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O GOSTO AMARGO DA FRUTA: CRISE NA CITRICULTURA SERGIPANA E (DES) ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES *

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“O GOSTO AMARGO DA FRUTA: CRISE

NA CITRICULTURA SERGIPANA E (DES)

ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES”

*

Eliano Sérgio Azevedo Lopes† Professor do Mestrado em Sociologia da

Universidade Federal de Sergipe – UFS

INTRODUÇÃO

A crise em que vem se arrastando a citricultura sergipana desde a década de 90, com um agravamento progressivo a partir de 2000, reflete não apenas o que vem acontecendo com o mercado do suco concentrado de laranja no plano internacional, como os constrangimentos que se avolumaram, ao longo dos anos, na estrutura da cadeia produtiva local.

Sua transformação ao longo dos anos, passando de uma atividade com forte presença no mercado interno de frutas “in natura” para uma commodity, cuja dependência das exportações de suco tornou-se vital para a continuidade do seu desenvolvimento, trouxe uma série de implicações que vão desde a forma como está organizada a produção estadual, passando pelas relações dos citricultores com o Estado e as indústrias e desembocando na questão da organização dos produtores ou na falta desta.

Assim é que, de um setor cuja importância para a economia agrícola do estado de Sergipe foi crucial, tanto no que diz respeito ao aspecto modernizador da agricultura como na geração de emprego, renda e arrecadação de impostos, a citricultura vive atualmente um processo de degeneração e empobrecimento jamais visto.

Tentativas de revitalização da atividade, levadas a efeito pelos governos estaduais no período recente, não conseguiram modificar a gravíssima situação de milhares de

*

Texto resultante do Projeto de Pesquisa “Estudo-diagnóstico da Cadeia Produtiva da Citricultura Sergipana”, financiado pela FAPITEC/SE, Edital 007/2008, concluído em dezembro de 2009. Participaram da pesquisa a Profa. Dra. Mônica Cristina Santos Silva, da Universidade Federal de Sergipe - Campus de Itabaiana; os auxiliares de pesquisa Renata Sampaio, Izabela Ribeiro, Ivonaldo Rodrigues e Zanine Lopes; e o agrônomo Norivaldo Lima Santos, do escritório da EMDAGRO no Povoado Treze, município de Lagarto.

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pequenos citricultores endividados e colhedores de laranja que, sem perspectivas de trabalho, vão bater às portas do governo estadual e/ou das prefeituras da região cítricola, clamando por anistia das dívidas contraídas com os bancos ou em busca de cestas básicas e outros benefícios, como o Bolsa-Família, para fugir da fome.

O principal objetivo desta pesquisa é estudar a cadeia produtiva da laranja, visando ter uma dimensão, mesmo que aproximada, da magnitude da crise da citricultura de Sergipe, dando números e contorno a ela; indo além da discussão, necessária, mas insuficiente, do grave quadro em que a atividade e os que dependem dela vêm tendo que enfrentar, apenas com base no senso comum ou em visões impressionistas. E, no contexto deste cenário, procuraremos destacar um elo muito importante da cadeia - os produtores - com foco na dimensão associativa ou formação de organizações de grupos de interesse voltados à ação coletiva.

Para tanto, faremos, em primeiro lugar, uma análise comparativa entre os resultados desta pesquisa com os de outra realizada pelo BNB/ETENE e SUDAP, em 1984, nos 14 municípios que formam o pólo citricultor do estado e publicada com o título “Produção e Comercialização de Citros em Sergipe”, quando a citricultura sergipana ainda vivia o seu apogeu. Nessa pesquisa são abordados aspectos agronômicos e sociais da citricultura sergipana, bem como o comportamento do mercado e da comercialização da laranja no Nordeste.

Evidentemente, as comparações entre variáveis dos dois estudos serão feitas, sempre que possível e pertinente, com a finalidade de mostrar eventuais modificações e/ou persistências, no tempo, de aspectos relevantes da citricultura estadual.

Ressalte-se que as comparações devem ser vistas com os devidos cuidados, face à amplitude das áreas de abrangência das duas pesquisas: a do BNB/ETENE e SUDAP, com uma amostra que contempla o conjunto dos municípios sergipanos produtores de laranja e a que está sendo retratada aqui, restrita aos três principais municípios produtores, na atualidade.

É possível, no entanto, mesmo com certas ressalvas, perceber a dinâmica da citricultura sergipana num horizonte temporal de quase 25 anos, em dois momentos distintos e marcantes: num deles, 1984, de pujante desempenho do setor citrícola de Sergipe e, no outro, 2007/2008, em plena crise, que vem se arrastando desde a década de 90.

No que diz respeito à questão da organização dos citricultores, a análise será conduzida tendo como norte o referencial teórico sobre interesses individuais e ação coletiva,

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principalmente com base nas idéias expostas por Mancur Olson em sua obra clássica “A Lógica da Ação Coletiva” (São Paulo, Edusp, 1999).

Mais do que tentar explicar o porquê da ascensão e queda, do sucesso ou fracasso das principais entidades de representação dos citricultores sergipanos – Associação dos Citricultores de Sergipe-ASCISE, Cooperativa Mista dos Agricultores do Treze Ltda. - COOPERTREZE e Cooperativa Mista Agrícola de Estância Ltda. -COOPAME – o que interessa no presente estudo é compreender as seguintes questões problematizadoras sobre a ação coletiva nas organizações de interesse: o que leva as pessoas a participarem de organizações sociais? Por que uns colaboram e outros não? Por que os que colaboram o fazem em circunstâncias e tempo determinados, e não de forma permanente e incondicional? Quais as razões alegadas pelos citricultores para não participarem de organizações de interesse? O que as motivaria a integrar tal tipo de organização?

Da estrutura do relatório constam, além da introdução, quatro capítulos e as considerações finais. O primeiro capítulo mostra o caminho percorrido para a realização da pesquisa. No segundo, expomos a base teórica da análise sobre a constituição, desafios e constrangimentos na construção e operacionalização das organizações individuais de interesse e ação coletiva, tendo como norte os escritos de Mancur Olson. No terceiro capítulo, são feitos breves comentários sobre a situação recente da citricultura no país e no estado de Sergipe, destacando a sua dinâmica e relações comerciais, além de suas inserções nos mercados interno e externo de suco concentrado de laranja. Na sequência, são apresentados os resultados da pesquisa realizada nos três municípios escolhidos como objeto de estudo, começando pela caracterização dos produtores, análise da forma de organização da produção e relações de trabalho, até chegar aos aspectos relativos à renda e à organização dos citricultores.

Dando contorno final ao documento são apontados alguns dos elementos considerados mais relevantes para a compreensão da cadeia produtiva da laranja na atualidade, com destaque para um de seus elos fundamentais – os citricultores. Mais precisamente, sobre a organização deles em entidades associativas ou cooperativas, como forma de enfrentar os problemas e dificuldades nas relações comerciais que estabelecem com os intermediários e com a indústria de suco concentrado, bem como nas relações institucionais com o Estado. Como corolário, a natureza e a dimensão da crise e o empobrecimento de expressivo contingente de citricultores, particularmente da camada média

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que por muitos anos foi exemplo de operosidade e de motor do dinamismo da economia agrícola “moderna” do estado de Sergipe.

1 - O PERCURSO DA PESQUISA

Os municípios de Itabaianinha, Lagarto (Povoado Colônia Treze) e Cristinápolis ocupam, desde 2001, as primeiras posições no rol dos maiores produtores de laranja de Sergipe, motivo pelo qual foram escolhidos como objeto do presente estudo.

A razão de Itabaianinha e Cristinápolis terem assumido a dianteira entre os demais municípios que integram o pólo citricultor de Sergipe é explicada, por alguns produtores e técnicos, pelo fato de terem sido incorporados ao processo produtivo de citros posteriormente aos municípios tradicionais, a exemplo de Lagarto e Boquim, que por vários anos ocuparam os primeiros postos entre os principais produtores de laranja do estado. Fazem parte do que se convencionou chamar de “frente de expansão” da citricultura sergipana, que se estendeu da região centro-sul para o sul do estado, chegando a municípios fronteiriços da Bahia, onde os pomares são melhores, ocupam áreas maiores e as plantas apresentam maior produtividade.

Para o cálculo da amostra foram utilizados os dados do Censo Agropecuário 1995-96 do IBGE. Do total de pessoas dos três principais municípios produtores de laranja - Itabaianinha, Cristinápolis e Lagarto - que informaram utilizar suas terras com culturas permanentes extraímos uma amostra correspondente a um por cento dos informantes, totalizando 64 agricultores.

Chama-se a atenção para o fato de que não estamos interessados na representação estatística da amostra, senão para os processos que dão conformação à situação atual da citricultura no estado. Assim, o processo histórico e o contexto em que as organizações de classe surgiram, os atores que as construíram e as ações que elas desenvolveram ao longo do período de sua existência, entre outros, são os elementos que a pesquisa procura identificar e compreender.

A composição da amostra, com o número de questionários a serem aplicados em cada um dos três municípios, foi estabelecida considerando-se o peso ou proporção de cada um deles no total de informantes. Assim, coube a Lagarto (Povoado Treze) a entrevista com 28 citricultores, 24 questionários foram aplicados em Itabaianinha e 12 em Cristinápolis.

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Definido o número de questionários para cada um dos municípios selecionados, foi feita a estratificação da amostra, com base na porcentagem dos produtores rurais dos três municípios por grupos de área total, cujo resultado está representado no quadro a seguir:

Amostra: Número de estabelecimentos a serem pesquisados por município

Grupos de área total (há) Lagarto (Povoado Colônia

Treze)

Itabaianinha Cristinápolis Total

Menos de 10 hectares 25 19 10 54

10 a menos de 50 hectares 2 4 1 7

50 hectares e mais 1 1 1 3

Total Geral 28 24 12 64

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995-96.

Cálculos: do autor

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a primeira constou de um levantamento de fontes bibliográficas – textos, artigos, documentos, relatórios sobre citricultura, grupos e organizações de interesses, cooperativismo a associativismo – de cunho acadêmico ou técnico-operacional, que serviram de base para a construção do questionário e dos roteiros de entrevistas. Na segunda fase, o trabalho de campo, propriamente dito, foram aplicados questionários semi-estruturados a citricultores de diferentes portes, escolhidos aleatoriamente, e realizadas as entrevistas com atores-chave, principalmente, técnicos envolvidos com a citricultura estadual e dirigentes e representantes de cooperativas e associações, com destaque para a ASCISE, COOPERTREZE e COOPAME.

O trabalho de campo teve sua execução entre os meses de janeiro e julho de 2009, tendo como referência o ano agrícola 2007/2008 e, como objeto da pesquisa, 22 comunidades rurais, das quais 16 localizadas no município de Lagarto, três em Itabaianinha e três em Cristinápolis. Trata-se de povoados com grande concentração de citricultores, que foram selecionados a partir de informações obtidas junto a EMDAGRO, constantes dos Planos de Trabalho para 2008, elaborados pelos escritórios da empresa dos três municípios escolhidos para este estudo.

Em Lagarto, foram aplicados questionários com citricultores da Pista Principal do Povoado Treze, Colônia Treze, Pista da Granja, Pista do Pau Grande, Pista do Rio das Vacas, Povoado Poção, Rio da Vaca, Pista 4, Pista 3 (Povoado Nova Descoberta), Povoado Baixão, Mangabeira, Açuzinho, Pista do cemitério, Lagoa Seca, Pista do Açuzinho e

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Povoado Pau Grande. No município de Itabaianinha, foram entrevistados produtores dos povoados Dispensa, Diamante e Patioba. E em Cristinápolis, nos povoados Lagoa Seca I, Colônia Cristinápolis e Água Branca.

É importante ressaltar que a aplicação dos questionários com os citricultores foi feita nos seus próprios sítios, o que possibilitou aos pesquisadores observarem a propriedade como um todo, de certa forma “confrontando” algumas das respostas dadas pelos entrevistados com a realidade que se apresentava aos seus olhos, notadamente no que dizia respeito às condições de habitabilidade – moradia, saneamento básico, água e energia elétrica.

As entrevistas com os atores-chave foram realizadas na capital, Aracaju, e nos municípios onde estão localizadas as sedes das cooperativas e associações, a depender da disponibilidade de tempo e facilidade dos entrevistados em receber os pesquisadores. Assim, coube à coordenação da pesquisa fazer os contatos, deixando aos entrevistados a prerrogativa da escolha do local, data e hora para responder às perguntas constantes dos roteiros elaborados.

Utilizamos na tabulação dos dados o Programa SPSS, próprio para aplicação em pesquisas sociais, e as degravações das fitas com as entrevistas foram reunidas em bloco de questões, com as respostas dadas pelos diferentes atores entrevistados. As tabelas e gráficos foram gerados pelo SPSS e pelo Excel.

Todo esse material, mais os fichamentos de leituras feitas durante todo o período de realização da pesquisa, constituiu a base para a elaboração do relatório final da pesquisa.

É importante observar que os questionários aplicados tiveram como respondentes os próprios produtores. Dos 64 citricultores entrevistados, 92,2% eram responsáveis ou chefes da família, 4,7% cônjuges e 3,1% filhos maiores de idade; logo, pessoas com maior conhecimento sobre o estabelecimento rural e a situação que estão vivenciando como produtores de laranja.

2 - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DE INTERESSES INDIVIDUAIS E AÇÃO COLETIVA

Costuma-se dizer que algo que começa errado tem enorme chance de terminar errado. Será que as principais organizações de interesses criadas pelos citricultores sergipanos

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- COOPERTREZE, COOPAME e ASCISE - se enquadram nessa moldura? Em outros termos, a situação econômico-financeira deplorável a que chegaram, inclusive, fechando literalmente as suas portas, como é o caso da ASCISE, e a perda real de representatividade e legitimidade junto a seus sócios e ao conjunto dos produtores de laranja, já estava “escrito nas estrelas”? É óbvio que uma resposta afirmativa, sem antes analisar teoricamente os determinantes empíricos que levaram a esse estado de coisas, seria não apenas leviana como simplista.

A complexidade de que se reveste o tema obriga a que se examinem com profundidade as motivações, o percurso e as ações implementadas pelas organizações sociais citadas anteriormente, à luz de teorias que deem conta do significado de formação de grupos de interesses e ação coletiva em sociedades de classes. É dizer, que se examine o contexto em que elas foram criadas, por quem, para que e com que objetivos, assim como o seu funcionamento, os conflitos internos e as articulações tanto no âmbito local como nacional.

Neste sentido, a discussão sobre como e por que agentes econômicos procuram se organizar em entidades voltadas para a defesa de interesses coletivos, onde a cooperação entre seus membros é fator primordial do alcance de objetivos e metas traçadas e de reivindicações levadas ao Estado, encontra na Teoria da Ação Coletiva de Mancur Olson suporte teórico importante para a sua explicação.

A despeito dos questionamentos que são feitos quanto à sua capacidade explicativa, principalmente ao tomar como eixo central a idéia de racionalidade econômica dos indivíduos, sua teoria tem grande utilidade para entender o comportamento dos indivíduos em grupos, organizações, associações e redes de empresas. Os conceitos de carona e de

exploração do grande pelo pequeno – ajudam a explicar o comportamento desse tipo de

organização.

Segundo Mancuso (2003),

o objeto de Olson é o comportamento de indivíduos racionais que formam um grupo e têm interesse na obtenção de um benefício coletivo, entendido como um benefício a que deve ter acesso, indistintamente, todos os que integram um determinado grupo de interesse ou organização de ação coletiva, independentemente do seu comportamento – se ativo ou omisso - nas ações empreendidas em busca de alcançar seus interesses.

Para Olson, o individuo racional é aquele que procura realizar seus objetivos – desde o mais egoísta ao mais altruísta - por meios "eficientes e efetivos". Ele focaliza sua atenção, especificamente, “no comportamento de indivíduos racionais, que formam aquilo que

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chama de ‘grupos econômicos’, ou seja, grupos cujos membros têm interesse na obtenção de benefícios coletivos que resultem em vantagens materiais para si próprios” (Mancuso, 2003).

Entretanto, sua grande contribuição é dada por mostrar, por meios lógicos, a insuficiência revelada pelo senso comum de que indivíduos em grupo farão o máximo para alcançar os objetivos do grupo quando estes refletem seus objetivos e interesses individuais.

Como afirma Olson (1999),

um dos motivos pelos quais os grupos tendem a resultados insatisfatórios (ou subótimos) é que os benefícios gerados são ‘benefícios coletivos’, isto é, que uma vez gerados pelo grupo podem ser usufruídos por todos os participantes, independente de terem contribuído ou não para gerá-los... Quer dizer, todos têm interesse nos benefícios, mas nenhum interesse em arcar com os custos. Os benefícios somente serão gerados se houver algum tipo de coerção para que os membros participem, ou caso haja algum membro do grupo disposto a arcar com todos os custos porque mesmo assim lhe será vantajoso.

Outro elemento importante em sua teoria, é que o maior ou menor sucesso de uma organização constituída com o propósito de reunir interesses individuais para agir de forma cooperativa depende do tamanho do grupo que dela participa.

A chance de conseguir benefícios será tanto menor quanto maior for o grupo, já que nenhum participante estará disposto a arcar com todos os custos de provimento, pois os benefícios serão divididos entre todos, independente de terem participado ativamente ou não. Também porque, quando se trata de grupos de interesses com um contingente grande de pessoas envolvidas, a contribuição individual será vista por elas como tendo pouca importância para o alcance do benefício coletivo, esquivando-se do ônus da participação, preferindo ficar como “carona”, deixando que os outros lutem e consigam conquistar os benefícios desejados.

Ocupa lugar de destaque na explicação de ações mal sucedidas por parte dessas entidades, o comportamento dos chamados free rider ou “carona”, que são aqueles indivíduos que não se expõem no curso das lutas em busca do atendimento das reivindicações do grupo e aparecem somente quando os benefícios coletivos são gerados, para deles usufruir.

A idéia central de Olson é que o interesse comum dos membros de um grupo pela obtenção de um benefício coletivo nem sempre é suficiente para levar cada um deles a contribuir para a obtenção desse benefício. Há circunstâncias em que o indivíduo racional, buscando maximizar seu próprio bem-estar, prefere que os outros membros do grupo paguem o custo da obtenção do benefício coletivo para, assim, poder gozar das vantagens dele oriundas sem ter gasto nada.

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De acordo com Mancuso (2003),

a decisão de todo indivíduo racional sobre se irá ou não contribuir para a obtenção do benefício coletivo (e, em caso de decisão positiva, sobre o volume da sua contribuição) depende de um cálculo, onde o indivíduo considera: a) o custo marginal de fornecer o benefício coletivo em alguma medida; b) o benefício marginal oriundo do fornecimento do benefício coletivo em alguma medida e c) a quantidade do benefício coletivo já fornecida.

Afirma, ainda, que

os membros do grupo para os quais o custo de produzir qualquer quantidade do bem coletivo excede os benefícios, irão pegar carona na ação do indivíduo A e do indivíduo B. Como o bem fornecido por A e B é coletivo, os demais indivíduos se beneficiarão dele sem terem contribuído para sua obtenção. Ou seja, Olson utiliza o termo carona para designar a atitude de indivíduos racionais e auto-interessados que, mesmo considerando desejável a obtenção de um benefício coletivo, não se dispõem a colaborar para ela, pois esperam que outros indivíduos o façam. Os caroneiros preferem que outros indivíduos arquem com as despesas da obtenção do benefício coletivo, para que, desta forma, possam usufruir as vantagens dele procedentes sem terem que investir seus próprios recursos (Mancuso, 2003).

Com isso,

a grande assimetria entre os membros de um grupo no que diz respeito aos seus níveis de interesse por um benefício coletivo pode dar origem a um fenômeno inusitado: a exploração do grande pelo pequeno. A exploração ocorre quando o membro grande assume uma parte do custo do provimento do bem coletivo que é proporcionalmente maior do que a parte que lhe cabe das vantagens proporcionadas por esse bem coletivo. O membro pequeno possui dois motivos para explorar o membro maior: em primeiro lugar porque, por definição, ele sempre alcança uma parcela do benefício gerado por qualquer quantidade do bem coletivo que é menor do que a parcela alcançada pelo membro maior. Dessa forma, o membro menor tem menos incentivo para fornecer qualquer quantidade do bem coletivo do que o membro maior. Em segundo lugar porque, sempre que o membro menor alcança gratuitamente sua parcela do benefício total gerado pela quantidade do bem coletivo fornecida pelo membro maior, ele alcança mais do que teria alcançado se fornecesse por si próprio alguma quantidade do bem coletivo. Sendo assim, o membro menor não tem qualquer incentivo para fornecer novas quantidades do bem coletivo às suas próprias custas (Mancuso, 2003).

Em suma, em grupos maiores a solução parece estar na criação de benefícios seletivos (positivos ou negativos) que ajudem os participantes a tomar a decisão de cooperar e contribuir para o benefício coletivo; em grupos menores, em que os membros têm contato

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face a face e, portanto, podem exercer um controle mútuo, há maiores chances de que os benefícios coletivos sejam alcançados.

A análise das contradições que emergem da relação que se estabelecem entre as entidades de organização de interesses e a ação desses sujeitos, considerando a realidade política e econômica, ajudam a responder essas questões.

Ressalte-se, porém, que a cooperação não depende apenas da criação de estruturas organizativas, como cooperativas, associações etc. ou do treinamento de habilidades ou da educação dos sujeitos para o exercício da solidariedade.

As relações de cooperação são mediadas por um conjunto de condicionantes estruturais que são (ou não) dados, especialmente, a partir da relação estabelecida com o Estado, cuja responsabilidade na formulação e execução de políticas públicas para o meio rural é indispensável para garantir a continuidade e a consolidação das explorações levadas a cabo pelos produtores rurais. É ainda mediada pelo próprio sentido atribuído pelos trabalhadores rurais à cooperação e à cooperativa (Scopinho, 2007).

3 – BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O CENÁRIO DA CITRICULTURA NO BRASIL E EM SERGIPE‡

O Brasil é atualmente o maior produtor mundial de laranja, com 17,8 milhões de toneladas de frutos colhidas na safra 2005/06 e produção de 1,2 milhão de toneladas de suco de laranja, equivalente a 56,02% da produção e a 80,53% das exportações mundiais (DESER, 2006). Estima-se para 2007/2008, uma produção brasileira da ordem de 1,19 milhões de toneladas de suco e uma exportação de 1,23 milhões de toneladas. Esse aparente paradoxo só é possível porque o nível de estoques do país deverá decrescer 74 mil toneladas e o mercado interno não absorverá mais que 34 mil toneladas (DESENBAHIA, 2008).

Juntamente com os Estados Unidos, domina a produção mundial de laranja in

natura, respondendo por mais de 50% da oferta anual do produto, que alcançou 45,6 milhões

de toneladas na safra 2006/2007. Apesar de grande produtor, o Brasil não figura entre os mais

As informações e considerações a seguir foram feitas com base no relatório de pesquisa “A Cadeia

Produtiva da Laranja: Estudo Exploratório” (DESER, 2006), e nos documentos “Relatório de Mercado de Citrus: Laranja” (DESENBAHIA, 2008), “Aspectos Técnicos dos Citros em Sergipe” (CPATC/EMBRAPA e

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importantes exportadores de laranja in natura. Nessa seara, os Estados Unidos e a África do Sul são os maiores players internacionais (DESENBAHIA, 2008).

Até essa safra, o Brasil vinha melhorando a sua participação relativa nesse mercado e a produção norte-americana recuando de forma significativa. Enquanto a produção brasileira de laranja sustentou um pequeno incremento de 6,6% entre as safras de 1999/2000 e 2006/2007, a produção dos Estados Unidos contabilizou um declínio de 42,0% no mesmo período. Nas estimativas para a safra 2007/2008, no entanto, a produção brasileira registra uma retração de 13% em relação à safra anterior, ao passo que a dos Estados Unidos contabiliza um incremento de 34%. (DESENBAHIA, 2008).

Segundo a Agência de Fomento do Estado da Bahia (DESENBAHIA, 2008)

a queda da oferta brasileira está associada à irregularidade climática, ao desgaste dos pomares após grandes colheitas nos últimos anos e, principalmente, aos reduzidos investimentos que vêm sendo destinados à citricultura. Têm sido recorrentes as queixas dos citricultores paulistas aos preços relativamente baixos que a indústria de suco vem pagando pelo insumo, frente à elevação dos preços internacionais do suco e dos custos de produção e de oportunidade que a citricultura vem enfrentando nos últimos anos. O resultado é que alguns produtores têm migrado para outras culturas (como a de cana-de-açúcar) ou simplesmente não investido nos pomares existentes.

O Brasil figura como o mais proeminente entre os principais países exportadores de suco concentrado e congelado de laranja, respondendo por mais de 80% das vendas internacionais de suco de laranja nos últimos anos. Isso ocorre porque a parcela mais relevante da produção brasileira é toda destinada às exportações, restando um percentual relativamente pequeno para consumo interno (DESENBAHIA, 2008).

A comercialização da laranja brasileira se dá por meio da exportação de suco concentrado para o mercado externo, tendo como principais importadores os Estados Unidos, Japão e Espanha, enquanto que as frutas in natura são destinadas ao mercado interno. Até pouco tempo inexpressiva no quadro dos importadores mundiais de suco, atualmente a China ocupa o quarto lugar, transformando-se em mercado bastante promissor (DESER, 2006).

O estado de São Paulo é o principal produtor brasileiro, seguido da Bahia, Sergipe e Minas Gerais. Na safra 2005/2006, a produção paulista de laranja foi de 14,3 milhões de toneladas, correspondente a aproximadamente 80% da produção nacional; a Bahia colheu, nessa safra, 802 mil toneladas ou 4,5% do total produzido no país; Sergipe teve uma

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produção de 738 mil toneladas na mesma safra, representando 4,1% da produção brasileira (DESER, 2006).

Em termos de valor da produção, o estado paulista também respondeu por 80% dos R$ 5,3 bilhões da renda que essa cultura gerou em 2006. A Bahia, por sua vez, já não foi o segundo estado mais relevante, uma vez que a sua produção ficou cotada em R$ 183 milhões, ou 3,4% do valor gerado nacionalmente. A laranja proveniente de Minas Gerais, mais valorizada que a mercadoria baiana, fez com que o estado mineiro assumisse o posto de segundo estado no país no que se refere ao valor da produção dessa citricultura (DESENBAHIA, 2008).

Para a safra 2007/2008, as estimativas do USDA, são de queda da quantidade produzida no país, o que fará com que o volume de laranja ofertado no Brasil fique na casa dos 16 milhões de toneladas. Tal recuo da oferta nacional está relacionado com a redução da área plantada em São Paulo que tem registrado encolhimento, além dos problemas fitossanitários, notadamente o greening – uma doença com grande poder destrutivo - além do cancro cítrico e a clorose variegada dos citrus – CVC (DESENBAHIA, 2008).

O parque industrial brasileiro para produção de suco de laranja é bem estruturado e suas principais empresas se encontram inseridas no mercado mundial de suco de laranja congelado, há muitos anos. As principais empresas/indústrias de suco de laranja do Brasil são: Cutrale, Citrosuco, Citrovita, Coinbra-Dreyfus, Montecitrus, Brascitrus e CTM. As três primeiras empresas controlam aproximadamente 77% das exportações brasileiras de suco de laranja (DESER, 2006).

A commodity dessa cadeia produtiva, no entanto, não é a laranja in natura, mas o suco de laranja ou, mais especificamente, o concentrado congelado de suco de laranja (Frozen Concentrated Orange Juice - FCOJ). Como a fruta é o principal insumo desse mercado, o Brasil e os Estados Unidos aparecem de novo como os mais importantes produtores mundiais, respondendo, juntos, por quase 90% da produção global. Na estimativa para a safra 2007/2008, a produção mundial chegou a 2,26 milhões de toneladas de suco, volume inferior aos registrados nas safras anteriores, com exceção da contabilizada em 2004/2005, de 2,12 milhões de toneladas.

Atualmente, o cultivo da laranja no Brasil é feito por três tipos de produtores: pequenos produtores familiares, médios e grandes citricultores e empresas processadoras de suco concentrado. “Uma parte da laranja é produzida em área das próprias empresas

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processadoras. Outra parte é produzida por produtores que possuem contratos com as empresas e outra parte, ainda, por produtores que não possuem contratos com as empresas processadoras. A produção de laranja pela agricultura familiar é pequena em relação à quantidade total produzida” (DESER, 2006)

Em São Paulo, que produz aproximadamente 80% da laranja brasileira, o cultivo é feito, na sua maioria, em grandes áreas de produção, sendo que aproximadamente a metade é cultivada em área das próprias indústrias (DESER, 2006). Situação totalmente oposta à de Sergipe, onde é a agricultura familiar que responde maciçamente pela produção de laranja no estado, apesar das crescentes e graves dificuldades que vêm atingido mais diretamente os pequenos e os médios agricultores integrantes dessa categoria.

A partir do início dos anos 90, o número total de produtores comerciais de laranja no Brasil foi reduzido, em virtude de problemas fitossanitários e das oscilações nos preços da laranja, o que levou muitos agricultores a abandonar a atividade (DESER, 2006) §.

Os citricultores atribuem essa saída ao crescente custo de produção da laranja, em decorrência das dificuldades provenientes do controle de pragas e doenças, que dizimam os pomares e exigem mais cuidados, e aos baixos preços recebidos pelo produtor, em face do monopsônio que exerce o oligopólio formado pela indústria processadora de suco concentrado de laranja do país.

A queda da produção só não foi maior com a saída dos produtores desse segmento porque os maiores pomares permaneceram e parte da produção vem sendo realizada atualmente pelas próprias indústrias, que buscam verticalizar a produção, a exemplo da CUTRALE, que mantém algumas fazendas além das suas fábricas (DESENBAHIA, 2008).

Os produtores que ainda se mantém na atividade são geralmente os que possuem grandes explorações de laranja e cujos pomares apresentam alta produtividade, em decorrência da utilização de mais tecnologia, adensamento e irrigação. Essa situação deverá fazer com que a produtividade da citricultura paulista eleve-se ainda mais frente à produção de outros estados brasileiros. A produtividade média de São Paulo só é menor que a produtividade média da citricultura paranaense (que tem uma representatividade muito baixa na citricultura nacional), e muito maior que as médias dos estados da Bahia e Sergipe,

§

Segundo a DESENBAHIA (2008), o censo citrícola da Fundecitrus mostra que desde 1995 mais da metade dos produtores saiu da atividade, em especial em São Paulo e no Triângulo Mineiro, fazendo com que o número de citricultores no país caísse de 23 mil em 1995 para perto de 10 mil em 2005 (FNP, 2007).

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respectivamente segundo e terceiro maiores produtores de laranja do país (DESENBAHIA, 2008).

Especificamente sobre o Estado de Sergipe, este chegou a ser o segundo maior pólo citrícola do país, com uma área plantada de 50 mil hectares e produção média anual de 700 mil toneladas, destinadas ao abastecimento do mercado interno de frutas in natura e à exportação, sob a forma de suco concentrado. Atualmente, é um pálido retrato do setor pujante que foi entre 1970 e 1990, embora ainda continue a ter uma enorme importância social e econômica para o estado, a despeito da grave crise pela qual vem passando.

Segundo o Censo Agropecuário 1995-96 do IBGE, embora encontrada em 63 dos 75 municípios sergipanos, a cultura comercial da laranja está concentrada nos 14 municípios que compõem as Microrregiões Agreste de Lagarto, Boquim e Estância, a saber: Lagarto, Riachão do Dantas, Arauá, Boquim, Cristinápolis, Itabaianinha, Pedrinhas, Salgado, Tomar do Geru, Umbaúba, Estância, Indiaroba, Santa Luzia do Itanhy e Itaporanga D’Ajuda (Figura 1).

Também denominada de pólo citricultor ou região citrícola, tem quase 400 mil habitantes, o que corresponde a um quinto da população estadual, e ocupa 25% da superfície total do estado, com seus 5,5 mil quilômetros quadrados. Responde por mais de 95% da área total plantada com laranja no estado, distribuída em 11.570 estabelecimentos agropecuários e proporciona ocupação para estimadas 40.901 pessoas.

A crise da citricultura sergipana, desde a década de 90, tem suas origens em fatores internos e externos, que levaram à redução da rentabilidade do setor a níveis tão baixos que impediram a manutenção e ampliação da atividade. Pelo lado da produção, ocorreu a elevação dos custos e queda na produtividade, em virtude do encarecimento do crédito agrícola e, consequentemente, a diminuição dos investimentos na manutenção e renovação dos pomares. Pelo lado da demanda, a queda das exportações de suco concentrado de laranja nos principais mercados importadores, entre outros motivos, levou à diminuição da receita obtida pelos agentes envolvidos no agronegócio citrícola e, conseqüentemente, aumentaram as dificuldades de manutenção e ampliação da atividade.

Os reflexos negativos se reproduziram por toda a cadeia produtiva da citricultura, desde o segmento de produção de mudas, passando pela indústria de fertilizantes, comércio de insumos, agentes financeiros, comerciantes de frutos, chegando até a indústria de suco e o mercado varejista de frutas, levando a um processo de semi-estagnação econômica da região citrícola.

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Embora desde os anos 50 o cultivo da laranja já fizesse parte das atividades agrícolas exploradas no estado, foi entre 1970 e 1985 que a citricultura sergipana tomou um vulto surpreendente. Os dois mil hectares de citros, implantados em Boquim, principalmente, Pedrinhas e Riachão do Dantas, levantados pelo CONDESE em 1968, se transformaram em 50 mil hectares distribuídos por 14 municípios do centro sul do estado, de Itaporanga D’Ajuda até a fronteira da Bahia, em Tomar do Geru (EMBRAPA/DEAGRO, 2007).

A nova citricultura avançou sobre os espaços antes ocupados por pastagens, matas secundárias e remanescentes da mata atlântica e, sustentada pelas novas tecnologias aportadas pela pesquisa e pela extensão, permitiu que os produtores aproveitassem com grande êxito a oportunidade de um mercado demandante de frutas cítricas nos principais centros urbanos do Nordeste e da oferta farta e barata de crédito agrícola, para implantarem na região o que na época se tornou o segundo pólo citrícola do país (EMBRAPA/DEAGRO, 2007).

Entre 1980 e 1985, a citricultura sergipana viveu o apogeu econômico, chegando à marca dos 40 mil hectares colhidos e ocupando a segunda colocação do ranking da produção brasileira. A exploração proporcionava elevados rendimentos aos produtores e aos industriais, o que permitiu a emergência de uma forte classe média de origem e raízes rurais na região sul do estado. Entretanto, a partir daí, veio o declínio acentuado da atividade, com gravíssimos problemas na produção e produtividade das lavouras, geração de emprego e renda, abrangendo tanto a parte agrícola quanto a industrial.

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Figura 1 – Municípios que formam a Região Citrícola de Sergipe

A partir de 1990, uma conjunção de fatores, como a falta de investimento público na pesquisa e na extensão, saturação do mercado, períodos de seca, falta de evolução tecnológica dos produtores, principalmente no setor de comercialização e organização, resultou em anos de inadimplência no crédito, no desânimo, na estagnação (EMBRAPA/DEAGRO, 2007).

Apesar disso, em Sergipe, a citricultura ainda é uma das atividades econômicas mais importantes da economia agrícola estadual e se constitui no maior empregador da região

Canindé de São Francisco Poço Redondo Porto da Folha Gararu Monte Alegre de Sergipe

N. Sra. da Glória Carira N. Sra. Aparecida Feira Nova Graccho Cardoso Itabi N. Sra. de Lourdes Canhoba Aquidabã Cumbe São Miguel do Aleixo N. Sra. das Dores Ribeirópolis Frei Paulo Pedra Mole Pinhão Capela Moita Bonita Itabaiana Macambira Campo do Brito São Domingos Simão Dias Lagarto Poço Verde Tobias Barreto Riachão do Dantas Itabaianinha Tomar do Geru Cristinápolis Umbaúba Indiaroba Sta Luzia do Itani Pedrinhas Arauá Boquim Estância Itaporanga D’Ajuda Aracaju Pirambu Pacatuba Siriri Japaratuba Japoatã Cedro de São João Malhada dos Bois Muribeca

Neópolis Propriá

Amparo de São Francisco Telha

São Cristóvão Areia

Branca Laranjeiras Riachuelo

Santo Amaro das Brotas Divina

Pastora Rosário do Catete

Ilha das Flores Brejo Grande

Salgado

Santana do São Francisco

Sta. Rosa de Lima Malhador N. Sra. do Socorro Barra dos Coqueiros Maruim Carmópolis Gal. Maynard São Francisco

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Centro-Sul do estado, mesmo com a drástica redução das ocupações e empregos ocorrida no setor. Em 1995/96, a citricultura proporcionava ocupação para 43.011 pessoas, menos da metade das 100 mil ocupações existentes no período áureo da atividade, por volta da década de 80.

Segundo os dados da Produção Agrícola Municipal do IBGE, em 2007 a área colhida com laranja em Sergipe foi de 55.272 hectares, com uma produção igual a 764 mil toneladas e rendimento médio de 13,8 toneladas por hectare. Contraditoriamente, apesar da grave crise que atravessa, a citricultura sergipana tem apresentado ao longo dos anos um aumento na área colhida e na produção de laranja, embora com queda brutal de produtividade, que atualmente é pouco mais da metade do rendimento médio que a cultura alcançou no período de apogeu.

Tomando-se a série histórica correspondente ao período 1990 a 2007, pode-se ver nas Figuras 2, 3 e 4 como se comportou a cultura da laranja em Sergipe, em termos de área colhida, produção e rendimento médio, tanto para o estado como para os 14 municípios que formam o Pólo Citricultor, e ainda para os três principais municípios produtores. Os dados numéricos para cada ano constam das Tabelas 1, 2 e 3 do Anexo I.

Observa-se que até 2000, o município de Lagarto ocupava a primeira posição entre os principais produtores de laranja do Sergipe, tanto em área colhida, como produção e rendimento médio. A partir desse ano, perdeu lugar para Itabaianinha e Cristinápolis, ficando em terceiro lugar.

O município de Boquim, ainda hoje conhecido como a “terra da laranja”, que por vários anos dividiu com Lagarto o posto de maiores produtores de laranja de Sergipe, atualmente amarga um quarto lugar. Apesar de manter a tradição de promover anualmente a “Festa da Laranja”, evento que vem sendo realizado há mais de 40 anos, gradativamente vem perdendo importância no cenário agrícola sergipano, notadamente no que diz respeito à citricultura. Pomares envelhecidos, pragas e doenças e endividamento de grande parte dos citricultores da região contribuem para a situação melancólica que atravessa a cultura, com crescente empobrecimento dos pequenos citricultores e miséria de milhares de colhedores de laranja (Anexo II).

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Figura 2 - Estado de Sergipe: Área colhida com laranja (ha) -1990/2007

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Figura 4 – Estado de Sergipe: Rendimento da Laranja (kg/ha) – 1990/2007

Atualmente, a cadeia produtiva da laranja em Sergipe é formada pelos seguintes elementos com suas respectivas funções no processo de produção – antes e depois da “porteira do sítio”:

- Suporte à produção: a) Bancos: crédito

b) Fornecedores de insumos: lojas de revenda de produtos agropecuários c) Viveiristas: produção e venda de mudas comuns ou teladas.

d) Secretaria de Estado da Agricultura/EMDAGRO: venda subsidiada de mudas teladas, adquiridas de viveiristas credenciados.

e) Técnicos prestadores de assistência técnica e extensão rural: EMDAGRO, cooperativas, associações.

- Produção:

a) Produtores: pequenos, médios e grandes citricultores.

b) Mão-de-obra: familiar e assalariada, em menor proporção. No caso dos grandes citricultores e de alguns médios, a existência de assalariados permanentes (gerentes e moradores); os trabalhadores temporários são encontrados, indistintamente, nos diversos tipos de propriedade (pequenos, médios e grandes produtores), principalmente na colheita, feita por trabalhadores sem-terra (catadores/colhedores de laranja).

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- Comercialização:

a) Cooperativas: apenas a COOPAME continua atuando na comercialização da laranja. A COOPERTREZE está impedida de fazê-lo, em face de sua situação de insolvência (dívidas com bancos) e a ASCISE, está desativada desde dezembro de 2004;

b) Intermediários/Atravessadores: comerciantes da região citrícola compram a produção dos citricultores e vendem para as agroindústrias, supermercados e CEASA;

c) Indústrias de suco concentrado: aquisição de laranja dos intermediários/comerciantes e citricultores e comercialização no mercado externo;

d) Supermercado: aquisição direta de produtores e intermediários;

e) Beneficiadoras (Parking House): compram a laranja dos citricultores e intermediários/comerciantes, fazem o beneficiamento e vendem o produto no mercado de frutas in natura local e regional.

Em resumo, a citricultura sergipana, que por quase duas décadas teve um ótimo desempenho e foi modelo de um processo de modernização da agricultura que beneficiou efetivamente um contingente expressivo de agricultores familiares, além de gerar emprego e renda a milhares de moradores da zona rural, atualmente vive a sua pior crise. Daí a enorme preocupação com a situação da laranja, imersa num círculo vicioso que envolve perda de receita, dificuldades de renovação dos pomares, baixa produtividade, elevado índice de desemprego, utilização do trabalho infantil e problemas de integração com as agroindústrias de suco concentrado de laranja, existentes na região (Figura 5).

Figura 5 - Fluxo da cadeia produtiva da laranja de Sergipe

Insumos Produção agrícola

(laranja) Comercialização - in natura e suco - Consumo final - mercado interno in natura - - exportação de suco - Mercado in natura - produtores - - beneficiadoras - Industrialização - fábricas de suco concentrado de laranja -

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4 - DIMENSÕES DA CRISE E (DES) ORGANIZAÇÃO DOS CITRICULTORES: OS RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 – Aspectos da produção e comercialização da laranja em Sergipe - Características dos Produtores

Os produtores de laranja em Sergipe são majoritariamente do sexo masculino (90,6%), casados (73,4%) e têm entre 40 e 60 anos (61,0%). Com baixo nível de instrução, 17,2% são analfabetos, 21,9% mal sabem ler e escrever e 43,8% e não chegaram a concluir o ensino de primeiro grau (Tabelas 4, 5, 6 e 7).

A maioria expressiva dos produtores (75,0%) está envolvida com a citricultura há mais de 15 anos, com destaque para os que estão nessa atividade entre 20 e 25 anos, cerca de um quinto dos produtores; os que trabalham com a cultura há menos de cinco anos representam apenas 6,3% dos entrevistados. Em 1984, 67% dos produtores dedicavam-se à citricultura há mais de dez e menos de trinta anos (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.21).

Predominam nesse setor agrícola as famílias nucleares, formadas por pai, mãe e filhos, com 4,7 pessoas por família, em média. Dentre os membros da família, os com idade entre 21 e 30 anos, solteiros e, tal como seus pais, não chegaram a concluir o primeiro grau, são maioria (Tabelas 8, 9, 10 e 11). Quanto ao local de moradia, 79,7% residem no estabelecimento e 20,3% em local próximo ou em aglomerado urbano. Apenas um entrevistado mora em outro município diferente do local onde tem a propriedade. Ocorreu uma mudança substantiva nessa situação, ao compararmos esses dados com os de 1984, levantados pela pesquisa do BNB/ETENE e SUDAP: naquela ocasião, a maioria dos citricultores entrevistados (56%) residia nas sedes dos municípios, “onde a oferta de serviços básicos de assistência às suas famílias é mais satisfatória” (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.20). Essa mudança pode ser atribuída aos impactos positivos trazidos pelo desenvolvimento da citricultura, ao longo dos anos, ao dotar as áreas produtoras de uma boa infra-estrutura, principalmente estradas, que tornaram mais fácil aos produtores o deslocamento às sedes dos municípios, permitindo-lhes fixar moradia no próprio sítio.

Em 2007/2008, 55,2% das residências eram do tipo misto (adobe e tijolo), 43,1% de alvenaria e, 1,7%, de taipa. Mais de 90% das residências estavam ligadas à rede geral de energia elétrica, 43,5% tinham como principal forma de abastecimento de água a rede geral e 41,9% eram dotadas de cisterna. A maioria das casas tinha fossa séptica, 37,5% fossa comum e 10,9% eram desprovidas de qualquer tipo de esgotamento sanitário.

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Tomando-se por base um conjunto de quatro variáveis, a saber: tipo de moradia (casa de alvenaria), energia elétrica (rede geral), abastecimento d’água (água encanada) e esgotamento sanitário (fossa séptica), foi construído o que chamamos de “índice de qualidade de vida” das famílias pesquisadas.

Variando de zero a um, convencionou-se que o resultado zero do índice caracterizaria péssima qualidade de vida, de 0,25 seria ruim, 0,50 uma qualidade de vida razoável, 0,75 uma boa qualidade de vida, e 1,0 que as famílias pesquisadas tinham ótima qualidade de vida.

Dos cálculos feitos, resultou que 45,3% dos entrevistados apresentam uma boa qualidade de vida, 42,2% razoável, 12,6% repartidas igualmente entre as condições ruim e péssima.

Entre as variáveis que compõem o indicador de qualidade de vida mencionado é o saneamento básico, representado pela ausência de uma forma de esgotamento sanitário adequado (fossa séptica), o de maior frequência entre as famílias pesquisadas.

No que diz respeito às atividades produtivas, das 64 famílias entrevistadas, 60,9% dedicam-se exclusivamente à atividade agrícola, enquanto 39,1% são pluriativas, isto é, têm pelo menos uma pessoa da família ocupada em atividades não-agrícolas, sendo as principais o comércio (mercearia, bar/lanchonete, comprador de laranja), seguido de serviço público (motorista, professora, servente etc.), industriário (fábrica de suco concentrado), trabalhador da construção civil, mecânico, mototaxista, costureira e sanfoneiro (Tabelas 12, 13, 14, 15 e 16).

Essa situação é um pouco diferente da encontrada em 1984 pelo BNB/ETENE e SUDAP, em que 64% dos produtores entrevistados dedicavam-se exclusivamente à agricultura e 36% executavam atividades paralelas como o comércio (12,5%), profissões liberais (5,3%), funções públicas (8,2%), intermediários de laranja (1,8%) e outras (7,7%) (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.97).

Ressalte-se que o crescimento do número de citricultores que se dedicam a outras atividades fora da agricultura, comparando-se os resultados dos dois anos pesquisados, decorre do empobrecimento substancial dos agricultores familiares, principalmente os menores e os médios. Em outros termos, tem-se aí uma busca de alternativa de reprodução

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social por parte desses produtores, obrigados a se valer de estratégias de sobrevivência para não perder a sua condição de agricultor familiar.

A maioria das famílias pluriativas é formada por quatro pessoas, não concluiu o primeiro grau, possui entre um e meio e três hectares de terra e renda bruta familiar inferior a dois salários-mínimos mensais. Como já fizemos menção, tais famílias estão entre os citricultores mais pobres, o que explica o engajamento de algum de seus membros em atividades não agrícolas que requerem baixa qualificação – servente, trabalhador da construção civil, motorista etc.

É importante notar que das 302 pessoas que compõem a família dos entrevistados (incluindo o chefe ou responsável), 23,8% tinham menos de 14 anos, portanto, um número expressivo de crianças e adolescentes.

Das 64 famílias entrevistadas, 79,7% tinham, além do chefe da família, algum outro membro trabalhando; destes, 53,3% eram mulheres e 46,7%, homens.

A pesquisa revelou, ainda, que quase 80,0% deles tinham como ocupação principal a agricultura - eram agricultores conta própria; 91,5% deles tinham como local de trabalho o próprio sítio; 3,1% eram trabalhadores domésticos; 1,6% trabalhavam em atividades comerciais, o mesmo porcentual dos servidores públicos; e 12,5% eram aposentados. Os empresários agrícolas eram apenas 1,6%, o que reafirma a característica singular da citricultura sergipana, em que a agricultura de base familiar é predominante. Nesse sentido, mantém uma tradição histórica, já evidenciada pela pesquisa do BNB/ETENE e SUDAP, de 1984, que afirmava ser “a citricultura sergipana, predominantemente, uma atividade de caráter familiar porque, em geral, é atividade de pequeno porte gerida diretamente pelo produtor. Naquela ocasião, 82% das unidades produtivas eram administradas pessoalmente por seus proprietários enquanto as demais (18%) eram dirigidas por gerentes, moradores ou outras categorias de gestores (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.21)

Além da ocupação principal, 51.6% dos entrevistados estavam engajados em uma segunda ocupação: 30,3% em atividades comerciais, 27,3% como agricultor conta própria, 9,1% como trabalhador rural, 6,1% empregados da construção civil e 3,0% trabalhavam em outras atividades - motorista, mototaxista, comprador de laranja e sanfoneiro. Quanto ao local de trabalho, a maioria tinha como local de trabalho a própria unidade produtiva/domicílio e os outros desempenhavam suas atividades fora do estabelecimento, em outras atividades não agrícolas.

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Ao contrário dos chefes ou responsáveis pela família, a maioria dos seus membros (51,1%) tinha como ocupação principal as atividades próprias de trabalhadores rurais, 13,3% eram aposentados ou pensionistas e 7,8% estudantes.

Desenvolviam suas tarefas na própria unidade produtiva/domicílio (68,7%); 1,2% fora do estabelecimento em atividade agrícola; 14,5% fora do estabelecimento em outras atividades; 2,4% no estabelecimento e fora em atividade agrícola; 1,2% no estabelecimento e fora em outras atividades.

No que tange à questão da terra, a maioria dos citricultores cultiva a laranja em terra própria (68,1%) e 27,8% em propriedades dos pais/família. O arrendamento de terras de terceiros e a relação de parceria são inexpressivos. O tipo de documentação da terra predominante entre os entrevistados é o recibo de compra e venda (63,9% dos citricultores o possuem), seguido da escritura pública, com 30,6% (Tabelas 17 e 18).

Em 1984, segundo a pesquisa do BNB/ETENE e SUDAP, a citricultura sergipana reunia expressivo contingente de produtores de laranja que se concentravam, sobretudo, em propriedades de até cinco hectares. Tal comportamento se justifica pelo fato de que 70% dessas unidades produtivas são classificadas por áreas como propriedades familiares, isto é, têm até dez hectares, e nelas residem o produtor e sua respectiva família (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.20). Vinte e cinco anos depois, esse quadro permaneceu praticamente o mesmo: 71,8% dos entrevistados possuem áreas inferiores a 10 hectares, 21,9% entre 10 e 50 hectares e apenas 6,3% são proprietários de terras com 50 hectares e mais (Tabela 19).

As maiores propriedades com laranja estão localizadas nos municípios de Itabaianinha e Cristinápolis, enquanto que os sítios menores ficam no Povoado Treze, município de Lagarto (Tabela 20).

Entre os maiores proprietários de terra identificados pela pesquisa, dois terços eram do município de Itabaianinha e um terço do Povoado Treze, município de Lagarto. Além de citricultores ou empresários agrícolas, alguns possuíam viveiros e comércio. Ressalte-se que entre os entrevistados estava um empresário agrícola e comerciante, detentor de mais de 200 hectares de terra.

Outro aspecto importante a ser ressaltado diz respeito ao movimento de compra e venda de propriedades por parte de citricultores da região, a indicar uma possível tendência de um processo de reconcentração de terras.

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É certo que citricultores de maior porte estão comprando áreas de pequenos agricultores com dificuldades de sobrevivência – endividados nos bancos ou com renda insuficiente para manter a exploração. Os que mais estão perdendo terra são os citricultores médios. Tem-se, assim, um processo simultâneo de reconcentração e fragmentação de terras, na medida em que aumenta número de grandes citricultores, de um lado, acompanhado do crescimento de produtores de laranja que com menores áreas, refletindo o empobrecimento de parte do segmento médio envolvido com a exploração da laranja.

Apenas para exemplificar, dos 28 citricultores do Povoado Treze, município de Lagarto, entrevistados em 2004 na pesquisa sobre a pluriatividade na agricultura familiar de Sergipe, e novamente, em 2009, 17,8% já haviam vendido a propriedade ou estavam à procura de se desfazer do sítio (3,6%), que ostentava uma placa de “vende-se”, quando da realização da pesquisa de campo.

- Organização da Produção e Relações de Trabalho

Com base em informações obtidas durante entrevistas feitas com citricultores, extensionistas, presidentes de cooperativas, associações e técnicos envolvidos com a atividade citrícola no estado, foi possível montar uma tabela de classificação dos produtores de laranja, segundo o critério de extensão de área ocupada, divididos em pequenos, médios e grandes. Os pequenos produtores apresentam área inferior a 10 hectares, os médios produtores ocupam entre 10 a 50 hectares e os grandes ocupam uma área superior a 50 hectares.

As figuras 6, 7, 8 e 9 mostram a participação percentual dos citricultores sergipanos por categoria, em relação ao número de estabelecimentos e à produção colhida de laranja nos anos de 1984 e 2008. Observa-se que, enquanto os pequenos citricultores são predominantes no número de propriedades, os produtores grandes são pouco expressivos. O inverso ocorre quando o foco é a produção de laranja, em que os pequenos citricultores participam com pouco mais da metade da produção colhida pelos grandes. A equivalência na representação se dá entre os grandes e os médios citricultores, que são responsáveis por 38,0% e 39,4%, respectivamente, da produção de laranja em 2008 (Tabelas 21, 22 e 23).

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Figura 6 - Número de Propriedades por Tipo de Produtor – 1984

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Figura 8 - Produção de Laranja por Tipo de Produtor - 1984 e 2008

Figura 9 - Produção de Laranja por Tipo de Produtor - 2008

Chama-se atenção, ainda, para a perda de representatividade dos médios citricultores entre 1984 e 2008, tanto no que se refere à sua participação no total de número de estabelecimentos como na produção colhida de laranja. Correspondiam a 27,7% do número de

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produtores de citros e de suas propriedades vinha quase metade da laranja colhida em 1984. Passadas duas décadas e meia, são pouco mais de um quinto, e participam com 39,4% da produção de laranja. Nesse período, aumentaram suas posições nas duas variáveis, consideradas os pequenos e os grandes produtores de citros, justamente à custa da parcela de médios citricultores que empobreceram e foram obrigados a vender suas terras, em parte ou integralmente e/ou desistiram de continuar na atividade em razão da saída dos filhos para trabalhar nos centros urbanos, em outras atividades (Figura 10).

Figura 10 – Membros da Frente Democrática de Citricultores Endividados e Falidos, do município de Boquim

No que concerne à exploração da terra, no ano agrícola 2007/2008, de um total de 775,1 hectares, 412,2 hectares ou 53,2% da área total dos estabelecimentos pesquisados, estavam ocupados com lavouras permanentes (laranja, limão, maracujá) e temporárias (mandioca, milho e feijão, plantadas entre as filas de laranja) e o restante com pastagens, matas e florestas, terras improdutivas etc.

Dos 377,5 hectares ou 48,7% da área total com lavouras permanentes, 370,5 hectares, correspondente a 89,9%, eram terras exploradas com laranja, na sua expressiva maioria, pomares com 5,9 hectares, em média, de área plantada (Tabela 24 e 25).

Segundo pesquisa BNB/ETENE e SUDAP, a porcentagem da área com laranja, em 1984, era de 98,6%, enquanto a área média correspondia a 13,3 hectares (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.35 47).

Os dados coletados em 1984 e em 2008 mostram uma perda de representatividade da laranja na ocupação da área explorada, além de uma redução na área

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média plantada com a cultura, indicativa do processo de crise que a citricultura vem atravessando desde a década de 90.

Em 1984, de acordo com a pesquisa BNB/ETENE, entre as laranjas predominava a do tipo “pera”, por reunir vantagens de melhor produtividade, resistência às secas e tempo de sustentação dos frutos nas árvores maiores em relação às demais variedades, além de ser muito procurada tanto para o consumo “in natura” como para uso industrial (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.35). Em 2008, essa variedade de laranja praticamente domina os pomares sergipanos, haja vista o abandono das outras variedades pelos citricultores, talvez por não encontrarem mercado satisfatório para a fruta in natura.

No curso desses 25 anos, portanto, não somente a laranja passou a ser sinônimo de citricultura em Sergipe, transformando a região cítricola do estado em um vasto pomar de só cultura, como praticamente desapareceu do cenário agrícola as outras variedades de laranja encontradas anteriormente nos pomares da região, principalmente a laranja Bahia ou de “umbigo”, chamada popularmente.

- Relação entre área colhida e área plantada com laranja e rendimento médio Do total de 245,9 hectares plantados com a cultura, 370,5 hectares ou 66,4% foram colhidos em 2007/2008. A diferença entre ambas corresponde a novos plantios e substituição de pomares velhos, que ainda não começaram a produzir, além de perdas de parte da safra, devido a problemas climáticos e a doenças nos pomares. A pesquisa BNB/ETENE e SUDAP, de 1984, detectou uma produtividade média de 77,7 mil frutos por hectare ou 205 frutos por planta (BNB/ETENE e SUDAP, 1984, pág.38). Considerando-se um peso médio por fruto equivalente a 200 gramas, tem-se uma produtividade média de 15.540 kg/ha ou 15,5 toneladas por hectare.

Segundo dados da EMDAGRO, em 1995 a produtividade média era de 17 toneladas por hectare, passando a ser, a partir de 1999, em torno de 13 toneladas, indicador de um baixo nível de produtividade (InformASCISE, Ano 1 – No. 3 - Dezembro/2004. pág. 8).

Em 2007/2008, os resultados da pesquisa de campo aqui retratada apontam para uma produtividade de apenas 6.553 kg/ha ou 6,6 toneladas por hectare. Ou seja, substantivamente menor que o rendimento que normalmente vem sendo utilizado pelo governo. Em outras palavras, os dados coletados diretamente nas propriedades dos citricultores, discrepam fortemente dos valores do rendimento médio da laranja calculado pelo IBGE e pela EMDAGRO.

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Sem avocar para si o correto dimensionamento dessa importante variável, até porque se trata de uma pesquisa amostral, restrita a três municípios da região citrícola, o índice de produtividade da laranja encontrado deixa no ar a seguinte dúvida: será que a real dimensão da crise da citricultura sergipana, vista através de uma de suas variáveis básicas, não é maior e mais profunda do que se pensa?

A comparação dos dados sobre a produção de laranja em 1984 e 2007/2008, por classes de área total, mostram uma mudança importante na origem dos frutos colhidos. Em 1984, as propriedades com menos de cinco hectares contribuíam com 9,9% da produção, dobrando sua participação em 2007/2008, para 18,2%, o mesmo acontecendo com os estabelecimentos entre 10 e 20 hectares, que aumentaram sua participação de 13,0% para 25,1%, enquanto os de 50 hectares e mais, que em 1984 respondiam por 33,6% da produção, atualmente contribuem com 38,0% (Tabela 26).

Comportamento inverso apresentou as propriedades com área total de 20 a menos de 50 hectares, que tiveram reduzida a sua participação na produção de laranja de 36,0% em 1984 para 14,3% em 2007/2008. Ressalte-se que nessa faixa estão os citricultores médios, por vários anos os principais responsáveis pelo desenvolvimento da citricultura no estado de Sergipe, e atualmente os atingidos mais fortemente pela crise da laranja.

Entre os municípios pesquisados, Itabaianinha foi o que apresentou, em 2007/2008, a maior área média plantada com laranja, 8,7 hectares, seguido de Lagarto (Povoado Treze) com 4,8 hectares e Cristinápolis, com 2,2 hectares. Já no que diz respeito à relação entre a área plantada com laranja e a área total, o município de Cristinápolis apresenta a maior porcentagem de ocupação de área com laranja (76,8%), Itabaianinha e Lagarto (Povoado Treze), respectivamente, têm 47,5% e 44,8% de sua área total explorada com essa lavoura.

Nos últimos cinco anos, o maior aumento na área explorada com laranja, na produção colhida e na venda do produto ocorreu nos estabelecimentos com menos de cinco hectares de plantio, enquanto que a maior redução aconteceu nos sítios com dois a menos de cinco hectares e entre 10 e 20 hectares.

No tocante à receita obtida com a comercialização do produto, também foram os estabelecimentos menores os que tiveram maior ganho. Essa situação é perfeitamente condizente com as ações do programa de revitalização da citricultura que vem sendo implementado pelo governo estadual desde 2004, cujos beneficiados têm sido os agricultores familiares situados nesses extratos de área. Entre tais ações, podem-se citar como exemplos, o

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fornecimento de mudas selecionadas, adubos e trator pelo governo de Sergipe a custo zero ou subsidiado.

– Composição da mão-de-obra e relações de trabalho na citricultura

Como já mencionamos anteriormente, a base da citricultura sergipana está assentada na agricultura familiar, com forte presença de assalariados temporários, principalmente no período da colheita.

Os dados da pesquisa mostram que 64,9% das pessoas que trabalhavam no cultivo da laranja, no ano agrícola 2007/2008, faziam parte do grupo doméstico (o chefe ou responsável e demais membros não remunerados da família), na grande maioria, pertencentes ao sexo masculino; os assalariados permanentes, todos eles homens, eram pouco mais de 3%, enquanto que 31,8% compunham a força-de-trabalho formada por assalariados temporários (Tabela 27).

Das 64 famílias entrevistadas, 45,3% informaram que contratavam trabalhadores temporários para ajudar no cultivo da laranja, a maioria dessa mão-de-obra (55,2%) trabalhou menos de um mês e no máximo 45 dias; 10,0% entre 60 e 90 dias; 10,3% entre 90 e menos de 120 dias; e 20,7% trabalharam mais de quatro meses naquele ano.

As principais atividades realizadas pelos assalariados temporários eram a capina, o plantio de mudas, os tratos culturais, a construção e reforma de cercas, a poda, pulverização, aplicação de agrotóxicos, desbrotas, adubação, replantio, colheita, abertura de cova e trabalho no viveiro.

De acordo com 81,4% dos citricultores que contrataram assalariados temporários, em 2007/2008, esse número variou entre um e três. A maioria, no entanto, afirmou ter contratado apenas uma pessoa para auxiliar nos trabalhos com a laranja.

Apesar formarem um contingente expressivo, reconhecido unanimemente por técnicos, lideranças sindicais e de cooperativas e técnicos envolvidos com a citricultura, não se sabe ao certo quantos são. O que se sabe é que são dezenas de milhares de pessoas sem qualquer capacitação, de baixo ou nenhum nível de instrução, que buscam ocupação temporária no período de colheita da laranja. Vêm de várias partes do estado e fazem esse tipo de trabalho porque não têm qualquer alternativa de ocupação. Também não possuem qualquer vínculo de trabalho que lhes garanta os mínimos direitos sociais, seja na sua relação com os produtores seja com os atravessadores/intermediários que os contratam.

A força de trabalho familiar ocupada no cultivo da laranja era de aproximadamente 44,0% em 2007/2008, enquanto que 1984, ela correspondia a 25,6%

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