A importância dos Processos Emocionais e das
Necessidades Psicológicas em Psicoterapia:
Um Estudo de Caso
Tiago A. G. Fonseca
Ana Carla Nunes
Ana Nunes da Silva
XXII Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia Peniche – 21 de Março de 2015
1.
Emoções
1.
É a resposta fisiológica instintiva que temos em diversas situações de
vida.
Sem as emoções as pessoas não percebem o significado dos
acontecimentos.
A emoção motiva a agir.
Tristeza, raiva, surpresa, medo, nojo, desprezo e alegria constituem o
Emoções
a.
Os processos emocionais não se resumem apenas à reacção fisiológica do
organismo a um estímulo.
A percepção (interna/externa), o simbolismo/ pensamento, a motivação
(plano de acção, desejos, necessidades) e o somático/expressivo motor,
constituem a síntese emocional ou emoção.
Percepção Simbolismo
Pensamento Somático Motivação
Processamento Emocional
a.
Activação fisiológica imediata + Processamento cognitivo e emocional subliminar Activação Emocional/ Consciência Emocional Atribuição de um significado ao acontecimento (Simbolização) Diferenciação Emocional
Resposta Emocional – estratégias e
comportamentos a desenvolver Regulação Emocional Estimulo emocionalmente
relevante (interno ou externo)
Expressão Emocional
Emoções
a.
Todos estes componentes emocionais evoluem no sentido de uma maior
complexidade e integração entre eles, à medida que o indivíduo lida com
os desafios do desenvolvimento (Barrett, 2006).
Dificuldades a esse nível podem dificultar a adaptação do indivíduo ao
Emoções
a.
É extremamente importante estarmos em contacto com as
nossas emoções, porque estas sinalizam necessidades que
podem não estar satisfeitas, permitindo uma maior consciência
do
self
. As emoções são guias e têm um papel nas tomadas de
decisão.
O valor das Emoções
b.
Sem emoções teríamos uma vida vazia.
Se não sentíssemos amor quando vimos os nossos filhos; ou tristeza quando
perdemos algo/alguém que gostamos.
Ou embaraço quando trocamos o nome de um colega…
Como nos guiaríamos o nosso dia-a-dia? O que nos motivava?
Como seria percepcionado o mundo à nossa volta?
O valor das Emoções
b.
O desconforto emocional dá-nos informação.
Sinaliza que algo não está bem. Estão-nos ou estamo-nos a privar de
algo.
Emoções como reflexo das nossas necessidades.
Exemplo: trabalho de grupo.
O Modelo Modal
c.
3 Aspectos importantes nas emoções
O que origina emoções;
O que compõem uma emoção;
A maleabilidade da emoções;
O Modelo Modal
c.
O que origina emoções
As emoções surgem quando um indivíduo assiste a uma situação e entende-a como
sendo relevante para os seus objectivos.
Esses objectivos podem ter uma base biológica - expelir uma substância nociva ou
cultural - homenagear os anciãos.
Qualquer que seja o objectivo, e qualquer que seja o significado da situação para o
indivíduo, é este significado em relação à meta/objectivo que dá origem à emoção. Se o objectivo ou o significado da situação mudar ao longo do tempo, a emoção também vai mudar.
O Modelo Modal
c.
O que compõem uma emoção
As Emoções são fenómenos multifacetados, que envolvem
alterações nos domínios da experiência subjetiva, comportamento e fisiologia (Mauss, Levenson, McCarter, Wilhelm, & Gross, 2005).
O aspecto experiencial da emoção refere-se ao que se sente
na primeira pessoa enquanto uma emoção se desenrola.
O aspecto comportamental refere-se ao facto de que as emoções muitas vezes
aumentam ou diminuem a probabilidade de fazermos algo (por exemplo, abordar os outros ou explodir em lágrimas).
O Modelo Modal
c.
O aspecto fisiológico refere-se ao facto dos impulsos para agir de determinada
forma (e não agir de outras) estarem associados a alterações autonômicas e neuroendócrinas que tanto antecipam as respostas comportamentais associados (fornecendo suporte metabólico para a acção) como as acompanham, muitas vezes como consequência da atividade motora associada à resposta emocional.
Contudo ainda não é claro que factores contextuais e pessoais moderam o nível de
O Modelo Modal
c.
A maleabilidade das emoções
Frequentemente as emoções interrompem o que estamos a fazer o que nos leva a
pensar, sentir e comportar de forma diferente.
No entanto, as emoções competem com outras respostas geradas pelos nossos
objectivos nas situações em que nos encontramos, não se sobrepondo automaticamente a outras respostas possíveis.
Isto significa que as emoções possam ser, e muitas vezes são, modificadas à
O Modelo Modal
c.
A maleabilidade da emoção tem sido enfatizada desde William James (1884), que
descreveu as emoções como tendências de resposta que podem ser moduladas de inúmeras maneiras.
É este terceiro aspecto da emoção que constitui a base para a nossa
O Modelo Modal
c.
De acordo com este modelo as emoções surgem no contexto de uma
transação situação-pessoa que força atenção, tem um significado
particular para o indivíduo, e dá origem a uma resposta multi-sistema
coordenada, ainda que maleável, para o curso da transação
pessoa-situação.
O Modelo Modal
c.
Estes 3 aspectos são enfatizados em várias teorias das emoção:
- Ekman (1972)
- Fridja (1986)
- Lazarus (1991)
Assim, estes aspectos constituem aquilo que Gross chamou de Modelo
Situação – Atenção –
Appraisal – Resposta
O Modelo Modal
c.
Regulação Emocional
d.
Um dos aspectos descritos como diferenciador ao nível da personalidade
– a capacidade de regulação emocional.
A regulação emocional tem sido foco de estudo ao nível das defesas
psicológicas (Freud, 1926/1959), do stress e coping (Lazarus, 1966), do
atachment (Bowlby, 1969), e na auto-regulação (Mischel, Shoda, &
Rodriguez, 1989).
Regulação Emocional
d.
A regulação emocional pode ser definida como as formas como os indivíduos
influenciam que emoções têm, quando tê-las, e como eles as vivenciam ou as
expressam.
Gross (1998)
Os indivíduos apresentam diferenças na forma como regulam as suas emoções,
por influência da atenção que dão a diferentes situações, da avaliação que
fazem das situação, e das diferentes respostas emocionais que isso origina.
Regulação Emocional
d.
Gratz e Roemer (2004)
6 processos - 6 subescalas associadas a dificuldades na regulação
emocional:
Não aceitação das respostas emocionais;
Dificuldade em ter um comportamento dirigido para objectivos;
Dificuldade no controle de impulsos;
Baixa Consciência Emocional;
Acesso limitado a Estratégias de regulação emocional
Baixa clareza emocional;
2.
Modelo de Complementaridade
Paradigmática:
Modelo de Complementaridade Paradigmática
a.
Estímulos
(Externos/Internos)
Emocional
Sistema
Self
Agência Motivacional Regulação da Satisfação das Necessidades Psicológicas Bem-estar Psicológico
Modelo de Complementaridade
Paradigmática
Modelo de Complementaridade Paradigmática
a.
Modelo de adaptação do indivíduo, com base na tradição integrativa de psicoterapia, que postula o bem-estar psicológico como resultado da regulação da satisfação das
necessidades psicológicas vitais (Vasco, 2009a, 2009b).
As emoções são sinalizadores do processo regulatório da satisfação das necessidades psicológicas no Self (Vasco & Vaz-Velho, 2010).
A satisfação das necessidades psicológicas nunca é total, estando o seu grau de satisfação
associado a um processo contínuo de negociação e balanceamento das polaridades
Necessidades Psicológicas
b.
Necessidades Psicológicas
b.
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
c.
O desejo dos indivíduos em influenciar o seu próprio meio é universal (Langer & Rodin ,1976), sendo
uma necessidade básica do ser humano (Langer, 1983, citado por Lima, 2008).
Comportamento/Motivação
Agência Pessoal
Agência
Proxy InterpessoalAgência
Controlo Controlo/
Cedência Cedência
Bandura (e.g. 1986)
Smith, Kohn, Savage-Stevens, Finch, Ingate e Lim (2000)
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
c.
Controlo (Fonseca & Vasco, 2011)
A necessidade psicológica de Controlo de um indivíduo é assim definida como a procura de
controlo de forma adaptativa, permitindo realizar uma avaliação realista do que pode e deve controlar, seja no próprio, nos outros ou no meio. Permite também estabelecer objectivos e definir como os atingir, capacitando a acção adequada às situações,
escolhendo os comportamentos indicados para promover a adaptação. Contribui para a
sensação de bem-estar, consigo e com os outros, mediante a percepção de controlo
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
c.
Modelos: Locus de Controlo (Rotter, 1966); Atribuição Causal (Weiner, Niernberg & Goldstein, 1976); Percepção de Eficácia (Bandura, 1977); Controlo Secundário (Rothbaum, Weisz & Snyder, 1982,
citado por Lima, 2008).
Influências: Coping (Lazarus, 1963; Lazarus & Folkman, 1984); Comportamento (Bandura, 2001); Motivação (e.g. Deci & Ryan, 2000; Lazarus, 1963).
Importância: Ao longo de todo o desenvolvimento humano (Skinner, 1996); Adaptação central
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
c.
Cooperação / Cedência (Fonseca & Vasco, 2011)
A necessidade psicológica de Cedência de um indivíduo é assim definida pela capacidade
de ceder o seu controlo pessoal ou do meio, na aceitação da cooperação e colaboração
com os outros para a obtenção de objectivos comuns a um colectivo, também importantes para o próprio. Assim, existe partilha de controlo com outros indivíduos, colaborando em tarefas específicas e acordadas. Contribui para a sensação de bem-estar, consigo e com os outros, num sentimento partilhado de pertença a um colectivo cooperante.
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
c.
Eficácia Colectiva
(Bandura, 1986)
Agência Interpessoal (Smith et al., 2000)
Cooperação/
Cedência
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
c.
Teorias de Necessidades Psicológicas
e.g. Deci e Ryan (2000), Sheldon, Elliot, Kim e Kasser (2001), Maslow (1943), Costanza e colaboradores (2007), Costanza e colaboradores (2008), e Staub e Pearlman (2002, citado por Litwack, 2007);
Desenvolvimento Humano: Teoria Psicossocial do Desenvolvimento (Erikson, 1950); Esquemas: Funcionamento Disfuncional/Não-adaptativo (Young, Klosko, & Weishaar, 2008);
Psicopatologia
Vinculação Desorganizada/Ambivalente/Insegura (e.g. Guedeney, 2004), Perturbações do Comportamento Alimentar (Sampaio, 2005), Perturbação Depressiva Major (Costa & Maltez, 2005), Perturbação de Personalidade
Obsessivo-Compulsiva (APA, 2002), Perturbação de Personalidade Narcísica (Beck, Freeman, & Davis, 2010), Perturbação de Personalidade Dependente (APA, 2002), Perturbação de Ansiedade (Wolfe, 2005), e Perturbação de Pânico (Magalhães &
Loureiro, 2005);
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
c.
Algumas Conclusões (Fonseca & Vasco, 2011)
Maiores níveis de Controlo/Cedência estão associados a maiores níveis de Bem-Estar Psicológico e a
menores níveis de Distress Psicológico;
Menores níveis de Controlo/Cedência estão associados a menores níveis de Bem-Estar Psicológico e
NP Dialéctica: Controlo / Cooperação-Cedência
c.
Algumas Conclusões (Fonseca & Vasco, 2011)
Indivíduos com níveis mais elevados simultaneamente em Controlo e Cedência experienciam maior
Bem-Estar Psicológico e menor Distress Psicológico, comparativamente com indivíduos com níveis mais baixos em ambas e com indivíduos com níveis mais elevados em apenas uma delas;
Valores significativos quando varia o polo de controlo - a Cedência mostra ser importante, em
Dialéctica das Necessidades Psicológicas
d.
3.
Caso Clínico:
Caso Clínico
a.
Homem, de 21 anos, estudante de música;
Queixa: dores de cabeça constantes, com diferentes graus de intensidades, não explicadas
por nenhum factor fisiológico (oftalmologia, neurologia, sono, co-morbilidades despistadas);
Final de relação amorosa de 2anos (abandono/perda);
Realização de uma tese de final de curso que adiava sistematicamente – ligada a dificuldades em estabelecer objectivos e cumprir as tarefas diárias;
Caso Clínico
a.
Dores de cabeça Predominantemente Racional Sonolência Dores de costas Estilo relacional Evitante Comportamentos de Procrastinação Apatia Tristeza Medo Dificuldades de concentração Auto conceito e auto estima debilitados*terapêutica medicamentosa simultânea à psicoterapia (anti depressivos)
Caso Clínico
a.
Flexibilidade --- Rigidez Emocional --- Racional Esquemas de Perfecionismo (Controlo - Cooperação/cedência Produtividade - Lazer)Caso Clínico: ERSN (Vasco et al., 2011/2012)
b.
Caso Clínico: ERSN (Vasco et al., 2011/2012)
b.
Caso Clínico: ERSN (Vasco et al., 2011/2012)
b.
Caso Clínico: ERSN (Vasco et al., 2011/2012)
b.
Caso Clínico: Conclusões
c.
- Grande parte do trabalho clínico consistiu em ligar os “pólos opostos” (cabeça coração) e trabalhar a regulação da satisfação das necessidades psicológicas que estavam em maior desequilíbrio (produtividade-lazer; coerência-incoerência do self).
- A regulação das emoções está profundamente ligada à satisfação das necessidades psicológicas.