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TENDÊNCIA DA MORTALIDADE POR CÂNCER BUCAL E DE FARINGE EM SANTA CATARINA - BRASIL DE 1980 A 2002

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1980

A

2002

Trends in mortality from cancers of mouth and pharynx in Santa Catarina state, southern Brazil, between 1980 and 2002

Mersita Fardo Armênio1, Maria Gabriela Haye Biazevic2

RESUMO

Analisar a tendência dos coeficientes ajustados de mortalidade por câncer bucal e de faringe no Estado de Santa Catarina, no período de 1980 a 2002, considerando sexo, idade e Macrorregião de Saúde. Para o levantamento do número de óbitos por câncer bucal e de faringe utilizou-se como fonte de dados o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, segundo a Classificação Internacional das Doenças (CID-9 e CID-10) e dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para o cálculo dos coeficientes ajustados de mortalidade. A população mundial foi utilizada para padronização dos coeficientes de mortalidade. A taxa ajustada de mortalidade apresentou estabilidade no período. Homens apresentaram coeficientes ajustados por idade 6,54 vezes o coeficiente das mulheres, no Estado. Foi observada tendência global estável de aproximadamente 5,5/100.000 habitantes entre os anos de 1980 e 2002 e a faixa etária de maior número de óbitos concentrou-se acima dos 40 anos, e tendência crescente foi observada em especial entre os 40 e 59 anos. A tendência de mortalidade apresentou-se estável no Estado de Santa Catarina no período, apesar de seu número absoluto ter aumentado. Dimensionar a oferta de serviços e implementar programas de rastreamento se fazem necessários para segmentos populacionais com risco aumentado de doença.

PALAVRAS-CHAVE

Tendências, neoplasias bucais, mortalidade ABSTRACT

The purpose of this study was to analyze trends in mortality rates from cancers of mouth and pharynx in Santa Catarina state, Southern Brazil, between 1980 and 2002. Complementary information regarding sex, anatomic sites and its distribution by geographic health areas has been supplied. We assessed death rates from cancers of mouth and pharynx by using the Mortality Information System (SIM) database of Ministry of Health, Brazil, according to the International Classification of Diseases and Injuries (ICD – 9th and 10th revision) and the Brazilian Geography and Statistics Institute (IBGE) data. World population was used in order to standardize the mortality rates. The cancers of mouth and pharynx showed increasing trends in mortality rates. The adjusted coefficients of deaths by age for males were 6.54 times the values for

1 Mestre em Saúde Coletiva. End.: Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus UNOESC - Bairro

Flor da Serra, 89670-000 Joaçaba, fone: 49 5512041 / 5210238 - e-mail: mersita.fardo@unoesc.edu.br

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GU I L H E R M E FR A N C O NE T T O, JA C I R A CA N C I O, MA R A OL I V E I R A, GI L S O N SP A N E M B E R G, CL E I D E SA N T O S

females regarding all sites of origin in the State. Mortality stability trend of 5.5/ 100,000 was observed in all regions, and most of the deaths occurred among individuals aged 40 years and older. Mortality trends were stable in the State of Santa Catarina in the studied period, despite its absolute number had increased. Directing health services availability and implementing screening programs are necessary to populational segments with higher disease risk.

KEY WORDS

Trends, mouth neoplasms, mortality

1. INTRODUÇÃO

O câncer tem sido identificado como um importante e crescente problema de saúde pública. Estudos epidemiológicos têm mostrado que as taxas de incidência e mortalidade por câncer têm variado amplamente no mundo (Stewart & Kleihues, 2003), sendo considerado uma enfermidade de alta morbidade que se manifesta em diferentes partes do corpo humano (Greenlee

et al., 2001). O alto consumo de tabaco, álcool e o consumo pouco freqüente

de vegetais e frutas frescas são as principais causas para vários tipos de câncer (Neville & Dav, 2002).

Em algumas regiões do mundo, observa-se um aumento na expectativa de vida da população e um número maior de pessoas vivendo em idades avançadas, sendo expostas a diversas situações de risco como aquelas que podem desenvolver o câncer. Esta mudança demográfica foi observada por Swango (1996) nos EUA, como um fator de grande influência na epidemiologia do câncer bucal e de faringe. No Brasil, segundo Wünsch-Filho (2002), as características da população brasileira mudaram muito no século XX, o que ocasionou uma ampla variação nos indicadores de saúde observados, como o que ocorre nas neoplasias.

O dano causado pelo câncer ocorre de modo desigual entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, com os diferentes tipos de cânceres exibindo padrões distintos de distribuição (Budhy et al., 2001). Países desenvolvidos têm apresentado altas taxas de incidência de câncer (Greenlee et al., 2001). Já os países em desenvolvimento, além de apresentarem altas taxas de incidência, também têm mostrado taxas de mortalidade ajustadas por idade elevadas para o câncer (Stewart & Kleihues, 2003), inclusive no Brasil, onde as regiões mais desenvolvidas do país apresentaram taxas de incidência e de mortalidade para câncer mais altas do que regiões menos desenvolvidas (Kligermann, 2002).

O câncer também pode manifestar-se na cavidade bucal e na faringe (Johnson & Warnakulasuryia, 1993; Boraks, 1999; Schmidt et al., 2004). Houve durante o século XX um incremento do câncer bucal na Europa, na América do Norte e em outras regiões industrializadas (Cox et al., 1995; Swango, 1996; Negri et al., 1996);

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A C O N S T R U Ç Ã O D E U M A Á R E A D E A N Á L I S E D A S I T U A Ç Ã O D E S A Ú D E A M B I E N T A L P A R A A V I G I L Â N C I A E M S A Ú D E A M B I E N T A L N O BR A S I L o câncer bucal ocupa o 11º lugar entre os tipos mais freqüentes de câncer no mundo e, segundo Johnson (1991), nos países em desenvolvimento ocupa a 3ª colocação entre todas as localizações anatômicas. Aproximadamente, 75% dos casos de câncer bucal e de faringe, segundo Robinson e Macfarlane (2003), ocorrem em países em desenvolvimento.

O câncer de orofaringe tem uma das taxas de mortalidade mais altas dentre todas as neoplasias (Ferlay, 2001), e uma baixa taxa de sobrevivência com 50% em cinco anos (Greenlee et al., 2001). Estima-se que os tumores relacionados à cavidade oral e faringe sejam responsáveis por 200 mil mortes por ano em todo o mundo (Stewart & Kleihues, 2003).

Conforme o relato do Cancer Research UK (2005), em 2003, a taxa de mortalidade por câncer bucal ajustada por idade para ambos os sexos no Reino Unido foi de 2,2/100.000. Quando observadas as taxas de mortalidade por câncer bucal para homens e mulheres, verificou-se que os valores foram de 3,3 e 1,4/100.000, respectivamente.

Su et al. (1999) encontraram, no período de 1950 a 1994 no Japão, que a taxa de mortalidade ajustada pela idade para homens aumentou de 1,95/100.000, entre 1950 e 1954, para 3,3/100.000 e entre 1990 e 1994. Entre esses períodos, na faixa etária dos 40-44 anos, houve uma tendência de estabilidade, o que já não ocorreu para os outros grupos de idade, destacando que quanto maior era a idade do grupo, maior era a taxa de mortalidade, nos anos mais recentes (1990-1994). Segundo o Globocan (2005), as taxas de mortalidade ajustadas por idade para o câncer bucal no ano de 2002 para os países desenvolvidos foram de 2,7/100.000 e nos países em desenvolvimento, 3,0/100.000. O Brasil apresentou taxas de mortalidade ajustadas por idade, para homens (3,0/100.000), iguais àquelas verificadas nos homens residentes em regiões em desenvolvimento. Já para as mulheres brasileiras (0,8/100.000), estas taxas apresentaram valores semelhantes às taxas para mulheres de países desenvolvidos (0,7/100.000).

Padrões diferentes de ocorrência do câncer bucal e de faringe têm sido observados no Brasil. Na Região Sul, tanto a incidência quanto a mortalidade têm-se revelado maiores quando comparadas ao padrão da região Norte do país. As taxas de mortalidade nas regiões Sul e Sudeste foram duas vezes mais altas das observadas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Wünsch-Filho, 2002).

O atlas de mortalidade por câncer (Brasil, 2002) mostra que a taxa ajustada de mortalidade por 100.000 pessoas em Santa Catarina, entre 1995 e 1999 era de 3,71 por 100.000 habitantes. O objetivo do estudo foi analisar a tendência dos coeficientes de mortalidade ajustados por idade do câncer oral e de faringe de 1980 a 2002, no Estado de Santa Catarina, Sul do Brasil.

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2. MATERIAISEMÉTODOS

Trata-se da análise descritiva da série histórica da mortalidade por câncer bucal no Estado de Santa Catarina no período de 1980 a 2002.

Para o levantamento do número de óbitos por câncer bucal, utilizou-se como fonte de dados o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Foram selecionados os registros de óbito por câncer bucal para todas as localizações primárias da Classificação Internacional das Doenças, 9ª. Edição (CID-9) sob os códigos 140.0 a 149.9, e códigos C00.0 a C08.9 da CID-10 (Quadro 1).

Quadro 1

Equivalências dos códigos da 9a e 10a revisões da Classificação Internacional das Doenças.

Os dados populacionais para o cálculo dos coeficientes de mortalidade foram obtidos por meio da Secretaria do Estado da Saúde de Santa Catarina, que por sua vez utilizou os censos de 1980, 1990 e 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE), além das estimativas populacionais para os anos intercensitários.

A análise desses dados foi realizada calculando-se os coeficientes de mortalidade por câncer bucal e de faringe ajustados por sexo e idade. Utilizou-se população mundial para padronização dos coeficientes (Ammad et al., 2004), que foram obtidos no Instituto Nacional do Câncer (INCA). Foi feita análise de tendência usando regressão linear para a observação desses coeficientes ao longo de período estudado. Foi analisada a série dos coeficientes de mortalidade ajustados por sexo para as diferentes faixas etárias. Foram considerados dados relacionados ao sexo e à área de residência observando-se a mortalidade por câncer bucal e de faringe nas oito Macrorrregiões de Saúde (Extremo Oeste, Florianópolis, Meio Oeste,

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Nordeste, Planalto Norte, Sul, Vale do Itajaí e Lages). Os resultados produzidos foram apresentados sob a forma de tabelas e gráficos.

O presente protocolo de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo (UPF), tendo sido aprovado

(Protocolo no. 140/2003).

3. RESULTADOS

No período de 1980 a 2002, houve 2663 óbitos por câncer bucal e faringe no Estado de Santa Catarina, com uma tendência de estabilidade da mortalidade (Figura 1). O coeficiente ajustado de mortalidade por câncer bucal e de faringe manteve-se estável com valores em torno de 5,5/100.000 no período estudado.

A Tabela 1 mostra que coeficientes ajustados pela idade nos homens foi de 6,54 o das mulheres no Estado de Santa Catarina. A população da macrorregião de Lages apresentou o menor coeficientes (1,55 por 100.000) que a população das outras macrorregionais, o que ocorreu para homens, mas não para as mulheres (o terceiro menor). A população residente na macrorregional de Florianópolis, por sua vez, foi a que apresentou o maior valor (4,74 por 100.000 habitantes), o que foi observado para os homens e para as mulheres foi o segundo maior.

A Figura 2 nos mostra que os casos de óbitos por câncer bucal e de faringe tiveram maior ocorrência na faixa etária acima de 30 anos de idade num padrão crescente conforme o aumento da idade até 79 anos, em especial dos 40 até os 59 anos. Para a faixa etária acima de 80 anos observou-se um número menor de mortes por câncer bucal e de faringe quando comparada com a faixa etária mais jovem.

Figura 1

Evolução do coeficiente de mortalidade ajustado por idade e sexo pela população mundial para o câncer bucal e de faringe. Estado de Santa Catarina, 1980-2002.

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Tabela 1

Média dos coeficientes de mortalidade por câncer de boca e de faringe, por 100.000 habitantes, ajustados por idade e pela população do Estado de Santa Catarina em 2000, segundo sexo e macrorregião. Estado de Santa Catarina, 1980-2002.

Figura 2

Evolução dos coeficientes de mortalidade ajustados por sexo e pela população mundial para o câncer bucal e de faringe no Estado de Santa Catarina, 1980-2002.

4. DISCUSSÃO

Neste estudo, observou-se que o coeficiente de mortalidade ajustado por idade para câncer bucal e de faringe em Santa Catarina, sul do Brasil, mostrou uma tendência de estabilidade (em torno de 5,5/100.000) durante o período de estudo (1980-2002), o que não ocorreu em outros países do mundo como URSS, EUA, Espanha e Japão.

La Vecchia et al. (1994) encontraram na URSS, de 1965 a 1990, um aumento de mais de três vezes nos valores de mortalidade por câncer oral e de faringe em

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homens de todas as idades (2,3 para 7,9/100.000) e de duas vezes nas mulheres (0,7 para 1,0/100.000). No grupo de 35 a 64 anos, houve um aumento ainda mais expressivo (3,6 para 17,2/100.000) nos homens, enquanto nas mulheres este aumento foi de aproximadamente 50% (1,0 para 1,5/100.000).

Ao mesmo tempo, Swango (1996), entre 1973 e 1992, verificou um declínio estatisticamente significante de 1,4% ao ano nas taxas de mortalidade ajustadas por idade para o câncer bucal e de faringe (1,7% para homens e 0,7% para mulheres). A mortalidade por câncer bucal foi estudada na Espanha por Nieto e Ramos (2002). O resultado encontrado para os coeficientes de mortalidade ajustados por idade mostrou que, comparando os períodos de 1975-1979 e 1990-1994, os valores para homens dobraram, de 3,62 para 6,2/100.000. Sob a mesma perspectiva o aumento para as mulheres foi menos expressivo, de 25,75% (aumentou de 0,66 para 0,83/100.000). O risco de morrer por câncer oral aumentou com o envelhecimento, para os homens, ou seja, o grupo de mais de 85 anos apresentou um risco relativo de 5,61 em comparação ao grupo de 35-54 anos, e uma proporção ainda maior nas mulheres com risco relativo de 18,05. Essa tendência não é compartilhada por nosso estudo, uma vez que na faixa etária acima de 80 anos, o número de óbitos por câncer bucal em Santa Catarina no período de 1980-2002, para ambos os sexos foi menor que o observado nas faixas etárias mais jovens.

Uma investigação da tendência de mortalidade por câncer bucal e de faringe em homens japoneses (Su et al., 1999), durante o período de 1950 a 1994 constatou um aumento de 1,7% na taxa de mortalidade ajustada por idade, com tendência de estabilidade na faixa etária de 40-44 anos e de aumento nas faixas etárias mais avançadas.

Tendência de estabilidade (aproximadamente 2,3/100.000, 3,3 para homens e 1,4 para mulheres) nos coeficientes de mortalidade ajustados por idade para o câncer oral e de faringe semelhante à encontrada neste estudo, porém com valores proporcionalmente mais baixos, foi relatada pelo Cancer Research UK (2005), referente ao período de 1971 a 2003. Isso pode significar que no Reino Unido o câncer na cavidade bucal e na faringe pode ter sido diagnosticado e tratado mais precocemente fazendo com que sua participação na mortalidade tenha sido menor.

Antunes et al. (2001) descreveram que as taxas padronizadas por sexo e idade de mortalidade por câncer bucal, no município de São Paulo, permaneceram estacionárias em níveis altos entre 1980 e 1998. As taxas de morte por local específico revelaram tendência ascendente e sugeriu-se que tal resultado poderia estar relacionado à demora no diagnóstico e ao não estabelecimento de medidas terapêuticas adequadas.

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O Inca (2002) estimou para o Brasil que, para o ano de 2002, entre homens, o câncer de pulmão seria a primeira causa de morte entre os diversos tipos de cânceres existentes, seguido de câncer de próstata, estômago, esôfago, cólon e reto. O câncer de boca ocuparia a sexta posição entre as estimativas de óbito para o sexo masculino. Entre as mulheres, o INCA estimou, para o mesmo ano, que o principal tipo de câncer que levaria a óbito seria o de mama, seguido pelo câncer de pulmão, cólon e reto, colo do útero e estômago, sendo que o câncer de boca ocuparia a 8a posição.

Assim, o câncer bucal estaria entre as 8 principais causas de óbitos por câncer no país, justificando a relevância de estudos que detalhem com maior precisão não apenas as localizações anatômicas de maior ocorrência, como também outros fatores relacionados com a sua prevalência.

Segundo a Oral Cancer Fundation (2005), os mesmos fatores que afetam a incidência de câncer oral e de faringe também afetam as taxas de mortalidade por essa doença. Entretanto alguns fatores influenciam a mortalidade e a sobrevida, porém não afetam a incidência. Entre esses fatores estão; o estágio do diagnóstico, o acesso ao tratamento e o sucesso do tratamento.

Comparando as macrorregiões de saúde, observou-se que Florianópolis e Lages se diferenciaram das demais, mostrando o maior e menor coeficiente de mortalidade, respectivamente. Houve maiores coeficientes nas regiões próximas ao litoral de Santa Catarina, regiões que concentram maior população no Estado. Uma das hipóteses para a situação de maior proporção de casos próximo ao litoral talvez seja a oferta de serviço especializado de oncologia (Centro de Pesquisas Oncológicas – CEPON –, da Secretaria do Estado da Saúde de Santa Catarina), o que aumenta as chances do registro dos óbitos com codificação mais compatível com a situação clínica anterior, especialmente ao considerar a definição pelos médicos das diversas localizações anatômicas do câncer de boca; raciocínio inverso poderia ser feito para a região de Lages, que experimentou a menor proporção de óbitos. Em publicação sobre a importância dos sistemas de informação geográfica para monitorar as desigualdades em saúde, Loyola et al. (2002) destacam que tal recurso é necessário não somente para a realização de análises entre países e continentes, mas, principalmente, para a identificação de grupos e áreas com os maiores problemas em escala local.

Para a melhoria da expectativa de vida da população (ou seja, pessoas com mais idade vivendo com melhores condições de saúde), medidas deveriam ser tomadas a fim de incentivar atitudes preventivas em relação ao câncer, como o controle do consumo de tabaco e álcool, a adoção de dieta rica em vegetais e frutas frescas, além de uma maior qualidade nos serviços de diagnóstico e tratamento dos pacientes com câncer bucal e de faringe.

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As limitações deste estudo residem na impossibilidade, por meio do registro de óbitos, de mensurar os fatores de risco que expuseram as pessoas que foram a óbito a desenvolver a doença. Os resultados encontrados confirmaram a hipótese inicial de estabilidade na tendência dos óbitos, apesar de seu aumento em números absolutos no período; em São Paulo, foi observada tendência semelhante (Antunes et al. 2001).

A análise espacial constitui ferramenta útil para administração de recursos em saúde e programas para áreas com maiores níveis de necessidade, além de auxiliar na melhoria de serviços médicos. Este método pode também permitir que a efetividade de programas de saúde seja melhorada, por meio da identificação de segmentos populacionais para os quais as ações educativas e os programas de rastreamento possam preferencialmente ser direcionados.

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Referências

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