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Gestão dos tribunais deve ser entregue a entidades privadas

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Academic year: 2021

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O Estado deve definir um mínimo de regras para a gestão dos tribunais e, depois, permitir que entidades privadas a levem a cabo, sem que, obviamente, possam interferir minimamente na marcha dos processos e nas decisões judiciais. Quem o afirma é o Dr. Rui da

Silva Leal, Presidente do Conselho Dis-trital da ordem dos Advogados do Porto, em entrevista à “Vida Judiciária”.

O advogado portuense espera que o novo Governo saiba agilizar os procedi-mentos e que haja investimento na for-mação dos profissionais da Justiça.

Ana Luísa Vieira

Gestão dos tribunais deve ser

entregue a entidades privadas

Rui da Silva Leal (Conselho Distrital do Porto da Ordem

dos Advogados) considera

“É imperioso

que, no processo

penal, se impeça

que o Advogado

assuma a defesa

do arguido sem

que tenha tido,

pelo menos,

cinco dias para

analisar e

estudar o

processo e, com

o patrocinado,

preparar

adequadamente

a respectiva

defesa”

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Segundo considera, a duração da li-cenciatura não deve ser encurtada no âmbito da Declaração de Bolonha. Se-ria preferível assegurar uma maior co-laboração com a Ordem dos Advogados e o CEJ, diminuindo a duração dos es-tágios.

V.J. – Foi eleito um novo Bastoná-rio da Ordem dos Advogados. Que mudanças espera?

Dr. Rui da Silva Leal - A curto

pra-zo, uma maior aproximação entre os Advogados e a sociedade civil, e uma consequente diminuição paulatina da procuradoria ilícita; a curto prazo ain-da, uma aproximação entre todas as

tas e de alma aberta, encontrarem so-luções para os problemas da justiça.

A médio prazo, uma diferente e mui-to mais prática formação dos Advoga-dos estagiários.

A longo prazo, Advogados mais com-petentes e eficazes; a longo prazo ain-da, maior prestígio da Advocacia junto da sociedade civil; a longo prazo nova-mente, uma intensa colaboração e en-volvimento da Ordem dos Advogados e de todas as instituições representativas das demais profissões judiciárias na fei-tura dos diplomas legislativos.

No fim, mais e melhor Estado de Di-reito.

V.J. – O que espera do novo Gover-no na área da Justiça?

RSL - Depende de quem for o

titu-lar da respectiva pasta.

De qualquer modo, espero que os fu-turos responsáveis governativos perce-bam, de uma vez por todas, que todas as soluções para os problemas da Justi-ça passam por auscultar com muita atenção – e não por mera formalidade institucional – os que todos os dias tra-balham na área da justiça, Juízes, Pro-curadores, Solicitadores, Funcionários Judiciais e Advogados. São eles quem conhece por dentro a vida judiciária. São eles quem conhece os tribunais e quem todos os dias aplica, nomeadamente, a legislação adjectiva. São eles quem, melhor do que quaisquer outros, sabe o que estrangula o sistema judiciário e impede uma justiça célere, eficaz e ab-solutamente respeitadora dos direitos, liberdades e garantias.

Mas, em concreto, espero que o novo Governo saiba agilizar procedimentos, para o que serão necessários coragem, determinação e, sobretudo, sensatez e equilíbrio.

Que se use e abuse das novas

tecno-“Os Advogados

têm assumido

sempre as

defesas oficiosas,

com honorários

pagos ou não

pagos. Para além

de ser

profundamente

injusta, essa

situação é

O que vai mudar na Ordem dos Advogados é, a curto prazo, uma maior aproximação entre os Advogados e a sociedade civil, e uma consequente diminuição paulatina da procuradoria ilícita e uma aproximação entre todas as profissões judiciárias”

(3)

E, finalmente, que se invista na for-mação dos que compõem as profissões judiciárias, para que rapidamente inte-riorizem as reformas de agilização de procedimentos e o uso obrigatório das novíssimas tecnologias.

V.J. – Tem havido fortes críticas ao actual regime de acesso ao direito e do subjacente apoio judiciário. Será necessário introduzir altera-ções?

RSL - Não posso concordar com o

actual regime.

Restringiu-se substancialmente o le-que dos le-que, em função dos respectivos rendimentos, têm direito ao apoio judi-ciário; não se regulamentou a tempo e horas a nova lei, e estamos ainda sem saber como vai decorrer a consulta jurí-dica gratuita, como vai ser paga e por quem. E, sobretudo, não está garantido o pagamento pontual dos honorários.

Enquanto não se garantir o paga-mento dos honorários do «defensor ofi-cioso» com rapidez e pontualidade, não há legitimidade para se exigir defesas oficiosas de qualidade. Os advogados têm assumido sempre as defesas oficio-sas, com honorários pagos ou não pagos – e tempos houve em que, em certas si-tuações, não eram pagos. Mas, para além de ser profundamente injusta, essa situação é intolerável.

Por outro lado, é imperioso que, no processo penal, se impeça que o advo-gado assuma a defesa do arguido sem que tenha tido, pelo menos, cinco dias para analisar e estudar o processo e, com o patrocinado, preparar adequada-mente a respectiva defesa. Há que proi-bir, de uma vez por todas, a possibilida-de possibilida-de o advogado ser nomeado possibilida-defensor oficioso e, no minuto seguinte, estar em plena audiência de julgamento sem es-tar minimamente familiarizado com o processo e com a versão do arguido.

V.J. – Em entrevista ao antigo Bas-tonário, Dr. José Miguel Júdice, foi--nos referida a ausência de critéri-os de gestão no Ministério da Jus-tiça. Concorda?

RSL - Não. Tem um critério de

ges-tão: burocratizado, demorado, absoluta-mente hierarquizado, que impede que a compra de um simples prego seja efec-tuada em tempo útil.

Mas é um critério tão mau que pra-ticamente não é critério.

V.J. - O que pensa sobre a privati-zação da Justiça?

RSL - É, sem dúvida, o futuro.

“A médio prazo, uma diferente e muito mais prática formação dos Advogados estagiários”

“Um bom

Estado é um

Estado que não

se sente. É como

uma peça de

roupa; se a sinto

enquanto a

tenho vestida é

porque não está

bem

confeccionada.”

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O Estado tem que ser sempre pouco Estado. Um bom Estado é um Estado que não se sente. É como uma peça de roupa; se a sinto enquanto a tenho ves-tida é porque não está bem confeccio-nada.

O Estado tem que definir um míni-mo de regras para a gestão dos tribu-nais e, depois, permitir que entidades privadas a levem a cabo, sem que, obvi-amente, possam interferir minimamen-te na marcha dos processos e nas deci-sões judiciais.

O Estado não é necessário para es-tas funções de gestão. Além de que, ao assumir essas funções, está a impedir

cado e a impedir a criação de empre-go.

V.J. – O número de pendências nos tribunais portugueses continua a aumentar, reflectindo a dificulda-de da Justiça em dar resposta às solicitações. Pensa que será possí-vel inverter esta tendência?

RSL - Sim. Mas há que agilizar

pro-cedimentos, alterando substancialmen-te os diplomas adjectivos (Código de Processo Penal, Código de Processo Ci-vil e outros) e retirar todo o proveito das novas tecnologias, impondo o respecti-vo uso e proibindo tudo o que não passe por aí.

E impor que o Estado litigue com os cidadãos com as mesmas leis adjectivas que impõe aos litígios dos cidadãos en-tre si. Não consigo entender que, quan-do o Estaquan-do litiga com o cidadão, haja que fazê-lo através de procedimentos próprios, altamente complexos e moro-sos, cheios de pequenas armadilhas pro-cessuais. E em tribunais também pró-prios. Simplifiquemos e unifiquemos as leis adjectivas.

O que não posso aceitar é que se di-minuam as garantias de defesa dos ci-dadãos em nome da diminuição das pen-dências nos tribunais. E que, por isso, se retire dos tribunais o que lá deve ser decidido, e se estimule o cidadão a liti-gar ou a transigir sem o patrocínio de quem conhece a lei e, em consequência, a ver decididos os seus problemas sem a devida informação. Esse não pode ser o caminho; designadamente, os julgados de paz não podem ser o caminho, sobre-tudo quando têm a competência exclu-siva que lhes é atribuída por lei; quan-do se permite que os cidadãos vejam os respectivos diferendos decididos sem a presença de um Advogado e possam de-cidir sozinhos se o juiz de paz há-de

jul-“São necessários

os cinco anos de

licenciatura

para, primeiro, se

entrar num

mundo novo a

nível de

terminologia

usada, depois,

para se aprender

a raciocinar o

direito e para se

apreenderem

“Espero que os futuros responsáveis governativos percebam, de uma vez por todas, que todas as soluções para os problemas da Justiça passam por auscultar com muita atenção os que todos os dias trabalham na área da justiça, Juízes, Procuradores, Solicitadores, Funcionários Judiciais e Advogados.

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“Os julgados de

paz não podem

ser o caminho,

sobretudo

quando têm a

competência

exclusiva que

lhes é atribuída

por lei; quando

se permite que

os cidadãos

vejam os

respectivos

diferendos

decididos sem a

presença de um

Advogado e

possam decidir

sozinhos se o juiz

de paz há-de

julgar segundo a

legalidade estrita

ou a equidade.”

equidade. Como se o cidadão não juris-ta possa saber ou ter uma noção aproxi-mada do que sejam esses «palavrões ju-rídicos».

V.J. – Passando agora para áreas mais específicas. O que é urgente alterar no processo civil? E no pe-nal?

RSL - No processo civil há que

agili-zar todos os procedimentos. Há que re-duzir o número de articulados; há que acabar com os despachos saneadores na maior parte das acções; após os articu-lados necessários, o juiz deveria poder chamar os mandatários, com eles agen-dar dia para a audiência de julgamento e, no dia aprazado, as partes compare-cerem com os seus mandatários e pro-vas.

No processo penal, porque se persis-te em dactilografar tudo o que são de-poimentos de pessoas no inquérito e na instrução? Há muito que defendo que esses depoimentos deveriam ser grava-dos e recolhigrava-dos pelo próprio Magistra-do Magistra-do Ministério Público no inquérito (como, aliás, sucede hoje obrigatoria-mente na instrução) que, em metade do tempo actual, lograria ouvir o mesmo número de pessoas. Porque foi ele quem recolheu os depoimentos, facilmente conseguiria lavrar os despachos de fim de inquérito.

Na instrução, sendo o Juiz de instru-ção criminal quem recolhe esses

depoi-mentos, bastaria passar a gravá-los. De outra maneira, dactilografando tudo, estamos a dobrar o tempo.

E já se pensou no que isto significa-ria em termos de prazos de prisão pre-ventiva? E na rapidez com que se termi-naria um inquérito e uma instrução?

V.J. – O que pensa sobre a eventual redução do número de anos da licen-ciatura em direito?

RSL - Não concordo. São necessários

os cinco anos de licenciatura para, pri-meiro, se entrar num mundo novo a ní-vel de terminologia usada, depois, para se aprender a raciocinar o direito e para se apreenderem conceitos.

Os cinco anos de licenciatura não são demasiados.

Com o que já concordo é com uma in-tervenção da Ordem dos Advogados e do CEJ, ao nível da formação, colaborando com as faculdades de direito em aulas essencialmente práticas no domínio do processo penal, do processo civil, do pro-cesso laboral, do propro-cesso administrati-vo, etc. Aí se simulariam, desde logo, si-tuações práticas, com diligências judici-ais e minuta de todos os escritos foren-ses.

Tudo bem articulado significaria até, em grande parte, um estágio já efectua-do, podendo depois exigir-se estágios muito mais curtos aos futuros Magistra-dos e AdvogaMagistra-dos. Com a vantagem da formação comum destas profissões.

RECTIFICAÇÃO

A entrevista realizada com o Presidente do Conselho Superior da Câmara dos Solicitadores – Carlos Resende –, que publicámos na edição passada da “Vida Judiciária” (n.º 87 – Fevereiro 2005), foi efectuada em Dezembro de 2004, reportando-se o teor da mesma a essa altura.

Nessa entrevista afirma-se que “A Câmara acordou recentemente sobre um outro protocolo a realizar com a Direcção de Registos e Notariado sobre o acesso aos dados pessoais do registo civil através de uma verificação processual. Aguarda-se um parecer da Comissão Nacional de Protecção de Dados”. Àquela data (Dezembro 2004) esta afirmação estava correcta e actualizada. Todavia, quando publicámos a dita entrevista, esta afirmação já se mostrava desactualizada, uma vez que, em 11 de Janeiro de 2005, a Comissão Nacional de Protecção de Dados emitiu o referido parecer, o qual foi favorável ao mencionado Protocolo.

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