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Exmo. Senhor Vasco Alves Cordeiro,

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Exmo. Senhor Vasco Alves Cordeiro,

É com grande preocupação que nós, os signatários nacionais e internacionais desta carta aberta, que lhe é dirigida na sua função de Presidente do Governo Regional dos Açores, observamos uma evolução inquietante nos Açores e nas suas águas territoriais (ZEEA, Zona Económica Exclusiva dos Açores). No ecossistema do Atlântico, os Açores têm uma

importância fundamental para a natureza e os seus seres vivos, tanto debaixo como acima da água. A conservação deste singular ecossistema central é uma tarefa crucial para a

humanidade. A destruição deste sistema pode ter consequências graves para os seres humanos, não só nos Açores.

Por consideração pelas gerações vindouras e por consideração pelo tratamento sustentável transgeracional da natureza dos Açores, gostávamos de lhe apelar a mudar fundamentalmente a sua política no domínio da proteção ambiental e marítima.

Há muitos anos que, juntamente com peritos, o Governo Regional e diversas administrações das nove ilhas estabeleceram zonas de proteção marítima e reservas naturais no mar à volta dos Açores e também diretamente nas ilhas, pelo menos teoricamente. Desde 08.07.2008 estão legislados Parques Naturais de Ilha, para cada uma das Ilhas dos Açores (1). No entanto, para

que serve o estabelecimento de zonas de proteção marítima se estas leis excluem espécies pelágicas, como o tubarão, o espadarte e o atum, o isco vivo, e se se continua a autorizar que embarcações de pesca permaneçam, e até desenvolvam atividades extrativas nas zonas a que chamam Reservas? Se não se trava a pesca ilegal na prática, se as zonas de proteção

marítima não são respeitadas e, apesar de muitas indicações, participações e solicitações no sentido de mudar isso, continuarem a ser exploradas pelo setor da pesca, teremos certamente o futuro comprometido. Mesmo o futuro da Pesca.

O mesmo acontece nas águas da zona constituída pelas 200 milhas náuticas, a ZEE dos Açores, na qual frotas de pesca nacionais e estrangeiras exploram implacavelmente unidades populacionais de grandes peixes, como o tubarão, o espadarte, o espadim branco e azul e o atum. Neste contexto, também não hesitam em pescar em zonas de proteção, como p. ex. o Banco Princesa Alice ou o Banco Condor.

É preciso mudar isso drasticamente para proteger o futuro do mar e dos seus seres vivos, mas também das futuras gerações humanas.

O Governo dos Açores requereu o selo de qualidade GSTC associado a um turismo

sustentável, que é reconhecido internacionalmente, e encontra-se atualmente no processo de certificação. Aparentemente, a estratégia de marketing “Ilhas verdes com turismo sustentável” funciona bem. No entanto, uma análise mais profunda mostra que o que na realidade acontece nas ilhas muitas vezes nada tem a ver com um procedimento sustentável. Está na hora de mudar alguma coisa também no mar e de viver a sustentabilidade com honestidade e transparência no futuro. No âmbito da certificação deste selo de qualidade, é preciso que aconteça uma mudança drástica no comportamento do setor da pesca, mas acima de tudo na atuação do Governo dos Açores, ou seja, na política.

(2)

Em seguida especificamos sete domínios e exemplos que evidenciam como até agora se tratou o mar à volta dos Açores com a tolerância e a conivência do Governo Regional. Dirigimo-nos a si, Senhor Dr. Vasco Alves Cordeiro, para lhe pedir que altere sustentavelmente precisamente estas situações no futuro.

(1) Decreto Legislativo Regional n.° 19/2008/A, 8 de Ju lho de 2008.

1. Pesca e desembarque das frotas de palangres espanholas nos

Açores

Factos: como é intencionalmente observado e documentado há muitos anos pela organização não governamental SHARKPROJECT, a frota de palangres espanhola desembarca desde 2012 no Porto da Horta principalmente tubarão azul, tubarão-mako e alguns espadins. Segundo estimativas baseadas na capacidade de carga e na rotação de determinados navios

recorrentes, a SHARKPROJECT estima a quantidade desembarcada de tubarão em cerca de 5.000 toneladas por ano. (*2) Segundo o Direito Marítimo Internacional, os navios de pesca espanhóis são obrigados a ativar permanentemente o seu AIS (Automatic Identification

System). Exemplos atuais mostram que não cumprem essa obrigação. O Caixa Velho (3a Vi 7-4-92) desembarcou tubarão azul e espadim na Horta no dia 30 de abril de 2019. Os dados AIS deste navio estão extremamente incompletos, pelo que o AIS esteve periodicamente

desativado. Segundo observadores locais, o Ribel Tercero (3a Vi-7-3554) desembarca regularmente tubarão azul e tubarão-mako na Horta, por último no dia 24.05.2019. Sobre este navio não existem dados AIS desde outubro de 2017. Não é possível rastrear se este navio pesca em zonas protegidas, também dentro da ZEE dos Açores, e exerce assim atividades ilegais. (*3)

Contexto: originalmente com licença para espadarte, muitos dos cerca de 300 navios de palangre espanhóis desembarcam a sua captura na Horta durante todo o ano, para não terem de percorrer o percurso economicamente não lucrativo até Vigo (porto de origem e maior ponto de desembarque de tubarão da Europa), e poderem assim voltar para o mar diretamente a partir da Horta, com o objetivo de pescar nas águas à volta dos Açores, principalmente a sul dos Açores e em frente à Terra Nova na corrente do Golfo. Para capturar cosmopolitas do mar, como o espadarte e o tubarão, são usados palangres com um comprimento até 100 quilómetros com uma quantidade máxima de 20.000 anzóis. Originalmente, a captura principal dos

pescadores com palangre espanhóis era espadarte, espadim e em parte tubarão-mako. Embora nos palangres também ficassem presos tubarões azuis, estes eram apenas capturas acessórias não desejadas. Na maior parte das vezes eram novamente lançados mortos ao mar (segundo a ICCAT, International Commission for the Conservation of Atlantic Tuna: 80-88 % dos animais). Sobre as capturas de atum, tubarão e espadarte no Atlântico são realizadas

estatísticas pela ICCAT desde 1966. Ainda no ano de 1992, segundo a estatística da ICCAT as frotas com palangre no Atlântico Norte só desembarcavam 3560 toneladas de tubarão azul e, em 1993, apenas 10 toneladas no Atlântico Sul. Em 2011, eram 73.192 toneladas e, em 2016, 66.273 toneladas de tubarão. (*4)

(3)

Devido às unidades populacionais drasticamente diminuídas de espadarte, que desde os anos 90 até ao ano 2016 foram reduzidas a metade, e de espadim azul e de espadim branco, cujas unidades populacionais diminuíram até a um quarto no mesmo período, ao longo do tempo o tubarão azul e o tubarão-mako transformaram-se na captura principal. O tubarão azul, que nos anos 90 ainda era lançado novamente ao mar como captura acessória, devido à carne de fraca qualidade, recebeu um novo valor devido à classe média emergente e cada vez mais rica na China e à sua fome de barbatanas de tubarão. Neste caso, as barbatanas particularmente longas do tubarão azul são a sua maldição e, para a indústria da pesca espanhola e portuguesa, um negócio lucrativo. A proibição de “Finning” na UE, em vigor desde junho de 2013, também não muda a situação. Apesar de, desde então, as barbatanas terem de ser desembarcadas no corpo dos peixes, ao longo do tempo foram desenvolvidas técnicas para manter a “massa corporal” tão baixa quanto possível, ao cortar aos animais a cabeça logo a seguir às barbatanas peitorais e eviscerar ao máximo os animais. A carne do corpo com menos valor tem a única finalidade de aplicar o regulamento da UE “Barbatanas no corpo”. O preço dos tubarões azuis eviscerados, incluindo barbatanas, é em Vigo/Espanha de aprox. 1,00 € por quilograma de tubarão azul. (*5)

Notavelmente muitos tubarões jovens são capturados e desembarcados por estes navios, podendo isso dever-se ao facto de os Açores serem a região central para o desenvolvimento dos animais jovens. É para aqui que voltam os tubarões azuis que migram por todo o Atlântico, onde dão à luz as suas crias que se continuam a manter perto das ilhas e a sudoeste dos Açores (*6). Tal não se aplica apenas à população dos tubarões azuis, mas sim principalmente a espécies protegidas, como o tubarão-martelo-liso e o tubarão raposo (listados em CITES App.II e CMS), que não podem ser desembarcados na UE, mas também ficam pendurados nos palangres, normalmente mortos, e são novamente atirados para o mar sem qualquer controlo.

Exigências:

1. Paragem o mais rápida possível dos desembarques das frotas espanholas de captura de tubarão no Porto da Horta e em todos os outros portos nos Açores. 2. Divulgação de todas as tonelagens anuais desembarcadas na Horta da frota

espanhola de captura de tubarão desde junho de 2013, com identificação dos navios, nomes, tonelagens dos navios e indicação do peso do peixe

desembarcado (na maioria tubarão) em toneladas.

3. Divulgação dos destinos dos contentores de ultramar com tubarão e espadarte após o desembarque pela frota de captura espanhola desde junho de 2013. 4. Estabelecimento de uma zona de proteção marinha com o tamanho da ZEE dos

Açores, com 200 milhas marítimas, na qual as frotas da UE não tenham autorização para pescar tubarão nem espadarte.

(2) Documentação extensa sobre roteiros (dados AIS) e desembarque da frota espanhola no Atlântico Norte com porto de destino da Horta (documentação fotográfica)

(3) Fonte Global Fishing Watch, dados dos navios dos anos 2017-2019

(4) ICCAT Report 2016-17 https://www.iccat.int/Documents/BienRep/REP_EN_16-17_I-2.pdf

(5) Preços de leilão de peixes grandes em Vigo, novembro de 2017, pesquisa do canal de televisão alemão ZDF no local para a documentação “O negócio com o selo de qualidade”

(6) Conservation of pelagic sharks and Rays in the Azores, DOP; Pedro Afonso, Frédéric Vandeperre, Jorge Fontes, Filipe Porteiro, 2012

(4)

2. Pesca e desembarque de peixes grandes (tubarão, espadarte,

espadim) pelas frotas de Portugal Continental nas ilhas Faial e

São Miguel

Factos: contrariamente à frota espanhola, que só ocasionalmente pesca perto da ilha, a frota de Portugal Continental não só usa os portos da Horta e de Ponta Delgada como estação de desembarque para tubarão e espadarte, como também pesca dentro da ZEE de 200 milhas marítimas muito perto da costa, diretamente à frente das ilhas dos Açores. Neste contexto também se pesca comprovadamente em zonas de proteção, como p. ex. o Banco Princesa Alice (*7).

No dia 29 de abril de 2019, o navio com palangre MESTRE BOBICHA (VP-204-C), vindo do porto de origem “Vila do Porto”, vem de Portugal Continental e desembarca tubarão e espadim no porto de Ponta Delgada. Num contentor da empresa “Transinsular” n.º TMYU 900054-6 é transportado tubarão azul e, segundo declarações dos trabalhadores, espadim azul.

Notável é aqui o facto de quase todos os animais serem jovens e, por isso, ainda não se poderem reproduzir. Tubarões azuis (identificação BSH) são carregados visivelmente com barbatanas no corpo eviscerado. Em parte estão embalados tubarões-mako com a identificação de espadim azul (SWO), mas as barbatanas ainda são nitidamente detetáveis no corpo.

Pesquisas detalhadas revelaram que o MESTRE BOBICHA pesca quase exclusivamente na área dos Açores dentro da ZEE, precisamente nas áreas do mar que representam a

“maternidade” da maior parte das espécies de tubarão e espadim. Neste contexto também se pesca especificamente em zonas de proteção como o Banco Princesa Alice, o Banco Açor, o Banco Condor e o Banco Dom João de Castro. Este navio também descarrega em

(5)

Contexto: este navio é apenas um exemplo dos cerca de 100 navios de palangre de Portugal Continental que têm autorização oficial para pescar à volta das ilhas. Também neste caso se coloca a questão das espécies protegidas que não são descarregadas. Tubarões-martelo-liso e tubarões raposo, mas também outras espécies protegidas de tubarão, vivem à volta dos Açores. São sistematicamente exploradas zonas de proteção - fora isso existem exatamente os

mesmos problemas que na frota espanhola de palangre.

Exigências:

1. Proibição o mais rápida possível dos desembarques das frotas de palangre de Portugal Continental em todos os portos nos Açores.

2. Divulgação de todas as tonelagens anuais desembarcadas na Horta da frota de palangre portuguesa desde junho de 2013, com identificação dos navios, nomes, tonelagens dos navios e indicação do peso do peixe desembarcado em

toneladas.

3. Divulgação dos livros de registo sobre espécies ameaçadas não desembarcadas, que estão protegidas por CITES APP. II (espécies protegidas de tubarão /

tartarugas marinhas / aves marinhas, etc.).

4. Divulgação dos destinos dos contentores de ultramar com tubarão e espadarte após o desembarque pela frota de palangre portuguesa desde junho de 2013. 5. Estabelecimento de uma zona de proteção marinha com o tamanho da ZEE dos

Açores, com 200 milhas marítimas, na qual as frotas de Portugal Continental não tenham autorização para pescar tubarão nem espadarte. Nesta zona de proteção só deverá ser operada pesca local, comprovavelmente sustentável,

rigorosamente fora das zonas de proteção locais (zonas de proteção perto das ilhas e PMA 1 - PMA 11) e sazonalmente.

6. Espécies pelágicas, como tubarão, espadarte e atum, não podem ser pescadas

durante todo o ano, tal como todas as outras espécies de peixe, nas respetivas zonas de proteção marítima classificadas já existentes (PMA 1 – PMA 11).

(7) Dados AIS (Automatic Identifcation System) completos do MESTRE BOBICHA (VP-204-C) de Portugal Continental com porto de origem “Vila do Porto”, a partir de setembro de 2016, com provas de violação nas reservas naturais dos Açores. Documentação fotográfica adicional do desembarque em Ponta Delgada. Aqui apenas um screenshot:

(6)

3.

Respeito coerente pelas zonas de proteção nas águas açorianas

e imposição sistemática de sanções devido a quaisquer

infrações.

Factos: as zonas de proteção definidas, na realidade, quando inscritas na lei, não defendem os interesses para os quais foram definidas. Sendo classificadas com gestão de recursos onde é permitida a extração, por conseguinte não permitem, por lei, que as entidades fiscalizadoras possam atuar em conformidade. Por outro lado, nota-se que a maioria dos autos levantados pelas autoridades fiscalizadoras competentes têm tendência a resultar em nenhuma sanção aplicada, o que incita à impunidade do prevaricador. O fator negativo, neste aspeto, prende-se ao facto de os autos serem responsabilidade de entidades fiscalizadoras, enquanto a pena a aplicar ser responsabilidade do Governo.

Exigências:

1. As zonas de proteção junto às ilhas e à volta das ilhas, mas também as zonas de proteção como o Banco Princesa Alice, têm de ser protegidas mais

coerentemente. A aplicação de penas deveria ser responsabilidade das entidades fiscalizadoras e não do Governo. A constante não aplicação das penas,

estipuladas na lei, provoca impunidade e contribui para um escalar de incumprimento.

2. Imposição da obrigatoriedade de as embarcações de pesca possuírem e

manterem em funcionamento o AIS, associada à obrigatoriedade de se dirigirem imediatamente ao porto mais próximo para verificação do sistema, caso este pare de funcionar, seja qual for o motivo.

(7)

3. Proibição de passagem das embarcações de pesca nas Zonas de Reserva – apenas assim, e analisando o histórico do AIS, se conseguirá garantir que as mesmas não levarão a cabo atividades extrativas nas zonas não permitidas.

4.

Pesca local ilegal de espécies protegidas

Factos: o Alves (VV-46-C) foi filmado em 2016 durante uma navegação. A tripulação do navio de palangre, originário da Ilha Terceira, coloca especificamente iscas no palangre superficial com anzóis grandes (J-Hooks) para tubarão e espadarte. Durante a documentação de 45 minutos vê-se cenas nas quais a tripulação recolhe os palangres com a captura. Por um lado são brutalmente puxados para bordo tubarões azuis, que são mortos em circunstâncias cruéis. Em parte, depois de os animais terem sido maltratados e perfurados com arpões e anzóis, e ainda espancados com bastões, ainda lhes abrem a barriga apesar de estarem vivos. Um tubarão-mako fêmea ainda respira comprovadamente durante esta tortura mortal com a barriga aberta. Durante a navegação são comprovadamente içados ilegalmente para bordo e

guardados na bolsa do navio pelo menos seis tubarões-martelo-liso (CITES APP. II e CMS) e um tubarão raposa fêmea adulta (CITES APP. II e CMS). (*8)

Segundo relatos de testemunhas oculares competentes, em outubro de 2018 foram

desembarcados ilegalmente no Rabo de Peixe tubarões azuis e tubarões-martelo-liso (CITES App. II e CMS). (*9)

Contexto: a captura de tubarões azuis nos Açores é um “fenómeno” relativamente novo nos Açores. Tradicionalmente não se come tubarão nos Açores. Uma exceção constitui apenas o cação (Galeorhinus galeus) bastante apreciado em Portugal Continental, que de vez em quando é apresentado nos balcões de peixe e leiloado na LOTA. No entanto, nos palangres superficiais dos pescadores também ficam penduradas espécies protegidas, que são desembarcadas ilegalmente ou novamente atiradas para o mar pelos pescadores, sem qualquer controlo ou registo. Uma vez que não é possível qualquer controlo das espécies que ficam penduradas no palangre, esta pesca é uma das menos seletivas e mais brutais.

O caso do Alves (VV-46-C) já foi divulgado internacionalmente e também regionalmente em 2016. Até hoje não ocorreu qualquer sancionamento do delito. Infelizmente, temos de partir do princípio de que este não é um caso isolado, mas sim algo que acontece regularmente nas ilhas. Segundo declarações de cidadãos locais, o Alves continua a pescar tubarão com palangres superficiais. E com certeza que não é o único navio a fazer isso.

(8)

Exigências:

1. Proibição da captura específica com palangre superficial de tubarão e espadarte / espadim pelos pescadores locais dos Açores.

2. Controlos eficientes pelas autoridades portuárias durante o descarregamento, para impedir delitos contra a proteção de espécies.

3. Punição com caráter draconiano de delitos contra a Convenção de Washington (CITES) e o CMS.

4. Imposição da obrigatoriedade de as embarcações de pesca possuírem e

manterem em funcionamento o AIS, associada à obrigatoriedade de se dirigirem imediatamente ao porto mais próximo para verificação do sistema, caso este pare de funcionar, seja qual for o motivo.

5. Proibição de passagem das embarcações de pesca nas Zonas de Reserva – apenas assim, e analisando o histórico do AIS, se conseguirá garantir que as mesmas não levarão a cabo atividades extrativas nas zonas não permitidas. 6. A instrução dos processos de contra-ordenação poder ser levada a cabo

diretamente pelas entidades fiscalizadoras, como por exemplo a Polícia Marítima e a GNR, sem que tenha que passar por entidades regionais. Isto evitará perdas de tempo e o desrespeito com que são tratados os processos instaurados por estas entidades, vendo muitas vezes os processos que iniciaram serem arquivados ou perdoados.

(9)

(9) As fotografias da descarga dos tubarões de um veículo e os respetivos relatos claros de testemunhas oculares estão disponíveis.

5.

Interdição imediata de descarga ou entrega em lota de Tubarão

Azul (tintureira), tubarão Rinquim (Mako), Espadarte ou Espadim,

bem como a não contabilização de “tintureira” nas subvenções

da EU, como estipulado em Lei.

Factos: através da LOTA (Lotaçor) é leiloado tubarão e espadarte que vêm da captura com palangre local. No período de janeiro até outubro de 2018 foram leiloadas 4,09 toneladas de tubarão-mako, no valor total de 16.686,00 €, e 29,17 toneladas de tubarão azul no valor total de 9.296,00 €. Isso corresponde a um montante de 26.000 € na totalidade, um valor bastante menor em comparação com a captura de atum, que no mesmo período produziu só na LOTA de São Miguel (1-10/2018) muito mais do que 2 milhões de euros. (*10) Em particular o tubarão azul, com preços médios de 0,12 € a 0,36 €, não pode ser comercializado lucrativamente. Num caso específico, na lota de São Mateus, chegou a ser comercializado a 0,07 € o kg. Aqui, em primeira linha entram em jogo as subvenções da UE, que incitam os pescadores a capturar, entre outras, também estas espécies de peixe. Por cada tonelada de peixe capturado, os pescadores recebem subvenções no valor de cerca de 714 €. Segundo a portaria nº 46/2016 de 20 de Maio de 2016, o tubarão azul (tintureira) não é elegível para subvenções da EU.

(10)

No entanto, esta espécie tem sido incluída neste programa. É de salientar que esta infração é o elemento fundamental, como atrativo para a faina desta espécie, tendo em conta os valores a que são comercializados em Lota.

Exigências:

1. Imposição da obrigatoriedade de as embarcações de pesca possuírem e

manterem em funcionamento o AIS, associada à obrigatoriedade de se dirigirem imediatamente ao porto mais próximo para verificação do sistema, caso este pare de funcionar, seja qual for o motivo.

2. Proibição de passagem das embarcações de pesca nas Zonas de Reserva – apenas assim, e analisando o histórico do AIS, se conseguirá garantir que as mesmas não levarão a cabo atividades extrativas nas zonas não permitidas. 3. Proibição da descarga destas espécies nos Portos dos Açores.

(10) Números disponíveis do período 1-10/2018 da LOTA São Miguel, Faial e Terceira.

6.

Fomento da pesca local sustentável

Factos: a pesca com salto e vara local tradicional nos Açores trabalha sazonalmente com reduzido emprego de iscas (anchovas vivas), pescando atum albacora e bonito sem qualquer captura acessória, oficial e seletivamente com quotas rigorosas. Corretamente operada, esta pesca é uma das formas mais sustentáveis que pode ser comercializada lucrativamente a nível internacional para os pescadores através de selos de sustentabilidade.

Contexto: há muitos anos que frotas internacionais pescam excessivamente unidades

populacionais de atum. Os pescadores locais com vara e salto dos Açores também sofrem com isso. Os anos 2014 e 2015 foram uma catástrofe para a pesca local de bonito e atum. Por uma questão de necessidade, os pescadores locais pescam também em zonas de proteção locais e as últimas unidades populacionais são destruídas. Áreas como Formigas são atualmente vigiadas com câmaras, com o objetivo de impedir pesca ilegal (embora nos pareça que atualmente não estão em funcionamento). Isso também afeta a pesca com salto e vara. Pequenos pescadores locais veem-se em parte obrigados a vender ilegalmente atum fora da LOTA. Todos estes factos mostram que a pesca dos Açores sofre com as práticas provocadas por si própria e pela pressão de captura internacional.

(11)

Exigências:

1. Subvenção da pesca local com salto e vara, desde que cumpra as especificações legais e evite zonas de proteção, assim como desde que as capturas sejam vendidas através da LOTA.

2. Vigilância 100% eletrónica dos navios com salto e vara ou, alternativamente, por observadores independentes.

3. Imposição da obrigatoriedade de as embarcações de pesca possuírem e

manterem em funcionamento o AIS, associada à obrigatoriedade de se dirigirem imediatamente ao porto mais próximo para verificação do sistema, caso este pare de funcionar, seja qual for o motivo.

4. Proibição de passagem das embarcações de pesca nas Zonas de Reserva – apenas assim, e analisando o histórico do AIS, se conseguirá garantir que as mesmas não levarão a cabo atividades extrativas nas zonas não permitidas. 5. Criação de zonas fechadas e devidamente vigiadas nos portos, para evitar a

constante fuga à Lota.

7.

Captura de tubarão versus turismo

Factos: há muitos anos que as pessoas vêm aos Açores para apreciar a natureza. A observação de baleias e o mergulho com tubarões são elementos muito importantes para o turismo. Enquanto os observadores de baleias ficam principalmente em terra e procuram outras atividades nas férias, os mergulhadores (na maioria experientes) vêm aos Açores em primeiro lugar para mergulhar (*11). Neste contexto, o mergulho com tubarões tem uma importância central. Há quase dez anos que o turismo do mergulho com tubarões é um elemento permanente do rendimento da população nos Açores. Especialmente no Grupo Central tem uma grande importância. Os mergulhadores não são um fator económico importante apenas para os centros de mergulho. Todos os setores dos Açores beneficiam deles. Cada tubarão azul vivo é um fator económico importante para os Açores. Um animal vivo tem um valor muito superior aos 12 cêntimos por quilo de carne. Estudos de outras zonas marítimas, como as Bahamas, revelam um enorme benefício económico com os animais vivos. Nas Bahamas, a pesca com palangre já foi proibida no início dos anos 90. Desde 2011 é proibido qualquer tipo de captura de tubarões nas águas das Bahamas, tendo também sido criada uma zona de proteção extensa. O volume de negócios anual da indústria do mergulho, composta

principalmente por mergulhos com tubarões, é de 113,80 milhão US $. (*12) Estudos do DOP revelam conclusões semelhantes para os Açores. (*13)

Contexto: Há anos que mergulhadores de todo o mundo observam a “venda ao desbarato” da natureza nos Açores. Nos média sobre mergulho aparecem regularmente reportagens (*14) sobre a captura excessiva de tubarão à volta dos Açores, o apoio desta captura de peixe por parte do Governo Regional e os seus efeitos adversos no turismo de mergulho, assim como

(12)

tubarões azuis à volta do Grupo Central diminuíram dramaticamente. No ano de 2015, praticamente não foram avistados tubarões. Zonas de proteção como o Banco Condor e o Banco Açor estão até hoje verdadeiramente “arrasadas”. Em zonas de proteção como o Banco Princesa Alice foram avistados regularmente pescadores. As zonas de proteção pelágicas (PMA 1 – PMA 11) foram determinadas e a pesca foi proibida, mas tal aconteceu com exceções para tubarão, espadarte e atum, as espécies migrantes. Isto é uma contradição: para que servem zonas de proteção pelágicas se as espécies migrantes que procuram as zonas de proteção não estão protegidas lá, havendo em vez disso autorização para serem capturadas com palangres? (*7). Há dez anos que os bancos de pesca à volta dos Açores são submetidos a pesca cada vez mais excessiva, que os controlos praticamente não são realizados e que a população de tubarão, tão importante para o ecossistema e também para o turismo, é

verdadeiramente extinta. À volta da ilha de Santa Maria, os avistamentos de tubarão diminuíram cerca de 80 por cento em 2 anos. (*15)

Mais uma prova de como os turistas são enganados é o Aquário do Porto Pim no Faial.

Aparentando ser uma estação de recuperação para tartarugas e outros habitantes do mar com lesões, é na realidade um comerciante de peixe para aquários que, através da sua página web, até espécies protegidas comercializa. Todos os grandes aquários do mundo já foram fornecidos por este comerciante. No programa desta empresa, com o nome ilustrativo “Flying Sharks”, além de todos os peixes atlânticos possíveis (p. ex. também o peixe-lua) estão incluídos

tubarões azuis, tubarões perna-de-moça, pata-roxa e diversas espécies de raia. Em especial os tubarões azuis só sobrevivem em cativeiro durante algumas horas ou alguns dias - e no melhor dos casos poucas semanas (*16).

No entanto, na página web de “Flying Sharks” é feita agressivamente publicidade à possibilidade de fornecer espécies como mantas, jamantas e tubarões-marelo-liso. Estas espécies estão protegidas pela Convenção de Washington CITES e estão no seu Apêndice II, pelo que só podem ser comercializadas em casos excecionais, se puder ser comprovado que a população, da qual os animais são retirados, é saudável. Está fora de questão que isso seja o caso à volta dos Açores. Um ponto adicional é a prática muito duvidosa de manter espécies pelágicas, como tubarões e raias, em aquários. Em particular tubarões-martelo e grandes espécies de raias não têm grande esperança de vida em aquários. O seu comércio é por isso extremamente questionável e incompatível com valores sustentáveis.

(13)
(14)

Exigências:

1. Fomento de turismo sustentável e do setor de mergulho nos Açores.

2. Proteção rigorosa da população de tubarões à volta dos Açores dentro da ZEE (200 milhas marítimas).

3. Paragem da venda de peixe-lua, tubarão azul e espécies na CITES App. II pela empresa “Flying Sharks”.

4. Imposição da obrigatoriedade de as embarcações de pesca possuírem e

manterem em funcionamento o AIS, associada à obrigatoriedade de se dirigirem imediatamente ao porto mais próximo para verificação do sistema, caso este pare de funcionar, seja qual for o motivo.

5. Proibição de passagem das embarcações de pesca nas Zonas de Reserva – apenas assim, e analisando o histórico do AIS, se conseguirá garantir que as mesmas não levarão a cabo atividades extrativas nas zonas não permitidas.

(11) Managing marine wildlife tourism activities: Analysis of motivations and specialization levels of divers and whale watchers, Julia Bentz, Fernando Lopes, Helena Calado, Philip Dearden

(12) The contemporary economic value of elasmobranchs in the Bahamas: Reaping the rewards of 25 years of stewardship and conservation. Author links open overlay panel, Andrea R.Haasa, TonyFedler, Edward J.Brooksa.

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0006320716307224?via%3Dihub

(13) „Sustaining marine wildlife tourism through linking Limits of Acceptable Change and zoning in the Wildlife Tourism Model“, Julia Bentz, Fernando Lopes, Helena Calado, Philip Dearden.

(14) Reportagens de toda a Europa (excerto):

(15) “Sustaining marine wildlife tourism through linking Limits of Acceptable Change and zoning in the Wildlife Tourism Model”, Julia Bentz, Fernando Lopes, Helena Calado, Philip Dearden.

(16) The Elasmobranch Husbandry Manual II: Recent Advances in the Care of Sharks, Rays and their Relatives, Mark Smith, Doug Warmolts, Dennis Thoney, Robert Hueter, Michael Murray, Juan Ezcurra. Pages 43-51. © 2017 Ohio Biological Survey

(15)

Com todos estes factos mostramos que a política nos Açores atualmente NÃO é sustentável. É necessário estabelecer leis e reformas com caráter permanente, nomeadamente leis e reformas que protejam o mar sustentavelmente e, desse modo, assegurem o rendimento das próximas gerações da população dos Açores. Todas as condições prévias para isso estão presentes com a grande riqueza da natureza e não podem, como acontece atualmente, continuar a ser

exploradas, mas sim protegidas objetivamente.

Em todo o mundo há espécies em risco, por fim também confirmadas e denunciadas pelas NU através do atual relatório das NU (*17). A exploração direta de peixe e marisco tem o maior impacto nos oceanos. Por sua vez, o maior impacto na biodiversidade em ecossistemas marítimos foi provocado pela pesca nos últimos 50 anos. 33% das unidades populacionais de peixe já eram objeto de sobrepesca até 2015 e quase 33% dos corais que formam recifes, dos tubarões e das raias, assim como um terço dos mamíferos marinhos, estão em risco de extinção!

(17) IPBES Global Assessment Report on Biodiversity and Ecosystem Services, publicado em 6 de maio de 2019

Não deixe que os Açores contribuam para esta extinção de espécies de um modo tão triste, dê o exemplo! Cientistas de todo o mundo exigem muito mais zonas de proteção marítima, zonas nas quais a vida se possa recuperar. Todas as pesquisas mundiais revelam que, quando a proteção marítima rigorosa é exercida, a pesca operada sustentavelmente beneficia disso a longo prazo.

Deixe que os Açores sejam um exemplo para o futuro dos nossos oceanos e dos nossos filhos e netos. Tem o poder necessário para alterar isso e estabelecer uma política marítima

realmente sustentável nos Açores. Por isso reivindicamos que atue nesse sentido!

Pedimos que, dentro das próximas quatro semanas, o mais tardar até 01.10.2019, se pronuncie sobre esta carta. Por favor envie a sua resposta para o endereço de e-mail

azores@sharkproject.org ou por via postal para:

SHARKPROJECT Germany e.V. Ottostraße 13

D-63150 Heusenstamm

Se, dentro deste prazo, não tivermos recebido uma resposta positiva, tomaremos a liberdade de divulgar ao Certificador GSTC todos os factos referidos nos pontos 1-17, que estão anexados a esta carta apenas em excerto.

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Destinatários:

Vasco Alves Cordeiro,

Presidente do Governo Regional dos Açores 5 Ministérios dos Açores

Sérgio Humberto Rocha de Ávila

Vice-Presidente do Governo Regional dos Açores Andreia Martins Cardoso da Costa

Secretária Regional da Solidariedade Social Avelino de Freitas de Meneses

Secretário Regional da Educação e Cultura Gui Manuel Machado Menezes

Secretário Regional do Mar, Ciência e Tecnologia Ana Rêgo-Costa Amorim da Cunha

Secretária Regional dos Transportes e Obras Públicas

Os signatários:

Sharkproject International e.V. Alexander Smolinsky

Sharkproject Germany e.V. Friederike Kremer-Obrock

Verein Sharkproject Switzerland Denise Smolinsky Sharkproject Austria Herbert Futterknecht Mais signatários: 30.8.2019 Dia de decidir

Referências

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