CRECIMENTO DIAMÉTRICO DE TRÊS ESPÉCIES FLORESTAIS COMERCIAS DA AMAZÔNIA EM FLORESTA COM E SEM LIBERAÇÃO DE COPA DIAMETER GROWTH OF AMAZONIAN COMMERCIAL TREE SPECIES IN
FOREST WITH AND WITHOUT CROWN LIBERATION
Apresentação: Pôster
Jonatan de Lima Damasceno ; Luã Souza de Oliveira ; Rodrigo Ivonaldo Nascimento 1 2 Aráujo ; Arrildo Filipe Silva Rodrigues3 4; Hassan Camil David5
DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00403
Introdução
A extração ilegal de madeira no Brasil vem sendo a principal causa da extinção de algumas árvores nativas da Amazônia. Apesar das melhorias nas técnicas, conscientização internacional e preocupação com as florestas tropicais, a insustentável exploração madeireira de florestas tropicais continuam (BUTLER, 2008).
A perda de florestas, à regeneração natural e principalmente os estados físicos do solo são alterados em decorrência da exploração desordenada de uma área, as quais devem ser aferidas de formas criteriosas para se obter um manejo adequado. Além do mais, tais impactos têm implicações diretas na escolha do sistema de manejo a ser aplicado e na busca de respostas a questões relacionadas com a autoecologia das espécies envolvidas (MARTINS, et al., 2003).
As explorações de florestas nativas geram grandes conflitos ecológicos e sua regeneração natural é muito lenta. No entanto as taxas de crescimento podem ser aceleradas pelos tratamentos silviculturais, pois eles reduzem a competição por luz, água e nutrientes com as espécies mais abundantes e sem valor comercial (AZEVEDO, et al., 2012).
1 Discente de Engenharia Florestal, Universidade Federal Rural da Amazônia, jonathanlima.jl11@gmail.com 2 Discente de Engenharia Florestal, Universidade Federal Rural da Amazônia, cristianoluansouza@hotmail.com 3 Discente de Engenharia Florestal, Universidade Federal Rural da Amazônia, rodrigo.ivonaldo@gmail.com 4 Discente de Engenharia Florestal, Universidade Federal Rural da Amazônia, arrildorodrigues@hotmail.com 5 Doutor em Engenharia Florestal. Universidade Federal Rural da Amazônia, hassancamil@gmail.com
O objetivo desse trabalho foi avaliar o crescimento de três espécies comerciais florestais (Lecythis idatimon, Sterculia pilosa e Planchonella pachycarpa), em floresta Amazônia com e sem anelamento e cortes de cipós.
Fundamentação Teórica
O manejo das florestas nativas deve levar em consideração o desenvolvimento e crescimentos de arvores desejados para as conservações do solo e recursos hídricos. Porém a extração de madeira em florestas nativas é uma atividade que causa grandes impactos ao ecossistema e, por isso, se torna o momento mais crítico na aplicação e escolha de um sistema de manejo visando à produção sustentável (AZEVEDO, et al., 2012).
Para Oliveira et al, (2005) a produção de madeira em florestas tropicais, para ser sustentável, deve ser de tal intensidade que permita á floresta repor o volume retirado ao final do período de regeneração escolhido, isto é “não se deve extrair mais do que a floresta pode produzir naturalmente ou com a ajuda da ciência”, esse é o primeiro princípio do bom manejo para se ter um uma exploração de modo sustentável.
Um dos tratamentos silvicultural utilizado hoje em dia, é a técnica por anelamento, cujo manejo é a retirada da casca ao redor do fuste da arvore formando assim um anel. Porém experimentos dedicados à avaliação do tratamento silvicultural por anelamento na Amazônia são muito poucos, mesmo sendo esse um dos métodos mais eficientes para eliminação de espécies sem valor comercial (SILVA, 2015).
De acordo com Silva et al, (2016) o mais tradicional tratamento silvicultural é o desbaste. Em florestas nativas ele pode ser realizado utilizando-se motosserra ou por anelamento das árvores sem interesse comercial. Porém o anelamento de árvores é mais vantajoso quando comparado com o desbaste por derrubada com motosserra. Na aplicação do anelamento é retirada a casca e a entrecasca, com isso a árvore morre de forma gradual, perdendo as folhas e galhos da copa, essa morte lenta reduz os danos típicos da derrubada nas árvores remanescentes.
A área experimental encontra-se na Fazenda Cauaxi, município de Paragominas, PA, localizado entre as coordenadas 3º 45’ 22.25” S e 48º 09’ 51.81” O. Nessa área, um fragmento de floresta natural teve exploração florestal em 1996. Após a essa intervenção, uma área de 40 ha foi reservada para conduzir um experimento com anelamento de árvores e corte de cipós. Metade (20 ha) dessa área experimental teve aplicação do tratamento, e a outra metade ficou reservada como área testemunha, isto é, sem anelamento e sem corte de cipós.
As árvores do experimento foram classificadas em 3 tipos:
i. Favorecidas: árvores de espécies comerciais ou potencialmente comerciais, com Dap ≥ 35 cm, e com Qualidade de Fuste (QF) = 1 ou 2.
ii. Competidoras, árvore que compete com árvore favorecida, independente do Dap e da Qualidade de Fuste (QF).
O intuito do tratamento foi liberar a copa de árvores favorecidas, desbastando as árvores competidoras por meio de anelagem, bem como pelo corte de cipós. A anelagem consistiu em abrir uma janela de 20 x 20 cm a 1,3m da árvore, retirando até a casca viva do câmbio vascular.
A área experimental foi anualmente medida por censo de 1998 a 2010; a partir desse ano o censo foi bianual, com última medição em 2016.
As espécies estudadas ocorrem em ambas as áreas experimentais (testemunha e tratamento), permitindo avaliar crescimento a nível de espécie com e sem favorecimento. Contudo, este estudo avaliou o crescimento em três anos: 1998 a 2008 (primeiro ano de medição), 2008 (10 anos depois), e 2016 (8 anos).
Árvores das espécies Lecythis idatimon, Sterculia pilosa e Planchonella pachycarpa foram selecionadas para comparação do crescimento com e sem favorecimento de anelamento. Os resultados foram avaliados por análise de variância (ANOVA) e feito o teste de F para as significâncias a 5% de probabilidade. Os dados foram analisados por meio de um delineamento em blocos casualizados (DBC) com parcelas subdivididas, em que: tratamentos foram ‘Espécies’; blocos corresponderam aos três períodos de crescimento. Cada parcela foi subdividida em duas, área com anelamento e sem anelamento. O teste de comparação de médias de Tukey (α = 5%) foi utilizado quando o F foi significativo.
Resultados e Discussões
Não houve significância (teste F) para o tratamento (a), nem para os blocos, o que indica que não houve diferença significativa no crescimento diamétrico entre as espécies e entre os anos de medição. Por outro lado, o resultado do teste F foi significativo para o tratamento (b), o que indica que há diferença significativa entre as médias com e sem anelamento, com média maior sendo para o anelamento.
A interação entre os tratamentos a x b também foi significativo, portanto foi necessário decompor o efeito da espécie dentro do anelamento. Com as decomposições, a espécie Lecythis idatimon apresentou F não significativo a 5% de probabilidade, ou seja, o anelamento e corte de cipós não influenciaram no crescimento diamétrico dessa espécie. Porém, a espécie Sterculia pilosa e Planchonella pachycarpa mostraram-se significativas ao teste.
A figura 1; mostram as médias do DAP por parcela de cada espécie, com e sem o favorecimento de anelagem e cortes de cipós.
Figura 1 . Avaliação do crescimento do Incremento Médio Anual do Diâmetro Acima do Peito (DAP) (cm) das espéciesLecythis idatimon, Sterculia pilosa e Planchonella pachycarpa, nos respectivos anos 1998 a 2016.
A tabela 1 mostrara uma significância de acordo com o teste F das decomposições dos tratamentos. A espécie Sterculia pilosaapresentou um crescimento mais eficiente quando foi aplicado anelamento, onde apresentou em média 50,36 cm (Tabela 1) no crescimento do
DAP, pois o crescimento em diâmetro das árvores está intimamente relacionado com os produtos decorrentes da fotossíntese (absorção de luz), e com a aplicação do tratamento silvicultural (anelamento e cortes de cipós) houve-se a liberação de copa para espécie favorecendo o seu desempenho no crescimento diametral. Enquanto a espécie Planchonella pachycarpa apresentou-se um crescimento menos variado, em relação a segunda espécies estudada.
TABELA 1 . Médias das avaliações do DAP (cm) com e sem Anelamento das espécies florestais, nos respectivos anos 1998 a 2016.
Espécies Com Anelamento (cm) Sem Anelamento (cm)
Lecythis idatimon 39,16 a 39,05 a
Sterculia pilosa 50,36 b 36,16 c Planchonella pachycarpa 43,59 d 31,86 e
Em que: Letras Iguais = não-significativo ao nível de 5% de probabilidade; Letras Diferentes = significativo ao nível de 5% e 1% de probabilidade
Os mesmos fatores que favorecem o crescimento em diâmetro também favorecem o crescimento em área transversal. Os valores Médios do crescimento da área transversal das espécies estão representados na tabela 2 e na imagem 2.
TABELA 2 . Médias das avaliações da Área Transversal g (cm²) das espécies florestais, nos respectivos anos 1998 a 2016.
Espécies Com Anelamento (cm) Sem Anelamento (cm)
Lecythis idatimon 1209,35 a 1199,92 a
Sterculia pilosa 2056,54 b 1886,15 c Planchonella pachycarpa 1505,89 d 1427,06 e
Em que: Letras Iguais = não-significativo ao nível de 5% de probabilidade; Letras Diferentes = significativo ao nível de 5% e 1% de probabilidade
Figura 2 . Avaliação do crescimento da área transversal (g cm²) das espécies Lecythis idatimon, Sterculia pilosa e Planchonella pachycarpa, nos respectivos anos 1998 a 2016.
pachycarpaapresentou grande significância com o favorecimento de anelamento, os quais as mesmas apresentam um crescimento em média de 2056,54 e 1505,89 cm nos 18 anos. Os crescimentos transversais foram favorecidos pela abertura de copas de arvores não comerciais, facilitando assim uma melhor absorção de luz, água, e minerais diminuindo assim a competição entre as espécies.
Conclusões
O favorecimento do crescimento diamétrico por anelamento e cortes de cipós influenciou no crescimento do DAP e da área transversal. As espécies tiveram crescimento semelhante entre elas. O intervalo de 18 anos não foi suficiente para ocorrer um crescimento significativo. As espécies S. pilosa e P. pachycarpa foram significativamente favorecidas pelo anelamento.
Referências
AZEVEDO, C. P.; SILVA, J. N. M.; SOUZA, C. R.; SANQUETTA, C.R. Eficiência de
tratamentos silviculturais por anelamento na floresta do Jari, Amapá. FLORESTA,
Curitiba, PR, v. 42, n. 2, p. 315 - 324, abr./jun. 2012.
BUTLER, R. Riquezas em Perigo-Florestas Tropicais Ameaçadas. Mongabay. Janeiro 2008. Disponível em https://global.mongabay.com/pt/rainforests/0807.htm Acessado em 30/08/2018.
MARTINS, S. S.; COUTO, L.; MACHADO, C. C.; SOUZA, A. L. de. 2003. Efeito da
exploração florestal seletiva em uma floresta estacional semidecidual. Revista Árvore, 27(1): 65 – 70.
OLIVEIRA, L. C. de; COUTO, H. T. Z do; SILVA, J. N. M.; CARVALHO, J. O. P. de. Efeito da exploração de madeira e tratamentos silviculturais sobre a estrutura horizontal de uma área de 136 ha na Floresta Nacional do Tapajós, Belterra-Pará. Revista de Ciências
Agrárias, n. 46, p. 195 - 214, 2006.
SILVA, C. S. Efeitos de diferentes intensidades de anelamento sobre a estrutura de uma floresta de terra firme na Amazônia Central . Programa de Pós-Gradução Stricto Sensu em
Ciências Florestais e Ambientais – PPGCIFA. Manaus-AM, 190 f. abril 2015.
SILVA, C. S.; SILVA, F.; CARNEIRO, V. M. C.; LIMA, A. J. N.; SANTOS, J.; HIGUCH, N. Avaliação da estrutura de uma floresta submetida a diferentes intensidades de anelamento, 28 anos após a intervenção. Scientia Forestalis. Piracicaba, v. 44, n. 112, p. 987-999, dez. 2016.