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PARA ALÉM DA FILANTROPIA: UM ESTUDO SOBRE ENGAJAMENTO POLÍTICO, ESTRUTURA DE PODER E GRUPOS DIRIGENTES DA CAUSA DO CÂNCER 1

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PARA “ALÉM” DA FILANTROPIA: UM ESTUDO SOBRE ENGAJAMENTO POLÍTICO, ESTRUTURA DE PODER E GRUPOS DIRIGENTES DA CAUSA DO

CÂNCER1

Raquel Santos Sousa2 Universidade Federal de Sergipe E-mail: quelsousa82@hotmail.com INTRODUÇÃO

O presente trabalho faz parte de uma linha de estudos sobre modalidades de engajamento e militância nos diversos espaços de politização e que tem contemplado as diferentes condições e recursos colocados em ação pelos agentes envolvidos. No Brasil, esse tipo de estudo dentro das ciências sociais foi enriquecido, a partir da introdução de modelos conceituais e metodológicos de pesquisas realizadas em outros países – como na França, por exemplo.

Os estudos sobre engajamento e militância, inseridos dentro das discussões da sociologia política, visam apresentar as formas de participação mais diversificadas, decorrentes das transformações nas relações entre o Estado e o campo político. Nesse âmbito, descobre-se uma fase de “declínio ou mutação” (PERRINEAU, 1994) das modalidades de engajamento, devido ao aparecimento de novos atores políticos e novos espaços de mobilização coletiva em todo o mundo. Em meio a essa questão, e especificamente no caso brasileiro, surgem formas renovadas de ação política, a partir dos múltiplos espaços de militância nas mais variadas causas, dentre estes “os movimentos sociais, categorias contestatórias, sindicais e organizações variadas etc. com vistas a modificar um determinado estado de coisas” (REIS, 2008; 43).

Assim, a participação política não se restringe somente a sindicatos e partidos políticos, tidos como modelos tradicionais de militância, mas também nos diferentes espaços de politização, dentre eles as formas associativas. De acordo, com Matonti & Poupeau (2004), essa renovação surge em meio à emergência de novos ciclos de mobilizações (sem documentos, soropositivos, imigrantes, gays, lésbicas, etc.) ou antigos,

1 Este texto é uma versão resumida do projeto apresentado ao mestrado em Sociologia da UFS, intitulada “Engajamento e

Militância Associativa: Um estudo sobre Filantropia e Participação Política pela causa do câncer em Sergipe”.

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mas que até então eram aparentemente desconhecidos (desempregados, sem-teto, etc.) e aparição de múltiplas organizações, agora autônomas e não mais ligadas diretamente a organizações políticas.

O crescimento de múltiplos espaços de militância contribuiu para que os grupos se tornassem cada vez mais especializado, fortalecendo a autonomia e o processo de individualização. Ion (1994) mostra que, com o processo de mutação nas formas de engajamento, houve uma maior valorização das competências pessoais, não sendo somente o fato de possuir uma ideologia de pertencimento a um grupo, classe ou ter condições econômicas, que determina a entrada dos indivíduos em um espaço de militância. Assim, a emergência de grupos com referências múltiplas – como, por exemplo, a questão identitária, ambiental, liberalismo cultural, ética, direitos humanos, etc – contribuiu para o processo individualização e de personalização, sendo nesse caso, “os indivíduos que criam horizontalmente suas próprias redes” (ION, 1994; 28).

Em relação às formas associativas, houve um notável processo de profissionalização por parte de seus dirigentes, em decorrência das exigências para a captação dos recursos materiais, financeiros e de voluntários, em meio à luta no campo das instituições.

Para concretização de um estudo referente ao engajamento político, estrutura de poder e grupos dirigentes da causa do câncer infanto-juvenil, faz-se necessário introduzir indicadores que possibilitem um maior detalhamento entre os grupos selecionados para a pesquisa e as relações existentes entre os mesmos no campo em que militam.

Estar engajado em uma causa filantrópica é evidenciado, na maioria das vezes, pelo senso comum, como um ato de “cidadania”, “solidariedade”, “benevolência”, “altruísmo”, “amor ao próximo”, sendo uma forma de incentivar outros indivíduos para a participação através do trabalho voluntário ou não. Mesmo que se trate de tipos de ações que visam colaborar em prol de um bem comum, podemos considerar os espaços associativos como um campo propício ao estudo de relações de poder.

Inseridos no campo da filantropia, as instituições que militam na causa do câncer infanto-juvenil, buscam meios para se legitimarem e terem reconhecimento. O que se pretende mostrar é que, mesmo que se tenha uma imagem de grupos que desempenham “ações desinteressadas”, que não visem lucros, as instituições e seus respectivos dirigentes,

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procura de alguma forma reconverter suas posições enquanto grupo, ao passo que transformam suas posições sociais enquanto agentes envolvidos nesse campo.

No entanto, esse é um dos aspectos que gostaríamos de evidenciar na discussão do presente trabalho, sobretudo no que diz respeito aos grupos dirigentes e as instituições que militam na causa do câncer infanto-juvenil em Aracaju, tomando como ponto de análise a concepção de “desinteresse” e “campo” trabalhada por Bourdieu (1996). Vale ressaltar que, trata-se de uma pesquisa ainda em curso, no qual se apresenta alguns questionamentos acerca do objeto de investigação.

“DESINTERESSE” E FILANTROPIA

As ações executadas por pessoas que desenvolvem trabalhos em “causas sociais” vêm ao longo dos anos crescendo e tornando-se mais organizadas nos seus objetivos e propostas comuns, intensificando a formação de novas práticas associativas. Assim, embora suas ações estejam voltadas em torno de colaborar com o bem estar da sociedade, o meio associativo constitui em um espaço favorável para uma análise em relação à questão do “desinteresse”.

O senso comum muitas vezes identifica a ação dos agentes mobilizados em causas sociais como atos de “altruísmo”, “benevolência”, no qual ajudar ao outro constitui na maioria dos casos um ato de “solidariedade”. Assim, deixa de lado as possíveis retribuições adquiridas pelos indivíduos no decorrer de suas ações. No entanto, mesmo que os indivíduos não tenham a intenção de colocar em prática as razões de suas ações, ainda assim, há um interesse que não é explicito e que é importante para os que estão envolvidos, já que, conforme Bourdieu (1996) “por trás da aparência piedosa e virtuosa do desinteresse, há interesses sutis e camuflados” (BOURDIEU, 1996, 152).

De acordo com Bourdieu (1996), é possível uma análise sociológica sobre a questão do desinteresse dos agentes em algumas de suas condutas. O autor tenta romper com a visão reducionista, que coloca as condutas dos agentes como se fossem calculadas conscientemente e as que tomam o interesse econômico e material como um fim a ser alcançado, ou seja, como se as ações fossem calculadas de maneira estratégica pelos agentes. Assim, o autor procura compreender a relação do “interesse” pelo “desinteresse”,

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a partir daquilo que ele denomina como simbólico, ou seja, “capital simbólico, interesse simbólico, lucro simbólico” (BOURDIEU, 1996; 149).

Portanto, é a partir da noção do simbólico que gostaríamos de direcionar parte de nossa análise sobre os agentes sociais ligados a causa do câncer. Pouco se questiona sobre o interesse de certos agentes em participar de práticas associativas, ou no caso a ser estudado, em causas sociais e filantrópicas. Não querendo desmerecer a importância que essas ações trazem para a sociedade em si, mas em relação a formas de participação que se tornaram mais organizadas ao longo das ultimas três décadas, ainda sim se faz necessário investigar o que faz com que os envolvidos em tal causa continuem militando em prol dela. Mesmo que se trate de um tipo de engajamento tradicional ou moderno, o meio associativo ou voluntário sugere que a pessoa dedique parte de seu tempo e se comprometa em uma atividade ao qual o interessa. No entanto, a adesão também implica em um investimento na militância, e, sobretudo, dentro do grupo ao qual pertence, já que, segundo Bourdieu (2007) quem não entende e não investe nas regras do jogo corre o risco de ficar fora das vantagens materiais ou simbólicas ao qual a participação oferece. Essas vantagens implicam também em uma diferenciação na posição dos agentes dentro do campo em que atua.

Alguns estudos sobre o engajamento têm mostrado que os tipos de retribuições gerados com a militância, e dentre elas a simbólica, tem justificado a integração, permanência a serviço de uma causa. No caso da militância do câncer em Sergipe, o fato dos militantes estarem integrados a organizações que se denominam como “sem fins lucrativos”, mesmo que não seja gerado nenhum lucro financeiro para os que estão engajadas na causa, suas ações podem sim gerar outro tipo de beneficio que não seja o econômico. De certa maneira, podemos dizer que ao passo em que o agente contribui para o interesse comum do grupo, também está contribuindo para o seu interesse específico.

Em relação aos mecanismos de retribuição, os estudos de Gaxie (1977) em organizações políticas na sociedade francesa, mostram a existência de gratificações, principalmente simbólicas, através de cargos de comandos nas diferentes hierarquias interna dos partidos de massa, como um fator atrativo de motivação para a adesão ao grupo. Dentre as espécies de retribuição simbólicas analisadas pelo autor, encontram-se o “prestígio, a honra e o poder” (GAXIE, 1977) como um recurso de reconversão das

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posições dos militantes no respectivo campo. Tais retribuições também são encontradas nos estudos de Gaglietti (2003) em um partido de massa no Rio Grande do Sul, no qual mostra que há uma maior preocupação dos militantes com o processo de individuação, de realização pessoal, onde muitas vezes sobrepõe aos interesses do grupo.

A existência de retribuições também bem é encontrada nos estudos de Agrikolianky (2001) com os militantes da Liga dos Direitos Humanos. De acordo com o autor, os militantes pertencentes à Liga consagram suas atividades militantes a partir dos benefícios retirados da participação “desinteressada” da ação coletiva, já que, os próprios militantes não são beneficiários diretos da causa. Entretanto, o autor pontua que tal associação se distingue das organizações políticas, pois elas não representam uma via de acesso a uma função pública, sendo o exercício de uma função interna compensado pelo peso dos diferentes tipos de capitais. Nesse caso, as gratificações de diversas ordens, dentre estas a simbólica, existem, mas não aparecem como determinante para a vocação a “moral”.

Podemos ver um indicador da questão simbólica dentro da militância do câncer, através da ocupação de postos de comando conquistados por alguns militantes, fora da própria organização ao qual militam. De um lado, o desempenho e o reconhecimento das atividades de militância no câncer durante um determinado tempo contribuíram para destacar o nome de um dos grupos no cenário estadual. Por outro lado, temos um grupo ainda “jovem” na causa e que vem buscando, através de suas atividades, meios de alcançar o poder simbólico. No entanto, é preciso ressaltar que para alcançar tal reconhecimento, cada grupo ou agente lança suas estratégias a partir da realidade objetiva do espaço social, ou seja, utilizam propriedades sociais específicas.

RELAÇÕES DE PODER E GRUPOS DIRIGENTES: UMA ANÁLISE SOBRE O CAMPO

Neste tópico, será abordada a concepção de “campo” trabalhada por Bourdieu (2007), com o objetivo de tornar perceptíveis as relações entre o universo investigado. A partir deste conceito busca-se compreender, em relação ao nosso objeto de pesquisa, o espaço social investigado e as relações existentes nesse meio.

Segundo Bourdieu (2007), “todo campo é um lugar de luta mais ou menos declarada pela definição dos princípios de divisão do campo” (Bourdieu, 2007; 150).

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Neste caso, os agentes, ou grupo envolvidos irão agir de acordo com as leis específicas do campo que atuam utilizando estratégias para se legitimarem. Neste caso, basta ter percepção do jogo e reconhecer que o jogo merece ser jogado.

Considerando o campo da filantropia como um “campo de luta”, ou de “forças” (Bourdieu, 2007), tem-se que os agentes envolvidos nestes, buscam meios legítimos para alcançar o poder e impor a sua visão de mundo. Assim, os agentes lutam tanto dentro de seus grupos associativos para reconverter ou conservarem suas posições enquanto integrantes destes, como também para conseguirem legitimar o grupo dentro do campo em que atuam.

Em relação às organizações ao qual estamos investigando e que militam na causa do câncer infanto-juvenil, primeiramente podemos dizer que há uma espécie de luta entre os agentes que aderem a esse meio, para poderem se legitimar dentro de seu espaço de militância. Bem como a luta interna entre os integrantes do grupo, existe também a luta externa, no qual as organizações que militam em prol da causa do câncer, buscam mecanismos sociais para se legitimar no campo da filantropia. Neste caso, temos uma luta pelo poder simbólico, que segundo Bourdieu (2007) “é o poder de ver e fazer crer, de produzir e de impor a classificação legitima ou legal, que depende, com efeito, da posição ocupada no espaço” (BOURDIEU, 2007, 146).

Como já foi colocado na parte introdutória deste trabalho, nas últimas duas décadas, os espaços associativos tornaram-se cada vez mais especializados. Com isso, as pessoas envolvidas no grupo, principalmente, os grupos dirigentes, tiveram que passar por um processo de profissionalização, tanto para conseguirem expandir suas ações e alcançarem reconhecimento no campo da filantropia, como para atrair voluntários, já que este é à base de apoio de grande parte do espaço associativo. Neste aspecto, os grupos buscam estratégias simbólicas não somente pela importância de suas ações e práticas, mas também pelo reconhecimento enquanto grupo e enquanto dirigentes.

Apesar das transformações nas formas de engajamento político nos últimos anos, nota-se uma crescente utilização do título escolar como um mecanismo de reconversão das posições dos agentes, dentro dos respectivos espaços de militância. Nesse caso, o titulo escolar e profissional acaba sendo um recurso para fins militantes, que pode alavancar a “carreira” do indivíduo através da ocupação de postos ou cargos, a depender da hierarquia

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dentro dos respectivos grupos. De acordo com Coradini (2002) um dos principais critérios de avaliação para esse tipo de recurso “são as possibilidades de sua utilização instrumental para a conquista de cargos ou então outra função ‘prática’ qualquer” (CORADINI, 2002; 106).

Neste âmbito, pretende-se situar os grupos que foram selecionados para a pesquisa em curso e relacioná-la ao debate proposto. Assim, optamos por investigar a AVOSOS (Associação de Voluntários a Serviço da Oncologia de Sergipe) e o GACC-SE (Grupo de Apoio á Criança com câncer de Sergipe). Os respectivos grupos são grupos atuantes e tem desenvolvido uma militância na causa do câncer infanto-juvenil na cidade de Aracaju, Sergipe.

Em relação à AVOSOS, trata-se de um grupo de apoio criado na década de 80, pela iniciativa da militante X3, que fazia visitas hospitalares levando lanches a pessoas com câncer e seus familiares que o acompanhavam no tratamento. Depois de certo tempo, resolveu acolher em sua casa, pessoas que faziam o tratamento do câncer e que não tinham condições financeiras para retornarem as suas cidades de origem. Com o passar do tempo, outras pessoas foram se engajando na causa de maneira voluntária e o grupo foi crescendo. No entanto, o grupo passou a atuar durante mais ou menos seis, anos de maneira informal e somente no dia 24 de Julho de 1987, foi oficialmente formalizada de Associação dos Voluntários a Serviço da Oncologia.

Em relação à equipe dirigente da AVOSOS, pode-se dizer que atualmente, grande parte de seus membros possui uma escolaridade de nível superior e com especializações nas mais diversas áreas, ao qual podemos chamar de um tipo de militância qualificada. Neste âmbito, pode-se dizer que há uma relação entre escolarização e politização, na medida em que o título escolar está sendo utilizado para a profissionalização da militância. No entanto, é preciso analisar de que forma esses agentes conseguem se legitimar na direção executiva do respectivo grupo, ou seja, quais as propriedades sociais colocados em prática pelos agentes.

Mesmo se tratando de um grupo de apoio que presta serviços de assistência social e material a criança com câncer, seus dirigentes vem, ao longo dos anos, promovendo

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Em decorrência da nossa pesquisa ainda estar em andamento, colocaremos como X o nome da militante relacionada no presente trabalho.

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diversas campanhas no combate ao câncer, sobretudo o câncer infanto-juvenil, ao passo que buscam mobilizar a sociedade na prevenção a doença. Para se ter uma idéia, em 1992 a AVOSOS promoveu o “I Encontro Sergipano de Voluntários da Saúde” na cidade de Aracaju, reunindo diversas instituições locais e grupo de apoio de Estados como Bahia, Pernambuco e Ceará. A partir desse encontro, surgiu à iniciativa de promover um encontro de nível nacional com outras instituições que militam Ca causa do câncer, fato que ocorreu no ano seguinte na cidade de Recife, Pernambuco.

A conseqüência direta desse encontro fez com que no ano de 1996 os grupos dirigentes da AVOSOS, fossem convidados pela Secretaria de Estado da Saúde e pela direção do maior Hospital Público de Sergipe, para implantar e administrar um serviço médico ambulatorial na área de oncologia. A instituição ficou a frente da administração por mais de quatro anos. Já em 1998, foram convidados para participar da Campanha McDia Feliz no qual as arrecadações foram destinadas para fins da instituição. Com as arrecadações do McDia, com recursos próprios e outras doações foi construída no ano de 2000 o complexo AVOSOS com a Casa de Apoio e o centro de Oncologia.

Após a realização de vários Encontros, em 1999 dirigentes da AVOSOS deram a iniciativa de promoverem um fórum na cidade de Aracaju, no intuito de criar um Grupo Regional que pudesse ampliar e viabilizar as reivindicações das entidades filiadas na defesa da cidadania das crianças com câncer e seus familiares. No mesmo ano, surgiu a UNEACC (União Norte-Nordeste de Entidades de Apoio a Criança com Câncer) com a sua sede na AVOSOS e com parte de seus dirigentes atuando na direção do grupo. Esse fato contribuiu ainda mais para que o grupo pudesse ter maior reconhecimento no cenário local e nacional.

Em relação ao GACC, pode-se dizer que é um grupo que surge no final da década de 90, e que vem lutando no campo da filantropia para se legitimar. Assim, trata-se de um grupo que está em fase de crescimento e que tem buscado alcançar o reconhecimento de suas atividades no cenário da militância da causa do câncer.

O GACC surgiu a partir da iniciativa de cinco pessoas, que desenvolvia trabalhos voluntários em outra instituição que milita na causa do câncer em Aracaju. No entanto, como era uma instituição de apoio que tratava de adultos e de idosos com câncer, o grupo resolveu fundar uma instituição que prestasse apoio a crianças e adolescentes com câncer.

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Fundado em 21 de outubro de 1999, como entidade filantrópica e sem fins lucrativos, o grupo conta com uma equipe de dirigentes no qual grande parte encontra-se no processo de profissionalização. No entanto, da diretoria executiva, somente a diretora presidente possui uma titulação de nível superior. Os demais ainda estão terminando suas graduações.

Um fato que chama a atenção é que, como se trata de dois grupos que militam na mesma causa, neste caso a causa do câncer infanto-juvenil, não se tem uma relação mais próxima dos grupos em questão. Ou seja, cada grupo procura suas estratégias para se legitimar no campo da filantropia, ao invés de se unirem. No entanto, o GACC tem sempre evidenciado na suas campanhas de prevenção ao câncer, artistas de nomes conhecidos no cenário local e nacional, como um meio de angariar recursos financeiros e atrair novos voluntários, ao passo que tentam erguer o nome do grupo na disputa pelo campo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, é notável que esses indicadores apresentados, nos mostra outra forma de analisarmos as diferentes condutas dos indivíduos, em meio à realidade em que se vive. Mesmo tratando-se de grupos dirigentes que militam na causa do câncer infanto-juvenil, através de suas instituições de apoio, pode-se dizer que mesmo que não coloquem em evidência as razões de suas práticas, algumas de suas ações parecem mostrar tipos de retribuições e postos alcançados por meio da militância, tornando diferenciadas as posições dos grupos em questão.

Todavia, para tornar compreensível a maneira como cada indivíduo passa a se comportar, agir e classificar o mundo social, é preciso entender a lógica específica do campo em que atuam, capturando o que caracteriza a ação dos agentes, ou seja, o que os levou a agir de determinada forma. Desta forma, põem-se diante de questionamentos que só uma investigação mais aprofundada, poderá resultar em possíveis conclusões para nossa pesquisa.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CORADINI, Odaci Luiz. Escolarização, militantismo e mecanismos de “participação” politica. In.: HEREDIA, Beatriz Maria Alasia de, TEIXEIRA, Carla Costa, BARREIRA, Irlys Alencar Firmo. (organizadoras). Como se fazem eleições no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

GAGLIETTI, Mauro. PT: ambivalências de uma militância. Porto Alegre:Da Casa/Palmarinca, 2003.

GAXIE, Daniel. Économie des partis et rétributions du militantisme. Revue française de science politique, Année 1977, Volume 27, Numéro 1, p. 123 – 154.

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MATONTI, F & POUPEAU, F. O capital militante: tentativa de definição. Tradução de “Le capital militant: essai de définition”. In: actes de La recherche em sciences sociales, nº 155, 2005.

PERRINAU, Pascal. L’engagement politique: declin ou mutation? Paris: Presses de La Fondations Nationale des Sciences Politiques, 1994.

REIS, Eliana Tavares dos. A “arte” da intervenção política: carreiras e destinos de protagonistas que lutaram contra a ditadura no Rio Grande do Sul. In:. CORADINI, O. L. Estudos de grupos dirigentes no Rio Grande do Sul: algumas contribuições recentes. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

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