige-se também que este adote, em simultâneo, ou seja, ao mesmo tempo ou num curto espaço de tempo, uma atitude que signifique recusa de recebimento, devolução ou colocação à disposição da sua entidade empregadora da compensação que desta haja recebido àquele título. Isto é, exige-se da parte do trabalhador a prática de atos que, de alguma forma, revelem não só a sua oposição ao despedimento, como também a sua intenção de não receber ou de não fazer coisa sua a compensação que tenha recebido do seu empregador na sequência desse despedimento” (Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 20/02/20; no mesmo sentido Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 17/03/2016 e de 13/10/2016, proferidos, respetivamente, no processo n.º 1274/12.0TTPRT.P1.S1 e no processo n.º 2567/07.3TTLSB.L1.S1, www.dgsi.pt).

Para “que o trabalhador ilida a presunção de aceitação do despedimento aí estabelecida, não lhe basta que declare perante a entidade patronal não o aceitar nem à compensação, sendo também necessário que atue de boa-fé, assumindo um comportamento consentâneo com aquele propósito, nomeadamente diligenciando pela devolução da compensação paga pela entidade empregadora” (Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 10/04/2013, www.dgsi.pt).

Por conseguinte, o trabalhador está onerado com um comportamento ativo, de facere, não omissivo, na demonstração de que não pretende a desvinculação. “O legislador revela-se particularmente hostil ao ato do recebimento da compensação pelo trabalhador quando este, não obstante esse recebimento, ainda pretenda questionar o despedimento de que foi alvo, pois a versão original da LCCT e o Código de Trabalho de 2009 inviabilizam, na prática, qualquer reação do trabalhador que conserve em seu poder a compensação recebida. (…) Por conseguinte, subjacente aos normativos citados está o princípio de que a aceitação da compensação ou a conservação desta é incompatível com a rejeição do despedimento.” (Acórdão do Supremo Tribunal

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de Justiça, de 09/12/2010, www.dgsi.pt).

Assim, não aceitando o despedimento e querendo impugná-lo, o trabalhador deverá recusar o recebimento da compensação ou proceder à devolução da compensação recebida imediatamente após o seu recebimento, ou no mais curto prazo.

Revertendo ao caso em apreço, da factualidade apurada resulta que o Autor recebeu a comunicação de despedimento, datada de 13.12.2019, no dia 18.12.2019, na qual a Ré fez constar o valor da compensação devida.

Sucede que tal valor foi transferido para a conta do Autor a 16.12.2019, ficando disponível no dia 18.12.2019, conforme este reconhece em sede de contestação.

Assim, no dia 18 de Dezembro, aquando da receção da carta de despedimento, o Autor para além de ficar a saber o valor da compensação que lhe era devido, já o tinha recebido.

Tanto assim, que no dia 20 seguinte, o Autor instaura neste Tribunal providência cautelar de suspensão de despedimento e remete à Ré empregadora carta registada com o assunto “devolução de indemnização”, solicitando “que indiquem o modo de devolução da quantia paga a título de compensação, como por exemplo indicação de IBAN da V. conta bancária, para efeitos do disposto nos termos dos artigos 372.º e 366.º, n.º 4 e 5 do Código do Trabalho”.

Refira-se ainda que a 8 de Janeiro seguinte, teve lugar a audiência de partes nos autos e procedeu-se ao julgamento da providência cautelar requerida, em que a Ré suscitou a exceção em causa.

Do que se deixa dito, temos por certo que o Autor assumiu comportamento, de oposição ao despedimento, aliás questionou-o junto deste Tribunal, o que fez de imediato, apenas dois dias após a receção da decisão de despedimento.

E nesse mesmo prazo solicitou à Ré a indicação do modo de devolução da quantia paga a título de compensação, o que literalmente consta da carta

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remetida.

Ora, o Autor tinha conhecimento de que o valor transferido pela Ré constituía a compensação legal pelo seu despedimento e que tinha a obrigação de devolução da mesma enquanto oposição ao despedimento.

Assim, falece qualquer alegação de desconhecimento do destino do valor, bem como da obrigação de devolução.

Anote-se que a Ré tinha a obrigação de proceder ao pagamento da compensação após a decisão de despedimento e até ao termo do aviso prévio, o que fez.

O Autor escuda-se no facto de ter colocado à disposição da Ré o valor da compensação com a comunicação que fez e da qual não obteve resposta.

Relembre-se que determina o n.º 5, do artigo 366.º, do Código do Trabalho, “que, em simultâneo, o trabalhador entregue ou ponha, por qualquer forma, a totalidade da compensação paga pelo empregador à disposição deste último”. E que, conforme já se deixou dito, esta norma onera o trabalhador com um comportamento ativo, de facere, na demonstração de que não pretende a desvinculação.

No caso, o Autor assumiu um conjunto de atos consentâneos com a manifestação do propósito de oposição ao despedimento, concretamente com a instauração da ação em Tribunal, mas não com a intenção de restituir, de imediato ou num curto prazo de tempo, a compensação que recebera por virtude desse despedimento.

Na verdade, não basta solicitar à Ré a indicação do IBAN para proceder à devolução da aludida compensação com vista à impugnação judicial do despedimento sem mais qualquer comportamento.

A Ré explora uma unidade hoteleira, em que o Autor trabalhou, pelo que caso este pretendesse efetuar a devolução poderia tê-lo feito por diversas formas, nomeadamente junto da mesma. No entanto, bastou-se com a comunicação efetuada, esperou e conservou a compensação recebida.

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Neste sentido concorda-se que “nada veda que o trabalhador proceda a transferência bancária para a conta bancária do empregador de onde, durante a pendência do contrato, foram sempre transferidas para a sua própria conta, a retribuição por aquele devida. Da mesma forma poderá o trabalhador consignar em depósito a compensação” (Bernardo Lobo Xavier, “O despedimento Coletivo no Dimensionamento da Empresa”, verbo, Lisboa 2000, pág. 542; artigo 1024.º e segs. do Código do Processo Civil).

Como tal e à luz do normativo citado, a aceitação do despedimento efetuado pela Ré consolidou-se pela não devolução da compensação pelo Autor.

Ao Autor cabia provar os factos que demonstrassem a discordância com o despedimento e que a aceitação do recebimento da compensação não podia ser qualificada como uma aceitação presumida daquele. Não é suficiente impugnar o despedimento.

E a partir do preenchimento da presunção, tinha o Autor o ónus de demonstrar que o recebimento não implicava a aceitação do despedimento, ou seja, tinha de afastar o efeito probatório daquele facto decorrente da presunção em causa. O Autor não cumpriu este ónus probatório.

Nestes termos, conclui-se pela verificação da exceção de aceitação do despedimento pelo Autor com a não devolução da compensação, nos termos previstos no artigo 366º, n.º 4, do Código do Trabalho, e em consequência, absolve-se a Ré do peticionado.

Da litigância de má-fé

Em contestação o Autor peticionou a condenação da Ré como litigante de má-fé.

Estabelece o artigo 542º do CPC, que pode ser condenado como litigante de má-fé, a parte que, com dolo ou negligência grave, tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar, aquele que tiver alterado a verdade dos factos e aquele que tiver omitido o seu dever de cooperação (n.º 1 e n.º 2 alínea a), b) e c) do referido artigo).

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De facto, considera-se que a litigância de má-fé consubstancia algo mais do que uma litigância imprudente, só existindo quando a parte excede os limites da prudência normal, atuando culposamente, ou seja, quando se excedam os limites da normal dinâmica processual.

Nos presentes autos, atenta a factualidade apurada, não resultam demonstrados factos que permitam concluir que a Ré atuou com má-fé, pelo que improcede o peticionado, o que se decide.

*

Por vencido na ação, as custas processuais ficam a cargo do Autor trabalhador, nos termos do artigo 527º, n.ºs 1 e 2 do Código de Processo Civil e Tabela I, do Regulamento das Custas Processuais.»

*

O Autor AAA, inconformado com tal sentença, veio, a fls. 226 e seguintes e em 3/08/2020, interpor recurso da mesma.

O juiz do processo admitiu, a fls. 254, o recurso interposto, como de apelação, tendo determinado a sua subida nos próprios autos e com efeito meramente devolutivo.

O Apelante apresentou alegações de recurso (fls. 227 e seguintes) e formulou as seguintes conclusões:

“1) A litigância entre estas partes iniciou-se com o despedimento promovido pela Recorrida em 22/02/2018, o qual foi impugnado pelo Recorrente, dando lugar ao processo n.º 1130/18.8T8FNC, que correu termos neste mesmo tribunal e que levou à integração no empregador Recorrido do trabalhador Recorrente por sentença transitada em julgado em 07/11/2019.

2) O Recorrente nunca acordou em aceitar negociar a sua saída de empresa a troco de indemnização, manifestando sempre a vontade de ser reintegrado na Recorrida e ocupar o seu posto de trabalho, conforme consta da sentença identificada em 1).

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sempre o impediu de retomar o seu posto de trabalho. A extinção do posto de trabalho que deu lugar ao presente processo de impugnação é mais uma manifestação da vontade do empregador Recorrido para se ver livre do trabalhador.

4) O empregador Recorrido sabe há muito, desde o início, que a vontade única do trabalhador Recorrente é continuar ao seu serviço, integrar os seus quadros e que por isso nunca aceitou negociar qualquer compensação para se desvincular da entidade empregadora.

5) Neste contexto, a atuação da Recorrente e da Recorrida é relevante como instrumento de análise da manifestação formal de recusa na aceitação e disponibilização do recebido a título de compensação por despedimento por parte do trabalhador, à luz dos n.ºs 4 e 5 do artigo 366.º do CT2009.

6) Apesar do trabalhador se ter sempre oposto ao despedimento por extinção do posto de trabalho, tendo até pedido a intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho durante o procedimento.

7) No dia 18/12/2019, ficou disponível na conta do trabalhador, aqui Recorrente, o valor de € 5.498,43 (facto 11, dado como provado).

8) O trabalhador só tomou conhecimento desse facto por consulta casual da sua conta bancária.

9) De imediato o trabalhador reagiu e, em 20/12/19, dois dias depois, o aqui Recorrente enviou carta registada à Ré empregadora, tendo vertido como assunto da mesma “Devolução da indemnização”, na qual foi solicitado: “indiquem o modo de devolução da quantia paga a título de compensação, como por exemplo indicação do IBAN da Vossa conta bancária, para efeitos do disposto nos artigos 372.º e 366.º, n.ºs. 4 e 5 do Código do Trabalho” (o tom carregado das letras é na nossa responsabilidade). Facto 12, dado como provado.

10) O teor e a intencionalidade subjacente da comunicação do trabalhador Recorrente são claras e a alusão específica ao normativo legal não deixa

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dúvidas ao empregador Recorrido quanto à sua pretensão: ilidir a presunção criada com o depósito desse dinheiro na conta do trabalhador, colocando-o de imediato à disposição do empregador.

11) Esta é uma das práticas usadas para afastar a presunção pelo trabalhador e até agora aceite pelo Tribunal de Trabalho na comarca do Funchal, a qual nunca mereceu oposição dos empregadores e decisão negativa por parte dos

julgadores, conforme processos 590/08.0TTFUN, 524/09.2TTFUN,

524/13.0TTFUN, 1668/17.8T8FNC que aqui se indicam a título meramente exemplificativo.

12) O Recorrido nunca respondeu à carta.

13) Com esta omissão intencional, o Recorrido procurou criar uma situação fáctica que favorecesse as suas intenções de despedimento do Recorrente a todo o custo, pela via do vencimento da presunção.

14) Tal como é partilhado por diversos autores, a expressão “ponha de qualquer forma” a compensação à disposição do empregador constante do n.º 5 do art.º 366.º deve ser entendida em sentido lato, devendo concluir-se de que uma declaração com a alegação de uma motivação bastante e razoável, é suficiente para se considerar ilidida a presunção do n.º 4.

15) O trabalhador aqui recorrente, manifestou num tempo imediato e de uma clara e inequívoca: i) a não-aceitação do despedimento; ii) a recusa da aceitação do dinheiro da compensação; iii) a intenção e a vontade de o disponibilizar imediatamente ao empregador; iv) essa disponibilização imediata ser enquadrada à luz do normativo legal que visa afastar a presunção do n.º 4 do artigo 366.º do CT2009.

16) Tendo-se disponibilizado para imediatamente colocar o dinheiro na posse do empregador pela forma que melhor entendesse, ou na conta que indicasse. 17) Afirmou ainda de uma forma explícita, que tal manifestação de disponibilização imediata do dinheiro visava cumprir com o legalmente exigido para afastar a presunção estabelecida no nº 4 do artigo 366º do CT.

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18) Ficou assim reafirmado aquilo que o aqui Recorrido já sabia: de o Recorrente continuava a pretender a reintegração na empresa.

19) A atitude sempre manifestada pelo Recorrente no anterior processo de despedimento, há muito transitado em julgado, de que pretendia unicamente a reintegração no posto de trabalho,

20) E constante da matéria de facto provada neste processo, de oposição ao despedimento e a intenção clara e imediata de restituir a compensação que deste recebera por virtude do despedimento, ilide por completo a presunção do n.º 4 do art.º 366.º do CT2009, com as consequências daí resultantes.

21) O facto provado 12, permite concluir que o trabalhador Recorrente não só nunca utilizou aquele dinheiro, como nunca o quis na sua posse, tendo imediatamente interpelado o Recorrido para o colocar à sua disposição.

22) E assim ilidir a presunção legal nos termos exigidos pela lei.

23) O Recorrente atuou de boa-fé e na melhor interpretação que fez da lei e da jurisprudência, como a que está vertida no Acórdão da RL nº 10840/19.1T8LSB.L1-4, de 26-02-2020, tendo como Relator o Juiz Desembargador José Feteira e aqui se transcreve para mais facilmente a tornar presente:

24) “I – A presunção legal estabelecida no n.º 4 do art.º 366.º do CT, constitui presunção “júris tantum” que se consubstancia no pagamento, feito pelo empregador ao trabalhador alvo do despedimento fundado em razões objetivas, da totalidade da compensação prevista nos nºs 1 e 2 daquele preceito legal e na aceitação desse pagamento por parte do trabalhador, aceitação que pressupõe a assunção, por parte deste, de uma conduta que, de alguma forma, indique ter feito sua a compensação que, em tais circunstâncias, lhe foi paga pelo empregador;

25) II – Decorre, porém, do nº 5 da citada norma que, pretendendo o trabalhador despedido ilidir a referida presunção, deve o mesmo, em simultâneo, entregar ou pôr, de qual forma, à disposição da sua entidade

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empregadora a totalidade da compensação por despedimento que desta recebeu, sendo que a simultaneidade a que alude esta norma, se deve relacionar com qualquer manifestação assumida pelo trabalhador no sentido da não-aceitação do despedimento de que tenha sido alvo por parte daquela;

26) III – Não basta, por isso, a ocorrência de uma manifestação de não-aceitação do despedimento por parte do trabalhador, exige-se também que este adote, em simultâneo, ou seja, ao mesmo tempo ou num curto espaço de tempo, uma atitude que signifique recuse do recebimento, devolução ou colocação à disposição da sua entidade empregadora da compensação que desta haja recebido àquele título. Isto é, exige-se da parte do trabalhador a prática de atos que, de alguma forma, revelem não só a sua oposição ao despedimento, como também a sua intenção de não receber ou de não fazer coisa sua a compensação que tenha recebido do seu empregador na sequência desse despedimento;

27) IV – Perante a matéria de facto provada, verifica-se que o Autor assumiu um conjunto de atos consentâneos, não só com a manifestação do propósito de oposição ao despedimento de que fora alvo por parte da Ré, mas também com a intenção de lhe restituir, de imediato ou num curto prazo de tempo, a compensação que deste recebera por virtude desse despedimento, conseguindo aquele, desse modo, ilidir a referida presunção, com as consequências daí resultantes.”

28) Lembra ainda, por analogia das situações, o teor do Acórdão da RP RP20140428632/12.4TTOAZ.P1, tendo como Relator o Juiz Desembargador Eduardo Petersen Silva, onde se considera ilidida a presunção de aceitação do despedimento pelo facto do trabalhador ter manifestado no decurso do próprio procedimento de extinção do posto de trabalho que não aceitava o montante da indemnização, tendo o empregador feito o depósito em desrespeito pela vontade do trabalhador.

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qualquer decisão judicial que ordene a reintegração do trabalhador poderá ser facilmente desrespeitada por restrição aos mecanismos de afastamento da presunção, numa interpretação na norma e do regime contrários aos princípios gerais interpretativos da lei laboral, no plano constitucional e legal.

30) Pelo que se requer que a Secção Social do Tribunal da Relação de Lisboa julgue a presente apelação procedente e, em consequência, revogue a sentença recorrida.

Termos em que, concedendo V. Ex.ªs provimento ao presente revogando a douta decisão recorrida,

Farão inteira JUSTIÇA!” *

Notificada a Ré para responder a tais alegações, veio a mesma fazê-lo dentro do prazo legal, nos moldes constantes de fls. 234 e seguintes, tendo aí requerido a ampliação do objeto do recurso de Apelação do Autor, nos termos do número 2 do artigo 636.º do NCPC, bem como formulado as seguintes conclusões:

Embora sobre a Recorrida não recaia tal ónus, formulam-se as conclusões seguintes:

1. O presente recurso de apelação vem interposto da sentença de 19 de Julho de 2020, que concluiu pela verificação da exceção de aceitação do despedimento pelo Recorrente, com a não devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, nos termos previstos no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, e em consequência, julgou a presente ação improcedente, por não provada, absolvendo a Recorrida do peticionado, doravante designada por «decisão recorrida».

2. Por serem relevantes para a decisão da causa, atento o facto provado 14. da decisão recorrida, e por serem de conhecimento oficioso do Tribunal, nos termos do artigo 412.º, n.º 2, do Código de Processo Civil, requer-se, ao abrigo

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do disposto no artigo 662.º, n.º 1, do Código de Processo Civil, que aos factos provados da decisão recorrida sejam aditados os factos seguintes: «Por sentença de 10 de Janeiro de 2020, a providência cautelar de suspensão de despedimento foi julgada improcedente, por não provada, e, em consequência, a Ré empregadora foi absolvida do pedido, face à verificação da exceção perentória de aceitação do despedimento por força do recebimento da compensação legal devida pela cessação do contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho.» e «O Autor interpôs recurso de apelação da sentença proferida na providência cautelar de suspensão de despedimento, o qual aguarda decisão.»

3. Por serem relevantes para a decisão da causa, atenta a dedução da exceção perentória de aceitação do despedimento por extinção do posto de trabalho, por o Recorrente não ter procedido à devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, e por se encontrarem provados pelas declarações de parte da Recorrida, prestadas pelo Presidente do seu Conselho de Administração, Senhor Dr. (…), tal como consta da fundamentação dos factos provados, requer-se, ao abrigo do disposto no artigo 662.º, n.º 1, do Código de Processo Civil, que aos factos provados da decisão recorrida sejam aditados os factos seguintes: «A conta bancária do hotel, no BCP, mantém-se a mesma que já era utilizada pelo Autor aquando do exercício das suas funções antes do despedimento, a qual era do seu conhecimento.» e «A conta bancária não possui quaisquer restrições pelo que bancariamente se mostrava possível fazer retornar o dinheiro à mesma.». 4. Por serem relevantes para a decisão da causa, atenta a dedução da exceção perentória de aceitação do despedimento por extinção do posto de trabalho, por o Recorrente não ter procedido à devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, e por serem de conhecimento oficioso do Tribunal, nos termos do artigo 412.º, n.º 2, do Código de Processo Civil, requer-se, ao abrigo do disposto no artigo 662.º,

(21)

n.º 1, do Código de Processo Civil, que aos factos provados da decisão recorrida sejam aditados os factos seguintes: «No dia 08 de Janeiro de 2020, o Autor foi notificado da oposição apresentada pela Ré empregadora na providência cautelar de suspensão de despedimento.», «No doc. n.º 3, junto com a oposição apresentada pela Ré empregadora na providência cautelar de suspensão de despedimento, consta a conta e o banco onde poderia depositar a compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho.», «No dia 13 de Janeiro de 2020, o Autor foi notificado do articulado para motivar o despedimento apresentado pela Ré empregadora na presente ação.» e «No doc. n.º 3, junto com o articulado para motivar o despedimento apresentado pela Ré empregadora na presente ação, consta a conta e o banco onde poderia depositar a compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho.»

5. Por ser relevante para a decisão da causa, atenta a dedução da exceção perentória de aceitação do despedimento por extinção do posto de trabalho, por o Recorrente não ter procedido à devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, e por se encontrar provado por confissão do Recorrente, requer-se, ao abrigo do disposto no artigo 662.º, n.º 1, do Código de Processo Civil, que aos factos provados da decisão recorrida seja aditado o facto seguinte: «Até à presente data, o Autor não procedeu à devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, no valor de 5.498,43, o qual lhe foi pago pela Ré Empregadora, através de transferência bancária, no dia 16 de Dezembro de 2019.»

6. A presunção “juris tantum” estabelecida no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, de que o trabalhador aceita o despedimento quando recebe do empregador a totalidade da compensação, apenas pode ser ilidida, nos termos do disposto no artigo 366.º, n.º 5, do Código do Trabalho, desde que, em simultâneo, o trabalhador entregue ou ponha, por qualquer forma, a totalidade

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da compensação paga pelo empregador à disposição deste último.

7. Assim, presumindo-se que o trabalhador aceita o despedimento quando recebe a compensação prevista no artigo 366.º, do Código do Trabalho, tal presunção apenas pode ser ilidida pelo trabalhador através da imediata comunicação ao empregador de que não aceita o seu despedimento, em simultâneo com a devolução da compensação recebida pela cessação do seu contrato de trabalho, por extinção do posto de trabalho, pois, apenas tal comportamento do trabalhador pode fazer prova em contrário da aceitação do despedimento.

8. O trabalhador terá de fazer prova em contrário da aceitação do despedimento no momento em que recebe a compensação pela cessação do seu contrato de trabalho, comunicando de imediato ao empregador que não aceita o seu despedimento e devolvendo, em simultâneo, a compensação recebida pela cessação do seu contrato de trabalho, porquanto a finalidade visada pelo legislador na presunção estabelecida no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, foi a de impedir o trabalhador de impugnar judicialmente o seu despedimento.

9. A Recorrida, por decisão proferida por escrito no dia 13 de Dezembro de 2019 e comunicada ao Recorrente, por cópia, através de carta registada com aviso de receção datada e expedida no dia 13 de Dezembro de 2019, procedeu ao despedimento do Recorrente por extinção do posto de trabalho (factos provados 4. e 5.).

10. Na decisão de despedimento do Recorrente por extinção do posto de trabalho, a Recorrida fez constar expressamente o seguinte (facto provado 9.): «Assim, através de transferência bancária, a efetuar até ao termo do prazo de aviso prévio, será paga ao trabalhador Deodato Manuel de Andrade Moniz, a compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, no valor de € 5.498,43.»

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compensação legal devida pela cessação do contrato de trabalho do Recorrente, por extinção de posto de trabalho, no valor de € 5.498,43, através de transferência bancária (facto provado 10.).

12. Até à presente data, o Recorrente não procedeu à devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, no valor de 5.498,43, o qual lhe foi pago pela Ré, através de transferência bancária, no dia 16 de Dezembro de 2019.

13. O Recorrente aceitou o seu despedimento por extinção de posto de trabalho, porque não ilidiu a presunção estabelecida no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, pois, nos termos do disposto no artigo 366.º, n.º 5, do Código do Trabalho, a mesma apenas pode ser ilidida pelo trabalhador desde que, em simultâneo, entregue ou ponha, por qualquer forma, a totalidade da compensação paga pelo empregador à disposição deste último, ou seja, através da imediata comunicação ao empregador de que não aceita o seu despedimento, em simultâneo com a devolução da compensação recebida pela cessação do seu contrato de trabalho, por extinção do posto de trabalho, uma vez que apenas tal comportamento do trabalhador pode fazer prova em contrário da aceitação do despedimento.

14. O Recorrente não pode alegar que não procedeu à devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho, por extinção do posto de trabalho, no valor de 5.498,43, o qual lhe foi pago pela Recorrida, através de transferência bancária, no dia 16 de Dezembro de 2019, porque desconhecia a conta da Recorrida e o banco onde poderia depositar a referida quantia, tendo, por isso, solicitado tal informação à Recorrida, através da carta registada com aviso de receção que lhe enviou no dia 20 de Dezembro de 2019, porque a Recorrida procedeu ao pagamento da compensação legal devida pela cessação do contrato de trabalho do Recorrente através de transferência bancária, pelo que o Recorrente facilmente poderia obter a conta e o banco onde poderia depositar a referida quantia junto do seu banco.

(24)

15. Acresce que, tal como consta da fundamentação dos factos provados, a conta bancária da Recorrida, no (…), mantém-se a mesma que já era utilizada pelo Recorrente aquando do exercício das suas funções antes do despedimento, a qual era do seu conhecimento. («A conta bancária do hotel, no BCP, mantém-se a mesma que já era utilizada pelo Autor aquando do exercício das suas funções antes do despedimento, a qual era do seu conhecimento.») e a conta bancária da Recorrida, no (…), não possui quaisquer restrições pelo que se mostrava possível o Recorrente fazer retornar o dinheiro à mesma («A conta bancária não possui quaisquer restrições pelo que bancariamente se mostrava possível fazer retornar o dinheiro à mesma.»).

16. O Recorrente poderia, sempre, ter devolvido a compensação que recebeu da Recorrida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho por qualquer forma, através de cheque emitido à ordem da Recorrida, por exemplo, ou em numerário, nos termos previstos no artigo 366.º, n.º 5, do Código do Trabalho.

17. O Recorrente não pode alegar que ilidiu a presunção estabelecida no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, porque, através da carta registada com aviso de receção que enviou à Recorrida, no dia 20 de Dezembro de 2019, solicitou que a mesma lhe indicasse a conta da Recorrida e o banco onde poderia depositar a compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, pois, solicitar a conta da Recorrida e o banco não basta, nem significa «colocar a compensação à disposição» da Recorrida, uma vez que, para tal, o Recorrente teria de ter colocado efetivamente na esfera da Recorrida a compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho, fosse através de transferência bancária, fosse de cheque ou mesmo entregando a compensação em numerário à Recorrida, o que não fez.

18. O Recorrente, pelo menos desde o dia 08 de Janeiro de 2020, data em que foi notificado da oposição apresentada pela Recorrida na providência cautelar

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de suspensão do despedimento por extinção do posto de trabalho, tem conhecimento da conta da Recorrida e do banco onde poderia depositar a compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, pois, os mesmos constam do Doc. n.º 3, junto com a oposição e cujo teor se dá por reproduzido para todos os efeitos legais, tal como constam do Doc. n.º 3, junto com o articulado para motivar o despedimento do Recorrente e cujo teor se dá por reproduzido para todos os efeitos legais, que lhe foi notificado no dia 13 de Janeiro de 2020, mas, até à presente data, o Recorrente não procedeu à devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, no valor de 5.498,43, o qual lhe foi pago pela Ré, através de transferência bancária, no dia 16 de Dezembro de 2019.

19. O Recorrente é uma pessoa instruída e com formação académica superior, pois, possui uma licenciatura em Ciências Empresariais (facto provado 8.), era o Diretor-geral do (…) (facto provado 18.), ou seja, exercia um cargo de direção ou quadro superior, e foi patrocinado por Advogado ao longo do seu procedimento de despedimento por extinção do posto de trabalho, pois, a carta datada de 25 de Novembro de 2019, através da qual o Recorrente informou a Recorrida de que havia solicitado a intervenção da Direção Regional do Trabalho e da Ação Inspetiva, nos termos previstos no n.º 2, do artigo 370.º, do Código do Trabalho, foi subscrita pela sua Advogada (facto provado 2.), e a carta registada com aviso de receção que o Recorrente enviou à Recorrida, no dia 20 de Dezembro de 2019, está também subscrita pela sua Advogada (doc. n.º 1, junto com a contestação).

20. O Recorrente aceitou o seu despedimento por extinção de posto de trabalho, porque não ilidiu a presunção estabelecida no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, uma vez que não procedeu à devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, pelo que a decisão recorrida, ao ter concluído pela verificação da

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exceção de aceitação do despedimento pelo Recorrente, com a não devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, nos termos previstos no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, e, em consequência, ao ter julgado a presente ação improcedente, por não provada, absolvendo a Recorrida do peticionado, não merece qualquer censura, pelo que deve ser mantida nos seus precisos termos. Nestes termos e nos demais de Direito que V. Exas. doutamente suprirão, deve o presente recurso ser julgado totalmente improcedente, proferindo-se acórdão que confirme, nos seus precisos termos, a decisão recorrida, que concluiu pela verificação da exceção de aceitação do despedimento pelo Recorrente, com a não devolução da compensação legal devida pela cessação do seu contrato de trabalho por extinção do posto de trabalho, nos termos previstos no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, e em consequência, julgou a presente ação improcedente, por não provada, absolvendo a Recorrida do peticionado, assim se fazendo inteira JUSTIÇA!»

*

O juiz do processo admitiu, a fls. 254, a ampliação deduzida pela Ré do objeto do recurso de Apelação do Autor, nos termos do artigo 636.º do NCPC.

*

O relator desta Apelação, fazendo apelo ao disposto nos artigos 87.º número 1 do Código do Processo do Trabalho e 656.º do Novo Código de Processo Civil, proferiu no dia 23/11/2020 Decisão Sumária, que, em síntese, julgou a mesma nos seguintes moldes:

“Por todo o exposto, nos termos dos artigos 87.º, número 1, do Código do Processo de Trabalho e 656.º do Novo Código de Processo Civil, decide-se, mediante decisão sumária e singular, neste Tribunal da Relação de Lisboa, o seguinte:

a) Em julgar improcedente a impugnação da Decisão sobre a Matéria de Facto que a Ré, em sede de ampliação do objeto do recurso de Apelação do Autor,

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veio deduzir;

b) Em julgar improcedente o recurso de Apelação interposto por AAA, com a confirmação da sentença recorrida.

*

Custas do recurso de Apelação a cargo do Apelante e da ampliação do objeto de tal primeiro recurso a cargo da Apelada - artigo 527.º, número 1 do Novo Código de Processo Civil.

*

Registe e notifique.” *

A fundamentação desenvolvida pelo relator de tal Decisão Singular foi a seguinte:

«É pelas conclusões do recurso que se delimita o seu âmbito de cognição, nos termos do disposto nos artigos 87.º do Código do Processo do Trabalho e 639.º e 635.º n.º 4, ambos do Novo Código de Processo Civil, salvo questões do conhecimento oficioso (artigo 608.º n.º 2 do NCPC).

A – REGIME ADJECTIVO E SUBSTANTIVO APLICÁVEIS (…)

B – IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO SOBRE A MATÉRIA DE FACTO (…)

C – MOTIVAÇÃO DO DESPEDIMENTO, CONTESTAÇÃO E RESPOSTA – FACTOS ALEGADOS QUANTO À EXCEÇÃO PERENTÓRIA DA ACEITAÇÃO DO DESPEDIMENTO

A Ré, na sua motivação de despedimento, veio alegar quanto a tal exceção perentória de aceitação do despedimento por extinção do posto de trabalho, o seguinte:

«I. DA EXCEPÇÃO DE ACEITAÇÃO DO DESPEDIMENTO POR EXTINÇÃO DE POSTO DE TRABALHO

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presume-se que o trabalhador aceita o despedimento quando recebe do empregador a totalidade da compensação prevista neste artigo.

2. A presunção “juris tantum” estabelecida no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, apenas pode ser ilidida por prova em contrário, nos termos do disposto no artigo 350.º, n.º 2, do Código Civil.

3. Nos termos do disposto no artigo 366.º, n.º 5, do Código do Trabalho, a presunção referida no número anterior pode ser ilidida desde que, em simultâneo, o trabalhador entregue ou ponha, por qualquer forma, a totalidade da compensação paga pelo empregador à disposição deste último.

4. Assim, presumindo-se que o trabalhador aceita o despedimento quando recebe a compensação prevista no artigo 366.º, do Código do Trabalho, tal presunção apenas pode ser ilidida pelo trabalhador através da imediata comunicação ao empregador de que não aceita o seu despedimento, em simultâneo com a devolução da compensação recebida pela cessação do seu contrato de trabalho, por extinção do posto de trabalho, pois, apenas tal comportamento do trabalhador pode fazer prova em contrário da aceitação do despedimento.

5. Nestes termos, o trabalhador terá de fazer prova em contrário da aceitação do despedimento no momento em que recebe a compensação pela cessação do seu contrato de trabalho, comunicando de imediato ao empregador que não aceita o seu despedimento e devolvendo, em simultâneo, a compensação recebida pela cessação do seu contrato de trabalho, porquanto a finalidade visada pelo legislador na presunção estabelecida no artigo 366.º, n.º 4, do Código do Trabalho, foi a de impedir o trabalhador de impugnar judicialmente o seu despedimento.

6. Estamos, pois, perante uma presunção juris tantum e condicionada no tempo quanto à possibilidade de ser ilidida.

7. Neste sentido, vide Pedro Furtado Martins, in Cessação do Contrato de Trabalho, 3.ª Edição, pág. 363:

(29)

«Se o pagamento foi oferecido diretamente ao trabalhador, em numerário ou cheque, pensamos que este deve recusar de imediato a receção das quantias oferecidas, sob pena de, aceitando-as, nascer a presunção da aceitação. Realizando-se o pagamento por transferência bancária, como muitas vezes sucede, o trabalhador deve proceder à devolução logo que tome conhecimento de que o respetivo valor foi creditado na sua conta, sob pena de, não o fazendo, se considerar que recebeu a compensação e, como tal, aceitou o despedimento.”

8. E Pedro Romano Martinez, Luís Miguel Monteiro, Joana Vasconcelos, Pedro Madeira de Brito, Guilherme Dray e Luís Gonçalves da Silva, in Código do Trabalho Anotado, 9.ª Edição, pág. 777:

«A expressão “em simultâneo” pode ser entendida como devolução imediata, no próprio momento em que é recebida, afastando a possibilidade de devolução posterior.»

9. Neste sentido, vide o douto acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 17 de Março de 2016, processo n.º 1274/12.0TTPRT.P1.S1, disponível in www.dgsi.pt, ao decidir:

«III. Não aceitando o despedimento e querendo impugná-lo, o trabalhador deverá recusar o recebimento da compensação ou proceder à devolução da compensação imediatamente após o seu recebimento, ou no mais curto prazo, sob pena de, assim não procedendo, cair sob a alçada da presunção legal a que se reporta o n.º 4 do art.º 366.º, traduzida na aceitação do despedimento» -sublinhado nosso.

10. O douto acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 14 de Maio de 2012, processo n.º 739/09.5TTMTS.P1, disponível in www.dgsi.pt, ao decidir:

«I - Presume-se que o trabalhador aceita o despedimento coletivo quando recebe a compensação prevista no art.º 366.º, n.º 1 do CT2009.

II - Tendo o empregador transferido para a conta bancária do trabalhador tal compensação e tendo este demorado a devolver tal quantia cerca de dois

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meses ou mais, tal comportamento faz presumir a aceitação da licitude do despedimento.

III – Para ilidir tal presunção, deveria o trabalhador ter procedido à devolução da compensação imediatamente após o recebimento ou em prazo curto e fazer a prova do contrário.

IV – Não o tendo feito, presume-se a aceitação do despedimento coletivo, o que constitui facto impeditivo da ilicitude do despedimento, integrando uma exceção perentória pelo que, provada aquela, deve o empregador ser absolvido do pedido» - sublinhado nosso.

11. O douto acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 08 de Julho de 2015, processo n.º 1274/12.0TTPRT.P1, disponível in www.dgsi.pt, ao decidir:

«(…) como também diz a sentença, a compensação foi depositada pela Ré na conta bancária daquele no dia 10 de Agosto de 2012 e o mesmo apenas procedeu à respetiva devolução no dia 06 de Setembro, isto é, 26 dias depois. (…)

É certo que no referido dia 28 de Agosto de 2012 o Autor remeteu uma carta à Ré, comunicando-lhe aí a sua intenção de impugnar o despedimento e solicitando a remessa do último recibo de vencimento para saber os montantes que lhe foram pagos e devolver a indemnização.

Mas tal atuação do Autor, que ocorreu 18 dias depois da transferência bancária operada pela Ré, não tem, a nosso ver, relevo no sentido de justificar a dilação verificada na devolução da compensação, sendo ela própria tardia, face ao princípio da boa-fé, para interpelar a Ré sobre qual o valor atinente à compensação.

Com efeito, impunha-se ao Autor que, com urgência, se inteirasse do valor a devolver e procedesse a tal devolução, sendo certo que sabia já desde 28 de Maio de 2012 (3 meses antes) que a R. não orçava em mais de € 65.578,00 (irreleva a nosso ver a este propósito a irrisória diferença de 50 cêntimos face ao valor que ulteriormente a Ré fez constar do recibo) o valor global a pagar no

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termo do prazo de aviso prévio, pelo que quando constatou ter recebido € 69.174,84 tinha já uma noção do excesso.

Perante o regime legal estabelecido no artigo 366.º, n.º 5 para a elisão da presunção, e tendo presente que é sobre o trabalhador que incumbe o ónus de a ilidir nos termos do artigo 350.º, n.º 2 do Código Civil, entendemos que, a partir do momento em que o valor compensatório se encontra no domínio do trabalhador, este o deve devolver de imediato ou num curto prazo e logo que possível, invocando neste caso factos suficientes para que se conclua que a falta de devolução imediata lhe não é imputável, ou seja, deve o trabalhador justificar por que não procedeu à devolução em mais curto prazo, sempre de modo a impedir a ideia de que os valores pagos se integraram na sua área de disponibilidade e pôde deles dispor, ainda que por um período limitado de tempo.

(…)

Perante a forma como se mostra enunciado o regime da presunção ora em análise no Código do Trabalho de 2009, esta dilação temporal prefigura-se como excessiva e exagerada, como diz a Ré recorrente, não se vislumbrando – nem o Autor a adianta – qualquer justificação plausível para que o trabalhador apenas 18 dias após a transferência tenha vindo a interpelar a Ré sobre o valor da compensação e a comunicar-lhe a intenção de impugnar o despedimento, o que levou a que concretizasse a devolução apenas 26 dias depois da transferência da mesma para a sua conta bancária.

Neste condicionalismo de facto, entendemos dever concluir-se que o Autor não assumiu um comportamento donde se possam extrair factos conducentes à destruição da presunção legal de aceitação do despedimento estabelecida no n.º 4 do art.º 366.º do Código do Trabalho de 2009, designadamente por não ter atuado de molde a que se considere preenchida a condição estabelecida no n.º 5 do mesmo preceito para que opere a ilisão daquela presunção.

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circunstancialismo fáctico que a tornasse inoperante, tem de se concluir que, com o recebimento da compensação legalmente devida e a sua não entrega “em simultâneo” ao empregador, se presume ter o Autor aceite o despedimento. E ficou, desse modo, impedido de o impugnar, o que, necessariamente, impõe a improcedência dos pedidos que formulou contra a Ré com fundamento na ilicitude desse mesmo despedimento» - destaque e sublinhado nosso.

12. O douto acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 02 de Junho de 2016, processo n.º 989/13.0TTBRG-A.G1, disponível in www.dgsi.pt, ao decidir: «1 - Recebida pelo trabalhador a compensação pelo despedimento coletivo de que foi alvo, a manutenção da mesma na sua posse por um prazo injustificado, faz presumir que o mesmo aceita o despedimento.

(…)

Na verdade, a exigência da disponibilização da compensação até ao termo do prazo do aviso prévio como pressuposto da licitude do despedimento visa garantir ao trabalhador o recebimento desta forma de indemnização pela cessação lícita da relação de trabalho e desempenha um elemento redutor da conflituosidade inerente ao despedimento coletivo.

A disponibilização da compensação é uma forma de demonstração de boa-fé da entidade empregadora e da sujeição da mesma aos parâmetros legais no recurso a esta forma de cessação da relação de trabalho e não visa a resolução dos problemas sociais associados ao desemprego dos trabalhadores. Ela decorre da obrigação da reparação dos danos sofridos pelo trabalhador decorrentes da perda do seu posto de trabalho associada a motivos de natureza objetiva não decorrentes de um ato ilícito e de culpa do empregador.

Esta disponibilização também exige boa-fé por parte do trabalhador que, caso não aceite o despedimento, deverá devolvê-la ou colocá-la à disposição do empregador, de imediato, ou logo que da mesma tenha conhecimento, inibindo-se da prática de quaisquer atos que possam inibindo-ser demonstrativos do

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apossamento do quantitativo que lhe foi disponibilizado. (…)

Ora, de acordo com a matéria dada como provada, na data da comunicação do despedimento (27/12/2012), todos os Autores receberam a respetiva compensação por transferência bancária, sendo certo que enquanto uns (1.º, 4.º, 6.º, 11.º, 12.º, 14.º, 15.º e 16.º Autores) a devolveram nos dias seguintes à data do recebimento, outros (2.º, 3.º, 5.º, 7.º, 8.º, 9.º, 10.º e 13.º Autores) apenas o fizeram passados, 21, 22, 26, 48, 77, 159 e 256 dias.

Será que estes conseguiram ilidir aquela presunção? Cremos que não.

Com efeito, é preciso ter em conta “que a presunção de aceitação se forma com o ato de recebimento.” Consumada a receção, não bastará por certo ao trabalhador vir depois a intentar a ação de impugnação e invocar que desse modo ficou patente que não aceitava o despedimento.

E muito menos será suficiente para afastar a presunção a mera declaração do trabalhador de que não aceita o despedimento, embora receba a compensação. Tudo indica, assim, que se quiser contestar o despedimento o trabalhador terá de demonstrar factos que atestem não apenas que discorda do despedimento, mas também que o recebimento da compensação não pode ser qualificado como uma aceitação presumida daquele (2).

Como afirma FURTADO MARTINS, essa tarefa não é fácil, tendo grande influência a forma de pagamento utilizada pelo empregador. Se o pagamento foi oferecido diretamente ao trabalhador, em numerário ou cheque, segundo aquele autor, “este deve recusar de imediato a receção das quantias oferecidas, sob pena de, aceitando-as, nascer a presunção da aceitação”.

Por isso, conclui que “o simples recebimento da compensação tem associada a presunção que, uma vez constituída, não será fácil de ilidir (3).”

No caso dos autos, a partir do momento que os Autores tomaram conhecimento da efetivação da transferência bancária do valor da compensação na respetiva conta bancária, preencheu-se o facto integrativo da presunção de aceitação do

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despedimento, ou seja, o recebimento daqueles quantitativos. Ora essa transferência ocorreu logo no dia 27/12/2012 – que também foi o dia da comunicação da decisão de despedimento –, sendo certo que na carta que cada um dos trabalhadores recebeu já constava a informação de que o pagamento dos montantes da compensação e de outros créditos emergentes da cessação do contrato seria efetuado “através de transferência bancária para o NIB indicado por V. Ex.ª e que consta dos registos da empresa”.

A partir desse momento, tinham o ónus de demonstrar que o recebimento não implicava a aceitação do despedimento, ou seja, tinham de afastar o efeito probatório daquele facto decorrente da presunção em causa. Se era intenção dos mencionados Autores impugnar o despedimento, deveriam, de imediato, devolver à Ré o valor da compensação. Nada foi alegado no sentido de comprovar de que tivessem sido impedidos de o fazer, designadamente por necessidades financeiras. Uma reação tão tardia como a dos 2.º, 3.º, 5.º, 7.º, 8.º, 9.º, 10.º e 13.º Autores, não cumpre, certamente, os ditames da boa-fé, até porque não seria expectável que, após terem a disponibilidade daquele valor por tanto tempo, viessem impugnar o seu despedimento.

Por estas razões, face à omissão, por parte daqueles Autores, de qualquer comportamento contemporâneo ou imediatamente a seguir ao recebimento da compensação, que pudesse ser interpretado como discordante da aceitação do despedimento coletivo, decorrente da presunção estabelecida com tal recebimento, teremos de concluir que não demonstraram ter afastado, com o aludido recebimento, a presunção de aceitação do mencionado despedimento (4).»

13. O douto acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 01 de Setembro de 2016, processo n.º 25029/15.0T8LSB.L1-4, disponível in www.dgsi.pt, ao decidir: «I - A interpretação dos números 4 e 5 do artigo 366.º do C.T./2009 não pode deixar de ter em linha de conta a evolução legislativa que, de uma forma impressiva, foi procurando responder a algumas das dúvidas que a doutrina e a

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jurisprudência foram levantando em torno de tal regime legal – consagração de uma presunção legal, sua natureza jurídica, atos necessários para a sua ilisão, carência ou não de uma declaração expressa de oposição ao despedimento objetivo, obrigatoriedade da devolução da compensação e momento para tal devolução -, encontrando-nos face a uma presunção legal ilidível, que, para ser afastada, tem de se consubstanciar, pelo menos, na devolução total da compensação paga ou, pelo menos, disponibilizada ao trabalhador despedido, tendo tal devolução de ocorrer num prazo relativamente curto (e ponderado por critérios de oportunidade e razoabilidade) após o seu recebimento e como uma das formas de manifestação de oposição à referida cessação do contrato de trabalho» - sublinhado e destaque nosso.

14. E o douto acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 01 de Junho de 2017, processo n.º 1845/16.5T8BRG.G1, disponível in www.dgsi.pt, ao decidir: «I - Não aceitando a trabalhadora o despedimento por extinção do posto de trabalho e querendo impugná-lo ainda que por antecipação, como sucedeu no caso em apreço, deveria ter procedido à devolução da compensação imediatamente após o seu recebimento, ou do seu conhecimento ou em prazo muito curto, sob pena de cair sob a alçada da presunção legal de aceitação do despedimento consignada no n.º 4 do art.º 366.º, do CT.

II - Outra interpretação não pode ser dada ao citado n.º 5, do artigo 366.º, do CT a não ser a de que o trabalhador, querendo ilidir a presunção de aceitação do despedimento por extinção do posto de trabalho, terá de entregar ou colocar à disposição do empregador a compensação pecuniária que recebeu. Só, assim, poderá impugnar o despedimento de que foi alvo» - sublinhado e destaque nosso.

15. In casu, a Ré, por decisão proferida por escrito no dia 13 de Dezembro de 2019, procedeu ao despedimento do Autor por extinção do posto de trabalho (Doc. n.º 1, que se junta e cujo teor se dá por reproduzido para todos os efeitos legais).

Referências

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