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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0625.13.010132-6/001

Número do Númeração

0101326-Des.(a) Washington Ferreira Relator:

Des.(a) Washington Ferreira Relator do Acordão:

24/09/2019 Data do Julgamento:

01/10/2019 Data da Publicação:

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO ORDINÁRIA. INDENIZAÇÃO. PRELIMINAR. INÉPCIA DA INICIAL. AFASTAMENTO. MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL REY. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ARTIGO 37, § 6º, DA CR/88. DENÚNCIA DE MAUS TRATOS DE ANIMAIS. BUSCA E APREENSÃO. GUARDA DE ANIMAIS. RESTITUIÇÃO DE PARTE DOS SEMOVENTES. DANOS MATERIAIS DEVIDOS. DANOS MORAIS. NÃO COMPROVAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA

I. Nos termos do artigo 37, § 6º, da CR/88, a responsabilidade das pessoas jurídicas de direito público é objetiva, respondendo pelos danos causados pelos seus agentes.

II. Devidamente demonstrado o nexo de causalidade entre o ato da Administração Pública e a lesão sofrida pelo autor, que teve restituído apenas parte dos seus semoventes que foram apreendidos por suspeita de maus tratos, impõe-se a manutenção da condenação imposta à municipalidade a título de danos materiais.

III. Deixando o autor de provar que sofreu abalo em algum dos atributos da sua personalidade, em função da situação vivenciada, impõe-se a improcedência do pedido de dano moral indenizável.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0625.13.010132-6/001 - COMARCA DE SÃO JOÃO DEL-REI - APELANTE(S): LUIS ARCANJO DA SILVA - 2º APELANTE: MUNICÍPIO SÃO JOÃO DEL REY - APELADO(A)(S): LUIS ARCANJO DA SILVA, MUNICÍPIO SÃO JOÃO DEL REY, LUIZ GONZAGA DE PAIVA A C Ó R D Ã O

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Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AOS RECURSOS.

DES. WASHINGTON FERREIRA RELATOR.

DES. WASHINGTON FERREIRA (RELATOR)

V O T O

Trata-se de recursos de apelação interpostos contra a sentença de f. 252/256, proferida pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da comarca de São João Del Rey/MG, que, nos autos da "Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais" ajuizada por LUIS ARCANJO DA SILVA em face do MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL REY, rejeitou a preliminar de inépcia da inicial e julgou extinto o feito, sem resolução de mérito, em relação à empresa Luiz Gonzaga de Paiva ME, nos termos do art. 485, inciso VI, do CPC.

No mesmo ato sentencial, o ilustre Magistrado julgou parcialmente procedente os pedidos iniciais e condenou o ente municipal ao pagamento de indenização, a título de danos materiais, equivalente a R$ 10.000,00 (dez mil reais), com atualização monetária pela Corregedoria Geral de Justiça, a partir do ajuizamento da ação até o efetivo pagamento, e juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação, nos termos do art. 406 do CC/02 c/c art. 161, §1º, do CTN.

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dos honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85 do CPC.

A parte autora ficou responsável pelo pagamento de 70% (setenta por cento) das custas, das despesas processuais e dos honorários advocatícios, suspensa a exigibilidade face à gratuidade da justiça, ficando a municipalidade responsável pelo pagamento da verba honorária remanescente (30%) aos procuradores do autor.

Em suas razões recursais de f. 258/265, Luís Arcanjo da Silva alega que restou incontroverso nos autos que foram devolvidos apenas 12 dentre as 16 cabeças de gado de sua propriedade apreendidas pelo Município, o que demonstra o nexo causal, devendo a municipalidade arcar com os danos morais suportados, já que a sua renda é proveniente de produtos rurais. Ao final, pugna pelo provimento do recurso, para que seja reformada a sentença, condenando o réu ao pagamento de indenização a título de danos morais. Sem preparo (Art. 98, §3º, do CPC).

Já o Município de São João Del Rey, em seu petitório de f. 267/275, insiste na preliminar de inépcia da inicial, ao argumento de que o autor deveria ter apresentado os documentos necessários à propositura da ação juntamente com a sua inicial. Acresce que a cópia integral dos processos criminais (0109826-72.2012.8.13.0625 e 0115732-43.2012.8.13.0625) em que o autor foi acusado de praticar abusos e maus tratos contra animais não se trata de documento novo, pretendendo, por isso, a extinção do feito, sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, inciso I, do CPC. Prossegue dizendo que a empresa Luiz Gonzaga de Paiva ME, responsável pela apreensão dos animais, deve figurar no polo passivo da ação. Com outras considerações, assegura ser parte ilegítima para figurar na relação processual, "pois não era o responsável pela apreensão, guarda e cuidado dos animais" (f.273), de modo que não pode ser condenado a pagar indenização pelos danos materiais concernentes a 06 cabeças de gado que não foram restituídas ao autor. Sustenta que o autor foi

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negligente em cuidar dos seus animais, inexistindo nos autos comprovação de que foi negligente em fiscalizar a empresa responsável pela apreensão e manutenção de animais. Requer, ao final, o provimento do recurso, para que sejam acolhidas as preliminares e no mérito julgar improcedente o pedido inicial.

Preparo dispensado, diante da isenção legal (Artigo 1.007, § 1º, do CPC de 2015 c/c artigo 10, I, da Lei Estadual nº 14.939/03).

O ente municipal apresentou contrarrazões às f. 277/280.

Desnecessária a manifestação da douta Procuradoria-Geral de Justiça, pois inexiste interesse público na causa que justifique a intervenção ministerial.

É o relatório.

A sentença não está sujeita à remessa necessária, tendo em vista que a condenação imposta ao Município de São João Del Rey, de valor líquido e certo (f. 255), não ultrapassa o montante estabelecido no artigo 496, § 3º, III, do CPC de 2015.

Presentes os pressupostos de admissibilidade estampados no CPC de 2015, conheço dos recursos de apelação.

Aprecio, de início, a preliminar de inépcia da inicial ratificada pelo Município de São João Del Rey em suas razões recursais de f. 267/275. PRELIMINAR: Inépcia da Inicial

Para a municipalidade deve ser reconhecida a inépcia da inicial, já que o autor, em sua inicial, deixou de juntar quaisquer documentos a fim de comprovar os fatos alegados.

De fato, constata-se que o autor deixou de instruir suas alegações, não apresentando, inicialmente, qualquer documento a

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demonstrar o fato constitutivo do seu direito, requisito formal da inicial, nos moldes do art. 319, inciso VI, do CPC.

Ocorre que, a possibilidade de ser sanada eventual irregularidade ou completada petição inaugural está prevista no art. 321 do CPC. E não sendo sanados tais vícios no prazo estabelecido pelo Magistrado, a inicial será indeferida, consoante estabelece a regra contida no art. 330 e seus incisos, da Lei Instrumental Civil.

No caso, apesar de as cópias integrais dos processos criminais (0109826-72.2012.8.13.0625 e 0115732-43.2012.8.13.0625) terem sido requeridas na inicial, mesmo não se tratando de documentos novos, entendo que em prol da celeridade processual e da justa prestação jurisdicional, não se mostra razoável extinguir o processo, sem resolução de mérito, com amparo no art. 485, inciso I, do CPC, pois caberia ao juízo oportunizar a parte autora a emenda da inicial, nos termos do caput, do art. 321 do CPC. Com efeito, em sendo sanável a irregularidade apontada pela municipalidade, mas não havendo a sua intimação, não se mostra possível extinguir o processo, até porque os fatos apresentados no decorrer do processo foram devidamente comprovados.

Rejeito, pois, a preliminar de inépcia da inicial.

PRELIMINAR: Legitimidade passiva da empresa Luiz Gonzaga de Paiva ME

Em suas razões recursais, o Município de São João Del Rey insiste na legitimidade da empresa Luiz Gonzaga de Paiva ME, sob a argumentação de ser ela a responsável pela apreensão de animais, conforme Contrato nº 173/2012 firmado entre eles (Cópia do contrato - f. 63/65).

Razão não lhe assiste.

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pelos supostos danos causados por seus agentes no exercício do múnus público que lhes são afetos, nos termos da responsabilidade civil objetiva, consagrada pela CR/88 (artigo 37, § 6º, da CR/88).

Em casos como o presente, o colendo Supremo Tribunal Federal já sedimentou entendimento segundo o qual deve ser afastada a legitimidade p a s s i v a d o a g e n t e p ú b l i c o o u e m p r e s a p r i v a d a e m a ç õ e s d e responsabilidade civil fundada no art. 37, § 6º, da CR/88, cabendo ao ente público demandado, em ação de regresso, ressarcir-se perante o servidor ou empresa contratada quando esse houver atuado com dolo ou culpa.

Nesse sentido:

Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Responsabilidade civil do estado. Inclusão do agente público no polo passivo da demanda. Impossibilidade. Ilegitimidade passiva. Precedentes. 1. A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de não reconhecer a legitimidade passiva do agente público em ações de responsabilidade civil fundadas no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, devendo o ente público demandado, em ação de regresso, ressarcir-se perante o servidor quando esse houver atuado com dolo ou culpa. 2. Agravo regimental não provido. (STF - SEGUNDA TURMA - ARE nº 908.331/RS - Relator: Ministro DIAS TOFFOLI. j. 15/03/2016) - (destaque)

DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. AGENTE PÚBLICO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. 1. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 327.904, sob a relatoria do Ministro Ayres Britto, assentou o entendimento no sentido de que somente as pessoas jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF

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PRIMEIRA TURMA - RE Nº 593.525/DF - Relator: Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO. j. 09/08/2016) - (destaque)

A questão vem sendo decidida até mesmo monocraticamente no âmbito da Suprema Corte, a exemplo do seguinte julgado: ARE nº 753.134 AgR/MG (Relator: Min. DIAS TOFFOLI. j. 14/04/2016).

Nesse sentido me manifestei, enquanto Relator, na ocasião do julgamento do Agravo de Instrumento nº 1.0515.17.001052-1/001, ocorrido em 03/05/2018.

Rejeito, assim, a preliminar.

A ilegitimidade do Município de São João Del Rey pelos apontados danos sofridos pelo autor, da forma em que foi suscitada nas razões recursais, confunde-se com o próprio mérito e como tal será analisada. Sem outras preliminares e prejudiciais, passo ao julgamento conjunto do mérito recursal das duas apelações diante da similitude das questões abordadas pelos litigantes.

MÉRITO

Consta dos autos que Luís Arcanjo da Silva ajuizou a presente ação em face do Município de São João Del Rey, pretendendo, em síntese, a condenação do ente municipal ao pagamento de indenização pelos danos materiais e morais decorrentes do recolhimento de seus 18 animais (bois, vacas e bezerros).

Segundo a narrativa inicial, no dia 22 de outubro de 2012, o autor foi denunciado por supostos maus tratos aos seus animais, tendo o ente municipal providenciado a busca e apreensão de 18 "cabeças de gados", que foram encaminhadas para a Fazenda Santo Antônio. Noticia que mediante uma ordem judicial, foi determinado que os animais fossem devolvidos em razão da constatação de que

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não sofriam maus tratos, mas apenas 12 animais retornaram aos seus cuidados. Assegura ser pequeno produtor rural, que a sua sobrevivência sempre foi proveniente da pecuária, o que lhe causou sérios prejuízos. Pretende, por isso, a condenação da municipalidade ao pagamento de indenização no valor de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais) a título de danos morais e materiais.

Com a inicial foram anexados somente a procuração, a declaração de hipossuficiência e a cópia da Carteira de Identidade do autor (f.10/12). Os pedidos iniciais foram contestados pela municipalidade (f. 20/30), oportunidade, em que foi suscitada preliminar de inépcia a inicial, sendo impugnada, posteriormente, a peça contestatória (f. 194).

Intimadas as partes para especificação de provas (f. 195), foi deferida a produção de prova testemunhal (f. 200).

Realizada audiência de instrução e julgamento (f. 216) foram inquiridas duas testemunhas (f. 217/218).

Alegações finais apresentadas às f. 220/225 e às f. 229/232.

Ao final, o MM. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de São João Del Rey julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, condenando o Município ao pagamento de indenização, a título de danos materiais, arbitrada em quantia equivalente a R$ 10.000,00 (dez mil reais) -(f. 252/256).

É essa, portanto, a sentença. Pois bem.

Segundo o colendo STF, a Teoria do Risco Administrativo revela-se fundamento de ordem doutrinária subjacente à norma de

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direito positivo que instituiu, em nosso sistema jurídico, a responsabilidade civil objetiva do Poder Público, pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, por ação ou por omissão.

A referida concepção teórica - que informa o princípio constitucional da responsabilidade civil objetiva do Poder Público, tanto no que se refere à ação quanto no que concerne à omissão do agente público - faz emergir, da mera ocorrência de lesão causada à vítima pelo Estado, o dever de indenizá-la pelo dano moral e/ou patrimonial sofrido, independentemente de caracterização de culpa dos agentes estatais, não importando que se trate de comportamento positivo (ação) ou que se cuide de conduta negativa (omissão) daqueles investidos da representação do Estado.

Nesse sentido:

ATO DE REGISTRO DE COMÉRCIO - JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO JUCERJA (AUTARQUIA ESTADUAL) RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO (CF, ART. 37, § 6º) -CONFIGURAÇÃO - TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO - DOUTRINA E PRECEDENTES EM TEMA DE RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO - RECONHECIMENTO, PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL, DE QUE SE CUIDA DE RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA -ACÓRDÃO RECORRIDO QUE DIVERGE DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - REMESSA DOS AUTOS À ORIGEM PARA QUE REAPRECIE A CAUSA - AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. (STF - SEGUNDA TURMA - ARE nº 1.046.474 AgR/RJ - Relator: Ministro CELSO DE MELLO. j. 25/08/2017. Processo Eletrônico DJe-206. Divulgação 11/09/2017. Publicação 12/09/2017)

Assim, para que haja a responsabilidade estatal basta que a vítima comprove o dano sofrido, o ato da Administração e o nexo de causalidade entre a conduta e a lesão.

É o que dispõe o artigo 37, § 6º, da Constituição da República de 1988:

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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

[...]

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

[...]

Com efeito, a responsabilidade civil da municipalidade, na hipótese em tela, é objetiva.

Nesse sentido:

DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO CPC/1973. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. REPARAÇÃO DE DANOS. AGENTE PÚBLICO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA DO SUPREMO TRIBUNAL F E D E R A L . R E C U R S O E X T R A O R D I N Á R I O Q U E N Ã O M E R E C E TRÂNSITO. REELABORAÇÃO DA MOLDURA FÁTICA. PROCEDIMENTO VEDADO NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. AGRAVO MANEJADO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/2015. 1. O entendimento da Corte de origem, nos moldes do assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência firmada no Supremo Tribunal Federal. Esta Suprema Corte firmou o entendimento de que "somente as pessoas jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns". Precedentes: RE 228.977,

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Turma; 327.904, Rel. Min. Ayres Britto, 1ª Turma; RE 470.996-AGR, Rel. Min. Eros Grau, 2ª Turma; RE 344.133, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma; RE 593.525-AgR-segundo, Rel. Min. Roberto Barroso, 1ª Turma; ARE 939.966-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, 2ª Turma. 2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. 3. Agravo regimental conhecido e não provido. (STF - PRIMEIRA TURMA - ARE nº 991.086 AgR/MG - Relatora: Ministra ROSA WEBER. j. 06/03/2018) - (destaque)

Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Acidente de trânsito. Rodovia pedagiada. Concessionária de serviço público. Responsabilidade objetiva. Possibilidade. Elementos da responsabilidade c i v i l d e m o n s t r a d o s n a o r i g e m . D e v e r d e i n d e n i z a r . L e g i s l a ç ã o i n f r a c o n s t i t u c i o n a l . O f e n s a r e f l e x a . F a t o s e p r o v a s . R e e x a m e . Impossibilidade. Precedentes. 1. A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que as pessoas jurídicas de direito público e as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público respondem objetivamente pelos danos que causarem a terceiros, com fundamento no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, tanto por atos comissivos quanto por atos omissivos, em situações como a ora em exame, desde que demonstrado o nexo causal entre o dano e a omissão. 2. Inadmissível, em recurso extraordinário, a análise de legislação infraconstitucional e o reexame do conjunto fático-probatório da causa. Incidência das Súmulas nºs 636 e 279/STF. 3. Agravo regimental não provido. 4. Inaplicável o art. 85, § 11, do CPC, tendo em vista que, na origem, os honorários advocatícios já foram fixados no limite máximo previsto no § 2º do mesmo artigo. (STF - SEGUNDA TURMA - ARE nº 951.552 AgR/ES Relator: Ministro DIAS TOFFOLI. j. 02/08/2016) -(destaque)

Para a doutrina mais moderna, a atividade administrativa a que se refere o dispositivo constitucional mencionado alhures engloba não apenas a conduta comissiva do ente federativo, mas, também, a omissiva, a desbordar a verificação da culpa por parte de seus agentes públicos.

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A propósito, JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO, ao dissertar sobre o nexo de causalidade, explica ser fator fundamental para atribuição de responsabilidade civil ao ente público:

O exame supérfluo e apressado de fatos causadores de danos a indivíduos tem levado alguns intérpretes à equivocada conclusão de responsabilidade civil do Estado. Para que se tenha uma análise absolutamente consentânea com o mandamento constitucional, é necessário que se verifique se realmente houve um fato administrativo (ou seja, um fato imputável à Administração), o dano da vítima e a certeza de que o dano proveio efetivamente daquele fato. Essa é a razão por que estudiosos têm consignado, com inteira dose de acerto, que "a responsabilidade objetiva fixada pelo texto constitucional exige, como requisito para que o Estado responda pelo dano que lhe for imputado, a fixação do nexo causal entre o dano produzido e a atividade funcional desempenhada pelo agente estatal" (In Manual de Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2012, pp. 554/555)

A omissão do Estado exige nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos em que o Poder Público sustenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o resultado danoso.

Ressalve-se que o Estado poderá se eximir, no todo e em parte, da responsabilidade que eventualmente lhe seja atribuída. Para tanto, deve demonstrar a ocorrência de caso fortuito, força maior, culpa exclusiva ou concorrente da vítima.

Por tais razões, a adoção da responsabilidade objetiva pela Constituição da República não leva ao entendimento de que o ente público é obrigado a indenizar todo e qualquer dano, cabendo a quem afirmar ter sido lesado demonstrar a ocorrência dos fatos constitutivos do seu direito (Artigo 373, I, do CPC de 2015), quais sejam, o dano efetivo e o nexo de causalidade.

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Juiz Monocrático, entendo que restou devidamente comprovada a responsabilidade do Município de São João Del Rey pelos danos materiais experimentados pelo autor.

Isso porque, diferentemente das alegações trazidas pelo Município, tenho como demonstrado o nexo de causalidade entre o ato da Administração Pública e a lesão sofrida pelo autor, que teve apreendido 18 animais no dia 22/10/2012, de sua propriedade, por suposta denúncia de maus tratos, mas foram devolvidos apenas 12 animais (Mandado de Busca e Apreensão - f. 48 e BO - f. 53/57).

Os documentos juntados aos autos evidenciam que a empresa contratada pela municipalidade - Luiz Gonzaga de Paiva ME - ficou responsável pelo depósito de 18 animais (machos, fêmeas e bezerros), com custo pela manutenção e apreensão, tendo o gado sido encaminhado para a Fazenda Santo Antônio, no Município de São João Del Rey (Contrato de Prestação de Serviços de Apreensão de Animais - f. 63/65 e Termo de Depositário - f. 49).

Pelo Termo de Vistoria do Instituto Mineiro de Agropecuária / IMA, constata-se que os animais estavam "bastante debilitados e magros e infestados de carrapatos" (f. 58), havendo declaração, na data de 07/11/2012, no sentido de que dos 18 animais, 01 havia morrido, mas com melhora dos demais (Declaração do Oficial de Justiça Avaliador - f. 88). Embora não haja prova segura do que realmente tenha ocorrido com os 06 (seis) animais faltantes de propriedade do autor, o responsável pela empresa Luiz Gonzaga de Paiva ME, na data de 09/09/2013 - Sr. Luiz Gonzaga de Paiva -, informou, nos autos da ação criminal (0625.12.012896-6), que "durante oito meses alguns animais vieram a falecer, restando alguns que já foram devolvidos a Luiz Arcanjo da Silva" (f. 141), afirmativa inclusive reforçada pela oitiva testemunhal (f. 217/218).

Portanto, em que pese ter restado incontroverso que os animais de propriedade do autor estavam debilitados quando foram

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apreendidos e removidos ao local indicado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (f.47), os elementos dos autos evidenciam que dos 18 animais somente 12 foram devolvidos ao autor, mesmo havendo informação no sentido de que "os animais já melhoraram depois que chegaram na fazenda" (f. 88).

Logo, o nexo de causalidade entre o dano e a atividade estatal restou devidamente comprovado, deixando a municipalidade, por outro lado, de comprovar a real responsabilidade do autor pela perda dos 06 animais, não se sabendo ao certo se eles faleceram.

Não me afastando do fato de o autor ser responsável pelo quadro de debilidade em que os animais foram encontrados, entendo que o Município deveria restituir a totalidade dos animais diante da informação de que eles estavam se recuperando na Fazenda Santo Antônio, sob a responsabilidade da empresa contratada pelo ente municipal.

São inúmeras informações nos autos que comprovam que os animais não foram restituídos em sua totalidade, mesmo após a vistoria realizada pelo IMA, que concluiu que as pastagens do sítio do autor estavam recuperadas e aptas para o recebimento dos animais (f.99). Em sendo assim, o fato que levaram à apreensão do gado não é motivo apto a afastar o nexo de causalidade e os danos suportados pelo autor.

Nesse cenário, atento à responsabilidade objetiva que dita os contornos da hipótese em apreço, mantenho a condenação do Município de São João Del Rey pela perda dos 06 animais que não foram devolvidos ao autor.

O Município de São João Del Rey, a despeito da responsabilidade objetiva retratada no artigo 37, § 6º, da CR/88, deixou de demonstrar qualquer hipótese de caso fortuito, força maior, culpa exclusiva ou concorrente da vítima (artigo 373, II, do CPC de 2015) que eventualmente pudesse afastar a pretensão ao ressarcimento.

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Em relação aos danos morais alegados pelo autor, embora seja de conhecimento que pequenos produtores rurais sobrevivam da produção leiteira, após detida análise dos autos não ficou demonstrado, de forma cabal, que o autor detinha alguma renda proveniente do gado apreendido e que tenha sofrido abalo decorrente da ausência integral dos seus animais, a fim de comprovar fato constitutivo de seu direito (art. 373, inciso I, do CPC). As alegações do autor, na verdade, caminham para eventual indenização por lucros cessantes e não por danos morais.

No caso, o autor, primeiro apelante, não comprovou que tivesse tido abalo em algum dos atributos da sua personalidade, em função da situação vivenciada, o que não é capaz de geral dano moral indenizável, salvo em situações excepcionais. Mantenho, assim, a improcedência do pedido quanto aos danos morais.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AOS RECURSOS.

Diante do trabalho adicional realizado em grau recursal, condeno os apelantes ao pagamento de honorários recursais, majorando a verba fixada na instância de origem em 5% (cinco por cento), nos termos do artigo 85, § 11, do CPC de 2015.

Custas recursais pelos apelantes, observado o disposto no art. 98, §3º, do CPC e o art. 10, inciso I, da Lei Estadual nº 14.939/03.

É como voto.

DES. GERALDO AUGUSTO - De acordo com o(a) Relator(a). DES. EDGARD PENNA AMORIM - De acordo com o(a) Relator(a).

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