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COMO SE ESCREVE: TUDO JUNTO OU SEPARADO?

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COMO SE ESCREVE: TUDO JUNTO OU SEPARADO?

Marco Antonio BATISTA1

RESUMO: O presente trabalho procura realizar uma pesquisa bibliográfica e documental acerca das novas regras ortográficas. Apresenta e discute as principais mudanças ocorridas na Língua Portuguesa, analisando aspectos positivos e negativos da reforma ortográfica.

PALAVRAS-CHAVE: novas regras; ortografia; hifenização; mudanças ortográficas.

1. Introdução

Este trabalho pretende abordar as mudanças da reforma ortográfica, ocasionadas pelo Decreto nº 6583, de 29 de setembro de 2008, o qual prevê a unificação da língua portuguesa escrita nos seguintes Países: República Popular de Angola, República Federativa do Brasil, República da Guiné-Bissau, República de Moçambique, República Portuguesa e República Democrática de São Tomé e Príncipe, República Democrática de Timor Leste e República do Cabo Verde, somando duzentos e cinqüenta (250) milhões de pessoas que falam o idioma português. Serão analisadas as principais mudanças que deverão entrar em vigor, no Brasil, a partir de janeiro de 2013, verificando as vantagens e as desvantagens de tais mudanças, realizando pesquisa bibliográfica e documental sobre o tema, através de livros, jornais e revistas que tenham como tema central a reforma ortográfica. O trabalho deverá citar também as principais mudanças ocorridas nas reformas ortográficas anteriores.

Em se falando em reforma ortográfica, temos, necessariamente, de falar em Língua, sendo esta a palavra usada quando se quer referir ao sistema de sons e palavras usadas na comunicação, para expressar o que as pessoas pensam, sentem, querem ou sabem.

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Bacharel em Direito pela Universidade Paulista, Especialização em Língua Portuguesa pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. E-mail do autor: ankhara@bol.com.br. Orientador: Prof. Dr. Silvio Reinod Costa; e-mail: scosta@baraodemaua.br.

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Dentre as várias línguas existentes no mundo – pois há cerca de seis mil – muitas delas são faladas por muito pouca gente, estando em vias de extinção, enquanto outras, sendo faladas por muitas pessoas, correm o mundo e se tornam segunda língua de milhões de pessoas. Enquanto existem povos que se comunicam apenas por uma língua, outros se utilizam de várias. A língua de um povo é o instrumento de realização de sua gente, no dia a dia, além de ser aquela que representa esse povo perante outros povos, ajudando a colocar seus costumes, sua cultura e seu modo de sentir e de se expressar na história da humanidade (GEIGER; SILVA, 2009).

2. Breve História da Língua Portuguesa

O português é uma língua neolatina, pois teve origem no latim, idioma dos romanos. Os romanos conquistaram grande parte do continente europeu, o norte do continente africano e parte da Ásia, sendo que esse domínio se exerceu por muito tempo (do séc. VIII a.C. ao séc. V d.C). Na península ibérica, o latim vulgar, aquele que era falado pelo povo, mesclando-se aos idiomas da região, deu origem a novos dialetos. Os dialetos derivados do latim, conhecidos como romanços, fizeram nascer o português, nome que deriva de Portugal (Portucale), nação fundada em 1143, por Afonso Henriques, filho de D. Henrique, que foi muito importante na resistência européia ao domínio mouro. No séc. VIII, após três séculos de domínio germano, a península ibérica foi tomada pelos árabes, apesar dos esforços despendidos pelos povos ibéricos, principalmente dos lusitanos, contra a invasão moura. Ao longo dos séculos, Portugal prosperou e por ocasião das Grandes Navegações, seus domínios se estenderam pela Ásia, África e Brasil. Ao longo dos séculos, as colônias foram conquistando independência política, entretanto, a língua portuguesa, imposta desde a colonização, tornou-se a língua oficial desses povos.

Conforme citado por Mattos (2010), tratando da língua portuguesa em seus estudos de filologia românica:

Assim como os outros idiomas, o português sofreu uma evolução histórica, sendo influenciado por vários idiomas e dialetos, até chegar ao estado conhecido atualmente. Deve-se considerar, porém, que o português de hoje compreende vários dialetos e subdialetos, falares e subfalares, muitas

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vezes bastante distintos, além de dois padrões reconhecidos internacionalmente (português brasileiro e português europeu). No momento actual, o português é a única língua do mundo ocidental falada por mais de cem milhões de pessoas com duas ortografias oficiais (note-se que línguas como o inglês têm diferenças de ortografia pontuais mas não ortografias oficiais divergentes), situação a que o Acordo Ortográfico de 1990 pretende pôr cobro (MATTOS, 2010, p. 137).

Apesar de falarem português, existem variedades lingüísticas ou pequenas diferenças nos falares dos portugueses, dos brasileiros, dos africanos e dos asiáticos. Tais diferenças nas pronúncias de cada um dos países onde se fala o português continuarão a existir, apesar da presente tentativa de unificar a língua portuguesa, pois, a unificação pretendida é em sua forma escrita.

O principal objetivo do novo acordo ortográfico é o fortalecimento cultural, político e econômico da língua portuguesa nas nações lusófonas (onde o português é a língua oficial), unificando a escrita tanto de documentos oficiais quanto de livros e periódicos (GEIGER; SILVA, 2009).

Além disso, também se objetiva tornar a língua portuguesa mais forte, facilitando o intercâmbio cultural entre os países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), aumentando seu prestígio internacional, possibilitando sua entrada no rol dos idiomas oficiais da ONU (SANTANA, 2009).

Ao contrário de outras línguas de origem européia, como o espanhol e o italiano, que receberam uma forma gráfica definitiva, o português manteve uma pluralidade de grafias não padronizadas até ao princípio do século XX.

O mais antigo documento da língua portuguesa data de 1189 e procede de uma cantiga trovadoresca, transcrita no Cancioneiro da Ajuda e dedicada pelo trovador Paio Soares de Taveirós a Dona Maria Pais Ribeiro, a Ribeirinha, amante do Rei Dom Sancho I, texto que ora transcrevemos, primeiro no original, depois numa versão mais moderna (MATTOS, 2010):

No mundo nom me sei parelha, mentre me for como me vay ca já moiro por vos – e ay!

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mia senhor branca e vermelha queredes que vos retraya quando vus eu vi em saya! Mau dia me levantei, que vus enton non vi fea! E, mia senhor, dês aquel di’ ay! me foi a mi muyn mal,

e vos, filha de Don Paay Moniz, e bem vus semelha d’aver eu por vos guarvaya pois eu, mia senhor, d’alfaya nunca de vos ouve nen ei valia d’ua Correa.

No mundo não me sei par [estou sem par] enquanto me for como me está indo pois já morro por vós – e ai!

minha senhora branca e vermelha, quereis que eu vos afaste [de mim] quando eu vos vi numa saia! Em mau dia me levantei – já que então eu não vos vi feia!

E, minha senhora, desde aquele dia, ai! tudo esteve muito ruim para mim, e vós, filha de Dom Paio

Monis, que bem vos pareça eu ter de vós uma recompensa, pois eu, minha senhora, para roupa nunca tive de vós nem tenho

o valor de uma correia.

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Após a implantação da república em Portugal, foi nomeada uma comissão para estabelecer uma ortografia simplificada para ser usada nas publicações oficiais e no ensino, que foi oficializada em 1º de setembro de 1911 (<www.wikipedia.org>. Acesso em 20/06/2012).

Essa reforma, considerada a primeira oficial em Portugal, modificou completamente o aspecto da língua escrita, aproximando-o muito do atual, fazendo desaparecer muitas consoantes duplas, de origem latina, como as usadas na palavra accommetter, além da eliminação dos grupos ph (com o som de f), th, rh, ch (com o som de k), th, rh. Além disso, a reforma procedeu à eliminação das consoantes “mudas”, como as utilizadas nas palavras: sancto (santo) e septe (sete) (MATTOS, 2010).

Entretanto, a reforma ortográfica portuguesa de 1911 não foi adotada pelo Brasil, ficando os dois países com ortografias diferentes, embora tenha havido, em 1915, por parte da Academia Brasileira de Letras, a pretensão de unificar o português de Portugal com o brasileiro, por intermédio de uma resolução, que acabou sendo revogada (AMARAL, 2009).

No ano de 1924 a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começaram a buscar uma ortografia comum, sendo firmado um acordo preliminar em 1931 que adotava a ortografia portuguesa de 1911, iniciando assim o processo de convergência das ortografias dos dois países. Entretanto, os vocabulários publicados na década de 1940, tanto pelo Brasil como por Portugal, ainda continham algumas divergências.

Em 1945 ocorreu o Acordo Ortográfico que se tornou lei em Portugal, mas não foi ratificado pelo Brasil.

Novo acordo entre Portugal e Brasil, publicado por este no ano de 1971, por intermédio da Lei nº 5765, suprimiu o acento circunflexo na distinção dos homógrafos, responsável por 70% das divergências ortográficas com Portugal, além de suprimir os acentos que marcavam a sílaba subtônica nos vocábulos derivados com o sufixo –mente ou iniciados por –z. Portugal aderiu a esse acordo em 1973.

Em 1975 a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboraram um projeto de acordo que não foi aprovado oficialmente.

No ano de 1986 ocorreu uma reunião de representantes dos sete países de língua portuguesa existentes na época. Dessa reunião, que ocorreu no Rio de Janeiro, foram estabelecidas as Bases Analíticas da Ortografia Simplificada da

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Língua Portuguesa de 1945, renegociadas em 1975 e consolidadas por ocasião dessa reunião, as quais, entretanto, nunca chegaram a ser implementadas.

Analisando-se as razões do fracasso dos acordos ortográficos citados, principalmente o conteúdo dos acordos de 1945 e 1986, a conclusão a que se chega é a de que eles visavam impor uma unificação ortográfica absoluta.

O acordo de 1986 conseguia a unificação ortográfica em cerca de 99,5% do vocabulário geral da língua. Mas essa unificação seria conseguida à custa da simplificação drástica do sistema de acentuação gráfica, “pela supressão dos acentos nas palavras proparoxítonas e paroxítonas, o que não foi bem aceito por uma parte substancial da opinião pública portuguesa”, conforme disposto no Anexo II do Decreto nº 6.583/2008, o qual acrescenta:

Também o acordo de 1945 propunha uma unificação ortográfica absoluta que rondava os 100% do vocabulário geral da língua. Mas tal unificação assentava em dois princípios que se revelaram inaceitáveis para os brasileiros: a) Conservação das chamadas consoantes mudas ou não articuladas, o que correspondia a uma verdadeira restauração destas consoantes no Brasil, uma vez que elas tinham há muito sido abolidas. B) Resolução das divergências de acentuação das vogais tônicas e e o, seguidas das consoantes nasais m e n, das palavras proparoxítonas (ou esdrúxulas) no sentido da prática portuguesa, que consistia em as grafar com acento agudo e não circunflexo, conforme a prática brasileira.

Conforme dispõe Amaral (2009), na Introdução de sua obra sobre o novo acordo ortográfico:

Mudanças fazem parte da vida de qualquer nação e de qualquer pessoa. Com a língua, é a mesma coisa. Ela evolui, pois os idiomas são ágeis: mudam constante e rapidamente. Por isso, os povos têm que se acostumar e perceber a evolução das palavras. O legal disso tudo é que, com a unificação da língua portuguesa, nos tornaremos mais universais (AMARAL, 2009, p. 1).

Da mesma forma que as pessoas, a sociedade evolui em todos os aspectos, tanto físicos quanto psíquicos, científicos e culturais, e a língua deve acompanhar essa evolução.

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4. O novo acordo ortográfico

Em Lisboa, no ano de 1990, ocorreu nova reunião da qual resultou um novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, previsto para entrar em vigor em 1º de janeiro de 1994.

Na cidade da Praia, em Cabo Verde, no ano de 1998, foi assinado um Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que retirou do texto original a data para sua entrada em vigor.

Em São Tomé e Príncipe foi aprovado um Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico, no ano de 2004, prevendo que, em lugar da ratificação por todos os países, fosse suficiente que três membros ratificassem o Acordo Ortográfico de 1990 para que este entrasse em vigor nesses países.

O Presidente Luís Inácio Lula da Silva, do Brasil, assina em 29 de setembro de 2008, as mudanças ortográficas da língua portuguesa, que passam a valer a partir de 1º de janeiro de 2009.

Pode-se constatar que muitas foram as tentativas de se unificar o Português em todos os países que o têm como língua oficial, as quais culminaram com o Acordo Ortográfico de 1990, o qual entrará definitivamente em vigor, no Brasil, em janeiro de 2013.

A língua portuguesa sempre teve duas ortografias: aquela utilizada em todos os países de língua portuguesa e a utilizada no Brasil, que segue normas próprias.

As principais diferenças ortográficas entre Brasil e Portugal residem em algumas consoantes mudas (aquelas que não são articuladas) que já foram eliminadas da escrita no Brasil, mas que ainda sobrevivem em Portugal.

Em Portugal as consoantes mudas são ainda tema bastante polêmico, pois, ao contrário dos brasileiros, os portugueses têm muitos casos em que há distinção fonética entre vogais abertas, fechadas e mudas. Tais casos podem ser classificados como fáceis, aceitáveis ou difíceis de integrar no contexto da fonética portuguesa. Exemplos de fáceis: ótica, ótimo, ato, ata, didático. Casos de aceitáveis, com algumas confusões: espetáculo, adotar, afeto, ação. São exemplos de casos difíceis: receção e conceção, que se confundem com recessão e concessão; neste caso talvez seja menos polêmico mudar a fonética em vez da ortografia portuguesa atual, por forma a ler-se as consoantes mudas: recepção, concepção.

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Enquanto Portugal e África escrevem: acção, actor/actriz, contacto, direcção, eléctrico, óptimo, o Brasil escreve: ação, ator/atriz, contato, direção, elétrico, ótimo.

Entretanto, outras palavras são grafadas do mesmo modo, tanto no Brasil como em Portugal, tais como: corrupção, óptica, pacto, aspecto, respectivo, prospecção e captura.

Subsistem, ainda, diferenças na acentuação de certas palavras. No Brasil, palavras como idôneo ou anônimo têm sílaba tônica fechada, enquanto que em Portugal e África são abertas: idóneo e anónimo.

O Acordo Ortográfico de 1990 adota uma ortografia comum a todos os países de língua portuguêsa, reconhecendo as diferentes variantes e admitindo algumas grafias duplas, como: facto e fato, secção e seção, António e Antônio, bebé e bebê, amnistia e anistia. Contudo, certas palavras admitirão apenas uma forma escrita, como: direção, ideia, frequência e voo (<www.wikipedia.org>. Acesso em 20/06/2012).

5. Principais mudanças provocadas pelo novo acordo

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi aprovado pelos oito países lusófonos (que têm o português como língua oficial) em 16 de dezembro de 1990.

Os oito países são: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste (que assinou posteriormente).

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O Congresso brasileiro aprovou o Acordo em abril de 1995 e o presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 29 de setembro de 2008, oficialmente ratificou-o, marcando como início de sua vigência o dia 1º de janeiro de 2009 e um período de adaptação até 2012.

Desta forma podemos notar que algumas dúvidas remanescem, conforme dispõem Geiger; Silva (2009), tratando do novo acordo:

O texto do Acordo em si não dirime todas as dúvidas, pois menciona eventualmente parâmetros genéricos, como ‘consagrado pelo uso’, e resume algumas listas de casos com ‘etc.’, deixando dúvida quanto à abrangência da regra. A elucidação de qualquer dúvida remanescente cabe à quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, que tem caráter normativo (GEIGER; SILVA, 2009, p.19).

As principais mudanças que passam a ocorrer na língua portuguesa, de acordo com a nova reforma ortográfica, são (GROSSI, 2008):

O alfabeto passa a ter vinte e seis (26) letras, incluindo as letras k, w e y. O trema, cujo emprego já havia sido largamente restringido, com a Lei nº 5.765, de 18/12/1971, é abolido definitivamente da língua, mantendo-se, porém, em nomes próprios de origem estrangeira, bem como em seus derivados. Exemplos: Bündchen, Müller, mülleriano.

O acento agudo desaparece nos ditongos (encontro de duas vogais proferidas em uma só sílaba) abertos ei e oi das palavras paroxítonas (aquelas cuja sílaba tônica é a penúltima). Exemplos: assembléia, idéia, heróico. Lembrando que o acento agudo permanece nos grupos éi, éu e ói nas palavras oxítonas (palavras com acento na última sílaba) bem como nos monossílabos tônicos, tanto no singular quanto no plural. Exemplos: herói(s), chapéu(s), anéis, dói, céu.

O mesmo acento desaparece nas paroxítonas com i e u tônicos que formam hiato (duas vogais seguidas em sílabas diferentes), com a vogal anterior quando esta faz parte de um ditongo. Exemplos: baiuca, feiura. Entretanto, as letras i e u continuam a ser acentuadas se formarem hiato mas estiverem sozinhas na sílaba ou seguidas de s. Exemplos: baú, baús, saída; bem como no caso das palavras oxítonas, nessas mesmas condições. Exemplos: tuiuiú, Piauí.

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Deixa de existir o acento agudo das formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com o u tônico precedido das letras g ou q e seguido de e ou i. Tais casos são pouco frequentes na língua portuguesa: apenas nas formas verbais de arguir e redarguir. Exemplos: arguis, arguem, redarguis, redarguem.

Desaparece o acento diferencial nas palavras homófonas, permanecendo excepcionalmente nas palavras: pôr (verbo) e pôde (verbo conjugado no passado). Na palavra fôrma/forma (substantivo) o acento é facultativo.

O acento circunflexo não existe mais nas palavras terminas em oo, como: enjoo, voo, abençoo, perdoo.

O acento circunflexo também deixa de ser usado na conjugação da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus derivados. Exemplos: creem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem. Permanece, todavia, o acento circunflexo nos verbos ter e vir, quando no plural. Exemplos: eles têm, eles vêm. No caso dos derivados de ter e vir, permanece o acento agudo nas formas que possuem mais de uma sílaba no singular. Exemplos: ele detém, ele intervém.

Algumas mudanças são bastante expressivas no que tange ao emprego do hífen.

No caso de prefixo que termina em vogal e o segundo elemento começa com as consoantes s ou r, desaparece o hífen e a consoante obrigatoriamente passa a ser duplicada. Exemplos: antirreligioso, antissemita, contrarregra.

Não se usa mais o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: autoestrada, extraescolar, autoaprendizagem.

Entretanto, permanece o hífen quando o prefixo termina com r (hiper, inter e super) e a primeira letra do segundo elemento também é r. Exemplos: hiper-requintado, super-resistente.

Pode-se verificar que boa parte das mudanças previstas no novo acordo não afeta o português escrito no Brasil, mas modifica bastante a grafia do português de Portugal. Exemplo disso é a eliminação da letra h no início de palavras como herva e húmido, que ainda são escritas desta forma em Portugal. O h é ainda suprimido quando, por força de composição, passa de inicial a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente. Exemplos: desarmonia, desumano, inábil, lobisomem.

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Regra geral desaparece o c e o p das palavras em que essas letras não são pronunciadas, como é o caso de palavras como: acção, aflicto, colectivo, director, que passam a ser grafadas: ação, aflito, coletivo, diretor. Entretanto, em alguns casos em que a letra c é pronunciada, seu uso poderá ser facultativo. Exemplos: facto, sector.

O acordo prevê ainda dupla grafia nas palavras proparoxítonas cuja vogal tônica admita mudança de timbre. Exemplos: acadêmico, cômodo, ingênuo, oxigênio, no Brasil e: académico, cómodo, ingénuo, oxigénio, em Portugal.

As chamadas proparoxítonas aparentes também permitem dupla grafia: gênio ou génio, insônia ou insónia.

Entretanto, permanecem certas incoerências nas normas gramaticais, que nem os manuais nem os professores de Língua Portuguesa conseguem explicar, pois, conforme afirma Santos (1997):

Os livros dizem: o plural de couve-flor é couves-flores. Por que o plural de couve-flor é couves-flores e o plural de banana-maçã é bananas-maçã? E fora outras incoerências que a gente sabe que a gramática coloca como regra e você não consegue explicar. Isso também nos deixa preocupados, nos deixa um pouco vulneráveis em relação ao ensino da língua. (SANTOS, 1997, p. 53, apud SANTOS, V. L. dos, 2009)

Incoerências como essa prejudicam demasiadamente o Português, pois tem que haver uma explicação clara e lógica sobre a razão de cada item normatizador da língua.

Ainda referente às mudanças ortográficas ocorridas no uso do hífen, convém assinalar, conforme dispõe Silva (2009):

Como era: auto-retrato, auto-serviço, auto-suficiente, auto-sustentável, contra-reforma, contra-senso, infra-renal, infra-som, intra-racial, romântico, neo-socialismo, pseudo-rainha, pseudo-representação, pseudo-sábio, reta, semi-selvagem, supra-renal, supra-sumo, radical, romântico, som, ultra-sonografia, ante-republicano, ante-sala, rábico, racista, radical, anti-semita, anti-social, arqui-rival, arqui-sacerdote, sobre-renal, sobre-roda, sobre-saia, sobre-salto, auto-adesivo, auto-análise, auto-idolatria, espião, contra-indicação, contra-ordem, extra-escolar, extra-oficial, infra-estrutura, intra-ocular, intra-uterino, neo-acadêmico, neo-irlandês, proto-evangelho, artista,

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pseudo-edema, semi-aberto, semi-alfabetizado, semi-árido, semi-escravidão, semi-úmido, ultra-elevado, ultra-oceânico...

Como fica: autorretrato, autosserviço, autossuficiente, autossustentável, contrarreforma, contrassenso, infrarrenal, infrassom, intrarracial, neorromântico, neossocialismo, pseudorrainha, pseudorrepresentação, pseudossábio, semirreta, semisselvagem, suprarrenal, suprassumo, ultrarradical, utrarromantico, ultrassom, ultrassonografia, anterrepublicano, antessala, antirrábico, antirracista, antirradical, antissemita, antissocial, arquirrival, arquissacerdote, sobrerrenal, sobrerroda, sobressaia, sobressalto, autoadesivo, autoanálise, autoidolatria, contraespião, contraindicação, contraordem, extraescolar, extraoficial, infraestrutura, intraocular, intrauterino, neoacadêmico, neoirlandês, protoevangelho, pseudoartista, pseudoedema, semiaberto, semialfabetizado, semiárido, semiescravidão, semiúmido, ultraelevado, utraoceânico... (SILVA, 2009, p. 26-27).

Nos exemplos acima foram listadas palavras que, antes da reforma, escreviam-se separadas por hífen e passaram a ser escritas sem separação.

Abaixo, estão relacionadas palavras que antes eram escritas sem separação e agora são escritas com o uso do hífen, conforme Geiger e Silva, 2009:

Antes: antiibérico, antiigualitário, antiiluminista, antiilusionista, antiimigração, antiimperialista, antiincêndio, antiindígena, antiindustrial, antiinfeccioso, antiinflacionário, antiinflamatório, arquiinimigo, circunavegação, circumeridiano, microondas, microorganismo.

Depois: ibérico, igualitário, iluminista, ilusionista, imigração, imperialista, incêndio, indígena, industrial, anti-infeccioso, anti-inflacionário, anti-inflamatório, arqui-inimigo, circum-navegação, circum-meridiano, micro-ondas, micro-organismo. (GEIGER; SILVA, 2009, p. 63, 64, 66, 76, 79).

Pode-se perceber, através desses exemplos, que algumas palavras que eram escritas sem hífen, passaram a conter esse sinal gráfico, ao contrário de outras que eram escritas com hífen e passaram a ser escritas sem ele. Tal fato, provavelmente, irá causar certa dificuldade a todos.

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Todas as mudanças normalmente trazem certo desconforto, não importando se são mudanças de residência, de cidade, de país, de emprego, de escola ou mudanças culturais, sociais, econômicas ou lingüísticas, sendo certo que tais mudanças afetam o ser humano em todos os aspectos, tanto físicos quanto psicológicos, emocionais.

Qualquer tipo de mudança, quase sempre, apresenta aspectos positivos e negativos às pessoas que por ela são atingidas. Algumas, ao contrário de outras têm mais aspectos positivos.

A reforma ortográfica, assunto deste trabalho, apresenta os seguintes aspectos, entre outros (BIZZOCCHI, 2012):

Desaparecem o c e o p mudos, como em acção, acto, óptimo e Egipto, mas mantém-se em facto, por ser pronunciado.

Os encontros vocálicos ee e oo perdem o acento circunflexo.

O trema deixa de existir, exceto nas palavras de origem estrangeira, o que simplifica a ortografia da língua portuguesa, embora represente um aspecto negativo para alguns, pois como se irá diferenciar equino (cavalo) de equino (ouriço-do-mar)?

Ainda nas palavras de Bizzocchi, 2012:

[...] A nova norma fará com que os portugueses escrevam “húmido “ como “úmido”. Só que “húmido” (“úmido”) é da mesma etimologia de “humor”, o latim húmus, com h. Se em Portugal ainda havia coerência ortográfica na palavra, agora desaparecerá. Melhor mesmo seria eliminar de vez o h mudo e pronto. Também se simplifica o uso do hífen, o que é bom. Só que, ao mesmo tempo em que se elimina o hífen de “anti-semita” (antissemita), ele é introduzido em “microondas” (micro-ondas). O mais absurdo da reforma é que deixará de ser usado o acento para diferenciar “pára” (verbo) de “para” (preposição), bem como o de “pêlo” (substantivo) e “pelo” (preposição + artigo). O título Uma pistola para Jeca, do filme de Mazzaroppi, poderá ser interpretado como “uma pistola cabe (ou é oferecida) a Jeca” (sentido real do título) ou “uma pistola detém Jeca”. E quem vai entender o trocadilho no título do livro Pelos pêlos, de Ana Cristina César? [...] Uma reforma simplificadora é necessária, mas a que está em curso é um frankenstein linguístico, produto de negociações políticas entre os países. O resultado, como na política, foi um projeto desfigurado, em que se eliminaram coisas boas e se manteve muito do que havia de ruim [...] Em vez de uma reforma radical e definitiva, como fizeram outras línguas, as doses homeopáticas no português obrigam a que a cada 50 anos seja feita nova reforma [...]

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Ortografia é assunto que sempre causa frisson. Provavelmente porque muitos vêem na grafia das palavras um patrimônio nacional, comparável ao hino e à bandeira. Mudanças constantes de moeda, constituição, regime de governo, denominação do país, e também de ortografia, produzem na população um sentimento de instabilidade e baixa auto-estima [...] (BIZZOCCHI, A., 2012, p.1).

Simplificando, alguns dentre os principais aspectos positivos da reforma, podem ser relacionados: redução dos custos de produção e adaptação de livros; facilitação na aprendizagem da língua pelos estrangeiros; simplificação de algumas regras ortográficas. Quanto aos aspectos negativos, pode-se citar: Aqueles que já possuem interiorizadas as normas gramaticais terão de aprender as novas regras; surgimento de dúvidas; adaptação de documentos e publicações. (SÓ PORTUGUES, [on-line]).

7. Conclusão

O objetivo deste trabalho foi estudar as principais mudanças que estão ocorrendo na língua portuguesa, com a reforma ortográfica, bem como analisar os aspectos positivos bem como os negativos desse novo acordo.

Verificando as modificações ocorridas, a opinião que fica é que os aspectos negativos das mudanças são bem mais patentes que os contrários, tendo em vista o fato de que se está trocando seis por meia dúzia.

A grafia de certas palavras está sendo modificada sem nenhuma razão aparente ou convincente para tanto.

Vocábulos que se escreviam tudo junto passaram a ser escritos separados, enquanto outros que se escreviam separados passaram a ser escritos tudo junto.

Existe, sim, grande dificuldade de adaptar-se a algumas mudanças, pois muitos operadores profissionais da língua portuguesa já estão por demais acostumados às normas anteriores e veem-se, agora, frente a mudanças que nem sempre são muito justificáveis.

As mudanças deveriam ser bem mais profundas e radicais para valerem a pena. No que tange à acentuação, por exemplo, ou se acentua todas as palavras tônicas ou não se acentua nenhuma palavra. Ocorre que essa reforma ortográfica deixa muito a desejar, pois na verdade não unificou completamente a língua, que em

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parte continua a ser duas, mesmo porque algumas palavras permanecerão com duas grafias, como é o caso do vocábulo fôrma/forma (substantivo).

Resta apenas uma certeza dessa mudança: não há de ser a última, mesmo porque a língua portuguesa está passando por grande transformação, com o advento do internetês.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, A. Novo (e Divertido) Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2009.

BIZZOCCHI, A. Os pontos negativos e os positivos do novo acordo entre países lusófonos. Liberal O Líder da informação em Cabo Verde [on-line]. Disponível em: <http://liberal.sapo.cv/noticia...> Acesso em 18 jul. 2012.

BRASIL. Decreto 6.583, de 29 de setembro de 2008. Promulga o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. [on-line]. Disponível em:< http://www.plananto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007/2008/Decre...>. Acesso em: 31 mai. 2012.

CIPRO NETO, P. Português passo a passo. Barueri, SP: Gold, 2009.

GEIGER, P.; SILVA, R DE C. M. DA. A nova ortografia sem mistério, do ensino fundamental ao uso profissional. São Paulo: Lexikon, 2009.

GROSSI, G. P. Revista Fundação Victor Civita. Manual da nova ortografia. Nova escola edição especial. Juiz de Fora, MG: Abril, Ática, Scipione, 2008.

HAUY, A. B. A acentuação gráfica em vigor e emprego do hífen. Ribeirão Preto, SP: Legis Summa, 2009.

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MATTOS, G. Filologia românica. Curitiba: Iesde, 2010.

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Referências

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