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Percepção háptica em crianças de 4-5 anos de idade: Detecção do comprimento e posição relativa da pega num objecto pequeno axialmente simétrico

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Escola Superior de Desporto de Rio Maior 1

Percepção háptica em crianças de 4-5 anos de

idade: Detecção do comprimento e posição

relativa da pega num objecto pequeno

axialmente simétrico

Sílvia Costa

1

, David Catela

1

, João Barreiros

2

1 Escola Superior de Desporto de Rio Maior

2 Faculdade de Motricidade Humana

Resumo

Tocar dinâmico é um subsistema da percepção háptica que se sustenta na estimulação muscular e tendinosa. A movimentação do objecto propicia a percepção da constância de informação associada à resistência à aceleração rotacional (tensor de inércia), permitindo perceber o comprimento do objecto ou a posição relativa da mão no objecto. Neste estudo questionou-se se, através de informação háptica, crianças de 4-5 anos conseguiam determinar em dois cilindros com dimensão e textura iguais, mas com pesos diferentes: i) o seu comprimento; e, ii) a posição relativa da pega. Os resultados indicaram que a estimativa média do comprimento do cilindro foi influenciada pelo peso, sendo o cilindro mais pesado foi percepcionado como mais comprido. A posição relativa da pega é correctamente ordenada e mais consistente para o cilindro pesado. Os resultados sustentam a hipótese do tensor de inércia, como mecanismo perceptivo para a captação de informação sobre propriedades físicas de objectos sustentados e movimentados.

Os resultados indicaram ainda que a capacidade de discriminação está em desenvolvimento, apresentando uma diferença positiva dos 4 para os 5 anos de idade.

Palavras-chave

percepção háptica; crianças; comprimento; localização relativa da pega

O tamanho de um objecto sustentado na mão pode ser percebido com uma aproximação razoável, sem ter que se olhar para ele (Turvey, 1996). Este

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tipo de informação é importante em acções e tarefas onde a interacção com o envolvimento se faz através de um instrumento (Carello, Thuot, Anderson & Turvey, 1999). A percepção não-visual das dimensões espaciais de um objecto é alcançada através de um subsistema da percepção háptica conhecido como

tocar dinâmico (Gibson, 1966), que se baseia mais nos estados musculares e

tendinosos, do que na informação disponibilizada pela pele (Pagano, Carello & Turvey, 1996). A variedade de direcções e sentidos do manejo de um objecto permite ter a percepção da constância de certa informação háptica, designada

tensor de inércia, o qual pode ser representado matematicamente por uma

matriz simétrica de 3x3, cujos termos diagonais são os momentos de inércia ou

valores eigen (I1, I2, I3), que quantificam a inércia rotacional do objecto com

respeito aos 3 eixos ortogonais de rotação, e os não-diagonais, produtos de

inércia, que quantificam a inércia rotacional do objecto em direcções

perpendiculares às rotações axiais (Turvey et al., 1998). Os momentos de inércia caracterizam o comportamento dinâmico do actor, possibilitando a determinação de uma causa a partir das propriedades e leis que governam um sistema, e da evolução do comportamento desse sistema (Solomon, Turvey & Burton, 1989).

Investigação produzida sobre este assunto mostrou que existe grande variação inter-individual quanto às estimativas do comprimento de objectos (e.g., Solomon, Turvey & Burton, 1989, Exp. 1), e uma assimetria das estimativas associada às pegas nas extremidades do objecto, provavelmente devido a uma influência da gravidade (Solomon & Turvey, 1988, Exp. 7).

Esta assimetria é mais evidente quando o objecto é sustentado e movimentado no plano vertical do que quando tal ocorre no plano horizontal (Solomon, Turvey & Burton, 1989, Exp. 2).

Quando seguramos um objecto longilíneo, de densidade uniforme e simétrico, e o balanceamos a partir do pulso (Turvey et al., 1998, Exp. 1) ou dos dedos (Turvey et al., 1998, Exp. 3; Santana & Carello, 1999), podemos percepcionar dois segmentos a partir da mão, principalmente, em função do valor eigen I1, representativo do balancear das extremidades do objecto1

(Burton & Turvey, 1990).

Neste estudo questionámos a capacidade de crianças de 4 e 5 anos para recorrer a informação háptica de modo a determinar o comprimento e a posição relativa da pega, em dois cilindros com igual dimensão e textura mas com pesos diferentes.

1

Combinado com uma certa quantificação das rotações articulares, designada de spinor (Turvey et al., 1996). Para este estudo, a percepção a partir de elevar e baixar o objecto, é função de I2; e, aquela a partir rodar o objecto em torno do seu eixo longitudinal, é

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Escola Superior de Desporto de Rio Maior 3

Metodologia Amostra

Participaram 35 crianças, 14 do género feminino, 14 de 4 anos (5 do género feminino) e 21 de 5 anos (9 do género feminino), média (M=4,60 anos; ±0,50), dos quais um 1 sinistrómano. Foi obtido consentimento informado dos encarregados de educação. Foram excluídas do estudo 12 crianças, por razões diversas, entre as quais: a não compreensão da tarefa, a incapacidade de a executar nos termos definidos, ou a dificuldade de concentração, expressa por alteração de comportamento

Materiais, Tarefas e Instruções

As duas tarefas foram realizadas com dois cilindros de 180mm de comprimento e 35mm de raio, um de balsa com o peso de 4g e um de aço com o peso de 66g, de superfície lisa. Os cilindros foram pintados de tinta preta, brilhante, não tóxica e permitindo boa adesão cutânea. A pintura anulou as diferenças de textura que seriam percebidas entre a madeira e o aço.

As tarefas foram realizadas com a criança sentada numa cadeira e frente a uma mesa, ambas com medidas habituais na pré-escola (Figura 1). A criança introduziu a mão direita numa caixa, localizada na sua diagonal e repousando o antebraço num suporte, para agarrar o cilindro com pega em pinça (polegar-indicador) (Figura 1). Na sua diagonal direita, o experimentador segurava na vertical uma representação fotográfica do cilindro, com uma seta encarnada, horizontal, que podia ser facilmente deslocada ao longo de uma ranhura.

Figura 1. Perspectiva da criança (esquerda) e da Experimentadora (direita) durante as tarefas.

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A apresentação das tarefas foi feita como um jogo, cujos objectivos eram descobrir o tamanho do objecto balanceado (tarefa 1), e descobrir onde estavam a agarrar o objecto balanceado (tarefa 2). Para a tarefa 1, a representação do objecto tinha 26.6cm de comprimento, mas com diâmetro igual ao objecto real; para a tarefa 2, a representação do objecto foi real (Figuras 2 e 3).

Figura 2. Cilindro. Figura 3. Imagens dos cilindros (tamanho real e aumentado).

Para ambas as tarefas, as crianças foram instruídas a balancear o objecto no plano frontal (eixo de momento máximo - eigenvalue I1)2. Na primeira tarefa

as crianças experimentaram a forma de pegar e balancear o objecto, com um paralelepípedo de pequenas dimensões; na tarefa 2, o experimentador mostrava um dos cilindros utilizados, a par com a ilustração em tamanho real, para que a criança compreendesse e exemplificasse a tarefa, sem nunca segurar o cilindro.

A primeira tarefa apresentada foi sempre a tarefa 1. Cada criança realizou 3 ensaios por cilindro. A ordem dos cilindros foi alternada entre as crianças. No final, foi perguntado à criança se considerava que os cilindros tinham o mesmo peso e, no caso de a resposta ser negativa, qual era o mais pesado. A segunda tarefa foi a de estimar a localização relativa da pega no objecto: (i) cima - a 20mm da extremidade superior; (ii) meio – a 90mm da extremidade superior; e, (iii) baixo – a 160mm da extremidade superior. Cada criança realizou 1 ensaio por localização. A ordem dos cilindros e das localizações foi alternada entre as crianças. No total, cada criança realizou 12

2

Pontualmente, observaram-se movimentos a partir do pulso (I2) e de rotação

longitudinal do cilindro (I3), tendo sido reforçado à criança o modo de movimentação

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Escola Superior de Desporto de Rio Maior 5 ensaios. Em ambas as tarefas, não houve limitação de tempo para a exploração do objecto e para as respostas, nem informação de retorno sobre a prestação. Quando a criança deixou cair o objecto o ensaio foi repetido. Para cada criança, antes das tarefas, foi recolhida informação respeitante ao comprimento do polegar, distância entre a extremidade distal e a articulação metacárpico-falângica (prega palmar), e foi determinada a lateralidade através do desenho

Bonhomme.

Tratamento dos Dados

Os valores eigen foram determinados usando o comprimento do polegar individual, o qual foi escolhido como centro de rotação por ser ele que determina a distância do ponto de rotação ao centro de massa do cilindro (cf., Santana & Carello, 1999).

Os dados foram tratados no programa SPSS, versão 15.0, para um grau de significância bicaudal de 0,05. Foram empregues, para determinação da normalidade de distribuição dos dados, o teste Shapiro-Wilk; para determinação da influência da ordem de apresentação dos cilindros o Coeficiente de Contingência (tarefa 1) e U de Mann-Whitney (tarefa 2); para determinação da influência da ordem de apresentação das pegas (tarefa 2) o teste Kruskal-Wallis, seguido do teste U de Mann-Whitney; para determinação da evolução das estimativas (tarefa 1) o teste de Friedman, seguido do teste de Wilcoxon; para comparação entre idades o teste U de Mann-Whitney.

Resultados e Discussão Tarefa 1 – Determinação do comprimento dos cilindros

Não foram detectadas diferenças significativas entre idades, excepto no segundo ensaio de estimativa do comprimento do cilindro leve (U= 82,0, p<0,05) e consequentemente na estimativa média do comprimento do cilindro leve (U= 78,5, p<0,05). Com o cilindro leve, as crianças de 5 anos fazem uma estimativa mais conservadora do comprimento efectivo, isto é, consideram-no mais pequeno, revelando-se mais permeáveis à ilusão tamanho-peso que as de 4 anos (cf., Kloos & Amazeen, 2002; Fitzpatrick, 1998). Para este efeito, considerámos aceitável agregar as duas idades numa única amostra.

A maioria das crianças identificou correctamente qual o cilindro mais pesado (85,71%) e a ordem de apresentação dos cilindros não afectou esta determinação (C=0,047, p>0,05). A incorrecta identificação do cilindro mais pesado está associada à idade, sendo significativamente mais frequente nas crianças de 4 anos (4/5) (C=0,316, p<0,05), resultado congruente com o de Kloos e Amazeen (2002), que verificaram menor sensibilidade às variações de

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massa nas crianças de 3 anos que nas de 4 e 5 anos. O menor peso do objecto talvez dificulte a determinação desta propriedade física, o que sustenta a hipótese do tensor de inércia, pois este baseia-se na resistência produzida pela sua massa à sua deslocação, providenciando informação aos sensores dos músculos, tendões e ligamentos directamente envolvidos na acção.

O coeficiente de variação estimado para o cilindro leve é ligeiramente superior (0,33) que para o pesado (0,29). Kloos e Amazeen (2002) também encontraram uma redução significativa do coeficiente de variação com o aumento da massa percepcionada3. Este resultado sugere que o objecto mais pesado proporcionou uma percepção mais consistente neste grupo etário.

Em ambos os cilindros, ao longo dos 3 ensaios, o comprimento estimado tende a aumentar, aproximando-se do comprimento efectivo (Figura 4).

leve estimativa média comprimento leve estimativa comprimento 3 leve estimativa comprimento 2 leve estimativa comprimento 1 30 25 20 15 10 5 0

pesado estimativa média comprimento pesado estimativa comprimento 3 pesado estimativa comprimento 2 pesado estimativa comprimento 1 30 25 20 15 10 5 0

Figura 4. Evolução das estimativas médias nos 3 ensaios (N= 35) e média das estimativas, para o cilindro mais leve (esquerda) e para o mais pesado (direita).

No cilindro leve o aumento do valor estimado é significativo do primeiro para o segundo (Z= 2,984, p<0,01) e para o terceiro ensaio (Z= 3,925, p<0,001). No cilindro pesado o aumento da estimativa é significativo do primeiro para o terceiro (Z= 2,359, p<0,05) e do segundo para o terceiro ensaio (Z= 2,073, p<0,05). As crianças vão progredindo na sua estimativa com a oportunidade de explorarem as propriedades físicas do objecto que movimentam, o que pode significar que a captação de informação sensorial é permanente e não rígida. No

3

O estudo actual é sobre estimativa do comprimento do cilindro, o de Kloos e Amazeen (2002) é sobre estimativa de peso. O aspecto que os une é o facto de as crianças, identificando qual o cilindro mais pesado, revelarem neste uma maior consistência entre si que com o objecto leve. Também aqui é de admitir alguma influência da idade, não no cilindro leve, onde os coeficientes de variação são idênticos (4 anos- 0,31, 5 anos- 0,33), mas no pesado (4 anos- 0,33, 5 anos- 0,28). A interpretação será que a ausência de peso no objecto torna o comportamento das crianças de 4 e de 5 anos menos consistente; quando o objecto tem peso suficiente para proporcionar informação, baseada no momento de inércia, as crianças mais velhas tiram mais partido dessa affordance, deixando de ser conservadores na estimativa do comprimento do cilindro e aproximando-se mais do aproximando-seu comprimento efectivo.

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Escola Superior de Desporto de Rio Maior 7 cilindro leve as estimativas de comprimento (13,50±4,47cm) são inferiores às encontradas com o cilindro pesado (15,93±4,76cm) (Z= 3,079, p<0,05). Ambas as estimativas são significativamente inferiores ao comprimento efectivo dos cilindros (18cm) (leve- t(34)- 5,955, p<0,0001; pesado- t(34)- 2,579, p<0,05)4.

Tarefa 2 – Determinação da localização da pega nos cilindros

No cilindro leve, a apresentação primeira do cilindro pesado ou leve não influenciou qualquer das estimativas de pega. No cilindro pesado, a ordem de apresentação dos cilindros influenciou a estimativa da pega em cima (U= 73,5 , p<0,01) e da pega em baixo (U= 85,0 , p<0,05). Para o cilindro pesado, quando precedido da apresentação do cilindro leve, as estimativas das pegas em cima e

em baixo são superiores (11,71±4,56cm, 14,13±4,01cm, respectivamente) às

verificadas quando o primeiro apresentado foi o cilindro pesado (7,53±4,82cm, 10,93±4,50cm, respectivamente). Na condição em que acederam primeiro ao cilindro leve, as crianças devem ter usado este cilindro como referência e percepcionaram o mais pesado como mais comprido, à semelhança do que acontece nos estudos com adultos, em que são acrescentados pesos entre a pega e uma das extremidades das varas.

O acréscimo de pesos induz uma percepção de maior comprimento, com correlação com o peso adicionado (e.g., Turvey et al., 1998). Observe-se que o aumento médio entre as duas condições é equivalente nas duas pegas (≈ 4cm), o que pode significar que este aumento não é aleatório mas associado ao momento de inércia.

A ordem de apresentação das pegas não influenciou as estimativas de localização das pegas, em ambos os cilindros, excepto no cilindro leve para a pega no meio (א2(5)= 14,02, p<0,05). A informação mais coerente é que quando a pega inferior foi apresentada em último lugar a estimativa é inferior, por vezes, significativamente inferior, principalmente na ordem de apresentação das pegas cima, baixo, meio (6,30cm) (mas também na ordem baixo, cima,

meio - 7,03cm). A ordem baixo, meio, cima, é a que apresenta a estimativa

mais elevada para a pega ao meio (13,15cm), a qual podemos supor dever-se ao efeito duplicador da influência da gravidade da pega anterior (baixo), em que

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One sample t test. Os dados relativos ao cilindro leve não têm distribuição normal, e admite-se existência de erro de tipo I. As crianças agarraram os cilindros 2cm abaixo da extremidade superior. No entanto, a hipótese do tensor de inércia prevê que o sujeito consiga captar prolongamentos para os dois lados da pega (Turvey, Park, Dumais & Carello, 1998). Os resultados para uma estimativa de 16cm seriam significativamente diferente para o cilindro leve (t(34)- 3,306, p<0,01) e não significativa para o pesado (t(34)- 0,091, p>0,05), o que significa que com o cilindro pesado as crianças conseguiram determinar com rigor o comprimento do segmento maior. Não deve esquecer-se que se trata de valores médios.

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estamos perante um pêndulo invertido (Solomon, Turvey & Burton, 1989), combinado com o efeito da percepção de um momento de inércia ligeiramente inferior quando o eixo de rotação (a pega) coincide com o centro de massa do cilindro (ao meio) (Santana & Carello, 1999, Exp. 4).

Entre os 4 e 5 anos, tanto para o cilindro leve com para o pesado, não há diferenças significativas na estimativa da localização da pega em cima (U= 121,0, p>0,05; U= 118,0, p>0,05), ao meio (U= 140,0, p>0,05; U= 100,0, p>0,05) e em baixo (U= 132,0, p>0,05, U= 130,0, p>0,05). Mas, a estatística descritiva e gráfica revelam diferenças no comportamento médio destes sub-grupos (Tabela 1).

Tabela 1. Média e desvio-padrão das estimativas (cm, mediana em baixo) por cilindro e por localização da pega, em cada idade.

Cilindro Pega Leve Cima Leve Meio Leve Baixo Pesado Cima Pesado Meio Pesado Baixo 4 anos 9,29±4,80 10,00 9,35±4,26 9,05 9,91±4,70 7,40 10,55±5,46 10,70 12,10±4,42 11,70 11,74±5,12 11,45 5 anos 8,41±4,98 7,30 9,99±4,18 8,30 10,06±3,61 9,80 8,90±4,85 7,90 9,62±4,21 9,50 12,98±4,11 14,00 Os valores médios das crianças de 4 anos com o cilindro leve não evidenciam distinção nas estimativas com diferentes posições de pega. Os valores encontrados são semelhantes à localização do centro de massa do cilindro (9cm), e no cilindro pesado apontam mesmo para uma inversão dos valores nas pegas ao meio e em baixo. Nas crianças de 5 anos pode observar-se, em ambos os cilindros, uma estimativa que varia consistentemente com a posição da pega (cf. Tabela 1). As crianças de 5 anos também revelam gráficos Q-Q com distribuições de valores não-aleatórios e não-lineares, para a pega em

cima em forma de J (assimétrica = 0,786, Shapiro-Wilk(21)= 0,892, p<0,05) e

para a pega em baixo em forma de U invertido (uniforme/platicúrtica = -0,752, Shapiro-Wilk(21)= 0,909, p>0,05), com o cilindro pesado, mas não para a pega

no meio, onde a distribuição é normal (Shapiro-Wilk(21)= 0,956, p>0,05) (Figura

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Escola Superior de Desporto de Rio Maior 9 Observed Value 20 15 10 5 0 D e v f ro m N o rm a l 0,75 0,50 0,25 0,00 -0,25

Detrended Normal Q-Q Plot of pesado estimativa posição cima for idade= 5 Observed Value 20 15 10 5 0 D e v f ro m N o rm a l 0,6 0,4 0,2 0,0 -0,2 -0,4

Detrended Normal Q-Q Plot of pesado estimativa posição meio for idade= 5 Observed Value 17,5 15,0 12,5 10,0 7,5 5,0 D e v f ro m N o rm a l 0,4 0,2 0,0 -0,2 -0,4 -0,6

Detrended Normal Q-Q Plot of pesado estimativa posição baixo for idade= 5

Figura 5. Gráficos Q-Q com dados das crianças de 5 anos (N= 21), para o cilindro pesado, na pega em cima, em forma de J (esquerda), na pega no meio, com distribuição aleatória

(centro), e na pega em baixo, em forma de U invertido (direita).

Quando a pega coincide com o centro de massa do objecto, o objecto oferece menor resistência à sua movimentação, por esse motivo os momentos e os produtos de inércia são menos expressivos. A percepção de um equilíbrio na distribuição do peso entre os dois sentidos dos prolongamentos do objecto, a partir da localização da pega, proporcionou às crianças de 5 anos a estimativa mais próxima da localização efectiva correcta (Tabela 1). Quando a pega está acima do centro de massa do objecto (pega em cima), o objecto oferece resistência ao movimento pendular que lhe é imposto. Talvez seja essa percepção de peso que leve as crianças a estimar a localização da pega mais em baixo que a sua localização efectiva (assimetria à direita). A resistência do objecto à movimentação é ainda maior quando a pega é abaixo do centro de massa do objecto (pega em baixo), por efeito da duplicação da gravidade (Solomon, Turvey & Burton, 1989). Decorrente deste efeito, o maior peso percepcionado pode ter ajudado as crianças de 5 anos a supor que um maior segmento do objecto estaria acima da localização da pega efectiva (platicurtica, reforçada com uma mediana à esquerda da média e uma distribuição estatisticamente normal). Os padrões diferenciados dos gráficos Q-Q, em cada posição de pega, devem ser um reflexo da interacção entre tensor de inércia e momentos de inércia.

As crianças de 5 anos estimam mais correctamente a localização da pega do meio. Foi verificada uma redução progressiva do desvio-padrão da pega em

cima para a pega em baixo, independentemente do peso do cilindro. Este efeito

não foi verificado no grupo de 4 anos de idade. Esta diferença de comportamento das crianças de 5 anos corresponde à diferenciação estatística da estimativa média da localização das pegas em cima e em baixo (Z= 2,990, p<0,01) e das pegas ao meio e em baixo (Z= 3,112, p<0,01), no cilindro pesado (mas não no cilindro leve). O conjunto destes resultados é congruente com o impacto do peso na percepção da posição relativa da pega, que supomos dever-se ao efeito duplicador da influência da gravidade da pega em baixo, em que estamos perante um pêndulo invertido (Solomon, Turvey & Burton, 1989). Este efeito é mais evidente nas crianças de 5 anos, provavelmente devido à

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influência de constrangimentos intrínsecos associados à maturação e à aprendizagem, e é congruente com o de Kloos e Amazeen (2002), que verificaram menor sensibilidade às variações de massa nas crianças de 3 anos que nas de 4 e 5 anos.

Para o conjunto da amostra (N= 35), em ambos os cilindros, há uma ordenação de valores de acordo com as pegas. Os valores do cilindro pesado encontrados para o cilindro pesado são sempre superiores aos encontrados para o cilindro leve. Tal como na tarefa 1, o coeficiente de variação é sempre ligeiramente inferior no cilindro pesado, principalmente para a pega em baixo (Tabela 2).

Tabela 2. Coeficientes de variação e respectiva diferença, por cilindro e por localização de pega, para o conjunto da amostra (N= 35).

Pesado Leve Diferença Cima 0,53 0,55 0,02 Meio 0,41 0,42 0,01 Baixo 0,36 0,40 0,04

De realçar, na pega ao meio, em ambos os cilindros, a grande proximidade dos valores da média e da mediana (Tabela 1) à localização efectiva (9cm) e o menor coeficiente de variação, provavelmente, porque a pega coincide com o centro de massa dos cilindros. A percepção deverá ser não tanto a distância métrica dos dedos às extremidades do objecto mas a do equilíbrio, da equidistância percebida a partir de uma menor influência da força da gravidade.

Na pega em baixo a situação inverte-se, e supomos que, mais uma vez, por efeito da duplicação da gravidade (Solomon, Turvey & Burton, 1989), este efeito manifestou-se mais nitidamente no cilindro pesado, o que pode ajudar a explicar a maior precisão e menor variabilidade observadas. No cilindro leve as crianças não diferenciaram significativamente a estimativa média de diferentes pegas. No cilindro pesado distinguiram as pegas em baixo e ao meio (Z= 2,310, p<0,05) e em baixo e ao cima (Z= 2,826, p<0,01), mas não distinguiram a pega

em cima da pega ao meio (Z= 1,546, p>0,05). O peso complementar do cilindro

mais pesado e o seu efeito no momento de inércia e consequentemente no tensor de inércia pode ter propiciado esta maior capacidade de discriminação. A ausência de diferença significativa entre as estimativas das pegas em cima e

ao meio, em contraste com a presença de diferença significativa entre as

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Escola Superior de Desporto de Rio Maior 11 perceptiva5, esta deve ser atribuída às diferentes posições do centro de massa do cilindro em relação ao eixo de rotação (localização da pega), e consequente diferença na influência da força da gravidade. Com a pega em cima, o centro de massa do cilindro está abaixo da pega (pêndulo gravitacional), com a pega

em baixo, o centro de massa do cilindro está acima da pega (pêndulo invertido)

(Solomon & Turvey, 1988, Exp. 7; cf., Solomon, Turvey & Burton, 1989, Exp. 1). A contribuição da gravidade conforme a localização da pega, influenciou a percepção da localização dessa pega. É nossa hipótese que aquando da pega em

cima, as crianças como que foram atraídas pela acção da gravidade (no centro

de massa) abaixo da pega, puxando os valores para mais próximo da localização do centro de massa do cilindro. Na pega em baixo, com o centro de massa acima da pega, colocamos a hipótese do efeito de duplicação da gravidade (neste pêndulo invertido), ter produzido uma ilusão peso-tamanho que conduziu a uma estimativa mais afastada do centro de massa.

O estudo de Santana e Carello (1999) tem algumas semelhanças com o presente estudo. Nesse estudo foi testada a hipótese do tensor de inércia com cilindros pequenos e leves, e foram realizadas pegas a ¼, ½ e ¾ do comprimento total do cilindro. A pega adoptada foi do tipo pinça, com movimentos limitados aos dedos, e o cilindro também foi apresentado na vertical. A amostra foi composta por adultos.

No presente estudo determinámos o I1 (Santana & Carello, 1999), e

obtivemos o gráfico de dispersão do logaritmo de base 10 das estimativas médias da localização das pegas em relação ao mesmo logaritmo de I1. A

representação obtida é idêntica à apresentada por aquelas autoras (Tabela 3; Santana & Carello, 1999, Exp. 1, Fig. 2a) (Figura 6).

5

Solomon & Turvey (1988, Exp. 7) colocaram adultos movimentando verticalmente três cilindros de alumínio com comprimentos distintos. Com a pega a ¼ e a ¾ do comprimento dos cilindros os sujeitos indicaram que poderiam alcançar uma maior distância que com a pega a ½ comprimento. No entanto, a distância relativa para a pega a ¾ foi inferior à distância relativa para a pega a ¼; esta assimetria (que nós designámos de assimetria perceptiva) foi atribuída às diferentes posições da pega relativamente ao centro de massa dos cilindros. Solomon, Turvey e Burton (1989, Exp. 1 e 2), testaram e confirmaram esta hipótese, confrontando as estimativas com os cilindros sustentados verticalmente e horizontalmente. Com base na multiplicação uniforme dos resultados, sugeriram uma contribuição escalar da gravidade. De notar que nestes estudos os sujeitos tinham que estimar que distância alcançariam com o segmento do cilindro à frente da pega, e no presente estudo as crianças tinham que estimar a localização da pega.

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0,9 0,95 1 1,05 1,1 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 Log10 I1 L o g E s ti m a ti v a s

leve cima leve meio leve baixo pesado cima pesado meio pesado baixo

Figura 6. Gráfico de dispersão do logaritmo de base 10 das estimativas médias da localização das pegas em relação ao mesmo logaritmo de I1, por cilindro, para o conjunto

da amostra (N= 35).

Adicionalmente, calculámos a proporção entre localização percepcionada da pega e a localização efectiva na experiência 3 (cilindros de madeira e de aço, 20cm) do seu estudo e no nosso estudo (Tabela 3).

Tabela 3. Proporção entre localização percepcionada da pega e a localização efectiva, no estudo de Santana e Carello (1999, Experiência 3) e no presente estudo (Tarefa 2). Santana e Carello

(1999),

Exp. 3 (Tabela 3)

¼ (5cm) Desvio ½ (10cm) Desvio ¾ (15cm) Desvio

Madeira 2,36 1,36 1,07 0,07 0,96 -0,04 Aço 1,68 0,68 1,49 0,49 1,63 0,63 Costa, Catela e Barreiros (2008), Exp. 2 Cima (2cm) Desvio Meio (9cm) Desvio Baixo (16cm) Desvio Balsa 4,38 3,38 1,08 0,08 0,63 -0,37 Aço 4,78 3,78 1,06 0,06 0,78 -0,22

O padrão é idêntico, com valores relativos superiores na pega em cima (pêndulo gravítico). Os valores na pega em baixo do cilindro mais leve são inferiores aos do cilindro mais pesado, devido ao menor momento de inércia. No geral, os valores da pega ao meio são os que apresentam desvios menores em relação à localização efectiva.

Apesar de algumas diferenças metodológicas, das diferenças de idades das amostras dos dois estudos, e da diferença quanto ao objectivo da tarefa, os resultados apresentam uma tendência semelhante. Em síntese, podemos

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Escola Superior de Desporto de Rio Maior 13 afirmar que as crianças de 4-5 anos são capazes de capturar informação háptica de modo semelhante aos adultos, revelando menor capacidade discriminativa, e sendo mais influenciáveis pelo efeito da gravidade.

Referências

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Referências

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