Literatura e memória: uma analise sobre Cristóvão Colombo no
romance Vigília do Almirante de Augusto Roa Bastos.
Rafaela da silva Mendes1
Dernival Venâncio Ramos júnior2
Resumo
O texto a representação de Cristóvão Colombo no livro de Augusto Roa Bastos Vigília do Almirante. O autor criou uma versão humanizada do “descobridor” da América. Partimos do pressuposto de que essa versão está ligada a uma discussão sobre a memória do descobrimento da América quando se comemorava 500 anos desse evento.
Palavras chaves: Colombo, Descoberta, América.
Introdução
A presente pesquisa, literatura e memória: uma analise sobre Cristóvão Colombo no romance Vigília do Almirante de Augusto Roa Bastos, esta a discutir sobre esta memória que é uma construção social. A partir do romance pretendemos problematizar esta memória que esta em torno desse símbolo que é Colombo, sendo a partir das comemorações dos 500anos dessa descoberta da América que o então autor Roa Bastos escreve seu romance.
O livro opta por demonstrar que Colombo foi um homem com duvidas e incerteza. Ao contrario dessa figura que é repassada de herói e visionário para a sociedade através dos filmes e dos monumentos. E levando a sociedade que esse homem visionário detinha de todo conhecimento da certeza que navegando para a direção do leste chegaria a América.
A partir do romance buscaremos discutir sobre esta representação que foi construída de Cristóvão Colombo na memória, que gerou na intervenção sobre o passado e na posteriori. Que foi durante as comemorações dos 500anos do descobrimento da América em 1992 houve varias polêmicas e publicações que incitava
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Aluna do curso de História bacharelado; campus de Araguaína; e-mail: mendezrafaela@hotmail.com. PIBIC/CNPQ
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sobre este descobrimento e de suas consequências. E sendo neste contexto que o autor Augusto Roa Bastos lançou o seu romance Vigília do Almirante que tende a descrever sobre a vida de Cristóvão Colombo, mas sempre a demonstrando outra versão desse personagem que é histórico e simbólico, mas buscando passar a partir do romance esse ser humanizado.
Material e métodos
De acordo com o autor Peter Burke (2006) que descreve no livro Variedades de Historia Cultural, que o termo História Cultural remonta do século XVIII, e sendo retomada no século XX que pode possibilitar o inicio de mudanças no campo historiográfico, e proporcionado a abertura de novos campos de abordagem da historia como, por exemplo, a musica, arte e literatura. É que a nossa pesquisa está embasada dentro do contexto da historia cultural.
Portanto a história começou a ter outros olhares a partir das fontes e de suas problemáticas. Como a fonte literária, nesta pesquisa utilizamos a literatura como lugar de construção dessas representações sobre o passado que é entendido e relacionadas essas disputas em torno da memória. “A memória é um fenômeno construído social e individualmente, quando se trata da memória herdada, podemos também dizer que há uma ligação fenomenológica muito estreita em memória e o sentimento de identidade” (POLLAK 1992 p. 5). A memória de Colombo é uma construção Social, que esta perpetuando uma visão de herói e descobridor do continente americano; essa memória essa sendo instituída pelos conquistadores espanhóis. A então memória que esta envolvida na sociedade foi questionada durante as comemorações dos 500anos do descobrimento da América, que foi reescrevida no livro A conquista da América de Tzevetan Todorov.
Segundo o autor Pomian (2003) os romances históricos tende a narrar um passado histórico, desta forma o autor utiliza relatos de autores que viveu, leu, ou escutou sobre este passado que acabou marcando gerações e que esta constantemente sendo recontado. E com isto percebemos que no romance Vigília do Almirante, o autor Roa Bastos se utilizou dos fatos que o mesmo leu sobre Colombo e deste passado que deixou marcas na sociedade latino-americana.
O romance histórico poderá ser datado como romance quando:
Em suma: uma narrativa é considerada histórica quando exibe a intenção de submeter-se a um controle de sua adequação a realidade extratextual do passado do qual tratar. “Mas para que essa narrativa seja reconhecida como histórica é preciso também que essa intenção não seja vazia”. (POMIAN. 2003 p.21).
No caso dessa pesquisa nos preocupa, e na qual intenção do romance Vigília do
Almirante. E por fim temos acreditado que o autor quer intervir no debate sobre o lugar
de Colombo dentro da história e desse continente americano.
O discurso de Roa Bastos é elaborado no momento da comemoração dos 500anos do descobrimento da América, em 1992. É que seu livro contem 296 paginas na versão brasileira que descreve em 53 capítulos sobre as viagens de Cristóvão Colombo junto á sua tripulação. O texto foi escrito em primeira pessoa, como uma confissão de Colombo, e demonstra isso, a partir de um elemento de tentar humaniza-lo.
O autor descreve fatos do cotidiano do almirante que viveu na cidade de Gênova na França, e sua família e constituída pelos filhos Diego o primogênito e Hernando caçula. “ainda posso ver meu pequeno filho Diego, a quem amo mais que a mim mesmo, abraçado a grande cruz de pedra. Um menino calvo com cara de velho. Passinha de uva enrugada de cansaço, de fome.” (BASTOS. 1992. p32). Percebe-se que o cotidiano do mesmo estava permeado de dificuldade.
Para o Le Goff, a memória pode apresentar duas formas que são bastante usadas na construção do conhecimento histórico, os monumentos, que constitui a herança do passado, e os documentos, que é a escolha do historiador. Algo que Bloch e Le Goff, pensão de forma igual, sobre o método do historiador e suas fontes. “o que sobrevivi não é o conjunto do que existiu, mas uma escolha quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa os historiadores.” (LE GOFF, 1990 p 535).
A concepção do documento/monumento é, pois, independente da revolução documental e entre os seus objetivos está o de evitar que esta revolução necessária se transforme num derivativo e desvie o historiador do seu dever principal: a crítica do documento – qualquer que ele seja – enquanto monumento. O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa. (LE GOFF, 1990 p. 546)
O monumento de analise Cristóvão Colombo é uma perpetuação, pois morte, dando a este monumento funerário a uma perpetuação da imagem de herói e colocando sempre a uma recordação dessa figura que atuou no “descobrimento” de um continente que conhecemos de América. De acordo com Le Goff o documento também e um monumento a partir da visão do historiador. Analisar a versão de Roa Bastos sobre Cristóvão Colombo, compreende-se que é necessário contextualizar historicamente a fonte.
A construção tradicional sobre Colombo está representada, por exemplo, nos monumentos históricos como o que se segue:
O monumento de Colombo situado em La Rambla na cidade de Barcelona na Espanha foi criado estrategicamente em frente ao mar e perto do porto. Tendo 60 metros de altura, e que no topo, esta a estátua do descobridor Cristóvão Colombo e que fizeram uma recriação de um gesto bem típico do mesmo, no que seria erguendo um dos braços e apontando em direção da América. O monumento foi projetado por Gaietà Buigas em 1886, e com a intenção de modernizar a orla marítima de Barcelona. Trate-se de uma coluna de ferro e que no seu interior da torre tem um elevador que leva os visitantes a terem uma sensação de ver a cidade em uma altura de 60 metros, permitindo ter uma vista panorâmica da região.
Ao analisar este monumento erguido em Barcelona, percebe-se que á uma exaltação a este homem e mostrando que Colombo é superior perante a sociedade e usando também o monumento como um ponto turístico e que pode ser visto de todos os lugares da cidade de Barcelona utilizam o monumento de Colombo com o intuito que todos vejam o imenso monumento e que façam uma constante lembrança da memória do herói que conquistou e “descobriu” a América. De acordo Pollak a história que é descrita de Colombo, a partir dos monumentos. “além dos acontecimentos e das personagens, podemos finalmente arrolar os lugares. Existem lugares da memória, lugares particularmente ligados a uma lembrança”. (1992 p 02-03). O que Pierre Nora chama de lugares de memória.
Diferente é a representação de Colombo construída por Bastos:
Sou esse peregrino bifronte. Não tenho outros bens além de meus males. Minha única riqueza é esta obsessão de encontrar a qualquer custo, ainda que ao preço de minha própria vida, ouro das índias. Que nosso senhor, em sua misericórdia, ajude-me a encontrar esse ouro...sem qual estou perdido de toda honra e de toda grandeza e mais morto que na própria morte... (BASTOS. 2003, p 85).
Temos uma percepção que Cristóvão Colombo estava com medo de chegar as índias e não encontrar o ouro tão desejado. E estar como qualquer outro rezando para que os seus pedidos viessem a acontece.
Cansado de não ter razão, de só colher derrotas e fracassos de comprovar a cada passo a ineficácia de seus métodos, decidiu fazer outra coisa. Decidiu finalmente não fazer nada. Considerou que tinha chegado ao ultimo minuto de seu
derradeiro quarto de hora. E que devia partir deste mundo sem pretender levar a pedra filosofal como cabeça de seu fetetro. (BASTOS. 2003,p 153)
O romance é uma descrição minuciosa da trajetória do navegador Colombo em suas viagens. “a noite escura torna as velas fosforescentes, deposito nelas minha confiança. O mar, o mar sempre recomeçando, disse um grande poeta da antiguidade”. (BASTOS, 1992 p.39). A forma de demostrar que o personagem está sempre refletindo sobre a vida e sobre os acontecimentos que o rodeia que será o medo de não se chegar ao continente que seria as índias e não no atual continente que conhecemos como América latina.
Referencias Bibliográficas
BASTOS, Augusto Roa. Vigília do almirante. Primeiro de maio: Mirabilia. 2003.
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Rio de janeiro, vol.5, n10, 1992.
HUYSSEA, Andreas. Seduzidos pela memória, arquitetura, monumentos, mídia. Rio de janeiro: Aeroplano, 2000.
BURKE, Peter. Variedades de história cultural. 2º ed. Rio de janeiro: civilização brasileira, 2006.
SAHLINS, Marshall. Ilhas de história. Rio de janeiro. 1990.
POMIAN, Krzyysztof. História e ficção. Proj História, São Paulo. 2003.
DOBLIN, Alfred. O romance histórico e nós. Historia questões & debates. Ed. UFPR. Curitiba 2006.
HALBWACHS, Maurice. A Memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, São Paulo: Unicamp, 1990.
BLOCH, Marc. Apologia da história, ou, O oficio de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com o apoio do conselho nacional de desenvolvimento cientifico e tecnológico-CNPq-brasil.