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CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Circe Mara Marques

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Academic year: 2021

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CULTURAS AFRO-BRASILEIRAS: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Circe Mara Marques Universidade Alto Vale do Rio do Peixe - UNIARP

RESUMO:Este artigo trata das culturas Afro-brasileiras e da educação infantil. Resultou de uma pesquisa que teve como objetivo investigar o trabalho pedagógico relacionado às culturas Afro-brasileiras que estão sendo realizados para implementar as DCNEI, nas turmas de 0-3 anos.A investigação de ordem qualitativa foi realizada na região metropolitana de Porto Alegre, durante o ano de 2015, com a participação de quinze estudantes de Pedagogia. Os dados foram produzidos em onze escolas de educação infantil da região. O trabalho foi organizado em dois momentos, sendo que no primeiro foi realizada uma investigação empírica, abarcando observações das alunas da Pedagogia em turmas de 0-3 anos e a realização de entrevistas semiestruturadas com as professoras e gestoras das escolas de educação infantil. No segundo momento foram realizadas, pelas estudantes de Pedagogia, práticas promotoras de igualdade racial nas referidas turmas. Os dados levantados na pesquisa mostraram um cenário preocupante. Prevalece, nas escolas, uma concepção equivocada sobre a potência dos bebês e vigora o mito da educação infantil como lugar isento de preconceito. As práticas desenvolvidas pelas estudantes de Pedagogia mostraram que é possível romper com o silêncio e a ausência das culturas Afro-brasileiras nos tempos e espaços das escolas infantis. Ressalta-se a importância de que sejam intensificadas, na formação de professores, discussões que tratem das múltiplas linguagens dos bebês e da importância da inserção de práticas promotoras de igualdade racial no cotidiano das escolas, inclusive nos berçários.

Palavras-chave: Educação Infantil. Igualdade Racial. Prática Pedagógica.

A discriminação racial existe(e persiste) em diferentes segmentos da sociedade brasileira! Ela foi historicamente produzida e disseminada a partir de discursos que circulam repetidamente nos clubes, nos livros, nos jornais, na televisão, no cinema, nos brinquedos, nas escolas, etc. Nesse sentido, é preciso considerar que as crianças constroem verdades acerca do que é ser branco ou ser negro “na convivência social em diferentes âmbitos e por diferentes meios de linguagem” (DIAS, 2012, p. 669). Problematizar tais verdades e produzir estratégias para interromper os discursos que se fundam na suposta superioridade de uns em detrimento de outros é desafio legal da educação do século XXI.

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racial. A primeira previu as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro como conteúdo curricular obrigatório em todos os níveis de ensino. A Lei Nº 8.069/1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, assegura a toda criança o direito de igualdade de condições para a permanência na escola, de ser respeitada pelos educadores, de ter sua identidade e seus valores preservados e ser posta a salvo de qualquer forma de discriminação, negligência ou tratamento vexatório. A Lei Nº 10.639/03 modificou a Lei Nº 9394/96, que fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio das escolas brasileiras, oficiais e particulares. Desde sua aprovação, há mais de dez anos, essa modificação legal provocou impacto nas escolas de ensino fundamental e de ensino médio no sentido de serem efetivados investimentos na formação de professores e aquisição de materiais didáticos para trabalhar esse tema. Frente a esse cenário, cabe perguntar: Tal impacto atingiu/está atingindo também nas escolas de educação infantil?

Embora a educação infantil seja legalmente reconhecida como primeira etapa da educação, a referida modificação na LDBEN não se estendeu às crianças de 0-5 anos. Será que elas – as crianças de 0-5 anos - foram consideradas pequenas demais para tratar desse tema? Será que as práticas pedagógicas promotoras de igualdade racial na educação infantil devem ficar sujeitas à boa vontade de professores e gestores, em detrimento de um direito legal de todas as crianças?

Na verdade, embora tal mudança na LDBEN não tenha se estendido à educação infantil, isso não significa que a questão racial tenha ficado fora do currículo dessa etapa da educação. Cabe destacar que na Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) afirma que as diferentes culturas devem ser observadas na organização de propostas pedagógicas na Educação Infantil. Em seu Artigo 7º, inciso V, esse documento assegura que essas Propostas Pedagógicas para a educação infantil devem estar comprometidas com o rompimento das relações de dominação diversas, inclusive, étnico-racial.

Além disso, no Art. 8º, incisos VIII e IX, as DCNEI determinam que seja garantida, às crianças, a apropriação das contribuições histórico-culturais dos diferentes povos que constituem a nação brasileira, bem como o combate ao racismo e à discriminação.

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A pesquisa aqui apresentada trata dos modos de apresentação de culturas afro-brasileiras na educação infantil. O objetivo foi discutir acerca do trabalho pedagógico relacionado às culturas Afro-brasileiras que estão sendo realizados para implementar as DCNEI, nas turmas de 0-3 anos.A investigação de ordem qualitativa foi realizada na região metropolitana de Porto alegre, durante o ano de 2015. Participaram da coleta de dados um grupo de quinze estudantes do curso de Pedagogia, matriculadas na disciplina de Educação Infantil, em uma instituição privada de ensino superior. Os dados foram produzidos em onze escolas de educação infantil da região. O trabalho foi organizado em dois momentos, sendo que no primeiro foi realizada uma investigação empírica, abarcando observações das alunas de Pedagogia nas turmas de 0-3 anos e a realização de entrevistas semiestruturadas com as professoras e gestoras das escolas. As observações tiveram o propósito de conhecer a proposta pedagógica da escola, bem como identificar a presença (ou não) de referenciais da cultura afro-brasileira nos tempos e espaços das turmas pesquisadas. Durante as entrevistas as estudantes buscaram conhecer, junto às gestoras e professoras, aquilo que elas conheciam acerca das DCNEI, o modo como eram tratadas as questões da racialidade no espaço escolar, bem como as ações desenvolvidas para promover a igualdade racial junto às turmas de 0-3 anos. Também foram inquiridos os documentos e/ou materiais que fundamentam essas ações, os materiais didáticos que possuem na escola e as dificuldades que encontram para implementar o Art. 7, inciso V, das DCNEI. Em um segundo momento as estudantes retornaram às escolas para desenvolver práticas pedagógicas relacionadas à cultura Afro-brasileira nas turmas pesquisadas. Para desenvolver as intervenções elas participaram de planejamentos orientados e confeccionaram materiais didáticos considerando os espaços, os tempos e as especificidades das escolas e dos bebês.

Os resultados da pesquisa mostraram que a maioria das escolas não contempla a temática racial em seus projetos pedagógicos e, além disso, as gestoras e professoras conhecem muito vagamente as DCNEI. Com relação ao espaço e aos materiais foi constatado que, praticamente, não há imagens de pessoas negras nas paredes das escolas e, em algumas delas, nenhuma boneca negra no acervo de brinquedo disponível para as crianças brincarem. Embora as gestoras tenham afirmado que suas escolas possuem materiais didáticos para desenvolver trabalhos relacionados às diferenças raciais, as estudantes do curso de Pedagogia não tiveram acesso a esses materiais, pois, segundo as gestoras, os mesmos se encontravam guardados na secretaria, no depósito, na biblioteca

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disseram mais sobre as coisas que os bebês não são e não fazem do que sobre aquilo que eles expressam a partir de suas múltiplas linguagens. Esse dado certamente está relaiconado ao fato de que “Durante muitos anos os bebês foram descritos e definidos principalmente por suas fragilidades, suas incapacidades e sua imaturidade” (BARBOSA, 2010, s.p.), não sendo “reconhecidos como seres, ativos e interativos em suas primeiras aprendizagens de convivência no e com o mundo” (RICHTER E BARBOSA, 2010, p. 85). Reconhecer a potência dos bebês representa um desafio quando se propõe um currículo para crianças de 0-3 anos.

Professoras e gestoras também negam a ocorrência de qualquer tipo de preconceito racial na educação infantil e sobre isso quero chamar atenção para dois pontos importantes que as entrevistas e as observações mostraram em relação às culturas africanas: o silêncio na rotina e o vazio nos espaços. Quando digo “silêncio na rotina” estou me referindo à ausência de conversas, músicas e histórias alusivas à cultura africana e afro-brasileira no dia a dia dos bebês e crianças pequenas. Os dados mostraram que as culturas de tradições africanas invadem a rotina das escolas somente em momentos pontuais, como o Dia a Abolição da Escravidão e a Semana de Consciência Negra, contribuindo para disseminar fortalecer e a ideia de que são culturas exóticas. Com relação ao vazio no espaço, estou fazendo referência à falta lugar para que as crianças negras se vejam representadas nas imagens expostas nas paredes, nos livros infantis, nos brinquedos e em outros materiais pedagógicos presentes na escola. As práticas pedagógicas desenvolvidas pelas estudantes de Pedagogia, no segundo momento da pesquisa, evidenciaram que as crianças de 0-3 anos exploram com curiosidade os diferentes brinquedos e materiais didáticos que remetem à cultura afro-brasileira, tais como tapetes, móbiles, cortinas, fantoches, dedoches, etc, assim outros materiais não estruturados, como panos e lenços, para as crianças inventassem suas tendas, suas roupas de princesas africanas, e seus penteados e seus turbantes. As práticas das alunas do curso de pedagogia contribuíram para romper com o silêncio da temática racial na rotina dos berçários e com o vazio racial nos espaços das escolas pesquisadas. Metodologicamente, elas também mostraram a inexistência de uma “fôrma”, pois inventaram diferentes modos de levar as culturas africanas e afro-brasileiras para as brincadeiras das/com as crianças. Ou seja, mostraram ser possível, desde o berçário, promover práticas promotoras de igualdade racial sem perder de vista os eixos norteadores apontados pelas DCNEI – interações e brincadeiras.

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Os dados levantados na pesquisa mostraram um cenário preocupante. Prevalece, nas escolas, uma concepção equivocada sobre a potência dos bebês e vigorava o mito da educação infantil como lugar isento de preconceito. Tais dados sinalizaram a importância de que sejam intensificadas, na formação de professores, discussões que tratem das múltiplas linguagens dos bebês e da importância da inserção de práticas promotoras de igualdade racial no cotidiano das escolas, inclusive nos berçários. Ao fazerem as culturas afro-brasileiras entrarem nos berçários as estudantes mostraram para as gestoras, para as professoras e para elas mesmas a potência das crianças 0-3 anos.

Enfim a educação infantil carece de investimentos em recursos materiais e humanos para que se possa avançar na concretização do Artigo 7º, inciso V, das DCNEI.

Referências

BARBOSA, Maria Carmen S. As especificidades da ação pedagógica com os bebês. 2010. Brasília, MEC/Secretaria de Educação Básica, 2010. Disponível em:

file:///C:/Users/user/Downloads/asespecificidadesdaacaopedagogica%20(3).pdf Acesso em 16 de fevereiro de 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1988.

______. Lei n° 8.069/90, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: CBIA-SP, 1991.

______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ministério da Educação. Brasília, DF, 1996.

______. Resolução CNE∕CEB nº 5/2009. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Conselho Nacional de Educação. Brasília, DF: Diário

______. Lei 10.639/2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Poder Legislativo, DOU nº8/02, seção I, p. I, Brasília, 2003.

DIAS, Lucimar Rosa. Formação de Professores, educação Infantil e diversidade étnico-racial: saberes e fazeres nesse processo. In.:Revista Brasileira de Educação, v. 17, n. 51. set/dez 2012. P. 661- 749.

RICHTER, Sandra Regina S.; BARBOSA, Maria Carmen S. Os bebês interrogam o currículo: as múltiplas linguagens na creche. Educação, Santa Maria, v. 35, n. 1, p. 85-96, jan./abr. 2010. Disponível em: http://www.ufsm.br/revistaeducacao.

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