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O processo pacificador de contadora na America Central: uma tentativa de solução latino-americana para os conflitos latino-americanos

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Academic year: 2021

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FLITOS LATINO-AMERICANOS

Alejandra Leonor Pascual

Dissertação apresentada ao Curso de P5s-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina co­ mo requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências Humanas - Especialidade Direito.

Orientador: Prof. Dr. Christian Guy Caubet

FLORIANÓPOLIS 1990

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

A dlsser-taçáo 0 PROCESSO PACIFICADOR DE CONTADORA NA AMÉRICA CENTRAL; UMA TENTATIVA DE SOLUÇÃO LATINO-AMERI CANA PARA OS CONFLITOS LATl|íÓ-AMERICANOS : Elaborada por ALEJANDRA LEONOR PASCUAL

e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora, foi jul­ gada adequada para a obtenção de título de MESTRE EM DIREITO.

/

Florianópolis (SC), 22 de fevereiro de 1990.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Christian Guy Caubet Prof. Dr. Shiguenoli Miyamoto Prof. Dr. Alcides Abreu

Prof? Msc. Vera Grilo

Professor Orientador:

Prof. Dr. Christian'Guy Caubet Ooordenador/d^ Curso:

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aos que sonham

e acreditam nos seus sonhos.

Ao João,

"por todo y a pesar de todo ..."

 Cláudia Cavagnari e Rovena Negreiros,

que contribuíram para incrementar meu amor pelo Brasil.

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Ao orientador Dr. Christian Guy Caubet;

Aos professores, funcionários e alunos do Curso de Pós- Graduação em Direito, especialmente aos colegas de turma; Ao datilógrafo João Inácio;

à Adriana, pelo abstract; à CAPES;

Aos amigos.

Meu agradecimento especial a Jeanini N. Philippi, pela tradução ;

Aos meus pais, meus dois irmãos e sobrinhos, minha raiz, minha história.

A Claudia Barbosa e Laurenci N\ines, pela solidariedade. A Luis Alberto Warat, pelo apoio de sempre.

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bre su propia vida y su propia muerte. Un grupo reducido de hombres y máquinas puede decidir, desde ciudades lejanas,nues- tro destino. Cada dia que vivimos es un dia de gracia, como si la Humanidad fuera un condenado que se encuentra en la cel- da de la muerte esperando el momento incierto de su ejecución y, como todo sentenciado inocente, se rehusa a creer que la ejecución puede tener lugar."

(Declaraciõn conjunta sobre desarme, suscripta en Nueva Delhi por los Jefes de Estado y de Gobierno de Argentina, Grecia, índia, Mexico, Suecia y Tanzania, 1984.)

"O problema de hoje, no Mundo, não é mais de ateísmo ou teísmo, socialismo ou capitalis­ mo, mas o da luta pela vida e contra os que ameaçam a vida".

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A presente dissertação tem como objeto o processo paci­ ficador do Grupo de Contadora na i^jnérica Central. Trata-se de demonstrar que os conflitos na América Latina devem ser resol­ vidos pelos próprios países da região, sem hegemonias nem in­ terferências forãneas.

A pesquisa desenvolve-se a partir de uma problemática concreta latino-americana: a situação de conflito na América Central, agravado no início da década de oitenta, chegando a uma situação de quase confronto bélico entre alguns países da região.

Procura-se mostrar a participação de diversos atores in­ ternacionais acerca do conflito (principalmente a nível de go­ verno) bem como a postura dos membros face ã crise centro- americana. Dentre estes "atores", destaca-se a ação do chama­ do "Grupo de Contadora" - surgido no início de 1983 - e sua proposta de pacificação. Ressalta-se especialmente a ação de Contadora enquanto experiência - sem precedentes no contexto latino-americano - de busca de solução para os conflitos por meio do entendimento multilateral entre as nações, dentro do respeito aos princípios do direito internacional.

O processo de pesquisa desenvolve-se dentro de uma estru­ tura de três capítulos e uma conclusão. 0 primeiro capítulo procura mostrar o papel adotado pelos Estados Unidos, a Euro­ pa Ocidental e a União Soviética, frente ao conflito centro- americano, num período compreendido, aproximadamente, entre o inicio da década da oitenta e o ano de 1983 - começo da atua­ ção de Contadora. O segundo capítulo apresenta as caracterís­

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da política interna. O terceiro capítulo mostra o surgimento, ação e propostas do Grupo de Contadora, para a pacificação da América Central, os avanços e retrocessos do Grupo na discus­

são do conflito, bem como a participação da comunidade inter­ nacional .

As conclusões ressaltam que a paz, a segurança e a pros­ peridade da América Latina dependem da solução da crise cen­ tro-americana e que a experiência de Contadora teve uma impor­ tância intrínseca, independente da efetiva viabilização de suas propostas. Contadora traduz uma rica experiência para o futuro da comunidade latino-americana, pois significa a possi­ bilidade de criação de mecanismos latino-americanos para a solução dos prõprios conflitos regionais.

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The present dissertation deals with the pacifying process of the Contadora Group in Central America. It aims at showing that the conflicts in Latin America must be solved by the Latin American countries themselves, without any hegemony or foreign

interference.

The research presented here departs from a concrete Latin American problem: the conflict in Central America which became acuter in tiie early 80s, reacning almost a war state between some of the countries of tnat area.

This work intends to show how different international actors behaved in connection with the conflict (mainly at the level of government) as well as which position each of them adopted in relation to tne Central American crisis. Among these "actors", the role of the so-called "Contadora Group" -

initiated at the beginning of 1983 - and its proposal for pacification is prominent. The action of tne Contadora Group as an experience without precedent within the Latin American conflicr is nighlighted, especially its search for a solution to the conflicts through the multilateral understanding between the nations conforming to the principles of International Law.

This dissertation is made up of three chapters and a conclusion. Chapter one shows the position adopted by the

United States, Western Europe and the Soviet Union in connection with the Central American Crisis in the period extending

approximately from the early 80s to 19 83 - When Contadora started working. Chapter two characterizes the Governments in Central

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for the pacification of Central America and also the progress and retrogress of the Group in the discussion of the conflict as well as the participation of the international community.

Conclusions point out that the peace, the security and prosperity of Latin America depend on the solution of the Central-American crisis and that Contadora had an intrinsic significance, regardless of the viability of its proposals. Contadora represents a rich experience for the future of the Latin American community, since it constitutes the possibility to create Latin American mechanisms to solve its own regional conflicts.

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(11)

INTRODUÇÃO ... ....1

1. A América Latina na década de oitenta ... ....1

2. A Crise da América Central ... ....3

3. Objetivo do trabalho e tratamento do tema ... ....6

Notas ... ....9

CAPlTULO I - O POSICIONAMENTO DOS ESTADOS UNIDOS, EUROPA OCIDENTAL E UNiAO SOVIÉTICA FRENTE AO CON­ FLITO NA AMÉRICA CENTRAL ... 10

Introdução ... '... 10

1. As relações dos Estados Unidos com a América Cen­ tral no início da década de oitenta ... 11

1.1. 0 declínio da hegemonia norte-americana na Amé rica Latina ... 11

1.2. A visão de Reagan da situação na América Cen­ tral ... 12

1.3. As relações dos Estados Unidos com América Cen tral na administração Reagan (primeiro período presidencial, 1981-1985) ... 18

2. As relações da Europa Ocidental com a América Cen­ tral no início da década de oitenta ... 26

2.1. A Europa Ocidental face ã crise centro-america na ... 26

2.2. 0 socialismo europeu face ã crise centro-ameri­ cana ... 28

3. As relações da União Soviética com a América Central no início da década de oitenta ... 35

(12)

DÉCADA DE OITENTA ... 42

Introdução ... 42

1. Os países da América Central "protagonistas diretos" da crise regional ... . . ... . 43

1.1. Nicarágua ... 43

1.2. El Salvador ... 53

1.3. Honduras ... 60

2. Os países da América Central "tirotagonistas indiretos" da crise regional ... ... 64

2.1. Costa Rica ... 64

2.2. Guatemala ... 67

2.3. Belize ... 70

2.4. Cuba ... 71

2.5. Os países do "Caribe Oriental" ... 76

Notas ... 79

CAPÍTULO III - GRUPO DE CONTADORA: PROPOSTA E AÇAO NO CON­ FLITO CENTRO-AMERICANO ... 85

Introdução ... 85

1. Antecedentes do Grupo de Contadora ... 86

1.1. México frente ao conflito centro-americano .... 88

1.2. Venezuela frente ao conflito centro-americano .. 92

1.3. Colômbia frente ao conflito centro-americano ... 96

1.4. Panamá frente ao conflito centro-americano .... 98

2. Surgimento, propostas e ação de Contadora ... 102

2.1. 1983: Constituição do Grupo de Contadora e ação 102 2.2. 1984: América Central se debate entre o confli­ to e os intentos oacificadores ... 116

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2.4. 1986: Contadora insiste nas propostas pacifica­

doras apesar das sérias dificuldades da crise. 124 2.5. 1987: Os países centro-americanos assumem res­

ponsabilidades na busca da resolução do confli­

to ... ...130 Conclusões ... .. 133 Notas ... .. 135 CONCLUSÕES ... .. 143 Notas ... .. 149 BIBLIOGRAFIA ... .. 150 ANEXO ... ... 165

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1. A América Latina na década de oitenta

A América Latina é terra de contrastes. Deve sua pobre­ za, em alto grau, ã riqueza de outros. Chegou com desvanta­ gens no final do século XX: Sempre em demanda de recursos fi­ nanceiros para o desenvolvimento, a despeito de uma imensa di£ ponibilidade de recursos naturais.

Os desajustes e as desigualdades no sistema econômico in­ ternacional tem afetado profundamente as economias dos países

latino-americanos e constituem uma fonte de instabilidade e recessão. Durante a ' década -'de oitenta a região enfrentou um duro retrocesso da cooperação econômica in ternacional. 0 problema da divida externa, a massiva trans­ ferência de recursos financeiros ao exterior, a elevação ex­ traordinária das taxas de juros, a deterioração na relação de preços no intercâmbio e a proliferação do protecionismo tem levado a uma redução dos níveis de vida e das possibilidades de um desenvolvimento autônomo de nossos países. A crise eco­

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veis de vida.^

Nos povos da região, os efeitos sociais da crise se ex­ pressam também na contração dos gastos públicos na educação,

saúde, moradia, infra-estrutura e serviços.Tem-se' limitado a capacidade de operação da política econômica e social e, não obstante os esforços realizados para manter aqueles programas ou serviços que beneficiam os grupos menos favorecidos, a po­

breza tem aumentado enquanto ' as oportunidades de trabalho e progressso vem diminuindo. Este grave panorama repercu te também negativamente no âmbito cultural e educativo, cuja importância para a paz, a democracia, a integração e o desen­ volvimento de nossa região não conseguem a transcendência que

2 precisa.

As grandes inversões dos governos latino-americanos em gastos com a defesa, em detrimento dos investimentos nas âreas da educação, saúde e habitação, não tém contribuído para o pro gresso e o avanço da democracia de nossos países, mas sim para o aumento da pobreza, do conflito regional ou da existência de uma constante ameaça de guerra na ârea. A segurança de nossa região deveria atender tanto aos aspectos da paz e da estabi­ lidade, como aos que dizem respeito â vulnerabilidade política, econômica e financeira.

A América-Latina se aventura no desespero das repúblicas divididas e com graves conflitos internos e regionais. Em di­ versos momentos a ameaça de que conflitos de aparência nacio­ nal se desdobrem em um de dimensão regional e de caráter béli­ co tem sido grave; as intervenções militares estrangeiras tém

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de supostos interesses de segurança, fatores estranhos á sua realidade decidem ou propõem, ignorando o direito á própria auto-determinação, ã dignidade ou aos interesses legítimos de seus povos. O preço da presença militar estrangeira e, em ge­ ral, o da militarização, transcendem os efeitos mais imediatos e visíveis. Introduzem-se falsas expectativas de alianças es­ tratégicas que são incompatíveis com os projetos de nossos pa^ ses. Favorece-se, ao mesmo tempo, a sujeição das estruturas c£ vis de poder ã lógica dos interesses castrenses. Por isso mes­ mo, aqueles perdem espaços de manobra,e a democracia, como for ma de convivência social e aspiração política, se enfraque ce.3

A paz na América Latina está profundamente ligada ao res­ peito aos princípios de livre determinação dos povos, não in­ tervenção nos assuntos internos dos Estados, solução pacífi­ ca das controvérsias, proscrição da ameaça ou do uso da força, igualdade jurídica dos Estados ,e cooperação internacional para o desenvolvimento.

2. A Crise da América Central

Como parte da América Latina, a América Central padece destes mesmos problemas. A crise desta região se manifesta,ne£ ta década, na instabilidade política e social; crise econômica que se expressa em atraso, em intolerância ideológica e re­ pressões, em armamentismo e presença militar estrangeira, em

~ 4 dependencias eate em escravidao.

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justiça, dominação e conflitos dentro de seus países junto â existência de um domínio hegemônico da área pelos Estados Uni­ dos, frustram os propósitos de desenvolvimento econômico de seus países e atentam contra os propósitos de estabilidade de suas instituições políticas.

Existem dois âmbitos de enfrentamento básicos da situa­ ção: o que se dá propriamente entre as nações da região como expressão de antigas e não resolvidas divergências e - o mais importante - o que se origina em movimentos sociais profundos que buscam precessos de mudança e renovação social, com idéias políticas de caráter reivindicatõrio e que procuram sua ade­ quação ãs condições próprias de cada país, mas que não encon­ tram saída frente a esquemas de poder rígidos, contrários a mudanças, de caráter repressivo, de manutenção do "statu quo" existente. Este esquema de poder está ligado a interesses he­ gemônicos de terceiros Estados, especialmente dos Estados Uni­ dos. A divergência interna dos setores dominantes e a incapa­ cidade da política institucional de seus governos para assimi­ lar ainda mais com moderação as pressões populares resultantes da crise, criaram maior violência política na região centro­ americana. Assim, uma política de terror exercida desde há mais de duas décadas dizima os povos centro-americanos pela via do assassinato aberto, os "desaparecimentos", a prisão, a per­

seguição, a tortura e o forçado e desagregador exílio.

A ameaça do conflito bélico:

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as-lítica hegemônica na região e como um modo de penetração so­ viética e cubana na América Central. Teve início, a partir de então, uma série de medidas norte-americanas na área, ten­ dentes e desestabilizar e derrubar o regime implantado na Ni­ carágua. A situação de agressão e o conflito criado atingiu tal ponto que desde o início da década de oitenta a América Central foi-se aproximando perigosamente de uma situação de desencadeamento de um conflito bélico regional.

0 desdobramento do conflito centro-americano, se aconte­ cer, alteraria irreversivelmente a vida das pessoas e socieda­ des. Haveria perda de vidas humanas, destruição da precária in fra-estrutura econômica, desestabilização política e enfraque­ cimento das instituições, fluxos enormes de refugiados que tor naria ainda mais difícil a situação econômica e social dos pa^ ses da área. Muitos anos passariam, talvez décadas, para res­ taurar e repor os danos causados pela destruição.

Surgimento de Contadora;

Diante do eminente perigo de um conflito bélico, quatro paises latino-americanos se reuniram em janeiro de 1983 na

ilha panamenha de Contadora, procurando iniciar uma ação me­ diadora do conflito. Surgiu a partir de então, o chamado Grupo de Contadora, com o propósito de cumprir uma função diplomáti­ ca, orientada em buscar pela via política a solução do confli­ to, contando para isso com a colaboração das partes envolvi­ das. Seu trabalho se centraria no ordenamento político para propiciar o diálogo, o entendimento e a instrumentação de

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vos. Ao Grupo de Contadora, integrado por Colômbia, México, Panamá e Venezuela, se uniu em seus esforços pacificadores ou­ tro grupo de países latino-americanos: Argentina, Brasil, Peru e Uruguai, chamado a partir de então, Grupo de Apoio a Conta­ dora. Desde a sua criação, a atuação de Contadora foi receben­ do o apoio e reconhecimento da comunidade internacional em sua imensa maioria, destacando-se especialmente o apoio da Orga­ nização das Nações Unidas, da OEA, da Comunidade Européia,e dos países socialistas, entre tantos outros.

3. Objetivo do trabalho e tratamento do tema

0 objetivo de nosso trabalho é mostrar como é possível que em uma Acierica líatina. caracterizada por anos de dominação externa e com sérias dificuldades de integração regional, um grupo de países se reuna e decida encontrar através de méto­ dos próprios, solução a um grave conflito regional. A tempo de procurar caminhos de integração, em um nível de igualdade, sem hegemonias nem interferências estrangeiras,e defendendo os princípios da livre determinação de seus povos, a não inter­ venção nos assuntos internos dos Estados, a solução pacífica das controvérsias, a proscripção das ameaças do uso da força, a igualdade jurídica dos Estados e a cooperação internacional para o desenvolvimento.^

O trabalho está dividido em três capítulos: o primeiro pro cura mostrar o papel adotado pelos Estados Unidos, a Europa Ocidental e a União Soviética, frente ao conflito centro-ameri

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tadora, em 1983. Ê importante ter-se em conta o papel adotado por estes três atores externos ã área, tanto por sua visão do conflito como por seus interesses na região, dada a sua parti­ cipação - em diferentes niveis - no conflito centro-america- no.

0 segundo capitulo procura apresentar as características dos governos centro-americanos "protagonistas" do conflito, na adoção de suas politicas externas, e o maior ou menor grau de autonomia na tomada de decisões, tanto com relação ao confli­ to regional cono a condução do conflito interno. Partimos para esta análise, da existência de uma crise nos paises da área, sem considerar as causas profundas que originaram e mantém es­ ta situação, o que daria lugar a outros muitos e interessantes trabalhos de pesquisa, unidos aos já realizados. 0 periodo de análise é o mesmo do capitulo primeiro, ou seja, do início da década de oitenta ao surgimento da ação de Contadora, aproxi­ madamente .

Em síntese, estes dois capítulos pretendem mostrar a po­ sição adotada frente ao conflito centro-americano por dois grupos de países: o dos países externos ã área mas de notória influência na região, e o dos países pertencentes ã área, pro­ tagonistas do conflito, desde inicios da década de oitenta com o agravamento das tensões - até o começo da ação de Con­ tadora .

No terceiro capitulo pretendemos mostrar o surgimento, a- ção e propostas de Contadora para a pacificação da América Cen tral, seus avanços e retrocessos e a participação da

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comunida-Finalmente, nas conclusões, ressaltamos que a paz, a se­ gurança e a prosperidade de toda a região latino-americana de­ pende da solução da crise da América Central. Coincidimos, nes te sentido com as declarações dos Chanceleres do Grupo de Con­ tadora e de Apoio de que'"América Latina deve resolver seus problemas sem ingerências estranhas, e pode fazê-lo".^

Contadora o demonstrou...

Nos termos da decisão do colegiado do CPGD, "a aprovação do presente trabalho acadêmico não significará o endosso do Professor Orientador, da Banca Examinadora e do CPGD/UFSC ã ideologia que o fundamenta ou que nele é exposta".

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(1) "Compromisso de Acapulco para la paz, el desarrollo y la democracia". Acapulco, México, 29 de novembro de 1987. p.8. Itens 11 e 12.

(2) Op.cit. Itens 14 e 19.

(3) Neste sentido, ver discurso do Subsecretário de Cooperação Internacional do México, Manuel Rodrigues Arriaga na

vi

Reunião Extraordinária do Conselho Latino-Americano do SELA. Caracas, 28 de março de 1988. Revista Mexicana de Política Exterior, México, ^(19):88-90, abr./jun. 1988. p. 89.

(4) Op.cit., p.89.

(5) "Compromisso de Acapulco..." Idem. Ibidem. Item 22.

(6) "Declaraciõn de Punta del Este". Puhta del Este, Uruguay, 19 de março de 1986. Revista Mexicana de Politica Exte­ rior , México, 11:54-77, abr./jun. 1986. p.70.

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0 POSICIONAMENTO DOS ESTADOS UNIDOS, EUROPA OCIDENTAL E UNIAO SOVIÉTICA FRENTE AO CONFLITO NA AMÉRICA-CENTRAL.

Introdução

O presente capítulo aborda a questão do posicionamento adotado frente ao conflito centro-americano por três atores externos à área que, entretanto, têm interferido nele de um modo ou de outro e, em diferentes medidas. São eles; os Esta­ dos Unidos, a Europa Ocidental e a União Soviética.

O período de análise abrange o início da década de oiten­ ta até, aproximadamente, a época da constituição do Grupo de Contadora (1983).

Para o melhor desenvolvimento do assunto, dividimos o ca­ pítulo em três partes; a primeira aborda a política externa dos Estados Unidos na América Central no início da década de oitenta sob três aspectos; a) o declínio da hegemonia norte­ americana; b) a visão de Reagan da crise; e, c) a política da administração Reagan na América Central em seu primeiro manda­ to presidencial (1981-1985). Dada a maior participação dos Es­ tados Unidos no conflito centro-americano, comparado com os

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outros dois atores externos, dedicamos a esta parte maior ex­ tensão que as outras.

A segunda parte do capítulo aborda a política externa da Europa Ocidental na América Central no início da década em dois aspectos: o papel da Europa Ocidental e do socialismo europeu frente á crise centro-americana.

Por último será analisada a política externa da União So­ viética na América Central neste mesmo período.

1. As relações dos Estados Unidos com a América Central_____ no início da década de oitenta

1.1. O declínio da Hegemonia riorte-americana na América Latina O declínio da hegemonia dos Estados Unidos no hemisfério ocidental acelerou-se no início da década de oitenta.

A Guerra do Atlântico Sul, em 1982 - entre a Grã-Bretanha, apoiada pelos Estados Unidos, e a Argentina -, aprofundou a- inda mais as divergências existentes entre os Estados Unidos e os países latino-americanos. Como um relâmpago numa tempesta­ de de verão, a crise do Atlântico Sul iluminou a íngreme pai­ sagem das relações entre os Estados Unidos e a América Latina. No final de 1982, em virtude da crise no Atlântico Sul, Cuba - que não sucumbiu às pressões norte-americanas -, acha­ va-se menos isolada que em períodos anteriores, dos países da América Latina. Neste ano também, em El Salvador, a derrota do candidato ã presidência, José Napoleón Duarte - apoiado pe­

los Estados Unidos - evidenciou, sobretudo, os limites da in­ fluência norte-americana naquele país. Em novembro deste mesmo

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ano, a eleição da Nicarágua como membro não-permanente do Con­ selho de Segurança das Nações Unidas, significou um duro revés diplomático para Washington, agravado pelo apoio dado ã Nica­ rágua por diversos países chaves da América Latina e Europa. Após a crise do Atlântico Sul, as negociações no sentido de implementar as relações entre os Estados Unidos e a Argentina, sucumbiram num distanciamento ainda mais intenso. As relações entre Venezuela e Washington também ficaram estremecidas com o incidente no Atlântico Sul. 0 presidente eleito em 1982 na Co­ lômbia, Belisario Betancur, apressou-se em distanciar sua ad­ ministração da influência norte-americana, ao menos em um ní­ vel diplomático simbólico. 0 México, por sua vez, sempre mante ve relações conflitivas com os Estados Unidos, agravadas sen­

sivelmente, pela séria crise financeira do país; o México te­ mia que os Estados Unidos aproveitassem de sua debilidade eco­ nômica para pressioná-lo politicamente. Existiam também entre esses dois países profundas diferenças em relação ã política centro-americana.

A visita do presidente Ronald Reagan ao Brasil em dezem­ bro de 1982, muito embora tenha contribuído para melhorar as relações existentes entre os dois países, não ocultou os con­ flitos não resolvidos entre os dois governos, especialmente na área econômica.^

1.2. A visão de Reagan da situação na América Central

Carter tinha como peça fundamental no ordenamento da po­ lítica externa norte-americana o eixo Norte-Sul, ao passo que com Reagan houve um retorno ã chamada "Guerra Fria", ao eixo

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Leste-Oeste, ã política de contenção do expansionismo soviéti­ co no Terceiro Mundo. Esta concepção do mundo considerava que o choque de civilizações, entre capitalismo e socialismo - do qual os Estados Unidos não pode estar alheio -, encontrava no Terceiro Mundo o palco principal de desenvolvimento e não na Europa Ocidental, como era pensado nos anos posteriores à

Se-2 gunda Guerra Mundial.

Segundo esta visão, a Europa Ocidental seria um teatro reflexo e cego do domínio mundial, porque depende vitalmen­ te das provisões de petróleo do Golfo Pérsico e de minerais da Africa subsaãrica e da América Latina. Conseqüentemente, nes­ tes lugares seria jogada a sorte do mundo, ou seja, nos territórios onde estão os provimentos de que os Estados Uni­ dos, a Europa Ocidental e o Japão necessitam para continuar sendo potências econômicas atuantes.Nesta visão também depen­ dia a idéia de que o objetivo soviétiteo seria o de ir ocupan­ do as zonas de influência norte-americanas ou ocidentais a partir das áreas de influência soviética, em nome de uma re­ volta do nacionalismo e do anti-imperialismo.^

Daí a necessidade de implementar uma política de conten­ ção do expansionismo soviético no Terceiro Mundo, aplicada ao conjunto dos países em desenvolvimento e, em especial, à Amé­ rica Latina. Neste sentido, a América Latina é vista como um teatro de confronto entre as super-potências.

A partir desta visão, os Estados Unidos desenvolveram uma política externa intensa na área centro-americana. Inseri­ da na lógica de confronto, na concepção de domínio mundial,fun damentada na contenção do poderio soviético comunista, a Amé­ rica Central passou a ser peça chave da nova política

estra-4 tegica norte-americana.

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A administração conservadora de Reagan partia do pressu­ posto de que "América Central é de suma importância para os legítimos interesses nacionais" dos Estados Unidos que se achavam ameaçados pelo inimigo comum; a União Soviética. Con­ seqüentemente, desqualificava totalmente o regime sandinis­ ta na Nicarágua e a oposição em países como El Salvador, Hon­ duras ou Guatemala., justificando, assim, a criação de um "escu do protetor" integrado por armas, adestramento e apoio logís­ tico para proteger a democracia, o desenvolvimento e o diálogo na região.^

Legitimava, desta forma a política norte-americana a agre£ são constante ao regime sandinista e outros modos de interven ção nos países centro-americanos, tais como o apoio irrestri­ to ao governo de José Napoleón Duarte em El Salvador e a in­ tervenção constante em Honduras.

O ideário que marcou a política de Reagan na América Cen­ tral está explicito, de uma certa forma, no chamado "Documento Secreto da Política Reagan para a América Latina". Este docu­ mento foi preparado em maio de 1980 por um grupo, - o "Comitê de Santa Fé" - para assessorar Ronald Reagan quando este ain da era candidato ã presidência dos Estados Unidos. Não é, por­ tanto, um documento oficial, mas contém um programa parcial­ mente seguido pela administração Reagan, daí sua importân­ cia.^

Já na introdução o documento esclarece que "a guerra e não a paz, é a norma que rege os assuntos internacionais. Para os Estados Unidos é impossível o isolamento. Conter a União Soviética não.é suficiente". A distensão está morta. A sobre­ vivência exige dos Estados Unidos uma nova política externa.

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"Os E.U.A. devem tomar a iniciativa ou perecer".^

0 documento parte da idéia de que a América Latina, a Eu­ ropa Ocidental e o Japão são partes fundamentais do poder dos Estados Unidos. Assim, se este país - segundo o documento

quisesse manter uma força excedente adequada que lhe permitis­ se desempenhar um papel de equilíbrio em qualquer lugar do mun do, não poderia aceitar a perda de nenhum dos seus fundamentos de poder na América Latina, na Europa Ocidental ou no Pacífi-

g

CO Ocidental. "Por isso, nas regiões vitais do poder de qual

quer nação, não é suficiente a preservação do 'statu quo'. Os Estados Unidos devem procurar melhorar sua posição relativa em

Q

todas as esferas de influência'.' "Até o Caribe, que sempre foi espaço de tráfico marítimo e centro de refino de petróleo para os EUA está-se transformando em lago marxista-leninista", de­ nuncia o documento.

Portanto, a América Latina seria "vital" para os Estados Unidos: a projeção global deste país reposou sempre sobre um Caribe cooperador e sobre uma América do Sul que sempre os apoiou, explica o d o c u m e n t o . A d v e r t e também que as Améri­ cas estão sendo atacadas. "A América Latina, tradicional alia­ da dos Estados Unidos está sendo invadida pelo poder soviéti­ co. As costas e o golfo do Caribe estão sendo atingidos pelos

12 apetites soviéticos e sendo rodeadas por países socialistas'.'

"Os Estados Unidos estão sendo postos ã margem no Caribe e na América Central graças a associações sofisticadas, porém bru tais, de um poder extracontinental que manipula seus estados- clientes. A influência soviética se expandiu enormemente desde 1959. A União Soviética deseja fortalecer-se no hemisfério ocidental e os EUA devem remediar esta situação".

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Para o documento, o regime sandinista na Nicarágua faci­ litaria a repetição do modelo revolucionário no continente ame ricano. A Guatemala, fronteiriça dos vastos campos petrolife-ros mexicanos, seria, então, o troféu estratégico na América

14

Central. Assim, a situaçao real em que se encontram os go­ vernos latino-americanos - sob ataque de grupos revolucioná­ rios "assistidos pelo eixo cubano-soviético" - não deveria ser entendida como ameaça a supostas oligarquias, mas como amea­ ça aos interesses da segurança dos Estados Unidos.

As "raizes do problema", juntamente com o inicio da "amea ça ã segurança dos Estados Unidos", remontam - segundo o rela­ tório - ao começo dos anos sessenta, quando do fracasso da baía dos Porcos e do acordo entre Kennedy e Khruschev para pôr fim ã crise dos foguetes em 1962, periodo no qual a escalada de ameaça previamente consideradas toleráveis levou ã acelera­ ção do que antes havia sido considerado inaceitável. "Duran­ te a guerra do Vietnã a posição adotada por Washington, de que a América Latina não era estratégica, política, econômi­ ca e ideologicamente importante erodiu mais a posição dos Es­ tados Unidos

Muito embora o documento tenha sido elaborado no período da administração de governo de Jimmy Carter, criticava dura­ mente sua política externa, culpando-a, em grande parte, pela queda do prestígio norte-americano: achava que esta política exterior, cuja base eram os direitos humanos, tinha desempe­ nhado um importante papel na derrocada de regimes autoritários pró-norte-americanos, substituindo-os por ditaduras anti-nor­ te-americanas, comunistas de caráter totalitário. A política ibero-americana de Jimmy Carter, inspirada intelectualmente nos informes da Comissão de Relações entre os Estados Unidos e a

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América Latina e do Instituto de Estudos Políticos ('Commision of United States-Latin America and the Institute for Policy Studies, - IPS'), foi o ponto máximo deste processo de acomo­ dação pelo qual a América Latina foi excluída da estratégia dos Estados Unidos e os regimes independentes da região foram abandonados aos ataques extracontinentais do movimento

comu-1 8 nista internacional".

0 "Comitê de Santa Fé" entendia que a política externa dos Estados Unidos se encontrava em "estado de confusão" e que as normas de conflito e mudança social adotadas pela adminis­ tração Carter eram "próprias da União Soviética

" ,

mesmo sendo a região em disputa "um território soberano dos aliados dos Estados Unidos e de seus sócios comerciais do Terceiro Mundo", a esfera da União Soviética e de seus aliados continuava evi­ denciando um balanço anual de ganhos e perdas que favoreciam

19

à União Soviética. Preocupava-se o documento com o fato de que, enquanto El Salvador e outros países da América Central estavam sendo ameaçados por guerras de guerrilhas revolucio­ nárias, o governo dos Estados Unidos mantinha uma atitude con­ veniente de indiferença estratégica e exortava o cumprimento dos direitos humanos, "clamando por reformas sociais, econômi­ cas e agrárias, como se a mais perfeita resolução desses pro­ blemas pudesse frear a expansão colonial castrista e a sub­ versão, e desse modo resolver as questões estratégicas como um de seus resultados ('and therebody resolve strategic issues

20 as a by-product' - !!-)".

0 Relatório advertia, também, que os direitos humanos afe tavam negativamente a paz, a estabilidade e a segurança da re­ gião, Tal política,portanto , deveria ser abandonada e subst_i tuída por uma de "não-intervenção e de realismo político e

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etico". Mas esclarecia que os Estados Unidos "não se propu­ nham a praticar uma política de intervenção nos assuntos ex­ ternos de nenhuma nação latino-americana, a menos que os paí­ ses da Ibero-América desenvolvam uma política que ajude e pa­ trocine a intromissão imperialista de potências

extracontinen-4. • 22 tais".

A política dos Estados Unidos deveria ser dirigida para o restabelecimento do sentimento de comunidade e interesse mú­ tuo. Uma vez que "os navios da marinha soviética aliados ã enorme presença soviética na ilha de Cuba, representam um pe­ rigo claro e constante para todas as nações livres do

hemis-,

2

3

'

-fério". Conseqüentemente, propunha também, "reativar os tra­ dicionais laços militares com este hemisfério mediante a ofer­ ta de treinamento militar e assistência às forças armadas das Américas. (...) Oferecendo também assistência técnica e psi­ cológica a todos os países do hemisfério em luta contra o

ter-• „ 24 rorismo, sem levar em conta a sua origem .

Assim, destacava que "somente os Estados Unidos podem pro teger, como um sócio, as nações independentes da América Lati­ na da conquista comunista e ajudar a preservar a cultura his- pano-americana da esterilização pelo materialismo marxista in­ ternacional". Os Estados Unidos deveriam tomar a iniciativa, pois "as relações dos Estados Unidos com a América Latina não só estão em perigo, como está em jogo a própria sobrevivência

25 de nosso país", concluía o documento.

21

1.3. As relações dos Estados Unidos com América Central na ad­ ministração Reagan(primeiro periodo presidencial, 1981-

1985)

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Washington decididos a melhorar ás relações com a América La­ tina e a restaurar a predominância norte-americana no hemisfé­ rio ocidental.

Em poucas semanas o governo norte-americano iniciou uma série de medidas destinadas a isolar e intimidar o regime san­ dinista da Nicarágua; autorizou as manobras dos grupos para- militares anti-sandinistas que treinavam na Flórida, e medidas clandestinas de "desestabilização", adotadas pelos Estados Uni.

27

dos contra o regime da Nicaragua. Segundo Reagan a segurança de toda a América estaria comprometida na América Central. "Se os Estados Unidos não agissem, se derrubaria a fé que se tem no país, se desmoronariam suas alianças e sua segurança esta­ ria em perigo", além disso, com o triunfo do marxismo, chega­ riam aos Estados Unidos cerca de dez milhões de

centro-ameri-28 canos.

No primeiro período presidencial de Reagan destacam-se trés momentos diferenciados no tratamento da crise centro-ame­ ricana:

1.3.1. Primeiro momento; .janeiro 1981 - início 1982

Inicialmente, o enfoque dos "experts" republicanos foi muito otimista em relação ã possibilidade de derrotar as for­

ças guerrilheiras em El Salvador e fazer retroceder os sandi­ nistas de suas posições de poder na Nicarágua. Para atingir tais objetivos recorreram simplesmente a um apoio intensivo dos aliados domésticos de Washington: o governo de Napoleón Duar­ te e os militares de El Salvador ; as organizações contra-revo lucionárias nicaragüenses - Forças Democráticas Nicaragüenses (FDN) e a Aliança Revolucionária Democrática (ARDE) -, esperan

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do que estas pudessem formar um exército significativo em um 29

curto prazo.

1.3.2. Segundo momento; inícios 1982 - agosto 1983

Reagan procurou buscar apoio para sua estratégia em ou­ tros atores regionais possíveis, como a Argentina e a Venezue­ la, de quem tentou obter uma participação militar e política que fracassou - antes de ser materializada - ao iniciar-se a guerra das Malvinas. Quando as expectativas de éxito rápido se

frustraram após esta falida tentativa, a administração norte-ame­ ricana passou a uma política de maior interconexão e de mos­ tras de aparente solidaridade no tratamento das crises inter­ nas dos países centro-americanos.^^ Esta nova fase de "centro- americanização" significou que naquele momento, "amigos" e "inimigos" da política norte-americana eram aliados no espaço global do istmo centro-americano na obtenção de alguns resul­ tados de conjunto.

A situação da Nicarágua e El Salvador foram colocadas num mesmo plano, terminando-se com a prioridade da fase anterior, de derrotar primeiro a guerrilha salvadorenha. Assim, junto ãs intençóes abertas para apoiar a desestabilização do governo da Nicarágua e de institucionalizar o processo salvadorenho -criando um governo legítimo a partir das eleições de uma As­ sembléia Constituinte em março de 1982 -, começaram a ser de­ finidos também, objetivos mais claros para os trés países res­ tantes da região.

Costa Rica, com o governo de Luis Alberto Monge - a par­ tir de maio de 1982, converteu-se num aliado político especial do qual os Estados Unidos procuraram aproveitar a legitimida­

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de proveniente de suas boas credenciais democráticas. Deste modo. Costa Rica participou na convocação do "Foro Pró-Paz e Democracia", promovido pelos Estados Unidos, que visava sepa­ rar a Nicarágua do bloco composto pelos partidários da estra­ tégia norte-americana.

Honduras, onde as forças armadas chegaram durante este período a ter uma influência opressora, aprofundou a conver­

são do país em uma plataforma estratégica para a atividade mi­ litar norte-americana, sobre a base de acordos privilegiados e crescentes cora a planificação bélica dos Estados Unidos.

A Guatemala, finalmente, se converteu na peça mais difí­ cil para os Estados Unidos já que não era um aliado confiável nos planos de luta devido ã acentuação da tradicional autono­ mia relativa que os militares e as forças de direita deste país

31 tem frente a Washington.

O caminho da "centro-americanização" do conflito não sa­ tisfez as expectativas de um triunfo rápido que em algum mo­ mento se fizeram sentir em Washington. Serviu sim, para esta­ bilizar o confronto e frear os avanços das forças esquerdis­ tas criando mais claramente que antes uma situação de "empate político-militar de caráter estratégico" que tendia a

prolon-32 gar o impacto dos problemas da guerra na area.

1.3.3. Terceiro momento; á partir de agosto de 1983

Em agosto de 1983, a administração Reagan passou ã terce^ ra fase na postura frente ao conflito centro-americano, fi­ xando diretrizes que se mantiveram durante todo o ano de 1984. De acordo com este novo esquema, os Estados Unidos, mais que dar respostas prontas de caráter militar aos desafios

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coloca-dos pela atividade insurrecional das forças guerrilheiras,pro­ curaram estabelecer um programa com metas de longo prazo na região, que combinasse os objetivos militares e geopollticos com alguns programas de desenvolvimento econômico e social de^ tes países. A fim de implementar este programa, o presidente Reagan indicou a Comissão bi-partidãria sobre política cen­ tro-americana, presidida pelo ex-secretário de Estado Henry Kissinger.

a) Informe da Comissão Kissinger

De imediato, a Comissão Kissinger representou claramente uma tentativa de colocar o tratamento dos problemas da Améri­ ca Central em um marco de consenso básico entre ambos os par­ tidos. Para isso, o próprio presidente designou dentro da Co­ missão quatro destacadas personalidades democratas, - num to­ tal de doze integrantes do grupo; o ex-presidente do Comitê Nacional Democrata, Robert Strauss; o ex-presidente da podero­ sa entidade sindical AFL-CIO, Lane Kirkland; o alcaide de San­ to Antônio, Henry Cisneros e o economista da Universidade de

34 Yale - de origem cubana -, Carlos Díaz Alejandro.

A Comissão Kissinger trabalhou intensamente nos últimos quatro meses de 1983 na preparação de um extenso informe que

foi solenemente entrege ao presidente norte-americano no dia 11 de janeiro de 1984 no que pareceu ser a mais ambiciosa in- tensão para dar uma perspectiva de longo prazo ã política pa­

ra a América Central. 0 trabalho da Comissão obrigou a ajustar diver sos pontos do diagnóstico previamente apresentado pela admi­

nistração Reagan a respeito das origens e causas da situação revolucionária na América Central. Pela primeira vez um docu­ mento oficial solicitado pelo presidente recomendou que as

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raízes dos problemas que enfrentavam os países do istmo cen­ tro-americano estavam diretamente vinculadas ãs situações de injustiça e autoritarismo domésticos, agravados principalmente pelos planos cubanos e soviéticos, orientados a fomentar a sub

- 35

versão.

Para enfrentar estes problemas, o Informe Kissinger pro­ pôs um programa de médio e longo prazo que convocava - em uma medida importante - o próprio governo norte-americano a empe­

nhar-se na obtenção das metas de desenvolvimento ali defini- 36

das.

Mas o trabalho da Comissão Kissinger não conseguiu resta­ belecer o consenso bipartidarista como o presidente esperava. 0 próprio Informe teve um efeito passageiro e, rapidamente, se levantaram vozes influentes no Congresso, como a dos senado­ res Edward Kennedy e Christopher Dodd, - que, criticamente sublinharam as insuficiências do piano p r e v i s t o . D e s t e modo, as recomendações da Comissão passaram a ser regidas pela in­ certeza e sua viabilização concreta ficou sujeita ao clima da

3 8 conjuntura política dos anos posteriores.

A partir do segundo trimestre de 1984, a política da Casa Branca para a América Central voltou a ser regida por impulsos pendulares, de alternância entre as iniciativas

intervencio-39 nistas e a disposição para negociar.

b) A política da administração Reagan na Nicarágua

A respeito da Nicarágua, a administração Reagan acentuou o seu perfil agressivo como uma forma de manifestar a disposi­ ção política de não permitir a consolidação do regime sandi­ nista. Nesta perspectiva, o governo de Washington desqualifi­

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cou as eleições convocadas pela direção de Manágua para o dia 4 de novembro de 1984 e o próprio presidente Reagan, as véspe­ ras do quinto aniversário da tomada do poder pelos sandinis­ tas, falando para o "Central American Outreach Group", susten­ tou que "na Nicarágua de hoje existe muito menos liberdade pessoal que durante a ditadura Somoza", acrescentando que "é uma ditadura que se torna mais insultante, mais perigosa, pela presença indesejável de militares, de colaboradores cubanos do

- - 40

bloco soviético e árabes radicais". Simultaneamente, os ór­ gãos de inteligência norte-americanos passaram da atividade dissimulada ã sabotagem aberta, minando o porto de Corinto com o propósito direto de impedir a entrada de combustivel e insu- mos básicos ao pais. Isto, por sua vez, originou a reclamação do governo da Nicarágua ã Corte Internacional de Justiça de Haya, que para grande desgosto norte-americano declarou ter competência para conhecer o caso. Contudo, isto não foi obstáculo para que os Estados Unidos iniciassem uma série de conversações no porto mexicano de Manzanillo, no qual o gover­ no estadunidense esteve representado pelo diplomata de carrei­ ra Harry Schlaudeman, Encarregado Presidencial Especial para Assuntos Centro-Americanos, e o governo nicaragüense pelo vi- ce-chanceler deste pais, Victor Tinoco. Estas conversações le­ varam a poucos resultados concretos, mas deram conta de uma certa disposição formal da administração Reagan de não

afas-41 tar-se totalmente da mesa de negociaçao.

c) A politica da administração Reagan em El Salvador

As eleições presidenciais desse pais em março de 1984 ser viram para acentuar as preferências de Washington pelos progra mas da "Democracia Cristã" e por seu lider, o engenheiro José

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Napoleón Duarte. Isto levou a acentuar as distâncias existen­ tes com as forças da ultradireita salvadorenhas e salien­ tou uma postura hostil dos Estados Unidos face ao partido ARE­ NA e ao seu dirigente máximo, o coronel Roberto D'Abbuison. E- leito presidente, Duarte foi recebido na capital norte-america na de uma maneira triunfal, como símbolo das soluções democrá­ ticas que os Estados Unidos tentavam alcançar na região cen­ tro-americana .

d) A política da administração Reagan em Honduras

O terceiro país prioritário à estratégia norte-americana era Honduras. Ali, os Estados Unidos aceitaram sem reticên­ cias, a derrubada do general Gustavo Alvarez que, sendo Coman- dante-em-Chefe do Exército, estava-se tornando o verdadei­ ro homem forte do país. A destituição e posterior exílio de Alvarez, em junho de 1984, levou â instauração de uma lideran­

ça militar mais discreta e menos expressiva, de aberta adesão aos interesses dos Estados Unidos. 0 general de aviação, Wal­ ter López, novo Chefe das Forças Armadas hondurenhas, ofere­ cia as vantagens de uma subordinação mais clara ao poder civil do presidente Roberto Suazo Córdova e possibilitou o início de uma relação especial de caráter militar com os Estados Uni­ dos. Isto propiciou a realização em Honduras de manobras mili­ tares conjuntas que acabou na permanente presença norte-ameri- cana no país com a instalação de uma base militar em Porto Castilla. Consolidou-se finalmente, a posição estratégica de Honduras para o futuro, como uma autêntica plataforma de ope­ rações militares norte-americanas na América Central, como opção ãs incertezas que cercavam o estatuto jurídico do Canal

42 de Planam a.

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2. As relações da Europa Ocidental com a América Central no início da década de oitenta

2.1. A Europa Ocidental face ã crise centro-americana

No inicio da década de oitenta, a Europa Ocidental come­ çou a desempenhar um papel importante na América Central como receptora de demandas dos países terceiro-mundistas, em

con-43 traposiçao aos interesses hegemônicos dos Estados Unidos. E^ se interesse europeu marcou o final de um parênteses históri­ co iniciado com a consolidação da hegemonia norte-americana na América Latina no princípio deste século.

Os europeus viam no estabelecimento de relações mais próximas com a América Latina uma maneira de modificar a bipo-laridade do sistema internacional e um modo de incrementar a

-44

autonomia de ambas as regiões. A participaçao europeia na América Latina e o seu maior "protagonismo" na região no ini­ cio da década de oitenta, afetaram profundamente o sistema bi- polar existente na área centro-americana e produziram um cres­ cimento dos vínculos políticos e econômicos entre a América

45 Latina e a Europa Ocidental.

Além da preocupação maior por parte dos paises da Europa Ocidental quanto ao efeito que o conflito na América Central poderia trazer para o relacionamento entre o Primeiro e o Ter­ ceiro Mundo, existiram alguns outros fatores que levaram ã maior presença européia na crise centro-americana. Um deles

foi o clima político que reinava a nível internacional na maio ria dos países europeus.

Por exemplo, a revolução sandinista na Nicarágua em 1979 foi bem recebida e apoiada por grupos políticos dos mais

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va-riados e por várias personalidades da Europa. Outro fator que incrementou interesse da participação européia na região cen­ tro-americana foi a possibilidade de diversificação do comér­ cio e das relações exteriores, na procura de mercados, inves­ timentos e ajuda econômica. Por parte dos países centro-ameri­ canos, as emergentes forças da oposição de algum deles - sob regime militar ou repressivo -, buscaram apoio na Europa Oci­ dental como forma de contrabalançar a ajuda dos Estados Unidos

47 a manutençao desses regimes.

Os europeus tinham uma visão bem diferente daquela dos Estados Unidos sobre as raízes da situação da América Central. Atribuíam a violência na região ã extrema injustiça social,aos sistemas políticos ilegítimos e ã contínua repressão da parti­ cipação popular em países tais como a Guatemala, El Salvador e Honduras. A idéia que permeava em diversos círculos era a de que a mudança social na América Central seria inevitável e que qualquer esforço dos Estados Unidos por manter a situação só levaria a uma maior radicalização da violência bem como aumen­ taria a propensão dos países da área para pedir ajuda ao bloco dos países socialistas.^®

No início da década, a Europa Ocidental deu mostras efe­ tivas de preocupação com a situação dos países da América Central; sua atuação serviu como vima alternativa ã tradicio­ nal hegemonia norte-americana. Cabe destacar, neste contexto,a negativa dos países europeus de enviar observadores para atua­ rem nas eleições de El Salvador, de março de 1982 - ã exceção da Grã-Bretanha -, como também a iniciativa do governo de Mitterrand, na França, em produzir uma declaração reconhecendo a legitimidade das forças da oposição em El Salvador - a "Fren te Democrática Revolucionária" (FDR) , e a organização guerri^

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lheira "Frente Farabundo Marti por la Liberación Nacional" (FMLN) Esta declaração, produzida conjuntamente com o go­

verno mexicano, em 1981, foi conhecida como "Declaração de 49

Cancún". Também, nas situações de guerra interna dos países centro-americanos a atitude de vários paises europeus foi de apoio às negociações entre as forças do governo e as da opo­ sição.

Assim, na visão européia, a tradicional política dos Es­ tados Unidos - de isolamento da oposição - na América Central e de colaboração com os regimes de força, é um fracasso, que desencadeia saídas revolucionárias ou, na maior parte dos casos, governos militares. Diferente da experiência dos Esta­ dos Unidos a nivel interno, a maioria das nações européias con viveu com movimentos de oposição ao longo de sua história par­ lamentar e portanto, achava oportuna a integração da oposi­ ção dentro do próprio sistema político. Assim, nesta perspecti. va, explica-se o posicionamento da Europa Ocidental de procu­ rar soluções para o conflito centro-americano através da nego­ ciação com os diferentes setores da oposição bem como de acon­ selhar a conciliação de interesses politicos.

2.2. O socialismo Europeu face ã crise centro-americana

Na atitude da Europa no Conflito Centro-americano tem si­ do de fundamental importância o papel do socialismo europeu e

sua atuação perante a Crise.

Inicialmente, é interessante esclarecer que os socialis­ tas europeus compartilhavam algumas idéias sobre o Terceiro Mundo e os Estados Unidos, relevantes para a América Latina,

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ou seja, acreditavam que: 1?) a questão das distâncias cada vez mais profundas entre países pobres e países ricos tinha- se transformado na "questão social do século vinte", como des­ tacou o ex-chanceler alemão, Willy Brandt; 29) os Estados Uni­ dos não estavam compreendendo o que estava acontecendo no Ter­ ceiro Mundo; 39) muitos dos conflitos do Terceiro Mundo são gerados localmente e são produto da indigência social e econô­ mica; 49) insersão do Conflito Leste-Oeste nos terrenos do Terceiro Mundo parte da não compreensão norte-americana da na­ tureza dos conflitos e também, - e principalmente - do desejo de reafirmar sua decadente hegemonia no mundo ocidental; e 59) esta visão do mundo dos Estados Unidos pode levar ao fracasso importantes negociações sobre controle de armas e desarmamento e, conseqüentemente enfraquecer a posição da Europa Ociden­ tal.^^

Para muitos socialistas europeus, a argumentação da admi­ nistração Reagan quanto à instabilidade na América Central ti­ nha sido provocada pela subversão patrocinada pelos soviéticos - e os cubanos - (e, neste sentido, a dimensão Leste-Oeste a- meaçaria os interesses da segurança norte-americana na Euro­ pa) , não era apenas incorreta, mas constituía um perigo para a manutenção da paz na região.

A Internacional Socialista européia teve um importante pa pel no processo de derrubada do regime de Somoza na Nicarágua e na ascensão ao poder dos sandinistas. Assim, em meados de 1978 a Internacional Socialista e os partidos membros euro­ peus decidiram dar apoio financeiro e organizacional aos san­ dinistas. Bruno Kreisky, Primeiro Ministro da Áustria, lide­ rou o Comitê Nacional de Solidaridade ã Nicarágua. Pouco tempo depois da assunção do sandinismo ao poder, uma delegação da

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Internacional Socialista, liderada por Mario Soares, visitou Nicarágua, expressando a "solidaridade política e material in­ condicional" com o novo regime. A Internacional Socialista con tinuou esta demonstração de apoio no Congresso de Madrid, em 1980 , criando um Comitê de Defesa da Revolução Nicaragüense,sob a direção do primeiro Secretário do Partido Socialista Operá­ rio Espanhol (PSOE), Felipe González. A Internacional Sociali£ ta sentiu, na derrubada de Somoza, francas possibilidades de democratização não só da Nicarágua, mas também de toda a Amé­ rica Central. Convencida de que a mudança iria generalizar-se na região, a Internacional Socialista transformou-se num su­ porte ativo da revolução na Guatemala e em El S a l v a d o r . N o final de 1980, descrevia a Junta de Governo de El Salvador co­ mo um "regime despótico cuja atuação tinha levado a um estado de guerra civil", enquanto clamava por uma "atividade de soli­ daridade com a "Frente Democrática Revolucionária" (FDR) de El Salvador, a agrupação política aliada à organização guerri­

lheira "Frente Farabundo Marti por la Liberación Nacional" (FMLN)

A Internacional Socialista achava que os partidos da opo­ sição em paises como El Salvador não tinham outra alternativa SfiRtão â de recorrer â violência, e que ela não tinha outra opção senão colaborar com eles, como meio de resistência ã opressão dominante. Os Estados Unidos - acreditavam eles -, tinham que simplesmente aprender a conviver com este estado de mudança r a d i c a l . E s t a era em síntese, a postura da Internacional So­ cialista, no início da década de oitenta.

O Partido Socialista Operário Espanhol(PSOE) e seu Pri­ meiro Secretário, Felipe González, transformaram-se em figuras relevantes na cena latino-americana, já na década

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passada.Gon-zález foi especialmente ativo com respeito ã América-Latina, visitando a região não menos de treze vezes desde 197 6 até 1985 e encabeçando o Comité de Defesa da Revolução Nicaragüen­ se na Internacional Socialista. Entretanto, foi cauteloso na forma de abordar os assuntos centro-americanos.^^

O Partido Social Democrata Alemão (PSD) teve um trabalho mais significativo, estendendo sua influência na América-Lati­ na. Um dos grupos dentro do partido se cristalizou ao redor do chanceler e Prêmio Nobel da Paz, Willy Brandt. Em termos gerais, este grupo sentia uma grande preocupação para com os problemas Norte-Sul - o próprio Brandt presidiu a Comissão In­ dependente sobre assuntos do Desenvolvimento Internacional,que publicou o famoso estudo "Norte-Sul: um programa para a sobre­ vivência" - e sentia-se incomodado ao ver que a intensão das

superpotências era manter a Alemanha e outros países como re­ féns para suas ambições hegemônicas. Com respeito a América- Central, o governo alemão aprovou um programa de ajuda ao go­ verno sandinista, imediatamente depois da queda de Somoza.

Houve três importantes esforços de mediação pelos socia­ listas europeus durante a primeira metade de 1981. Uma atri­ buída ao Partido Social Democrata Alemão (PSD), conduzido pelo governo alemão e representava o esforço de Willy Brandt e de outras figuras do PSD,em provocar um encontro frente a frente entre Guillermo Ungo e José Napoleón Duarte (líderes da opo­ sição e do governo salvadorenho). Pouco depois, o Comitê Regio nal da Internacional Socialista para a América Latina e o Ca­ ribe solicitou a Brandt que se apresentasse como mediador aos EUA no conflito. Han's-Jurgen Wischnewski, vice-presidente do PSD encabeçou o segundo esforço de mediação, viajando ã Améri- ca-Central; apresentou propostas de negociação ao governo sal­

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vadorenho, entre este e a guerrilha. Sua missão fracassou. Hou ve depois uma terceira iniciativa, em final de maio de 1981, do "Novo Partido Democrático" do Canadá, que também fracassou. Os esforços dos socialistas europeus em mediar a crise centro- americana durante o primeiro ano da administração Reagan, fo­ ram em:.vão. Esse fracasso se deve a que, enquanto a Interna­ cional Socialista e seus partidos membros ofereciam seus ser­ viços como mediadores, havia um crescente envolvimento da

r Q

agremiação na crise, simultaneamente.

Com a Nicarágua, a Internacional Socialista enfrentou um dilema mais grave. Havendo jogado uma cartada importante ao legitimar os sandinistas frente ã opinião pública mundial e seus partidos membros, não concordou com o desenvolvimento dos acontecimentos na Nicarágua. Seu continuo apoio aos grupos da oposição em El Salvador e aos sandinistas deu, ã Internacional Socialista, uma certa credibilidade entre os movimentos de esquerda da região, que acabou por prejudicar suas oportunida­ des de influenciar na politica norte-americana, atuando como

59

mediadora no conflito. Também foi crescendo o ceticismo so­ bre as intensões dos sandinistas entre os partidos socialis­ tas europeus.

0 presidente da Internacional Socialista, em abril de 1982, declarou: "0,governo sandinista da Nicarágua deve ser apoiado em seu compromisso pelo pluralismo e a justiça social, pela democracia e o não-alinhamento bem como pela condenação de qualquer intensão de qualquer parte, de desestabilizar ou interferir em sua soberania". Seis meses mais tarde ratificou o "apoio ao projeto original dos sandinistas de um pluralis­ mo politico, uma economia mista e uma politica de não alinha­ mento" e indiretamente criticou os Estados Unidos "condenando

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a militarização da América-Central e os pianos agressão militar contra a Nicarágua e o estabelecimento de manobras mi­

litares na região, que agravavam as tensões...".®^

Na Espanha, com o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) no poder, estabeleceu-se uma presença mais visível na América-Latina. Durante a primeira metade de 1983 o rei Juan Carlos visitou a região em duas ocasiões.Felipe González e o Ministro do Exterior também o fizeram. González fez referên­ cias indiretas ao que ele chamou de "liderança norte-americana negativa" na América-Latina, mas não desafiou diretamente a Administração Reagan, e sua política na região.

Muitos governos europeus votaram contra os Estados Unidos nas Nações Unidas, ao apresentar resoluções que criticavam o tratamento dos direitos humanos pelo governo salvadorenho, - só a Grã-Bretanha votou junto com os Estados Unidos contra a re­ solução das Nações Unidas, de janeiro de 1982, e pedia a sus­ pensão da ajuda a El Salvador. Também o governo da Grã-Breta- nha, dentre os europeus, enviou observadores oficiais ãs elei­ ções de março de 1982 em El Salvador. Nenhum país europeu oci­ dental suspendeu a assistência económica ã Nicarágua (nem a

iniciou a El Salvador) em resposta aos requerimentos norte-ame 62

ricanos.

A França foi, sem dúvida, a mais ativa em aproveitar a oportunidade para afirmar sua independência, face aos Estados Unidos nos assuntos internacionais, no início da década de oitenta e com respeito ã crise centro-americana. A França bus­ cava aliados importantes no Terceiro Mundo e, para tanto, es­ tava disposta a cooperar com o México na declaração a favor do FDR em El Salvador.

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No final de 1981 chegou ao poder na França o Partido So­ cialista Francês (PS) , quando François Mitterrand ganhou as eleições para presidente e dissolveu o Congresso. Imediatamen­ te, seu Partido obteve lama maioria absoluta de cadeiras na As­ sembléia. A doutrina socialista foi chamada a uma reestrutura­ ção radical do sistema econômico internacional, bem como ã gestão de um novo internacionalismo baseado na solidariedade fiara com os povos "oprimidos e progressistas". Para muitos so­ cialistas franceses, os Estados Unidos estavam em franca oposj^ ção a estas direções politicas. Entretanto, uma vez no poder, os socialistas franceses seguiram politica exterior cada vez mais "atlanticista". Neste sentido, o governo Mitterrand deu um tom mais radical ã politica francesa para as questões do Terceiro Mundo, mas ainda assim, salvo pelo uso de uma retóri­ ca romântica radical, não tomou iniciativas politicas signifi­ cativas. Os franceses estavam interessados em exercer uma grande influência politica na América-Latina.

Os partidos socialistas europeus têm desempenhado um pa­ pel importante no conflito centro-americano, legitimando, in­ ternacionalmente, os sandinistas e,igualmente, a oposição sal­ vadorenha, além de ter proporcionado contatos úteis com par­ tidos como Ação Democrática (AD) da Venezuela e o Partido Re­ volucionário Institucional (PRI) do México,aumentando, com

isso, suas oportunidades de exercer uma maior influência re­ gional. As críticas ã política da administração Reagan na América Central -feita por socialistas individualmente, por partidos social-democratas e governos, e pela Internacional Socialista -, têm sido importantes.^^

Entretanto, apesar da publicidade e da controvérsia que seus esforços têm gerado, a eficácia das politicas

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socialis-tas européias tem sido limitada. Muitos dos partidos europeus (e, especialmente os governos dos quais eles fazem parte) tém fugido da confrontação direta com a administração Reagan. Vá­ rias considerações estimulam esta cautela: por um lado, a Amé­ rica-Central é uma área onde os Estados Unidos têm sido tradi­ cionalmente fortes. Para os europeus, por outro lado, os as­ suntos centro-americanos possuem preeminentemente um valor simbólico; a região é, entretanto, uma área de interesse mais

ideológico que prático para o socialismo europeu. Além do que, alguns governos europeus (especialmente o espanhol) pode­ riam ver-se envolvidos como participantes de uma possível for­ ça multinacional de paz.^^

Colaborando com a administração Reagan em outros assun­ tos mais pertinentes da política exterior, muitos partidos e governos desejavam evitar graves críticas aos Estados Unidos.

3. As relações da União Soviética com a América-Central_____ no início da década de oitenta

Depois de muitas décadas de relativa distância, a União Soviética desempenha agora um papel de certa relevância na América-Latina, fora de Cuba. A maioria dos governos latino-

americanos mantém relações diplomáticas estáveis com a URSS. vários países têm intercâmbios comerciais importantes com ela.

A manutenção de relações diplomáticas com a URSS tem pas­ sado não apenas como um indício da crescente independência da política exterior deflagrada por muitos países latino-america­ nos, mas também, como um instrumento útil para equilibrar a pesada influência norte-americana no contexto hemisférico.^^

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O interesse dos governos latino-americanos por estabele­ cer e manter laços diplomáticos com a URSS resulta principal­ mente do desejo de diversificar o caráter de suas relações in­ ternacionais , melhorando sua posição relativa na arena mundial e modificando favoravelmente sua inclusão na mesma. Dado que os Estados Unidos representa a única grande potência do hemis fério que, em maior ou menor medida, têm tratado de exercer sua influência preponderante sobre os paises da região,-e le­ vando em conta a impossibilidade de apelar a outra nação do continente para contestar esta presença dominante, os Estados latino-americanos sentem-se motivados não só para tratar de formar frentes comuns, como também para tentar desenvolver re­ lações extra-hemisféricas dirigidas a equilibrar esta situa ção.

O estabelecimento de contatos com a União Soviética - uma superpotência rival com peso próprio - representa uma alterna­ tiva óbvia destinada a servir de freio atual ou potencial ãs tendências hegemônicas norte-americanas.

Uma avaliação deste tipo não implica que os governos la­ tino-americanos sejam pró-soviéticos ou tenham disposição em sê-lo. A grande maioria deles observa com desagrado o siste­ ma soviético e desconfia de suas intensões a nivel internacio nal. Mas, mesmo assim, as relações com a URSS são consideradas como a manifestação visivel do direito de deflagrar uma politi ca exterior independente e a serviço dos próprios interesses nacionais. Por outro lado, os laços bilaterais com a URSS con­ templam xam maior espaço de manobra e um elemento potencialmen­ te importante de negociação nas dispustas que podem surgir com os Estados Unidos. Por último, as relações com os soviéticos

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dão lugar, em alguns casos, a produtivos intercâmbios econõ- 68

micos.

Os países que têm ou haviam tido governos revolucionários - como a Nicarágua, Granada, Guiana e Suriname - mantêm cor­ diais relações com a União Soviética que não dependem das sim­ patias políticas e ideológicas que possam existir, senão, fun­ damentalmente, da necessidade de neutralizar as pressões dos Estados Unidos e contar com eventuais apoios políticos e eco­ nômicos fora da área, se, caso um agravamento das tensões amea çasse decisivamente a estabilidade da região.

A União Soviética tem uma série de acordos intergoverna- mentais com o governo sandinista, oferecendo-lhe comércio, em­ préstimo e cooperação econômica e técnica. A URSS também tem entregado donativos de grãos e outros produtos ã Nicarágua. As forças armadas nicaragüenses possuem tanques, aviões, arti­ lharia e outros armamentos soviéticos obtidos por meio de Cu­ ba. O governo soviético não mantém relações oficiais de nenhum tipo com El Salvador e Guatemala, mas o Partido Comunista So­ viético tem laços com os partidos comunistas de ambos os paí-

70 ses.

Na prática, a influência soviética na América-Central até meados de 1983, foi principalmente indireta. Cuba era o país comunista que participava diretamente com ajuda econômica e pessoal técnico e militar na Nicarágua, mantendo laços diretos e íntimos com as oposições armadas em El Salvador e Guatemala. Sem o apoio da URSS seria difícil para Cuba atuar na Nicará­ gua, e sem o apoio de Cuba seria difícil para a Nicarágua a- poiar os rebeldes em El Salvador.

Referências

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