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Prof. Eloy Gustavo. Amor. Clarice Lispector Laços de Família

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Academic year: 2021

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Amor

Clarice Lispector

Laços de Família - 1960

(2)

A escola literária O Modernismo - prosa

1ª Fase: 1922-30 Experimentação formal

2ª Fase: 1930-45 Retratação da realidade

(3)

A escola literária

1ª Fase: 1922-30 Experimentação formal

Mário de Andrade (Macunaíma)

“direito à pesquisa estética”

(4)

A escola literária

2ª Fase: 1930-45 Retratação crítica da realidade

Romance regionalista (nordestino)

Graciliano Ramos (Vidas Secas)

José Lins do Rego (ciclo da cana de açúcar)

Romance urbano de introspecção psicológica Lúcio Cardoso (A luz no subsolo)

(5)

A escola literária

3ª Fase: 1945... Volta radical ao trabalho com a linguagem

Romance regionalista (nordestino)

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A escola literária

3ª Fase: 1945... Volta radical ao trabalho com a linguagem

Romance regionalista (sertão mineiro)

Romance urbano de introspecção psicológica (Intimismo radical)

João Guimarães Rosa 1946 Sagarana

Clarice Lispector

1944 Perto do coração selvagem

Obras que inauguram

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Avaliação de Antonio Candido sobre a escritora

A jovem romancista ainda adolescente estava mostrando à narrativa predominante em seu país que o mundo da palavra é uma possibilidade infinita de aventura, e que antes de ser coisa narrada a narrativa é forma que narra.

Por isso o seu primeiro livro foi um choque, cuja influência caminhou lentamente, à medida que a própria literatura brasileira se desprendia de suas matrizes mais contingentes, como o regionalismo, a obsessão imediata dos ‘problemas’ sociais e pessoais, para entrar numa fase de consciência estética generalizada.

(8)

Livro: Laços de Família - 1960

2º livro de contos da autora – 13 histórias

6 histórias de Alguns Contos (1952) (entre elas “Amor”) 7 histórias já publicadas esparsamente em jornais e revistas Das 13 histórias, 10 tratam do universo feminino

Avaliação de Rubem Braga

...você pega mil ondas que eu não capto, eu me sinto como rádio vagabundo de galena, só pegando estação de esquina, e você de radar, televisão, ondas curtas.

Percepção, com uma acuidade invulgar, de dramas humanos, de sutis conflitos interiores.

(9)

Conto Amor: elementos estruturais da narrativa

Tempo: um dia na vida de Ana – das primeiras tarefas domésticas até o recolher-se ao quarto de dormir com o marido.

Ações:

- Antes do cego, ações usuais do universo de uma dona de casa. - Após o cego, ações que demonstram grande perturbação.

- Volta para casa, tentativa de retomar os ritos anteriores.

Cenário:

- Apartamento – início e fim do conto.

- Bonde – local da experiência perturbadora.

- Canto escuro do Jardim Botânico – experimentação de uma outra faceta da vida.

(10)

Conto Amor: elementos estruturais da narrativa

Personagens:

Protagonista: Ana, cujo anseio é enredar-se na vida de uma dona de casa, caber num destino de mulher.

Antagonista: o cego, mas, de certa forma, principalmente suas próprias inquietações reprimidas que, por meio ao cego, ganham força.

Secundários importantes: o marido e os filhos - presa a eles, pelo amor, ainda que desesperado, são o grande ponto de apoio (âncora) de Ana.

Narrador: em 3ª pessoa e onisciente – conhece o passado de Ana e sabe totalmente de suas angústias.

(11)

Divisão mais detalhada das ações

Tarefas domésticas da manhã Compras

Incidente com o cego - perturbação Jardim Botânico

Volta para casa – abraço no filho Jantar com parentes

Explosão do fogão Fim do dia

Ausência de peripécias, comparar com os outros contos

Frase de Nietzsche reveladora dessas ações:

“Os grandes eventos não são nossas horas mais barulhentas, mas nossos instantes mais silenciosos.”

- O que mais importa no conto são os pensamentos (fluxo de consciência) de Ana; não os fatos em si, mas como eles repercutem nessa mulher hiper-sensível.

(12)

Começo em “in media res”

“Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.”

Fatos que terão relevância depois:

As compras deformarem o novo saco de tricô. O volume ser depositado no colo.

(13)

A escolha de Ana: “destino de mulher” uma dona de casa, esposa e mãe, de classe média

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e

sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores.”

sumarento

(14)

A escolha de Ana: “destino de mulher” uma dona de casa, esposa e mãe, de classe média

A desordem numa casa de banho desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa. (Jornal das Moças, 1945)

O lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa masculiniza. (Revista Querida, 1955)

Se o seu marido fuma, não arranje discussões pelo simples fato de cair cinza no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa. (Jornal das Moças, 1957)

A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, nada de incomodá-lo com serviços domésticos. (Jornal das Moças, 1959)

(15)

As outras sementes

Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes

invisíveis, que viviam como quem trabalha — com

persistência, continuidade, alegria.

O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para

sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada

que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável.

(16)

A hora perigosa da tarde

Marido – no trabalho Crianças – na escola

Móveis – espanados (sem tarefas domésticas para desempenhar)

Sua condição de dona de casa vem moldada pelo exterior.

São as ações lhe dão consistências, não partem de sua interioridade. Ela vive em função dos outros (pessoas e coisas).

Uma estratégia para burlar o “espanto”

Fazer compras para casa.

(17)

Descrição do trajeto do bonde – antecipação não pressentida

O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.

O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.

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Conceito de epifania

No plano místico-religioso, diz respeito ao aparecimento de uma divindade ou de uma manifestação espiritual (...)

No plano literário, refere-se à súbita iluminação advinda das situações cotidianas e dos gestos mais insignificantes. O êxtase decorrente de tal percepção atordoante geralmente é fugaz, mas desvela um saber inusitado, uma vivência de totalidade grandiosa , que contrasta com o elemento prosaico e banal que o motivou.

(19)

A epifania do conto: a visão do cego mascando chicles

Pergunta capital: por que a visão do cego a perturba?

Resposta de alguns autores: o fato em si não tem relevância, poderia ser esse como outro qualquer; não se poderia saber por que este foi o desencadeador nesse momento.

Ocorrerão diversas passagens associando a visão do cego a um terrível sentimento de piedade, mas, depois, se dirá que se trata também do desejo de viver.

(20)

A epifania do conto: a visão do cego mascando chicles

Tentativa de resposta: incomodaria o espelhamento.

Como alguém privado da visão poderia estar calmamente na rua mascando chicles?

Como ela – sufocando sua vitalidade, seus anseios mais íntimos – poderia estar com meia satisfação num bonde, pensando no jantar da noite? Como não perceber o absurdo da situação e urrar de dor?

(21)

O saco de tricô: símbolo de quê?

“Todo o seu desejo vagamente

artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se

desenvolvera e suplantara a

(22)

O transporte dos ovos

Ovos: alimento que Ana vai comprar para o jantar da noite.

Simboliza: tarefas a que se entrega para evitar o mal estar da tarde.

Jornal: servia nos mercados como embrulho de mercadorias.

Simboliza: o enredamento pelo cotidiano, pelos fatos.

Saco de tricô: feito pela própria Ana, parte das ações para adornar a casa.

Simboliza: a vazão de Ana ao seu desejo artístico, a luta contra o caos interno.

(23)

A queda do saco – A ruptura dos ovos

“O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede.”

Mudança do simbolismo dos ovos

De esforço para se manter no papel de dona de casa: compra e preparação do jantar

Para uma ruptura, um novo “nascimento” que rompe com o cotidiano (jornal) e com a malha (esforços para sublimar seu desejo artístico).

(24)

A bolsa de tricô – também perda do simbolismo

A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo.

(25)

O viés existencialista

O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua

eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo

equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir.

Periclitante: que periclita; que corre perigo; pouco seguro. A existência precede a essência.

(26)

O viés existencialista

O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua

eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo

equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir.

Periclitante: que periclita; que corre perigo; pouco seguro. A existência precede a essência.

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Perda do ponto – O Jardim Botânico

Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.

A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração.

Ela adormecia dentro de si. De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.

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A emboscada do Jardim Botânico

Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.

A existência precede a essência.

Jean-Paul Sartre

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A “experiênciação” radical da materialidade bruta

Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.

Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era

(30)

1º movimento de volta: lembrança das crianças

Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.

Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera.

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1º movimento de volta: lembrança das crianças

Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.

Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera.

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O apartamento: um mundo ordenado, limpo

A piedade pelo cego era tão violenta como

uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo,

perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era

grande, quadrada, as maçanetas brilhavam

limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada

brilhava — que nova terra era essa? E por um

instante a vida sadia que levara até agora

pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver.

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O apartamento: um mundo ordenado, limpo

A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver.

2º movimento de volta: o abraço sufocante no filho

Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se trêmula. Porque a vida era periclitante.

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Novas reflexões: piedade ou desejo de vida intensa?

Não havia como fugir. Os dias que ela

forjara haviam-se rompido na crosta e a água

escapava. Estava diante da ostra. E não havia

como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que

já não era mais piedade, não era só piedade: seu

coração se enchera com a pior vontade de viver.

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Síntese das experiências

Cotidiano doméstico: vida serena, mas de meia satisfação. Visão do cego: existência do sofrimento alheio:

Piedade e culpa pela indiferença – atordoamento. Estada no Jardim Botânico:

vida intensa e decomposição – fascínio e nojo.

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3º movimento de volta:

Esforços de recomposição do cotidiano

- Ana vai ajudar a empregada a preparar o almoço.

- Elementos da natureza a perturbam (flores, aranha, formiga, besouros)

Mas a vida arrepiava-a, como um frio.

- Jantar com o parentes – harmonia e felicidade familiar.

E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.

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Sozinha - novo questionamento

- Após a saída dos parentes e recolhimento das crianças,

questionamento diante da janela:

O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico.

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Fim da vertigem da bondade

- Susto com o estouro do fogão: medo de fogo em toda a casa.

- Estranhamento do marido, seguido por afago

Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranquila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.

Acabara-se a vertigem de bondade.

E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.

Referências

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