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A INFLUÊNCIA DO ESTRESSE NO COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM PROFISSIONAIS DA ÁREA DE ENFERMAGEM: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

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1 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais. Curso Superior de Nutrição. Email:

gabimayer2@gmail.com

2 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais. Curso Superior de Nutrição. Email:

andyzagrobelny@hotmail.com

3 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais. Docente do curso de Nutrição. Email:

lizsowek@gmail.com

4 Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais. Docente do curso de Nutrição. Email:

vane_tizott@yahoo.com.br

A INFLUÊNCIA DO ESTRESSE NO COMPORTAMENTO ALIMENTAR EM PROFISSIONAIS DA ÁREA DE ENFERMAGEM: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Gabriele Mayer ¹ Andressa Zagrobelny ² Liz Elaine Sowek ³

Vanessa Tizott Kanut Scremin 4

RESUMO - A presente revisão integrativa visa abordar os principais trabalhos com as temáticas envolvendo o estresse e o comportamento alimentar, bem como a influência das emoções no mesmo. Para tal, foi realizado um levantamento bibliográfico com a seguinte pergunta norteadora: “qual o impacto do estresse no comportamento alimentar em profissionais da área da enfermagem?”, resultando em 33 artigos selecionados com os critérios: data, idioma, base de dados e descritores: estresse OU estresse ocupacional OU emoções E comportamento alimentar E enfermagem OU enfermeiros. A alta carga de estresse ocupacional afeta de forma direta no comportamento alimentar, podendo acarretar diversos transtornos alimentares como bulimia, anorexia, e mais precisamente a compulsão alimentar, fazendo com que trabalhadores comecem a consumir alimentos energéticos, ricos em açúcar e gordura. As carreiras na área da saúde estão entre as que mais sofrem com a tensão no ambiente de trabalho, o qual apresenta grande tensão emocional, desgaste físico e psíquico que podem contribuir para o surgimento do estresse. Os resultados encontrados mostram que as emoções, qualidade do sono, trabalho por turnos, falta de infraestrutura e motivação têm grande influência no estado de estresse e, consequentemente no comportamento alimentar.

PALAVRAS-CHAVE: ESTRESSE OCUPACIONAL; TRABALHO POR TURNOS; COMPORTAMENTO ALIMENTAR; EMOÇÕES.

THE INFLUENCE OF STRESS ON EATING BEHAVIOUR IN NURSING PROFESSIONALS: AN INTEGRATIVE REVIEW

ABSTRACT: This integrative review aims to address the main papers with the topics involving stress and eating behaviour, as well as the influence of emotions on it. For this purpose, a bibliographic survey was conducted with the following guiding question: "what is the impact of stress on eating behavior in nursing professionals?", resulting in 33 articles selected with the criteria: date, language, database and descriptors: stress OR occupational stress OR emotions AND eating behavior OR nurses. The high level of occupational stress directly affects eating behavior and can cause several eating disorders such as bulimia, anorexia, and more precisely, eating compulsion, causing workers to start consuming energetic foods containing sugar and fat. Careers in the

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health area are among those who suffer most from stress in the work environment, which presents high emotional tension, physical and psychological exhaustion that can contribute to the development of stress. The results found show emotions, quality of sleep, shift work, lack of infrastructure and motivation have a great influence on the state of stress and consequently on eating behaviour.

KEYWORDS: OCCUPATIONAL STRESS; SHIFT WORK; EATING BEHAVIOR; EMOTIONS.

1 INTRODUÇÃO

O estresse é uma manifestação decorrente de condições ambientais

que excedem a capacidade de

adaptação dos processos fisiológicos

ou psicológicos. O estresse

ocupacional constitui-se de sintomas e eventos associados ao ambiente de trabalho, onde o indivíduo pode relacionar as atividades, tarefas e exigências como agentes estressores, podendo acarretar disfunções físicas, psicológicas e sociais em nossa saúde (OMS, 2016).

Estudos apontam que o

estresse pode alterar o comportamento alimentar, aumentando o consumo de alimentos mais palatáveis e com alto

valor energético, especialmente

aqueles ricos em açúcar e gordura

(ZELLENER, SAITO, GONZALEZ,

2007; OLIVER, WARDLE, 1999). Além dos afazeres inerentes a profissão da enfermagem, fatores relacionados ao ambiente físico como ruído, iluminação, temperatura, higiene, disposição do espaço físico para o trabalho também influenciam na carga estressora (SANTOS, 2016).

A alta carga de estresse está relacionada com o aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, dores musculares, ansiedade, fadiga, irritabilidade, insônia, redução da capacidade de concentração e afeta de

forma direta no comportamento

alimentar, levando grande parte dos

indivíduos a desenvolver transtornos alimentares, como bulimia, anorexia, e

mais precisamente a compulsão

alimentar (MONTEIRO et al., 2018).

Estudos sugerem que os

efeitos do estresse no consumo alimentar parecem diferir de acordo com características individuais, como o

gênero. Mulheres estressadas

apresentaram maior consumo de

alimentos calóricos quando

comparadas às menos estressadas, o que não é observado no gênero

masculino (ZELLENER; SAITO;

GONZALEZ, 2007; MIKOLAJCZYK; EL ANSARI; MAXWELL, 2009).

Ocorrências de estresse

crônico estão ligadas a maior

exposição ao cortisol, que possui efeitos sobre o sistema de recompensa cerebral (SRC). O cortisol aumenta a sensibilidade do SRC, o que pode desencadear o consumo excessivo de

alimentos de alta palatabilidade

(ADAM; EPEL, 2007).

Alguns hormônios, como a dopamina, a leptina e a insulina, também atuam no nível central, aumentando o desejo por alimentos palatáveis. Por sua vez, alimentos ricos em gordura e em açúcar produzem

prazer e emoções positivas,

aumentando o desejo por seu consumo e vinculando a lembrança de seu

consumo com a sensação de

recompensa (ZHENG, 2009).

Sendo assim, as escolhas

alimentares diante das situações

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mudança das preferências alimentares e aumento do consumo de alimentos que normalmente são consumidos com cuidado (como alimentos ricos em açúcar), e isso está relacionado à tentativa de utilizar o alimento como forma de aliviar o estado emocional (OLIVER; WARDLE; GIBSON, 2000; WALLIS; 2009).

Nesse sentido, observa-se o cruzamento de aspectos biológicos e psicológicos na relação entre estresse e consumo alimentar. Por um lado, têm-se respostas fisiológicas ao consumo

de alimentos palatáveis que

influenciam e guiam seu consumo futuro; e por outro existem motivações de natureza hedônica e emocional que regulam e influenciam o consumo alimentar e que, por vezes, se justapõem a mecanismos fisiológicos (PENAFORTE; MATTA; JAPUR, 2016). Segundo Alvarenga et al. (2016) é importante ressaltar que o comportamento alimentar é baseado em diversos fatores. As atitudes alimentares são basicamente formadas por três componentes, sendo eles: afetivo onde os sentimentos, humor e emoções são causados por um objeto especifico; cognitivo onde há crenças e conhecimento sobre o objeto e volitivo que diz respeito à vontade, interação comportamental em relação ao objeto. A ingestão alimentar está diretamente ligada ao comportamento alimentar, visto que é através desse sistema que se é conduzido as escolhas.

Para este trabalho é necessário deixar claro alguns conceitos como o de fome, fome hedônica e saciedade. Fome é uma necessidade fisiológica quando há privação de energia ou alimentos, estimulando o ser humano a buscar comida. A fome hedônica ou apetite, é o desejo de comer um alimento ou grupo de alimentos específicos, esperando ter satisfação e prazer, e por fim, a saciedade é a

sensação de plenitude gástrica, perda da fome e sensação de bem-estar após uma refeição. Logo se é possível afirmar que a fome se relaciona à necessidade de comida, e o apetite ao desejo por comida (ALVARENGA et al., 2016).

O apetite é extremamente

vulnerável ao estresse e à

palatabilidade, dessa forma surge o consumo exagerado por alimentos ricos em açúcar, gordura e sal, visto

que estes são encontrados e

acessíveis a população, desde a década de 80 onde a indústria impulsionou a criação e venda de produtos industrializados (SAWAYA; FILGUEIRA, 2013).

As carreiras na área da saúde estão entre as que mais sofrem com a tensão no ambiente de trabalho, o qual apresenta grande tensão emocional, desgaste físico e psíquico que pode contribuir para o surgimento do estresse (ALVES, 2011). Segundo a Ordem dos Enfermeiros, em Portugal, essa profissão registra maior nível de estresse ocupacional, devido seu papel fundamental no local de trabalho e contato frequente com pacientes e familiares (LIMA, 2019).

Com base nesses dados, torna-se relevante a realização de uma

revisão integrativa, buscando

selecionar trabalhos que apontem a real relação entre o estresse e o comportamento alimentar em tais profissionais, bem como os principais elementos causadores do estresse ocupacional.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão

integrativa, com abordagem no assunto a respeito da influência do estresse no comportamento alimentar entre os profissionais da área de enfermagem.

(4)

Este método de estudo foi escolhido, pois possibilita resumir pesquisas já

concluídas, e a ter conclusões

apoiadas em um interesse. Além de ser

um grande avanço para os

pesquisadores do meio acadêmico, popularizando o acesso e facilitando

atualização (SOUZA; SILVA;

CARVALHO, 2010).

A revisão integrativa, é

considerada a mais ampla abordagem metodológica referente às revisões, pois possibilita a inclusão tanto de

estudos experimentais e

não-experimentais. Composta por diversos

propósitos como definição de

conceitos, revisão de teorias,

evidências, e análise de problemas metodológicos de um tópico particular (WHITTEMORE; KNAFL, 2005).

Esta revisão foi elaborada a partir de seis etapas propostas por Souza, Silva e Carvalho (2010): a 1ª etapa consiste na construção da pergunta norteadora; na 2ª etapa é

realizada a busca na literatura,

estabelecendo os descritores, critérios de inclusão e exclusão e seleção dos trabalhos; 3ª etapa constitui-se da coleta de dados; 4ª etapa é realizada uma análise crítica dos estudos

incluídos; 5ª etapa – discussão dos

resultados; por fim a 6ª etapa apresentando a revisão integrativa.

Para elaboração do seguinte estudo, foi estabelecida a seguinte pergunta norteadora: “qual o impacto

do estresse no comportamento

alimentar em profissionais da área da enfermagem? ”. A partir disso, foram definidos os termos estresse OU estresse ocupacional OU emoções E

comportamento alimentar E

enfermagem OU enfermeiros.

Os critérios de inclusão de artigos foram: trabalhos encontrados nas bases de dados eletrônicas Google Scholar, PubMed e Scielo, além do idioma português (Brasil), português

(Portugal) e inglês, publicado entre os anos de 2010 e 2020 e que apresentavam a temática estabelecida. Já para os critérios de exclusão se deram por meio de artigos publicados fora do tempo estabelecido e por estudos que não abordavam a temática pesquisada.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Como resultado desta revisão, percebe-se que há diversos parâmetros

que acarretam o estresse e

consequentemente mudanças no

comportamento alimentar. No total foram encontrados 33 trabalhos que

obedeceram aos critérios

estabelecidos, nas áreas de saúde

como a nutrição, medicina,

enfermagem e psicologia (quadro 1).

Quadro 1: Levantamento de trabalhos encontrados

Fonte: As autoras, 2020.

Em relação a quantidade de periódicos, percebeu que a partir do ano de 2016, houve um aumento na publicação de trabalhos (266%), o que mostra que o interesse por tal tema vem crescendo, conforme figura 1.

Figura 1. Relação entre o número de artigos e ano de publicação. Recursos informacionais Artigos encontrados Artigos incluídos na revisão Google Scholar 28 20 PubMed 8 4 Scielo 10 9

(5)

Fonte: As autoras, 2020.

Quanto ao delineamento da amostra estudada observou-se que dos 33 trabalhos utilizados, 6 (18%) são internacionais e 27 (82%) nacionais. 15 (45%) são revisões bibliográficas, 3 (9 %) revisões integrativas e 15 (45%) experimentais, resultando no total de 16 (4%) de pesquisas quantitativas e 17 (51%) de pesquisas qualitativas.

Segundo Sowek et al. (2019)

as pesquisas qualitativas e

quantitativas se complementam devido a promoção de diferentes tipos de conhecimentos que são relevantes para a prática da interdisciplinaridade e

geram aprendizado para o

desenvolvimento da profissão.

Com relação as características do estudo 16 (48%) apresentam como conteúdo principal as causas do

estresse ocupacional, 4 (12%)

relacionam o estresse com o

aparecimento da síndrome de Burnout, 6 (18%) relaciona o trabalho em turnos e a falta da qualidade de sono como o

fator principal desencadeante do

estresse, 5 (15%) relatam que a motivação e apoio podem reduzir ou eliminar o estresse ocupacional e 7 (21%) fazem a relação entre estresse e emoções.

Causas do estresse

Os resultados das pesquisas se mostram bastante similares com

relação aos fatores causais do

estresse. Silva (2013), indica que há

quatro fatores que resultam na

sobrecarga de trabalho, induzindo ao estresse, sendo eles: a urgência do tempo; responsabilidade excessiva; falta de apoio; expectativas contínuas de nós mesmos e daqueles que estão a nossa volta.

Já Cunha et al. (2016), ressalta a existência de três grupos de fatores resultantes no estresse, como os

ambientais incluindo incertezas

econômicas, políticas e tecnológicas;

organizacionais como pressão,

sobrecarga de trabalho, chefe exigente e colegas desagradáveis e por último os individuais que derivam de questões pessoais.

Dentro do campo da

enfermagem Trettene et al. (2016)

afirma que condições como a

necessidade de tomada de decisão imediata e frequente, alto grau de

dificuldade e responsabilidade,

insuficiência de recursos, falta de reconhecimento por parte dos gestores, alta rotatividade, superlotação, espaço físico inadequado, assistência direta e

indireta a pacientes gravemente

enfermos e em risco de morte eminente são a chave para a insatisfação profissional e futuramente para o estresse.

Da mesma forma, Ribeiro

(2018), diz que o estresse no ambiente da saúde, se dá principalmente pela rotina do ambiente hospitalar, por conta da alta tensão no local e condições de trabalho. Com isso a melhoria na organização na estrutura e nas condições de trabalho, poderiam ser fatores que contribuíssem para reduzir os efeitos de estresse nesse ambiente.

0 2 4 6 8 10 N ú m ero d e ar tigo s Ano

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Estresse e o sono

Além destes fatores

decorrentes do ambiente do trabalho, o sono também é um importante aliado para o alívio do estresse. O estresse no ambiente de trabalho pode levar o profissional a desenvolver distúrbios do

sono, como o bruxismo e

sonambulismo, acarretando em

desgaste e até baixo desempenho do trabalhador (SILVA, 2013).

Savioli (2019), afirma que é no momento de repouso que nosso corpo se recupera, porém, uma demanda excessiva de tarefas somada a alimentação inadequada, faz com que seja liberado mais cortisol, reduzindo os níveis de serotonina e melatonina, impedindo um sono reparador.

Indivíduos que apresentam privação de sono decorrentes dos

trabalhos por turnos, tendem a

apresentar um estilo de vida mais sedentário quando comparados a indivíduos com padrão de sono adequado. Este estilo de vida acrescido

de alterações no comportamento

alimentar pode favorecer o balanço energético positivo e propiciar o ganho de peso de maneira inadequada, resultando em sobrepeso e obesidade (COELHO et al., 2014).

Buchvold (2019), reitera que o trabalho noturno é responsável pela interrupção do ciclo de sono, resultando

na desregulação circadiana,

influenciando na duração e qualidade do sono.

Segundo Bittencout, Walz e Zanin (2015), o estresse ocupacional somado a privação de sono, está associado ao desenvolvimento da obesidade e de doenças metabólicas, supostamente através da desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Bem como Freitas et al. (2015) atesta

que a falta da rotina de sono e alterações no consumo alimentar estão associadas ao agravo de doenças metabólicas já existentes ou ao seu aparecimento.

Coelho et al. (2014) postula que a duração e horários dos turnos afetam o padrão de sono, bem como o esquema laboral pode atrapalhar os horários, frequências e preferências

alimentares dos profissionais,

predispondo a obesidade e

comorbidades associadas.

Estresse e trabalho por turnos

Os profissionais da área de enfermagem, em sua grande maioria, têm como característica profissional o trabalho por turnos, o que pode acarretar ainda mais em distúrbios do sono devido as alterações circadianas. Luna et al. (2015), declara que os profissionais que atuam no período da noite, estão mais susceptíveis ao surgimento de doenças devido ao grande cansaço e desgaste físico.

Assim como Lowden et al. (2010) e Buchvold (2019), mostram em seu estudo que trabalhadores em turnos correm um risco maior de

desenvolver obesidade, doenças

cardiovasculares, úlceras pépticas,

problemas gastrointestinais,

desregulação dos níveis de açúcar no sangue e síndrome metabólica.

Freitas et al. (2015) reitera que trabalhos em turno afetam a qualidade nutricional da dieta e frequência do consumo de determinados alimentos, como fast foods e industrializados. Silva, Santos e Nascimento (2016) também alegam que estes profissionais estão mais susceptíveis a desenvolver o estresse ocupacional, devido a sua longa jornada de trabalho.

Além disso, Mekary et al. (2012), relatou em seu estudo que

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profissionais da área da saúde que trabalham no turno da noite, muitas vezes omitiam o café da manhã, devido

à exaustão referente ao tempo

trabalhado, tiveram risco aumentado em 21% de ter Diabetes do que aqueles que realizaram o café da manhã.

Transtornos alimentares

O ambiente de trabalho pode exercer efeitos positivos e negativos na saúde física e mental do trabalhador, uma vez que seu bom desempenho no trabalho pode trazer satisfações em

seu desenvolvimento pessoal,

proporcionando um bom retorno

financeiro, por outro lado, os

trabalhadores podem estar expostos diariamente a situações estressantes,

as quais podem desencadear

consequências negativas a saúde, e

entre elas, destaca-se o

comportamento alimentar (SILVA;

ANTHERINO; LIMA, 2020).

Nos trabalhos encontrados, 8

(24 %) trazem os transtornos

alimentares como principal

consequência do estresse ocupacional, sendo o mais citado o transtorno de compulsão alimentar (TCAP). Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico

de Transtornos Mentais (DSM-V,

2014), o TCAP se caracteriza pela ingestão de grandes quantidades de alimento em um curto espaço de tempo, além da sensação de perda de controle. De acordo com Lourenço (2016) há vários fatores que podem acarretar esse comportamento como a ansiedade, estresse, depressão e a frustração no ambiente de trabalho, concluindo que o ato de comer está relacionado com o alívio de emoções negativas, sendo comum associar o alimento como fator que irá aliviar ou compensar o sofrimento.

Oliveira et al. (2020) refere que

o TCAP tem um perfil clínico

semelhante à de outros transtornos, como por exemplo a bulimia nervosa, onde a impulsividade relacionada a alimentação aponta comportamentos compensatórios, como o vômito e o uso

de laxantes. Já a anorexia é

caracterizada pela restrição da

ingestão de alimentos junto com uma drástica perda de peso.

Estresse ocupacional e Síndrome de Burnout

O estresse ocupacional é gerado por problemas causados pelo ambiente de trabalho, o qual estabelece um conjunto de atividades de valores, comportamentos e representações, o que acomete atualmente trabalhadores do mundo inteiro, considerado um grave problema de saúde, podendo interferir em condições psicológicas e físicas dos indivíduos (LEITE, 2018).

De acordo com Filho e Almeida (2016), o estresse ocupacional também pode estar relacionado com transtornos

psicológicos como a ansiedade,

depressão e Síndrome de Burnout, a qual se caracteriza pelo conjunto de sinais e sintomas de exaustão física, psíquica e emocional decorrentes da má adaptação ao trabalho prolongado e

estressante, acompanhado de

frustração em relação a si e ao trabalho (ALVES, 2011).

Gazziano e Ferraz (2010),

enfatizam que a síndrome de Burnout

está relacionada à atividade

profissional e ambiente de trabalho e

não especificamente à profissão

exercida. Tal diferenciação deve ser feita pois o profissional pode apresentar sintomas de estresse ocupacional embora não manifestem características do Burnout.

(8)

Para Costa e Teo (2014), o estresse ocupacional pode alterar a fome e o apetite, acarretando prejuízos à saúde do indivíduo. Além disso, há indícios de que o alto nível de estresse no trabalho, faça com que a pessoa consuma um número menor de alimentos saudáveis, levando ao alto

consumo de alimentos ultra

processados, pobres em nutrientes essências como vitaminas e minerais, sendo potencialmente geradores de estresse.

A exposição do estresse pode ser um fator determinante para a

alteração do padrão alimentar,

podendo modificar o metabolismo de vários nutrientes, como vitaminas do complexo B, vitamina C, cálcio, magnésio, ferro e zinco. Se o estresse é continuo, pode trazer problemas imunológicos e endócrinos, podendo ocorrer alterações do perfil lipídico,

pressão arterial, e problemas

cardiovasculares (DALMAZO et al., 2018).

Influência das emoções no estresse Dalmazo (2018), ressalta que a alteração das emoções, determinam as escolhas alimentares, fazendo com que os alimentos sejam associados ao

contexto emocional em que

normalmente são consumidos. O comer emocional pode ser considerado uma reposta as emoções negativas,

sendo uma consequência da

incapacidade de controlar as emoções de forma severa. Constatou-se então que o termo emoção engloba vários significados que vai desde a descrição de uma emoção específica como a raiva e a tristeza, ou meramente um estado emocional, como o estresse (BETTIN; RAMOS; OLIVEIRA, 2019).

Uma série de estudos, vem sendo feitos sobre a associação entre

uma inadequada regulação emocional

e comportamento alimentar,

principalmente em indivíduos com hábitos alimentares desequilibrados. O ato de comer por conta de emoções muito fortes, pode resultar em doenças mais graves, como a obesidade, bulimia e até mesmo anorexia, pois faz com que o indivíduo se alimente de

forma descontrolada (GOUVEIA;

CANAVARRO; MOREIRA, 2017). Sinha e Jastreboff (2013), em seu trabalho apontam evidêcias de estudos clínicos e populacionais de que há uma associação entre eventos estressantes ou estados de estresse crônico e adiposidade, Índice de Massa Corporal (IMC) e ganho de peso. Apesar de alguns estudos resultarem na redução da ingestão de alimentos sob estresse agudos, este também é relacionado ao aumento do consumo, em especial daqueles com alta palatabilidade.

As mesmas autoras relatam

que mudanças nos padrões

alimentares como por exemplo, pular refeições, ficar por um longo período sem ingerir alimentos e comer de

maneira compulsiva são efeitos

prejudiciais à saúde resultante do

estresse e preferência alimentar

(SINHA; JASTREBOFF, 2013).

As inquietações do

comportamento alimentar, também

podem ser caracterizadas pela

preocupação excessiva com a imagem corporal. Ela pode se dar por consequências da alta ingestão de

comidas calóricas, questões

psicológicas ou saúde física. Gameiro (2018), refere-se que a sensibilidade interpessoal está relacionada com a

depressão, visto que ela traz

sentimentos de inferioridade, o que pode levar o indivíduo a sentir tristeza e

consequentemente a ter hábitos

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problemas mais sérios de compulsão alimentar, bulimia e a anorexia.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo com o baixo resultado

nas buscas de trabalhos que

relacionam o estresse com o

comportamento alimentar, os estudos encontrados mostram um referencial bastante satisfatório para concluirmos que de fato as emoções como ansiedade e depressão decorrentes,

principalmente do estresse

ocupacional, são fatores influenciáveis no comportamento alimentar.

Além disso, fatores como a falta de qualidade ou privação do sono

também se mostram bastante

relevantes para a incidência de estresse, bem como a tendência a aderir dietas mais calóricas, que na maioria das vezes são compostas por alimentos de baixo valor nutricional e

altamente processados, podendo

resultar em doenças metabólicas, principalmente obesidade, diabete e hipertensão.

Em relação a fatores que podem levar a prevenção desses sintomas decorrentes do estresse ocupacional, nota-se que melhoras na infraestrutura do local de trabalho, bem

como reconhecimento por ações

realizadas podem levar a motivação

destes profissionais, e

consequentemente a redução do

estresse.

Diante da escassez de

recursos, torna-se relevante uma investigação de maior amplitude de estudos que abordem a temática apresentada em tal revisão integrativa, para no futuro poder contribuir com ações preventivas de desenvolvimento de transtornos alimentares decorrentes

deste estresse no ambiente de

trabalho.

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