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AÇÕES PERTINENTES À COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA EM PERNAMBUCO

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Academic year: 2021

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AÇÕES PERTINENTES À COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA EM PERNAMBUCO

Simone Rosa da Silva1 e Sandra Ferraz de Sá Wanderley2

Resumo – Neste trabalho são registrados os estudos e medidas realizadas sobre a cobrança pelo uso da água em Pernambuco, apesar da mesma não ter sido ainda implantada no Estado. Enfatiza-se o caso da bacia do rio Pirapama, por encontrar-se em estágio mais avançado no gerenciamento dos recursos hídricos em Pernambuco, sendo a única que possui um estudo específico de tarifa para cobrança pelo uso da água. Conclui-se, enfocando os aspectos que dificultam e as medidas necessárias à implementação da cobrança pelo uso da água no Estado.

Abstract – This paper registers the studies and the made actions about the charging of water use in Pernambuco, in spite of the charging had not been implemented in the State yet. It emphasizes the case of Pirapama watershed, that is in high level of water resources management in Pernambuco, being the only one that has a specific study of charging of water use. At the end are detailed the aspects that make difficult and the necessary actions for the implementation of charging of water use in State.

Palavras-chave – tarifa, cobrança pelo uso da água, gerenciamento de recursos hídricos

1 Engenheira civil, Secretaria de Recursos Hídricos de Pernambuco, Gerente da Divisão de Outorga e Vistoria.

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ASPECTOS LEGAIS

A Lei nº 9.433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, prevê a cobrança pelo uso de recursos hídricos. Entre outros aspectos, determina que: são passíveis de cobrança todos os usos de recursos hídricos sujeitos à outorga, porém na fixação dos valores a serem cobrados deve ser observado o volume efetivamente retirado. Acrescenta ainda que, cabe aos Comitês de Bacias Hidrográficas estabelecer os mecanismos de cobrança, e sugerirem os valores a serem cobrados ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CRH, no âmbito de suas competências.

Em Pernambuco existe uma legislação mais detalhada sobre o assunto, constando da Lei nº 11.426, de 17 de Janeiro de 1997 - “Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, institui o

Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos e dá outras providências”, e a Lei nº 11.427,

de 17 de janeiro de 1997 - “Dispõe sobre a conservação e a proteção das águas subterrâneas no Estado

de Pernambuco e dá outras providências”, regulamentadas pelos Decretos nos 20.269/97 e 20.423/98,

respectivamente.

A referida legislação estadual estabelece que, com o objetivo de racionalizar o uso dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos será implantada a cobrança pelo uso ou derivação, observados os seguintes aspectos: a classe em que for enquadrado o corpo d’água onde se localiza o uso ou derivação, a disponibilidade hídrica local, o grau de regularização assegurado por obras hidráulicas, a vazão captada e seu regime de variação e o consumo efetivo e a finalidade a que se destina. A cobrança pela diluição, transporte e assimilação de efluentes deverá considerar: a classe de uso em que for enquadrado o corpo d’água receptor, o grau de regularização assegurado por obras hidráulicas, a carga lançada e seu regime de variação.

É sabido que a competência para efetuar tal cobrança é do órgão gestor, porém, de acordo com o disposto na legislação ora em análise, os Comitês de Bacias Hidrográficas – COBH´s poderão fazê-la através de sua Secretaria Executiva, mediante delegação do poder outorgante.

Os recursos provenientes da cobrança pelo uso serão destinados ao Fundo Estadual de Recursos Hídricos e deverão ser aplicados, prioritariamente, na região ou bacia hidrográfica em que forem arrecadados, podendo ser aplicado até 50% deste valor em outras bacias, mediante aprovação do respectivo COBH. O Decreto no 20.423/98, estabelece que os recursos arrecadados com a cobrança pelo uso da água subterrânea serão destinados para investimento no Programa Permanente de Conservação e Preservação das Águas Subterrâneas.

Por fim, verifica-se que a implantação da cobrança pelo uso da água deverá ser realizada de forma gradativa no Estado, devendo ser observadas as seguintes fases:

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- implantação do sistema de outorga;

- cadastramento de usuários e regularização das outorgas;

- articulação com a União e estados vizinhos para bacias hidrográficas de rios de domínio federal e aqüíferos interestaduais.

Em relação ao domínio das águas, a maioria dos cursos d´água situados no território de Pernambuco é de domínio estadual. A rede hidrográfica é composta por bacias que drenam para o rio São Francisco ou escoam para o Oceano Atlântico. Quase todas as sub-bacias do rio São Francisco (Pontal, Garças, Brígida, Terra Nova, Pajeú, Moxotó e Grupos de bacias de pequenos rios interiores) têm nascente e foz dentro do Estado, com exceção da bacia do rio Ipanema que vem deasaguar no rio São Francisco, já no estado de Alagoas. Das bacias litorâneas, temos a bacia do rio Mundaú e a GI-1 que também cortam o estado de Alagoas, além do rio Jacuípe que em parte de sua extensão serve de limite aos estados de Pernambuco e Alagoas.

PRIMEIRAS MEDIDAS PARA IMPLANTAÇÃO DA COBRANÇA

O ano de 1998 foi o marco inicial para a tomada de medidas relacionadas à cobrança pelo uso da água em Pernambuco. A primeira etapa, ocorrida em julho de 1998, foi a implantação do sistema de outorga, de fundamental importância conforme exposto, a que estão sujeitas as águas de domínio do Estado, para captações e derivações de águas superficiais e subterrâneas e construção de obras hidráulicas. A outorga para lançamento de efluentes ainda não foi instituída, pois as águas interiores situadas em Pernambuco foram classificadas em conformidade com a Portaria GM nº 13 do Ministério do Interior. É necessário que seja feito o reenquadramento dos corpos d´água do Estado, adequando-se aos princípios da Resolução CONAMA nº20/86, a fim de atender as orientações da Política Nacional do Meio Ambiente, uma vez que a cobrança considerará a classe de uso que for enquadrado o corpo d´água.

Neste mesmo ano foi realizado, pelo consultor Paulo Canedo de Magalhães, o primeiro estudo de cobrança pelo uso da água para o Estado. Este trabalho defende a tese de que o melhor procedimento para Pernambuco é implantar imediatamente a cobrança, através de uma tarifa inicial, que permita consolidar minimamente o processo de gestão dos recursos hídricos, mesmo que não traduza o real valor econômico da água. Nos primeiros anos, a receita proveniente da cobrança seria utilizada para financiar a gestão dos recursos hídricos até que fosse possível realizar um completo estudo tarifário, de acordo com o plano de investimentos de longo prazo, para o setor de recursos hídricos. Assim, somente após o conhecimento dos reais impactos financeiros da cobrança sobre os diversos tipos de usuários e suas atividades produtivas, bem como dos reais impactos da gestão dos

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recursos hídricos na solução dos principais conflitos, seria recomendável empenhar esforços em uma revisão tarifária. A proposta foi apresentada na forma de tarifa progressiva para diversos usos, relacionados na tabela 1. Foi considerado que águas superficiais e subterrâneas teriam a mesma tarifa, da mesma forma que as captações ou consumo para diluição de efluentes.

Tabela 1 – Tarifas para cobrança pela água bruta propostas para Pernambuco em R$/m3 Período Saneamento Industrial Agricultura Outros

até o final de 1998 0,010 0,010 0 0 até o final de 1999 0,010 0,010 0,001 0,010 até o final de 2000 0,015 0,100 0,002 0,015 até o final de 2001 0,015 0,200 0,003 0,020 até o final de 2002 0,020 0,400 0,004 0,025 até o final de 2003 0,025 0,600 0,005 0,030

FONTE: Canedo de Magalhães, 1998.

Com base no mencionado estudo e considerando a implantação da cobrança como uma exigência pelos organismos internacionais para conceder financiamentos na área, foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos a cobrança pelo uso da água, em dezembro de 1998, para os seguintes usos:

- o setor de saneamento no valor de R$ 0,01 por metro cúbico, a vigorar a partir de 01/01/99;

- o setor industrial, a vigorar a partir de 01/07/99, com valor estabelecido em estudos a serem desenvolvidos no primeiro semestre de 1999.

O consumo total de água bruta para abastecimento urbano em Pernambuco em 1998, conforme consta no Plano Estadual de Recursos Hídricos, é de 424,588 x 106 m3/ano, contabilizando as retiradas de todos os mananciais. Considerando que, desse valor total 28.041.510 m3 corresponde ao consumo de algumas localidades que são atendidas por captações do rio São Francisco, de domínio federal, cuja cobrança cabe à União, temos um consumo de 424,559 x 106 m3/ano. Aplicando a tarifa prevista de R$ 0,01/m3, obtém-se uma estimativa da receita anual que seria arrecadada com a cobrança para o setor de saneamento no valor de R$ 4.245.599,60.

Ocorre, que no ano de 1998 encerrava-se um período administrativo no Governo do Estado e no início de 1999 novos governantes assumiram o comando, promovendo mudanças na estrutura administrativa, inclusive com a criação da Secretaria de Recursos Hídricos, que é o atual órgão gestor de recursos hídricos do Estado, antiga atribuição da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, através de sua Diretoria de Recursos Hídricos. Entendeu-se que, naquele momento de transição, não era estratégico para os novos administradores iniciar a cobrança pelo uso da água, e a

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mesma não foi colocada em prática até hoje, para o setor de saneamento, nem foram realizados os estudos para definição de uma tarifa para o setor industrial como estava previsto.

AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

No período 1998/99 ocorreu uma severa estiagem no Nordeste do Brasil, atingindo também a Região Metropolitana do Recife, submetendo a população a um racionamento de água em proporções jamais vistas nessa área. Fato este, que provocou uma verdadeira corrida à perfuração de poços em diversos locais do Estado, pequenas bacias sedimentares do interior e, especialmente, em áreas da Região Metropolitana do Recife, que não eram atendidas satisfatoriamente pela Companhia Pernambucana de Saneamento - COMPESA. È importante esclarecer que a possibilidade dos usuários utilizarem as águas subterrâneas como alternativa está condicionada a dois fatores: poder aquisitivo para investimento na perfuração do seu próprio poço e localização aonde o subsolo permita captações suficientes para atender à demanda, tanto em quantidade como em qualidade. Essa situação revelou duas categorias de usuários, conforme apresentado a seguir.

- Consumo próprio: usuários domésticos (condomínios e residências) ou não (hospitais, escolas, postos de combustível, restaurantes, shoppings, etc).

- Consumo de terceiros: empresas que investem na perfuração de poços com o objetivo exclusivo de comercializar a água, que é transportada por carros-pipa até o consumidor, para usuários não atendidos pela COMPESA e dispostos a pagar o valor cobrado.

Um aspecto a ser observado é que os usuários domésticos que investiram na perfuração de poços, por não serem atendidos pela COMPESA em determinados períodos, provavelmente continuarão a captar água dos poços, mesmo após a regularização do atendimento, uma vez que o Decreto nº20.423/98 isenta de cobrança os usuários da água para consumo residencial. Esta situação somente seria revertida caso a qualidade da água não fosse aceitável ou quando o poço não pudesse atender à vazão desejada, como já têm acontecido no bairro de Boa Viagem que possui, inclusive, uma área de restrição total à perfuração de novos poços tubulares profundos, a fim de preservar o lençol subterrâneo que se encontra em processo de exaustão.

Na prática, criou-se um mercado paralelo de águas, onde a população não atendida satisfatoriamente pela COMPESA investe na sua própria captação ou recorre às empresas de carro-pipa. Paga-se um valor muito maior que a tarifa da empresa de saneamento pela certeza de ser atendido, mesmo a água dos carros-pipa sendo, na maioria das vezes, de qualidade inferior a ofertada pela COMPESA.

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Atualmente, é comum encontrarmos carros-pipa circulando em plena zona urbana da Região Metropolitana do Recife, cena típica apenas do Sertão e Agreste do Estado, em outros tempos. Os valores cobrados pelas empresas de carro-pipa oscilam na faixa de R$ 5,00 por metro cúbico de água, dependendo do volume de água encomendado. Esta situação reflete a disposição de pagamento dos usuários.

Diante desse fato, foi novamente cogitada a possibilidade de iniciar a cobrança pelo uso da água, dessa vez para as empresas de comercialização de água, através de carros-pipa, que também não foi ainda efetivada. Para uma estimativa da receita potencial, tomamos as empresas cadastradas e devidamente outorgados na Secretaria de Recursos Hídricos: 80 empresas, totalizando uma vazão outorgada de 19.648 m3/dia. Aplicando a tarifa inicial proposta de R$ 0,01 por metro cúbico de água, haveria uma arrecadação de R$ 5.894,40 por mês, que poderia aumentar, com a realização de uma fiscalização intensiva para detectar se os consumos estão de acordo com os valores outorgados, uma vez que todos os usuários outorgados possuem hidrômetro para leitura dos valores consumidos, e através da identificação de usuários clandestinos. Também foi avaliado o impacto dessa cobrança sobre o consumidor, uma vez que as empresas com certeza repassariam este valor para o preço da água. Os carros-pipa possuem, em geral, capacidade para oito ou dezesseis metros cúbicos, custando em média R$ 40,00 e R$ 80,00, respectivamente. Acrescentando ao preço cobrado pelas empresas R$ 0,01 por metro cúbico de água, esses valores passariam a R$ 40,08 e R$ 80,16, representando apenas 2% do valor total, o que não impactaria o consumidor.

O CASO DA BACIA DO RIO PIRAPAMA

A bacia do rio Pirapama localiza-se na Zona da Mata, ocupando parte da Região Metropolitana do Recife e possui uma área de cerca de 600 km2. Os recursos hídricos da bacia são utilizados para diferentes finalidades já que grande parte da bacia é ocupada por atividades agrícolas, mas também existe presença significativa da atividade industrial e, ainda, duas pequenas centrais hidrelétricas. Entretanto, a maior demanda de água na bacia é para o abastecimento humano que será exportada para atender à Região Metropolitana do Recife, já estando em execução a Barragem do Pirapama, para esta finalidade.

O Comitê de Bacia do rio Pirapama – COBH, através de contratação do consultor José Carrera Fernandez, realizou um estudo para determinar a tarifa a ser cobrada pelo uso da água, definindo valores diferenciados para os diversos usos. Carreras (2000), em seu estudo, utiliza a metodologia para determinação de preços com base na teoria do “second best”, que considera que o uso mais eficiente desse recurso é obtido através de uma política de preços que maximize a

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diferença entre os benefícios e custos sociais e, ao mesmo tempo, minimize os impactos distributivos na economia. Esta política, denominada de “preços ótimos”, assegura que os preços pelo uso da água a serem implementados na bacia devem situar-se dentro da capacidade de pagamento dos usuários, preferencialmente inferior ao custo de oportunidade (ou preço de reserva) da água nas várias modalidades de uso.

O “Plano de Desenvolvimento Sustentável para a Bacia do Rio Pirapama”, desenvolvido em convênio entre os governos brasileiro e britânico (1997/1999) e aprovado pelo Comitê de Bacia do Pirapama propõe investimentos para a bacia e apresenta custos de manutenção e operação necessários à gestão dos recursos hídricos para um horizonte de 20 anos, resumidos na tabela 2 com os respectivos valores presentes de investimentos e custos de manutenção.

Tabela 2 – Investimentos programados para a bacia do rio Pirapama

Discriminação Investimento (R$)

Manutenção (R$)

Implantação do sistema de transposição do Ipojuca 21.000.000,00 210.000,00

Implantação de sistemas de esgotamento sanitários 31.976.241,08 639.524,82

Implantação de sistemas de resíduos sólidos urbanos

e recuperação de áreas degradadas 10.500.000,00 525.000,00

Gerenciamento dos recursos hídricos 370.000,00 125.000,00

Qualidade das águas 140.000,00 30.000,00

Gerenciamento ambiental 5.850.000,00 290.000,00

TOTAL 69.836.241,08 1.819.524,82

Com base nos investimentos programados, foram calculadas as tarifas para cobrança pelo uso da água bruta, para os diversos usos existentes na bacia: abastecimento humano, abastecimento industrial, irrigação, geração de energia elétrica, fertirrigação, diluição efluentes industriais e diluição de esgotamentos sanitários, apresentados na tabela 3. A segunda coluna relaciona os preços sem qualquer restrição, que para irrigação e geração de energia elétrica são superiores aos respectivos preços de reserva. Assim, para estes usos, os preços foram restritos aos preços de reserva, de forma a não extrapolar a capacidade de pagamento dos usuários e, para os demais usos, os preços foram compatibilizados e essa condição.

Dada a importância do assunto, o COBH criou uma Câmara Técnica de Cobrança, formada por representantes dos diversos usuários, na sua maioria membros do Comitê (indústria, saneamento, agricultura, sociedade civil, entidades estaduais e municipais), para analisar as tarifas propostas e decidir os valores a serem encaminhados ao Comitê. Inicialmente foi questionada a consideração de todos os investimentos no cálculo da tarifa por alguns membros da Câmara, argumentando que os investimentos do setor de saneamento seriam de responsabilidade direta do Governo do Estado e estes custos não deveriam ser repassados aos usuários.

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Tabela 3 - Tarifas para cobrança pela água bruta propostas para a bacia do rio Pirapama, considerando todos os investimentos previstos na tabela 2

Usos Preço Ótimo Cap. Pagamento

Abastecimento humano (1) 1,52x10-2 2,35x10-2 Abastecimento industrial (1) 8,39x10-2 1,11x10-1

Irrigação (1) 8,01x10-2 9,54x10-3

Geração de energia elétrica (1) 3,06x10-2 2,24x10-3

Fertirrigação (2) 3,95x10-2 5,97x10-2

Diluição de efluentes industriais (2) 6,62x10-2 9,63x10-2 Diluição de esgotamentos sanitários (2) 1,98x10-2 3,08x10-2

FONTE: Estudo de cobrança pelo uso da água na bacia do rio Pirapama

(1)R$/m3; (2)R$/kgDBO

Diante desse fato, foram feitas novas simulações considerando: a) apenas os investimentos e custos operacionais da gestão dos recursos hídricos; e b) os valores previstos no item “a” somados ao custo da transposição de águas do rio Ipojuca, que é considerada de grande importância para a bacia. A tabela 4 relaciona os novos valores encontrados para estas situações.

Tabela 4 - Tarifas para cobrança pela água bruta propostas para a bacia do rio Pirapama, considerando investimentos parciais

Investimentos Usos Gestão de Rec. Hídricos Gestão de Rec. Híd. + Transp. Abastecimento humano (1) 2,02x10-3 7,20x10-3 Abastecimento industrial (1) 1,51x10-2 4,72x10-2 Irrigação (1) 9,54x10-3 9,54x10-3

Geração de energia elétrica (1) 2,24x10-3 2,24x10-3 Fertirrigação (2) 5,40x10-3 1,90x10-2 Diluição de efluentes industriais (2) 9,67x10-3 3,32x10-2

Diluição de esgotamentos sanitários (2) 2,59x10-3 9,30x10-3

FONTE: Estudo de cobrança pelo uso da água na bacia do rio Pirapama

(1)R$/m3; (2)R$/kgDBO

Atualmente a Câmara está em fase final de conclusão dos trabalhos, e decidiu que a melhor estratégia será iniciar a cobrança com os menores valores de tarifa propostos, a fim de avaliar os impactos e resultados a serem obtidos. Esta decisão ainda será apresentada em reunião do COBH, para aprovação, e após será dado o devido encaminhamento junto à Secretaria de Recursos Hídricos do Estado. Dessa maneira, adotando-se as tarifas relacionadas na segunda coluna da tabela 4, é possível estimar a receita potencial a ser arrecadada com a cobrança pelo uso da água bruta na bacia, relacionada na tabela 5.

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Tabela 5- Receita potencial com a cobrança pelo uso da água bruta para a bacia do rio Pirapama (em R$ por ano)

Receita Potencial

Usos Preço Ótimo

Valor % Abastecimento humano 2,02x10-3 (1) 389.216,98 28,8 Abastecimento industrial 1,51x10-2 (1) 570.772,99 42,2

Irrigação 9,54x10-3 (1) 240.408,00 17,8

Geração de energia elétrica 2,24x10-3 (1) 84.672,00 6,2

Fertirrigação 5,40x10-3 (2) 23.442,77 1,7

Diluição de efluentes industriais 9,67x10-3 (2) 40.414,57 3,0 Diluição de esgotamentos sanitários 2,59x10-3 (2) 3.911,65 0,3

TOTAL - 1.352.838,97 100,0

FONTE: Estudo de cobrança pelo uso da água

(1)R$/m3; (2)R$/kgDBO.

MEDIDAS NECESSÁRIAS Á IMPLANTAÇÃO DA COBRANÇA

A implantação da cobrança pelo uso da água enfrenta dificuldades de natureza institucional, técnica, administrativa e políticas.

Uma das primeiras etapas a ser realizadas é a elaboração de um decreto específico para regulamentar a cobrança pelo uso da água, conforme citado no art. 13 da Lei 11.426/97. Pois, embora o decreto 20.269/97 em seu artigo 33, se proponha a fazê-lo, não estabelece a forma e os procedimentos para efetuá-la. A partir daí, deverão ser tomadas as medidas administrativas necessárias ao trâmite do processo.

É de grande importância, também, investir em uma campanha de regularização dos usuários de recursos hídricos do estado, através da outorga. Foram realizados cadastros de usuários em várias bacias, recentemente, servindo como subsídio para notificação dos usuários irregulares. Concomitantemente com esta campanha, é imprescindível iniciar a implantação de mecanismos de controle dos volumes captados de água superficial, (uma vez que os poços possuem este dispositivo, conforme previsto na legislação) já que a cobrança considerará o consumo efetivo de água.

Porém, um fator fundamental, para que a cobrança pelo uso da água cumpra seus objetivos, é a existência de uma fiscalização periódica e eficaz, seja dos usuários outorgados ou não, a fim de: supervisionar o cumprimento dos Termos de Outorga; detectar usuários irregulares e aplicar as sanções cabíveis.

Em relação ao lançamento de efluentes, como já foi colocado, é necessário realizar o reenquadramento dos corpos d’água para viabilizar a implantação da outorga para este uso, que precede a cobrança.

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Existe, ainda, uma questão delicada que merece ser discutida e amadurecida, considerando os seguintes aspectos:

- é recomendável que a implantação da cobrança inicie no Estado como um todo e não em bacias isoladas, mesmo que apenas para determinadas finalidades de uso; - não é possível, a curto prazo, calcular o valor econômico da tarifa de água para o

Estado inteiro (devido a inexistência de um plano de investimentos, falta de informações, etc...);

- o valor econômico da tarifa, devidamente calculada e aceita pela Câmara Técnica para o caso da bacia do Pirapama para o uso, por exemplo, de abastecimento humano é de R$0,002/m3 (vide tabela 4);

- o valor proposto e aceito pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, que não traduz o real valor econômico da água, como uma tarifa inicial para o setor de saneamento, por exemplo, é de R$ 0,01/m3.

Diante do exposto, é necessário avaliar cuidadosamente os valores de tarifa a serem propostos, de maneira a não causar uma reação contrária por parte dos usuários pagadores.

CONCLUSÕES

Pernambuco encontra-se em um estágio de consolidação dos instrumentos de gerenciamento de recursos hídricos, necessitando ainda reforçar a estrutura existente, fato este que não contra-indica tecnicamente a implantação da cobrança pelo uso da água bruta. Entretanto, essa questão depende, fundamentalmente, da vontade política de concretizá-la, cabendo aos decisores indicar o momento adequado à sua implementação.

É interessante, ainda, observar que as características da rede hidrográfica do Estado facilitam a implantação da cobrança, uma vez que a mesma poderá ser iniciada para os corpos d´água de domínio estadual, que são maioria, independente da regulamentação da lei federal, que têm sido o empecilho para vários estados, onde predominam cursos d´água de domínio federal.

Ainda não existem diretrizes bem definidas para a implantação da cobrança no Estado, sendo necessário numa política de formação de pessoal na área, visto que é um tema de discussão relativamente recente no Brasil. Por outro lado, a SRH precisa preparar-se, através do planejamento de ações e criação de estrutura para implantação da cobrança, caso contrário corre o risco de sofrer as pressões da sociedade, através dos Comitês de Bacia que pretendem implantar a cobrança pelo uso da água no âmbito de suas respectivas atuações.

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BIBLIOGRAFIA

CANEDO DE MAGALHÃES, P. Cobrança pelo uso da água bruta em Pernambuco, 1998 (Relatório de consultoria). 17p.

CARRERA-FERNANDEZ, J. Agenda 21: Pirapama. Estudo de cobrança pelo uso da água na bacia do rio Pirapama. CPRH/DFID, 2000, 142p.

CPRH/DFID. Agenda 21: Plano de Desenvolvimento Sustentável da bacia do Pirapama, 1999, 90p.

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Plano Estadual de Recursos Hídricos – Documento Síntese. Secretaria de Recursos Hídricos, 1999, 215p.

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Recursos Hídricos – Leis e Decretos. Secretaria de Recursos Hídricos, 1999.

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Título do trabalho: AÇÕES PERTINENTES À COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA EM PERNAMBUCO

Autores:

Nome: Simone Rosa da Silva

Endereço para correspondência: Rua Waldemar Nery Carneiro Monteiro, 475/602 – Boa Viagem Recife – PE – CEP 51030-140 – simorosa@ig.com.br

Nome: Sandra Ferraz de Sá Wanderley

Endereço para correspondência: Rua Orós, 200 – Bloco C – Apto 104 - Cordeiro Recife – PE – CEP 50711-340 –lmfsa@terra.com.br

Tema do trabalho: Gestão de recursos hídricos em regiões áridas e semi-áridas Sub-tema do trabalho: Mecanismos político-institucionais e econômicos

Referências

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