• Nenhum resultado encontrado

Retirada prematura dos apoios preocupa. A Europa surpreendeu pela positiva. João Nuno Mendes. Mário Carvalho Fernandes

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Retirada prematura dos apoios preocupa. A Europa surpreendeu pela positiva. João Nuno Mendes. Mário Carvalho Fernandes"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.º 4376, de 20 de novembro de 2020 e não pode ser vendido separadamente.

Os caminhos dos

mercados financeiros

João Nuno Mendes

Retirada prematura dos apoios preocupa

Mário Carvalho Fernandes

A Europa surpreendeu pela positiva

Retorno do investimento está nas ações

Vacina para a covid não é bala mágica

A ameaça da bolha imobiliária chinesa

(2)

II

| SEXTA-FEIRA | 20 NOV 2020

A

contração da eco-nomia em 2020 foi uma das mais vio-lentas da história pela sua dimensão mas também poderá ser uma das curtas uma vez que se terá con-centrado no primeiro semestre. Mário Carvalho Fernandes, Chief Investment Officer do Banco Car-regosa, destacou que a recupera-ção não está a ser igual em todos os setores. Por exemplo, os servi-ços, em que se inclui o turismo, continuam com níveis deprimidos de atividade e as economias mais dependentes deste setor são mais atingidas.

“Isto explica porque é que, por exemplo, os mercados acionistas estão a ter um comportamento distinto do que sentimos na reali-dade do dia a dia da economia como em Portugal. A economia portuguesa está mais exposta a se-tores mais penalizados pela pan-demia, enquanto nos mercados acionistas, como o americano, aca-bam por ter uma maior preponde-rância de setores que até estão a ser beneficiados pela pandemia, como o setor tecnológico”, afirmou Má-rio Carvalho Fernandes.

Em termos de política monetá-ria global considerou que não há pressões inflacionistas à vista no globo. Os bancos centrais apenas têm um papel a cumprir que é apoiar a economia com política mo-netária e dessa forma também a va-lorização dos ativos financeiros.

Juros e inflação

A prazo, no caso de surgirem ten-dências inflacionistas, haverá de-cisões difíceis que os bancos cen-trais terão de tomar. Será um tes-te à independência o aumento das taxas de juro quando os governos não estiverem capacitados para suportar taxas de juro mais eleva-das. “Mas enquanto a inflação es-tiver deprimida e o risco for de de-flação, os interesses estão todos alinhados”, salientou Mário Car-valho Fernandes.

O Chief Investment Officer do Banco Carregosa viu diferen-ças na reação da União Europeia à crise atual em relação às ante-riores. “A Europa surpreendeu pela positiva, mostrou-se alinha-da e conseguiu pela primeira vez emitir dívida conjunta, uma cons-trução nova que é de assinalar. O que tem sido discutido do plano de recuperação europeu para

ini-ciar em 2021 revela apostas na construção de infraestruturas de transportes ferroviários, veículos elétricos, economia digital. Nos Estados Unidos, o programa de apoio à economia passa por um momento de indefinição pois não houve a extensão das medidas adotadas a seguir à pandemia. A economia vai perder dinâmica e perder ímpeto.”

Destacou que mesmo assim na Europa há intervenções de apoio à economia de diferentes calibres. Há países como a Ale-manha que têm espaço fiscal, foi rápida a implementar medidas que já estão a suportar as econo-mias, nomeadamente, o corte da taxa do IVA. Outros países de-pendem mais do plano de recu-peração europeu e só quando este dinheiro chegar é que pode-rão começar a injetar nas suas economias e, portanto, esses

es-tímulos dar-se-ão em 2021. “Ve-rificam-se assim dinamismos di-ferentes entre os vários blocos e será expectável que a Alemanha comece a mostrar números mais

expectáveis em termos económi-cos mais cedo e por essa via aca-be por puxar pelos países mais periféricos”, proferiu Mário Car-valho Fernandes. 

A Europa reagiu à crise pandémica alinhada e até emitiu pela primeira vez dívida europeia, mas nos países

há intervenções de apoio à economia de diferentes calibres. A Alemanha têm espaço fiscal, foi rápida a

implementar medidas, os outros países dependem mais do plano de recuperação europeu.

FILIPE S. FERNANDES

Mário Carvalho Fernandes diz que o facto de a recuperação não estar a ser igual em todos os setores explica o comportamento dos mercados.

Europa alinhada,

países europeus com

dinâmicas diferentes

NEGÓCIOS

INICIATIVAS

O FUTURO DOS MERCADOS FINANCEIROS

As obrigações soberanas apresentam níveis de remuneração muito pouco atrativos, inferiores à taxa de inflação e isto acontece há cerca de quatro anos. “Mesmo um compósito de obrigações soberanas, EUA e Alemanha, apresenta níveis reais de retorno negativo. O investidor necessita de pro-curar retorno noutras classes de ativos mais arriscados para evitar que o seu património perca poder de compra ao longo dos anos”, sublinhou Má-rio Carvalho Fernandes.

Na generalidade dos mercados acionistas encontram-se com múltiplo ele-vado face aos resultados estimados para os próximos 12 meses. O mercado atingiu durante 2020 os níveis mais caros da última década e ainda se en-contra 20 vezes os lucros, um valor historicamente elevado. “As taxas de juro baixas acabam por justificar os EPS (Resultados por ação) mais eleva-dos e o mercado já olha se os resultaeleva-dos por ação em 2021 vão ser mais pró-ximos de 2019 ou 2020 e poderá haver margem para os resultados subam”, explicou Mário Carvalho Fernandes.

O duelo ações e obrigações

(3)

SEXTA-FEIRA

| 20 NOV 2020 | SUPLEMENTO | III

Pedro Catarino

A preocupação com a retirada

prematura dos apoios

Nas instituições europeias, no-meadamente no BCE, existe “uma grande preocupação para que não haja uma retirada pre-matura dos apoios, para que não conheçamos o efeito do cliff edge, pois, por vezes, é uma ten-tação retirarem-se os apoios de-masiado cedo. A minha perspe-tiva é que mais vale cometer um erro tendo os ativos por mais tempo do que fazer o contrário, o preço a pagar é muito grande se se incorre de facto no cliff edge”, afirmou João Nuno Men-des, secretário de Estado das Fi-nanças.

“Estamos a viver uma crise absolutamente extraordinária e, de certa modo também tem sido absolutamente notável, a forma como se capitalizou a aprendi-zagem de como lidar com crises em que face a histórico. Temos tido coordenação das políticas fiscal, monetária, económica e supervisão em termos nacionais e europeus”, sublinhou João Nuno Mendes. O que permitiu que a política monetária injetas-se liquidez, a indução da baixa das próprias taxas de juro, o alí-vio dos critérios prudenciais para suportar a capacidade de a banca poder continuar a

em-prestar à economia, a permissão de défices acima dos 3%, as mo-ratórias bancárias segundo re-gras da autoridade bancária eu-ropeia para poderem ser aceites do ponto de vista prudencial.

Euro digital

“O lançamento das linhas de crédito com garantia pública que tem uma dimensão muito grande, o fundo da garantia mú-tua tinha, em finais de setembro, garantias prestadas de 7.500 milhões, quando historicamen-te desde 2007/2008 o stock de garantias vivas não tinha ultra-passado as 2.500 milhões. Es-tamos a falar de um stock de moratórias da garantia pública na casa do 25.000 milhões, 220.000 contratos de crédito que foram modificados, que es-tão de certa forma ao abrigo dessas moratórias. No Orça-mento do Estado temos a pos-sibilidade de estender as pró-prias garantias já concedidas até um máximo de 6.000 milhões, temos também a possibilidade de poder antecipar fundos co-munitários no caso de haver atrasos ou os desembolsos eu-ropeus e isso pode ir para o Next Generation UE, na casa dos

1.200 milhões, se considerar-mos todos os instrumentos co-munitários, podemos ir até um máximo de 3.800 milhões”.

João Nuno Mendes salien-tou ainda que “o financiamento sustentável vai adquirir uma im-portância muito grande e em que de certa forma o seu acom-panhamento vai ser menos es-tritamente financeiro, baseado em indicadores só financeiros, mas a prevalência de outros in-dicadores não financeiros para acompanhar, no fundo, a

eficá-cia do instrumento que está a ser financiado”. Considerou ainda que existe “um subaproveita-mento do mercado de capitais”, e que este poderia ter outro im-pacto na economia portuguesa nas capitalizações de menor di-mensão, porque nós temos este desafio de fazer crescer a dimen-são média do setor empresarial nacional”.

Em relação a algumas con-sequências da crise e das respos-tas, João Nuno Mendes referiu que o projeto do euro como moeda digital está a ser muito acelerado por parte do BCE que pode ter grandes implicações nos modelos de pagamento mais modernos, mais eficazes. Por outro salientou que “o aumento do trabalho à distância não acontece sem a alteração dos processos de negócio, hoje te-mos uma alteração profunda dos processos de negócio, das cadeias de distribuição e portan-to, este não é propriamente um período de hibernação, este é um período para muitas empre-sas de grande ação competitiva porque querem sair desta crise numa posição competitiva, me-lhor do que aquela em que co-meçaram a crise”. 

O Jogo da

Bolsa como

literacia

financeira

A Grande Conferência, “O Futu-ro dos Mercados FinanceiFutu-ros”, realizou-se no âmbito do Jogo da Bolsa, uma iniciativa do Jornal de Negócios, do Banco Carrego-sa e o ISCTE que permite a si-mulação da negociação de ins-trumentos financeiros, em tem-po real e de uma forma virtual. Existe desde 2003 é o mais an-tigo jogo de bolsa no mercado português. Resulta de parcerias que o Banco Carregosa mantém há vários anos, o que está na ma-triz do banco que “é manter re-lações duradouras”, referiu Francisco Oliveira Fernandes, presidente da comissão executi-va do Banco Carregosa.

O Jogo da Bolsa é encarado pelo banco como uma das prin-cipais ações de responsabilida-de social no eixo da promoção da literacia financeira em Portugal ao longo de 18 anos.

“Conseguimos formar mais de 35 mil investidores em Portu-gal. Este aspeto é para nós essen-cial para manter este jogo vivo. Depois quem tem a oportunida-de oportunida-de participar no jogo há oportunida-de nas suas empresas ou nas suas inicia-tivas de poupança ter um conhe-cimento, um domínio que lhe permite tirar partido das possi-bilidades que o mercado de ca-pitais oferece”, afirmou Francis-co Oliveira Fernandes.

Literacia e poupança André Veríssimo, diretor do Jor-nal de Negócios, reforçou a ver-tente da importância da literacia financeira “num país onde a taxa de poupança é das mais baixas da Europa”.

Sublinhou que faltam “solu-ções para a poupança que permi-tam aos portugueses aforrar mais e a falta de sensibilidade que existe para a necessidade desse aforro”, mas acrescentou que “para se ter alternativas é preciso saber investir”.

O diretor do Negócios con-cluiu dizendo que “quer a pou-pança quer o mercado de capi-tais têm tido muito pouca aten-ção das políticas públicas e por-tanto o que poderia ser um faci-litador neste momento difícil é mais uma fragilidade”.

“A minha perspetiva é que mais vale cometer um erro tendo os ativos por mais tempo do que fazer o

contrário, o preço a pagar é muito grande se se incorre de facto no cliff edge”, afirmou João Nuno

Mendes, secretário de Estado das Finanças.

O aumento do

trabalho à distância

não acontece

sem a alteração

dos processos de

negócio. Para muitas

empresas, este é um

período de grande

ação competitiva.

JOÃO NUNO MENDES Secretário de Estado das Finanças

(4)

IV

| SEXTA-FEIRA | 20 NOV 2020

“O

modelo chi-nês serviu e foi extraordi-nário para ti-rar da miséria milhões de pes-soas, mas é o grande fator das pandemias pelo seu modelo de desenvolvimento. Vamos conti-nuar a ter estas e muitas outras pandemias, o que tem muito a ver com a destruição dos equilí-brios ecológicos, as alterações climáticas, a mudança rápida, o efeito brutal de grandes obras como barragens, etc. As doenças de animais que passam para os humanos são responsáveis por mais de 35% das infeções”, aler-tou Henrique de Barros, epide-miologista da Instituto de Saú-de Pública da UniversidaSaú-de do Porto.

Este especialista adiantou que “se quisermos viver numa sociedade um pouco mais equi-librada tem de se combater este modelo de desenvolvimento porque senão vamos sempre vi-ver numa extraordinária tensão entre o desenvolvimento econó-mico e a saúde e, nestas circuns-tâncias, são os mais vulneráveis a pagar a fatura”.

Henrique de Barros alertou para o facto de se pensar que “a solução para este problema é o tempo até à vacina, até porque pode não haver vacina. Temos a ideia de que, com as nossas ar-mas tecnológicas e o nosso co-nhecimento científico, seria fá-cil produzir vacinas, que

funcio-naram muito bem para um con-junto limitado de infeções. O que sabemos sobre este tipo de agen-tes não é nada agradável para imaginar uma resposta vacinal eficaz e verdadeiramente capaz. Não será de uma única vez mas, como acontece com a gripe, com uma vacinação anual”.

Criticou o modelo de negó-cio da procura da vacina. “Uma sociedade que nos últimos anos defendia e incentivava a inova-ção está correr atrás das vacinas esquecendo a inovação e sobre-tudo preocupada com a produ-ção. Mais do que ir atrás de ideias novas, de investir este di-nheiro todo em gente que seja capaz de pensar fora da caixa, está a procurar-se as empresas que são capazes de produzir mi-lhões de doses”, acentuou Hen-rique de Barros.

Ideias novas

O plano de avaliação da vacina da Astrazeneca parte do pressuposto de que a vacina entra a funcionar se tiver uma eficácia de 50%, con-sidera-se que funciona muito bem se for capaz de prevenir uma em cada duas infeções. “Isto deixa mi-lhões de pessoas suscetíveis. A va-cina está muito longe de ser, antes pudesse ser, uma espécie de graal, de bala mágica que resolve isto”, advertiu Henrique de Barros.

Esta crítica estende-se aos tra-tamentos. Continua-se a investir, “porque demora a travar estes pro-cessos, que são lentos na sua

capa-cidade de resposta. O remdesivir é um medicamento mau, em cir-cunstâncias normais seria um me-dicamento que não seria usado porque o que ele traz é absoluta-mente marginal, se é que traz algu-ma coisa. Estamos a repetir um pouco a mesma forma de agir com o que fizemos com o oseltamivir, com a pandemia de gripe das aves”. A aposta de Henrique de Bar-ros na melhor solução recairia na melhoria da performance dos tes-tes “e tes-testar de facto muitíssimo. A falta de precisão dos testes, que é relevante, diminui muito se tes-tarmos muito. Se fizer um teste negativo, seguinte negativo e ou-tro negativo não deverá ser um fal-so negativo, portanto, não estou infetado nem estive em contacto com alguém. A capacidade de tes-tar é muito importante mas temos de pensar que vai ser preciso ne-gociar os preços, porque quando dizemos que um teste custa 7 ou 8 dólares, é o preço do teste, não é o preço da realização do teste. Como sociedade temos de nos preparar para um forte investi-mento para financiar esta política de testes”

Como referiu José Azevedo Rodrigues, vice-reitor do ISCTE, “não podemos fechar nem confi-nar, porque seria o fim da nossa economia e das nossas finanças, a saúde está em primeiro lugar mas temos de sustentar a nossa econo-mia para que haja equilíbrio social para o equilíbrio da própria saúde pública”. 

“A vacina está

muito longe de ser

a bala mágica

que resolve tudo”

A melhor solução, na aposta de Henrique de Barros, seria na

melhoria da performance dos testes “e testar de facto muitíssimo.

A falta de precisão dos testes, que é relevante, diminui muito se

testarmos muito. Como sociedade temos de nos preparar para

um forte investimento para financiar esta política de testes”.

NEGÓCIOS

INICIATIVAS

O FUTURO DO MERCADOS FINANCEIROS

A questão das vacinas e a guerra económica entre os EUA e a China foram dois

“A competição entre os Esta-dos UniEsta-dos e a China veio para ficar e vai levar à altera-ção de padrões de comporta-mento e de produção e a uma regionalização das cadeias de produção, dos investimen-tos”, referiu Nuno Monteiro, professor associado de ciên-cia política e relações inter-nacionais da Universidade de Yale. Sublinhou que “a

econo-mia é um capítulo na política e a competição com a China é política, é uma guerra geoes-tratégica”.

Por isso, Nuno Monteiro defende que os Estados Uni-dos e a Europa “não podem ter infraestruturas críticas, cadeias de valor dependen-tes, tecnologias, da China e vice-versa. Todas as tecnolo-gias que são responsáveis

“A economia

é um capítulo

da política”

A competição política entre os Estados Unidos

e a China veio para ficar e vai levar à alteração

de padrões de comportamento e de produção

e a uma regionalização das cadeias de

produção, dos investimentos, é uma guerra

geoestratégica.

(5)

SEXTA-FEIRA

| 20 NOV 2020 | SUPLEMENTO | V

dos temas em debate nesta grande conferência.

Pedro Catarino

“Os sistemas económicos, tal como os conhecemos, há muito tempo que dão sinais de não sus-tentabilidade, mas ainda não en-contrámos modelos que se im-plementem para criar cresci-mento sustentado, mas não es-tou a falar de grandes arquitetu-ras societais para organizar toda a humanidade”, afirmou Sandro Mendonça, professor auxiliar do Departamento de Economia do ISCTE.

Fez ainda uma análise sobre os setores que podem ser a fon-te de crescimento no futuro. “Há todo o setor das economias lim-pas que tem sido falado e que há progresso técnico, das energias eólicas, das fotovoltaicas, curva de aprendizagem muito elevada e acelerada nessas tecnologias, nos setores que transportam a produção dos bens de equipa-mento finais e isso leva a que haja comparação ao nível de custos e depois o seu take up”, disse. Mas adiantou que “é fácil perder dinheiro alocando a es-ses setores, que dependem mui-to do semui-tor institucional que os acolhe e dos incentivos dados de fora, do perímetro político para a economia”. Considerou que na Europa existe um compromis-so mais credível no apoio das re-nováveis ao contrário dos Esta-dos UniEsta-dos, o que dá alguma previsibilidade ao nível da tran-sição energética.

As megaplataformas Segue-se o setor da digitalidade que caracterizou como mais as-simétrico e em que as platafor-mas hipermonopolistas globais têm o controlo elevado da quo-ta de mercado na economia da atenção. Referiu que, por exem-plo, no mercado de “search” a Google tem 95%, mas como “é uma plataforma convergente, cada vez mais faz correr para o seu interior outro tipo de ende-reçamento de programas com valor económico para o consu-midor final e para as empresas.

Há uma fonte de economias de escala e de gama que ainda não vimos até onde pode ir”.

Em relação aos setores das telecomunicações mais clássi-cos “têm tido rendibilidade aquém do prestígio que têm, e da mensagem que projetam na so-ciedade através da publicidade e a sua reputação como investido-res institucionais”, sentenciou Sandro Mendonça. Na sua opi-nião têm tido muita dificuldade em monetizar parte do valor que corre nas suas redes porque ain-da sobre elas estão as overtop te-chnologies, (OTT) que são a Google, o Facebook, por exem-plo, que monetizam muito o va-lor da conectividade. “Há dificul-dades em termos de reinvenção do seu próprio negócio e quando temos o 5G que vai para além da ligação e tem a possibilidade de envio permanente de doses mas-sivas de dados com um proces-samento em tempo real de baixa latência, mas onde há uma falta de cobertura extensa”.

Concluiu que “as tecnologias são uma construção comum e se não há compatibilização de oportunidades sociais o seu va-lor económico fica por realizar mas podemos ter o sequestro dessas tecnologias para ativida-des predatórias e menos simbió-ticas das atividades económicas na sua diversidade”. 

As fontes do

crescimento futuro

Sandro Mendonça fez uma análise sobre os

setores que podem ser a fonte de crescimento no

futuro como o das energias limpas, a digitalidade

e as telecomunicações com o 5G.

pelo aumento da produtivida-de têm granprodutivida-de influência no lado militar, todas as tecnolo-gias de rede e de vigilância têm uso político e militar, que a China usa no controlo da po-pulação. O interesse do Oci-dente em permitir que a Chi-na não monopolize não é só um interesse económico, é geoestratégico e político”.

Na sua opinião, esta com-petição, como foi a Guerra Fria, entre os Estados Unidos e a ex-União Soviética, “é en-tre dois pacotes, duas soluções globais, duas formas de orga-nizar a política, a economia e a sociedade”.

Para Nuno Monteiro, a Chi-na, nas próximas décadas, ten-tará atrair os vários países do mundo entre os quais alguns países europeus como Portugal, Itália, “dizendo se quiserem crescimento, desenvolvimento e ser um país com futuro, jun-tem-se a nós, adotem o modelo de democracia de um partido, uma intervenção mais forte do Estado na economia”.

O modelo chinês

Os Estados Unidos e as outras democracias defenderão o seu modelo de democracia, a eco-nomia de mercado. “A nossa de-mocracia gere as coisas que as pessoas querem como a saúde, a longevidade. Os americanos ganharam a Guerra Fria, mas não foi por uma questão militar. Na década de 1980 já os líderes soviéticos percebiam que o sis-tema não conseguia competir com o sistema americano para gerar os outputs que as popula-ções queriam, mesmo nas coi-sas mais básicas”, concluiu Nuno Monteiro.

Vítor Ramon Fernandes, professor auxiliar de Relações Internacionais da Universida-de Lusíada Universida-de Lisboa, alertou para a “vaga de venda do mode-lo chinês, e há esse risco de se chegar à conclusão de que o sis-tema funciona bem, os resulta-dos são bons e os riscos limita-dos”, mas salientou que essa perceção da existência de dois campos já começou. “Há muita coisa que a pandemia já

acele-rou nas cadeias de valor, mas antes da pandemia já o Japão começava a fazer a diversifica-ção geográfica das cadeias de valor”.

Considerou ainda que rela-tivamente à China, Joe Biden vai ter “uma postura de contro-lo, não vai facilitar a vida à Chi-na, mas não o vai fazer com o es-tilo e a forma de Trump, vai ten-tar controlar a China, mas não vamos ter um modelo radical-mente diferente de abertura da China. Veremos como é que se implementa depois tendo em conta as circunstâncias institu-cionais nos Estados Unidos”.

O professor de Yale não dei-xou de sublinhar que “os inte-resses estratégicos das princi-pais potências europeias (Fran-ça, Alemanha e Itália e Polónia) são tão diferentes e é tão fácil partir a Europa para um país como a França, a Alemanha, a Hungria, a França, então se Marine Le Pen ganhar as pró-ximas eleições, pode impedir qualquer estratégia unificada europeia”. 

Sandro Mendonça falou sobre os setores da energia e tecnologia.

(6)

VI

| SEXTA-FEIRA | 20 NOV 2020

O mercado de capitais em Portu-gal “é atrofiado pela banca portu-guesa, que tem demonstrado uma certa capacidade para se atrofiar a si própria, isso de facto não tem corrido mal, mas há anos que atro-fia o mercado de capitais”, defen-deu Rui Alpalhão. Considera que

“é preciso ter um canal alternati-vo, liderado por pessoas cujo skin in the game esteja no setor que es-tão a administrar, e que não este-jam between jobs na banca”.

José Paulo Esperança desta-cou o papel da ciência portuguesa na criação de unicórnios,

empre-sas que chegam a uma valorização de mil milhões de dólares, como a Farfetch, a OutSystems e a Talkdesk, e de empresas que aca-baram por ter uma valorização muito significativa. “Têm grande relação com o que se produz em termos científicos em Portugal, o

grande problema é que raramen-te servem para alimentar a bolsa portuguesa, ou seja, acabam sem-pre por ser cotados e por terem fi-nanciamentos que vêm do exte-rior, sobretudo Londres ou Esta-dos UniEsta-dos”.

Adeus, Lisboa

Na sua opinião, se fosse possível trazer algumas dessas empresas para a bolsa de valores, como, por exemplo, a Feedzai, uma empre-sa que trabalha com os principais bancos ao níveis mundiais, e ou-tras empresas que estão a ter uma

projeção muito grande. “O proble-ma está em captar essas empresas para o nosso contexto”. Referiu ainda as duas grandes áreas, o di-gital e o verde, que são as apostas do plano de recuperação europeu que podem ser duas áreas de des-envolvimento de empresas inova-doras em Portugal.

Mas Rui Alpalhão aduziu que desde há muito tempo que “as pou-cas empresas portuguesas com po-tencial de crescimento não querem ouvir falar em cotar em Lisboa”. A solução “é rapar um bocado o ta-cho e trabalhar as saídas do

priva-“A

política

monetá-ria convida a não ter dinheiro para-do, é arriscapara-do, e, tem procurado fazer crescer as economias, mas sem grande su-cesso, mas também a política mo-netária é conjuntural, não é estru-tural”, assinalou António Seladas, equity analyst da AS Independent Research.

Há determinados ativos que funcionaram muito bem em Por-tugal, como os ativos imobiliários com 30 ou 40% de retorno nos úl-timos cinco anos, segundo o INE, “mas também é verdade que, a 10 ou 15 anos, a performance não é assim tão boa”, sublinhou ainda António Seladas.

O mercado de ações foi uma surpresa negativa, não só no mer-cado português mas no mermer-cado espanhol, por exemplo. A falta de crescimento tem um impacto grande em determinadas empre-sas afetando o seu modelo de ne-gócio e o crescimento das suas vendas, o que se reflete no desem-penho em bolsa.

“A bolsa não tem aquelas em-presas que têm expectativas de crescimento muito elevadas.

Quando existem empresas cujas expectativas de venda são muito relevantes, muitas vezes os múlti-plos, que são os preços a dividir pe-los resultados, ou os valores con-tabilísticos, são muito elevados, e as pessoas pagam por isso”.

Em conclusão, segundo o ana-lista da AS Independent Research quem investiu em growth ganha 20/30% e quem optou por Value perde 20/30%, isto é verdade não só na Europa mas também nos Estados Unidos”.

Investir em ações é a única alternativa

Rina Guerra, Gestão de Ativos – Ações do Banco Carregosa, subli-nhou que no mercado de ações norte-americano é grande a “den-sidade de empresas tecnológicas que os índices americanos pos-suem, o que lhes permite, no fun-do, ter rentabilidades bastante su-periores aos índices na Europa que são compostos, maioritaria-mente, por bancos e empresas li-gadas à energia, em que as renta-bilidades são bastante diferentes”.

O cenário das taxas de juro his-toricamente baixas, por causa des-te condes-texto de pandemia, veio

mostrar “que estão aqui para ficar, e, pelo menos, enquanto não hou-ver sinais de recuperação, os Ban-cos Centrais não poderão agir de outra forma. Em termos de infla-ção, esse cenário também me pa-rece estar bastante contido, neste momento, e também não nos pa-rece que a inflação esteja aqui, ao virar da esquina”, considera Rina Guerra.

Na sua opinião, o investidor que queira tirar algum retorno tem de investir em ações, porque não há outra alternativa. “A longo prazo, e mesmo com a questão ob-viamente do risco, parece-nos ser sempre a classe de ativos que a his-tória tem mostrado com retornos mais interessantes para os inves-tidores, e é uma boa forma de tam-bém de as empresas acabarem por se financiar no mercado, muito mais numa altura tão disruptiva como a que vivemos atualmente”, concluiu Rina Guerra. 

A longo prazo, e mesmo com a questão do risco,

as ações são uma classe de ativos que, mostra a história,

dá retornos mais interessantes para os investidores.

NEGÓCIOS

INICIATIVAS

O FUTURO DOS MERCADOS FINANCEIROS

António Seladas avisa que a política monetária não convida a ter dinheiro parado.

Pedro Catarino

O retorno do

investimento

está nas ações

O que a pandemia fez foi acelerar algumas tendências, umas para cima e outras para baixo. Já não se consumia muito papel, a sociedade consome menos papel hoje do que consumia no passado, para as empresas que de-pendiam das vendas de papel, é um negócio relativamente estável. Na ban-ca com as taxas de juro o preço é esmagado, e obriga-a a fazer volume, fa-zer volume é fafa-zer mais créditos e empréstimos, aumentar o balanço, “que se as coisas não correm bem, obviamente são problemas à frente”, refere António Seladas.

O analista adianta que “os bancos centrais querem estimular a inflação, re-solve estes problemas, porque faz crescimento nominal acaba com a bolha da dívida, faz crescer os preços e, portanto, rapidamente reduz os valores em termos relativos, atenção a quem tem poupanças, que obviamente será o pagador, o perdedor nesta envolvente”. As pandemias podem colocar em causa o modelo da globalização, “tudo o que é protecionismos favorece a inflação”.

Rina Guerra deu o exemplo da aviação que, de repente, passou a ter taxas de ocupação zero e a que a recuperação tem sido mais lenta do que se espe-rava. Havia a ideia de que as viagens domésticas ou mais curtas iriam ser as primeiras a recuperar e na China isso aconteceu e as “pessoas começa-ram a viajar praticamente aos níveis pré-covid-19”. Mas há segmentos que podem não recuperar a estes níveis como as viagens de negócios com a uti-lização de instrumentos de comunicação e as reuniões presenciais online, ao contrário do lazer.

O regresso da inflação?

A Bolsa de Lisboa devia-se focar nas empresas que precisem de capital, que

tenham projetos de investimento e que não serão unicórnio, mas que possam

dar um retorno de dois dígitos e nas saídas das empresas dos private equity.

(7)

SEXTA-FEIRA | 20 NOV 2020

| SUPLEMENTO | VII

ibs.iscte-iul.pt

E-mail: ibs.lic@iscte-iul.pt / masters.ibs@iscte-iul.pt | Tel.: (+351) 210 464 044 / 115

Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisbon – Portugal

Acreditações, a˛ǶǞƊções e rankings

Na Iscte Business School tive a sorte de ter

professores que sentiam paixão por ensinar e gosto

pelo que ensinavam e isso foi uma excelente base

para me motivar a querer sempre mais até chegar

ao ponto em que estou feliz com o que faço.

Pedro Guilherme Martins

Associate, Equity Swaps TA na J.P. Morgan

Nova Iorque - EUA

Publicidade

José Paulo Esperança, professor ca-tedrático do Departamento de Finan-ças do ISCTE-IUL Business School, fez uma análise à dicotomia entre ações e mercado imobiliário, que são afetados positivamente pelas taxas de juro muito baixas. Na sua perspetiva pode existir uma bolha ao nível do imobiliário.

“Tenho algum receio que a China esteja a criar uma bolha imobiliária muito grande, mais que o resto do mundo, ou seja, quando nós analisa-mos os indicadores do valor, o yield da propriedade na China extremamen-te baixo, idêntico ao que já houve na Austrália em certos períodos mais dra-máticos”. Adiantou ainda que o “po-der avassalador da China, que aliás, em relação à pandemia, acabou por melhorar a sua posição relativa por-que de facto está a ser muito menos afetada que o resto do planeta, mas tem algumas fragilidades e o imobiliá-rio é precisamente uma delas”.

O imobiliário é uma classe de ati-vos não fungíveis e “há uma tendên-cia, que se compreende, de analisar as classes de ativos alternativos um bocadinho com o modus operandi dos ativos tradicionais”, afirmou Rui Alpalhão, do departamento de Fi-nanças do ISCTE-IUL Business School, presidente e administrador--delegado do FundBox SGFIM.

Explicou que o património mundial é muito grande mas a percentagem investível é também

pequena, referindo que os bancos de investimento tem feito um tra-balho, ao longo do tempo, de trans-formação do património imobiliá-rio em investível. “O mercado imo-biliário português é um mercado muito pequeno e a classe de ativos é pouco investível, não há muita ca-pacidade de investir no imobiliá-rio”, assegurou Rui Alpalhão.

Quando ao processo de cres-cimento dos preços é, na sua opinião, fácil de explicar. Há uma parte do mercado imobi-liário português que passou a atrair investidores internacio-nais, sobretudo europeus, e os preços de mercado subiram e tornaram-se parecidos com os preços europeus. “Isto já tinha acontecido no final do século passado com o mercado de imo-biliário comercial, o que se mantêm. Com o mercado resi-dencial isso ainda é mais recen-te e deve-se, pelo menos do meu ponto de vista, a esquemas le-gislativos como as autorizações de residência para investimen-to, o regime fiscal dos residen-tes não habituais”.

“O imobiliário em Portugal deve descer um bocado porque é difícil sustentar a ilusão que vai bir mais. Como provavelmente su-biu um bocadinho demais, deve descer um pouco”, sustentou Rui Alpalhão. 

“O imobiliário em Portugal deve descer um bocado

porque é difícil sustentar a ilusão que vai subir mais.

Como provavelmente subiu um bocadinho demais,

deve descer um pouco”, sustentou Rui Alpalhão.

A ameaça da bolha

imobiliária da China

te equity português das empresas, que sai muito mal e há com certe-za empresas que podem entrar por essa via em bolsa, mesmo que não sejam empresas potenciais unicór-nios, e trabalhar capitalizações mais baixas, porque a bolsa portu-guesa deixou de começar a subir quando passou a ser considerado um mercado desenvolvido”.

Em termos de corporate não é fácil obter financiamento ban-cário, “porque a gestão do risco de crédito é através da absti-nência, portanto, não há. A ban-ca está disponível para

empres-tar aqueles indiscutíveis, que são quatro ou cinco”. Rui Alpa-lhão acrescenta ainda que a bol-sa de Lisboa se devia focar “nas empresas que precisem de ca-pital, que tenham projetos de investimento que possam dar um retorno de dois dígitos, e deixar as outras para Londres ou para os Estados Unidos. Por-que é Por-que a Farfetch havia de ter de estar em Lisboa? Não era uma boa decisão para a criação de valor para os acionistas da empresa, teria de ir para a bol-sa melhor”. 

(8)
(9)

Referências

Documentos relacionados

A autuada deverá ser informado de que a não interposição de recurso ocasionará o trânsito em julgado, sendo o processo remetido ao Núcleo Financeiro para cobrança da multa.. O

Após a receção das propostas apresentadas pelos concorrentes acima indicados, o Júri decidiu não admitir a concurso as Propostas do concorrente “Oficina da Inovação, S.A” por

utilizada, pois no trabalho de Diacenco (2010) foi utilizada a Teoria da Deformação Cisalhante de Alta Order (HSDT) e, neste trabalho utilizou-se a Teoria da

Com o intuito de promover saúde por meio de informação à população, foi desenvolvido um manual didático, de baixo custo, contendo 12 páginas de material informativo sobre a

Ainda que das carnes mais consumidas nesta altura em Portugal, tanto os caprinos como os galináceos estão re- presentados apenas por um elemento, o que nos pode dar a indicação que

Resultados de um trabalho de três anos de investigação da jornalista francesa Marie-Monique Robin, o livro Le Monde Selon Monsanto (O Mundo Segundo a,Monsanto) e o

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

entanto, são ainda escassos os estudos que analisem estas associações em idosos residentes na comunidade. Deste modo, estruturou-se esta dissertação em: I) revisão