Do natural ao social: meio físico, uso do
(sub)solo e transformação da paisagem na
comunidade remanescente de quilombo Cafundó
(Salto de Pirapora-SP)
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana
Programa de Aperfeiçoamento do Ensino (PAE)
Disciplina: Pedologia
Docente: Prof. Dr. Andreas Attila de Wolinsk Miklos
Estagiário (mestrado): André Luís Gomes
O Projeto de Pesquisa
Título: “Quilombo Cafundó (Salto de
Pirapora-SP): as dinâmicas do lugar e a ação
do Estado no planejamento do território
quilombola”
Início: março de 2012; previsão de defesa:
julho de 2015.
Objetivo central: analisar o uso e
planejamento de uma fração do território a
partir da interação entre o lugar e os
diferentes sujeitos, instâncias e escalas de
ação, dando centralidade à categoria de
espaço geográfico.
Aspectos metodológicos
Revisão bibliográfica (Geografia, História e Antropologia);
Pesquisa documental e entrevistas com representantes dos
órgãos oficiais responsáveis pelas CRQ’s e organizações
responsáveis por desenvolver projetos junto às
comunidades;
Diagnóstico da comunidade: participação em reuniões da
Associação Comunitária, mapeamento socioeconômico e
socioambiental da comunidade, entrevistas e observação
participante de aspectos do cotidiano.
Levantamento de informações sobre a evolução das
políticas públicas e da legislação para as CRQ’s a nível
nacional.
Mapa Hipsométrico do Estado de São Paulo
Províncias geomorfológicas do Estado de São
Paulo (ALMEIDA, 1964 apud. ROSS, ??)
Província Costeira
Planalto Atlântico:
“Originou-se da erosão sobre os antigos dobramentos
sofridos na Era Pré-Cambriana pelo território brasileiro.
A serras do Mar, da Mantiqueira e do Espinhaço são
exemplos desse tipo de planalto. Fazem parte
dos planaltos e serras do Atlântico Leste-Sudeste”
“
Correspondem a relevos residuais sustentados por
litologias diversas, quase sempre metamórficas
associadas a intrusivas. Nesses planaltos encontram-se
inúmeras serras, quase sempre associadas a resíduos de
estruturas dobradas intensamente, atacadas por
processos erosivos”.
Fonte:
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAe5EUAE/cinturoes-orogenicos
Cadeias orogênicas e cinturões
orogênicos: ROSS, Jurandyr Sanches.
Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP,
Escala do tempo geológico
Serra do Mar na chegada a Cubatão-SP
Serra do Mar – São Paulo
Serra da Mantiqueira – Divida SP/RJ/MG
Pirapora do Bom Jesus vista do Morro do Voturuna (1.200m de altitude, tendo ao
fundo a Serra do Japi)
A Serra da Mantiqueira entre São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais
Escala do tempo geológico
Depressão Periférica Paulista
“
Se estende a oeste do
planalto
, na forma de um
grande arco cuja concavidade se volta para o
interior. Sua superfície, que se encontra acima de
200m abaixo do nível geral do planalto cristalino e
do planalto ocidental, assinala o afloramento
de
rochas sedimentares
antigas,
paleozoicas
,
relativamente menos resistentes à
erosão
que as
formações dos planaltos vizinhos. A oeste
da
depressão
interior ergue-se o rebordo do
planalto ocidental, uma
escarpa
abrupta com cerca
de 200 m de desnível, com
penhascos
cortados em
formações
basálticas
: é a chamada
serra Geral
, que
do
norte
do
estado de São Paulo
se prolonga até
o
Rio Grande do Sul
”.
Cuestas basálticas e depressão periférica (São Pedro-SP)
Salto de Pirapora – geologia e geomorfologia
“A área em estudo está localizada na Depressão do
Médio Tietê, que faz parte da Depressão Periférica
Paulista e que por sua vez está inserida na Bacia
Sedimentar do Paraná. Segundo o Mapa Geomorfológico
do Estado de São Paulo, a Depressão do Médio Tietê se
caracteriza por possuir ‘formas de relevo denudacionais
com modelado que se constitui basicamente por colinas
de topos amplos tabulares e convexos (...). As altimetrias
predominantes estão entre 500 e 650m enquanto as
declividades variam entre 5 e 10%. Quanto à litologia, é
constituída por diabásios e arenitos e os solos são do
tipo Latossolo amarelo, Latossolo
Vermelho-escuro e Latossolo Roxo”
INCRA, Processo Administrativo nº 54190.002551/2004-89 (Reconhecimento, Demarcação e Titulação do Território pertencente à Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundó), Laudo Técnico de Avaliação de Imóvel Rural do Território da Comunidade Quilombola do Cafundó, 2005, p. 6.
Afloramento de arenito – Quilombo Cafundó
Paisagem vista a partir de um dos pontos mais altos do Cafundó
Vegetação: faixa de tensão
ecológica, ou seja, contato
entre dois ou mais tipos
de vegetação – Floresta
Ombófila
Densa
e
Cerrado.
Foto: FLONA de Ipanema,
Iperó-SP. Autor: André L.
Gomes, 24/10/2014
Solos predominantes na área de
estudo
PVA 13 – ARGISSOLOS
VERMELHO-AMARELOS (Antigo PODZÓLICO
VERMELHO-AMARELO): distróficos, A
moderado, textura arenosa/média, relevo
ondulado.
LVA 42 – LATOSSOLOS
VERMELHO-AMARELOS distróficos, textura média +
NEOSSOLOS QUARTZÊNICOS Órticos
distróficos ambos A moderado relevo
Fonte: European Digital Archive of Soil Maps - http://eusoils.jrc.ec.europa.eu/esdb_archive/eudasm/latinamerica/lists/y2_cbr.htm
Salto de Pirapora
São Paulo
Sorocaba
Detalhe
da
área
de
estudo na Carta de Solos
do Estado de São Paulo,
1960
“Os argissolos, por apresentarem em geral textura média
ou arenosa em superfície e baixa atividade da fração
argila, são facilmente preparados para o plantio. (...) são,
na sua maioria, solos muito profundos, isto é, não
apresentam qualquer impedimento físico à penetração
radicular pelo menos até 200 cm de profundidade”
(OLIVEIRA, 1999: 11).
Na área de estudo, “As topossequências apresentam
Latossolos Vermelho-Amarelos nas partes mais altas com
relevo Suave Ondulado e Moderadamente Ondulado
seguidos de Argissolos nas partes declivosas (relevo
ondulado). A medida em que a declividade se acentua os
solos ficam mais rasos, especialmente o horizonte A
(Neossolos Litólicos), chegando a ocorrer o afloramento
do arenito na Gleba C”.
INCRA, Processo Administrativo nº 54190.002551/2004-89 (Reconhecimento, Demarcação e Titulação do Território
pertencente à Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundó), Laudo de Vistoria e Avaliação de Imóvel Rural do Território da Comunidade Quilombola do Cafundó, 2011, p. 39.
Quilombo Cafundó – Salto de Pirapora-SP
Principais formas de uso do solo e do subsolo no
território do quilombo Cafundó
Agricultura e pecuária (Glebas A e C): auto-consumo e
comercialização através do PAA/Conab (13 famílias/25); apoio do
ITESP e do Programa Microbacias (estufas, irrigação e mecanização).
Eucalipto (63ha – Gleba D), após o corte (2018) deverá ser retirado
e a área destinada à prática da agricultura pelas famílias de
quilombolas;
Mineração de areia (50ha – Gleba D), repasse mensal de 15% para a
associação comunitária, porém após o fechamento da mina (2017)
restará um passivo ambiental para a comunidade (área inutilizável).
Até o momento, a mineradora não tem cumprido as medidas de
recuperação ambiental previstas no EIA-RIMA;
Áreas destinadas à preservação (APP e Reserva Legal): 37% da área
total, uma ONG está executando um projeto para recuperação de
2ha (2,5% de toda a área que deverá ser recuperada [80ha]) de mata
nativa, implantação de SAF’s e saneamento ecológico, com recursos
de um edital da Petrobrás Ambiental (2013);
Fotos: André Luís Gomes
26/04/2014
19/04/2014
05/06/2014
Classe de Declividade
Gleba
A
Gleba
B
Gleba
C
Gleba
D
Conjunto
do
Território
0 a 2% (plano)
0%
0%
0%
0,03%
0,03%
2 a 5% (suave ondulado)
15,14% 10,41% 3,73%
8,46%
8,8%
5 a 10% (moderadamente ondulado)
29,62% 19,39% 32,91% 30,08%
28,4%
10 a 15% (ondulado)
10,25% 11,7% 22,75% 21,22%
18,6%
15 a 20% (forte ondulado)
3,85% 6,56% 15,96% 8,27%
8,7%
20 a 45% (forte ondulado)
0%
16,24% 7,43%
1,83%
5,4%
APP, terras com classe de capacidade de uso VIII e terrenos não
agrícolas com grande passivo ambiental (Gleba D – Mineração,
Tanques de Decantação e Posto de Combustíveis) – declividades não
classificadas
41,14% 35,7% 17,22% 30,1%
30,4%
Quilombo Cafundó: classes de declividade das terras
Fonte: INCRA, Processo Administrativo nº 54190.002551/2004-89 (Reconhecimento, Demarcação e Titulação do Território pertencente à Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundó), Laudos de Vistoria e Avaliação de Imóvel Rural do
Quilombo Cafundó: classes de declividade das terras
Plano (0 a 2%)
Suave Ondulado (2 a 5%)
Moderadamente Ondulado (5 a 10%)
Ondulado (10 a 15%)
Forte Ondulado (15 a 20%)
Forte Ondulado (20 a 45%)
APP, terras com classe de capacidade de uso VIII e terrenos não agrícolas com grande passivo ambiental – declividades não classificadas
Classes de capacidade de uso das terras
Sua determinação permite indicar aptidões e limitações de uso
das mesmas, auxiliando no planejamento racional do uso e
manejo do solo. Dentre os fatores com influência direta quanto
à capacidade de uso das terras na área de estudo, podem ser
citados:
Fertilidade natural: de média a baixa e muito baixa;
Profundidade: moderadamente profundo, raso ou muito raso;
Pedregosidade e afloramento de rochas;
Permeabilidade;
Drenagem;
Risco de inundação nas baixadas;
Classes de declividade das terras que associadas aos tipos de
solo permitem determinar a susceptibilidade à erosão.
Fonte: INCRA, Processo Administrativo nº 54190.002551/2004-89 (Reconhecimento, Demarcação e Titulação do Território pertencente à Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundó), Laudos de Vistoria e Avaliação de Imóvel Rural do
Classe III: declividades entre 5 e 10% e baixa
fertilidade natural;
Classe IV: declividades entre 10 e 15%, baixa
fertilidade natural, textura arenosa e baixa
profundidade, seca edafológica severa;
Classe VI: declividades entre 15 a 20%, fertilidade
natural muito baixa com seca edafológica severa;
Classe VII: declividade superior a 20%, baixa
fertilidade natural, textura arenosa e baixa
profundidade, seca edafológica muito severa;
Classe VIII: afloramentos rochosos, várzeas
alagadas, APP’s.
Quilombo Cafundó: classes de capacidade de uso das terras
Classe de
capacidade de uso
das terras
Gleba A
Gleba B
Gleba C
Gleba D
Conjunto do
Território
Classe III
34,03%
23,62%
32,46%
32,68%
31%
Classe IV
19,39%
16,32%
18,71%
17,92%
17,9%
Classe VI
4,58%
8,02%
14,05%
17,25%
13,8%
Classe VII
0,86%
16,3%
16,33%
1,83%
6,85%
Classe VIII
41,14%
35,74%
18,45%
30,32%
30,75%
TOTAL
100%
100%
100%
100%
100%
Fonte: INCRA, Processo Administrativo nº 54190.002551/2004-89 (Reconhecimento, Demarcação e Titulação do Território pertencente à Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundó), Laudos de Vistoria e Avaliação de Imóvel Rural do
Classe III
31%
Classe IV
18%
Classe VI
14%
Classe VII
7%
Classe VIII
30%
Quilombo Cafundó: área percentual das classes de
capacidade de uso das terras em relação à área
Território da Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundó – Salto
de Pirapora (SP): situação das Áreas de Preservação Permanente e
Reserva Legal em 2010
Gleba Área total (ha)
Área de Preservação Permanente (APP) Porcentage m do imóvel (%) Área de Reserva Legal (RL) a ser recuperada (20% do imóvel) em ha Área total que deverá ser preservada (APP + RL) em ha % em relação à área total do imóvel Custo total da recuperaçã o (APP + RL) em R$ Área preservada Área não
preservada Total (ha) Mata e vegetação típica de várzea em APP (ha) Área antropizada em APP (ha) A 19 4,68 3,33 8 41,14 1,72 9,72 51 16.247,75 B 44,1 12,18 3,6 15,8 35,8 6,3 22,1 50 17.698,30 C 32,2 2,23 3,3 5,53 17,17 6,44 11,97 37,2 24.411,45 D 121,74 15,8 7,07 22,88 18,8 13,9 36,8 30,2 51.826,04 TOTAL 217 34,9 17,3 52,21 100 28,36 80,6 37,15 93.982,04
Fonte: INCRA, Processo Administrativo nº 54190.002551/2004-89 (Reconhecimento, Demarcação e Titulação do Território pertencente à Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundó), Laudos de Vistoria e Avaliação de Imóvel Rural do
Considerações finais
Os resultados encontrados apontam a necessidade do
conhecimento do solo para o planejamento racional do
uso;
O solo deve ser considerado como componente do
conjunto da paisagem, o que implica planejar o seu uso
levando-se em conta sua declividade, cobertura vegetal,
porosidade e drenagem, além da fertilidade natural;
No caso estudado, há necessidade de adoção de
práticas de manejo do solo conservacionistas, de
acordo com o zoneamento das classes de capacidade de
uso, visando minimizar os processos erosivos, visto que
trata-se de um solo bastante suscetível à erosão.
Tais práticas ainda não tem sido adotadas
adequadamente, o que já vem causando a
aceleração dos processos erosivos nas
áreas de cultivo (concentração do fluxo
de águas pluviais e carreamento de solo
na gleba C).
Por se tratar de solos de baixa fertilidade
natural, também é necessária constante
adubação, de preferência orgânica, além
do uso de cobertura morta.
Referências
Agência Nacional de Águas (ANA) http://arquivos.ana.gov.br/ institucional/sag/ Cobranca
Uso/Cobranca/09_MapaTiete.jpg
CONFINS Revista Franco-Brasileira de Geografia - http://confins.revues.org/6168 European Digital Archive of Soil Maps - http://eusoils.jrc.ec.europa.eu/esdb_archive/
eudasm/latinamerica/lists/y2_cbr.htm
GOMES, A. L. Quilombo Cafundó (Salto de Pirapora-SP): as dinâmicas do lugar e a ação do estado no
planejamento do território quilombola. Departamento de Geografia/FFLCH/ USP: Anais do VI Congresso
Iberoamericano de Estudios Territoriales e Ambientales, 2014, pp. 2221-2241, ISBN: 978-85-7506-232-6.
Iniciativa Verde - http://www.iniciativaverde.org.br/ INSTITUTO GEOLÓGICO (IG) Bol. IG vol.12 São
Paulo dic. 1981http://turmalina.igc.usp.br/img/revistas/bigusp/v12/a02fig01.jpg
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Processo Administrativo nº
54190.002551/2004-89 (Reconhecimento, Demarcação e Titulação do Território pertencente à Comunidade Remanescente de Quilombo Cafundó).
OLIVEIRA, João B. de. Solos do Estado de São Paulo: descrição das classes registradas no mapa pedológico.
Campinas: IAC, Boletim Científico n. 45, 1999.
PRESS, Frank [et. Al.]. Para Entender a Terra. Porto Alegre: Bookman, 2006.
ROSS, Jurandyr L. S.; MOROZ, Isabel C. Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo. Relatório interno,
Laboratório de Geomorfologia, DG/FFLCH/USP.
ROSS, Jurandyr Sanches. Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1996.
SÃO PAULO. Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania. Relatório Técnico-Científico sobre a Comunidade de