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CASO DA COMPETÊNCIA EM MATÉRIAS PESQUEIRAS (REINO UNIDO v. ISLÂNDIA) ( )

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CASO DA COMPETÊNCIA EM MATÉRIAS PESQUEIRAS (REINO UNIDO v. ISLÂNDIA)

(1972-1974)

CASO DA COMPETÊNCIA EM MATÉRIAS PESQUEIRAS (REPÚBLICA FEDERATIVA DA ALEMANHA v. ISLÂNDIA)

(1972-1974) (MEDIDAS CAUTELARES)

Decisão de 17 de agosto de 1972

Em duas decisões separadas, proferidas no dia 17 de agosto de 1972, acolhidas, cada uma, por 14 votos a 1, a Corte indicou medidas cautelares nos casos da Competência em Matérias Pesqueiras (Reino Unido v. Islândia; República Federal da Alemanha v. Islândia).

Caso Reino Unido v. Islândia

Na primeira das duas decisões a Corte indicou a título provisório, esperando sua sentença definitiva nos procedimentos instituídos no dia 14 de abril de 1972 pelo governo do Reino Unido contra o governo da Islândia, as seguintes medidas cautelares:

a) O Reino Unido e a República da Islândia deveriam assegurar que não seria praticada qualquer ação que pudesse vir a agravar ou estender a disputa submetida à Corte;

b) O Reino Unido e a República da Islândia deveriam assegurar que não seria praticada qualquer ação que pudesse vir a prejudicar os direitos que a outra parte pudesse vir a ter, qualquer que fosse a decisão de mérito da Corte;

c) A República da Islândia deveria abster-se de tomar qualquer medida que aplicasse o Regulamentosde 14 de julho 1972 às embarcações registradas no Reino Unido e ligadas a atividades de pesca nas águas ao redor da Islândia além das doze milhas da zona de pesca;

d) A República da Islândia deveria abster-se de aplicar medidas administrativas, judiciais ou outras medidas contra navios registrados no Reino Unido, suas tripulações ou outras pessoas relacionadas, tendo em vista a ocupação destes em atividades de pesca nas águas ao redor da Islândia além das doze milhas da zona de pesca;

e) O Reino Unido deveria assegurar que as embarcações sob seu registro não pesquem, anualmente, mais de 170.000 toneladas métricas de peixe na zona marítima islandesa que o Conselho Internacional para a Exploração do Mar definiu como região Va;

f) O governo do Reino Unido deveria fornecer ao governo da Islândia e ao Secretário da Corte toda informação pertinente, os acordos publicados e os acordos relativos ao controle e à regulamentação de pesca na área.

A Corte também indicou que, a menos que tenha sido proferida a sentença definitiva sobre o caso, iria, em tempo apropriado e antes do dia 15 de agosto de 1973, rever o assunto a pedido de qualquer uma das partes para decidir se as medidas precedentes deveriam continuar ou precisarão ser modificadas ou revogadas. Caso República Federativa da Alemanha v. Islândia

Na segunda decisão a Corte indicou, a título provisório, esperando sua sentença definitiva nos procedimentos instituídos em 5 de junho de 1972 pela República Federal da Alemanha contra a República da Islândia, as seguintes medidas cautelares:

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Para os pontos a), b), c), d), e f) a segunda decisão retomou, mutatis mutandis, os termos da primeira. O ponto e) foi assim concebido:

e) a República Federal da Alemanha deveria assegurar que as embarcações sob seu registro não pescariam, anualmente, mais de 119.000 toneladas métricas de peixe na zona marítima islandesa que o Conselho Internacional para a Exploração do Mar definiu como região Va.

A Corte igualmente indicou que, a menos que tenha sido proferida a sentença definitiva sobre o caso, iria, em tempo apropriado e antes do dia 15 de agosto de 1973, rever o assunto a pedido de qualquer uma das partes para decidir se as medidas precedentes deveriam continuar, ser modificadas ou revogadas.

Para os procedimentos que conduziram a estas decisões a Corte estava composta como se segue: Presidente Sir Muhammad Zafrulla Khan; Vice-Presidente Ammoun; Juízes Sir Gerald Fitzmaurice, Padilla Nervo, Forster, Gros, Bengzon, Petrén, Lachs, Onyeama, Dillard, Ignacio-Pinto, de Castro, Morozov, Jiménez de Aréchaga.

O Vice-Presidente Ammoun e os Juízes Forster e Jiménez de Aréchaga apensaram uma declaração conjunta a cada decisão.

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(COMPETÊNCIA DA CORTE) Sentença de 2 de fevereiro de 1973

Em sua sentença sobre a sua competência no Caso da Competência em Matérias Pesqueiras (Reino Unido v. Islândia), a Corte decidiu, por 14 votos a 1, que tinha competência para acolher a demanda do Reino Unido depositada no dia 14 de abril de 1972 e julgar o mérito da disputa.

A Corte estava composta como se segue: Presidente Sir Muhammad Zafrulla Khan, Vice-Presidente Ammoun e Juízes Sir Gerald Fitzmaurice, Padilla Nervo, Forster, Gros, Bengzon, Petrén, Lachs, Onyeama, Dillard, Ignacio-Pinto, de Castro, Morozov e Jiménez de Aréchaga.

O Presidente da Corte anexou uma declaração à sentença. O Juiz Sir Gerald Fitzmaurice anexou um sua opinião individual e o Juiz Padilla Nervo uma opinião dissidente.

Resumo do Processo (parágrafo 1º ao 12 do julgamento)

Em sua sentença, a Corte recordou que, no dia 14 de abril de 1972, o governo do Reino Unido instaurou um processo contra a Islândia em relação a uma disputa referente à ampliação proposta pelo governo islandês de sua zona de competência exclusiva em matérias pesqueiras estabelecida em 50 milhas náuticas a partir da linha de baixa-mar.

Através de uma carta de 29 de maio de 1972, o Ministro das Relações Exteriores da Islândia informou à Corte que o seu governo não estava disposto a atribuir-lhe competência e que não designaria um Agente. Através das decisões de 17 e 18 de agosto de 1972, a Corte indicou certas medidas cautelares de proteção a pedido do Reino Unido e decidiu que as primeiras peças escritas deveriam tratar da questão da competência para julgar o caso. O governo do Reino Unido depositou um memorial e uma exposição oral foi pronunciada em seu nome no curso de uma audiência pública realizada em 5 de janeiro de 1973. O governo da Islândia não depositou nenhuma peça escrita e não foi representado na audiência.

A Corte observou ser lamentável que o governo da Islândia não tenha apresentado para expor suas exceções à competência da Corte para conhecer da demanda. A Corte, contudo, conforme seu Estatuto e sua jurisprudência, deveria examinar a questão de ofício, um dever reforçado pelo artigo 53 do Estatuto, por meio do qual, sempre que uma das partes não se apresentar, a Corte deve declarar a sua competência antes de julgar o mérito. Embora o governo da Islândia não tenha feito exposição de fatos e de direito, nem apresentado conclusões ou meios de prova,, a Corte considerou as exceções que poderiam, no seu ponto de vista, ser suscitadas contra a sua competência. E assim sendo, evitou não só expressar uma opinião sobre o mérito, mas também fazer qualquer pronunciamento que pudesse prejulgar ou poderia parecer prejulgar qualquer decisão eventual de mérito.

Cláusula compromissória da Troca de Notas de 1961 (parágrafo13 ao 23 da sentença)

Para fundamentar a competência da Corte, o governo do Reino Unido se baseou em uma Troca de Notas que realizou com o governo da Islândia em 11 de março de 1961, logo após uma disputa sobre pesca. Através daquela Troca de Notas, o Reino Unido incumbiu-se de reconhecer uma zona de pesca islandesa exclusiva até um limite de 12 milhas e de retirar suas embarcações de pesca daquela zona dentro de um período de 3 anos. A Troca de Notas caracterizou uma cláusula compromissória nos seguintes termos:

"O governo da República da Islândia continuará trabalhando para a implementação da Resolução Althing [Parlamento da Islândia] de 5 maio de 1959, relativa à ampliação da competência em matérias pesqueiras da Islândia. Porém, dará um aviso prévio de seis meses para o governo do Reino Unido sobre tal ampliação. No caso de uma disputa relativa a esta ampliação, deve a matéria, a pedido de qualquer das partes, ser levada à Corte Internacional de Justiça."

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A Corte observou que não havia nenhuma dúvida quanto ao cumprimento, pelo governo do Reino Unido, de sua parte deste acordo ou sobre o fato de que o governo da Islândia, em 1971, deu aviso prévio da ampliação adicional de sua competência em matéria pesqueira. Não houve, também, qualquer dúvida de que existia uma disputa, de que esta foi submetida à Corte pelo Reino Unido e de que tal disputa se enquadrava exatamente nas condições da cláusula compromissória.

Embora o texto desta cláusula fosse suficientemente claro para não haver nenhuma necessidade de recorrer ao trabalho preparatório, a Corte revisou a história das negociações que conduziram à Troca de Notas. Esta confirmou que a intenção das partes era prover ao Reino Unido, em troca de seu reconhecimento do limite de 12 milhas e da retirada de suas embarcações, uma garantia que constituiria uma condição sine qua non para o acordo, isto é, o direito de se opor, diante da Corte, à validade de qualquer ampliação adicional da competência da Islândia em matérias pesqueiras além do limite das 12 milhas.

Desta forma, a Corte era competente.

Validade e duração da Troca de Notas de 1961 (parágrafo 24 ao 45 da sentença)

A Corte considerou posteriormente se, como foi sustentado, o acordo consagrado na Troca de Notas de 1961 era nulo desde sua origem ou se deixou de ser aplicável desde então.

Na carta supra mencionada de 29 de maio de 1972, o Ministro das Relações Exteriores da Islândia disse que a Troca de Notas de 1961 havia acontecido quando a Marinha Real Britânica estava usando da força para opor o limite de pesca de 12 milhas. Porém, a Corte observou que o acordo foi negociado em bases de perfeita igualdade e liberdade de decisão para ambos os lados.

Na mesma carta, o Ministro das Relações Exteriores da Islândia expressou a visão de que "não deveria ser considerada como permanente uma promessa de se submeter à solução judicial" e, como mencionado acima, o governo da Islândia realmente afirmou, em um memorial de 31 de agosto de 1971, que o objeto e o propósito da disposição que prevê o recurso à solução judicial haviam sido completamente alcançados. A Corte observou que a cláusula compromissória não continha nenhuma disposição expressa relativa à sua duração. Na realidade, o direito do Reino Unido de opor-se, perante a Corte, a qualquer reivindicação da Islândia para estender sua zona de pesca, estava sujeito à afirmação de tal reivindicação e duraria até que a Islândia se empenhasse em implementar a Resolução do Althing de 1959.

Em uma declaração para o Althing no dia 9 de novembro de 1971, o Primeiro Ministro da Islândia aludiu a mudanças que nas "opiniões de juristas sopbre a competência em matéria pesqueira". Conforme seu argumento, a cláusula compromissória seria o preço que a Islândia tinha pago na ocasião pelo reconhecimento pelo Reino Unido do limite de 12 milhas; o reconhecimento geral de tal limite constituiu uma mudança nas circunstâncias de ordem jurídica que desvinculou a Islândia de seu compromisso. Pelo contrário, a Corte observou que, uma vez que a Islândia recebeu os benefícios das disposições já executadas do acordo, cabia-lhe consentir com o que se comprometeu na negociação.

A carta e declaração há pouco mencionadas também chamaram atenção às "mudanças das circunstâncias resultantes da exploração sempre crescente dos recursos de pesca nos mares ao redor da Islândia". O direito internacional admite que, se uma mudança fundamental das circunstâncias que induziram as partes a aceitar um tratado transformar radicalmente a extensão das obrigações assumidas, a parte lesada poderá, sob certas condições, invocar o término ou suspensão do tratado. No presente caso, parece haver uma séria divergência entre as partes quanto à questão das mudanças fundamentais ocorridas no que diz respeito às técnicas de pesca nas águas ao redor da Islândia. Tais mudanças, entretanto, só seriam relevantes para qualquer decisão eventual de mérito. Não poderia ser dito que a mudança de circunstâncias alegada pela Islândia modificou a extensão da obrigação jurisdicional acordada na Troca de Notas de 1961. Além disso, qualquer questão sobre a competência da Corte, derivada da alegação de uma pretensa caducidade desta obrigação devido à mudança de circunstâncias, deveria ser decidida pela Corte, em virtude do artigo 36, parágrafo 6º, de seu Estatuto.

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(MÉRITO)

Sentença de 25 de julho de 1974

Em sua sentença de mérito no Caso Relativo à Competência em Matéria Pesqueiras (Reino Unido v. Islândia), a Corte, por 10 votos a 4:

1) Entendeu que o Regulamento islandês de 1972, que constitui uma extensão unilateral dos direitos de pesca exclusivos à Islândia a 50 milhas náuticas da linha de baixa-mar, não é oponível ao Reino Unido;

2) Entendeu que a Islândia não adquiriu o direito a, unilateralmente, expulsar as embarcações de pesca britânicas de áreas entre os limites de 12 e 50 milhas ou a impor restrições nas atividades dessas embarcações em tais áreas;

3) Sustentou que a Islândia e o Reino Unido estão obrigados, mutuamente, a empreender negociações com boa-fé para uma solução eqüitativa de suas diferenças;

4) Indicou certos fatores que deveriam ser levados em conta nestas negociações (direitos preferenciais da Islândia, direitos estabelecidos no Reino Unido, interesses de outros Estados, conservação dos recursos de pesca, exame em conjunto das medidas que deverão ser tomadas).

A Corte estava composta como se segue: Presidente Lachs; Juízes Forster, Gros, Bengzon, Petrén, Onyeama, Dillard, Ignacio-Pinto, de Castro, Morozov, Jiménez de Aréchaga, Sir Humphrey Waldock, Nagendra Singh e Ruda.

Entre os dez membros da Corte que votaram a favor da sentença, o Presidente e os Juízes Dillard e Nagendra Singh apensaram declarações; os Juízes Forster, Bengzon, Jiménez de Aréchaga, Nagendra Singh (já mencionado) e Ruda apensaram sua opinião individual coletiva, e os Juízes de Castro e Sir Humphrey Waldock apensaram suas opiniões individuais.

Dos quatro juízes que votaram contra a sentença, o Juiz Ignacio-Pinto apensou uma declaração e os juizes Gros, Petrén e Onyeama apensaram suas opiniões dissidentes.

Estas declarações e opiniões definiram as posições tomadas pelos juízes interessados, fundamentando-as.

Procedimento – não comparecimento de uma das partes (parágrafo 1º ao 18 da sentença)

Em sua sentença, a Corte recordou que os procedimentos foram instituídos pelo Reino Unido contra a Islândia no dia 14 de abril de 1972. A pedido do Reino Unido, a Corte indicou medidas cautelares por uma decisão datada de 17 de agosto de 1972 e as confirmou por uma decisão de 12 de julho de 1973. Em sentença de 2 de fevereiro de 1973, a Corte declarou que tinha competência para julgar o mérito da disputa.

Em suas alegações finais, o Reino Unido requereu à Corte que julgasse e declarasse:

a) Que a pretensão da Islândia de ter direito a uma zona de competência exclusiva em matéria pesqueira de até 50 milhas náuticas a partir da linha de baixa-mar não tem fundamento no direito internacional e não é válida;

b) Que, vis-a-vis do Reino Unido, a Islândia não tinha o direito de estabelecer unilateralmente uma zona de competência exclusiva sobre a pesca além do limite de 12 milhas acordado em uma Troca de Notas de 1961;

c) Que a Islândia não tinha o direito de expulsar unilateralmente os navios de pesca britânicos da região de alto mar situada além do limite de 12 milhas, nem de impor, restrições a suas atividades nesta região;

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d) Que a Islândia e o Reino Unido tinham a obrigação de examinar juntos, seja bilateralmente, seja com outros Estados interessados, a necessidade de aplicar, para motivos de conservação, restrições à atividade de pesca na mencionada região de alto mar. Também tinham a obrigação de iniciar negociações com objetivo de instaurar um regime garantindo à Islândia uma situação preferencial conforme sua posição de Estado especialmente dependente da pesca.

A Islândia não se manifestou em nenhuma fase dos processo. Por uma carta de 29 de maio 1972, a Islândia informou à Corte que considerou a Troca de Notas de 1961 extinta, que segundo seu entendimento não havia no Estatuto nenhum fundamento conferindo à Corte a competência e que, considerando seus interesses vitais envolvidos, não tinha a intenção de conferir competência à Corte em qualquer caso que envolvesse a extensão de seus limites de pesca. Em uma carta datada de 11 de janeiro de 1974, a Islândia declarou que não aceitou quaisquer das declarações de fato ou quaisquer das alegações ou argumentações jurídicas apresentadas em nome do Reino Unido.

Nessas circunstâncias, a Corte, sob a condição do artigo 53 do Estatuto, teve que determinar se a reivindicação foi bem fundamentada na realidade dos fatos e no direito. Os fatos que a Corte deveria examinar para decidir a questão foram atestados por documentos cuja precisão não levantou dúvidas. Quanto ao direito, embora fosse lamentável o fato da Islândia não ter se manifestado, a Corte tinha o dever de reportar-se ao direito internacional, baseando-se em seu próprio conhecimento jurídico. Tendo levado em conta a posição jurídica de cada parte e tendo agido com circunspeção particular devido à ausência do Estado demandado, a Corte considerou que tinha os elementos necessários para se pronunciar.

Histórico da disputa - competência da Corte (parágrafo 19 ao 48 da sentença)

A Corte recordou que, em 1948, o Althing (Parlamento da Islândia) aprovou uma lei relativa à conservação científica da pesca na plataforma continental que autorizou o governo a estabelecer zonas de conservação onde todas as pescas deveriam estar sujeitas às regras e ao controle islandeses, a uma extensão compatível com acordos concluídos com outros países. Em 1951, a Conveção Anglo-Dinamarquesa de 1901, que fixava o limite do direito exclusivo de pesca da Islândia ao redor de sua costa, foi denunciada pela Islândia. Um novo Regulamento islandês de 1958 estendeu os limites de seu direito exclusivo de pesca para 12 milhas náuticas e, em 1959, uma resolução do Althing declarou “que o reconhecimento do direito da Islândia à toda a área da plataforma continental deveria ser obtido em conformidade com a política adotada pela Lei de 1948”. Após negociações, a Islândia e o Reino Unido concluíram em 11 de março de 1961 uma Troca de Notas que especificou que o Reino Unido não mais contestaria a zona de pesca de 12 milhas, que a Islândia continuaria trabalhando para a implementação da Resolução de 1959 relativa à extensão da competência sobre matérias pesqueiras, mas notificaria o Reino Unido, com seis meses de antecedência, qualquer medida neste sentido e que "no caso de uma disputa em relação a tal extensão, a questão deve, a pedido de qualquer das partes, ser levada à Corte Internacional de Justiça".

Em 1971, o governo islandês anunciou que o acordo sobre a competência de pesca com o Reino Unido estaria extinto e que o limite da competência exclusiva de pesca da Islândia seria estendido para 50 milhas. Através de um memorial de 24 de fevereiro de 1972, o Reino Unido foi notificado formalmente daquela intenção e respondeu que, a Troca de Notas não poderia ser denunciada unilateralmente e que, em seu ponto de vista, as medidas contempladas “não teriam qualquer fundamento no direito internacional". Em 14 julho de 1972, novos Regulamentos ampliaram os limites de pesca da Islândia para 50 milhas a partir de 1º de setembro de 1972 e todas as atividades de pesca exercidas por embarcações estrangeiras dentro desses limites seriam proibidas. A execução desses Regulamentos deu origem, enquanto tramitava o caso na Corte e a Islândia recusava-se a reconhecer as decisões daquela, a uma série de incidentes e a negociações que levaram, em 13 de novembro de 1973, a uma Troca de Notas constituindo um acordo provisório entre o Reino Unido e a Islândia . Válido por dois anos, o acordo previa arranjos temporários, “esperando uma regulamentação da disputa no mérito e sem prejudicar a posição jurídica e os direitos de um ou outro governo com relação a esta questão”.

A Corte concluiu que a existência deste último acordo não deveria levá-la a uma renúncia de seu pronunciamento. Com efeito, não poderia ser sustentado que as questões a ela submetidas se tornaram sem objeto, porque a controvérsia ainda existia. Ademais, estava além dos poderes da Corte dizer qual poderia ser

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o direito entre as partes no momento da expiração do acordo provisório. Porém, isto não tirava a obrigação da Corte de estatuir com base no direito tal qual existia no momento. Em fim, a Corte não poderia desencorajar a conclusão, em disputas futuras, de acordos temporários destinados a reduzir os atritos existentes.

Em sua sentença de 1973 a Corte constatou que a Troca de Notas de 1961 estava em vigor, bem como enfatizou que seria muito restrito fazer uma interpretação da cláusula compromissória (acima mencionada) para concluir que a competência da Corte foi limitada a dar uma resposta afirmativa ou negativa à questão do Regulamento islandês de 1972 estar em conformidade com o direito internacional. Pareceu evidente que a disputa entre as partes incluiu discordâncias sobre seus respectivos direitos à recursos de pesca e à adequação de medidas para conservá-los. A Corte tinha o direito de levar em consideração todos os elementos pertinentes.

Regras de direito internacional aplicáveis (parágrafo 49 ao 78 da sentença)

A primeira Conferência das Nações Unidas sobre Direito do Mar (Genebra, 1958) adotou uma Convenção sobre o alto mar cujo artigo 2º declarou o princípio da liberdade do alto mar, isto é, liberdade de navegação, liberdade de pesca, etc. (exercida por todos os Estados com razoável respeito aos interesses de outros Estados no exercício da liberdade do alto mar).

A questão da largura do mar territorial e da extensão da competência sobre matéria pesqueira do Estado litorâneo não foi solucionada na Conferência de 1958 e nem em uma segunda Conferência ocorrida em Genebra em 1960. Entretanto, originando-se dos consensos gerais na segunda Conferência, dois conceitos foram desde então cristalizados como direito costumeiro: o conceito de uma zona de pesca, entre o mar territorial e o alto mar, dentro da qual o Estado litorâneo poderia reivindicar competência exclusiva em matéria pesqueira – tendo sido geralmente aceito que aquela zona poderia estender-se ao limite de 12 milhas - e o conceito que diz respeito às águas adjacentes a esta zona de pesca exclusiva, em favor do Estado litorâneo em uma situação de dependência especial da pesca. A Corte estava ciente de que, nos últimos anos, vários Estados afirmaram uma extensão de seus limites exclusivos de pesca. Estava igualmente ciente do presente esforço exercido sob o patrocínio das Nações Unidas, para realizar, em uma terceira Conferência sobre o direito do mar, a codificação e o desenvolvimento progressivo daquele ramo do direito. A Corte também não ignorou as várias propostas e documentos preparatórios produzidos nesta ocasião. Mas, enquanto Corte, esta não poderia proferir sentença sub specie legis ferendae ou antecipar-se à lei antes que o legislador a tivesse editado. Teria que se levar em conta as regras existentes de direito internacional e a Troca de Notas de 1961. O conceito de direitos preferenciais de pesca foi sustentado pela primeira vez pela Islândia à Conferência de Genebra de 1958, que se limitou a recomendar:

"... onde, com a finalidade de conservação, tornar-se necessário limitar toda a pesca de um ou diversos estoques de peixes em uma área de alto mar adjacente ao mar territorial de um Estado litorâneo, quaisquer outros Estados que pesquem naquela área deveriam colaborar com o Estado litorâneo para uma solução eqüitativa de tal situação, estabelecendo medidas que reconhecerão qualquer necessidade preferencial do Estado litorâneo resultante de sua dependência da pesca em questão, levando em consideração os interesses dos outros Estados".

Na Conferência de 1960, o mesmo conceito foi expresso em uma emenda incorporada por uma maioria significativa em uma das propostas relativas à zona de pesca. A prática contemporânea dos Estados mostrou que aquele conceito, além de ter crescente e difundida aceitação, estava sendo implementado por acordos, tanto bilaterais como multilaterais. No presente caso, em que a zona de pesca exclusiva dentro do limite de 12 milhas não estava em disputa, o Reino Unido reconheceu expressamente os direitos preferenciais da outra parte nas águas disputadas situadas além daquele limite. Não poderia haver qualquer dúvida da dependência excepcional da Islândia da sua pesca e por isso se tornou imperativo preservar os estoques de peixe no interesse da exploração racional e econômica.

Entretanto, a verdadeira noção de direitos preferenciais de pesca para o Estado litorâneo em uma situação de dependência especial, apesar de implicar em uma certa prioridade, não poderia implicar na extinção dos direitos concorrentes de outros Estados. O fato de que a Islândia estava autorizada a reivindicar

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direitos preferenciais não foi suficiente para justificar sua pretensão de expulsar unilateralmente as embarcações de pesca britânicas de toda a área de pesca além do limite de 12 milhas acordado em 1961.

O Reino Unido demonstrou que suas embarcações pescam em águas islandesas há séculos, que há mais de 50 anos sua atividade é feita da mesma forma e que sua exclusão traria conseqüências extremamente graves. Lá também se tratava da dependência econômica e de meios de subsistência de comunidades inteiras. O interesse na conservação de estoques de peixes é o mesmo para a Islândia, que admitiu a existência de interesses históricos e especiais do Reino Unido em pescar nas águas disputadas. O Regulamento de 1972 da Islândia não era assim, oponível ao Reino Unido: ele desconsiderou os direitos estabelecidos daquele Estado e também a Troca de Notas de 1961, e constituíram uma infração ao princípio (Convenção de 1958 sobre o alto mar, artigo 2º) de respeito razoável aos interesses de outros Estados, inclusive aos do Reino Unido.

Para alcançar uma solução eqüitativa da presente disputa era necessário que os direitos preferenciais de pesca da Islândia fossem conciliados com os direitos tradicionais de pesca do Reino Unido, através de uma avaliação, em qualquer momento, do grau de dependência dos dois Estados das pescas em questão, levando em conta os direitos de outros Estados e as necessidades de conservação. Assim, a Islândia não estava autorizada pelo direito a unilateralmente expulsar as embarcações de pesca britâncias de áreas fora do limite de 12 milhas acordado em 1961, ou impor restrições às suas atividades. Mas isso não significava que o Reino Unido não tinha qualquer obrigação para com a Islândia em relação à pesca nas águas disputadas entre as zonas de 12 e 50 milhas. Ambas as partes tinham a obrigação de manter sob inspeção os recursos de pesca nessas águas e de examinar juntas, segundo a informação disponível, as medidas requeridas para conservação, desenvolvimento e exploração eqüitativa desses recursos, levando em conta qualquer acordo internacional que poderia estar em vigor no momento ou que poderia ser alcançado após negociações.

O método mais apropriado para a solução da disputa era claramente a negociação visando delimitar os direitos e interesses das partes e regular de forma eqüitativa as questões como a limitação da pesca, distribuições de quotas e restrições conexas. A obrigação de negociar resultou da verdadeira natureza dos respectivos direitos das partes e correspondeu às disposições da Carta das Nações Unidas relativas à solução pacífica de controvérsias. A Corte não poderia admitir que a intenção comum das partes foi de não negociar enquanto o acordo provisório de 1973 estava em vigor. A tarefa das partes seria conduzir suas negociações de forma que cada parte, de boa-fé, considerasse razoavelmente os direitos da outra, a situação local e os interesses de outros Estados nos direitos de pesca estabelecidos na área.

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