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Bases Científicas Do Treinamento de Hipertrofia - Paulo Gentil

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Academic year: 2021

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Bases Científicas do

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Treinamento de Hipertrofia

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Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2005 by EDITORA SPRINTLTDA. Rua Guapiara, 28 - Tijuca

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Proibida a duplicação ou reprodução desta obra, ou de suas partes, sob quaisquer form as ou p o r quaisquer m eios (eletrônico, m ecânico, gravação, fotocópia ou outros) sem o consentim ento expresso, por escrito, d a Editora.

Capa: Leandro Pcrcs Editoração: Julia Soares Revisão: Cristina da Costa Pereira

C IP-B rasil. C atalogação n a fonte.

Sindicato N acional dos E ditores de Livros, RJ.

G295b

G entil, Paulo

Bases científicas do treinam ento de hipertrofia / Paulo Gentil. - Rio de Janeiro: Sprint, 2005

inclui bibliografia ISB N 85-7332-234-9

1. M usculação. 2. Treinam ento com pesos. 3. M úsculos - H ipertrofia 4. Exercícios físicos para idosos

I. Título

04-3471. CDD 613.71

CDU 613.72

27.12.04 / 2 9 .1 2 .0 4 /0 0 8 6 5 8

D epósito Legal n a B iblioteca N acional, conform e D ecreto n° 1.825 de 20 de dezem bro de 1967.

Impresso no Brasil Printed in Brazil

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O professor Paulo Roberto Viana Gentil é graduado em Educação Física pela Universidade de Brasília (UnB), tendo complementado sua formação com os seguintes cursos:

P ó s-g ra d u a ç ã o lato sen su em nível de e s p e c ia liz a ç ã o em M usculação e Treinamento de Força pela Universidade Gama Filho (UGF).

Pós-graduação lato sensu em nível de especialização em Fisiolo­ gia do Exercício pela Universidade Veiga de Almeida (UVA).

Pós-graduação stricto sensu em nível de mestrado (cursando) em Educação Física, Saúde e Qualidade de Vida pela Universidade Ca­ tólica de Brasília (UCB).

Atuou como professor e coordenador em diversas academias de Brasília e, atualmente, é presidente do GEASE (Grupo de Estudos Avançados em Saúde e Exercício) e coordenador do treinamento de força e potência de atletas de diversas modalidades, incluindo a triatleta Mariana Ohata.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço à minha família, a concretização des­ te livro, assim como todas as minhas realizações são e serão sempre dedicadas a vocês.

Aos meus pais, Paulo e Ilma, a quem devo minhas qualidades e realizações. Por mais que passasse o resto dos meus dias escrevendo agradecimentos, eu jamais faria justiça à importância que tiveram em minha vida.

À minha irmã, Cristiane, minha amiga mais antiga e certamente quem mais conviveu, e viveu, comigo.

A minha mulher Elke, que sempre me apoiou, com amor, paciên­ cia, amizade e tudo de que eu sempre precisei. Poucas pessoas têm tantas qualidades como você e menos ainda têm a sorte de encontrar tais pessoas, como eu tive.

Aos meus amigos, que sempre me acompanharam, mesmo que não fisicamente. Temo citar nomes, pois poderia cometer injustiças, ao omitir o nome de alguém, mas assim que puder lhes direi isso pesso­ almente.

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P re fá c io ... 9

I n tr o d u ç ã o ... 11

C A PÍT U L O 1 - Princípios básicos... 13

1.1 - Princípios do treinamento desportivo aplicados ao treino de h ip ertro fia... 13

1.2 - Conceitos básicos do treinamento de fo rç a ... 17

C A PÍT U L O 2 - Fisiologia a p lic a d a ...21

2.1 - Estrutura e organização da fibra m u scu lar... 21

2.2 - Síntese p ro té ic a ... 25

2.3 - Estruturas e processos da contração m u scu lar 27 2.4 - Fibras e proprioceptores... 32

C A PÍT U L O 3 - Adaptações morfológicas ao treinamento de f o r ç a ...37

3.1 - H ipertrofia... 37

3.1.1 - Fatores atuantes... 37

3.1.2 - Estímulos para a hipertrofia... 50

3.1.3 - Hipertrofia sarcoplasmática X m io fib rilar... 54

3.2 - H ip erp lasia... 58

3.3 - Tipos de fib ra s... 63

C A PÍT U L O 4 - Métodos e técn icas... 69

4.1 - Métodos metabólicos e tensionais...69

4.2 - Diferenças entre as ações m u scu lares... 74 4.3 - Métodos para intensificar o treino de hipertrofia 81

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s

C A PIT U L O 5 - Elaboração e prescrição de tre in o s 109

5.1 - Quantidade de treino a ser m an tid a... 127

5.2 - Como determinar a carga a ser usada nos treinos?.... 131

5.3 - Qual o número ideal de repetições para se obter h ip ertro fia?... 135

5.4 - Qual o intervalo a ser dado entre as sessões de treinos?... 136

5.5 - Qual o intervalo a ser dado entre as sé rie s ? ... 139

5.6 - Quais exercícios esco lh er?... 141

5.7 - Em que velocidade executar os exercícios?... 145

5.8 - Até que amplitude o exercício deve seguir?... 148

5.9 - Como assegurar para que os resultados sejam mantidos a longo prazo?... 149

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A cada ano a seleção de mestrandos no Programa de Pós-Gradua­ ção Stricto Sensu em Educação Física da Universidade Católica de Brasília se depara com a entrada de novos talentos. O Paulo Gentil é um desses talentos e é por isso que me sinto honrado por ter sido convidado para prefaciar seu livro.

O livro trata do treinamento de hipertrofia e nesse sentido tem sido grande a utilização desse tipo de treinamento, principalmente em decorrência de o treinamento resistido estar associado à melhora nos níveis de força muscular em idosos, bem como a fatores estéticos. Por outro lado, em academias, observa-se ainda muito desconheci­ mento sobre as fases científicas do treinamento de hipertrofia. Tal­ vez porque parte dos profissionais desconhece os avanços científi­ cos nessas áreas.

O contexto em que se inserem as linhas desse livro procura de forma clara elucidar esses avanços e mostrar como tirar proveito do treinamento resistido voltado para a hipertrofia. De maneira muito clara, o autor faz uma viagem pelos princípios básicos, fisiologia muscular, adaptações morfológicas, métodos de treinamento e ela­ boração do treinamento. Tenho certeza de que será bem-aceito pela comunidade acadêmica e estará entre os livros-texto indicados pelos cursos de Educação Física.

Prof. Dr. Ricardo Jacó de Oliveira

C oordenador do P rogram a de P ós-G raduação Stricto Sensu em E d ucação F ísica da U niversidade C atólica de B rasília

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Introdução

O treinamento com pesos é, sem dúvida, uma das atividades físicas mais estudadas da história. No entanto, a maioria das publicações tem enfoques clínicos ou desportivos, deixando os profissionais par­ cialmente desamparados quando estão diante da prescrição para aten­ der o objetivo mais comum entre os praticantes de musculação no Ocidente: os resultados estéticos.

Atualmente, o treinamento de força conta com a publicação de gran­ des pesquisadores como: William Kraemer, Steven Fleck e Keijo Hakkinen, mas dentro da sala de musculação, a atividade ainda é dominada por dogmas, práticas infundadas e conceitos sem bases científicas.

O objetivo desta obra é iniciar o preenchimento de tal lacuna, apro­ ximando conceitos e descobertas científicas atuais da realidade das academias e ginásios e fornecendo ao professor de Educação Física subsídios para orientar a prescrição de treinos.

Espero sinceramente que, antes de um modelo a ser seguido, este livro seja uma referência para discussões críticas e construção de novos conhecimentos pois, na minha visão, um livro não encerra o processo de aprendizagem, mas o inicia e alimenta.

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Princípios básicos

1.1 - Princípios do treinamento desportivo apli­

cados ao treino de hipertrofia

Princípio da adaptação

Nosso organismo vive em um estado dinâmico de equilíbrio, fruto da constante interação com o meio. Sempre que um estímulo externo o afasta deste equilíbrio, os padrões de organização do sistema são mudados para se ajustar à nova realidade, em uma tendência chama­ da auto-organização. Esta tendência em superar desafios externos por meio de mudanças estruturais é a base do princípio da adaptação, dentro do treinamento desportivo.

No treinamento de força, por exemplo, a sobrecarga imposta pelos exercícios afetará o funcionamento do organismo pelo rompimento de sarcômeros, diminuição das reservas energéticas, acúmulo de metabólitos e por meio de outras alterações fisiológicas que fazem emergir a necessidade de um novo estado de organização, que nos torne aptos a sobreviver adequadamente nas novas condições, carac­ terizadas pela imposição de sobrecargas constantes, como no treina­ mento de longo prazo. Este novo estado de equilíbrio é promovido por processos específicos, que levarão a alterações estruturais como aumento da secção transversa das fibras, maior eficiência neural, hiperplasia, mudanças nos tipos de fibras, aumento das reservas de energia etc.

Muito mais que um princípio, a adaptação pode ser considerada uma lei, tanto que há autores que não a colocam como um dos princí­ pios, mas sim como uma lei que rege o treinamento, do qual se deri­ vam os p rincíp ios propriam ente ditos (ZATSIORSKY, 1999; W EINECK, 1999).

E importante frisar aqui que a adaptação não é imposta pelo meio, mas estabelecida pelo próprio sistema (CAPRA, 2000), portanto, os

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Paulo Gentil

resultados do treinamento não são conseqüências somente dos estí­ mulos oferecidos, mas também da reação do organismo a estes estí­ mulos.

Princípio da continuidade

O estado de equilíbrio de nosso sistema é dinâmico e instável, adap­ tando-se constantemente às demandas internas e externas. Conforme se detecta que um arranjo estrutural esteja inadequado à situação atual, novas mudanças são sinalizadas por mecanismos de realimen- tação. Desta forma, para que um determinado estado sistêmico seja mantido, é necessário que se forneçam continuamente estímulos que o justifiquem.

Dentro do treinamento desportivo, tal efeito é a base para o princí­ pio da continuidade, o qual determina que o treinamento deve ser repetido e ter sua estruturação ajustada continuamente a fim de que sejam assegurados os resultados de longo prazo.

No treinamento de força objetivando ganhos de massa muscular, isso é particularmente evidente, pois a massa muscular mantida por grande parte dos atletas excede em muitas vezes a quantidade neces­ sária para realizar as atividades diárias “comuns”. Além disso, o te­ cido muscular é altamente exigente em termos metabólicos, aumen­ tando a necessidade de consumo calórico, algo que seria pouco útil para sobrevivência em condições primitivas. Deste modo, tão logo os estímulos sejam interrompidos, o coipo cuidará de se livrar do que for considerado desnecessário.

Princípio da especificidade

O novo estado de equilíbrio promovido pelas adaptações será ba­ seado nas demandas atuais, ou seja, as mudanças estruturais serão específicas para os estímulos oferecidos. Dentro do treinamento desportivo, esta tendência está ligada ao princípio da especificidade.

No entanto, não se deve fazer uma associação linear entre o estí­ mulo oferecido e a adaptação estrutural. Em nosso sistema, as rea­ ções passam por diversos processos não-lineares, levando a respos­ tas crônicas que, muitas vezes, se distanciam do efeito agudo do es­ tím ulo. Podem os citar, como exem plo, estudos em que treinos anaeróbios levaram a maiores aumentos na capacidade aeróbia que treinos aeróbios propriamente ditos (TABATA et ciL, 1996) e, dentro

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do treino de força, estudos em que a utilização de cargas mais eleva­ das e realização de maior trabalho mecânico não promoveram maio­ res ganhos de força e hipertrofia (TAKARADA, 2000b).

Assim, para aplicar o princípio da especificidade, o treinador deve ter conhecimento das reações específicas inerentes à intervenção que está planejando e não simplesmente fazer uma associação linear de causa e efeito entre os fatores aparentes.

Princípio da individualidade

Dentre organismos com arranjos similares, as mudanças estrutu­ rais induzidas pelos mesmos estímulos externos terão grande grau de similaridade. Podemos citar, por exemplo, a tendência do músculo esquelético, de todos os mamíferos, a hipertrofiar diante da sobre­ carga crônica. No entanto, os detalhes desta nova configuração es­ trutural e sua regulação exata terão grande variação, mesmo entre dois elementos da mesma espécie. Tal singularidade de comporta­ mento é conhecida dentro do treinamento desportivo como princípio da individualidade.

Não devemos, no entanto, deturpar o princípio da individualidade sugerindo que há total imprevisibilidade de comportamento em res­ postas aos mesmos estímulos e, com isso, positivar uma postura irres­ ponsável que nega o uso do método científico. Deve-se ter em mente que a existência de individualidade não significa que dois seres huma­ nos tenham adaptações totalmente divergentes aos mesmos estímulos, mas sim que a quantificação destas respostas não pode ser extrapolada.

Fora aberrações genéticas, os seres humanos, em geral, tendem a respostas semelhantes, o que não renega o princípio da individuali­ dade. Um exemplo é a tendência geral de nosso organismo em res­ ponder de forma mais expressiva a estímulos de maior intensidade e menor duração, impostos dentro de limites controlados, como nos casos de aumento de massa muscular (ver seção 5), densidade mine­ ral óssea (COUPLAND et a l, 1995; W HALEN et a l, 1988), perda de peso (TREMBLAY et a l, 1994), aumento da capacidade aeróbia (TABATA et a l, 1996) e outros. Apesar desta regra geral, a defini­ ção dos estímulos que serão eficientes, tanto em sua qualidade quan­ to em sua quantidade será, em grande parte, determinada pelas ca­ racterísticas individuais grandemente influenciadas pela estrutura genética (BRAY, 2000).

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Paulo Gentil

Quando da elaboração de um treino, o treinador deve ter conheci­ mento das tendências de comportamento geral dos sistemas e obter informações específicas pelo método científico, devendo usar o prin­ cípio da individualidade para orientar a intervenção para a realidade específica, sem esperar que a resposta seja igual entre todas as pes­ soas. De acordo com ZATSIORSKY (1999), a tentativa de imitar programas de treinamento feitos por outras pessoas normalmente se mostra infrutífera, porque apenas as idéias gerais devem ser aprovei­ tadas, e não todo o protocolo de treinamento.

Princípio da sobrecarga

O estabelecimento de um novo arranjo estrutural é iniciado toda vez que nosso organismo é afastado de seu equilíbrio dinâmico. A sobrecarga é justamente a magnitude deste desvio, determinada por aspectos qualitativos e quantitativos. Assim, o conceito de sobrecar­ ga não é relativo aos fatores externos que atuam no sistema, porém à forma como o organismo responde a tais fatores.

Dentro do treinamento de força voltado para hipertrofia, o foco do princípio da sobrecarga tem sido desviado dos aspectos qualitativos para os aspectos quantitativos, sendo comum, por exemplo, aplicar o princípio do “quanto mais m elhor”, voltando a atenção para a quan­ tidade de estímulos (séries, repetições e, principalmente, cargas uti­ lizadas), em vez das alterações promovidas pelos estímulos - o que acaba por transformar o princípio da sobrecarga, no princípio da car­ ga. Entretanto, a sobrecarga que um treino proporcionará ao sistema não poderá ser entendida unicamente contabilizando o peso utiliza­ do ou a quantidade de séries e repetições realizadas, mas, principal­ mente, por meio da qualificação das alterações fisiológicas proporci­ onadas, que pode ser feita pela análise de fatores como: amplitude de movimento, forma de execução, tipos de contração, método de trei­ namento, intervalo de descanso etc.

A sobrecarga tem limites que devem ser respeitados, pois a capaci­ dade de nosso corpo retornar ao equilíbrio é limitada. Estímulos que causem desvios pouco significativos não promoverão mudanças es­ truturais, sendo inócuos; no entanto, estímulos que promovam desvi­ os acima da capacidade auto-organizadora serão lesivos. Desta for­ ma, a sobrecarga do treino deve estar dentro de uma margem contro­ lada para que se chegue a um estado desejável e saudável.

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1.2 - Conceitos básicos do treinamento de força

Força

Na M ecânica Física, força é a interação entre corpos, que produz variações em sua velocidade, isto é, provoca uma aceleração (movi­ mento). É calculada pela equação:

Força = massa x aceleração

Dentro do treinamento com pesos, a força muscular pode ser con­ ceituada como quantidade de tensão que um músculo ou grupamento muscular pode gerar em um padrão específico e determinada veloci­ dade de movimento (KRAEMER & HAKKINEN, 2004).

Repetições

Uma repetição é a execução completa de um ciclo de movimento, geralmente composta por duas fases: concêntrica e excêntrica. No caso do treinamento isométrico, podemos definir repetição como a ação muscular em um determinado ângulo (FLECK e KRAEMER 1999; KRAEMER & HAKKINEN, 2004).

Repetição Máxima (RM) é o número máximo de repetições com­ pletas que podem ser realizadas, com uma determinada carga (FLECK e KRAEMER 1999). Muitas vezes é impossível estipular com certe­ za a carga ideal para um determinado número de repetições. Neste caso, torna-se mais adequado trabalhar com margens de repetições, por exemplo, entre 10 e 12RM. Esse sistema é muito útil e prático tanto para iniciantes quanto avançados, permitindo uma adequação diária da carga utilizada (TAN, 1999).

Série

E a execução de um grupo de repetições, desenvolvidas de forma contínua, sem interrupções (FLECK e KRAEMER 1999).

Carga

E a massa, normalmente expressa em quilos (Kg), utilizada para oferecer resistência à execução de um exercício. A carga pode ser definida em termos absolutos ou relativos:

- Carga absoluta é a quantidade total de carga utilizada em um determinado exercício.

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Paulo Gentil

- Carga relativa é o percentual que a carga utiliza, em relação à máxima suportável. Ex.: Se um indivíduo consegue realizar um exer­ cício com 100 kg e o faz com 80 kg, ele está utilizando uma carga absoluta de 80 kg e uma relativa de 80%.

Intervalo

Intervalo entre as séries é o período que se deve levar entre o fim de uma série e o início de outra. Este fator é extremamente importan­ te para o sucesso do exercício, pois, por meio dele, podemos regular os estímulos fisiológicos que desejamos obter. As diferentes formas de manipular os tempos de intervalo serão discutidas, especialmen­ te, na seção 5.5.

Velocidade de execução

Velocidade de execução é o tempo que se leva para completar cada fase de uma repetição. Para ajudar na prescrição de treinos é propos­ ta uma simbolização da velocidade de execução baseada no conceito de tempo proposto por Charles Poliquin (1997).

A proposta é designar a velocidade de execução por meio de 4 dígitos, sendo o primeiro para designar a fase excêntrica; o segundo, a transição entre a fase excêntrica e concêntrica; o terceiro, a fase concêntrica e o quarto a transição entre a fase concêntrica e excêntri­ ca. Observe o exemplo abaixo:

Exercícios Séries R epetições Intervalo Velocidade

Mesa extensora 3 5-7 RM 3' 4020

Mesa flexora 3 5-7 RM 3' 4020

A velocidade 4020 pode ser traduzida da seguinte forma: 4 - quatro segundos na fase excêntrica

0 - sem pausa na transição entre a fase concêntrica e excêntrica 2 - dois segundos na fase concêntrica

0 - sem pausa na transição entre a fase excêntrica e concêntrica Além dos números, usa-se a letra “X” para expressar que determi­ nada fase deve ser feita na maior velocidade possível. Por exemplo, 40X0 significa que a fase excêntrica leva 4 segundos e a fase con­ cêntrica ocorre de fornia explosiva, sem transição entre as fases.

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A orientação correta quanto à velocidade específica em cada fase de movimento é extremamente importante, tanto que a maior parte dos estudos tem explicitado os tempos das fases concêntrica e ex­ cêntrica em sua metodologia. No entanto, o tempo de transição entre as fases também deve ser designado, pois uma simples pausa de dois segundos entre cada repetição pode ser a diferença entre um treino eficiente e um inócuo, em termos de hipertrofia (SCHOTT et aL,

1995).

As bases para se prescrever a velocidade de movimentos serão explicadas na seção 5.7.

Intensidade

Normalmente, a intensidade é associada à quantidade total de car­ ga levantada, podendo ser expressa em termos absolutos (quilos ou libras), relativos (% de RM) ou por meio da potência realizada (TAN, 1999, FLECK & KRAEMER, 1999; KRAEMER & HAKKINEN, 2004, FLECK, 1999).

Em nossa abordagem, o termo intensidade está mais próximo ao conceito de qualidade, sendo definido como a alteração aguda que o treino promove no equilíbrio do sistema dentro de uma determinada unidade quantitativa (tempo, repetições, séries). Por exemplo, man­ tidos constantes os demais fatores, uma série de 10 repetições com carga de 100 quilos, para o supino, será mais intensa que uma reali­ zada com 70 quilos. Ressaltamos, no entanto, que o conceito de in­ tensidade não é relacionado somente à carga, mas também a todo o conjunto de variáveis, como velocidade, amplitude, tempo de des­ canso, método de treinamento, estado atual do organismo etc.

Volume

Volume de treinamento é uma medida da quantidade total de traba­ lho realizada, expressa em joules. Algumas maneiras simplificadas de se calcular o volume são o produto repetições x séries e o produto repetiçõesx séries x carga (TAN, 1999, FLECK & KRAEMER, 1999; KRAEMER & HAKKINEN, 2004; FLECK, 1999). No entanto, para a aplicação no treinamento de força com fins de hipertrofia, propo­ mos uma abordagem mais simples. Nesse caso, o volume é caracteri­ zado como a quantidade de séries executadas, podendo ser calculado por exercícios, por grupamento muscular, por treino, por semana.

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Interdependência voium e-intensidade

A magnitude do volume e da intensidade depende da manipulação das variáveis do treinamento. Um incremento no volume, normal­ mente, provoca alterações na intensidade e vice-versa. Na maioria das vezes, o aumento dos estímulos de um, proporcionará a diminui­ ção na outra (TUBINO, 1993).

O resultado do produto volume/intensidade não é um modelo ma­ temático simples em que a ordem dos fatores é desprezível. No trei­ namento desportivo, em geral, observa-se que um aumento exagera­ do de volume é mais propício a trazer resultados negativos que o aumento da intensidade (LEHMAN e ta l, 1993). Assim, o equilíbrio entre os dois deve ser planejado com observação de alguns limites.

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Fisiologia aplicada

2.1 - Estrutura e organização da fibra muscular

O músculo esquelético é composto por diversas camadas, tendo como sua menor estrutura funcional a fibra muscular, uma célula multinucleada, fina e longa. O diâmetro da fibra varia entre 10 e 80 micrômetros e, na maioria das vezes, ela possui o mesmo compri­ mento do músculo, sendo composta por diversas unidades funcio­ nais, denominadas sarcômeros.

Quimicamente, a célula muscular é composta por cerca de 75% de água, 20% de proteína (miofibrilas, enzimas) e 5% de sais inorgânicos e demais substâncias - ATP, creatina, cálcio (McARDLE et al., 1991).

A fibra muscular possui uma membrana externa (sarcolema) en­ volvendo os núcleos e o sarcolema, um meio líquido onde se locali­ zam as enzimas, proteínas contráteis, partículas de gordura, fosfato de creatina, glicogênio, retículo sarcoplasmático, mitocôndrias e ou­ tras organelas. As principais estruturas componentes da fibra muscu­ lar são:

Sarcolema

O sarcolema é a membrana externa da fibra, responsável pelo con­ trole da entrada e saída de substâncias como íons de sódio e potássio. Ao final de cada fibra, as camadas superficiais dos sarcolemas se fundem, entre si, e com fibras tendinosas, formando os tendões, que unem músculos e ossos.

Sarcoplasma

O espaço interno da fibra é composto por uma matriz líquida deno­ minada sarcoplasma. Neste líquido estão suspensas as miofibrilas e grandes quantidades de potássio, m agnésio, fosfatos, enzim as, retículos sarcoplasmáticos e mitocôndrias.

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Paulo Gentil

Mitocôndrias

As mitocôndrias são estruturas em forma de bastonetes, cuja prin­ cipal função é a síntese de ATP. A mitocôndria possui duas membra­ nas envolventes, uma externa, lisa, e outra interna, com dobras projetadas para o interior da organela. Nesta membrana intema, ocorre a cadeia de transporte de elétrons, uma importante cadeia de reações para a ressíntese de ATP.

As mitocôndrias possuem DNA próprio, sendo capazes de-codifi- car algumas de suas proteínas, o que as torna auto-replicativas, ou seja, podem se multiplicar livremente quando há maior necessidade de energia, independente das demais organelas.

Retículo sarcoplasmático

Nas células musculares, o retículo endoplasmático é adaptado para as necessidades específicas da fibra e recebe a denominação de retículo sarcoplasmático. Esta estrutura constitui-se em uma rede entrelaçada de canais tubulares e vesículas, envolvendo as miofibrilas. O retículo sarcoplasmático proporciona à fibra sua integridade estru­ tural, além de armazenar grandes quantidades de cálcio, usado no processo de contração muscular.

A extremidade lateral de cada túbulo do retículo sarcoplasmático termina em uma vesícula denominada vesícula terminal, onde íons de cálcio são armazenados. Uma rede de túbulos, denominada túbulos T, atravessa a fibra, correndo perpendicularmente às miofibrilas. Ao longo do sarcomêro, há encontros regulares (duas vezes em cada sarcômero) entre os túbulos T e as vesículas terminais, os quais rece­ bem o nome de tríade, por envolverem três estruturas: dois túbulos e uma vesícula terminal. Estas estruturas são extremamente importan­ tes por conduzirem o potencial de ação que chega à membrana exter­ na para o interior da célula, liberando posteriormente os íons de cál­ cio para iniciar o processo de contração muscular.

Enzimas

Para que a vida seja possível é necessário que as reações ocorram em sentidos e velocidades específicos, gerando os produtos necessá­ rios. As enzimas são as responsáveis por atender esta necessidade, atuando em praticamente todas as reações celulares (MARZOCO & TORRES, 1999).

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Ribossomos

Estruturas onde ocorre a síntese protéica.

Miofibrilas

Cada fibra muscular tem cerca de 80% de sua área coberta por centenas a milhares de miofibrilas (ALWAY et a í, 1988), as quais têm a importante função de atuar no processo de contração muscular. Cada miofibrila é composta por milhares de moléculas de proteínas polimerizadas denominadas filamentos, que podem ser finos, de actina (cerca de 30.000 filamentos), ou grossos, de miosina (cerca de 15.000 filamentos) (GUYTON & HALL, 1999). É importante não confun­ dir filamentos com moléculas. Um aglomerado de moléculas forma os filamentos; os filamentos de actina, por exemplo, são compostos por diversas moléculas de actina, troponina e tropomiosina.

Dentro do sarcômero, os filamentos de miosina estão dispostos no centro, e os de actina, lateralizados, unidos à linha Z. Estes filamentos são mantidos em suas posições devido a um aglomerado de molécu­ las de outra proteína, a titina. Em uma visão mais geral, observa-se que a fibra muscular possui faixas de coloração mais clara alternadas por faixas escuras. As faixas escuras são os trechos onde os filamentos de actina e miosina se sobrepõem, também denominadas bandas A,por serem anisotrópicas à luz polarizada. Dentro destas bandas há a zona H, na região central do sarcômero, onde existem somente filamentos de miosina. As faixas claras são denominadas bandas I por serem isotrópicas, e contêm somente filamentos de actina.

Filamentos de actina

Para visualizar os filamentos de actina, pode-se imaginá-los como dois colares de pérolas trançados. Cada pérola corresponderia a uma molécula de actina, que tem forma globular. A actina tem locais es­ pecíficos onde a cabeça da miosina se encaixa para iniciar o proces­ so de contração muscular, denominados sítios ativos.

MOLÉCULAS DE ACTINA

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Paulo Gentil

Outras proteínas importantes são a troponina e a tropomiosina; esta última pode ser visualizada como uma fita, que cobre os sítios ativos da actina quando o músculo está em seu estado relaxado. A troponina se liga à tropomiosina, e ajuda a liberar os sítios ativos na presença de cálcio, deslocando-a.

TROPOMIOSINA TROPONINA

TROPONINA TROPOMIOSINA

Filamentos cle miosina

Os filamentos de miosina são compostos por milhares de molécu­ las de miosina, ilustrados com a forma de um taco de golfe com duas “cabeças” . Cada molécula é composta por duas miosinas de cadeia pesada e quatro de cadeia leve. As duas miosinas de cadeia pesada se entrelaçam, formando a “cauda”. No final da molécula, elas se sepa­ ram e embolam-se tomando um aspecto globular, que constitui as “cabeças” . Duas moléculas de miosina de cadeia leve unem-se a cada cabeça, ajudando a controlar sua função durante a contração muscu­ lar (GUYTON & HALL, 1999).

CABEÇAS

CAUDA

(Errei

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As moléculas de miosina são unidas pelas bases e suas cabeças são os locais que se encaixarão com os sítios ativos da actina, possuindo locais específicos para ligação de moléculas de ATP e ação da enzima ATPase.

Núcleos

Nossas células (eucariontes) possuem uma membrana nuclear que separa o material genético do sarcoplasma. Esta membrana possui algumas aberturas, por onde ocorre grande parte da troca entre os meios intra e extranuclear.

Dentro do núcleo há um emaranhado de cromossomos denomina­ do cromatina. Os cromossomos, por sua vez, são compostos basica­ mente por histonas e ácido desoxirribonucléico (DNA). As mensa­ gens genéticas contidas no DNA determinarão, em grande parte, as características do organismo.

2.2 - Síntese proteica

As proteínas são o principal componente orgânico da fibra muscu­ lar, daí a importância da síntese protéica para a organização estrutu­ ral e funcional do músculo. Este processo ocorre dentro da membra­ na celular e é dividido em duas fases:

Transcrição

No início do processo de transcrição, as ligações de hidrogênio entre as cadeias de DNA são rompidas. Em seguida, há a transcrição de RNAm seguindo a mesma sequência das bases de DNA (com excessão da presença de Uracil no lugar de Timina). Após este pro­

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Paulo Gentil

cesso, o RNAm é transportado do núcleo para o citoplasma, onde se encontram os ribossomos e os RNAt.

Translação (alongamento)

Na translação, as informações contidas na seqüência de bases do RNAm são traduzidas como uma seqüência de aminoácidos, em um processo ocorrido nos ribossomos. Cada aminoácido é expresso por uma seqüência de três pares de bases denominada códon. As. molé­ culas de RNAt possuem um sítio específico de ligação para cada códon (anti-có d on) em um a extrem idad e e um a m olécula de aminoácido na outra.

No ribossomo, as seqüências de códons são convertidas em cadei­ as de aminoácidos, trazidos pelo RNAt. O processo é iniciado quan­ do a primeira molécula de RNAt (a seqüência sempre é iniciada pelo aminoácido metionina) é posicionada no códon inicial do RNAm. Em seguida, os próximos aminoácidos são ligados aos anteriores quan­ do os anticódons dos RNAt estão sobre os códons do RNAm. Agora, os aminoácidos são traduzidos como cadeias polipeptídicas, ditadas pelo DNA e representadas pelo RNAm. Nesta etapa, o ribossomo desliza sobre o RNAm junto com a cadeia polipetídica recém-forma- da, à medida que os códons são preenchidos, passando para o códon seguinte (ver figuras abaixo).

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Ao final do processo, um fator liberador se liga ao último códon, liberando a cadeia polipeptídica do ribossomo.

Em um organismo maduro saudável, a síntese protéica ocorre cons­ tantemente em taxas proporcionais à degradação (turnover), porém diante de estímulos adequados, a síntese excederá a degradação, oca­ sionando balanço positivo com conseqüente aumento do volume protéico da célula.

E importante lembrar que existem RNA mensageiros específicos para cada proteína a ser produzida (desde subtipos de miosina até receptores androgênicos) e o tipo e magnitude do estímulo determi­ narão a transcrição de RNA a ser realizada. Desta forma, um tipo de treino pode aumentar a síntese de proteínas participantes do metabo­ lismo oxidativo e outro, a de miosina de cadeia pesada.

2.3 - Estruturas e processos da contração muscular

Célula nervosa

A célula nervosa é com posta por três com ponentes básicos: dendritos, corpo celular e axônio (WEINECK, 2000), cujas funções são as seguintes:

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- D endritos: recebem a in form ação p ro v en ien te de outros neurônios e a transmitem ao corpo da célula.

- Corpo da célula: processa a informação, podendo modificá-la ou mesmo inibi-la.

- Axônio: leva as informações do coipo da célula para outros locais. Alguns axônios podem conter bainhas de mielina em seu corpo, uma substância lipídica que serve como isolante, evitando a trans­ missão dos impulsos aos neurônios adjacentes e auxiliando oproces- so de condução do impulso nervoso. Esta bainha é formada por es­ truturas especializadas, denominadas células de Schwan. A bainha de mielina não acompanha todo o corpo do axônio, deixando espa­ ços descobertos, os chamados nódulos de Ranvier. Desta forma, o impulso nervoso “salta” os espaços mielinizados até os nódulos, em um processo denominado condução saltatória, que faz com que os axônios com bainhas mielinizadas possuam velocidades de condu­ ção ate 50 vezes maiores que as não-mielinizadas (60 a 100 m/s para a primeira e 0,5 a 10 m/s para a segunda).

Condução do Impulso nervoso

O impulso nervoso é conduzido pela ação da bomba de sódio-potás- sio. Quando um neurônio está em “repouso”, sua parte interna tem carga negativa e a externa, carga positiva, situação chamada potencial de repouso da membrana. Este potencial deve-se à concentração iônica, com os íons de Sódio (Na+) e Potássio (K+) encontrando-se principal­ mente fora e dentro da célula, respectivamente. Note que nenhum do ambientes possui carga negativa, o meio intracelular é negativo em relação ao meio extracelular, mas ambos possuem carga positiva, de­ vido à maior quantidade de Na+ fora da célula do que de K+ dentro.

A condução do impulso nervoso torna a membrana permeável aos íons de Na+ e K+, possibilitando uma movimentação no sentido da área de menor concentração para área de maior concentração, ou seja, os íons de Na+ entram e os de K+ saem da célula, despolarizando a mem­ brana por dar ao interior uma carga mais positiva em relação ao ambi­ ente extracelular. Esta reversão do potencial elétrico, denominada despolarização, dura alguns milissegundos até que a membrana torne- se novamente impermeável. Para que os íons de Na+ e K+ retomem à sua concentração de antes do impulso, deve entrar em ação a bomba de sódio-potássio, que age ativamente, consumindo ATP. Nesse ponto,

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aparece outra vantagem dos neurônios mielinizados, pois o processo de repolarização só acontecerá nos nódulos de Ranvier, uma vez que os trechos mielinizados são isolantes. Desta forma há menor demanda de energia e menor gasto de tempo.

Além da presença das bainhas de mielina, outro fator que interfere na co ndução do im pulso é o diâm etro do axônio. Em fibras mielinizadas a velocidade de condução aumenta na mesma propor­ ção que o aumento do diâmetro, já nas amielínicas a velocidade au­ menta na proporção do quadrado do aumento do diâmetro (FLECK & KRAEMER, 1999).

Normalmente, as fibras de condução mais rápidas (mielinizadas e de maior diâmetro) possuem limiares de excitabilidade mais altos, levando-as a serem recrutadas mais tardiamente. Isto faz com que, em s itu a ç õ e s n o rm a is, as u n id a d e s m o to ra s c o m p o sta s prioritariamente por fibras tipo I sejam recrutadas primeiro em rela­ ção às com predominância de tipo II, ao que se dá o nome de princí­ pio do tamanho no recrutamento. (KRAERMER & HÄKKINEN, 2004).

Chegada do impulso nervoso à junção neuromuscular

O ponto de encontro do neurônio com a fibra muscular é denomi­ nado junção neuromuscular (vide figura). A junção neuromuscular é composta por:

- Axônio

- Membrana pré-juncional (axônio)

- Vesículas sinápticas - contêm acetilcolina

- Fenda sináptica - espaço entre o axônio e a fibra muscular - Membrana pós-juncional (fibra muscular) - contém receptores de acetilcolina.

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Quando o impulso nervoso chega à junção neuromuscular, abrem- se os canais de Cálcio (Ca2+) ao longo da membrana do terminal nervoso, fazendo com que estes íons ingressem na célula. A concen­ tração aumentada de Ca2+ faz com que as vesículas sinápticas mi­ grem para a membrana pré-juncional e liberem acetilcolina na fenda sináptica. Em seguida, a acetilcolina se liga a receptores específicos na membrana pós-juncional, causando aumento da permeabilidade da membrana e permitindo a propagação do impulso ao-longo do sarcolema por meio da abertura dos canais de sódio e potássio, le­ vando à sua despolarização. Ou seja, a acetilcolina permite que o impulso nervoso atravesse a fenda sináptica, sendo por isso um neurotransmissor.

A fibra continuará a ser ativada até que a acetilcolina seja degrada­ da pela acetilcolinesterase, presente na membrana pós-juncional, o que leva cerca de cinco milissegundos para ocorrer. Os subprodutos da degradação da acetilcolina podem ser captados pelo axônio e usa­ dos na ressíntese do neurotransmissor. Tendo em vista que o tama­ nho do axônio é, comparativamente, bem inferior ao da fibra muscu­ lar, seu impulso iônico não seria forte o suficiente para se propagar por uma fibra. Desta forma, a acetilcolina funciona como um “am ­ plificador” do impulso que está sendo propagado.

Contração muscular

A teoria mais aceita para a contração m uscular é a teoria do filamento deslizante, proposta por Huxley. Segundo esta proposta, o encurtamento do músculo deve-se ao deslizamento dos filamentos, com diminuição do comprimento do sarcômero. Assim, durante a contração, as linhas Z são tracionadas para o centro do sarcômero, com as faixas H e i diminuindo consideravelmente sua área. Durante este processo, a faixa A se mantém inalterada.

Didaticamente, a contração muscular pode ser dividida em sete passos:

1 - influxo de cálcio

Em estado de repouso, há baixa concentração de cálcio no meio intracelular. No entanto, quando o impulso nervoso é propagado pelo retículo sarcoplasmático, passando pelos túbulos T e chegando à cis­ terna terminal, os íons de cálcio são liberados no sarcoplasma.

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2 - liberação do sítio ativo da actina

Estes íons de Ca2+ se ligam à troponina, levando à alteração da configuração do complexo actina-miosina, com movimentação da tropomiosina e exposição dos sítios ativos da actina.

3 - união da miosina à actina

Com a exposição do sítio ativo, a ponte cruzada da miosina pode- se ligar a ele.

4 - o deslizamento da actina sobre a miosina

Com a ligação da ponte cruzada ao sítio ativo da actina, há ativa­ ção da enzima ATPase presente na cabeça da miosina, que hidrolisa o ATP em ADP e Pi (fosfato inorgânico). A conformação da ponte cruzada se altera, fazendo com que a molécula de miosina tracione o filamento de actina para o centro do sarcômero.

5 - a ligação do ATP à ponte cruzada

Quando o ATP se liga à ponte cruzada há separação da miosina e actina. Então, para que a ponte cruzada se solte dos sítios ativos, há necessidade da presença de ATP.

6 - retorno do cálcio para o retículo sarcoplasmático

Em seguida, os Ca2+ retornam à cisterna term inal do retículo sarcoplasmático por transporte ativo, por meio de bombas de íons. Com a saída dos íons de cálcio, o complexo troponina-tropomiosina volta a cobrir os sítios ativos de actina.

Este processo se repete várias vezes por segundo em cada sarcômero, tanto que em um determinado momento somente cerca de 50% das cabeças de m iosina estão acopladas aos sítios ativos da actina (McARDLE et al., 1991).

Uma única fibra de 100 micrômetros de diâmetro e apenas 1 cm de comprimento pode conter cerca de 32 bilhões de filamentos de miosina (McARDLE et a l, 1991), contendo, cada um, milhares de pontes cruzadas. Desta forma, a capacidade de uma fibra gerar força e velo­ cidade depende diretamente do número de conexões-desconexões entre os filamentos de actina e miosina, o que é influenciado pela atividade da enzima ATPase.

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Rigor moríis

Após a morte, a síntese e o fornecimento de ATP são interrompi­ dos, por isso, não é possível ocorrer o desacoplam ento entre os filamentos de actina e miosina, o que faz o músculo se manter forte­ mente contraído, em um estado denominado rigor mortis.

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Unidade m otora

A unidade motora é a unidade funcional da atividade neuromuscular, correspondendo ao conjunto formado por um neurônio e as fibras por ele inervadas. O número de fibras que compõem uma unidade motora determinará tanto sua capacidade de realizar força quanto a precisão de seus movimentos. No músculo ciliar, por exemplo, as u n id a d e s m o to ra s co n tê m c e rc a de 10 fib ra s, e n q u a n to no g a stro c n êm io este núm ero pode ch eg ar a 1.000 (F L E C K & KRAEMER, 1999). As unidades motoras também podem variar de acordo com a característica das fibras que a formam, podendo ser compostas predominantemente por fibras tipo I ou tipo II.

Ao contrário do que se imagina habitualmente, a unidade motora não é composta de fibras vizinhas, desta forma fibras adjacentes não pertencem necessariamente à mesma unidade motora, o que permite que o músculo se contraia como um todo (FLECK & KRAEMER,

1999).

Quando um estímulo é transmitido a uma unidade motora, ou todas suas fibras se contraem ou todas se mantêm relaxadas, em um fenô­ meno denominado “lei do tudo ou nada”. A gradação de força se dá não pelo número de fibras ativadas dentro de uma unidade motora, mas sim pelo número de unidades ativadas e pela atividade dos me­ canismos de conexão-desconexão (também chamados contração-re- laxamento).

2.4 - Fibras e proprioceptores

As fibras musculares são divididas basicamente em tipo I e tipo II. As fibras tipo I são também chamadas fibras vermelhas (devido à alta concentração de mioglobina e elevada vascularização); lentas (por contrair-se mais lentamente que as tipo II); ou oxidativas (possuem

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maior atividade de mitocôndrias e enzimas oxidativas), com maior capacidade oxidativa e facilidade em obter ATP por meio de vias aeróbias. Estas fibras são subdivididas em I e IC, sendo esta última uma variação de menor capacidade oxidativa raramente encontrada, podendo, no entanto, ter sua quantidade aumentada devido ao treina­ mento anaeróbio de alta intensidade (FLECK & KRAEMER, 1999).

As fibras tipo II são chamadas fibras brancas, glicolíticas (concen­ tração elevada de enzimas glicolíticas) ou rápidas (alta velocidade de contração).

As fibras tipo II possuem alta atividade da enzima ATPase, assim, o ciclo de contração e relaxamento se repete mais vezes dentro de um dado período de tempo, o que lhe fornece maior capacidade de gerar força e velocidade, porém leva a um esgotamento mais rápido das reservas energéticas, com menor resistência à fadiga. Estas ca­ racterísticas levam tais células a armazenar maiores quantidades de ATP e fosfato de creatina e a possuírem m aior concentração de enzimas glicolíticas. Como as fibras tipo II são usadas preferencial­ mente em esforços anaeróbios, sua densidade capilar é mais baixa, possuindo concentrações reduzidas de mitocôndrias e mioglobina, além de menor densidade capilar e atividade de enzimas oxidativas mais baixas, em comparação com as fibras tipo I. Podem-se dividir as fibras tipo II em IIB, IIAB, IIA, IIAC e IIC.

Apesar de existirem sete tipos de fibras há somente três tipos de miosina de cadeia pesada (MCP): MCPI, MCPIIA e MCPIIB, sendo as diferentes combinações destas variedades o fator responsável pe­ las características das fibras (TAN, 1991). Fibras IIAB parecem ser uma forma intermediária entre as IIA e IIB, aparecendo na transição do processo de conversão de um subtipo em outro, apresentando as M CPIIA e MCPIIB. As fibras IIC são mais oxidativas que as IIA, possuindo M CPIIA e MCPI, porém encontram-se em quantidades baixíssimas (0 a 5%) no corpo humano (FLECK & KRAEMER, 1999; McARDLE et a l, 1991). O tipo IIAC também seria um subtipo mais oxidativo, porém com uma maior quantidade de M CP tipo IIA em relação às fibras IIC (TAN, 1999).

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Fibra tip o I Fibra tip o II A tiv id a d e da A T P a s e Baixa A lta

C o n te ú d o d e m ioglobina A lta Baixa

D en sid a d e c a p ila r A lta Baixa

D ensidade de

m itocôndrias* A lta Baixa

Diâmetro dos

motoneurônios Menor M aior

E n zim a s g lic o lítica s Baixa A lta

En zim as o x id a tiv a s A lta Baixa

Força Baixa A lta

R e se rva s de A T P e CP Baixa A lta

R e se rva s de glicogênio* Sem diferença Sem diferença

R e s e rv a s de g ord u ra s A lta Baixa

R esistên cia à fadiga A lta Baixa

V e lo c id a d e de co n tração -

re la x a m e n to Baixa A lta

^facilmente alterável com treino Diferenças entre fibras tipo I e tipo II.

Proprioceptores

Proprioceptores são receptores sensitivos localizados dentro de um determinado órgão. No caso do sistema muscular, a contração e alon­ gamento de tendões e fibras são controlados por estes mecanismos, os quais alimentam constantemente o sistema nervoso com mensagens referentes à situação da estrutura. Por meio do conhecimento da situa­ ção de alongamento/contração de cada músculo envolvido em um pa­ drão motor pode-se conhecer a posição deste membro no espaço.

Os proprioceptores servem também para avaliar os níveis de força e alongamento dos músculos, tomando as contrações mais seguras e controladas.

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Órgão Tendinoso de Golgi (OTG)

Como o nome indica, esta estrutura se localiza nos tendões. O neurônio sensitivo deste proprioceptor se estende até a medula espi­ nhal, onde faz sinapse com os neurônios motores alfa, tanto dos m ús­ culos que estão sob seu controle quanto dos seus antagonistas.

A principal função do OTG é controlar os níveis de tensão muscu­ lar. Quando a tensão em um músculo toma-se excessiva, a ponto de sujeitá-lo a uma lesão, ocorre proporcional aumento da tensão no tendão, a qual é detectada pelo OTG, que envia uma mensagem à medula, iniciando inibição da contração dos agonistas.

Fuso muscular

Os fusos localizam-se dentro de fibras musculares modificadas, denominadas fibras intrafusais. Tais fibras compõem-se de uma área sensória central envolta por fibras normais. As duas principais fun­ ções destes proprioceptores são monitorar o grau de alongamento do músculo e iniciar uma contração para reduzir este estiramento, quan­ do necessário.

Quando ocorre um estiramento súbito ou exagerado de determina­ do músculo, o nervo sensitivo do fuso leva um impulso elétrico para a medula espinhal, onde há uma sinapse com os neurônios motores alfa dos músculos em que está inserido. Com a chegada do impulso, os agonistas são ativados de forma a gerar uma contração no sentido contrário ao estiramento.

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CAPITULO 3

Adaptações m orfológicas ao treinam ento de força

3.1 - Hipertrofia

Hipertrofia muscular é o aumento volumétrico de um músculo, devido ao aumento volumétrico das fibras que o constituem.

3 .1 .1 - Fatores atuantes Células satélites

As células satélites são pequenas estruturas com alta densidade de material genético, localizadas no espaço externo das fibras, entre a lâmina basal e o sarcolema. Diante de estímulos adequados, elas se proliferam e se fundem entre elas mesmas ou com fibras já existen­ tes, ocasionando surgimento de novas células ou novos núcleos, res­ pectivamente.

Com o aumento volumétrico da fibra, deve-se manter uma ativida­ de genética adequada ao novo tamanho celular. No entanto, um nú­ cleo tem a capacidade de responder apenas pela regulação de um espaço físico limitado, tornando essencial o aumento do número de núcleos para que esse novo volume muscular seja sustentado e a cé­ lula mantenha-se funcionando adequadamente, fato caracterizado pela relação constante entre o tamanho da fibra e sua quantidade de nú­ cleos (BRZANK et a l, 1986; ALWAYS et a l, 1988; KADI & THORNELL, 2000, KADI et a l, 1999a, KADI e ta l, 1999b; ALLEN et a l, 1995; ROY et a l, 1999; MCCALL et a l, 1998). Como os núcleos da fibra m uscular adulta não têm capacidade de realizar mitose, sua multiplicação deve-se unicamente à fusão de células sa­ télites (ANTONIO & GONEYA, 1993b).

A importância das células satélites pode ser verificada por meio de estudos que inibem sua ativação e funcionamento por intermédio de radiação gama. Ao utilizar tal procedimento é verificada inibição signi­

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ficativa da hipertrofia compensatória, podendo ser total (ROSENBLATT et a l, 1992) ou parcial (BARTON-DAVIS et al, 1999).

A importância das células satélites na hipertrofia parece estar rela­ cionada com o tipo de fibra e a fase da hipertrofia (LOWE et a l, 1999). Em relação à tipologia, as fibras tipo II parecem ter maior dependência das células satélites, e a inibição de sua atividade pode impedir totalmente a hipertrofia (ADAMS et al., 2002). Sobre a re­ ferida fase, o papel das células satélites é mais evidente em um se­ gundo momento da hipertrofia, justamente quando há necessidade de se aumentar a quantidade de material genético para manter o novo volume celular (ADAMS et al., 2002; HADDAD & ADAMS, 2002, ADAMS & HADDAD, 1996).

As células satélites podem ter relação com alguns fatores devida­ mente verificados na prática: a memória muscular e reduzida capaci­ dade de hipertrofia com o avanço da idade e na infância.

M emória muscular é o termo corriqueiramente utilizado para de­ signar a capacidade que um indivíduo treinado tem em recuperar seu volume muscular quando retoma o treinamento após algum tempo inativo (FLECK & KRAEMER, 1999; STARON et a l, 1991). Entre outros fatores, a explicação para este fenômeno pode estar na dife­ rença temporal entre a adaptação morfológica e a alteração na quan­ tidade de núcleos, pois, supostamente, este número só começaria a ser expressivamente reduzido após uma diminuição crônica e signi­ ficativa do volume muscular, sendo um processo ainda mais lento que o ocorrido na hipertrofia (WADA et a l, 2002).

Em seres humanos, a atividade e quantidade das células satélites são reduzidas tanto na infância, quanto na velhice, de modo que o período intermediário parece ter uma maior vantagem neste sentido (HAWK & GARRY, 2002; CHARGE et a l, 2002).

As células satélites sofrem influências de diversos fatores dentre os quais podemos citar (HAWK & GARRY, 2002):

- Interferência positiva: fatores de crescimento tipo insulina (IGF-

1 e IGF-2), fator de crescimento hepatócito (HGF), fator de cresci­ mento fibroblasto (FGF), células e fatores imunológicos (macrófagos, in te rle u c in a -6 , p la q u e ta s), óxido n ítric o (N O ), te sto ste ro n a (JOUBERT & TOBIN, 1989; JOUBERT & TOBIN, 1995).

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Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia

- Interferência negativa: fatores de crescimento transformantes

(TGF-B).

Além de potencializar de forma aguda alguns fatores que estimu­ lam as células satélites, como lesões e IGF-1, que serão discutidos mais adiante, o treino de força também parece aumentar a quantida­ de total de células satélites em longo prazo (KADI et ah, 1999b).

Insulina

A insulina é um hormônio composto por 51 aminoácidos organiza­ dos em duas cadeias polipeptídicas. Sua síntese ocorre nas células beta das ilhotas de Langerhsn, do pâncreas (MARZZOCO & TOR­ RE, 1999). A insulina liberada no sangue segue basicamente em sua forma livre (sem ligações com outras moléculas), tendo uma meia- vida muito curta, de cerca de seis minutos, com remoção completa entre 10 e 15 minutos, tempo que o hormônio tem para se ligar aos receptores antes de ser degradado pela enzima insulinase no fígado, rins e músculos (GAYTON & F1ALL, 2000). A insulina é provavel­ mente o hormônio mais anabólico de nosso corpo, dada a sua eleva­ da capacidade em aumentar o volume da maior parte dos tecidos, acumulando proteínas, carboidratos e gorduras.

Não há comprovação de que o treino exerça influência direta sobre a liberação de insulina em humanos. No entanto, é verificado que um programa de atividades físicas traz alterações em sua atividade, alte­ rando a concentração de seus principais mediadores dentre os quais podemos destacar a proteína transportadora de glicose-4 (GLUT-4), a lipoproteína lipase (LPL) e enzimas do metabolismo protéico.

Em condições normais, a membrana celular é pouco permeável à glicose, tomando necessário um transportador, para facilitar a entra­ da do nutriente na célula. Nas fibras musculares e adipócitos este papel é exercido pelo GLUT-4, em resposta à insulina e à contração muscular. Diversos estudos têm verificado que atividades físicas em geral aumentam a concentração de GLUT-4 em até 100%, sendo esta elevação m antida por até 90 horas (KAWANAKA et a i, 1997; GREWIE et ah, 2000). Tais alterações podem fazer com que a efici­ ência da insulina no transporte de glicose aumente em cerca de 200% três horas após o treinamento de força (BIOLO et al., 1999). No entanto, um aparecimento expressivo de microlesões pode ter um

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efeito antagônico, diminuindo a eficiência da insulina, por reduzir o transporte de glicose (ASP & RICHTER, 1996).

Além da atividade do GLUT-4 nas células de gordura, o potencial lipogênico da insulina também é exercido por outros fatores, como a lipoproteína lipase. Os triacilgliceróis são sintetizados no fígado e liberados para a corrente sangüínea na forma de lipoproteínas, a in­ sulina ativa LPL dos adipóticos, a qual “quebra” os triacilgliceróis em ácidos graxos e, com isso, permite a entrada dos subprodutos nos tecidos e sua conversão novamente em triacilgliceróis, que serão acu­ mulados como reservas de gordura (GUYTON & HALL 1999). A LPL sofre influência positiva do treinamento, com sua atividade au­ mentando em até 240%, após a realização de exercícios intensos (GREWIE et al., 2000).

A insulina influencia positivamente no balanço protéico, mas sua atuação ainda não está totalmente clara, uma vez que alguns autores acreditam que os efeitos anabólicos estejam ligados ao IGF-1 e fato­ res de iniciação eucarióticos (elFs) (FARREL et al., 1999). A eleva­ ção na síntese protéica promovida pela insulina após o treinamento de força não tem diferença estatisticamente significativa em relação à elevação promovida em repouso, não fornecendo bases para suge­ rir um a m elhora do efeito anabólico. Porém, o treino de força potencializa o efeito anticatabólico da insulina, segundo mostram os resultados do estudo de BIOLO et a l (1999). Uma suposição dos autores é o fato de a insulina interferir na ação de determinadas enzimas proteolíticas (proteases lisosomais), que atuam mais evi­ dentemente em condições extremas, como traumas, infecções e ati­ vidades físicas.

Hormônio do crescimento - GH

O hormônio do crescimento é formado por uma cadeia simples de 191 aminoácidos, sendo liberado pela parte anterior da glândula hipófise. Uma de suas principais características fisiológicas é a pulsatilidade, com sua concentração sérica podendo variar até 290 vezes em poucos minutos (TAKARADA et a l, 2000a). Alguns fato­ res que estimulam a liberação de GH são:

- Sono.

- Hipoglicemia.

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Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia

- Estresse (dor, calor, ansiedade).

- Exercício (maior em treinos intermitentes e intensos).

- Outros agentes (serotonina, estrógenos, adrenalina, dopamina, glucagon, beta-bloqueadores, L-arginina).

Com o avanço da idade, há notável redução na concentração do GH, a qual pretende-se relacionar com debilidades no tecido muscu­ lar, ósseo, articular e órgãos. Já sua alta concentração pode levar à acromegalia e a distúrbios cardíacos e metabólicos. A deficiência de GH é verificada em adultos se os resultados dos testes (indução de hipoglicemia com insulina ou infusão de arginina) forem menores que 5 ng/ml para adultos e 10 ng/ml em crianças.

Existem basicamente duas hipóteses para explicar a atuação do hormônio do crescimento:

- Hipótese da somatomediação.

O GH chegaria ao fígado e tecidos periféricos, causando a libera­ ção e produção dos fatores de crescimento tipo insulina (IGFs), po­ dendo tam bém aum entar a quantidade de receptores para estes peptídeos, o que prolongaria a meia-vida dos IGFs.

Quanto à liberação de IGF-1, o hormônio do crescimento parece ser um fator endócrino muito eficiente, visto que aplicar GH eleva a quantidade sérica de IGF-1 cerca de 50 vezes mais do que injetar o próprio IGF-1 (SKOTTNER, 1987).

- Hipótese do duplo efeito.

Segundo esta teoria, além de agir indiretamente, o próprio GH atu­ aria diretamente nas células, como fator de crescimento, provavel­ mente devido à diferenciação das células satélites (GREEN, 1985; ADAM & McCUE, 1998).

Estudos combinando o uso de GH e treinamento com pesos mos­ traram que, apesar do aumento na massa magra, não há melhoras nos ganhos de força com a utilização do hormônio (TAAFFE et al., 1994; YARASHESKI et a l, 1995, YARASHESKI et al., 1992; DEYSSIG et al., 1998). A ocorrência freqüente de aumento de massa magra sem ganhos de força levou à hipótese de que o aumento de peso advindo do uso de GH seria proveniente de proteínas não-contráteis e retenção de fluidos.

De fato, ao estudar especificamente a musculatura esquelética, ve­ rificou-se que o hormônio do crescimento não é eficiente em aumen­

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tar a massa muscular de seres humanos (WELLE, 1998, TAAFFE et a l, 1996), mesmo quando usado em doses elevadas, por períodos de tempo prolongado e em pessoas debilitadas. Este fato foi pratica­ mente concluído com o estudo de LANGERS (2002), que acompa­ nhou quatro grupos (controle, GH, GH + treino de força, placebo + treino de força) e verificou - por meio de DEXA, ressonância mag­ nética, aparelhos isocinéticos - que o uso de GH não favorece de maneira significativa o ganho de massa muscular, independente de ser utilizado isolada ou concomitantemente ao treino de força.

- Efeitos do treinamento de força

Apesar de o treinamento com pesos não promover aumento nos níveis de repouso do GH (STARON et a l, 1994; M CCALL et a l, 1999), existem pesquisas relacionando a magnitude da sua resposta aguda com as adaptações ao treino de força (ELIAKIM et a l, 2001, M CCALL et al., 1999). Porém, uma correlação estatística não signi­ fica necessariamente a existência de uma relação fisiológica de cau­ sa e efeito.

O aumento na concentração de GH em virtude do treino de força ocorre porque algum as alterações fisiológicas que estim ulam a hipertrofia também são responsáveis pelo aumento de GH, como o acúmulo de metabólitos - que provavelmente estimulariam recepto­ res químicos, iniciando a ativação do eixo hipotálamo-hipófise. Este fato é amparado ao se verificar que protocolos de treinamento que induzem maiores níveis de lactato são associados às maiores libera­ ções de GH (SCH O TT et al., 1995; KRAEM ER et a l , 1990; SMILIOS et a l, 2003; HOFFM AN et a l, 2003; TAKARADA et a l, 2000a; DURAND et a l, 2003; KANG et a l, 1996), como os com margens altas de repetições, descansos reduzidos entre as séries e séries múltiplas (GOTSHALK et a l, 1997; BOSCO et a l, 2000; KANG et a l, 1996; MULLIGAN et a l, 1996).

O hormônio do crescimento poderia ser usado como indicador para se detectar uma alteração fisiológica que influencia na hipertrofia, mas sua resposta, por si só, não é necessariamente uma alteração fisiológica causadora da hipertrofia.

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Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia

IGF-1

Muitos efeitos do hormônio do crescimento são mediados pelos fatores do crescimento tipo insulina (IGFs), ou somatomedinas, den­ tre os quais o mais conhecido é o IGF-1. Dada a baixa afinidade do hormônio do crescimento com as proteínas plasmáticas, ele é rapida­ mente eliminado do sangue, com uma meia-vida de apenas 20 m inu­ tos. Já o IGF-1 é liberado lentamente e se une a uma proteína especí­ fica, tendo meia-vida de cerca de 20 horas (GAYTON & HALL, 2000).

Praticamente 90% do IGF-1 presente no corpo são sintetizados no fígado e liberados para a corrente sangüínea. No entanto, algumas células têm capacidade de produzir e liberar este peptídeo diante de estímulos adequados, levando-o a atuar de modo autócrino/parácrino. Apesar de ambas as formas terem uma composição físico-química extremamente similar, seus efeitos fisiológicos são bem diferentes.

Há situações em que, mesmo havendo concentrações normais de GH, o crescimento é impedido devido à deficiência em fatores de crescimento. Este é o caso de pigmeus africanos, que têm deficiência congênita em sintetizar IGF-1, levando-os a apresentar baixa estatu­ ra, apesar das concentrações de hormônio do crescimento serem nor­ mais ou altas (GAYTON & HALL, 2000). Porém, a hipótese de que a baixa produção de IGF-1 hepático seja a grande responsável pelo crescimento normal tem sido contestada. YAKAR et a l (1999) apa­ garam o gene responsável pela produção de IGF-1 nas células hepá­ ticas e encontraram desenvolvimento normal (estatura e tamanho de órgãos), mostrando que a deficiência no crescimento não é causada pela falta de IGF-1 circulante, mas pela diminuição de sua produção local. Deste modo, a deficiência genética encontrada em casos como os dos pigmeus estaria relacionada a uma falha generalizada na pro- duçãp dos fatores de crescimento e não apenas à sua concentração sangüínea.

- Isoforma endócrina

As observações quanto ao IGF-1 são as mesmas do GH, pois o efeito endócrino de ambos é muito parecido, causando ganhos de massa magra sem favorecer a hipertrofia muscular (WATERS et a l, 1996; TAAFFE et a l, 1994; YARASHESKI et a l, 1993). Tanto que estudos feitos em seres humanos e animais verificaram que a con­

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centração sangüínea de IGF-1 não está associada aos efeitos de trei­ namento (ELIAKIM et a l, 1998; ELIAKIM et a l, 1997).

ELIAKIM et a l (2001) encontraram correlação estatisticamente significativa entre o volume muscular da coxa e concentração sérica de IGF-1. No entanto, em resposta ao treinamento houve aumento no volume muscular, sem elevação nos níveis de IGF-1 para o grupo experimental, enquanto o grupo controle elevou as taxas de IGF-1 e não aumentou o volume da coxa. Uma situação “paradoxais segun­ do os autores.

- Isoforma parácrina/autócrina

Há relativa independência entre as duas formas de IGF-1. Apesar de o hormônio do crescimento ser precursor da forma endócrina, sua atuação na liberação da forma autócrina/parácrina não é determinante. Estudos com animais hipofisectomizados (com a hipófise removida) mostraram que, mesmo com as concentrações sangüíneas de hormônio do crescim ento e IGF-1 praticam ente nulas, os músculos ainda hipertrofiam em resposta à sobrecarga devido à liberação local de IGF-1 (DEVOL et al., 1990; ADAMS & HADDAD, 1996), levando à conclusão de que o IGF-1 estaria envolvido nos ganhos de massa muscular por meio de um processo de realimentação local, indepen­ dente das concentrações séricas de IGF-1 e GH.

A atuação autócrina/parácrina do IGF-1 foi claramente demonstra­ da em estudos envolvendo a aplicação localizada do peptídeo. ADAMS & M cCUE (1998) aplicaram IGF-1 de tal forma e com do­ ses tão reduzidas que sua concentração não foi alterada no sangue nem nos músculos adjacentes. Neste experimento, houve aumento de 9% na massa do músculo analisado com a utilização de apenas 0,9 jiig/dia, enquanto estudos usando doses sistêmicas de 200 a 300 /xg/ dia não encontraram efeitos significativos.

A maioria dos estudos indica que o IGF-1 atua na regeneração mus­ cular, primordialmente por meio da estimulação de células satélites (BARTON-DAVIS e ta l, 1999; COLEMAN e ta l, 1995; ADAMS & HADDAD, 1996; ADAMS & McCUE, 1998; TURECKOVA et a l, 2001; FLORINI et a l, 1996; FERNANDEZ et a l, 2002). Ou seja, para atuar, o IGF-1 deve estar presente em quantidades significativas nas adjacências da célula. Desta forma, algumas explicações para a baixa eficiência do IGF-1 sistêmico podem ser: alterações na configu­

Referências

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