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41º Encontro Anual da Anpocs GT 05- Comportamento, opinião pública e cultura política

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41º Encontro Anual da Anpocs

GT 05- Comportamento, opinião pública e cultura política

Gerações e democracia no Brasil e na Argentina: ter vivido durante a ditadura importa?

Bruno Mello Souza Olívia Cristina Perez

Caxambú/MG Outubro de 2017

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Gerações e democracia no Brasil e na Argentina: ter vivido durante a ditadura importa?

Bruno Mello Souza e Olívia Cristina Perez1

Resumo: Este estudo verifica as percepções a respeito da democracia entre gerações que vivenciaram o período das ditaduras militares do Brasil e da Argentina e aqueles que nasceram em anos posteriores à redemocratização nos países. Neste panorama, ganham relevo como pano de fundo os diferentes tipos de transição à democracia ocorridos no Brasil e na Argentina: enquanto o primeiro se deu por amplo controle dos militares, o segundo ocorreu por ruptura. A análise foi feita com base nos dados do Latinobarômetro do ano de 2015. Verificou-se como grupos com idades de 16-25 anos; de 26-40; de 41-60 e de 60 anos em diante se relacionam com as seguintes questões: apoio à democracia, concordância com a afirmação de que a democracia é a melhor forma de governo, senso de eficácia política subjetiva, confiança nas Forças Armadas, nos partidos e no Estado. Além disso, adotou-se um modelo de regressão múltipla comparando os impactos da questão geracional com aqueles encontrados a partir das variáveis de sexo, escolaridade e classe social nos dois países examinados. Os resultados indicam que ter vivido sob a ditadura parece importar mais quando falamos do apoio difuso à democracia, especialmente quando contraposta à ditadura. Quando tratamos principalmente da confiança institucional nos partidos e no Estado, não há uma tendência clara de aumento ou diminuição com o aumento da faixa etária.

Palavras-chave: democracia, ditadura, transições, cultura política

Introdução

As transições à democracia ocorridas no Brasil e na Argentina na década de 1980 caracterizaram-se por possuírem modelos bastante distintos: enquanto no contexto brasileiro a transição foi negociada, lenta e gradual; na Argentina a derrota militar foi muito mais marcante e abrupta, com ampla participação da sociedade civil (O’DONNELL e SCHMITTER, 1988). Tais diferenças são relevantes quando se pensa na consolidação da democracia que se estabelece em seguida, não só do ponto de vista do desenho institucional, mas também quando se considera a dimensão substantiva do regime, ligada à forma como os cidadãos com ele se relacionam.

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Este estudo se insere na área da cultura política e tem como objetivo verificar percepções a respeito da democracia entre gerações que vivenciaram o período das ditaduras militares do Brasil e da Argentina e aqueles que nasceram em anos posteriores à redemocratização, tanto descritivamente quanto examinando os impactos relativos desse fator em comparação com variáveis de sexo, escolaridade e autopercepção de classe social. A natureza do trabalho é quantitativa, combinando análises descritivas e inferenciais. A análise tem como base os dados do Latinobarômetro, do ano de 2015.

A partir dos dados disponibilizados pelo banco, examinou-se como grupos com idades de 16-25 anos; de 26-40; de 41-60 e de 60 anos em diante se relacionam com as seguintes questões: apoio à democracia, concordância com a afirmação de que a democracia mesmo com seus problemas é a melhor forma de governo, senso de eficácia política subjetiva (se o entrevistado considera que o voto pode mudar as coisas no futuro), confiança nas Forças Armadas, confiança nos partidos e confiança no Estado. Desse modo, torna-se possível não apenas realizar a comparação intergeracional entre os casos, mas também a comparação do comportamento de diferentes gerações em contextos distintos.

Além disso, adotou-se um modelo de regressão múltipla comparando os impactos da questão geracional acerca das variáveis dependentes com aqueles encontrados a partir das variáveis de sexo, escolaridade e classe social, nos dois países examinados.

Em suma, esses foram os objetivos do trabalho:

 Comparar grupos das faixas etárias de 16-25 anos; 26-40 anos; 41-60 anos e 60 anos em diante no Brasil e na Argentina, adotando como base as seguintes variáveis: (1) apoio à democracia; (2) concordância com a afirmação de que a democracia é a melhor forma de governo; (3) senso de eficácia política subjetiva; (4) confiança nas Forças Armadas; (5) confiança nos partidos; e (6) confiança no Estado;

 Comparar, também, as diferenças entre os dois países, levando em consideração seus respectivos modelos transicionais;

 Verificar, por meio de um modelo de regressão multivariada, os impactos das gerações sobre as variáveis acima mencionadas;

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 Examinar, também por meio de modelo de regressão multivariada, os impactos de sexo, escolaridade e classe social sobre as variáveis supramencionadas.

A hipótese da qual o presente artigo parte é de que os grupos que vivenciaram o período autoritário no Brasil e na Argentina teriam níveis mais elevados de adesão à democracia do ponto de vista normativo e da confiança nos partidos e no Estado.

1. Discussão teórica

1.1.Modelos de transição à democracia no Brasil e na Argentina

No panorama da presente pesquisa, ganham relevo analítico como pano de fundo os diferentes tipos de transição à democracia ocorridos no Brasil e na Argentina, o que confere especial importância aos dois casos: enquanto no primeiro a transição ocorreu por transação, no segundo a transição ocorreu por ruptura (O’DONNELL e SCHMITTER, 1988).

No início da década de 1980, dois terços da população da América Latina encontravam-se em países dominados por militares ou sob regimes militares. Dentro daquela que seria a 2ª onda reversa de democratização (HUNTINGTON, 1991), encontram-se os casos de Brasil e Argentina, nos quais, por meio de golpes civis-militares, foram instalados nas suas estruturas de poder regimes burocrático-autoritários (O’DONNELL, 1986).

De acordo com Guillermo O’Donnell (1986), um Estado burocrático-autoritário caracteriza-se da seguinte maneira: 1) coloca-se como organizador da dominação de uma classe sobre as demais; 2) tenta normalizar a economia estabelecendo novos padrões de produção-acumulação; 3) configura um sistema no qual são excluídos da política setores populares outrora ativos; 4) suprime direitos de cidadania; 5) exclui os setores populares economicamente, ao mesmo tempo em que possibilita um padrão de acumulação de capital às classes oligopólicas; 6) promove um incremento no processo de internacionalização da estrutura produtiva; 7) trata de institucionalizar uma racionalidade técnica instrumental visando à despolitização de questões sociais;

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8) fecha mecanismos democráticos de acesso ao governo, limitando a sua ocupação aos membros das Forças Armadas e/ou representantes de grandes empresas.

O desenvolvimento dos regimes autoritários nos casos supracitados é marcado por semelhanças no que concerne, a título de exemplo, ao contexto internacional em que se dá o Golpe de Estado (auge da Guerra Fria) e também no que se refere ao uso sistemático e deliberado da repressão nestes países. No entanto, há significativas diferenças, principalmente no que se refere ao conteúdo da transição neles realizada, como afirmam autores como O’Donnell e Schmitter (1988) e Stepan (1986). Quiroga (2005) ressalta esse aspecto quando afirma que a comparação do caso argentino com outros como os de Chile, Uruguai e Brasil mostra com nitidez as diferenças nas soluções de tratamento do passado autoritário pelos governos democráticos, como uma repercussão do tipo de transição estabelecido, pactuado ou não com as Forças Armadas.

A transição do regime autoritário no Brasil teve como principal traço a longa duração, com grande controle dos militares sobre o processo, obtendo sucesso no intento de promover uma liberalização gradual, mantendo, durante o período, poder de veto em relação à vida política no país (ARTURI, 2001), por meio do que se pode chamar de uma transição por transação (MARENCO DOS SANTOS, 2007). Por outro lado, na Argentina o controle por parte dos incumbentes sobre o processo de transição foi bastante reduzido (O'DONNELL e SCHMITTER, 1988).

O'Donnell e Schmitter (1988), ao examinar as transições para a democracia pelo mundo, fizeram uma série de caracterizações e contextualizações em relação ao papel dos atores políticos e suas escolhas. As análises desses autores incluíam os casos do Brasil e da Argentina, e são de grande valor para compreendermos algumas diferenças substanciais entre os dois modelos de transição verificados.

No caso brasileiro, a decisão de promover uma liberalização deu-se a partir do alto escalão do regime, enquanto que a oposição no país era fraca e desorganizada, sem um poder efetivo de mobilização da sociedade. Este processo transicional formulado do alto contribuiu para preservar as Forças Armadas do Brasil de um julgamento mais rigoroso por parte da sociedade civil,

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ao mesmo tempo em que garantiu certa legitimidade institucional às mesmas (SANTOS, 2007). Já no que concerne ao caso argentino, tal decisão foi bastante influenciada pela existência de forças oposicionistas bastante poderosas na sociedade civil. Desse modo, o padrão de controle exercido pelo regime era bastante reduzido em comparação com o caso brasileiro (O'DONNELL e SCHMITTER, 1988).

Uma outra diferença marcante entre os dois casos é que, enquanto no Brasil o regime alcançou relativo êxito em termos econômicos, na Argentina o cenário foi mais complicado, com uma espécie de consenso acerca do fracasso do governo (O’DONNELL e SCHMITTER, 1988; WEFFORT, 1989). Essa distinção foi fundamental, uma vez que os militares brasileiros puderam promover a transição com uma dose significativamente mais alta de autoconfiança (O’DONNELL e SCHMITTER, 1988). Este cenário de autoconfiança do regime brasileiro, segundo os referidos autores, difere do cenário de regime reconhecidamente fracassado na Argentina por dois fatores fundamentais: (1) a sequência, o ritmo e o alcance da transição ficam mais submetidos ao controle dos incumbentes autoritários; (2) as forças sociais e políticas que apoiaram o regime autoritário contam com melhores oportunidades de manterem importantes papéis políticos no regime vindouro.

Além disso, existiram consideráveis diferenças no que se refere à origem da repressão nos dois países. Ao passo que no Brasil, alguns grupos especializados tiveram tal incumbência, inclusive adquirindo certa autonomia (O'DONNELL e SCHMITTER, 1988; STEPAN, 1986), na Argentina, a repressão se configurou como “responsabilidade institucional” das Forças Armadas (O'DONNELL e SCHMITTER, 1988).

Considerando características como as mencionadas, O'Donnell e Schmitter (1988), afirmam que em casos como o argentino, em que o regime autoritário tenha sido notoriamente fracassado, torna-se muito mais provável que se desenvolva uma vontade mais sólida de resistir à tentação de uma volta a tal cenário, enquanto que em casos como o brasileiro, onde a experiência foi menos traumática, pode haver uma “nostalgia dos bons tempos autoritários”. O que talvez reforce esta linha de raciocínio é a existência de uma forte adesão normativa à democracia na Argentina que, segundo Pérez-Liñán e Mainwaring

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(2014), permitiu ao regime democrático sobreviver a distintas intempéries econômicas, tais como: as fortes turbulências na década de 1980 e início dos anos 2000, hiperinflação verificada entre 1989 e 1991, substantivo aumento das desigualdades sócioeconômicas e desempenho débil da economia.

Reforçando essa diferença, Moisés (1995) salienta a questão propriamente cultural, e mostra como os brasileiros ainda apresentavam, na década de 1990, apego significativo a alguns valores de natureza autoritária. Zaverucha (2005), por seu turno, destaca a necessidade de que a democracia formal se expanda e se constitua, dessa maneira, numa democracia substantiva, ligada ao contexto sócioeconômico dos indivíduos, e considerando os direitos civis em sua plenitude, com respeito à vida e à integridade física dos sujeitos.

No que se refere à esfera institucional, Marenco dos Santos (2007) argumenta sobre uma consistente sobrevivência de forças políticas do antigo regime, que até hoje marcam presença, mesmo após a passagem de governos teoricamente de esquerda pelo poder, como os comandados pelo Partido dos Trabalhadores (2003-2015).

Para além das análises sobre os processos transicionais em si, partindo-se do contexto das transições à democracia foram departindo-senvolvidos estudos acerca dos legados do autoritarismo presentes nas novas democracias, podendo-se apontar Alfred Stepan (1988) como um dos primeiros autores a chamar a atenção para o tema, ao examinar as prerrogativas militares preservadas após a transição na Argentina, no Brasil, na Espanha e no Uruguai.

Jorge Zaverucha (1992; 1994) busca aprofundar essa linha de análise, verificando especificamente os casos de Brasil, Argentina e Espanha em perspectiva comparada. Dentre as suas observações, o autor argumenta que a forte presença de prerrogativas militares fragiliza a democracia, e diagnostica as diferenças entre esses países no que se refere ao número de prerrogativas existentes. De acordo com o levantamento do referido autor, ao passo que na Espanha nenhuma prerrogativa fora mantida após o fim do franquismo, no Brasil todas foram mantidas nos primeiros anos da Nova República, ao mesmo tempo em que, na Argentina, caracterizava-se uma situação intermediária.

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Tais diferenças poderiam ver-se refletidas nas culturas políticas dos dois países, especialmente no que diz respeito à vivência ou não de distintas gerações sob os regimes autoritários e os processos transicionais, seja em um ambiente altamente controlado, com oposição desarticulada e baixa mobilização social, seja em um cenário em que um regime violento ao extremo chegou ao fim abaixo de grande revolta popular, saindo de cena incisivamente derrotado. 1.2. Cultura política, gerações e democracia

Estudos relacionando aspectos culturais e democracia vêm de longa data, desde os estudos de Almond e Verba, na década de 1960. São eles os autores do livro The Civic Culture (1965), no qual definem cultura política como sendo o processo por meio do qual as orientações e atitudes dos sujeitos se estruturam em relação ao sistema político e às suas instituições. Sob essa ótica, o modelo democrático necessita de mais do que a simples existência de instituições formais, uma vez que as mesmas também podem ser encontradas em diversos regimes de natureza totalitária. O elemento diferenciador, que remeteria para a configuração de uma democracia efetiva, refere-se a uma cultura política democrática (ALMOND e VERBA, 1965).

Moisés (1995) argumenta que os comportamentos e atitudes não são fenômenos isolados dos padrões de interação encontrados na base do funcionamento das instituições políticas. No que concerne ao Brasil, o autor chama a atenção para a existência de um “paradoxo da legitimidade democrática”, plasmado no fato de que vícios políticos herdados do regime ditatorial ainda persistem com força na cultura política brasileira, combinando apoio normativo à democracia com desilusão para com o funcionamento efetivo do regime e de suas instituições, configurando-se assim como uma ameaça para a democracia no país (MOISÉS, 1995).

Esta linha analítica também encontra respaldo em autores como Leonardo Morlino (2007), para quem ainda que o regime democrático tenha uma aceitação global, a questão mais importante refere-se à qualidade da mesma. Dessa maneira, de acordo com Morlino (2007), uma democracia com qualidade

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seria antes de qualquer outra coisa um regime possuidor de ampla legitimação, estável, e com o qual os cidadãos estariam plenamente satisfeitos.

A partir dessa lógica, a confiança institucional também possui importância analítica para que se verifique a legitimidade democrática em um país. Moisés e Meneghello (2013) afirmam que os sintomas de uma desconfiança da sociedade para com a política podem ser refletidos por aspectos tais como alienação, indiferença em relação à esfera política mas, muito especialmente, em uma descrença sobre as capacidades das instituições públicas assegurarem seus direitos. Em casos como o brasileiro, por exemplo, onde há uma frágil institucionalização do sistema partidário e sem uma conexão efetiva com a sociedade (SU, 2015), tal aspecto ganha central relevância.

O segundo aspecto a se examinar refere-se à possível repercussão de tais diferenças de acordo com o fato de se ter vivido ou não sob o regime ditatorial, numa perspectiva de comparação entre gerações. Do ponto de vista temporal e intergeracional, Inglehart (1990) verifica transformações importantes nas culturas das sociedades industriais, provenientes de mudanças econômicas, tecnológicas e sóciopolíticas nas mesmas. O autor postula que tais mudanças ocorrem de forma gradativa, refletindo mudanças nas experiências formativas que moldam as diferentes gerações.

Relacionado a essa ideia, encontra-se o conceito de socialização política, que parte de um pressuposto que coloca a dimensão cultural como aspecto fundamental para a estabilidade de um regime democrático (SCHMIDT, 2001). A socialização política diz respeito ao processo de formação de atitudes políticas nos indivíduos, ou do ponto de vista geracional, o processo de interiorização da cultura política existente em um dado meio social pelas novas gerações (SCHMIDT, 2001). Easton e Dennis (1969) afirmam que a socialização política compreende os processos de desenvolvimento por meio dos quais os sujeitos adquirem orientações políticas e padrões de comportamento.

Se para Inglehart (1990) o motor das mudanças culturais vinculava-se principalmente à esfera econômica, para o presente estudo a linha demarcatória desloca-se para a dimensão político-institucional, direcionando-se para a questão da mudança de regime político.

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Ribeiro (2007), ao verificar a questão da socialização sob o regime democrático no Brasil, concluiu que os valores da juventude não são consideravelmente diferentes das gerações anteriores. Isto é, os seus achados indicam que a questão intergeracional, apesar de possuir certo destaque do ponto de vista teórico, não repercute nas percepções dos cidadãos brasileiros sobre a democracia. É nesta esteira de análise de valores e percepções entre as diferentes gerações que o presente artigo se coloca, agregando um componente comparativo pautado pelo modelo de transição, trazendo à tona junto ao caso brasileiro o caso argentino. Com isso, torna-se possível não apenas realizar a comparação intergeracional entre os casos, mas também a comparação do comportamento de diferentes gerações em contextos distintos. Na próxima seção, são apresentados alguns resultados encontrados a partir dos dados do Latinobarômetro de 2015.

2. Gerações e cultura política no Brasil e na Argentina

Nesta seção, analisam-se algumas questões de cultura política no Brasil e na Argentina relacionadas com as faixas etárias e também sob a perspectiva dos distintos modelos transicionais. As faixas de idade em questão são de 16 a 25 anos; de 26 a 40 anos; de 41 a 60 anos; e de 60 anos em diante. As variáveis examinadas são: apoio à democracia; concordância com a afirmação de que a democracia é a melhor forma de governo; senso de eficácia política subjetiva em relação ao voto (se votar faz diferença para a vida das pessoas); confiança nas Forças Armadas, nos partidos políticos e no Estado. Os dados são provenientes do Latinobarômetro de 2015. Inicialmente, apresenta-se a variável de apoio à democracia.

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Gráfico 1- Apoio à democracia (%)

n (Argentina)= 1200; n (Brasil)= 1250.

Fonte: Os autores, com base nos dados do Latinobarômetro (2015).

No que concerne à variável de apoio à democracia, quando se contrapõe a preferência pelo regime democrático com a possibilidade de um governo autoritário ou mesmo da indiferença em relação a estas possibilidades, os argentinos manifestam um apoio relativamente maior do que os brasileiros, o que pode refletir em alguma medida os modelos de transição ocorridos nos dois casos e suas repercussões nas democracias neles estabelecidas, em diálogo com a literatura anteriormente apresentada. As gerações mais antigas, que vivenciaram o regime ditatorial nos dois países, apresentam percentuais relativamente maiores de apoio à democracia.

Em relação à possibilidade de um governo autoritário, existe um equilíbrio entre as distintas gerações. O que chama a atenção é a dimensão da apatia ou indiferença no que diz respeito ao regime: nela, as gerações mais jovens têm valores mais altos. Parece haver, desse modo, uma maior valorização da democracia por parte das gerações com mais idade, enquanto predomina uma espécie de indiferença política entre os mais jovens, que não sentiram de fato os efeitos dos regimes autoritários em Brasil e Argentina. O gráfico 2 vai na mesma direção, mas agora salientando de maneira mais forte a democracia como ponto de referência.

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Gráfico 2- Democracia é a melhor forma de governo, apesar de seus problemas (%)

n (Argentina)= 1200; n (Brasil)= 1250.

Fonte: Os autores, com base nos dados do Latinobarômetro (2015).

No que se refere à concordância ou discordância com a afirmação de que a democracia é a melhor forma de governo, independentemente dos seus problemas, os entrevistados de Brasil e Argentina apresentam tendências semelhantes nas mesmas direções, isto é, tanto entre os países como entre as gerações dentro dos mesmos. Os argentinos novamente apresentam a tendência de apoiarem mais o regime democrático do que os brasileiros. E tanto no Brasil quanto na Argentina, as gerações mais antigas apresentam maior adesão normativa à democracia. Assim, o fato de ter vivido sob governos ditatoriais parece importar quando falamos de apoio ao regime democrático, e o fenômeno se dá de forma parecida mesmo com os diferentes modelos transicionais observados nos dois países. Após examinar a dimensão normativa da adesão à democracia, passa-se, no gráfico 3, a uma variável que remete ao caráter mais prático da democracia, plasmado pelo voto. Afinal, brasileiros e argentinos das diferentes gerações acreditam que o voto faz alguma diferença em suas vidas?

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Gráfico 3- Voto faz a diferença na vida do cidadão comum (%)

n (Argentina)= 1200; n (Brasil)= 1250.

Fonte: Os autores, com base nos dados do Latinobarômetro (2015).

Em relação ao voto como algo que possa fazer a diferença na vida do cidadão comum, entre os dois países os percentuais são bastante próximos, com os entrevistados acreditando no poder do voto sempre na casa dos 70%. Na Argentina, não parece haver uma tendência geracional significativa. As faixas etárias que manifestaram maior crença no voto são as intermediárias, enquanto os mais jovens e mais velhos apresentam percentuais um pouco menores; já no caso brasileiro, as gerações mais jovens apresentam maior crença no poder do voto, enquanto a quantidade de entrevistados das gerações mais antigas é um pouco menor. Assim, se em Brasil e Argentina existe uma adesão normativa à democracia maior das gerações que viveram sob a ditadura, o mesmo não pode ser dito no que se refere à dimensão mais prática e formal do regime: nesse quesito, não existe uma tendência clara dos argentinos e entre os brasileiros, a crença no voto é maior entre os mais jovens, que não viveram tão abertamente os resultados de um regime autoritário. No próximo gráfico, passa-se à dimensão da confiança nas instituições. Inicialmente, são apresentados os percentuais de confiança de brasileiros e argentinos em suas Forças Armadas.

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Gráfico 4- Confiança nas Forças Armadas (%)

n (Argentina)= 1200; n (Brasil)= 1250.

Fonte: Os autores, com base nos dados do Latinobarômetro (2015).

O que mais chama a atenção quando examinamos os números de confiança nos militares é a diferença entre os dois países: os percentuais de confiança e desconfiança são praticamente opostos e de forma quase simétrica. Enquanto na Argentina a desconfiança está próxima dos 60% dos entrevistados, no Brasil quase 60% afirmam que sim, confiam nas Forças Armadas. Isso em boa medida pode refletir as diferenças nos modelos de transição à democracia nos dois países, com os argentinos encerrando seu regime militar de forma abrupta e com forte sensação de derrota dos incumbentes autoritários, enquanto no Brasil o processo transicional foi muito mais lento e controlado pelo regime, com os militares mantendo uma série de prerrogativas e considerável presença na democracia surgida a partir dos anos 1980.

No que concerne às faixas etárias nos dois países, aquela geração mais antiga, que viveu mais intensamente o regime, apresenta maior confiança nos militares no caso brasileiro, e menor no caso argentino, o que também pode denotar os reflexos dos regimes militares para as percepções desses cidadãos. O gráfico 5 trata de apresentar a confiança de brasileiros e argentinos de diferentes faixas etárias sobre os partidos políticos, vistos como as instituições responsáveis por representar, por excelência, as demandas dos cidadãos nas esferas de poder.

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Gráfico 5- Confiança nos partidos políticos (%)

n (Argentina)= 1200; n (Brasil)= 1250.

Fonte: Os autores, com base nos dados do Latinobarômetro (2015).

Na comparação entre as gerações, não é possível notar uma tendência clara, nem no Brasil, nem na Argentina, no que tange à confiança nos partidos. No caso brasileiro, os menores percentuais de confiança encontram-se entre os mais jovens e os mais velhos. Na Argentina, os mais jovens manifestam maior confiança partidária, seguidos pelos mais idosos.

O que merece destaque são os níveis baixos de confiança em ambos os países, e para todas as faixas etárias, ainda que seja considerado o fato destas organizações não gozarem de grande prestígio mesmo em países de democracia consolidada (IGNAZI, 2013). Na Argentina, tais valores não chegam a alcançar 30% dos entrevistados. No Brasil, a situação é ainda mais delicada e alarmante: cerca de 90% dos sujeitos que responderam à pesquisa não confiam nos partidos políticos do país, o que denota uma situação de afastamento que parece se relacionar com os baixos índices de identificação partidária historicamente encontrados no país, em grande parte relacionados às dificuldades encontradas pelos eleitores para diferenciar os partidos (KINZO, 2005). Outra dimensão institucional de grande importância analítica diz respeito à esfera pública mais ampla, isto é, o Estado.

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Gráfico 6- Confiança no Estado (%)

n (Argentina)= 1200; n (Brasil)= 1250.

Fonte: Os autores, com base nos dados do Latinobarômetro (2015).

Novamente não é possível notar uma tendência clara entra as diferentes gerações, tanto no Brasil quanto na Argentina. No caso argentino, os maiores percentuais de confiança no Estado estão situados entre os mais jovens e os mais velhos. No Brasil, os mais desconfiados são os sujeitos pertencentes à faixa de 61 anos ou mais, seguidos pelos que estão entre 26 e 40, e os mais jovens, entre 16 e 25 - todos com percentuais muito próximos, na casa dos 75%. Mais uma vez, também é possível perceber que os brasileiros confiam menos nas suas instituições - agora o Estado em seu conjunto - do que os argentinos. O maior índice de confiança - 30%, pertencente à faixa entre 41 e 60 anos - não alcança o da faixa em que esse percentual é menor entre os argentinos: 33,8%, também entre os 41 e os 60 anos de idade.

De modo geral, se em algumas variáveis as gerações apresentam alguma tendência mais clara para se buscar a compreensão de valores democráticos nos dois países, em outras essas tendências se encontram diluídas, especialmente no que concerne à confiança nos partidos e nos Estados.

Apresentados os dados descritivos, passa-se a apresentar os resultados encontrados no modelo de regressão múltipla proposto neste artigo. A partir

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dele, pode-se examinar inferencialmente o peso relativo da questão geracional sobre as variáveis supramencionadas, a partir dos seus impactos estatísticos2.

Tabela 7- Impactos estatísticos sobre o apoio à democracia

Argentnn Brnsil B Sig B Sig Idnde -0,088 0,000 -0,085 0,003 Sexo 0,063 0,127 0,015 0,751 Escolnridnde -0,038 0,000 -0,018 0,012 Clnsse socinl 0,014 0,615 0,018 0,533 Fonte: Latinobarômetro 2015.

No que se refere ao apoio à democracia comparado com o apoio à possibilidade de um governo autoritário e também com a indiferença em relação ao regime, a questão geracional apresenta relativa importância. Com impactos estatísticos significativamente representativos nos dois países. A outra variável que apresenta significância estatística é a da escolaridade: os anos de estudo, dessa maneira, apresentam poder explicativo, ainda que os coeficientes B sejam baixos.

A tabela 8 apresenta os resultados do modelo de regressão linear para a variável que diz respeito à concordância com a democracia como melhor forma de governo, independentemente dos seus problemas.

2 O coeficiente de significância abaixo de 0,05 indica a existência de relação estatística entre a variável independente e a dependente, e quanto mais próxima de zero, mais significativa é esta relação. Já o coeficiente B, quanto mais próximo de 1, indica maior força da relação.

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Tabela 8- Impactos estatísticos sobre concordância com democracia como melhor forma de governo

Argentnn Brnsil B Sig B Sig Idnde -0,086 0,000 -0,034 0,197 Sexo -0,008 0,849 0,037 0,397 Escolnridnde -0,027 0,000 -0,009 0,182 Clnsse socinl 0,080 0,004 0,018 0,508 Fonte: Latinobarômetro 2015.

A respeito da concordância com a democracia como melhor forma de governo, a idade apresenta impacto estatisticamente significativo somente na Argentina, sendo, naquele caso, o mais forte. Escolaridade e classe social também apresentam poder preditivo para a explicação da variável dependente. Já no Brasil, nenhuma das variáveis do modelo apresenta impactos que possam ser considerados do ponto de vista estatístico. Assim, se a idade serve para explicar a ideia da democracia como regime mais aceitável na Argentina, no Brasil esse poder explicativo se esvai. Vistas as dimensões de apoio normativo à democracia, a tabela 9 apresenta os impactos do modelo sobre uma dimensão mais prática da democracia, a opinião que os sujeitos possuem sobre o poder do voto para mudar suas vidas.

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Tabela 9- Impactos estatísticos sobre opinião a respeito do voto Argentnn Brnsil B Sig B Sig Idnde -0,013 0,327 0,003 0,864 Sexo 0,013 0,622 0,019 0,446 Escolnridnde -0,018 0,000 -0,007 0,07 Clnsse socinl 0,011 0,537 0,047 0,002 Fonte: Latinobarômetro 2015.

No que concerne à opinião sobre o voto, a faixa de idade não apresenta significância estatística para tal explicação. Tanto no Brasil quanto na Argentina, apenas uma variável do modelo apresenta capacidade preditiva para a variável dependente. Na Argentina, a escolaridade apresenta impactos estatisticamente consideráveis - ainda que com um coeficiente B reduzido -, ao passo que no Brasil é a classe social que apresenta tal poder explicativo.

A próxima tabela apresenta os resultados do modelo de regressão para a variável de confiança nas Forças Armadas dos dois países.

Tabela 10- Impactos estatísticos sobre a confiança nas Forças Armadas

Argentnn Brnsil B Sig B Sig Idnde 0,016 0,598 -0,069 0,03 Sexo 0,035 0,540 0,074 0,169 Escolnridnde -0,009 0,305 -0,005 0,516 Clnsse socinl 0,108 0,005 0,047 0,146 Fonte: Latinobarômetro 2015.

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Para a variável de confiança nas Forças Armadas, a faixa de idade aparece como significativa estatisticamente no Brasil – e, no caso, é a única que possui poder preditivo dentro do modelo. Na Argentina, a única variável que apresenta valor explicativo do ponto de vista inferencial é a classe social. Desse modo, o peso da idade para explicar confiança nos militares deve ser relativizado especialmente no caso argentino. Num regime democrático, os partidos políticos desempenham um papel fundamental de representação dos cidadãos e organização das demandas da sociedade nas esferas decisórias. Assim, a tabela 11 traz os efeitos do modelo de regressão para a explicação da confiança de brasileiros e argentinos nos partidos políticos dos seus países.

Tabela 11- Impactos estatísticos sobre a confiança nos partidos

Argentnn Brnsil B Sig B Sig Idnde 0,02 0,416 0,026 0,279 Sexo 0,067 0,16 -0,028 0,485 Escolnridnde -0,027 0,000 0,014 0,016 Clnsse socinl 0,105 0,001 0,041 0,094 Fonte: Latinobarômetro 2015.

No que tange aos impactos sobre a confiança nos partidos, a idade não possui significância estatística nem para o caso argentino, nem para o caso brasileiro. Assim, a questão geracional, plasmada pelo fato de se ter ou não vivido sob regimes ditatoriais não parece ter peso significativo para explicar o desafeto dos cidadãos dos dois países pelos partidos políticos locais. As únicas variáveis que possuem significância estatística na Argentina são escolaridade e classe social.

Já no Brasil, apenas a escolaridade apresenta efeitos significativos do ponto de vista estatístico. A tabela 12, por fim, apresenta os resultados do impacto do modelo de regressão linear multivariada sobre a confiança dos

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cidadãos brasileiros e argentinos numa dimensão institucional mais ampla, no Estado.

Tabela 12- Impactos estatísticos sobre a confiança no Estado

Argentnn Brnsil B Sig B Sig Idnde -0,006 0,816 0,016 0,57 Sexo 0,051 0,305 -0,009 0,847 Escolnridnde -0,013 0,099 0,013 0,045 Clnsse socinl 0,168 0,000 0,091 0,001 Fonte: Latinobarômetro 2015.

No que diz respeito à confiança no Estado, a idade não apresenta poder explicativo pela perspectiva estatística nem no Brasil, nem na Argentina. No país vizinho, somente a classe social apresenta significância para explicar a variável dependente. Já no Brasil, além da classe social, a escolaridade surge com relativa importância para explicar a confiança dos cidadãos no Estado. Cabe ressaltar, no entanto, que nesse caso o coeficiente de significância é de 0,045, muito próximo do limite que define o que é e o que não é estatisticamente significativo.

De modo geral, os efeitos estatísticos da questão geracional para explicar as atitudes de brasileiros e argentinos, assim como quando verificados os dados descritivos, devem ser relativizados. A idade surge com poder de predição para os dois casos somente no que diz respeito à variável de apoio à democracia. Nas demais, existe significância estatística somente para a Argentina, na variável de concordância sobre a democracia como melhor forma de governo, e para o Brasil, para a explicação da confiança nos militares.

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Considerações finais

Neste artigo, buscou-se discutir alguns pontos importantes da cultura política no Brasil e na Argentina pela perspectiva das gerações. O pano de fundo que serviria para diferenciar tais gerações foram os modelos de transição à democracia nos dois países: ao passo que na Argentina os militares saíram do poder por meio de um processo de ruptura, com uma percepção generalizada de fracasso dos incumbentes autoritários, no Brasil o processo foi dado por meio de muita negociação e com alto controle militar sobre toda a transição política. Isso poderia refletir, então, numa cultura política mais convictamente democrática, na comparação entre os países, no Brasil, e na comparação dentro de cada país, entre aqueles que viveram os malefícios de uma ditadura, pertencentes às gerações mais antigas.

No que tange ao apoio difuso à democracia, os argentinos apresentam um apoio relativamente maior do que os brasileiros, o que pode refletir em alguma medida os modelos de transição ocorridos nos dois países e seus repercussões nas democracias neles estabelecidas. As gerações mais antigas, isto é, aquelas que viveram o regime ditatorial nos dois países, possuem percentuais relativamente maiores de apoio à democracia. Chama a atenção ainda a maior apatia por parte dos jovens, que em maior percentual afirmam não fazer diferença viver em uma democracia ou em uma ditadura. Do ponto de vista estatístico, as gerações também apresentam impacto significativo, nos dois países.

Em relação à concordância ou discordância com a afirmação de que a democracia é a melhor forma de governo, os argentinos novamente apresentam a tendência de apoiarem mais o regime democrático do que os brasileiros. E em ambos os países, as gerações mais antigas apresentam maior adesão normativa à democracia. Entretanto, no modelo de regressão testado, somente na Argentina a faixa de idade apresenta poder explicativo estatisticamente significativo.

Há ainda uma percepção generalizada, nos dois países, de que o voto possui importância e tem possibilidades de mudar a vida das pessoas. No caso argentino, os dados não apresentam uma tendência geracional significativa. Já

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no caso brasileiro, as gerações mais jovens apresentam maior crença no poder do voto, enquanto o percentual de entrevistados das gerações mais antigas afirmando a crença no voto é um pouco menor. Cabe salientar, porém, que em ambos os casos a idade não apresenta significância estatística para a explicação da variável dependente.

Em relação aos níveis de confiança institucional, as tendências ficam ainda mais diluídas entre as gerações estudadas. O que se destaca são os níveis relativamente altos de confiança dos brasileiros sobre os militares, maiores que dos argentinos, e os baixíssimos índices de confiança nos partidos políticos em comparação com os cidadãos do país vizinho, que apresentam uma maior confiança em seus partidos, que também não chega a ser grande. Nesse sentido, é importante ressaltar que mesmo em democracias consolidadas, os partidos têm sido vistos como inconfiáveis e mantidos à distância pelos cidadãos comuns (IGNAZI, 2013).

A confiança no Estado não é tão baixa quanto aquela encontrada nos partidos, mas também fica distante da que os entrevistados depositam nas Forças Armadas no Brasil. Na Argentina, há um maior equilíbrio destes percentuais em comparação com a confiança nos militares. Do ponto de vista estatístico, a idade só apresenta significância para explicação da confiança dos brasileiros nos militares. Nas demais variáveis, e para os dois países, a faixa etária não apresenta maiores impactos.

Assim, como resposta à pergunta inserida no título do presente artigo, ter vivido sob a ditadura parece importar mais quando falamos do apoio difuso à democracia, especialmente quando contraposta à ditadura. Quando tratamos principalmente da perspectiva da confiança institucional nos partidos e no Estado, não há uma tendência clara de aumento ou diminuição com o aumento da faixa etária, o que vai ao encontro dos achados de Ednaldo Ribeiro (2007) e serve como uma reflexão para a literatura que trabalha com o peso geracional sobre os valores democráticos. É claro que a premissa adotada por Inglehart (1990), principal autor dentro desta linha de análise, não está presente nem na sociedade brasileira, nem na Argentina. Os países da América Latina não alcançaram a chamada “dimensão pós-materialista”, pois persistem problemas de graves desigualdades no continente, e a esmagadora maioria dos cidadãos

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ainda vive presa à dimensão materialista, preocupada com a sobrevivência cotidiana em cenários caracterizados por frequentes instabilidades econômicas. De todo modo, e mesmo levando tais aspectos em consideração, o peso geracional não deve ser negligenciado, mas precisa ser relativizado quando tratamos da cultura política e da confiança institucional, especificamente nos casos ora estudados.

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