UNIVERSIDADE
FEDERAL DE
SANTA CATARINA
CENTRO DE
CIENCIAS
DA EDUCAÇÃO
CURSO DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
'LINHA
DE
INVESTIGAÇÃO:
TEORIA E PRÁTICA
PEDAGÓGICA
Do
espaço
escolar
às ruas:
um
olhar sobre
O
movimento
dos trabalhadores
em
educação
de
Santa Catarina
Dissertação apresentada
como
exigência
parcialpara obtenção
do
grau
de
MESTRE
em
educação,
à
Banca
Examinadora da
Universidade
Federal
de
Santa
Catarina,sob
a orientação
da
Professora
Doutora
Marli
Auras.
Mestranda:
ANA
MARIA BORGES
DE SOUSA
VUNÍUERSIDABE FEDERAL
DE
SANTÊ
CfiTâRINA
CENTRO
HE
CIÊNCIAS
Hà
EDUCÊCÃU
PRUGRÊHQ
DE
PÓS~GRâBUâÇÃU
EH
EüUCäCÃO
CURSO
UE
MESTRQUO
EM
EDUCÊCÃO
U0
ESPAÇO E$COLâR
ÀS RUAS: UM
O
MÚUIMENTO
DOS
TRABÊLHAHORES
HE
SâNTñ CATâRINA
Dis$ertacão
do
Curfio
de
OLHAR SOBRE
EM
EflUCêCÃO
submetida
ao
Colegiado
Mestrado
am
Educação
do
Centro de'Ciências
da
Educacão
em
cumprimento
parcial para
aobtenção
do
título
de
Meâtre
am
Educacão.
àpnouànà
PELQ
cM1555
Exâmxwânoflê
em
aí/øa/94
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cas
Úores Daros
de
fimorlm (Examlnadoraâ
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¡ÍÍÓéM£E¢4^qmq
Pvu$Ê.
UVÊ.
Faria
da
Graça Bollmann
(Suplente)
ÊNA
HARIÊ BORGES
DE
SOUZA
Florianópolis, Santa Catarina
Ao
Osny
e a Thiara pela paciênciasempre
amorosa
e pelo apoio solidário paraque
essedesafio
fosse encarado.Aos meus
pais, pela luta paraque
seusfilhos estudassem
porque
acreditavamna
importânciada
escola.Aos
trabalhadores,especialmente
osda educação,
cujamemória
históricavem
sendo por
eles registradapara
que o
mundo
não
mais
sejaconhecido
como
obra apenas
dos
"vencedores".AGRADECIMENTOS
Fazer agradecimentos é parte
da
nossa subjetividade.É
um
jeitode
dizer às pessoaso
quanto são importantes para que determinados objetivos se concretizem. Isso quer dizertambém
que
nenhum
trabalho prima exclusivamente pela atividade individual; éum
exercício coletivoque
se faz e se refaz
na
relaçãocom
outros.Assim
é essa dissertação,um
esforço solitário,mas
que
se concretiza pelo apoio dos "de casa", dos
meus
colegas, professores e orientadora, de tantos sujeitosque
estiveram presentes na caminhada.Da
professora Marli Auras, pela atençãocom
que
acompanhou
este estudo e acreditou nas minhas possibilidades; acima de tudo, pela sua orientaçãoque
me
desafiou
frente a várias questões,ao
mesmo
tempo que
me
assegurava autonomia para formular minhascompreensões
acerca
do
objeto desta dissertação.Tenho
certezaque
a relação entre orientadora e orientanda, foi de troca ede
encorajamento para avançar; dificil, algumas vezes; afetuosa, sempre.Dos
meus
colegas de Mestrado, entre eles Cassia, Beatriz, Neli, Bete, Luciana, Elvio, Nadir, Sabino, Roseane, Christiane,Maria
Isabel, Paulo Capela, Rita, Neila, Alexandre, Sandra,Nadja
(estes, os mais próximos),com quem
pude
dividir minhas incertezas e descobrircomo
se~
aprende novas liçoes.
Dos
professoresdo
curso, pelo interessecom
que estudaram conosco. Especialmente, oProfessor Selvino
Assmann,
o Mestreque
me
ensinou, entre tantas, duas belas lições: encarar os limitesdo
conhecimento, assumindo que, por isso,somos
livres;com
paciência e humildade, soube tãobem
socializar seu saber, encarando-nossempre
como
sujeitosdo
processo.Do
grupo
de estudoque
construímoscom
o Professor Fleury,no
primeiro semestre de 93, a possibilidadedo
debate sobre nossas pesquisas, culminandonuma
concreta troca de conhecimentos e ajuda mútua.Das
professoras, Elizabete Leal e Olinda Evangelistaque
se dispuseram a fazeruma
leitura atenta desta dissertação, apresentando sugestões imprescindíveis para
que
a análise e a redaçãodo
textoficassem
mais claras,bem como
da Analice e da Céliaque
cuidaramda
correção
do
texto.Das
minhas
amigas e colegas de Curso, Denise e Olma, pelaboa
vontade e disponibilidadecom
que
se colocaram para ler os textosque
eu ia escrevendo;também,
pelas discussões ehoras, os finais de
semana
e parte de nossas "fén'as"que
ficamos
juntas estudando, trocandoinformações e
aprofimdando
o textoem
elaboração.Do
professor João Pacheco,um
outro colaborador nesse processo, dedicando partede
seutempo
parame
prestar informações sobre aALISC,
principalmente aquelasque não foram
localizadas nos arquivos
do
Sindicato.Assim também,
dos funcionáriosdo
SINTE
que
me
ajudaram a localizardocumentos
dispersos noschamados
arquivosmortos
e informaçõespertinentes a outros tantos.
Na
Biblioteca Pública Municipal, Biblioteca Centralda
UFSC
e Bibliotecado
Centro de Educação, os fimcionáriosforam sempre
atenciosos para prestaremajuda
na
localização de livros edocumentos
consultadosno
decorrerda
pesquisa.Dos
dirigentesdo
SINTE
que, nas regiões, particularmente,me
acompanharam
nas visitasàs escolas e contribuíram de várias maneiras para
que
alguns dadosda
pesquisafossem
possíveis.Na
minha
casa,meu
companheiro,minha
filha e a Elisângela (nosso apoiona
organizaçãodoméstica) garantiram as condições necessárias para
que
eu pudesse estudar, sistematizar os dados levantados, transcrever as fitas e escrever a dissertação,um
trabalho solitário eque
exigiu várias horas de muitos dias.Da
Thiara, a criançaque
brincavacom
outras crianças para "deixar amãe
estudar",de
maneira carinhosa, esperou a conclusão deste estudo e maisdo que
eu, foi presença alegreem
tantosmomentos.
Da
CAPES,
o apoio financeiro através da bolsa de estudos.São
recursos públicos,coordenados por esta instituição e
que
favorecemo
desenvolvimento cientificono
país.Da
Coordenação do Curso
de Mestrado, dos funcionários da secretaria destemesmo
curso - Lucas,Justina, Salua - a disponibilidade e o
compromisso
para garantir aos mestrandos as condiçõesmateriais necessárias à realização de seus estudos.
Por fim,
esse apoiopode
ser agora traduzido paraum
muito obrigado a tantas pessoas.Desse
coletivo emergiu a possibilidade de registrar aqui parteda
história dos trabalhadoresem
educação e,
ao
mesmo
tempo, fortalecerminha
concepção demundo,
acreditandoque
atransformação da sociedade é possivel na
medida
em
que
nos transformamos.Como
dizGRAMSCI,
"transformar omundo
exterior, as relações gerais, significa fortalecer a simesmo,
ABREVIATURAS
QUE
APARECEM NO
TEXTO
AAESC
- Associação dos Administradores Escolares de Santa CatarinaACT
-Admitido
em
Caráter TemporárioAFALESC
- Associação dos Funcionários da Assembléia Legislativado
Estado de SantaCatarina
AL
- Assembléia LegislativaALISC
- Associação dos Licenciados de Santa CatarinaAN
DES
- Associação Nacional dosDocentes de
Ensino SuperiorANPEd
- Associação Nacional de Pesquisasem
Educação
ANPG
- Associação Nacional dePós-Graduação
AOESC
- Associação dos Orientadores Educacionais de Santa CatarinaAPP
- Associação de Pais e Professores_
APUFSC
- Associação dos Professores da Universidade Federal de Santa CatarinaASESC
- Associação dos Supervisores Escolares de Santa CatarinaCASAN
-Companhia
deSaneamento
BESC
-Banco
do
Estado de Santa CatarinaCED
- Centro de Ciências daEducação
CEDES
- Centro de Estudos,Educação
e SociedadeCD
- Conselho DeliberativoCELESC
- Centrais Elétricas de Santa CatarinaCIASC
- Centro de Informática eAutomação
do
Estadode
Santa CatarinaCIPEE
-Comissão
de Implantaçãodo
Plano Estadual deEducação
CGT
_
Central Geral de TrabalhadoresCLT
- Consolidação das Leisdo
TrabalhoCNTE
- Confederação Nacional dos Trabalhadoresem
Educação
CON
CLAT
- Conferência Nacional da Classe TrabalhadoraCPB
- Confederação dos Professoresdo
BrasilCR
- Conselho de RepresentanteCS
- Crédito SuplementarCSE
-Comissão
Superior de EstudosCUT
- CentralÚnica
dos TrabalhadoresDETER
-Departamento
Estadual de Trânsito e Estradas deRodagem
FNDEP
-Fórum
Nacionalem
Defesa da Escola PúblicaFETESP
- Federação dos Trabalhadoresdo
Estadono
Serviço PúblicoHA
-Hora
AtividadeH/A
-Hora
Aula
ICM
-Imposto
sobre Circulação de MercadoriasICMS
-Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e ServiçosLDB
- Lei de Diretrizes e BasesPC
- Plano de CarreiraPEE
- Plano Estadual deEducação
PDS
- PartidoDemocrático
SocialPlano
SIM
-Saúde
Instrução eMoradia
PMDB
- Partidodo
Movimento
Democrático BrasileiroPMG
- Plano deModernização do
Govemo
PT
- Partido dos TrabalhadoresPUCS
- PlanoÚnico
deCargos
e SaláriosRBS
-Rede
Brasil SulRH
- RecursosHumanos
SAP
- Sistema deAvanços
ProgressivosSBPC
- Sociedade Brasileira para o Progressoda
CiênciaSE
- Secretaria daEducação
SEE
- Secretaria de Estadoda
Educação
SEECD
- Secretaria de Estado da Educação, Cultura eDesporto
SEESF
- Sindicato dosEmpregados
em
Estabelecimentos deSaúde
de FlorianópolisSIN
TESPE
- Sindicato dos Trabalhadoresno
Serviço Público EstadualSLE
- Supervisão Local de EnsinoUBES
-União
Brasileira de Estudantes SecundaristasUCE
-União
Catrinense de Estudantes 'UCRE
-Unidade
deCoordenação
Regionaldo
EnsinoUDESC
- Universidade parao
Desenvolvimentodo
Estado de Santa CatarinaUEs
-Unidades
EscolaresUFSC
- Universidade Federal de Santa CatarinaUNE
-União
Nacional dos EstudantesABSTRACT
~This study focuses on the period between 1988 and 1992, when the Association of Graduates of Santa Catarina-
(ALISC) underwent the transition to become the Employees Union of the Oflicial State School System of Santa Catarina.
It considers the national, international and state political context of the 19805 which influenced the organization
of educational workers in Santa Catarina. The study also looks at the sucession of demonstrations and demands which
expressed the workers ideas about education and society.
'The study seeks to emphasize how and if educational workers: conoeived an educational policy for public schools
aimed at the poor and working class; intervened in the establishment of guidelines aet by the state to regulate the oflicial
school systeD; and contributed through their organization to break up the dominant hegemony and strengthen the tmderprivileged
By highlighting some of the voices of the subjects involved in the research, and analyzing relevant documents,
texts and correspondence, the study is an attempt to register some event~ in the organization of educational workers after the conquest of their right to organize, without, meanwhile, failing to consider their reality as a synthesis of multiple
RESUMO
O
presente estudo abordao
período compreendido entre 1988,quando
se inicia a transiçãoda Associação dos Licenciados de Santa Catarina
-ALISC
- para aorganizaçãodo
Sindicatodos
Trabalhadores
na
Rede
Oficial de Ensinono
Estado de Santa Catarina -SINTE
-, encerrando aanálise
no
ano de 1992.'
Considera, para a contextualização
do
estudo, alguns aspectos políticos da conjuntura intemacional, nacional e estadual, na década de 80, que influenciaramna
organizaçãodos
trabalhadores
em
educação de Santa Catarina, caracterizando a trajetóriacom
que
realizam suas manifestações, suas reivindicações e expressam suas concepções acercada
educação eda
sociedade. _ '
Busca
enfatizarcomo
e se os trabalhadoresem
educaçãoconcebem
o projeto político-pedagógico para a escola pública
no
sentido de popular; intervém nas diretrizes traçadas peloEstado para orientar o sistema oficial de ensino; articulam suas lutas
com
outrosmovimentos
sociais e, nesse espaço, a defesa da escola pública; contribuem
com
sua organização paradesarticular a
hegemonia
dominante e fortalecer ahegemonia
dos subaltemos.Destacando
algumas falas dos sujeitos envolvidos na pesquisa, analisando documentos,textos e correspondências relativos ao objeto de pesquisa, este estudo é
uma
tentativa deregistrar alguns
momentos
da organização dos trabalhadoresem
educação, após a sua conquistado
direito juridico de sindicalização,sem
deixar de considerar a sua realidadecomo
síntese de múltiplas determinações.Um
fenômeno
social éum
fato históricona medida
em
que
éexaminado
como momento
de
um
determinado
todo;desempenha,
portanto,uma
fimção
dupla,a
únicacapaz de
dele fazer efetivamente
um
fato histórico:de
um
lado,definir
a
simesmo,
ede
outro, definiro
todo; serao
mesmo
tempo
produtor e produto; ser revelador eao
mesmo
tempo
determinado; ser revelador eao
mesmo
tempo
decifrara
simesmo;
conquistaro
própriosignificado autêntico e
ao
mesmo
tempo
conferirum
sentidoa
algo mais. ,SUMÁRIO
1.
A
origemdo
objetodo
estudo ... .. 142. Proposição
do problema
... .. 163. Delimitação
do problema
e implicaçõesda
pesquisa - alguns procedimentos metodológicos .... .. 184. Procedimentos
da
Dissertação ... .. 21CAPÍTULO
xz
DE
ALISC
A
SINTE:
O
MOVIMENTO
DOS TRABALHADORES
EM
EDUCAÇÃO
DE
SANTA
CATARINA
... ..24
1.
DE
Ausc
A
smTEz
A
TRANs1ÇÃo
... ._24
1.1.Momentos
que
constituem a históriada
ALISC
... ..24
1.1.1.
Ampliando
as reivindicações ... .. ... ..27
1.1.2.
O
cenário conjuntural eo
movimento
dos trabalhadoresem
educação ... ._28
1.1.3. Organizar é preciso ... .. 311.1.4. 1983: polarizar
em
tomo
da questão educacional ... .. 331.1.5
Govemo
Amin:
participaçãoou
populismo? ... ..36
1.1.6.
Uma
realidadecomplexa
... ..38
1.2.
O
PMDB
chega aogoverno
... ..43
1.3
As
raízesda
luta social ... ..49
1.3.1
A
culturado
isolamentocomo
garantia de interesses especificos...; ... .. 511.3.2.
O
"Calcanhar de Aquiles": novamente o debateem
tomo
da filiação àCUT
... .. 531.3.3.
O
cenário e os atores: o "teatro" da Constituinte ... .. 55CAPÍTULO
n
zo
PRocEsso
DE
coNsoL1DAÇÃo
Do
SINDICATO
Dos
TRABALHADORES
EM
EDUCAÇÃO
... ..óo
2.1.
O
Estado: adversáriopermanente
no
processo de organização? ... ..60
2.1.1
Um
projeto determinado a favor da fragmentação ... ..64
2.1.2.
O
significado da subjetividade nas lutas objetivas ... ..67
2.2
A
articulaçãodo
SINTE
com
osMovimentos
Sociais ... .. 712.2.1 Articulação descontínua ... _.
76
2.2.2.O
significado das "falas"no
presentecomo
construçãodo
fiituro ... .. 83CAPÍTULO
111
O
SINTE:
UM
SUJEITO
FUNDAMENTAL
NA
CONSTRUÇÃO
DO
PROJETO
POLÍTICO-
PEDAGÓGICO PARA
A
ESCOLA
PÚBLICA
POPULAR
CATARINENSE
... ..87
3.
Dois
PROJETOS
EM
DEBATE
... .I ... ..87
3.1.
O
pedagógico e o econômico:uma
articulação possível? ... ..87
3.1.1.
Em
defesada
escola pública: eis a "palavra deordem"
... .. 913.l.2.0SINTEeanovaLDB
... ..933.1.3.
A
comunicação
como
instrumento de formação política ... _.96
3.1.4.Formação
política nas mobilizações ... .. 1003.1.5.
A
relação entre dirigentes e dirigidos: o sentidoque
se expressatambém
nas "falas" ... .. 1053.2.
A
escola pública sob a ótica dos trabalhadores:um
projeto político-pedagógico ... .. 1113.3.
A
configuraçãodo
projeto político-pedagógico sob a Óticado
govemante
... _. 114 3.3.1.As
empresas da "Educação" ... .. 1163.3.2.
Os
"planos de educação" ... _. 118 3.4.A
fala dos atuais e ex-dirigentesdo
SINTE
1 omodo
particular de concebero
projeto político-pedagógico para a escola pública popular ... .. 119coNs11›ERAÇÓ1‹:s FINAIS
... .. 134BIBLIOGRAFIA
... .. 140INTRODUÇÃO
lTomamos
inicialmenteconsciência
da
liberdadeou do
seu
contrário,em
nosso relacionamento
com
outros, enão
no
relacionamento
com
nós
mesmos.
14
1.
A
origem do
objeto
do
estudo
O
estabelecimento deum
elo de ligação entre aquilo que se teoriza e o que, de fato, seconsegue
realizarna
prática cotidianatem
sido fonte de preocupação para váriosmovimentos
sociais, nas últimas décadas.A
cisão entre teoria e prática, cujos expoentes configuram-sena
repetição dasmesmas
formas de luta, nas dificuldades para arregimentar
novos
atores e qualificar aquelesque
participam efetivamentedo
movimento, na ausência ena
sustentaçãode
proposiçõesque
venham
ao encontrodos
interesses reclamados,marca
a angústia políticacom
a qual se defrontam, pelomenos, a maioria dos dirigentes sindicais.
Particularmente, ao integrar o
movimento
dos trabalhadoresem
educação
de SantaCatarina desde 1980,
como
militante ecomo
professora, desejava refletir adimensão
pedagógicadestas duas práticas,
uma
dimensão que acredito ser essencialmente política.Por
essa época, fiii representante de base e dirigente (regional e estadual)da
Associação dos Licenciados de SantaCatarina
(ALISC)
e posteriormentedo
Sindicato dos Trabalhadoresem
Educação (SINTE),
quando
tive presença ativaem
todos osmomentos
que
ensejaram mobilizações e reivindicaçõese, aos poucos, tomei consciência
do
seguinte: estamossempre
na ativa,no
confronto diretoou
indiretocom
cada governoque
assume, reivindicamos a cada ano quaseque
osmesmos
direitos,acumulamos
derrotas e conquistas importantes.Dez
anos se passaram desde a primeira greve (1980) e estávamosnuma
época
em
que
já sedelineavam os contornos de
um
movimento
consolidado, combativo ecom
grande capacidadede
resistência
ao
arbítrio. Realizamos onze greves até 1992, aglutinamos inúmeras lições,promovemos
tipos distintosde
protestossempre que éramos
aviltados poruma
determinadaprática de
govemar.
Na
contramão
de todo esse potencial de enfrentamento,um
ponto nodal semantém:
apesarde tanta energia despendida
com
a luta, a escola pública ampliou o seu nível de degradação ecom
ela seus profissionaisvêm
sendo cada vez mais desprofissionalizados.O
que
haviaou há de
incongruente entre essas constatações?Onde
estavaou
está ofio
condutor desse diagnóstico?Que
atores e cenárioseram
ou
são determinantes nesse processo?Que
articulações estavamou
estão faltando?
Por
quenão
secoadunavam ou
coadunam
oeconômico
e o pedagógico/cultural se esteseram
ou
são de caráter político?Essas questões, entre tantas outras,
aguçaram
meu
interesse na realização dessa pesquisa.15
vistas a
compreender
e discutir os limites e as possibilidadesdo
Sindicato dos Trabalhadoresem
Educação na
Rede
Oficial de Ensinodo
Estado de Santa Catarina -SINTE,
como
um
sujeitocoletivo fundamental na construção da escola pública,
no
sentido de popular.Qual
seja,uma
escola pública que,
no
âmbito de sua especificidade e ancorada na esfera políticaque
lhecompete, contribua para a conquista
da
cidadania, estimule a descobertade
direitos e deveres, ensine/aprendauma
outraordem
de pensamento,que
encaminhe para a superação dasubalternidade à
medida que
vai estabelecendo novas relações teórico-práticas,que possam
deixar impressasnos
estudantes a possibilidade, aindaque
abstrata, de setomarem
potencialmente dirigentes.
Pelo entendimento
da
escolacomo
um
campo
de possibilidadesna
luta política, pelas contribuiçõesque
legou à organização dos trabalhadores enquanto intelectual orgânico destes e pela radicalidade histórica quemarca
seupensamento
e melhor clarifica nossa concepção demundo
acerca das relaçõesem
que
estamos imersos, éque
optei pela teoria deANTONIO
GRAMSCI
como
referencial teórico preferencial.Em
seus escritos,busco compreender
as categorias de hegemonia, subalternidade e a importância dos intelectuais orgânicos para aformação da
consciência filosófica, superadorado
sensocomum.
Também
a açãodo
Estado burguês para conciliar a coerção e o consensocomo
pressuposto indispensável à preservação daordem
capitalista.Com GRAMSCI
descobri o quanto a cultura éuma
categoria impregnada dehistoricidade e qual o seu lugar
na
luta pela transformaçãodo
modo
de produção
capitalista.Enfim, nos seus escritos busquei entender de qual
ou
quais conformismossomos
conformistas e~
articular processualmente
minha compreensao
do
real._
Com
propriedade,GRAMSCI,
quando
se refere à educação,atribui-lhe
um
sentido ampliado, não a reduzindo ao espaço escolar.Numa
carta endereçada à Giulia, sua companheira,ressalta
que
a questão escolar muitíssimo lhe interessa e, de seus escritos, várias são as reflexõesque
evidenciam sua preocupaçãocom
a educação escolar dos subalternos.Sem
ignorar a importância política da unidade entre teoria e prática e por expressarque
essa unidade se constitui
num
processo histórico (portanto, esta étambém
um
vir-a-ser),GRAMSCI
afirmaque
a
tendência democrática, intrinsecamente, não pode consistir apenasem
queum
operário manual se torne qualificado,mas
em
que cada "cidadão" possa se tor-nar "governante" e que a sociedade o coloque, ainda que "abstratamente" nas con- dições gerais de poder fazê-lo:
a
democracia politica tendea
fazer coincidir gover- nantes e governados (no sentido de governocom
o consentimento dos govemados), assegurando a cada governado a aprendizagem gratuita das capacidades eda
`
16
Disso decorre
o
entendimento de qual sociedade se vai construindo eque
diretrizes políticasvão
possibilitar "coincidir" dirigentes e dirigidos. Imersa nesse projeto mais amplo,que
postuladosdevem
nortear a escola pública para assumir sua dimensão de popular esomar
esforços
na
construçãode
uma
outra sociedade? Cientes de seus interesses e de suas responsabilidadescomo
signatários desse processo, não poderão os trabalhadoresem
educaçãopermanecer
numa
posiçao caudatária; seus interesses e suas responsabilidadescompoem
o
compromisso do
conjuntodos
subaltemosna
luta pela concretizaçãoda
nova
hegemonia.2.
Proposição
do problema
Desvendar
(parcialmente) a problemática da qual parti,com
toda a sua complexidade, significa trazer parao
âmbito desse estudo as implicações políticasque
se entrelaçamcom
oslimites e as possibilidades
do
SINT
E.Significa ainda, a possibilidade concreta da militante pensar a militância assumindo os
riscos
que
essa condição traz para a análise, àmedida
que dificulta, muitas vezes,tomar
adistância necessária para
promover
uma
leitura mais crítica da realidade que norteia a~
organizaçao dos trabalhadores
em
educação.Esse estudo,
com
um
olhar mais detido sobre as ações dos professores militantes e relativoao período enfocado, se insere
num
campo
aindanovo
em
Santa Catarina; por conseqüência,problemático quanto aos lirnites
da
pesquisa e da análise. Contudo,tem
um
sentido histórico por dois aspectos: tenta fazer história e,com
esta, demonstrar as possibilidadesda
militância.Assim, para
não permanecer
circulandoem
tomo
das denúncias e das constatações, atentativa é identificar e,
de
acordocom
aminha compreensão
teórica, analisar: os condicionantesda
incompatibilidade entre as lutasque
denominamos econômica
e pedagógica; o papel exercido peloEstado
(aparelho governamental) para impulsionarou
agircomo
entravena
organizaçãodos
trabalhadores
em
educação
ena
construçãoda
escola pública popular;como
oSINTE
se articula(ou não)
com
os demaismovimentos
e estescom
o
SINTE,
visando fortalecer a luta porum
projeto global de sociedade;
que
motivaçõescorrespondem
à cultura predominante e quais osmecanismos
deque
se utilizam os subaltemos para fomentaruma
reforma moral e intelectual, isto é,uma
nova
cultura, indispensável à luta pela transformação econômica.Tudo
issome
levou a redefinir e colocarem
novos
termos,não
oproblema
inicialpropriamente dito,
mas
o contexto histórico que sedimenta esses limites e essas possibilidades,não
sódo
SINTE,
como
do
conjunto dosmovimentos
sociaisque
aspiramuma
outra ordem, aconformação
deuma
nova hegemonia
superadora das condições de sujeição ao "reinoda
necessidade", para lembrar
Marx.
17
Nesse
sentido, julguei necessário recorrerao
contexto nacional e, paracompreender
determinadas circunstâncias políticas,
ao
contexto internacional.Na
verdade, pela obrigatoriedadeda
delimitaçãodo
estudo, trouxe alguns recortes da história que,no
meu
entendimento, dariam mais consistência e melhor clarificavam o objeto dessa pesquisa. Para perceber a degradação da escola pública
em
Santa Catarina, por exemplo, fazia-se necessário tentar entender qual o "lugar"da
escola naordem
capitalista brasileira,profilndamente
influenciada por determinações extemas.
Consciente de que, nesse estudo, a totalidade é o elemento
mediador
para explicar as especificidades, ao fazer o recorte histórico, a "desqualificação" da escola pública e de seus profissionaistoma
contomos
mais claros.Demonstra
que estatem
sua gêneseno modelo
de desenvolvimentoque
as elites intemacionais "propuseram" ao Brasil, o qual, por conseguinte, teve das elites nacionais"um
querer" para a concretização das condiçõesde
dependência sócio- política e econômica.Como
substancial, a peculiaridadedo
ideário liberal que assumiuuma
determinadaopção
de
"modemidade"
para o Brasil, fazendo jus às lições aprendidas e aqui adaptadas."As
conotações peculiares que os princípios liberais
assumem
nessas sociedades capitalistas /.../podem
ser entendidascomo
o
resultado deum
processo de rearticulaçãoda
matriz ideológicaque
nelas penetracom
as relações capitalistas de produção"(XAVIER
1990115-6). Quais sejam,a
formação
deuma
sociedade desigual,com
pilaresque
trazemna
sua matéria-prima a competitividade,o
individualismo e a competênciacomo
"dom
natural", pelo menos.Uma
sociedadeque
privilegia,como
destacaADORNO,
"a autonomia da ação individualem
lugarda
ação coletiva",que
confere "primazia ao princípio da liberdadeem
lugardo
princípiode
igualdade" e que, coloca "no centro de gravitaçao
do
agir edo
pensar a coisa política, o indivíduoem
lugardo
grupo social" (1988:239).Indubitavelmente, essa
opção
da burguesia brasileira gerou grandes oportunidades paraque
se projetasse,
também
entre nós, o estigmada
exclusão, da desigualdadecomo
fenômeno
"natural",
da não
cidadania.Com
a projeçãoeconômica
já alcançada, restava veicularuma
cultura de caráter predatório, intervindo na arte, na linguagem, nos padrões deconsumo, no
modo
de pensar e, para tanto, a essa escola cabiaum
papel de relevânciana
reprodução destacultura, estreitando sua significação e
camuflando
a primazia ideológica para consecução dosobjetivos retraçados.
"Empolgada"
pelo enriquecimento rápido e fácil, a burguesia brasileira deixou-se envolver por sua opção,o
que, dessemodo,
não
poderia levar à formulação deum
projeto nacional- popular, algo completamente fora de seus interesses e propósitos.18
Como
não
há esse projeto, à educação foidado
o mérito dessamesma
lógica, subjacenteao
projeto liberal deum
Estado privado e,como
tal, depoucos
(brancos e proprietários).FLORESTAN FERNANDES
retratao
simulacro dessa burguesiacom
seumodelo
de expansionismo,empregando
a seguinte alusão:Somos
todosuma
imensa senzala das nações capitalistas centrais e de suasuperpotência.
Os
privilegiados não se dão conta disso, seduzidos pela convicção deque as disparidadesamazônicas de riqueza, cultura e poder, que os distanciam dos pobres, dos humildes e dos miseráveis, os coloca
no
interior do PrimeiroMundo.
Ora, eles
também
são escravos:moram
na
senzala gigantesca e seamarram
/.../à
mentalidade
do
escravo submisso, enquanto os verdadeiros escravos quebraram os antigos grilhões e pelejam arduamentepara
ter peso e vozna
sociedade civil.No
jogo das relações dialéticas entre colonizador e colonizado, coube aos senhores e seus descendentes preservar,
como
requisito de seus privilégios,a
mentalidadeda
submissão passiva
ao
colonizador - do qual se tornam reflexo e fantoche (1991 :I0).Consiste, pois, esse trabalho,
na
pretensão de discutircom
os prováveis leitores,que
lugar se atribui à escola destinada aos filhos dos trabalhadores e ainda,como
oSINTE,
organismo de
representação dos docentes, intervém nesse projeto burguês.
3.
Delimitação
do problema
e
implicações
da
pesquisa
-alguns
procedimentos
metodológicos
A
educação, que se desenvolveem
suaforma
escolarizada,comporta
a idéiade
ascensãosocial para a grande maioria
da
população, enquanto expectativa de participaçãoeconômica
nosextratos mais elevados. Isto se constitui, ao que parece,
numa
"aposta"na
escola pública.MARÍLIA
SPÓSITO,
ao analisar a luta popular pela expansãodo
ensino públicoem
São
Paulo (a partirda
década de 40),afirma
que
o acesso
à
escolaridade desdobrava-seem
projetos esboçadosa
longo prazoque buscavam' operar mudanças na situação social desses setores. (...)
Grande
parte. do contingente de pais que procuravam matricular seus filhos nas escolas oficiais
sabia, por árdua experiência profissional, das difíceis injunções
a
queeram
submetidas as populações sem qualquer escolaridade nos seus centros urbanos.Dessa forma, esses segmentos desprivilegiados acreditavam que, mediante o ingresso de seus filhos
em
estabelecimentos mantidos pelo Estado, os seus anseios relativos à ascensão social poderiam ser melhor concretizadas (I 984:21 1-12).Um
dos desafios,que
ainda está posto para o conjuntodo movimento
social, é acompreensão
de qual escola é necessária para provocar a rupturacom
a escolarização concebida19
pelo
Estado
tem
uma
estrutura classista, sendo partedo
aparelho ideológicodo Estado
burguês eum
fator contribuinte dahegemonia
burguesa" (apudCARNOY,
1990:3 1).Em
meio
a tudo isso, deve-se evitarque
a luta pela escola pública,no
sentido de popular, se desvincule da luta cotidiana;em
qualquer de suas manifestações,busque
a construção coletivade
uma
formação
social nova,onde
ir para a escola se constituanum
direito enão
apenasnuma
possibilidade
de
"melhorar"de
vida.Que
as lutas orientem para acompreensão de que
estarna
escola significa apropriar-se
do
conhecimento já elaborado, criar e recriá-locom
o
espírito deinvestigação, de
nova
produção,num
processoem
que
o sujeitoque
conhecenão
é objeto deum
detemiinado conhecimento. Entre o conhecimento e aqueleque
conhece, a relação será dialética.Com
essa preocupação, procuro situarcomo
a educaçãovem
sendo "pensada"em
SantaCatarina pelo
govemo
do
Estado e pelos trabalhadoresem
educação, atravésdo
SINT
E
ede
sua articulaçãocom
os demaismovimentos
sociais.O
período de maior ênfase desse estudo vai de 1988 (quandoda
criaçãodo
SINTE)
até 1992,com
o
objetivo de perceber avanços e/ou retrocessos após a conquistado
direito jurídicode
sindicalização dos trabalhadoresno
serviço público.A
finalidade maior dessa pesquisa é provocaro debateacerca da
escola pública edo
possível projeto das
camadas
subaltemas para concretizar seus objetivos. Assim,com
todos oslimites
que
estão presentes,não
busco dar aomovimento
dos trabalhadoresem
educação
(e dosdemais trabalhadores)
uma
resposta para a questão aqui proposta,mas
contribuircom
uma
análiseque
tenta evidenciar parciahnentecomo
se configuram os limites e as possibilidadesdo
SINT
E
como
um
sujeito fundamental na construção desta escola.As
lacunasque
permeiam
o trabalhovão
desde as dificuldades iniciais para a realizaçãoda
pesquisa até a precariedade das fontes. Para realizar as conversascom
os sujeitos envolvidos na pesquisa (trabalhadoresem
educação, pais,membros
de Associações de Pais e Professores e representantes de alguns movimentos), comecei a gravar e anotar as discussões a partirdo
segundo
semestre de 1991,quando
integrava a diretoria executiva estadualdo
SINTE
(atéagosto de 1992) e, por esse imperativo, viajava por várias regiões
do
Estado para discutircom
ostrabalhadores
em
educação as questões que envolviam omovimento
em
determinadascircunstâncias históricas.
A
partirdo segundo
semestre de 92, realizei entrevistas gravadasem
algumas
escolas deJoinville, Xanxerê, Chapecó, Jaraguá
do
Sul, Mafra, Laguna,São Miguel D'Oeste
eRio do
Sul.Em
Florianópolis, entrevistei professores durante as greves e muitas informações datadas, acercada
ALISC,
confirmaram-se
pela grande contribuiçãodo
professor JoãoPacheco de
Souza, ex- integrante da diretoria executiva estadual da Associação.20
Algumas
"falas" de dirigentes regionaisforam
coletadas durante a realizaçãode
semináriosorganizados pelo
SINTE,
dos quais participeicomo
monitora. Preocupei-mecom
a realizaçãode
um
estudo de âmbito estadual, aindaque
condições objetivastenham
impedido o contatocom
todas as regiões
do
Estado. Contudo,mesmo
que o
norte da pesquisanão
objetivassedados
quantitativos,
o
contingente de sujeitos envolvidos nas entrevistas permitiuque
eu obtivesse trezentas e vinte e quatro falas (conversas gravadascom
professores, especialistas,membros
de
Associações
de
Pais e Professores, pais emães
de alunos, representantes de algunsmovimentos
sociais e entrevistas dos dirigentes e ex-dirigentes; intervenções gravadas
em
assembléias estaduais e regionais), oque
considerei expressivo para a construção da dissertação.Das
falas sistematizadas,somente
algumasforam
destacadasno
texto de acordocom
critérios objetivos e subjetivos meus. Aquelasque não foram
destacadas serviramtambém
como
instrumentode
análise para tecer determinados
momentos
da
históriados
trabalhadoresem
educação.Nesse
sentido, os depoimentosque
perpassam o texto,refletem
as opiniões dos sujeitos sobre a realidade, omodo como
avêem, o que
não significa a realidade.São
"falas" que, nas suasconformações, atribuem
um
peso histórico objetivo à construção desta dissertação.Vale ressaltar que muitos encontros previstos
foram
frustrados por situações diversas,correspondências enviadas _não tiveram retorno e,
mesmo
nas regiões/escolas visitadas,nem
sempre
os resultados vieram a contento. Para alguns (particularmente professores), falar sobre asquestões
em
pauta era "perda detempo"
e "os alunos estãona
sala a esperar pelaminha
aula";também
era complicadoporque
tinham certo"medo"
de ter o seunome
citado epoderiam
ser"massacrados" pelos colegas de trabalho; era "dificil" explicar
como
pensavam o
movimento do
qual
eram
parte integrante;eram
"contra"o
SINTE
enão
gostariam de falar sobre tal assunto.Para outros,
"um
momento
fundamental para discutir essas questões, sóque
precisamos de mais tempo".No
decorrer de92
e 93, analiseidocumentos
nos arquivosdo
SINTE.
Nestes, a precariedadetambém
estava presenteno que
se refere aosdocumentos da época da
ALISC;
muitosdocumentos
se encontravamno
arquivomorto da
entidade, guardadossem nenhuma
ordem; outros
não
tinham a dataou
a fonte e algunsnão
traziam qualquer identificação.Nesse
entremeio, certas informações
foram
verdadeiros "achados"no
horizonte deum
sem número
de
papéis desordenados e outros dados
não foram
localizados.Para
confirmar
as fontes/datas de recortes de jornais, por exemplo, percorri o acervoda
Biblioteca Pública Municipal durante várias horas e
nem
sempre
os resultadosforam
animadores.Na
Secretariada
Educação, pesquiseiem
vários relatórios e, muitas vezes,documentos
sobreo
21
distribuídas aos dirigentes e ex-dirigentes
do
SINTE,
somente
quatroforam
devolvidas sendoque,
da
diretoria executiva estadual, apenasuma
pessoa respondeu as questões apresentadas._
Outro desafio
para a realização desse trabalho refere-se à construçãodo
texto e às fontespara consulta
que não
possibilitaramo
registro de vários aspectos, por ausênciade
identificação eou de
data.No
períodoabordado
(1988-92),nenhum
estudo mais detalhado foi desenvolvido sobreo
SINTE
e, nesse sentido, quase tudo está ainda por ser feito sobre a históriados
trabalhadoresem
educação a partir de sua sindicalização.Dessa
forma, acreditoque
o textoem
debate traz contribuições significativas.Não
obstante, pelos seus lirnites, elepode
serum
conviteou
um
desafio a novas investigações, àquelesque
sepropuserem
a contribuir para o registro deuma
memória
dos trabalhadores.Do
recortede
cadaum
será possível traçar o percurso dos subaltemosna
luta pela suaemancipação
histórica.
4.
Procedimentos
da
Dissertação
_A
dissertação está divididaem
três partes queconfiguram
a organização dos trabalhadoresem
educação
desde 1980 até 1992.Primeiro
Capítulo -De
ALISC
a
SIN
TE: 0
movimento
dos trabalhadoresem
educação
- aborda algunsmomentos
que
constituem a história daALISC,
buscando
contextualizar a lutapela criação
do
SINTE.
Segundo
Capítulo -0
Processode
consolidaçãodo
Sindicato dosTrabalhadores
em
Educação
- estudao
papeldo
Estado (aparelho governamental)como
adversáriono
processode
organização desses trabalhadores e sua articulação
com
outrosmovimentos
sociais;o
papelda
subjetividade dos trabalhadores nas lutas objetivas; a relação
do
SINTE com
osmovimentos
sociais e os significados que
têm
algumas "falas" citadas, para entendero
presentecomo
~construçao
do
futuro.Terceiro Capítulo -
O
SINT
E:
sujeitofundamental
na
construçãodo
projeto político-pedagógico
para
a
escola públicapopular
- discute a relação entre as lutaseconômica
epedagógica; a escola pública sob a ótica dos trabalhadores;
como
se processa acomunicação
entre direção e base, esta enquanto instrumento de
formação
política dos trabalhadores; aimportância
do
Fórum
Nacional para a conquista danova
Lei de Diretrizes eBases
e qual a atuaçãodo
SINTE
a nível de Santa Catarina; aconfiguração do
projeto político-pedagógico22
para a construção
da
escola públicano
sentido de popular, levando-seem
consideração asconcepções de atuais e ex-dirigentes
do
Sindicato.Em
determinadosmomentos,
destaco as "falas" dos sujeitosque
participaramda
pesquisa,com
o objetivo de expressarcomo
(e_ se)compreendem
sua presença (ou não) nas lutasdos
docentes e nas lutas gerais da sociedade. Optei pelo anonimato dos sujeitos envolvidos/entrevistados, considerando que, para a maioria, essa era a condição para realizar a
entrevista e
poder
citarno
texto aquiloque
cadaum
efetivamente pensa sobre as questõesem
discussão.
Desse
modo,
as entrevistasnão obedeceram
aum
modelo
formal,com
questõesfechadas; a preocupação era,
também,
observarcomo
a discussão fluíaem
tomo
daquiloque
estava
em
pauta a cadamomento.
Concluo
este trabalhocom
algumas consideraçõesque
resultamda
minha
leitura acercado
modo como
se organizam os trabalhadoresem
educação de Santa Catarina e das possibilidadesCAPÍTULO
I
/.../
a
ciência éuma
categoria histórica,um
movimento
em
contínua
evolução. /.../o
que
interessaà
ciêncianão
é tanto
a
objetividadedo
realquanto o
homem
que
elabora
seusmétodos
de
pesquisa,que
retifcacontinuamente os seus
instrumentos materiaisque
reforçam
osórgãos
sensoriais e os instrumentos lógicos/.../
de discriminação
ede
verificação, isto é,a
cultura,a
concepção do mundo,
a
relação entreo
homem
ea
realidadecom
a
mediação
da
tecnologia.24
DE
ALISC
A
SINTE:
O MOVIMENTO
DOS
TRABALHADORES
EM
EDUCAÇÃO
DE
SANTA
CATARINA
1.
DE
ALISC
A
s1NTEz
A
TRANSIÇÃO
1.1.
Momentos
que
constituem
a
históriada
ALISC_
A
Associação dos Licenciados de Santa Catarina -ALISC
- se constituicomo
organismoda
sociedade civil, na década de sessenta,com
o intuito de organizar os professores licenciadosem
tomo
do
reconhecimentode
sua profissionalização por partedo governo
do
Estado* .O
contexto histórico,no
qualemerge
esta associação, écomplexo
para os subalternos“ e suas organizações:o
Brasil movimentava-se sob ocomando
da
ditadura militar e o silênciodaqueles
que
seopunham
ao
arbítrio era decretado através de múltiplosmecanismos
de dominação. Nestemomento,
é a coerção que vai falar mais alto.A
atuação daALISC
se direcionano
sentido demodificar
as relações de trabalho entreEstado
e profissionaisda
educação. Assim,"em
1972,pouco
mais de cinco centenas deprofessores licenciados (...) ingressaram na justiça
do
trabalhocom uma
açãoque
contestava aforma
de contratação dos licenciados pelo Estado.O
julgamento deuganho de
causa aos professores” .Não
encerrou, porém, a luta política pelo reconhecimentoda
profissão.1
Segundo
AURAS,
na década de 60,um
grupo de professores criou a ALISC, visando o reconhecimento e avalorização do professor licenciado, já que o concurso até então se restringia ao docente da escola primária e o
trabalho do licenciado não era reconhecido pelo vinculo empregatício por parte do Estado.
Os
professores licenciados eram remunerados por aulas efetivamente ministradas e somente no final da década de 70 é que o Estado vai realizar o primeiro concurso público para professores licenciados, garantindo o vinculo empregatícioentre o Estado e os professores das quatro últimas séries do 1° grau. (1991: 342).
2. Por subaltemos entende-se aqui aquelas camadas da população que são exploradas economicamente, as parcelas dominadas ideologicamente e excluídas econômica e politicamente das esferas predominantes de poder, que norteiam o processo social.
A
subalternidade éuma
expressão muito cara para Gramsci e, pelo seu caráterpolitico, não expressa protecionismo ou condição de inferioridade. Ver
GRAMSCI
(l989a e 1987) e tambémMARTINS
(1989: 97-137). 3. Marli Auras, op. cit., p.342.25
Não
obstante os limitesou
insuficiências de suas estratégias, é importante ressaltarque
aALISC
se constitui, fundamentalmente, pela negaçãoda figura do
professor designado' , alijadomais
do que
os outros, de sua condição de profissionalda
educação.Após
a realizaçãodo
primeiro concurso público
no
finalda
década de 70,permanece
um
quadro
significativode
professores designados, licenciados
ou
não.Os
profissionaisque
eram
licenciados, através da Lei n°6032
de 17/02/83que
norrnatizao
regime jurídico dos servidores Admitidosem
CaráterTemporário
(ACTs)
-novo
nome
atribuídoaos designados -
no
Magistério Público Estadual, estavam aptos para nele ingressarsem
concurso público, desde
que
estivessemem
exercíciono
magistério por cinco anos ininterruptosou
dez anos intercalados,que
ocupassem vaga
excedente eque
tivessemuma
jomada
de
trabalhode
no
mínimo 20
horas semanais.Com
isso, naquelemomento, o
Estado veta legalmente o ingressode
novos
profissionaisao
magistério público e exime os então designados
do
critério da competência exigidona
seleçãopor concurso, ainda que esta competência possa ter
um
caráter de certa arbitrariedadequando
mensurada
em
processos seletivos tradicionais.Os
concursos existem, enão
se tem, ainda, muitaexperiência de
como
promover
demodo
alternativo a seleção,quando
esta é indispensável.De
acordocom
o
artigo34 da
referida Lei, anualmente a Secretariada
Educação
efetivaria essa práticaque
prevaleceu até apromulgação da
atual Constituição, a partirdo que
se impediuo
acesso ao serviço públicosem
a realização de concursos de provas e títuloss _Essa configuração - designado - não era e não é "privilégio" de Santa Catarina.
Sua
presença integrava e ainda integra os quadros da educação pública
no
Brasil, diferenciando-seapenas nos rótulos: complementaristas, recibados, substitutos, provisórios, admitidos
em
caráter temporário.Enfim,
constituem os "bóias-frias da educação esco1arizada"° .Em
resposta à solicitaçãodo
governador JorgeBomhausen, que
queriaum
estudo sobrealtemativas de vínculos empregatícios para os designados,
o
então Secretárioda
Educação, Antero Nercolini,encaminhou
em
15/12/81,uma
análise realizadacom
a participação deJoão
Carlos Kurtz (Procurador Geraldo
Estado), LaerteRamos
Vieira (Consultor Geraldo
Estado) e4.
O
professor contratado por aula dada, por periodo determinado, sem direito a usufruir os beneficios docargo efetivo, era identiñeado como professor designado, pelo Estado.
5. Pelo dispositivo da Lei 6032,
em
1983 foram efetivados 499 professores que preenehiam todos os seusrequisitos - 4,5% -, dentre os 10.170 que atufavarn no magistério público estadual. Dos 531 inscritos para o
ingresso, 322 eram professores
com
habilitação para atuar de 1” a 4” séries; 95 para atuar de 5° a 8° série e 114com
licenciatura plena, podendo atuar no 1° e 2° graus.De
acordocom
omesmo
relatório, "este é o segundo anoem
que o Ingressoem
referência é efetivado". Relatório da Secretaria de Educação. Ingresso no quadro de pessoal civil da administração direta -grupo docente. Florianópolis, 1983, s/pg.6
26
Antonio
Hemique
Bulcão Viana (Secretárioda
Administração),além
de alguns assessoresda
própria Secretaria da Educação.
Nessa
análise, a comissão opta pela "adoçãodo
regimeda
lei especial", excluindo outrosregimes
como,
por exemplo, o celetista(amparado
pela Consolidação das Leisdo
Trabalho -CLT),
justificando-acom
osargumentos
abaixo:"As
razões fundamentaisque
culminaram na exclusãodo
regime celetistacomo
altemativa, estão consubstanciadas nos seguintes argumentos:1.
Perda do
poder de império,ficando o
Estado equiparado aoempregador
comum
esujeito às imposições legais e à bilateralidade dos ajustes;
4. Necessidade de redução
do
atual valor/aula para manter a equiparaçãocom
o
professor efetivo, face os acréscimos decorrentesdo
repouso semanal edo
13° salário;5. Elevação dos custos, principalmente
com
o
FGTS
(Fundo
de Garantiapor
Tempo
de
Serviço), ~
6. Dificuldades
na
aplicação ao magistério público de alguns dispositivosda
CLT,
de
cunho
eminentemente privado, taiscomo:
_a) jornada de trabalho de
4
aulas consecutivasou
6 intercaladas;b) alteração contratual
somente
pormútuo
consentimento esem
prejuizodo empregado;
c) proibição de alteração
do
horário de trabalho..
Outro argumento que
influenciou a decisãodo grupo
foio
aspecto financeiro.O
projetoda
nova
lei especial não traz repercussõesna
folha de pessoaldo
Estado, salvo quanto ao custodo
professor substituto habilitado '" .
Como
se vê, a grande preocupaçãodo
Estado paracom
estes profissionais centra-seno
aspecto financeiro,no
quanto custauma
medida
ou
outra para amenizar as pressões advindasdo
movimento
dos trabalhadoresem
educação, queexigem o
reconhecimentoda
sua profissão.Um
Estado
que
defende interesses específicos,mesmo
que buscando sempre
convencer as maioriasdo
contrário, vai se posicionar demodo
a nãocomprometer
seus objetivos maiores.Ainda
em
1992,
de
acordocom
a Secretariada
Educação, os professores admitidosem
caráter temporário7. Esses dados foram selecionados do "Relatório da Comissão" especialmente constituida para estudos das
alternativas de vínculo empregatício para os professores substitutos e designados, encontrado nos arquivos da
Secretaria de Estado da Educação. Este Relatório faz parte de outros documentos que são considerados pela
instituição, como sendo de caráter restritivo.
Alguns dados apresentados são precários e contraditórios quanto aos números e informações encontradas nas
fontes. Segtmdo esse