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VÁRIAS PAMPULHAS: a espacialização da paisagem no tempo

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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

VÁRIAS PAMPULHAS: a espacialização da paisagem no tempo

BAHIA, CLÁUDIO (1); GOMES, RAQUEL(2)

1. PUC Minas – Departamento de Arquitetura e Urbanismo Av. Dom José Gaspar, 500 prédio 47 CEP: 30535-610

dirgrade.sg@pucminas.br

2. Escritório de Arquitetura – Departamento de Projetos Rua Francisco Deslandes, 869 sala 907 CEP: 30310-530

raquel.gomes9329@gmail.com

RESUMO

A descrição da paisagem de uma cidade é mais do que qualquer entendimento lógico-científico que se possa ter da própria cidade. Assim, esta reflexão formula outra investigação de paisagem, pela dilatação do tempo e espaço da cultura urbana, passando a buscar outra possível descrição de paisagem - a paisagem cultural das cidades. Desse modo, pelo viés fenomenológico da geografia cultural, deixou-se de valorizar apenas a descrição do mundo físico e humano para também enfatizar a descrição do mundo vivido, onde a relação cidadão/cidade é percebida e interpretada pelos vários agentes que a experimentam e a vivenciam. Para tanto, propõe-se como base desta investigação: a antropologia - por considerar a questão do sentido da existência por meio da leitura do mundo social, aprofundando o conhecimento do homem pelo homem; a fenomenologia - por tratar a questão do espaço vivido, referindo-se a experiência primária, anterior a qualquer representação lógico-científica; e a hermenêutica - por abordar a questão da temporalidade vivida, pela fusão de horizontes do fato observado e do observador no seu momento presente. E, identifica-se, na dinâmica dessas três bases de investigação, um ponto convergente - a relação do homem com o espaço e o tempo, na qual se fundamenta toda a interpretação do objeto desta reflexão: Pampulha a espacialização da paisagem no tempo. Não se pretende referir às espacializações urbanas da Pampulha apenas por meio de suas geografias, de suas experiências estéticas passadas, de sua arquitetura visível e compositiva do cenário urbano, mas, antes de tudo, assumir a paisagem das cidades como uma construção cultural da vida civil e da sociedade no tempo. Compreende-se que o território urbano é uma espacialidade dotada de valores socioculturais próprios de cada temporalidade a exemplo da Pampulha, objeto desta análise. A questão que se apresenta pela investigação e construção da paisagem cultural da Pampulha implica uma territorialidade estabelecida pelo conjunto de práticas e expressões materiais e simbólicas, que garantiram e garantem a apropriação e a permanência do lugar da sociedade urbana no espaço construído. Entende-se o espaço construído como um lugar cujo conceito está subordinado à organização espacial - é o espaço revestido da dimensão política, socioeconômica, cultural e de sentido identitário, histórico e relacional. Todavia, a questão crucial permanece: afinal, o que é paisagem? Qual o significado contemporâneo do termo paisagem cultural? Observa-se, por hipótese, que o estudo da paisagem apresenta, sobretudo, uma questão de ordem epistemológica, e necessita de uma abordagem metodológica para sua compreensão. De acordo com Bertrand (2002, p.35), a paisagem não é apenas recortes de elementos de determinada área do conhecimento humano de inter-relacionamento improcedente. É, em uma determinada porção do espaço e do tempo, o resultado da combinação dinâmica, desse modo instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, em uma relação dialética entre eles, tornam a paisagem um conjunto único e indissociável da vida humana, em constante evolução. Não se trata apenas da paisagem natura mas da paisagem total que integra as implicações da ação antrópica.

Palavras-chave: Patrimônio e Paisagem Cultural; Geografia Cultural; Identidade, lugar e Memória urbana.

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Foto 1 - Lagoa da Pampulha, 1952.

Fonte: Luciano Carneiro/O Cruzeiro/ Arquivo Estado de Minas.

As diversas formas de apropriação da Pampulha constituem esta pesquisa. A partir de uma análise de uso e apropriação que compõem as várias Paisagens Pampulha em um mesmo espaço e tempo pode-se notar seus contrastes e diferentes modos de percepção a partir do homem.

O termo Paisagens Pampulha surge a partir da análise dos conceitos de paisagem-marca e paisagem matriz, definidos pelo geógrafo Augustin Berque (1998. p.83-89) que define: Marca,

pois expressa uma civilização, e matriz porque participa dos esquemas de percepção e de

ação da cultura – que canalizam, em certo sentido, a relação de uma sociedade com o espaço e com a natureza, e, consequentemente a paisagem de seu ecúmeno. E, assim, sucessivamente, por laços infinitos de codeterminação. O termo paisagem remete sua origem ao século 15, e até o século 20 apresentou-se como termo mais aplicado a atividade artística da pintura, e não provocando discussões sobre seu significado, nem maiores preocupações conceituais e muito menos foi tema especifico de investigação. Entretanto, no século 20, paulatinamente o termo paisagem foi sendo desconsiderado pelas artes e vem se transformando em objeto da pesquisa acadêmica e, no século 21, tem se reafirmado na

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pluralidade conceitual, na formalidade estrutural e na forma de apreensão, passando a ser objeto de interesse de estudos de geógrafos, arquitetos-urbanistas e historiadores.

Numa perspectiva contemporânea da geografia cultural de Claval, para a descrição da paisagem cultural, entende-se que a paisagem carrega a marca da cultura e serve-lhe como matriz. E, ainda, como Blanc-Paranard e Raison, o estudo da paisagem cultural, que tendo sua origem pela descrição do ambiente que envolve o homem, ocupa-se com maior atenção, com a rede relacional que historicamente liga, por exemplo, os cidadãos ao seu lugar – a cidade onde moram, e parte para uma investigação de relação dinâmica e dialética da paisagem em si e as categorias de análises estabelecidas por Brunet (1995, p.16) - fisionômica, da percepção e dos sistemas.

De maneira sintética, no desenvolvimento do pensamento geográfico e arquitetônico observa-se que, na trajetória dos conceitos de paisagem e paisagem urbana identificam-observa-se aspectos de convergências e divergências. No pensamento tradicional a paisagem ocupou papel relevante, inclusive no âmbito da abordagem morfológica tradicional da cidade, sendo, posteriormente, reemergida na perspectiva humanística. Assim, o tema paisagem voltou ao debate da arquitetura e transformou o conceito de paisagem urbana como aspecto particular da evolução geral do conceito de paisagem – maior riqueza de reflexão teórico-metodológico, acarretando facilidade na compreensão dos fundamentos epistemológicos nas variações históricas do termo. Atualmente, o estudo de paisagem urbana, segundo Capel (2002, p.35), apresenta dois novos temas:

a) Análise das relações entre as morfologias urbanas e a gestão da paisagem;

b) Investigação da paisagem urbana pela valorização da cidade como resultante histórica e cultural;

Esta pesquisa apresenta, também, para a definição da paisagem cultural a interação de dois temas da paisagem urbana abordados por Capel – a dinâmica morfológico-funcional urbana e a compreensão da cidade como fato cultural

A paisagem carrega a marca da cultura, serve-lhe como matriz e se constitui objeto privilegiado dos trabalhos da geografia cultural e cuja interpretação é uma tarefa fascinante para os geógrafos ocupados com as realidades culturais, conforme o pensamento de Claval (2007, p.14). E entende ainda Claval que cultura é um fator essencial de diferenciação social, uma construção que permite aos indivíduos e grupos se projetarem no futuro e nos aléns variados; em suma, é a mediação entre os homens e a natureza. Constata-se que a geografia cultural apresentou, desde seus primórdios, uma base antropológica e um crescente referencial fenomenológico, principalmente na publicação de L ‘homme et laterre: nature de

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la réalité geographique de Eric Dardel, em 1952, e no texto de apresentação da reedição pelos

geógrafos franceses Jean-Marc Beese e Philippe Pinchemel, em 1990. O pensamento fenomenológico iniciado nos meados do século 20 na geografia cultural revelou um processo de renovação no qual a tradição humanista, alicerçada em Ratzel e em Vidal de la Blache, e a posição teórica da geografia cultural, em Sauer – Escola de Berkeley, foram reavaliadas por geógrafos contextualizados na valorização da cultura. Nesse contexto, a nova tarefa da geografia cultural foi tratar de examinar o papel das paisagens na constituição das práticas políticas e culturais.

A geografia cultural surge das paisagens e da diversidade dos gêneros de vida, e, pela cultura institui o sujeito, a sociedade e o lugar onde é desenvolvida a coletividade, resultando na identidade coletiva que delineia as marcas exteriores e explica as diferenciações dos sistemas de valores nos quais se desenvolvem os grupos humanos.

A perspectiva fenomenológica da geografia cultural valoriza e enfatiza a descrição do mundo vivido, onde a relação sujeito/objeto é percebida e interpretada pelos vários agentes. O sujeito que olha todas as coisas também pode olhar a si mesmo e reconhecer-se no que está vendo, então, o outro lado do seu poder vidente. Ele se vê vidente, toca-se tateante, é visível e sensível por si mesmo. É um si, não por transparência, como pensamento, que só pensa o que quer que seja, assimilando-o, construindo-o, transformando-o em pensamento, mas um si por confusão, por narcisismo, por inerência daquele que vê naquilo que ele vê, daquele que toca naquilo que ele toca, do consciente no sentido, um si que é tomado entre coisas, que tem uma face e um dorso, um passado e um futuro. “Visível e móvel, o corpo que olha está

no mundo das coisas, é uma delas e é captado na contextura do mundo e sua coesão é a de uma coisa”, como definiu Merleau-Ponty:

‘O mundo não é aquilo que penso, mas aquilo que eu vivo; estou aberto ao mundo, comunico indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável... ele é um meio natural e o campo de todos os meus pensamentos e de todas as minhas percepções explicitas’.

(MERLEAU-PONTY, 1999. p.14)

Oque se percebe com essa análise é um cinturão de proteção da real ocupação urbanística da cidade em torno da Lagoa e seus monumentos, afim de preservar a paisagem e evitar um fluxo muito intenso de vida urbana nas suas imediações.

Em decorrência da distinta ocupação que é encontrada na Pampulha e proximidades, as formas de vivência e percepção do Local, Lagoa da Pampulha, seguem a mesma diversidade. Local de trabalho, lazer, esportes e passagem, casa visita a este ponto tão conhecido de Belo Horizonte lhe traz novas experiências e sensações, além de ser muito fácil e visível, uma vez

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que as várias apropriações acontecem em sua maioria nos mesmos pontos. Quando se pensa em Pampulha duas coisas veem a mente imediatamente: Lagoa e Oscar Niemeyer. Fatores que são determinantes para a história não só de uma região, mas, de uma cidade, Belo Horizonte. De um aglomerado de fazendas, Pampulha Velha, a mansões e equipamentos culturais, pensados, planejados nascidos para satisfazer as aspirações estéticas, políticas, arquitetônicas e econômicas do modernismo.

Uma distinta da outra, Nova e Velha, considerando o lugar como um significado especial, saindo do caráter estanque e passando a dialogar e a se relacionar com quem vive e ocupa aquele espaço.

‘’ Ao seu significado articulamos sentimentos diversos, como sensações de proteção, o despertar de lembranças desencadeadas por imagens, sons cheiros, impressões. Constitui-se por recordações afetivas, desenvolvidas ao longo da vida, formando um conjunto de experiências culturais, emocionais e simbólicas, sendo responsável

por conferir identidade a uma determinada comunidade.

(FERREIRA, 2007, p.46).

Cada Pampulha que se é possível perceber é fruto da interação de apropriações do espaço diferentes, mas que convivem com um fator histórico e cultural único, o monumento e seu surgimento, fatos que são consolidados e que batem de frente com a diversidade da sua utilização e da sua visão a partir das diversas pessoas que vivem aquele espaço de forma também diversa.

1 UM ESPAÇO DE TRABALHO

Uma das formas de olhar a Pampulha é como produto e atividade comercial. Um ponto turístico famoso que atraí muitos turistas e moradores da cidade, pode facilmente se tornar lucrativo, e é o que muitos fazem. Ambulantes, Fotógrafos, Guias de Turismo, Empresas de Turismo, Restaurantes, Lanchonetes, Estacionamentos, Empresas de Aluguel de Bicicletas e Personal Trainers são as mais vistas pela orla, e que utilizam do nome e da paisagem Pampulha para tornarem seus negócios mais rentáveis.

É raro passar por qualquer monumento do Circuito Niemeyer e não ver pelo menos um vendedor ambulante. Água, pipoca, amendoim, e tudo mais que se tem direito, Nas proximidades da Igreja São Francisco de Assis e do Parque de diversão Guanabara a diversidade é maior, se vende de tudo, de comidas como milho, pamonha e churrasquinhos a bugigangas divertidas que deixam as crianças extasiadas. Logo ao lado na Praça dita Pampulha (Praça Geralda da Mata Pimentel), pode-se observar outras atividades, uma infinidade de food trucks para atender ao enorme público que todas as noites passam pelo local, personal trainers que fazem da praça seu local de encontros de grupos de corridas,

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aulas de lutas e exercícios funcionais o que proporciona um marketing pessoal enorme e uma utilização do local ao ar livre e sem cobranças financeiras pelo o uso do espaço.

Junto a um grande fluxo de pessoas vem um grande fluxo de veículos, e com isso os guardadores de carro também estão presentes na praça, como alguns trabalham a muito tempo pela região e são bem conhecidos, ainda conseguem garantir mais uma renda lavando os carros de quem frequenta a praça.

2 PATRIMÔNIO

A Pampulha, é reconhecida por sua beleza e paisagem, em todas as instâncias de proteção, da escala municipal à mundial, com abordagens às vezes distintas, mas sempre exaltando o complexo arquitetônico da Lagoa da Pampulha como patrimônio.

Na escala municipal, de acordo com as diretrizes da Diretoria de Patrimônio Cultural (DIPC) e do Plano Diretor de Belo Horizonte, o patrimônio se instala além do conjunto arquitetônico, mas, também no conjunto urbano, com edificações de uso coletivo e seus bens integrados, juntamente ao interesse histórico, cultural e paisagístico, criada pela lei de parcelamento, uso e ocupação do solo de Belo Horizonte que inclusive protege a bacia da Lagoa da Pampulha como ADE propondo a recuperação e preservação ambiental da represa da Pampulha e dos córregos que desaguam lá, juntamente com o fomento ao potencial turístico da área não deixando de lado a proteção e valorização do patrimônio arquitetônico, cultural e paisagístico. O DIPC tem como balizador para considera-la patrimônio seus traços, um espaço de valor simbólico e polarizador pela sua importância e o valor histórico-urbanístico que o faz presente no imaginário coletivo, e que, ao longo do tempo formam uma cena urbana inserida no cotidiano de quem lá vive, também considera seu valor Urbanístico, apresentando uma ocupação bastante heterogênea, conformando um cenário urbano diverso juntamente com as edificações de interesse cultural, inseridas no perímetro do Conjunto Urbano.

No âmbito estadual, segundo o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), abrange áreas no entorno imediato da Lagoa da Pampulha que conformam um cinturão de proteção, a delimitação apresenta-se inserida em uma região onde existe uma legislação vigente de preservação do patrimônio, que garantem questões fundamentais para a gestão do conjunto moderno da Pampulha. O IEPHA considera o patrimônio Pampulha a partir do seu cunho histórico-urbanístico e Polarizador com as cenas urbanas e visões formadas, na questão Urbanística tem uma percepção a partir da Lagoa para seu entorno imediato, considerando de suma importância a continuidade da ambiência formada pela sua ocupação primária, juntamente com as edificações de interesse cultural inseridas no conjunto.

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No âmbito federal, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tem como patrimônio o conjunto arquitetônico e paisagístico da orla da lagoa da Pampulha. O conjunto da Pampulha foi tombado para garantir sua proteção como marco da arquitetura moderna brasileira. Com uma visão mais voltada apenas ao conjunto Urbanístico, Edificações e espelho d’água, o IPHAN se baliza no valor histórico arquitetônico específico, que constituem referenciais simbólicas para o espaço e memória da cidade.

A escala mundial, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que considera a Pampulha uma obra-prima tanto do ponto de vista urbanístico, quanto da sua paisagem com seus bens edificados e o significado de inovação para toda uma época, como exemplo de arquitetura e busca pela personalidade de uma nação, influenciando a arquitetura nacional e mundial, como Brasília, em 1987.

3 LAZER POPULAR X CONSUMO DA CULTURA

Ao longo dos anos o Complexo da Lagoa da Pampulha foi revelando sua vocação para o turismo e o lazer. A riqueza do complexo arquitetônico atrai milhares de turistas que podem ver ícones da modernidade pensados por Oscar Niemeyer, além de representar um belo cenário natural e arquitetônico para diversas atividades ao longo dos seus 18 quilômetros de extensão, como: Caminhada, ciclismo, competições internacionaisentre outras.

Se percebe ao percorrer o complexo diferentes formas de utilizar o espaço para o

lazer, é possível identificar práticas de lazer popular, como, correr, andar de bicicleta, fazer um piquenique, que são reflexos de uma apropriação do espaço natural, e não do sentido simbólico de um Complexo Arquitetônico mundialmente conhecido, onde se pode fazer atividade física, apreciar a lagoa, sentar e conversar, encontrar e se divertir, sejam crianças brincando de bola ou adultos se reunindo para aproveitar o clima e a natureza em volta da lagoa, nestes casos os monumentos ficam um pouco de lado, ou apenas compondo a paisagem, mas não vistos como marcos históricos. Uma outra forma de lazer encontrada na Pampulha é através do consumo da cultura, onde as edificações passam a ser protagonistas tendo seu valor histórico valorizado e analisado da perspectiva do tempo e da arquitetura, seu valor como paisagem exaltado e o historicismo sempre presente nas exposições de arte como podemos ver no Museu de Arte da Pampulha (MAP) que foi originalmente construído para abrigar um cassino, e funciona como museu desde 1957, abrigando um acervo que hoje conta com cerca de mil e quatrocentas obras e oferece continuamente visitas orientadas, técnicas e mediadas, incluindo também oficinas, atividades e exercícios práticos, encontros e conversas com artistas e convidados, a Casa do Baile, foi reaberta em dezembro de 2002,

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transformada em Centro de Referência de Urbanismo, Arquitetura e do Design, ligado à Fundação Municipal de Cultura, que, por sua vez, é ligada à Prefeitura de Belo Horizonte e tem como proposta organizar, documentar e valorizar tanto os espaços construídos e simbólicos da cidade, quanto objetos que se tornaram referência na vida cotidiana de nossa sociedade buscando a democratização ao acesso às informações ligadas a arquitetura e o urbanismo, a casa recebe várias exposições, seminários, divulgação de publicações além de uma ilha digital com acervos documentais que se encontram disponíveis tanto para pesquisadores quanto para o público em geral. Mais recentemente a Pampulha ganhou a visitação à casa JK que se tornou em 2013 um museu onde se é possível aprender sobre a história de uma casa modernista dos anos 40,50 e 60 por meio de espacializações, objetos e estímulos sensoriais, sem esquecer do principal marco da Pampulha, a igreja de São Francisco de Assis. Esses monumentos trazem uma discussão não apenas da arquitetura modernista, mas também do paisagismo com os belos jardins de Burle Marx que são vistos compondo as edificações do conjunto da Lagoa da Pampulha, e da arte como a azulejaria tão marcante de Portinari na igreja da Pampulha e nas demais construções que traz também uma identidade e exalta ainda mais o caráter único e complementar dessas construções, causando um reconhecimento da unicidade desse conjunto, aguçando essa percepção de quem visita os vários espaços e depara com os azulejos do artista em todos eles.

4 A DEMOGRAFIA X PERFIL ECONÔMICO

Quando se analisa os bairros do entorno do conjunto da Lagoa da Pampulha, nota-se uma diversidade de ocupação muito grande. O perfil econômico é muito diversificado, refletindo diretamente na demografia do espaço, a lei de uso e ocupação do solo também influenciam na característica construtiva de cada local, levando em conta a característica do seu conjunto e da proximidade com áreas de proteção tanto cultural quanto ambiental.

Bairros que estão muito próximos a orla da Lagoa da Pampulha como Bandeirantes, Santa Amélia e São Luís tem pela Lei de Uso e Ocupação do Solo juntamente com alguns parâmetros do Patrimônio Cultural tipos de ocupação restritos a certas áreas, seus potenciais construtivos alterados, como fator altimétrico, impedindo a construção de grandes edifícios comerciais ou residenciais muito próximos a Lagoa da Pampulha e ao Aeroporto da Pampulha que também restringe de algumas formas a altura das edificação no entorno, com o intuito de não descaracterizar o conjunto arquitetônico desde a sua construção nos anos 40,50 e 60. Essa restrição fez com que esses bairros virassem grandes áreas residências predominantemente preenchidas por casas de médio a alto padrão, o loteamento, com lotes

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de mil metros quadrados tem como principal parâmetro e condicionante a proximidade com uma área tão em evidência quanto a Pampulha, isso fez com que os terrenos tivessem uma alta no preço significativa, o que resultou numa ocupação de grandes sítios e casas de alto padrão, trazendo a classe A para as margens da lagoa, mantendo a característica primária de grandes quadras e lotes com pouca concentração de pessoas, então a relação habitante/m² é baixa.

Em contraponto a baixa taxa de ocupação citada acima, temos os bairros com característica oposta, de adensamento intenso de pessoas e edificações. Bairros como Braúnas, Confisco e Nova Pampulha compõem uma realidade muito diferente da que possuem os bairros da orla da Lagoa Pampulha quando se percebe e compara o aspecto construtivo e da relação habitante/m², são bairros adensados, com ocupação residencial e comercial muito latentes que alimentam a região em que se localiza, com comércios simples como padarias, farmácias e hipermercados que inclusive abastece também bairros das imediações da Lagoa da Pampulha.

O fator adensamento para alguns desses bairros periféricos à Lagoa da Pampulha são um ponto em comum, mas, um fator se difere ainda mais de bairro para bairro, o fator econômico. A região conta com bairros de classe média alta e média como, Bandeirantes, Ouro Preto, Castelo, Jaraguá e Santa Amélia que por estarem mais afastados da Lagoa da Pampulha e do Aeroporto não possuem as mesmas rígidas restrições altimétricas e de construção, resultando assim na implantação de muitos edifícios residências, aumentando consequentemente a relação habitante/m² e fazendo com que o local fique cada vez mais adensado. Já os bairros de classe média baixa e classe baixa, como Santa Terezinha, Paquetá, Engenho Nogueira entre outros, o adensamento se dá de forma diversa, com uma média de concentração maior de habitantes por residência e com lotes reduzidos sendo que em alguns pontos é possível encontrar vilas e favelas onde a aglomeração é maior ainda. Ao se ter uma visão mais ampla da região e da configuração dos bairros, percebemos um cinturão de proteção muito forte nas margens da Lagoa da Pampulha, resultando numa paisagem mais verde e menos adensada onde a classe mais alta se instala, saindo um pouco do eixo de proteção o adensamento já é intenso mas a situação econômica ainda se mantém alta e média, pelos fatores de proximidade com a lagoa e com os bairros mais ricos, e, em volta desse ‘’cordão’’ de ocupação, na área periférica da região Pampulha, os bairros que concentram as classes mais baixas são consideradas as mais adensadas. Essas ‘’ camadas’’ de ocupação relatam muito bem como a intencionalidade de construção da Pampulha tendia para áreas nobres, nos anos 40, ainda se mantem tanto pela valorização do lugar e da paisagem quanto pelas leis que são muito restritas nas áreas mais próximas a lagoa.

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5 UNIDADE TERRITORIAL X DIVERSIDADE LOCAL

Por definição, região, consiste em vasta extensão de terreno que se distingue das demais por suas características físicas, administrativas, econômicas e políticas. Ao inserir essa definição na Regional Pampulha constatamos poucas afirmações deste conceito de região. Apesar de ser considerada uma Unidade Territorial, os 48 bairros e vilas são muito diversos, o relevo variante com áreas bem planas em contraponto à grandes declives, diversas classes econômicas com demografias discrepantes, mas, definidas como uma única região, o conjunto da diversidade local formando a unidade regional.

A proximidade com a Lagoa da Pampulha é o que os torna uma unidade territorial, alguns bairros não fazem divisa com a lagoa e se encontram nas áreas periféricas da demarcação da regional, mas, cada uma com sua especificidade. O Plano Diretor percebendo essa diversidade de distâncias e características aplica zoneamentos diferentes que são avaliados pela característica econômica, demográfica e com a relação de cada um para com o Conjunto Urbanístico e Arquitetônico da Lagoa da Pampulha.

Sendo assim percebemos que para existir unicidade não se é necessário ter semelhanças, e sim um conjunto, e é disso que a Pampulha é feita, de conjuntos em que cada um possuí sua particularidade e quando se unem constituem um local, diverso e muito vivo, onde se é possível ver e sentir a multiplicidade de características formando um espaço, no caso a Regional Pampulha, uma região composta por diversidade de espaços.

CONCLUSÃO

Para muitos que tem aquela paisagem quase como cotidiano, seja ela como trabalho ou lazer, os detalhes do lugar vão se apresentando mais minuciosos, um detalhe da calçada, uma planta que floresce, a ambiência criada pelas árvores e coqueiros, a vista que se tem durante a corrida, a tranquilidade passada pela natureza, a sensação de ser parte viva do lugar ou qualquer coisa que represente um pequeno refúgio do vai e vem barulhento do centro da cidade. O espaço passa a ter além do significado histórico e cultural de conjunto um significado físico do bem edificado, por algum instante ou mesmo por percepção ele deixa um pouco de lado o Patrimônio da Humanidade e percebe a edificação no seu significado mais primário de elevação de um edifício. Essa outra forma de se perceber a Pampulha está mais presente ao seu redor imediato, apesar de muito famoso, muitos belo-horizontinos conseguem contar nas mãos as vezes que frequentaram o local, pelo fato de estar fora do grande centro comercial e cultural da cidade a Pampulha mantém sua distância da vivência cotidiana de

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muitos residentes da cidade, que passam a ver o conjunto da lagoa da Pampulha como um ponto marcante da sua cidade, mas que se apresenta-se distante impedindo assim um reconhecimento de pertencimento do local, uma vez que a experiência de viver aquela ambiência é muito limitada devido a inconstância. Esta forma de se relacionar com a Paisagem Pampulha faz com que ela tenha mais uma forma de percepção dentro da cidade, o monumento a ser vivenciado, agora mais do que nunca, com a chancela de Patrimônio da Humanidade, Belo Horizonte e principalmente a Pampulha estão em total evidência, e será com certeza, cada vez mais vista, vivenciada e analisada, por turistas, mas também pelos próprios belo-horizontinos, que trarão juntamente com suas impressões, novas formas de se ver a se descrever Pampulha deixando de ser algo que se é pensado para algo que se é vivido. Desta forma a Pampulha continua contemporânea e viva, com novos significados, usos e experiências a cada dia, cada vez mais vista e reinventada sem perder seu caráter de unicidade pelo qual foi reconhecido mundialmente.

REFERÊNCIAS

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CAPEL, Horacio. La morfología de las ciudades. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2002. 544p. [v.I – Sociedad, cultura y paisaje urbano.]

CLAVAL, Paul. A geografia cultural. Florianopolis: Editora UFSC, 2007.

FERREIRA, Luana Maia. As várias Pampulhas no tempo e no espaço (1900-1950). In: PIMENTEL, T. V. C. (Org.) Pampulha Múltipla: uma região da cidade na leitura do Museu Histórico Abílio Barreto. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2007. p. 46. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

PIMENTEL, T. V. C. Pampulha Múltipla: uma região da cidade na leitura do Museu Histórico Abílio Barreto. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2007.

Referências

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