P
6
PORTUGUÊS
6.
o
ANO
Ana
Santiago
Sofia
Paixão
Consultor científico-pedagógico JOAQUIM SEGURAHISTÓRIAS
COM BARBAS
UNIDADE
2
LEITURA E COMPREENSÃO DO ORAL
Textos tradicionais e textos de autorSalta-Pocinhas, Aquilino Ribeiro excerto narrativo
Bom conselho, Chico Buarque letra de canção
O galo e a raposa, La Fontaine fábula
Velhas histórias que convém saber melhor, Alves Redol
excerto narrativo
Bela Infanta, Almeida Garrett romance tradicional
A lenda de Pedro Cem, Inácio Nuno Pignatelli lenda
O Gigante Egoísta, Oscar Wilde narrativa na íntegra
Um criado esperto, José António Gomes conto tradicional
A ponte, Ilse Losa narrativa na íntegra
Textos de imprensa, comunicação e divulgação Texto informativo, avisos
EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA
Provérbio e explicação, texto expositivo, texto instrucional, texto de opinião, leitura dramatizada, letra de canção, reconto, narrativa
CONHECIMENTO DA LÍNGUA
Classes de palavras e morfologia: advérbio, preposição, quantificador
Sintaxe: grupos da frase Som e sílaba
Relações entre palavras Dicionário
EM RESUMO
EXPRESSÃO ORAL
1. Utiliza os adjetivos seguintes para explicitares oralmente uma defi-nição de provérbio.
curto sentencioso intemporal popular
2. Escolhe dois provérbios entre os distribuídos pelo teu professor que abordem o mesmo tema e memoriza-os.
3. A partir de uma ordem pré-definida, diz muito rapidamente os pro-vérbios que memorizaste.
4. Em conjunto com os colegas e com a ajuda do professor, tenta explicar o sentido desses provérbios.
LEITURA
1. Antes de leres o texto, recorda o que já sabes sobre a fábula. Que característica aproxima uma fábula de um provérbio?
1.1. Lê o excerto inicial do livro Romance da raposa do escritor português Aquilino Ribeiro e indica duas das características da fábula aí presentes.
Provérbio e explicação 5 10 15
Salta-Pocinhas
Havia três dias e três noites que a Salta-Pocinhas – raposeta
1matreira, fagueira
2, lambisqueira
3– corria os bosques, farejando,
batendo mato, sem conseguir deitar a unha a outra caça além duns
míseros gafanhotos, nem atinar com abrigo em que pudesse dormir
um soninho descansado. Desesperada de tão pouca sorte, vinham-lhe
tentações de tornar para casa dos pais, onde, embora subterrânea, a
cama era mais quente e segura que em castelo de rei, e onde nunca
faltava galinha, quando não fosse fresca, de conserva, ou então coelho
bravo, acabado de degolar. Mas temia-se da mãe, que, ao cabo duma
semana de fome, depois do assalto frustrado à capoeira dum lavrador
em que vira a morte a dois passos, lhe atormentara o juízo com
adver-tências e bons conselhos:
– Salta-Pocinhas, minha filha, tens de procurar outro ofício. Comer
e dormir, dormir e comer também eu queria. Olé! Se ainda não o sabes,
fica sabendo: quem não trabuca não manduca. Mal entre a lua nova – e
não tarda a hora que chegue às portinhas do céu – estás na idade de
VOCABULÁRIO
1 Raposeta: raposa jovem.
2 Fagueira: meiga, carinhosa.
3 Lambisqueira: gulosa, lamba-reira.
Percurso 1
EXPRESSÃO ORAL Provérbio e explicação LEITURA Excerto narrativo – expressões populares – perífrase Fábula – personificação COMPREENSÃO DO ORAL E ESCRITA Letra de canção Provérbio CONHECIMENTO DA LÍNGUA Grupo nominal e grupo verbal PROFESSOR EXPRESSÃO ORAL1. Um provérbio é um texto curto, popular e intemporal, que usa um tom moralizador.
LEITURA
1. O tom moralizador, sentencioso – ambos pretendem ensinar alguma coisa e condicionar os comporta-mentos.
1.1. As personagens principais são animais personificados. A história contém uma moral.
PowerPoint Provérbios ao desafio
te conduzir por tua cabeça. Também já te lá cantam dezoito meses, e
dezoito meses nada ladros
4, louvado seja o pai dos bichos. É olhar-te
para a navalha dos dentes e a boa saia de peluche. Uma riqueza!
– Ih, ih, ih! – desatara a Salta-Pocinhas a choramingar.
– Santa paciência! Teus irmãos por aí andam ganhando o pão, sabe
Deus com que trabalhos! O Pé-Leve saiu um azougue
de finura
5…
– E bom filho! Estava ontem a gineta
6a fazer-lhe um
rasgadís-simo elogio – disse o pai velho, um raposão de rabo pelado, ao tempo
que se espreguiçava entesando e voltando a entesar um longo e
des-carnadíssimo pernil.
– Pudera! Foi ele que bifou
7ao padre-prior o rico galo galaroz
8,
crista de vermelhão e pernas de retrós
9. Comemos nós, comeu a gineta
e, cem anos que eu viva, não me hei de esquecer do fartote. Coitado,
o Pé-Leve emancipou-se há já umas semanas. A ti, Salta-Pocinhas,
guardámos-te mais tempo connosco, esperando que nos servisses de
arrimo
10para o fim dos dias. É negócio arrumado, se tratares de ti,
já nos damos por contentes. Pronto, deitaste bom corpo, arranja-te,
arranja-te! Para baronesa não nasceste…
– O mundo vai mal! O mundo vai mal! – emitiu o raposão em
tom pessimista. – Quem houver de levar a vidinha segundo as regras
20 25 30 35 VOCABULÁRIO 4 Ladros: ladrões.
5 Um azougue de finura: mui-to espermui-to e fino.
6 Gineta: animal semelhante a um gato grande de pelo cinzen-to e negro.
7 Bifou (popular): roubou.
8 Galo galaroz: galo grande.
9 Pernas de retrós: pernas bri-lhantes e sedosas.
do amor ao pelo precisa de lume no olho. Sim, senhora! Hoje em dia,
assaltar uma capoeira é um problema difícil de matemática…
– Estou velha… caduca – tornou a mãe, sem fazer caso da filosofia
do raposo. – Não te posso manter, ainda que quisesse. Há coisa de dias
um cãozito bem reles, um destes totós que não prestam para mais nada
que para soltar béu! béu!, deitou a correr atrás de mim e por pouco que
não me rasga a fralda. O toirão
11que diga. Teu pai, depois que apanhou
a chumbada nas pernas, está o que para ali se vê: um entrevadinho, um
borralheiro, incapaz de pegar um caçapo
12a dormir a sesta no covil.
Aquelas palavras não eram ditas, rompera o pai raposo a maldizer
do bicho-homem e da danada invenção das armas de fogo. E, depois
de muito praguejar e de muito chorar a má estrela, foi levado, como
estava em seus hábitos de velho impostor, a fazer grande alarde da
ligeireza e coragem que possuíra nos bons tempos, quando estafava
um galgo na carreira. Mas a mãe raposa mandou-lhe calar a caixa, ao
ver que no galho dum freixo, por cima deles, se viera empoleirar
mes-tre Vicente, o corvo, com ar trocista a desfrutar o gabarola.
Aquilino Ribeiro, Romance da raposa, Bertrand, 1979
2. Desde que saiu de casa dos pais, Salta-Pocinhas tem dois proble-mas. Quais?
3. Qual seria a solução para esses problemas? O que impede a «rapo-seta» de tomar esse caminho?
4. O que pensa a mãe sobre o modo de vida da filha?
4.1. Transcreve para o teu caderno o provérbio que a mãe usa para ensinar uma lição a Salta-Pocinhas e explica o seu significado. 5. O pai de Salta-Pocinhas está tão preocupado com a filha quanto a
mãe? Explica porquê.
5.1. Explica o sentido da frase «— Quem houver de levar a vidinha segundo as regras do amor ao pelo precisa de lume no olho.»
(linhas 36-37).
5.2. O que é que esta frase dita pelo pai acrescenta aos conselhos da mãe?
6. Por que razão a mãe permitiu que Salta-Pocinhas vivesse mais tem-po do que os irmãos em casa dos pais? O que a fez mudar de ideias?
40
45
50 VOCABULÁRIO
11 Toirão: o mesmo que furão; pequeno animal.
12 Caçapo: coelho jovem e pe-queno.
Percurso 1
Aquilino Ribeiro 1885, Carregal— 1963, Lisboa A sua obra distingue-se pela riqueza da linguagem que utiliza, com muitas palavras e expressões populares.O Malhadinhas e O livro de Marianinha (dedicado à neta)
são exemplos de obras suas.
PROFESSOR
LEITURA
2. Não conseguir caçar para comer nem encontrar um local seguro pa-ra dormir.
3. A solução seria voltar para ca-sa dos pais, onde encontraria boa cama e boa comida, mas Salta- -Pocinhas tem medo da mãe, que já a avisara de que tinha de traba-lhar para ter o conforto desejado e tinha imposto a sua saída de casa.
4. A mãe considera que a filha está mal habituada e que já tem idade e capacidade para caçar e viver sozi-nha, tal como os irmãos.
4.1. «Quem não trabuca não man-duca» significa que quem não tra-balha não come. Ao dizê-lo, a mãe está a repreender a filha e a refor-çar a ideia de que esta tem de lutar para conseguir as coisas básicas da vida: comida e dormida.
5. O pai de Salta-Pocinhas está mais preocupado com o seu descanso e prefere elogiar o filho, Pé-Leve, do que repreender a filha.
5.1. Quem quiser sobreviver tem de ser inteligente.
5.2. O pai reforça a ideia de que os tempos estão difíceis, mas acres-centa que não basta ser forte, é preciso ser esperto.
6. A mãe contava que Salta-Poci-nhas lhes valesse quando fossem mais velhos, mas percebeu que, não sendo capaz de cuidar de si própria, a raposeta não conseguiria cuidar de ninguém e, por isso, tinha de aprender a sobreviver à sua custa.
7. A quem atribui o raposão as culpas da sua incapacidade enquanto caçador? E a mãe? Tem a mesma opinião?
8. Escolhe a opção correta.
8.1. A linguagem utilizada no excerto a) corresponde à norma.
b) afasta-se da norma.
8.2. O autor utiliza maioritariamente a) palavras cuidadas.
b) regionalismos e expressões populares.
9. Explica o sentido das seguintes frases e expressões do texto. a) «batendo mato» (linha 3)
b) «sem conseguir deitar a unha» (linha 3) c) «dezoito meses nada ladros» (linha 18)
d) «Pronto, deitaste bom corpo, arranja-te, arranja-te!» (linhas 33-34) e) «Para baronesa não nasceste…» (linha 34)
f) «mandou-lhe calar a caixa» (linha 51)
9.1. A perífrase é um recurso expressivo em que dizemos por várias palavras o que poderíamos dizer por poucas. Substitui a perífrase «deitar a unha» por uma só palavra.
COMPREENSÃO DO ORAL E ESCRITA
1. Num poema conhecido, o músico e escritor brasileiro Chico Buar-que diz vários provérbios conhecidos, mas altera-lhes o sentido.
1.1. Ouve o poema e regista no teu caderno a versão do autor para os seguintes provérbios:
a) Quem espera sempre alcança. b) Quem brinca com o fogo queima-se. c) Devagar se vai ao longe.
2. Na nossa tradição, existem muitos provérbios que são aparente-mente contraditórios, como por exemplo: Quem espera sempre alcança. / Quem espera desespera.
2.1. Escolhe alguns dos provérbios que trabalhaste anteriormente e reescreve-os, com os teus colegas, de modo a criares novos provérbios com sentidos diferentes. Explica esse sentido.
PROFESSOR
LEITURA
7. O raposão culpa o homem, as armas de fogo, a sua má sorte e a velhice. Já a mãe acredita que o ra-posão ficou incapaz desde que foi atingido nas pernas, sem ligar às filosofias do pai raposo.
8.1. b).
8.2. b).
9.
a) Andar muito sem rumo certo. b) Sem conseguir caçar.
c) Dezoito meses de vida genero-sos em relação ao desenvolvimen-to de Salta-Pocinhas.
d) Tens bom corpo para te desen-vencilhares sozinha.
e) Não nasceste para ser servida pelos outros.
f) Ordenou que se calasse.
9.1. Apanhar.
COMPREENSÃO DO ORAL E ESCRITA
1.1.
a) Quem espera nunca alcança. b) Brinque com meu fogo / Venha se queimar.
c) Devagar é que não se vai longe.
2.1. Por exemplo: Faz o bem, mas olha sempre a quem. Quem não ama esquece. Cão que ladra pode morder.
Áudio Faixa 5
Bom conselho
LEITURA
1. Lê agora uma fábula completa de La Fontaine.
O galo e a raposa
Empoleirado num sobreiro antigo,
fazia um velho galo sentinela.
Uma raposa diz-lhe: «Irmão e amigo,
Venho trazer-te uma notícia bela.
Nas nossas dissensões
1lançou-se um traço
E acaba de assinar-se a paz geral;
Desce, que quero dar-te estreito abraço
E juntamente o beijo fraternal!»
– Amiga – diz-lhe o galo – folgo imenso;
Não podia esperar maior delícia!…
Vejo dois galgos a correr, e penso
Que são correios da feliz notícia.
Foge a raposa sem dar mais cavaco;
E o galo sentiu íntimo consolo.
Pois é grande prazer ver a um velhaco
Entrar espertalhão e sair tolo!
La Fontaine, Fábulas, Minerva, s.d.
2. Refere, por palavras tuas, a «notícia bela» que a raposa dá ao galo.
2.1. O que pretende, de facto, a raposa?
3. Escolhe a opção correta para completares a frase. Quando fala com o galo, a raposa é
a) agressiva e hostil. b) agradável e bajuladora.
3.1. Retira do texto palavras ou expressões que permitam justificar a tua opção.
4. Afinal, por que razão foge a raposa?
5. Nesta fábula, quem é mais matreiro, o galo ou a raposa? Porquê?
La Fontaine
1621, Château- -Thierry—1695, Paris Poeta e fabulista francês. Nas suas
Fábulas, denuncia os
vícios dos homens através de animais. A lebre e a
tartaruga e O leão e o rato são
exemplos de fábulas suas.
VOCABULÁRIO 1 Dissensões: desentendimen-tos.
Percurso 1
PROFESSOR LEITURA2. A raposa informa o galo de que as velhas disputas existentes entre os dois estão oficialmente terminadas.
2.1. Convencer o galo de que já não o persegue e, assim, conseguir aproximar-se dele e caçá-lo.
3. b).
3.1. «Irmão e amigo»; «uma notícia bela»; «estreito abraço»; «beijo fra-ternal!»
4. O galo finge acreditar na ra-posa e lança-lhe uma armadilha semelhante, afirmando que dois galgos se aproximam para lhes dar a feliz notícia. Como mentiu sobre a falsa paz, a raposa sabe que o galo também está a mentir e, logo, sabe que, se forem verda-deiros, os galgos aproximam-se para a caçar.
5. O galo, porque consegue en-redar e iludir a raposa na mentira que ela própria inventou.
6. Explica, por palavras tuas, a razão do «grande prazer» sentido pelo galo.
7. A personificação é um recurso expressivo utilizado ao longo de todo o texto. Explica a importância do seu uso.
CONHECIMENTO DA LÍNGUA
Já consigo identificar os principais grupos da frase?
1. Forma duas frases com os grupos seguintes:Grupo nominal (GN) Grupo verbal (GV)
A raposa caçam astutamente.
As raposas caça com astúcia.
1.1. Identifica a classe da palavra mais importante de cada um dos grupos.
1.2. Indica as funções sintáticas desempenhadas pelos grupos nominais e pelos grupos verbais que associaste.
1.3. Explica a regra que te levou a associar cada grupo nominal a um grupo verbal.
2. Observa agora outras frases e divide-as nos seus dois grupos prin-cipais — o GN e o GV.
a) Ela caça.
b) A raposa, astuta e matreira, caça.
2.1. Quais são as diferenças entre os grupos nominais que iniciam estas duas frases e os grupos nominais do exercício anterior? 3. Observa o GV da frase seguinte e escolhe a opção que melhor o
caracteriza.
As raposas comem pequenos animais, frutos, sementes e cereais. a) GV constituído apenas pelo verbo.
b) GV constituído pelo verbo e por outros grupos. 4. Completa e conclui.
O grupo nominal é habitualmente constituído por um A ou por um B , mas pode ser aumentado com outros C .
A palavra mais importante do grupo verbal é o D , que pode
aparecer E ou acompanhado por outros F .
PROFESSOR
LEITURA
6. A razão foi ter transformado uma raposa velhaca numa raposa tola.
7. Atribui características humanas aos animais, contribuindo para que a moral desta história tenha como destinatários os homens.
CONHECIMENTO DA LÍNGUA
1. A raposa caça. As raposas ca-çam.
1.1. GN (nomes): raposa; raposas. GV (verbos): caça; caçam.
1.2. Grupos nominais — sujeito. Grupos verbais — predicado.
1.3. O verbo do grupo verbal / predicado concorda em pessoa e número com o grupo nominal que tem a função sintática de sujeito.
2.
a) GN: Ela. GV: caça.
b) GN: A raposa, astuta e matreira. GV: caça.
2.1. Na frase a), o GN com a função sintática de sujeito é um pronome. Na frase b), o GN com a função sin-tática de sujeito é constituído pelo nome e por dois adjetivos.
3. b). 4. A nome; B pronome; C grupos; D verbo; E sozinho; F grupos. Gramática interativa O GN e o GV Os grupos da frase: grupo nominal e grupo verbal Guia Gramatical, p. 238
Velhas histórias que
convém saber melhor
– Há aí uns oito mil anos…
– Ena! – disse, espantado, o Serrano gorducho.
Os outros grãos olharam-no numa reprimenda, enquanto o
Ama-relo de Barba Preta se limitou a olhá-lo de banda e a sorrir.
– Os antepassados do homem de hoje – prosseguiu o narrador –
viviam em pequenos grupos, onde o trabalho era dividido. E assim,
enquanto os varões se dedicavam à caça e à pesca, as mulheres colhiam
frutos selvagens e raízes, se as cavernas ficavam junto das florestas, ou
apanhavam mariscos, se o mar estava perto.
– Eu sei – disse o Serrano – que elas desenterravam as raízes
ser-vindo-se de paus aguçados.
– Que engraçado! – exclamou a Sementinha, muito interessada.
– Trágico é que devias chamar-lhe, minha amiga – respondeu o
Amarelo de Barba Preta. – Quantas mulheres morreram antes que
sou-bessem distinguir-se os cogumelos, as raízes e os frutos venenosos? Mas
só assim foi possível, experimentando, aumentar os recursos com que
matavam a fome. E como, principalmente, dependiam de animais, os
homens rudes desse tempo julgavam-se seus descendentes. E adotavam
os seus nomes, e adoravam-nos, fazendo festas em que os imitavam,
dançando, no convencimento de que assim os caçariam mais facilmente.
Tão certos estavam desse poder mágico que começaram a gravar no
interior das cavernas os perfis das renas, dos bisões
1e dos mamutes.
– E os nossos avós? – perguntou o Serrano.
Fez-se um movimento de impaciência entre os bagos de trigo.
– Os nossos avós, e mais a cevada, foram também descobertos
entre as plantas selvagens que as mulheres iam encontrando…
– E onde foi? – indagou a Sementinha, mordida pela curiosidade.
– Dizem uns que na Mesopotâmia, outros que na Abissínia…
Sem as sementes saberem como, apareceram-lhes, de súbito, uns
estranhos bagos de trigo: um deles era preto, outro vermelho, outro,
ainda, azul.
LEITURA
1. Observa o título do texto que se segue. Consideras que contém algum conselho ou sugestão? Justifica a tua resposta.
5 10 15 20 25 30
Percurso 2
LEITURA Excerto narrativo – assunto – presente histórico Texto informativo CONHECIMENTO DA LÍNGUA Advérbio ESCRITA Texto expositivo Texto instrucional VOCABULÁRIO 1 Bisões: bisontes. PROFESSOR LEITURA1. O título sugere que se conheçam melhor algumas histórias antigas.
– O que é isto? – perguntou o Mocho de Espiga Branca. – Agora
também brincamos o Carnaval?…
– Sabes pouco, companheiro – respondeu o Bago Azul. – Isto não
é uma máscara, mas a nossa própria cor…
As sementes estavam espantadas com aqueles grãos bizarros.
– Basta de graças! – disse o Amarelo de Barba Preta.
– Não é o que tu julgas, meu velho – retorquiu o Bago Vermelho.
– Como falavas na pátria do trigo, nós viemos para te dizer que somos
originários desse país…
– Da Mesopotâmia?
– Do Afeganistão – explicou o Trigo Negro. – É aí, na Ásia, que
ainda existe, ocupando campos inteiros, o trigo anão… Um trigo de
tamanho bizarro, que é o nosso mais velho antepassado.
Deixando as outras sementes viver uma expectativa que as
imobi-lizava, o grão asiático prosseguiu:
– O nosso povo era pacífico, mas um dia, há milhares de anos, a
sua terra foi invadida por outro povo vindo do Ocidente.
– Dias terríveis! – exclamou o Bago Azul. – As guerras são sempre
terríveis! Tão terríveis e tão cruéis que ainda hoje há gente do
Afe-ganistão a morar em cidades abertas nas montanhas, com receio dos
homens que levaram a guerra…
E o Trigo Azul calou-se, emocionado, como se vivesse ainda essa
época distante.
Alves Redol, A vida mágica da Sementinha, Caminho, 2009
2. Quem são as personagens deste texto?
2.1. Não sendo personagens humanas, as personagens deste texto comportam-se como tal. Que recurso expressivo permite atri-buir a estas personagens comportamentos humanos?
2.2. Em que situação se encontram as personagens?
Alves Redol 1911, Vila Franca de Xira—1996, Lisboa Escritor com grandes preocupações
políticas e sociais, teve um papel muito importante na literatura portuguesa, sendo autor de romances e de peças teatrais. Gaibéus e Constantino,
guardador de vacas e de sonhos
são obras suas.
35 40 45 50 PROFESSOR LEITURA
2. O Serrano, o Amarelo de Barba Preta, a Sementinha, o Mocho de Espiga Branca, o Bago Azul/Trigo Azul, o Bago Vermelho, o Trigo Ne-gro e outros bagos de trigo.
2.1. A personificação.
2.2. Encontram-se reunidas a ouvir o Amarelo de Barba Preta, sendo que, a dada altura, aparecem o Ba-go Azul/TriBa-go Azul, o BaBa-go Verme-lho e o Trigo Negro.
3. O excerto inicia-se com a fala do Amarelo de Barba Preta.
Que informação nos dá essa fala sobre o assunto que vai introduzir?
3.1. Que assunto é esse?
3.2. Qual é o grau de interesse dos ouvintes nesse assunto (muito ou pouco)? Justifica a tua resposta.
4. O Amarelo de Barba Preta conta uma história que ensina alguma coisa a quem o ouve. Relaciona-a com o título do excerto.
5. «— Os antepassados do homem de hoje — prosseguiu o narrador […]». Reescreve a fala do Amarelo de Barba Preta, iniciando-a com as palavras apresentadas abaixo e conjugando os verbos no pre-sente do indicativo.
Como vivem os homens nesse tempo? Vivem…
5.1. Seria possível o Amarelo de Barba Preta usar o presente do indicativo como presente histórico no seu discurso? Porquê? 6. «— Quantas mulheres morreram antes que soubessem
distinguir--se os cogumelos, as raízes e os frutos venenosos?» Seleciona as opções corretas para completares a afirmação sobre esta pergunta do Amarelo de Barba Preta.
a) Quando o Amarelo de Barba Preta faz esta pergunta, espera que os seus ouvintes lhe respondam.
não espera que os seus ouvintes lhe respondam. mostra que não sabe a resposta.
mostra que esse assunto não tem interesse nenhum. b) Essa pergunta do Amarelo de Barba Preta
serve para sublinhar a importância desse assunto do passado e para introduzir a explicação que dá a seguir.
interrompe o assunto de que a personagem estava a falar. permite mudar de assunto, logo a seguir, no seu discurso. é totalmente despropositada.
7. Em que momento da explicação do Amarelo de Barba Preta apa-recem «uns estranhos bagos de trigo»?
7.1. Por que razão aparecem nesse momento?
8. Que acontecimento do passado impressiona particularmente um desses bagos? Transcreve a passagem do texto que confirma a tua resposta.
Percurso 2
PROFESSOR
LEITURA
3. Dá uma informação temporal: a de que o assunto diz respeito a oito mil anos atrás.
3.1. A história dos antepassados dos bagos de trigo e dos homens.
3.2. Muito interesse: a Sementinha mostra-se entusiasmada com o que ouve, o Serrano interrompe o Amarelo de Barba Preta para dizer o que também sabe sobre o assun-to e para fazer uma pergunta e os bagos de trigo mostram-se impa-cientes, aguardando a continuação do discurso do Amarelo de Barba Preta.
4. O Amarelo de Barba Preta con-ta a história dos antepassados. Escon-ta é uma das velhas histórias «que convém saber», porque dá um en-sinamento.
5. … em pequenos grupos, onde o trabalho é dividido. E assim, en-quanto os varões se dedicam à ca-ça e à pesca, as mulheres colhem frutos selvagens e raízes, se as ca-vernas ficam junto das florestas, ou apanham mariscos, se o mar está perto.
5.1. Seria possível, porque o pre-sente é, em certos casos, usado para relatar ou expor factos do passado. Daí poder ser chamado «presente histórico».
6.
a) não espera que os seus ouvintes lhe respondam.
b) serve para sublinhar a impor-tância desse assunto do passado e para introduzir a explicação que dá a seguir.
7. Quando o Amarelo de Barba Pre-ta explica que os antepassados do trigo foram descobertos ou na Me-sopotâmia ou na Abissínia.
7.1. Porque são originários da pátria do Trigo.
8. A guerra: «E o Trigo Azul calou-se, emocionado, como se vivesse ainda essa época distante».
CONHECIMENTO DA LÍNGUA
Que advérbios usamos para fazer perguntas?
1. «— E onde foi? — indagou a Sementinha, mordida pela curiosidade.» A informação que a Sementinha pretende obter com esta pergunta relaciona-se com
a) o modo como se deu um acontecimento. b) o tempo em que se deu um acontecimento. c) a razão por que se deu um acontecimento. d) o lugar onde se deu um acontecimento.
1.1. Que palavra na pergunta da Sementinha te permitiu responder à questão anterior?
2. Associa cada uma das perguntas seguintes às diferentes frases apresentadas no exercício 1.
Quando descobriram os cereais? Como descobriram os cereais?
Porque aumentaram os homens os seus recursos? Os homens aumentaram os seus recursos porquê?
2.1. Das palavras usadas nas frases anteriores, apenas uma em cada frase pode ser um advérbio. Indica o advérbio usado em cada uma das frases.
3. A partir dos exercícios anteriores, completa a conclusão seguinte. As palavras onde, A , B , C e D são advérbios
interrogativos. Usamos os advérbios interrogativos para fazer
E sobre o lugar, o F , o G e a H de alguma coisa.
Como nos ajudam os advérbios a excluir ou a incluir algo?
4. Associa cada advérbio destacado nas passagens seguintes a umadas alíneas apresentadas.
«Mas só assim foi possível, experimentando, aumentar os recur-sos com que matavam a fome.»
«Os nossos avós, e mais a cevada, foram também descobertos entre as plantas selvagens […].»
a) É um advérbio que inclui determinados elementos num conjunto. b) É um advérbio que exclui outras possibilidades para além da
que é apresentada. O advérbio Guia Gramatical, p. 231 PROFESSOR CONHECIMENTO DA LÍNGUA 1. d). 1.1. onde. 2.
Quando descobriram os cereais? b). Como descobriram os cereais? a). Porque aumentaram os homens os seus recursos?/Os homens au-mentaram os seus recursos por-quê? c).
2.1. Quando, Como, Porque, por-quê. 3. A quando; B como; C porque; D porquê; E perguntas; F tempo; G modo; H causa. 4. a) também. b) só. Gramática interativa O advérbio
5. Usa os advérbios apenas e até para completares as frases, respei-tando a ideia apresentada entre parênteses.
Os homens primitivos adoravam os animais e A (ideia de inclusão) os imitavam.
As mulher colhiam alimentos; B (ideia de exclusão) os
ho-mens caçavam e pescavam. 6. Completa para concluíres.
Os advérbios A e B são advérbios de inclusão, porque
permitem incluir alguém, alguma coisa ou alguma ideia num con-junto. Os advérbios C e D são advérbios de exclusão,
porque permitem excluir alguém, alguma coisa ou alguma ideia.
LEITURA
1. Lê o texto seguinte e depois aponta:
a) a(s) coluna(s) em que se expõem as características/proprieda-des das ervas aromáticas;
b) a(s) coluna(s) em que se dão instruções para manter as ervas aromáticas.
ERVAS AROMÁTICAS EM VASO
Vai bem com… Faz bem a… Como usar…
Tomilho Perfeito para guisados e cozidos. Ao contrário de outras ervas, o sabor persiste após várias horas de cozedura. Muito utilizado em pratos de carne, peixe, sopas e molhos. Salienta o sabor de outras ervas sem o intensificar.
Alivia distúrbios intestinais e é utilizado em gargarejos, contra inflamações na garganta, e em xarope, para tratamento de tosses e congestões respiratórias
Mantenha-o sob sol pleno ou à meia-luz, em solo bem drenável, enriquecido com matéria orgânica. As regas devem ser reguladas, sem encharcamentos.
Manjericão Igualmente conhecido por basílico, era usado em Itália para presentear namoradas. É a erva de excelência para a aromatização de sopas, saladas, molhos e massas.
Quando utilizado em grandes quantidades, funciona como antigripal.
Regue apenas quando começar a murchar. Coloque-o num local quente e ensolarado.
Salsa Transversal a todas as culturas, vai bem com sopas, molhos, pratos de carne e de peixe e omeletas. As suas folhas e talos podem ser usados. É muito apreciada para usar como guarnição.
Estimulante e diurética, auxilia também na digestão. Sob a forma de infusão, tem benefícios para a pele. Como emplastro, alivia irritações e picadas de insetos.
Dê preferência a solos ricos e com boa drenagem e opte por locais com sol direto. Corte sempre acima das folhas em crescimento.
Sabe bem, faz bem, n.º 2, julho / agosto 2011 (adaptado)
PROFESSOR CONHECIMENTO DA LÍNGUA 5. A até; B apenas. 6. A também; B até; C só; D apenas. LEITURA 1.
a) A primeira e a segunda colunas: Vai bem com… / Faz bem a… b) A terceira coluna: Como usar…
Percurso 2
Imagem Ervas aromáticas em vaso
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Ao connnntrtráráááio dde eouuuutrttasasaaaa eervrvrvassss, o sas bobobobobbob r pepersrsrssisstet apópós vávááririras hhoro asass de cccozozoooozededura. MMuitoMMM too u uuutitttlizazaddo em
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emmolhhosososooos. SaSalilienenntatatata oo sabaaboror ddde e ouutrtraasas eeeervrvasrvrvrvvvaaasa ssememm omo iiiintnteeeneensisificficficfi arar..
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1.1. Indica a(s) coluna(s) em que predominam:
b) as frases imperativas, com as formas verbais no presente do conjuntivo;
a) as frases declarativas, com as formas verbais no presente do indicativo.
1.2. Verifica se é possível substituir o presente do conjuntivo por formas verbais no imperativo, reescrevendo alguns exemplos. 2. Relembra o que sabes sobre o texto expositivo e lê a informação da
caixa sobre o texto instrucional. Depois, identifica sequências expo-sitivas e sequências instrucionais no texto sobre as ervas aromáticas.
ESCRITA
1. Usa um processador de texto para escreveres:
um texto expositivo sobre um dos alimentos incluídos na Roda dos Alimentos;
um texto instrucional para uma ementa diária saudável.
Texto expositivo
Pesquisa informação sobre esse alimento e organiza-a num esquema. Deves incluir:
— o nome do alimento;
— o grupo a que pertence na Roda dos Alimentos e a respetiva porção diária;
— as suas propriedades / os seus benefícios;
— a origem e as condições necessárias ao seu desenvolvimento. Entre outros, usa os verbos ser e ter no presente, para expores as características / propriedades do alimento.
Texto instrucional
Organiza as instruções que queres dar, de acordo com a ordem das refeições diárias.
Usa o imperativo para dares as tuas instruções.
Dá a conhecer os teus textos em cartazes para afixar e em folhetos para distribuir no refeitório e/ou no bar da tua escola.
TEXTO INSTRUCIONAL Apresentam-se, de forma organizada, as instruções necessárias para a realização de um conjunto de operações com vista a um resultado, habitualmente indicado no título do próprio texto. Usam-se os verbos no infinitivo ou no imperativo (quando se dirige à segunda pessoa)/no presente do conjuntivo (quando se usa a terceira pessoa).
Sabes quando se escreve «porque» e «por que»?
A razão A esses alimentos são importantes é serem ricos em ferro. Explica-me os motivos B devemos ter uma boa alimentação.
C devemos beber água? Explica-me D temos de a ingerir.
PROFESSOR
LEITURA
1.1.
a) A terceira coluna: Como usar… b) A primeira e a segunda colunas: Vai bem com… / Faz bem a…
1.2. É possível fazer essa substitui-ção, como nos exemplos: «Mantem--no sob sol pleno ou à meia-luz»; «Rega apenas quando começar a murchar»; «Dá preferência a solos ricos e com boa drenagem e opta por locais com sol direto»; «Corta sempre acima das folhas em cres-cimento».
2.
Sequências expositivas: «Salien-ta o sabor de outras ervas sem o intensificar»; «é utilizada em gar-garejos, contra inflamações na garganta»; «É a erva de excelência para a aromatização de sopas, sa-ladas, molhos e massas». Sequências instrucionais: «Mante-nha-o sob sol pleno ou à meia-luz»; «Coloque-o num local quente e ensolarado»; «Corte sempre acima das folhas em crescimento». A por que;
B por que; C porque; D porque.
PowerPoint
Texto escrito: o texto expositivo Texto escrito: o texto instrucional Texto expositivo Texto instrucional
LEITURA E ESCRITA
1. Lê a informação sobre o romance tradicional na página 94. Depois, lê o texto seguinte e explica por que razão se trata de um romance tradicional.
Estava a bela Infanta
No seu jardim assentada
Com o pente d’ oiro fino
Seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma nobre armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem que a governava.
– «Dize-me, ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus pisava.»
– Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada…
Dize-me tu, ó senhora,
As senhas
1que ele levava.»
– «Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada;
Na ponta da sua lança,
A cruz de Cristo levava.»
– «Pelos sinais que me deste
Lá o vi numa estacada
2Morrer morte de valente:
Eu sua morte vingava.»
– «Ai triste de mim viúva,
Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho,
Sem nenhuma ser casada!…»
– «Que darias tu, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
– «Dera-lhe oiro e prata fina,
Quanta riqueza há por i.»
– «Não quero oiro nem prata,
Não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?
– «De três moinhos que tenho,
Todos três to dera a ti;
Um mói o cravo e a canela,
Outro mói do gerzeli
3:
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei pra si.»
– «Os teus moinhos não quero,
não nos quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem to trouxera aqui?»
– «As telhas do meu telhado
Que são de oiro e marfim.»
– «As telhas do teu telhado
Não nas quero para mi:
Que darias mais, senhora,
A quem no trouxera aqui?»
– «De três filhas que eu tenho,
Todas três te dera a ti:
Bela Infanta
VOCABULÁRIO 1 Senhas: sinais.
2 Estacada: campo de comba-tes e torneios.
3 Gerzeli (Gerzelim): semente da planta com o mesmo nome, também conhecida por «sésa-mo».
Percurso 3
LEITURA E ESCRITA Romance tradicional Texto de opinião EXPRESSÃO ORAL Leitura dramatizada CONHECIMENTO DA LÍNGUA Som e sílaba – sons e sequências de sons– sílaba métrica e sílaba gramatical 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 PROFESSOR LEITURA
1. Trata-se de uma narrativa em versos rimados, com personagens de tempos antigos.
Uma para te calçar,
Outra para te vestir,
A mais formosa de todas
Para contigo dormir.»
– «As tuas filhas, infanta,
Não são damas para mi:
Dá-me outra coisa, senhora,
Se queres que o traga aqui.»
– «Não tenho mais que te dar,
Nem tu mais que me pedir.»
– «Tudo, não, senhora minha,
Que inda te não deste a ti.»
– «Cavaleiro que tal pede,
Que tão vilão é de si,
Por meus vilões arrastado
O farei andar aí
Ao rabo do meu cavalo,
À volta do meu jardim.
Vassalos, os meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!»
– «Este anel de sete pedras
Que eu contigo reparti…
Que é dela a outra metade?
Pois a minha, vê-la aí!»
– «Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!…
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.»
Almeida Garrett, Romanceiro, Círculo de Leitores, 1997
2. Em que versos se apresentam as personagens e o espaço da ação?
2.1. Identifica e caracteriza as personagens a partir desses versos.
2.2. Identifica, também, o espaço da ação. 3. Localiza, no texto, o diálogo das personagens.
4. Seleciona a opção correta para completares cada frase.
4.1. O tema do diálogo entre as personagens é
a) o marido da Infanta. c) a chegada do capitão. b) a riqueza da Infanta. d) a família da Infanta.
4.2. O tema do diálogo desenvolve-se com a) as recusas da Infanta. b) as ofertas da Infanta e as respostas do Capitão. c) as recusas do Capitão. d) a referência do Capitão ao anel. a) revela a identidade do Capitão.
b) está inteiro, quando a Infanta o vê.
c) faz parte das senhas do marido da Infanta. d) não é reconhecido pela
Infanta.
4.3. O anel
a) morreu na guerra. b) nunca poderia ser
o Capitão.
c) pretende pô-la à prova. d) perdeu a sua metade
do anel. 4.4. O marido da Infanta 55 60 65 70 75 80 Almeida Garrett 1799, Porto— 1854, Lisboa Escritor e político, é o autor de obras importantes como
Frei Luís de Sousa
e Viagens na minha terra.
PROFESSOR
LEITURA
2. Nos oito primeiros versos.
2.1. Infanta: bela, com um pente de ouro fino. Capitão: desempenha bem as suas funções de capitão da armada.
2.2. O jardim da Infanta, perto do mar.
3. O diálogo inicia-se no verso 9 e termina no final do texto.
4.1. a).
4.2. b).
4.3. a).
5. Nos textos tradicionais, é habitual a referência ao número três (que representa, por exemplo, a perfeição) e ao número sete (que repre-senta, muitas vezes, o encerramento de um ciclo, como o ciclo dos dias da semana).
Prova que esses números estão presentes neste romance tradicional. 6. Que objeto referido no conto pode, pela sua forma, representar o
encerramento de um ciclo? Justifica a tua resposta.
7. Embora não se saiba com exatidão em que momento foi produzido este texto, é possível situá-lo num tempo antigo a partir de referên-cias várias à vida das personagens. Dá exemplos dessas referênreferên-cias.
7.1. Encontramos, igualmente, formas antigas de determinadas palavras, que situam o texto num passado distante.
Descobre, no texto, as formas antigas de aí e de mim.
8. Num texto com 45 a 50 palavras, escreve a tua opinião sobre a atitude do marido da Infanta, apresentando dois argumentos. Começa o teu texto com uma das seguintes expressões: creio que,
julgo que, na minha opinião, parece-me que, em meu entender.
Introduz os teu argumentos, usando palavras e expressões como:
porque, já que, visto que, uma vez que…
EXPRESSÃO ORAL
1. Em trabalho de pares, faz a leitura dramatizada do diálogo entre a Infanta e o Capitão.
1.O PASSO
Releiam o texto e associem às diferentes falas possíveis sentimen-tos e estados de espírito das personagens (ansiedade, calma, des-confiança, indignação, alívio, felicidade…)
2.O PASSO
Experimentem alterar o tom de voz de acordo com esses sentimen-tos e estados de espírito, bem como o volume (mais baixo ou mais alto), consoante o que pretendem transmitir nas diferentes falas. Ensaiem alguns gestos adequados às falas das personagens.
3.O PASSO
Apresentem a vossa leitura dramatizada à turma.
Façam uma avaliação das várias leituras, tendo em conta o volume e o tom usados para transmitir os sentimentos e estados de espírito associados às falas, assim como os gestos escolhidos em cada caso. Leitura dramatizada Texto de opinião
Percurso 3
PROFESSOR LEITURA 5. Número três: «três filhinhas», três «senhas» que identificavam o marido da Infanta («cavalo bran-co», «selim de prata doirada», «cruz de Cristo» na lança), «três moinhos» que moem três produtos («cravo», «canela», «gerzeli». Número sete: «sete pedras».6. O anel do Capitão, porque é um círculo que se fecha quando se com-pleta com a metade da Infanta. De facto, o Capitão mostra a metade do anel que repartira com a Infanta, sua mulher, antes de partir, e pede- -lhe para mostrar a sua metade des-se objeto. A Infanta percebe então que está a falar com o seu próprio marido, concluindo-se a narrativa.
7. A Infanta, que está sentada a pentear-se com um pente de oiro; o Capitão que vem na armada e que é o marido da Infanta, o qual partira num cavalo branco e cuja arma era uma lança com a cruz de Cristo.
7.1. Forma antiga de aí: «i». Forma antiga de mim: «mi».
CONHECIMENTO DA LÍNGUA
Como sei se um ditongo é crescente ou decrescente?
1. «As telhas do meu telhado / Que são de oiro e marfim.»Indica os ditongos presentes nestes versos.
1.1. Lê com atenção a definição de semivogal.
Depois, identifica-a em cada ditongo do exercício anterior.
semivogal n.f. LP Som representado na escrita por uma vogal mas
que, por ser átono, não define uma nova sílaba, ocorrendo sempre junto a outra vogal e formando, com ela, um ditongo (sinais, trouxera).
Dicionário escolar – Português, Texto, 2011 (adaptado) 2. Presta atenção à posição da semivogal em cada ditongo.
Ditongo crescente: quarta. Ditongo decrescente: feira.
2.1. Os ditongos do exercício 1 são crescentes ou decrescentes? Porquê?
2.2. Completa, para concluíres.
Num ditongo crescente, a A vem antes da B . Num
ditongo decrescente, a C vem depois da D .
Há só uma maneira de contar as sílabas?
1. Soletra as sílabas gramaticais na sequência de palavras correspon-dente ao primeiro verso do romance tradicional «Bela Infanta».
«Estava a bela Infanta»
1.1. Conta as sílabas que soletraste.
1.2. Experimenta, agora, dizer a sequência de seguida. Que sons se juntaram quando a disseste?
2. Tratando-se de um verso, é possível contar as suas sílabas métri-cas. Faz essa contagem, respeitado as instruções seguintes:
conta as sílabas até à última sílaba tónica do verso;
junta o som vocálico átono no final de uma palavra com o som vocálico no início da palavra seguinte e conta uma única sílaba. 3. «Muito bem que a governava»
Conta as sílabas gramaticais e as sílabas métricas desta sequência.
3.1. O número de sílabas é o mesmo? Porquê?
O som e a sílaba
Guia Gramatical, p. 206
PROFESSOR
CONHECIMENTO DA LÍNGUA
Sons e sequências de sons
1. meu, oiro.
1.1. semivogais u e i.
2.1. Ditongos decrescentes (nos dois casos, a semivogal vem depois da vogal: eu, oi).
2.2.
A semivogal. B vogal. C semivogal. D vogal.
Sílaba métrica e sílaba gramatical
1. e 1.1. Es / ta / va/ a/ be / la / In / fan / ta: 9 sílabas.
1.2. Os sons das sílabas va e a e os sons das sílabas la e In.
2. Es / ta / va a/ be / la In /fan ta: 6 sílabas.
3. Mui / to / bem / que / a / go / ver / na / va: 9 sílabas gramaticais. Mui / to / bem / que a / go / ver / na va: 7 sílabas métricas.
3.1. Não, porque as sílabas métri-cas têm regras específimétri-cas e nem sempre coincidem com as sílabas gramaticais.
Gramática interativa O som e a sílaba
LEITURA
1. Lê o título do texto que se segue. Qual será o assunto do texto? Que característica da personagem referida no título poderá estar relacionada com o seu nome?
Pedro Cem tinha um palácio
Tinha navios no mar
Tesouros e mais tesouros
De um nunca mais acabar.
O palácio tinha uma torre
Donde se avistava o mar
E pelas tardes ele ia
Seus navios ver chegar.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Vinha gente a sua casa
Pedir para ele emprestar
Mas Pedro Cem se fazia
De mil juros bem pagar.
Vinham pobres ver se tinha
Uma moeda para dar
Mas Pedro Cem avarento
Mandava-os escorraçar.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Sentimentos não sentia
Nele não tinham lugar.
No peito só ambição
Avareza no olhar.
Por isso o povo espantou-se
Quando ele se quis casar
Por amor nunca seria
Que amor não tinha para dar.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Mas casou-se e as festas foram
Quinze dias sem parar.
Pedro Cem estava contente
Tinha barcos a chegar.
Por isso subiu à torre
Para os barcos avistar.
Eram barcos carregados
Com velas a esvoaçar.
A lenda de Pedro Cem
Percurso 4
LEITURA Lenda Letra de canção ESCRITA E EXPRESSÃO ORAL Letra de canção – ritmo, tom, volumee articulação CONHECIMENTO DA LÍNGUA Relações entre palavras: relações semânticas e relações entre grafia e fonia Dicionário 5 10 15 20 25 30 35 40 TEXTO NA ÍNTEGRA PROFESSOR LEITURA
1. Sugere-se que os alunos recu-perem o que sabem sobre as ca-racterísticas da lenda. Sugere-se, igualmente, que os alunos propo-nham significados para o nome da personagem mencionada no título.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Tamanha armada não vira
Nunca ninguém sobre o mar.
E a ambição de Pedro Cem
Cresceu, cresceu sem parar.
Do alto da sua torre
Começou ele a bradar:
«Agora nem tu, ó Deus,
Me poderás empobrar.»
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Palavras não eram ditas
Tempestade sobre o mar.
Erguem-se as ondas em fúria
Ribombam trovões no ar.
Quebram-se os mastros e as velas
A armada está-se a afundar
Dos barcos de Pedro Cem
Nem um só para contar.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
Era uma vez Pedro Cem
Soberbo como ninguém.
A mais rica das armadas
Foi tragada pelo mar.
E um raio circunda a torre
Fogo a tudo vai pegar.
No mar apenas destroços
Na terra cinza a voar
Nada resta a Pedro Cem
Dos seus tesouros sem par.
Era uma vez Pedro Cem
Que já teve e que não tem.
Era uma vez Pedro Cem
Que já teve e que não tem.
Barcos, palácio, riqueza
Tudo viu desmoronar.
Hoje percorre a cidade
Louco e pobre a mendigar.
Uma esmola a Pedro Sem
Que já teve e que não tem.
Uma esmola a Pedro Sem
Que já teve e que não tem.
Inácio Nuno Pignatelli, A lenda de Pedro Cem, Campo das Letras, 2007
2. Este texto é a letra de uma canção em que se conta uma história. Refere os elementos narrativos que encontras no texto.
2.1. Qual desses elementos é mencionado no refrão da canção? Por que razão é esse o elemento destacado no refrão?
2.2. Prova que a rima está presente neste texto.
3. Identifica, no texto, a situação inicial, o acontecimento principal e o desfecho da ação.
4. Localiza, no texto, os versos que se referem à tempestade.
4.1. Indica as sensações de Pedro Cem quando assiste ao início da tempestade, da torre do seu palácio.
Inácio Nuno Pignatelli 1950, Porto Escritor e professor, que tem colaborado em grupos de teatro, em jornais e em revistas. Lembranças da chuva e O Sobe-Montanhas são algumas das suas obras.
45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 PROFESSOR LEITURA
2. Personagens (Pedro Cem/Sem, o povo), espaço (palácio, torre, mar), tempo (antes e depois da tempestade), ação (sucessão de acontecimentos como o casamen-to, o desafio de Pedro Cem, a tem-pestade, a ruína), narrador.
2.1. A personagem Pedro Cem/ Sem, porque é o elemento central da narrativa.
2.2. Por exemplo: mar/acabar, Cem/ ninguém, desmoronar/mendigar.
3. Situação inicial: Pedro Cem era dono de um palácio, de navios e de tesouros e avistava a sua armada da torre da sua morada. Aconte-cimento principal: a tempestade. Desfecho da ação: a ruína de Pe-dro Cem, que passou a chamar-se Pedro Sem.
4. «Palavras não eram ditas/[…]/ Tudo viu desmoronar» (vv. 61-86).
4.1. Sensações visuais: «Erguem-se as ondas em fúria». Sensações au-ditivas: «Ribombam trovões no ar».
4.2. Seleciona as formas verbais que, sugerindo movimentos, con-tribuem para transmitir a imensa destruição causada pela tem-pestade.
4.3. Certas formas verbais encontram-se no presente do indicativo. Que efeito produzem na narração dos acontecimentos? 5. Refere os comportamentos habituais de Pedro Cem, antes e depois
da tempestade.
5.1. Relaciona esses comportamentos com a alteração do seu nome. 6. «Era uma vez Pedro Cem / Soberbo como ninguém»
«Uma esmola a Pedro Sem / Que já teve e que não tem».
Sugere um adjetivo para caracterizar Pedro Sem, que tenha um sentido oposto ao do adjetivo «soberbo».
7. Procura informação sobre a lenda de Pedro Sem. Pesquisa em livros e/ou na internet, com a ajuda de um motor de busca. Per-gunta também às pessoas mais idosas o que sabem sobre essa lenda. Regista a informação e partilha-a com a turma.
ESCRITA E EXPRESSÃO ORAL
1. A partir de um conto tradicional, de uma fábula ou de uma lenda, escreve, em grupo, um texto que pudesse ser a letra de uma canção.
1.O PASSO
Escrevam uma primeira versão do texto (incluam a situação inicial, a sequência dos acontecimentos mais importantes, o desfecho da narrativa e a informação a destacar no refrão). Leiam-na à turma e recolham sugestões para aperfeiçoarem o vosso texto.
2.O PASSO
Escolham um excerto musical que possa servir de som de fundo para a leitura coletiva do vosso texto.
3.O PASSO
Distribuam os versos do vosso texto e ensaiem a leitura com o excerto musical que escolheram. Preparem muito bem a adequa-ção do ritmo da leitura ao ritmo da música, treinem o tom e o volume da vossa voz, assim como a articulação correta dos sons.
4.O PASSO
Apresentem a leitura da vossa letra de canção à turma e apreciem as leituras dos restantes grupos.
Letra de canção
Percurso 4
PROFESSOR
LEITURA
4.2. «Quebram-se», «está-se a afun-dar», «Foi tragada», «circunda», «vai pegar», «a voar», «viu desmoronar».
4.3. Tornam a narrativa mais viva, como se os acontecimentos esti-vessem a acontecer agora, diante dos nossos olhos.
5. Antes da tempestade: via os navios a chegar todas as tardes, emprestava dinheiro a juros mui-to almui-tos, escorraçava os pobres. Depois da tempestade: percorre a cidade a mendigar.
5.1. Quando era rica e soberba, a personagem era Pedro Cem: um nome com quantificador nume-ral «cem», que indica, neste caso, grande quantidade. Depois da tem-pestade e da ruína, a personagem passa a ser Pedro Sem: um nome com a preposição «sem», que indica a falta ou ausência de alguma coisa.
6. Por exemplo: humilde.
Áudio Faixa 6 Excertos de música clássica
CONHECIMENTO DA LÍNGUA
Que relações podem existir entre as palavras «cem» e «sem»?
1. Compara a grafia, o som e o significado das palavras «cem» e «sem».Em que são iguais ou diferentes essas palavras? 2. Observa as palavras destacadas em cada alínea.
Quais mantêm a mesma relação que «cem» e «sem»? Porquê? a) Pedro vira os olhos para o mar. Era a maior armada que jamais vira. b) A torre foi atingida por um raio! Fujamos, antes que tudo torre! c) Tinham belas velas os navios de Pedro, mas agora nem vê-las! d) Era uma vez um homem soberbo, que é este louco que aqui vês.
2.1. Completa o quadro com as palavras dos exercícios anteriores.
Homónimas Homófonas Homógrafas Parónimas
Som e grafia iguais e significados diferentes Som igual e grafia e significados diferentes Grafia igual e som e significados diferentes Grafia e som semelhantes e significados diferentes a) b) c) d)
3. Pedro Cem mostrava arrogância, mas Pedro Sem manifestava a sua modéstia. Que relação de sentido existe entre as palavras des-tacadas?
4. Forma pares com as palavras retiradas do texto, respeitando as rela-ções de parte-todo que estabelecem entre si, como torre/palácio.
mar tempestade navios ondas trovões mastros
5. Completa a frase, selecionando a opção correta. A palavra «navio» é uma palavra de
a) sentido geral em relação à palavra «embarcação». b) sentido específico em relação à palavra «embarcação». 6. Completa e conclui.
As palavras podem estabelecer relações de grafia e fonia, classificando-se como palavras A , B , C e D .
Também podem estabelecer relações semânticas, que são rela-ções de sentido, como é o caso das palavras E e F ou das palavras que mantêm entre si relações de parte-todo e de sentido geral-sentido específico.
As relações entre palavras: relações semânticas e relações entre grafia e fonia
Guia Gramatical, p. 252
PROFESSOR
CONHECIMENTO DA LÍNGUA
1. São iguais no som e diferentes na grafia e no significado.
2. d) vez/vês: têm o mesmo som, mas grafia e significado diferentes (já as palavras vira/vira têm som e grafia igual e significados dife-rentes; as palavras torre/torre têm grafia igual e som e significados diferentes; as palavras velas/vê-las têm som e grafia semelhantes e significado diferente). 2.1. a) vira/vira. b) vez/vês. c) torre/torre. d) velas/vê-las.
3. São palavras antónimas.
4. ondas/mar; trovões/tempesta-de; mastros/navios. 5. b). 6. A homónimas; B homófonas; C homógrafas; D parónimas; E sinónimas; F antónimas. Gramática interativa As relações semânticas entre palavras As relações entre grafia e fonia
LEITURA
1. Vais ler um conto do escritor irlandês Oscar Wilde. Observa o título e explica, por palavras tuas, o significado do adjetivo aí presente.
VOCABULÁRIO 1 Iracunda: enfurecida. 5 10 15 20 25
Percurso 5
LEITURA Narrativa na íntegra – ação – tempo – comportamentos das personagens COMPREENSÃO DO ORAL E LEITURA Avisos CONHECIMENTO DA LÍNGUA PreposiçãoO Gigante Egoísta
Todas as tardes, ao voltarem da escola, as crianças costumavam ir
brincar para o jardim do Gigante.
Era um jardim grande e bonito, coberto de relva macia e verde.
Aqui e ali, entre essa relva, desabrochavam flores lindas como estrelas;
havia uma dúzia de pessegueiros que ao vir a Primavera floresciam de
cor-de-rosa e de tons de pérola, e no Outono se carregavam de frutos
opulentos. As aves poisavam nas árvores e cantavam com tanta doçura
que os pequenos interrompiam os seus jogos para ficarem a escutá-las.
– Que bom que é estar aqui – diziam uns para os outros.
Certo dia, o Gigante regressou. Fora visitar o seu amigo Papão da
Cornualha, e demorara-se lá sete anos. Ao fim desses sete anos havia
dito tudo o que tinha a dizer, porque a sua conversa era limitada, e
resolveu voltar ao castelo que lhe pertencia. Quando chegou, viu as
crianças a brincarem no jardim.
– Que estais aqui a fazer? – exclamou com voz iracunda
1. E os
pequenos fugiram.
– Este jardim é muito meu – declarou. – Que todos o fiquem
sabendo. Não consinto que ninguém venha para cá divertir-se, a não
ser eu próprio.
Edificou então um muro muito alto em toda a roda e colocou nele
este aviso:
SERÃO CASTIGADOS
OS INTRUSOS
Era bastante egoísta, esse Gigante.
Os desgraçados dos petizes não tinham já onde brincassem.
Tenta-ram fazê-lo na estrada, mas havia aí muita poeira e calhaus aguçados, o
que lhes desagradava. Vaguearam então em volta do alto muro, depois
das aulas, conversando acerca do belo jardim que existia do outro lado.
– Que bom que era estar lá! – diziam uns para os outros.
Veio a Primavera e por todo o país abriram flores e cantaram
pássaros: só no jardim do Gigante continuava Inverno. As aves não
TEXTO NA ÍNTEGRA
PROFESSOR
LEITURA
1. Egoísta: alguém que só pensa em si próprio.
se interessavam em ir para ali chilrear, porque não havia crianças, e
as árvores esqueceram-se de florir. Uma vez houve uma florinha que
levantou a cabeça acima da relva, mas deu logo com a vista na tabuleta
do aviso e teve tanta pena da petizada que de novo se ocultou rente ao
chão, e adormeceu. Os únicos entes satisfeitos eram a Neve e a Geada.
– A Primavera esqueceu-se deste jardim – comentavam elas. – De
maneira que podemos ficar cá todo o ano.
A Neve cobriu os relvados com o seu imenso manto branco, e a
Geada pintou de prata todas as árvores. Convidaram depois o
Aqui-lão
2a viver com eles, e ele aceitou o convite. Andava embrulhado em
peles e bramava
3todo o dia pelo jardim, derrubando as chaminés da
residência.
– Magnífico lugar – dizia ele. – Temos de convidar também o
Granizo.
Veio, pois, o Granizo, e diariamente, durante três horas, começou
a rufar no telhado do castelo até quebrar grande parte das ardósias.
Em seguida corria de roda do jardim, com a maior velocidade de que
dispunha. Vestia de cinzento e tinha um hálito frio como gelo.
«Não percebo porque é que a Primavera tarda tanto», pensava o
Gigante Egoísta sentado à janela, a olhar para o seu parque branco de
neve. «Espero que o tempo acabe por mudar.»
Mas a Primavera nunca veio, nem o Verão. O Outono amadurecia
fruta em todos os quintais, menos no do Gigante. «É muito egoísta»,
explicava. Ali era sempre Inverno, e o Aquilão, e a Neve, e o Granizo,
e a Geada dançavam de contínuo em redor das árvores.
Certa manhã, estava o Gigante ainda na cama, porém já acordado,
quando ouviu deliciosa música. Soava-lhe tão agradavelmente aos
ouvidos que até julgou serem os músicos do rei que passavam por lá.
Mas era apenas um pintarroxo que lhe cantava perto da janela. Havia
VOCABULÁRIO 2 Aquilão: o vento norte.
3 Bramava: fazia um grande ba-rulho. 30 35 40 45 50 55