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TRANSFORMAÇOES NO CORPO E SOCIEDADE

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Academic year: 2021

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MESA REDONDA: TRANSFORMAÇOES NO CORPO E SOCIEDADE

ATUAL

Título: Inquilino no próprio corpo.

Nome/Endereço do Autor: Paulo Roberto Ceccarelli Endereço:

Rua Aimorés 1239/702 – Funcionários 30140-071 – Belo Horizonte – MG

Psicólogo; psicanalista; Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Universidade de Paris VII; Pós-doutor por Paris VII; Membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental; Sócio do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais; Membro da Société de Psychanalyse Freudienne, Paris, França; Membro fundador da Rede Internacional em Psicopatologia Transcultural; Professor Adjunto III da PUC-MG. Professor credenciado a dirigir pesquisas de pós-graduação, e pesquisador no Laboratório de Psicanálise e Psicopatologia Fundamental da UFPA. Orientador credenciado a dirigir pesquisas no Mestrado de Promoção de Saúde e Prevenção da Violência/MP, da Faculdade de Medicina da UFMG. Pesquisador do CNPq.

Resumo: Para se possuir o corpo próprio é necessário habitá-lo, o que é feito através da imagem que o Eu formará de seu corpo. As "informações libidinais" utilizadas na construção da representação do corpo serão despertadas e significadas por quem acolhe a criança no mundo. Sendo a anatomia sempre fantasmática, construída a partir das zonas erógenas, e mediatizada pelos fantasmas, desejos e expectativas de quem dá vida psíquica ao recém-nascido, o olhar, consciente e inconsciente que significará o sexo anatômico do bebê definirá tanto a forma como este corpo será investido, quando o modo como a própria criança investirá seu corpo. Nos transexuais, a correspondência entre corpo anatômico, representação psíquica e o sentimento de identidade sexual não ocorre. Estes sujeitos reconhecem possuir um corpo de homem (ou de mulher), mas experimentarem, em relação a este corpo, um profundo sentimento de estranheza, de mal-estar. Nossa proposta é discutir o destino singular da construção da representação do corpo próprio nestes sujeitos.

Palavras Chaves: Transexualismo; dinâmica pulsional; representação do corpo; transformação do corpo.

Eu, Paulo Roberto Ceccarelli, autor do trabalho intitulado “Inquilino no próprio corpo", o qual submeto à apreciação da Comissão Executiva do V Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e XI Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, concordo que os direitos autorais a eles referentes se tornem propriedade exclusiva da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental - AUPPF, sendo vedada qualquer reprodução total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação impressa ou virtual sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada por escrito e obtida junto à AUPPF.

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Inquilino no próprio corpo

O sentimento de ser "inquilino no próprio corpo", ou o de ser do outro sexo1, que frequentemente ouvidos de sujeitos que se dizem transexuais, é tão antigo como qualquer outra expressão da sexualidade humana. Relatos de personagens que se vestiam regularmente, ou até definitivamente, como membros do outro sexo (gênero), se dizendo sentir como do outro sexo, estão presentes desde a mitologia greco-romana até os tempos atuais (Ey, 1989). Em alguns casos, o fenômeno possui uma dimensão xamanística reatualizada, ou religiosa (Green, 1969). Algumas narrativas indígenas do norte do Brasil sugerem a troca de papéis entre homens e mulheres, embora, evidentemente, não se possa falar de transexualismo nestes relatos (Mindlin, 1998). As reações suscitadas por estes sujeitos variam segundo o tempo, o momento histórico e o contexto sócio-político.

Casos clínicos que, talvez hoje, fossem classificados de transexualismo, são encontrados na famosa Psicopatia Sexual de Krafft-Ebing (1990).

Evidentemente, não podemos falar de transexualismo, tal como o compreendemos hoje, nestas descrições, pois correríamos o risco de cair na grande armadilha dos diagnósticos a posteriori, pois qualquer fenômeno psíquico só pode ser devidamente avaliado a partir da sociedade e do momento sócio histórico no qual ele emerge (Freud, 1930). Entretanto, estes sujeitos apresentam incertezas identitárias e conflitos entre a representação do corpo próprio e o sentimento de identidade sexual. Ademais, seus discursos e como descrevem seu sofrimento é bem próximo do que atualmente encontramos nos transexuais.

A palavra Trans-sexualism foi utilizada pela primeira vez pelo Dr. D. O. Cauldwell em 1949 em um artigo intitulado Psychopathia Transsexualis, no qual é apresentado um relato clínico de uma menina que queria ser menino. Em 1953 a palavra Transexualismo foi pronunciada pelo psiquiatra americano Harry Benjamin (Benjamin, 1953). Ao isolar o fenômeno, Benjamin separou o transexualismo das perversões e das psicoses, constituindo-o como uma entidade autônoma. Para este autor, recusar a cirurgia fere o direito de liberdade do sujeito.

A primeira cirurgia de redesignação sexual oficialmente relatada acorreu em 1952, na Dinamarca. Foi a primeira vez na história que uma tal cirurgia, associada a tratamentos hormonais e a um acompanhamento pós-operatório prolongado, foi oficialmente comunicada.

Em 1967 o termo "Transexualismo" aparece no Index medicus sob rubrica própria. Até então, estava classificado como "desvios sexuais". Em 1975 o termo é adotado na 29º

1 Os chamados "estudos de gênero" trouxeram uma nova nomenclatura sobre no que diz respeito ao "ser

do outro sexo": a tendência atual é a de se falar em identidade de gênero, posto que a cirurgia só vai intervir na dimensão morfológica, e não no sexo do sujeito: o cromossomo XY ou XX.

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Assembléia Mundial de Saúde, em Genebra, sob o Código 302-5, para a 9º revisão do Manual de Classificação Estatístico Internacional de Doença, Traumatismos e causas de Morte, da Organização Mundial de Saúde. Em 1980, "Transexualismo" aparece sob o Código 302.5x no (D.S.M. III). Ao adquirir uma denominação própria, separada das homossexualidades, perversões e psicoses, o transexualismo ganha um estatuto que o qualificará como uma patologia bem definida, com todas as conseqüências daí advindas.

No final dos anos sessenta, o interesse pelo transexualismo aumentou consideravelmente com publicações que abordavam a questão sob diversos ângulos. Com a criação, em 1967, da Clínica de Identidade Sexual do mundialmente reputado Hospital John Hopkins (em Baltimore, nos Estados Unidos), o transexualismo tornou-se definitivamente, aos olhos dos especialistas, mas também do público em geral, um problema de ordem médica.

No Brasil, o Conselho Federal de Medicina aprovou, em setembro de 1997, a Resolução nº 1.482/97 que autorizava, "a título experimental, a realização de cirurgia de transgenitalização". Entretanto, não o que ela delibera é que, em alguns casos, a operação, que implica na remoção de órgãos sadios, "não constitui crime de mutilação prevista no artigo 139 do Código Penal". Para o Conselho, "o paciente transexual é portador de um desvio psicológico permanente da identidade sexual", [ou seja, o transexualismo é uma doença] e que "a transformação da genitália constitui a etapa mais importante no tratamento do transexualismo". Em junho de 2008 o Ministério da Saúde, reconhecendo que a “discriminação é determinante no processo de sofrimento e de adoecimento a que estão sujeitos os transexuais”, baixou uma portaria que garante a realização de cirurgias de mudança de sexo – “o processo cirúrgico transexualizador” – no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

No imaginário popular, assim como entre os próprios sujeitos que reivindicam a cirurgia de mudança de sexo/gênero, a confusão é grande quanto a distinção entre o travesti, o transexual e outros que apresentam essa mesma demanda. Muitos que se dizem transexuais reproduzem, de uma maneira caricatural, os estereótipos do homem ou da mulher. Tentando manter a qualquer preço a ilusão imaginária na qual se engajaram, alguns chegam a beira do delírio. Muitos, dividindo a vida entre a multidão indistinta e os amigos incertos, são condenados à prostituição para sobreviverem e muitas vezes tem, como a única "alegria", um "pico". Para esses a expressão "pobres coitados" traduz vagamente suas realidades: uma vida perdida em busca de sentido. Não raro, a deriva na psicose, ou o suicídio, apresentam-se como a única solução possível quando o sujeito se dá conta do erro cometido - muitas vezes com o apoio dos "profissionais da saúde" - e da irreversibilidade do estado no qual se encontram: a viagem na "trans-sexual" não oferece passagem de volta.

O extremo deste destino se esvanece em uma caricatura trágica da mulher: "fabricadas" ao preço elevado de cirurgias estéticas que transformam, quando não

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mutilam, o corpo, estes sujeitos podem chegar ao ponto no qual um homem "equipado" de uma vagina artificial não tenha, fisicamente, mais nada de um homem. Juntam-se a isto, as leis do mercado e a preferência da clientela que contribuem ainda mais para desorientar essas pessoas: que que "solução" é a mais rentável: ser ou não ser um homem operado? ter ou não um pênis? E aqui faltam-nos referências simbólicas!

Se do ponto de vista médico, as questões técnicas estão relativamente bem solucionadas, do ponto de vista psicológico as divergências são inúmeras e, por vezes, inconciliáveis. As tentativas de definir o transexualismo, assim como a de elucidar sua gênese, refletem bem a complexidade da questão transexual demonstrando que entre os pesquisadores não há unanimidade quanto a sua etiologia. Da mesma forma, as propostas terapêuticas - terapia, psicanálise, tratamento médico-cirurgical e até mesmo lobotomia! - são extremamente controvertidas e, por vezes, francamente divergentes.

O que se depreende disto tudo é a dimensão do fenômeno, o que indica que aquilo que hoje é designado como transexualismo não é próprio nem a nossa cultura, nem a nossa época: o que é recente é a possibilidade de "mudar de sexo" graças às novas técnicas cirúrgicas e a hormonoterapia, ou seja, às possibilidades de transformações do corpo na sociedade atual. Isto significa que o transexualismo, tal como o conhecemos na atualidade, não pode ser compreendido sem a perspectiva sócio-histórica da sociedade ocidental contemporânea e por seus meios de produção. É por isso que autores como Pauly (1986) tem certa razão ao considerar o transexualismo como iatrogênico, ou seja, um fenômeno que só pôde concretizar-se graças as diversas técnica da medicina moderna, que não realizam proezas cirúrgicas cada vez mais impressionantes.

Para tentarmos entender como se constrói a relação do transexual com o seu corpo, a primeira pergunta a ser colocada é a de saber o ser humano se dá conta que ela é menino ou menina. Como o corpo com o qual o bebê vem ao mundo - corpo que possui órgãos anatômicos que permitem atribuir um sexo ao recém nascido - como, então, esse corpo, elemento do real, é atravessado pelos movimentos pulsionais daqueles/as que o acolhem no mundo, tornando-se corpo sexuado? As características anátomo-biológicas bastam para que um indivíduo se "sinta" homem ou mulher? E, mais ainda, masculino ou feminino? Colocando a questão de forma provocativa: de onde vem "convicção delirante" que consiste em acreditar que se é do sexo anatômico que se tem? (Ceccarelli, 2008)

A teoria psicanalítica subverte a noção de corpo, tal como compreendida pela anátomo-fisiologia, ao subordiná-la à dimensão fantasmática. Embora não encontremos em Freud uma teorização sistematizada sobre o corpo nem, tampouco, sobre sua representação psíquica, a leitura dos textos de Freud sugere que ele estava menos interessado no corpo que a anatomia disseca e cujas funções a fisiologia descreve, do que no corpo-cena dos conflitos pulsionais. De qualquer forma, em psicanálise a definição de “corpo” é um debate antigo que está longe de terminar.

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No texto sobre o Narcisismo, Freud (1914) deixa claro a importância do lugar do recém-nascido no mito familiar assim como a presença do imaginário de quem acolhe o bebê no seu futuro psicossexual, assim como os desejos e lutos que, espera-se, a criança deve responder. "a história de um sujeito não começa com ele; ela o precede e o antes determina fortemente o depois" (Aulagnier, 1991, 268).

A análise dos movimentos pulsionais presentes na formação da representação psíquica do corpo revela as complexas relações entre corpo sexuado e identidade sexuada. Com efeito, como o bebê reconhece o seu corpo como portador de órgãos anatômicos (que lhe indicarão a que sexo ele pertence), e como se constrói a identidade sexuada? Ou seja, como se forma o sentimento de pertencer a um ou a outro sexo em acordo com a anatomia?

A representação psíquica do corpo faz parte do sentimento de identidade sexuada; sua construção traduz de um processo incontornável ao qual nenhum ser humano escapa. Os fantasmas daquele/a(s) que acolhe(m) a criança, assim como a função materna e/ou paterna, a posição subjetiva que tem em relação ao sexo anatômico que possuem em relação à masculinidade e à feminilidade e, finalmente, a representação psíquica que o sexo anatômica do recém-nascido possui para quem investe o corpo do recém-nascido, constituem elementos centrais na construção da representação psíquica do corpo. Para que um menino se reconheça como tal, não basta que os pais reconheçam seu sexo anatômico: é necessário que eles "vejam" ali um menino. O mesmo deve acontecer com a menina.

Em outras palavras: a representação que o criança por vir ocupa no narcisismo de quem cria um "berço psíquico" para acolhe-la será de capital importância para a construção que a criança fará da representação consciente e inconsciente do corpo próprio.

As primeiras trocas bebê/mundo, geradoras das primeiras relações de prazer/desprazer, começam a ser estabelecidas logo após o nascimento: o toque é a primeira escritura corporal. Através do mundo interno de quem acolhe a criança, através de movimentos de investimentos e desinvestimentos, interdições e castrações sucessivas, o bebê investirá o seu corpo, permitindo-lhe construir uma representação psíquica libidinalmente investida, assim como o reconhecimento de possuir um corpo próprio separado do outro; corpo constituído de diversas partes, que podem lhe propiciar sensações prazerosas. Podemos dizer, retomando Winnicott, que o aparelho genital, se bem que estando lá, espera "ser criado para existir".

Nos transexuais a correspondência entre corpo anatômico, representação psíquica e o sentimento de identidade sexual tem um caráter singular: embora reconheçam possuir um corpo marcado pelo sexo anatômico de homem (ou de mulher), estes sujeitos experimentarem um profundo sentimento de estranheza, de mal-estar em relação a este

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corpo: o corpo que possuem não corresponde à imagem que fazem de si, isto é: o sentimento de identidade sexual destes sujeitos está em dissonância com o sexo anatômico.

É a consolidação de uma crença que permite que a criança se sinta menino ou menina. As origens desta crença se situa após o nascimento – hoje mais cedo com a ecografia - pela designação do sexo e do gênero, do recém-nascido, feita pela pessoa que presenciou o nascimento e, mais tarde, pela inscrição no Cartório Civil. Esta designação se baseia nos dados anatômicos observáveis do bebê. A partir dai, ele será tratado de acordo com os atributos do gênero que lhe foram designado, através do discurso dos pais sobre a criança e para com a criança; discurso este baseado nos desejos dos pais, nos fantasmas e crenças desses últimos. Enfim, é pelo lugar que ele ocupa na família e na sociedade, que ele saberá que é um menino ou uma menina. Tal crença será constantemente confirmada pelo seu corpo, pela sua psicossexualidade, pela opinião comum, e pelo lugar que a criança deverá responder, segundo o gênero ao qual ela pertence. Aos poucos, a criança vai adquirir os elementos de informação sobre o sistema simbólico relativo a sociedade na qual ela está inserida, sobre os códigos aos quais, como menina ou menino, ela deverá se submeter: o que se espera de uma criança está atrelado a convenções sociais e a regras de conduta oriundas de um sistema simbólico onde ela se encontra inserida, sem nenhuma relação com uma suposta "natureza" masculina ou feminina em relação direta com a anatomia.

No horizonte do futuro transexual, perfila-se a impossibilidade de elaboração do luto do que chamo de “criança imaginada”: aquela que corresponde à criança presente no narcisismo dos pais. Neste sentido, o seu lugar e sua sexuação já estão fixados no imaginário dos que o acolhem muito antes de sua chegada ao mundo. Por conseguinte, a construção do sentimento de identidade sexuada em acordo com o sexo anatômico encontra-se bloqueado por identificações primárias entravadas. Curiosa sina, muitos transexuais nasceram após a morte de uma criança do sexo oposto do sujeito em questão; outros substituem uma "esperança" não realizada de um criança; outros ainda estão lá como que para pagar um dívida ou para acalmar um superego tirânico, e assim por diante.

Um dos aspectos mais impressionantes da reivindicação transexual é, sem dúvida, a questão da cirurgia que evoca uma castração, no sentido próprio da palavra. Daí, o escândalo provocado pelo pedido do transexual H->M de mudança de sexo com extirpação do pênis, o que provoca o retorno do recalcado que denuncia a "confusão" pênis/falo. Por outro lado, é sem dúvida sintomático que o pedido de cirurgia no transexual M->H evoque menos reações, ainda que as castrações, mutilações, construções e transplantes aos quais estes sujeitos se submetem sejam, por vezes, bem mais radicais e violentas: o sexual retorna sempre onde menos se espera.

Embora a castração tenha sempre existido, constituindo-se uma prática que atravessa o tempo e o espaço tomando formas e significados diversos, o pedido de castração no

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transexual, que tem uma dimensão corretiva da castração nos transexuais visando retificar o que chamam "um erro da natureza", não encontra nenhum eco com outras as práticas de castração.

O pedido transexual não deve ser entendido como uma demanda de castração, no sentido de querer livrar-se do falo que ele crê encarnado no pênis. Pela sua reivindicação, ele procura resolver um conflito entre seu sexo anatômico e seu sentimento de identidade sexual. É o discurso biomédico, ou social, que vê na reivindicação do transexual uma castração, enquanto para o transexual trata-se de uma correção que implica a retirada dos órgãos genitais.

Por outro lado, frente as inúmeras demandas de transformações do corpo na atualidade, há de se ficar atento para que “o processo cirúrgico transexualizador” não respondam às leis de consumo do capitalismo cada vez mais apto a oferecer tratamentos fármaco-cirurgicos ao mal-estar constitutivo do humano.

Os "arranjos" pulsionais do transexual podem nos impressionar por seu radicalismo. Mas, a particularidade de seu trajeto identificatório traduz o quanto ele encarna o que dele se espera. As palavras citadas por Freud (1938, 237) no fim do "Esboço de psicanálise" ganham aqui todo seu valor:

"Was Du ererbt von Deinen Vätern hast, Erwirb es, um

es zu besitzen." 2

Bibliografia:

AULAGNIER, P., (1963) Remarques sur la structure psychotique. In Un interprète en quête de sens. Paris, Payot, 1991.

BENJAMIN, H. , Travestism and Transsexualism. In Int. J. Sexology, 1953, 7.2. CECCARELLI, P.R. Transexualismo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. EY, H., Manuel de Psychiatrie. Paris: Masson, 6ª Ed, 1989, p. 901.

FREUD, S. (1914) Sobre o narcisismo: uma introdução. E.S.B., Imago, 1974, vol. XIV.

FREUD, S., (1930) O mal-estar na civilização, E.S.B., Imago, 1974, vol. XXI. FREUD, S., (1938), Esboço de psicanálise, E.S.B., Imago, 1975, XXIII.

2

"Aquilo que herdaste de teus pais, conquista-o para fazê-lo teu" Ou, numa tradução mais libre : "Pegue sua herança e faça dela algo seu."

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GREEN, R., Mythological, Historical, and Cross-Cultural aspects of Transsexualism" in Transsexualism and sex reassignment .Baltimore, John Hopkins University Press, 1969, 13-22.

KRAFFT-EBING, Psychopathia Sexualis. Paris: Editions Climuts, 1990, p. 650. MINDLIN, B., Moqueca de maridos: mitos e contos eróticos. Rio de Janeiro: Ed. Rosa dos Ventos, Rio de Janeiro, 2º ed., 1998.

PAULY, I. B. The Gender identity Movement : A growing Surgical Psychiatric Liaison. In: Arch. Sex. Behav., 1986, 15, 4, 316.

Referências

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