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De contador a professor: a trajetória da docência no ensino superior de contabilidade

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

De Contador a Professor:

A trajetória da docência no ensino superior de contabilidade

MARCOS LAFFIN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

De Contador a Professor:

A trajetória da docência no ensino superior de contabilidade

Tese submetida como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção, à comissão examinadora da Universidade Federal de Santa Catarina, sob orientação da Professora Dra. Maria Ester Menegasso.

MARCOS LAFFIN

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MARCOS LAFFIN

De Contador a Professor:

A trajetória da docência no ensino superior de contabilidade

Esta tese de Doutorado foi examinada e julgada adequada para a obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção e aprovada na sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina.

Prof. Ricardo Miranda Barcia, Ph.D

Coordenador do PPGEP/UFSC

Profa. Maria Ester Menegasso, Dra.

Orientadora – UFSC

Profa. Acacia Zeneida Kuenzer, Dra.

Examinadora – UFPR

Profa. Regina Panceri, Dra.

Moderadora – UNISUL

Prof. José Francisco Salm, Ph.D

Examinador – UDESC

Prof. Altair Borgert, Dr.

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VERSOS DE ORGULHO

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços ...

- são os teus abraços dentro dos meus braços,

- Via Láctea fechando o Infinito.

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DEDICATÓRIA

Este trabalho carinhosamente se endereça e se entrega sem mistérios para:

Hermínia, minha mulher

Adriana, Nathália, Gustavo, meus filhos

sempre presentes e em múltiplas gentilezas e afagos foram inseparáveis e irrenunciáveis na construção desta tese.

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AGRADECIMENTO

O mundo da generosidade é o mundo da condição humana que em diferentes gestos envolve-se também de ciência.

Neste mundo polissêmico e polifônico ancoramos referências que manifestam preferências e estas exprimem significados.

Muitas pessoas me cercam e algumas eu cerquei. Essas pessoas circunscrevem um percurso e se faz necessário nomeá-las porque fizeram sentidos e significados.

Professores e Professoras que participaram da pesquisa Departamento de Ciências Contábeis da UFSC

Maria Herminia José Francisco Salm Maria Ester Menegasso Acacia Zeneida Kuenzer

Bernadete Pasold César Luiz Pasold

Altair Borgert Menga Lüdke

Beatriz Bittencourt Collere Hanff Diana Carvalho de Carvalho

Mara Cristina Fischer Rese Leia Mayer

João Wanderley Geraldi Andréa Knabem Dúnia de Freitas Enise Barth Teixeira

Regina Panceri

Valdir Machado Valadão Junior Maria Cristina Itokazu

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo compreender os fundamentos epistemológicos da organização do trabalho do professor de contabilidade no ensino superior. Para alcançar esse propósito caracterizo a sua trajetória de formação e a sua inserção no trabalho docente, assim como identifico as concepções epistemológicas e categorias metodológicas do seu trabalho no ensino superior de Ciências Contábeis. A questão central da tese buscou caracterizar quais são os componentes epistemológicos do processo de ensino que organizam o trabalho do professor de contabilidade no ensino superior. Para responder a essa questão decidi pela abordagem qualitativa, mediante a qual tomo como referência os princípios explicativos de Homem e Trabalho. Por meio desse eixo teórico enfatizo a constituição do sujeito e a sua condição humana através de suas relações sociais, históricas e culturais, declarando assim sua possibilidade omnilateral. A construção da pesquisa empírica foi realizada em 04 (quatro) Instituições de ensino superior, com 28 (vinte e oito) professores. Todos os professores pesquisados possuem graduação em Ciências Contábeis e desenvolvem as atividades no ensino superior em disciplinas do curso de Ciências Contábeis. Ao concluir o estudo sobre o trabalho do professor de contabilidade no ensino superior, afirmo que ensinar exige responsabilidade porque, para além do domínio de conteúdos específicos e de saberes de formação humana, assim como de métodos adequados a promover essas apropriações no contexto no qual está inserido, é preciso insistir na solidariedade humana, na preservação do mundo humano. Essa sensibilidade coletiva será visível nas atividades do professor de contabilidade quando, em seu trabalho, configurar-se um entendimento crítico e emancipatório da categoria trabalho.

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ABSTRACT

The present study had as its aim to understand the epistemological foundations of the organization of the Accounting professor´s work at the university level. In order to achieve its goal, the professors´educational trajectory and their introduction to the teaching profession were characterized. The epistemological conceptions and the methodological categories of the teaching process that organize the Accounting professor´s work were also identified. The central issue of this doctoral dissertation consisted in defining the epistemological components of the teaching process which organize the Accounting professor´s work. In order to respond to that issue the qualitative approach was adopted, and the explaining principles of Man and Labor were taken as reference. From this theoretical axis, the importance of social, historical and cultural relationships in the constitution of the subject and his/her human condition was emphasized as well as his/her multifarious possibilities. The empirical research was undertaken at four universities, encompassing 28 (twenty-eight) professors. All the professors involved in it have a Bachelor´s Degree in Accounting and teach Accounting subjects. The present work leads to the conclusion that the teaching of Accounting at the university level demands responsibility because, besides the competence in specific fields and knowledge of the human development, without discarding the capacity to use convenient methods in order to enable students to achieve the required competence, it is necessary to insist on human solidarity and on the preservation of the human world. Such a collective sensitiveness will become visible in the Accounting professor´s activities when his work is imbued with a critical and emancipating understanding ot the Labor category.

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RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo comprender los fundamentos epistemológicos de la organización del trabajo del profesor de contabilidad en la enseñanza superior. Para alcanzar este propósito se caracterizaron su trayectoria de formación y su inserción en el trabajo docente así como también se identificaron las concepciones epistemológicas y las categorías metodológicas de su trabajo en la enseñanza superior de las Ciencias Contables. La cuestión central de la tesis buscó caracterizar cuáles son los componentes epistemológicos del proceso de enseñanza que organizan el trabajo del profesor de contabilidad en la enseñanza superior. Para responder a esta cuestión se optó por el enfoque cualitativo mediante el cual se tomó como referencia los principios explicativos de Hombre y Trabajo. Por medio de este eje teórico se enfatizó la constitución del sujeto y su condición humana a través de sus relaciones sociales, históricas y culturales declarando de esta manera su posibilidad omnilateral. La construcción de la investigación empírica fue realizada en 04 (cuatro) instituciones de enseñanza superior con 28 (veintiocho) profesores. Todos los profesores consultados para esta pesquisa son licenciados en Ciencias Contables y ejercen actividades en la enseñanza superior en cátedras de la carrera de Ciencias Contables. Al concluir este estudio sobre el trabajo del profesor de contabilidad en la enseñanza superior, se afirma que enseñar exige responsabilidad porque, más allá del dominio de contenidos específicos y de conocimientos profundos de formación humana y de métodos adecuados para promover esas apropiaciones en el contexto en el cual está inserido, es necesario insistir en la solidaridad humana y en la preservación del mundo humano. Esta sensibilidad colectiva será visible en las actividades del profesor de contabilidad cuando, en su trabajo, se configure un entendimiento crítico y emancipatorio de la categoría trabajo.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTO... vi

RESUMO ... vii

ABSTRACT ... viii

RESUMEN... ix

LISTA DE FIGURAS... xii

1 INTRODUÇÃO... 1

1.1 Exposição do Assunto ... 1

1.2 Discussão do tema e do problema... 4

1.3 Justificativa para a escolha do tema ... 13

1.3.1 O Contador nas Organizações: um novo contexto ... 13

1.3.2 Novas Exigências para o Contador: as bases na formação do professor de contabilidade ... 20

1.4 Relevância e originalidade desta tese... 25

1.5 Metodologia de Construção da Tese ... 28

1.5.1 Pressupostos da Pesquisa... 28

1.5.2 Delimitação do Estudo ... 30

1.5.3 Os sujeitos da Pesquisa ... 30

1.5.4 Os Instrumentos e o Local da Pesquisa ... 31

1.5.5 Limites da Tese... 35

2 O HOMEM E O TRABALHO: concepções e relações sociais... 36

2.1 A Condição Humana ... 36

2.1.1 O homem: da transgressão do instinto para o ser de reflexão... 36

2.1.2 Uma possibilidade do compreender-se humano... 38

2.1.3 A cultura do gênero humano... 41

2.1.4 A multidimensionalidade do gênero humano ... 42

2.1.5 O homem como território do mundo humano... 45

2.2 O Trabalho como Produto Humano ... 48

2.2.1 O Trabalho e o complexo desafio de produzir-se humano... 48

2.2.2 O trabalho na realidade presente: apreensão de alguns elementos constitutivos 50 2.2.3 A produção flexível: um novo colapso para o trabalho ... 53

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2.3.1 Metamorfoses e desafios exaurindo fronteiras ... 61

3 O CONHECIMENTO CONTÁBIL E A LEGISLAÇÃO DO ENSINO... 67

3.1 A contabilidade na legislação do ensino comercial ... 71

3.2 Alguns aspectos intervenientes no currículo do curso superior de Ciências Contábeis 80 4 O CONTADOR QUE FORMA O PROFESSOR DE CONTABILIDADE... 92

4.1 Perfil do universo pesquisado... 92

4.2 Circunstâncias de o contador vir a ser professor de contabilidade ... 97

4.3 A formação do professor de contabilidade... 112

4.4 Significados de ser professor de contabilidade no ensino superior ... 121

5 A PRÁTICA DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR DE CONTABILIDADE ... 135

5.1 Concepções sobre ensino e aprendizagem ... 135

5.2 Componentes da organização do trabalho do professor de contabilidade ... 150

6 CONCLUSÕES ... 175

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Participantes da pesquisa ... 31

Figura 2: Disciplinas Obrigatórias e Eletivas... 83

Figura 3: Conhecimento de formação profissional... 84

Figura 4: Conhecimento de formação profissional... 84

Figura 5: Idade... 93

Figura 6: Tempo de Formado... 94

Figura 7: Tempo de trabalho no ensino superior de contabilidade ... 94

Figura 8: Formação... 95

Figura 9: Tempo de trabalho no ensino superior de contabilidade ... 110

Figura 10: Itens necessários à formação profissional do professor ... 114

Figura 11: Habilidade de ensino... 125

Figura 12: Recursos utilizados nas aulas teóricas e práticas... 137

Figura 13: Concepção dos componentes do processo ensino-aprendizagem... 149

Figura 14: Atividades conjuntas dos professores. ... 165

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1.1 Exposição do Assunto

O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos (MORIN, 2000, p.15)

O contexto sócio-político-econômico e cultural no qual a sociedade contemporânea assenta suas ações encontra-se complexificado de incertezas e de provisoriedades em face da emergência de novos conhecimentos e novos procedimentos do homem, os quais se intensificam e acabam por afetar o conjunto da sociedade humana. No conjunto complexo das relações humanas é preciso ressignificar o homem em sua condição humana para que, no contexto da sua condição, seja possível enfrentar o desafio que se coloca a todas as instituições, ao mesmo tempo em que se coloca a todos os homens.

Na identidade desse contexto, as organizações buscam reorganizar suas estruturas tanto de gestão quanto produtivas por meio da coesão organizacional. No entanto, para essa reorganização, faz-se necessário superar o entendimento reducionista do homem concebido apenas como técnico na organização. As variáveis de incertezas e novos conhecimentos requerem a inclusão da totalidade do homem na organização para que este possa contribuir e se constituir em sua multidimensionalidade. Integrar o homem no espaço da organização, na busca do significado pleno, ultrapassa os limites de uma disciplina na educação, mas requer a consciência de produzir o ser unidade.

Assim, na conexão dos diversos microssitemas da estrutura organizacional, a contabilidade, como uma área do conhecimento que lida com o objeto patrimonial em âmbito econômico e financeiro, deve integrar-se de forma substancial à dinâmica organizacional, contribuindo para a proposição de alternativas, para a competitividade e para a continuidade da organização na realização de sua missão. Também nesse contexto faz-se necessária a revisão dos pressupostos teóricos que orientam a dinâmica organizacional, na busca de superar modelos rígidos e insubstanciais na relação capital-trabalho.

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Dessa forma, para resolver situações-problemas no âmbito das organizações, transformando-as em situações de criatividade e assim viabilizar respostas às exigências imediatas e também de longo prazo, como também de, simultaneamente, otimizar e incorporar conhecimentos ao produto de sua atividade, é preciso uma nova concepção de sujeito na organização da vida associada. Nesse sentido, ao se requerer do profissional da contabilidade um entendimento amplo do contexto social em que se insere, bem como da concepção de mundo que assume na produção de seu trabalho, faz-se necessário instrumentalizá-lo nas condições concretas de sua existência. Por conseguinte, ao articular o conjunto dessas relações e ao compreender tais condições, o profissional da contabilidade poderá realizar nas múltiplas dimensões do seu trabalho o processo inesgotável de constituição do homem também como sujeito histórico.

O processo de apropriação e construção de novos conhecimentos para desenvolver novas práticas sociais tem evidenciado a discussão do tema da formação nas mais diferentes áreas da produção humana. Os procedimentos de especialização para alguns tipos de trabalho têm se constituído como indispensáveis para o exercício da atividade e se configurado como formação continuada.

No âmbito do ensino superior de Ciências Contábeis, cujo currículo, estabelecido pela Resolução 03/92 do CFE, está organizado predominantemente com as contribuições dos conhecimentos das ciências sócio-econômicas, os problemas mais amplos do mundo real são sublimados, ficando circunscritos à reflexão e à resolução de problemas somente no que se refere aos aspectos imediatos à organização. Esse fato tem contribuído para inibir a reflexão da ação no cotidiano da atividade de ensino, não favorecendo a articulação desses conhecimentos com o conjunto das relações sociais. As questões didático-pedagógicas, como preocupações teórico-práticas que possibilitam a reflexão das ações do dia-a-dia no processo ensino-aprendizagem, ainda não são tomadas como fundamentais nesta área de ensino. Neste contexto, as teorias da educação, assim como as contribuições da sociologia, da psicologia e da filosofia apresentam-se como descoladas da realidade da formação do professor de contabilidade. Este fato, a ser evidenciado pela pesquisa, contribui para que a sua percepção de mundo, de sujeito e do fenômeno educativo fique restrita ao conjunto dos limites de sua formação. As contribuições das ciências humanas são vistas por estes, na maioria das vezes, de forma desintegrada da análise dos fenômenos sociais.

Nas últimas décadas, marcadas sobretudo pela internacionalização da economia, as organizações estão restringindo a ocupação de cargos e funções à formação especializada, exigindo competências e habilidades para as mais diferentes atividades. Mediante essas

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constatações, este estudo, ao discutir a formação do professor de contabilidade, poderá contribuir para a visualização do ensino da contabilidade como mediador entre a nova base da realidade social e as exigências de profissionais especializados para atuarem na gestão dos negócios da organização, assim como na operacionalização da produção de bens e serviços.

Em nossa cultura, a formação e a especialização do bacharel em ciências contábeis são certificadas pelo processo de escolarização. Assim, ao educar o cidadão, princípio primeiro da universidade, esta deveria nortear também as relações de proximidade entre as necessidades do contexto social e a construção de conhecimentos para práticas sociais de inclusão. No entanto, a inter-relação entre educação e trabalho na área da contabilidade muitas vezes tem se restringido à transmissão dos conhecimentos contábeis com ênfase no tecnicismo associado aos conteúdos mecanicistas, moldando a formação do profissional da contabilidade nos moldes da racionalidade técnica.

Refletir sobre o trabalho do professor de contabilidade como atividade social implica o comprometimento com a melhoria desse nível de ensino. Requer, ainda, reconhecer o percurso dessa formação visando contribuir para uma trajetória de vida pessoal e profissional que identifique o professor como sujeito de saberes que o constitua pelo estatuto da profissão de professor, compreendendo-se como sujeito de intervenção e, dialeticamente, como capaz de repensar-se e de refazer-se, o que é próprio da incompletude da natureza humana, na parcialidade dos seus saberes.

A formação do professor de contabilidade implica, portanto, a dimensão e a proposição de práticas pedagógicas com caráter inovador que permitam a apropriação do seu trabalho por meio da reflexão das suas ações. Reflexão que possibilitará a reconstituição de teorias e práticas, associando-as aos procedimentos de crítica, criatividade e autonomia na apreensão da realidade circundante, para a promoção de uma educação entendida como prática social no contexto dos arranjos sociais que se efetivam. Não se cogita o afastamento da formação técnica específica; pelo contrário, supõe-se agregar a esses fundamentos um referencial mais amplo para a formação do contador. Logo, discutir a formação do professor de contabilidade implica detectar os atuais problemas nos quais o conhecimento contábil exerce fator de responsabilidade social como participante na busca de alternativas.

Assim, a formação do professor de contabilidade deverá articular o que é próprio da função docente com a realidade do trabalho da contabilidade, possibilitando que situações de trabalho se convertam simultaneamente em situações de formação. Tais articulações deverão tornar possível a extensão das dimensões da gestão do conhecimento contábil para abranger as mudanças que ocorrem em contextos históricos.

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Dessa forma configura-se a natureza substancial da função do professor de contabilidade - a de ensinar - por meio dos atributos essenciais do conhecimento contábil, como uma prática social de intervenção, cujas ações em favor da ética serão fortalecidas e influenciadas pela apropriação humanizadora da cultura e do contexto histórico no qual estas se inserem.

1.2 Discussão do tema e do problema

No contexto atual, qual o significado de discutir e estudar a formação do professor de contabilidade?

Quando dizemos professor, estamos dizendo profissão, atividade, trabalho, e quando dizemos formação do professor, pensamos a profissão, a atividade, o trabalho, os sujeitos.

Marx disse que, transformando o mundo, os homens se transformam a si mesmos. Não modificaremos substancialmente o seu pensamento se alterarmos a sua frase e afirmarmos agora que não podemos transformar o mundo se, ao mesmo tempo, não nos transformarmos a nós mesmos (HELLER, 1992, p.117).

A questão, na atualidade, parece requerer um novo sentido para a transformação de nós mesmos como pertencentes ao gênero humano. A percepção de que o homem não é ou isto ou aquilo nos remete a sua origem, à antropologia cultural já discutida pelos filósofos da antigüidade: o homem é monista. Ao assumirmos essa perspectiva, afirmamos que o homem, na sua unidade, constitui a sua multidimensionalidade. Nesse entendimento, pensar a formação do professor de contabilidade é pensar o sujeito, a realidade do seu trabalho, as suas condições materiais e subjetivas, a sua individualidade, todo o seu contexto, enfim, a história de sua constituição num mundo transitório.

A vida do ser humano contemporâneo situa-se num universo complexo. Questões da sua subjetividade particular e coletiva, tal qual a sua origem e o seu destino, complexificam a sua constituição objetiva. Cada ser humano é único e precisa ser compreendido em sua unicidade, que se forma através de uma construção histórica e coletiva e que se faz na sua individualidade e na sua identidade dialética relativizada na sociedade que o constituiu.

O existir do ser humano, no dia-a-dia das suas relações sociais, está contextualizado em uma sociedade que contém situações adversas à sua natureza. Em suas diferentes ações, esse ser genérico não se separa de seu pensamento, das suas crenças, dos seus saberes. Esse ser, que em essência é maior do que seu contexto, necessita ser compreendido para além de

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sua natureza social. Entendê-lo apenas como ser social significa, no modelo da sociedade vigente, reduzi-lo às condições materiais de sua existência. No âmbito da materialidade, o ser humano busca circunscrever sua identidade à posse das suas condições, que constituem a sua multidimensionalidade. Uma dessas dimensões está configurada no seu trabalho, nas suas atividades, na sua ocupação, e é por meio delas que, em diferentes práticas sociais, busca sempre processos de interação com outros sujeitos e com outros saberes.

Ao discutir a formação do professor de contabilidade, não estamos nos referindo a algo não existente, não estamos abstraindo uma realidade para pensar sua concretude, estamos compreendendo-o como ser genérico que sofre as influências do ambiente e ao mesmo tempo em que o modifica alterando as suas relações em busca de significados para sua vida. Significados atingidos pelo

acesso a um saber que lhe permita, por um lado, conhecer as relações sociais que determinam seu modo de vida, sua concepção de mundo, sua consciência e, por outro, participar ativamente do processo de construção da sociedade através do trabalho e da participação política (KUENZER, 1988, p. 105). O trabalho é uma das dimensões que permitem ao homem conhecer as relações sociais que interferem na constituição de sua consciência.

Na atualidade, a problemática mais instigante que faz o ser humano perder a sincronia com a sua realidade imediata - a maneira de prover a sua existência - decorre do avanço da ciência que se instala no mundo produtivo, provocando não apenas a perda da sua estabilidade subjetiva-e-material, mas também a expansão da sociedade marginalizada pela suspensão dos direitos humanos conquistados através de lutas históricas. Neste contexto complexo e de insegurança social estão os avanços dos meios de comunicação, que podem gerar constantes mudanças na aplicação do capital financeiro em diferentes nações. Os processos microeletrônicos e novas bases tecnológicas alteraram substancialmente os processos produtivos, trazendo exigências de novos conhecimentos e competências para a vida produtiva. As descobertas de base microbiogenética submetem as crenças e valores a novos modelos de homem e de ética humana. O conjunto dessas transformações e a rapidez com que ocorrem produzem enormes conseqüências na vida humana individual e coletivamente.

É preciso, todavia, relativizar os conhecimentos produzidos pela ciência no que concerne à muldimensionalidade do ser humano, uma vez que hoje é transferida para a ciência a condução das condições de vida da sociedade. Essa situação decorre em função de que

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encontramo-nos num estágio da evolução histórica em que são desqualificados os saberes não científicos e não técnicos; o poder e a autonomia da ciência já se encontram tão bem assegurados que ela procura até mesmo erigir-se em juiz de moral (JAPIASSU, 1991, p. 13).

A compreensão do conhecimento, de como ele é produzido, a quem se destina e a maneira como é socializado, bem como as mudanças que provoca na vida das pessoas devem constituir procedimentos de análise crítica nas ações do professor de contabilidade, pois a concepção que ele tem do conhecimento ultrapassa o âmbito da aula e dos conteúdos contábeis específicos e vai interferir na constituição de sujeitos e de subjetividades humanas.

Essas revoluções no conhecimento, nas formas de compreendê-lo e nas maneiras de produzi-lo contribuíram para indiciar o surgimento de novos paradigmas científicos e permitir que a ciência moderna, ao romper com as verdades absolutas, abra perspectivas de novas alternativas para intervenções no real e na busca de respostas aos desafios e dicotomias da própria ciência. Contudo, o desenvolvimento das ciências traz consigo a contradição dos seus processos que atinge de forma imediata a condição humana. É para essas contradições, que se configuram, na forma de dificuldades de organização do trabalho e conseqüente perda de consciência dos direitos sociais colocados pelo novo paradigma técnico-científico, que se fazem necessárias alternativas de não neutralidade para a inclusão do ser humano nesse universo complexificado.

As bases tecnológicas da nova produtividade, ao serem implantadas no mundo produtivo, além de alterarem o universo do trabalho, modificam as políticas públicas, econômicas, sociais e culturais da sociedade, trazendo em seu bojo exigências de novos conhecimentos e novas competências para os objetivos da natureza imediata do ser humano.

Por conseguinte, a continuidade da reflexão, da ação e da participação na superação dos desafios da exclusão que concentramos na perspectiva da formação do professor de contabilidade possibilita um movimento de transformação da realidade a partir da sua consciência de mudança. O sentido da modificação está, portanto, no sentido da mudança própria do ser e de relativizar o mundo, que pode ser desenvolvido com base no pressuposto do bem comum e

no contexto de movimentos de educadores, entendidos como forças ativas, mobilizadoras de práticas e idéias. Coletivos que busquem em sua própria prática profissional dar sentido ao seu trabalho, expressar publicamente tais motivações e as formas pelas quais o ensino escolar se encontra preso em conflitos que nem sempre são educativos, ainda que se protejam sobre o ensino (CONTRERAS, 1999, p. 97).

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Compreender as mudanças e ao mesmo tempo incorporá-las criticamente para dar sentido ao seu trabalho pressupõe a formação do professor de contabilidade para além das exigências do domínio das técnicas do saber contábil. Ele precisa saber relacioná-las no contexto de constituição de múltiplos sujeitos por meio de sua prática profissional de ensino.

As exigências de qualificação para o trabalho implicam novos processos de formação do ser humano, uma vez que exigem novos conhecimentos, novas competências e habilidades para gerir programas, processos e tecnologias, assim como para administrar a nova base produtiva. Também as mudanças nas políticas econômicas alteram significativamente a vida produtiva e as condições sociais e culturais, requerendo das instituições a compreensão dos fatores que interferem e concorrem para produzir mudanças em suas formas de organização e na legitimidade da formação do ser humano.

Na sociedade atual, as universidades, também entendidas como instituições culturais de formação, não promovem um processo de ensino e de formação para atender às demandas da sociedade e de novos conhecimentos com a mesma intensidade e rapidez das mudanças do mundo moderno e objetivo. Não obstante, não ignoramos que os contextos atuais da sociedade são demarcados por sua centralização no mercado, condição que implica determinantes na multidimensionalidade do ser humano e isto nos impõe dizer que não nos pertence apenas essa denúncia, mas também o estudo de alternativas possíveis, sobre como lidar com os conhecimentos e com os diferentes processos democráticos que contemplem a inclusão do ser humano no seu universo histórico e em sua multidimensionalidade.

A educação, como uma instância cultural, busca inserir o sujeito no processo de apropriação da cultura humana. Assim, na sua existência, os sujeitos transmitem os seus costumes, as suas normas, as suas crenças e os seus valores para o convívio social. Como construção cultural, a educação escolar objetiva, por processos de ensino-aprendizagem, transmitir ao ser humano conhecimentos sistematizados para que, de posse dos mesmos, constitua-se em sujeito histórico e cultural.

No espaço social da instituição escolar, os conhecimentos produzidos pela ciência são recortados como saberes escolares e, ao serem convertidos em disciplinas ou programas de ensino, assumem-se como uma maneira de transmissão dessa produção. Os conhecimentos são repassados no interior da universidade como conteúdos curriculares, que, por sua vez, são transferidos para a prática pedagógica configurando objetivos do trabalho docente. O reconhecimento desses fatos implica intervenções através de estudos e pesquisas para que os conhecimentos produzidos pela humanidade fortaleçam a sua existência e garantam ao ser

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humano um processo de apropriação das transformações que ocorrem no mundo e que se corporificam em novos conhecimentos e novas exigências.

O espaço institucional não pode ser visto apenas como um espaço de rigor acadêmico, de conhecimento científico, de espaço pronto e acabado. O espaço institucional deve constituir-se, também, por meio da prática e da ação do professor, como um espaço para o sonho, para a utopia, porque o espaço do sonho e da utopia é o espaço fértil para o novo, para a concretização do que é sonho. É nesse espaço que se encontram as possibilidades do devir, do que ainda não é.

O sonho pela humanização, cuja concretização é sempre processo, e sempre devir, passa pela ruptura das amarras reais, concretas, de ordem econômica, política, social, ideológica, etc., que nos estão condenando à desumanização. O sonho é assim uma exigência ou uma condição que se vem fazendo permanente na história que fazemos e que nos faz e re-faz. Nem uma nem outra, humanização e desumanização, são destino certo, dado, sina ou fardo (FREIRE, 1992, p. 99).

No horizonte político das rupturas e sem ser neutro na esperança, acredito que a apropriação de diferentes práticas de trabalho por parte do professor lhe permitirá formas de comunicação mais amplas entre as relações sociais e o conhecimento contábil.O professor, não sendo apenas alguém que executa as atividades de ensino, mas ao se constituir como sujeito histórico, faça a análise crítica e reflexiva de suas atividades, busque conhecer diferentes concepções do processo ensino-aprendizagem, e assim, capaz de apropriar-se, de sistematizar e de organizar uma concepção ampliada do conhecimento contábil e sua aplicabilidade, visualize novas alternativas de organização curricular. Práticas de trabalho diferentes da mera execução, ao serem concebidas e internalizadas pelo professor podem ampliar diferentes maneiras de lidar com o objeto, método e conteúdo de seu trabalho, e por conseguinte, na sua maneira de ser, de estar e de intervir no mundo humano que cotidianamente está sendo feito e refeito pela condição humana.

No campo das ciências e na sua divisão, a contabilidade, como um campo de conhecimentos, está classificada como uma ciência sócio-econômica. Essa classificação decorre de ter como objeto de trabalho e produção cultural o patrimônio das diferentes entidades. Os conhecimentos produzidos pela cultura contábil, suas práticas em atividades organizacionais e confluentes para a sociedade, são, invariavelmente, como nas demais áreas, convertidos em práticas escolares as quais são retransmitidas por processos de ensino-aprendizagem.

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A contabilidade, como área de saber, comporta teorias e técnicas nas quais possui domínio de competências construídas sobre seu objeto. Assim,

Uma disciplina pode ser definida como uma categoria organizadora do conhecimento científico: ela institui a divisão e a especialização do trabalho e responde à diversidade dos domínios que recobrem as ciências. Ainda que esteja englobada dentro de um conjunto científico mais vasto, uma disciplina tende naturalmente à autonomia pela delimitação de suas fronteiras, pela linguagem que ela constitui, pelas técnicas que ela é levada a elaborar ou a utilizar e, eventualmente, pelas teorias que lhe são próprias. Assim,é, por exemplo, com a biologia molecular, a ciência econômica ou a astrofísica (MORIN, 2000, p. 65-66).

No dia-a-dia, o saber contábil é manipulado por diferentes sujeitos a partir de diferentes atividades. O bacharel em Ciências Contábeis, que atua em atividades indiretas à contabilidade, possui um entendimento e lida com determinadas noções do conhecimento contábil na relação com a produção de suas atividades. O contador, que atua nas organizações públicas ou privadas e que desenvolve atividades diretamente ligadas à contabilidade, utiliza conhecimentos contábeis técnico-gerenciais mais abrangentes, que dão suporte às decisões organizacionais. Já o professor de contabilidade lida de forma diferente com o saber contábil, porque o produto do seu trabalho, que decorre, também, do conhecimento contábil, é diferente do produto de outras atividades que demandam conhecimentos da área.

Os trabalhos desenvolvidos pelos diferentes usuários da contabilidade perpassam por um delineamento e por uma execução passíveis de rotinas, de visualização em valor de uso e finalidade, como também da possibilidade de se reconhecerem naquilo que produziram.

Mas a educação não se resume à transmissão desses conhecimentos; uma pessoa de posse de tais instrumentos ainda não está apta a relacionar-se com o mundo e com a sociedade de maneira plena, autêntica e satisfatória: falta-lhe ainda uma postura diante da realidade, uma forma de utilizar esses aparelhos, uma personalidade definida (GALLO, 2000, p. 19).

Para educar na perspectiva da multidimensionalidade humana, o professor de contabilidade deverá conceber que suas ações devem ultrapassar os limites da transmissão de conteúdos contábeis e a sua relação com outras áreas do saber. A maneira como age em relação aos seus alunos no processo ensino-aprendizagem e o posicionamento que assume diante da realidade social são maneiras de manter em movimento sua concepção de mundo e de sujeito a que os alunos são chamados a participar, extrapolando o âmbito da aula e ampliando-se para as demais relações sociais.

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No entanto, para além desses aspectos delineados e de ser inquestionável o valor social da sua atividade, o que difere o professor de contabilidade dos demais usuários do conhecimento contábil é o tipo de trabalho que realiza: o trabalho pedagógico. O formato que assumem as atividades do professor de contabilidade é diferente daquele realizado pelo contador. Enquanto para o contador existe uma rotina de normas e aspectos legais, de procedimentos para registro e controle do patrimônio administrado, de um resultado objetivado decorrente de atos e fatos administrativos do contexto específico das organizações, para o professor de contabilidade, além de toda essa formatação do trabalho, existe ainda a formação do sujeito que irá reunir, num contexto específico e pela prática social, suas concepções de homem e de sociedade.

Para articular os diversos saberes que estruturam o trabalho do professor, no qual o processo de ensino configura-se como produto de seu trabalho, é preciso pensar, no âmbito da sociedade e do sistema de ensino superior, a prática pedagógica que será utilizada pelo professor de contabilidade.

Nessa tese, discutirei o trabalho do professor de contabilidade, buscando elementos para um processo de formação continuada que contribua para a reflexão e construção de uma prática pedagógica.

No caso do presente estudo, que tem como tema a formação do professor de contabilidade e a abordagem sobre as exigências no contexto de transformações, o enfoque da pesquisa está centrado no sujeito professor de contabilidade, decorrente do entendimento de ser ele o mediador entre os conhecimentos produzidos em sua área de atuação e a prática pedagógica determinada por um contexto histórico-social.

Nesse sentido, impõe-se ao professor de contabilidade, na organização da sua prática, fazer a opção por conteúdos, por métodos e por objetivos que pretende alcançar, sem o que não produzirá os conhecimentos sobre os quais fundamenta o seu trabalho. Dessa forma, o professor de contabilidade necessita ter uma compreensão epistemológica sobre conteúdos, métodos e objetivos, assim como das ações de intervenção para mediar a transformação social através do seu trabalho. Para essa transformação social o entendimento da categoria trabalho é fundamental para que a prática do professor de contabilidade explicite não apenas a maneira de lidar com o conhecimento de sua área, mas sobretudo com a sua concepção quanto à formação dos sujeitos e da sociedade que produzirá por meio de seu trabalho.

Assim, a prática pedagógica do professor de contabilidade, coerente com ações de responsabilidade social, precisa ser apropriada na categoria trabalho como uma atividade singular que esteja expressa nas relações sociais. Para tanto, essa prática requer ser

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compreendida e inserida no seu contexto para que se possa visualizar as possibilidades de intervenção, por meio da educação, em práticas pedagógicas e em seus processos de formação, face às necessidades de enfrentamento das mudanças globais e da contextualização histórica dos sujeitos.

Portanto, ao reiterar as diferentes formas de trabalho humano, assim como a sua dimensão nas organizações contemporâneas, e ao participar das discussões que buscam construir novos entendimentos e novas competências sobre o sujeito em seus diferentes contextos, apresento como substancial a formação do professor de contabilidade. Também essa formação busca configurar novo significado aos componentes do processo de ensino. Logo, as aprendizagens, os conteúdos, os métodos, o professor, o aluno, entre outros componentes constitutivos do ensino necessitam de um novo entendimento sobre seus objetivos na relação com o outro e na compreensão dessa relação.

No conjunto das reflexões desenvolvidas e na busca de respostas que fundamentem a organização do trabalho do professor de contabilidade, o meu estudo tem como questão norteadora caracterizar:

Quais são os componentes epistemológicos do processo de ensino que organizam o trabalho do professor de contabilidade no ensino superior?

Ao desenvolver as atividades de ensino, o professor mantém um diálogo com seus alunos e reflete criticamente sobre os conteúdos curriculares que seleciona. Esse diálogo pressupõe a manifestação, por parte dos alunos, de saberes prévios ou em vias de apropriação em relação aos conteúdos propostos pelos quais deve ocorrer a mediação do professor. O processo ensino-aprendizagem dos conhecimentos sistematizados não é algo pronto e natural, contido como semente em cada ser humano, mas um processo que se constitui de múltiplos componentes do conhecimento e seus vínculos com a condição humana. Nesse sentido, aquilo que é fundamental na composição de sistemas visando a explicar suas relações culturais, configuram-se como componentes epistemológicos do processo de ensino que organizam o trabalho do professor de contabilidade no ensino superior. Nesse estudo os componentes epistemológicos são o aluno, o professor, o currículo, as metodologias, o ensino, a aprendizagem, a avaliação, a universidade.

Portanto, para discutir a formação do professor de contabilidade, mediante a questão norteadora, parto do entendimento de que:

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o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, 1997, p. 17).

A identificação dos elementos culturais diz respeito aos conteúdos selecionados e como o professor os relaciona, de forma estática ou superada, com os conhecimentos historicamente produzidos. A seleção de conteúdos envolve a concepção que o professor tem do processo aprendizagem e sua concepção de sujeitos. Portanto, o ensino-aprendizagem e os alunos constituem-se como componentes do processo de ensino e que norteiam a organização da prática pedagógica do professor.

A prática pedagógica consiste em todas as ações que objetivam a aula, ações que definem uma postura política diante do mundo, dos sujeitos com os quais trabalha e dos conhecimentos que socializa. Saberes estes que assumem o caráter de desenvolver as habilidades e de formatar técnicas para executar alguma atividade. Entretanto, por meio dos conteúdos também é possível transmitir e construir valores éticos e de compreensão da vida e da constituição dos sujeitos para um desenho de sociedade que dê significados ao gênero humano.

As condições concretas de cada indivíduo deverão ser compreendidas pela ação educativa, que é direta e intencional, mediando a apropriação de elementos culturais produzidos pela coletividade. Por ser direta e intencional é que se configura a organização do trabalho do professor e suas ações no ensino.

Deste ponto de vista, tenho como objetivo geral neste estudo:

Compreender os fundamentos epistemológicos da organização do trabalho do professor de contabilidade no ensino superior.

A compreensão dos fundamentos do trabalho do professor de contabilidade tem como objetivos específicos (1) caracterizar a trajetória de formação e da sua inserção como professor de contabilidade no ensino superior; (2) identificar as concepções epistemológicas e as categorias metodológicas do trabalho pedagógico do professor de contabilidade no ensino superior.

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A proposição deste estudo fundamenta-se no fato de que, ao pensar alternativas de formação continuada para o professor de contabilidade, tal formação seja compreendida como elo entre educação e prática social no ensino superior e também pelo fato de que:

Os professores não produzem o conhecimento que são chamados a reproduzir, nem determinam as estratégias práticas de acção. Por isso, é muito importante analisar o significado da prática educativa e compreender as suas conseqüências no plano da formação de professores e do estatuto da profissão docente (NÓVOA, 1995, p. 68).

Ao propor este estudo, entendo que a atuação do professor de contabilidade deverá ocupar-se de um espaço no qual seja capaz de explicitar as maneiras como ensina e como relaciona os saberes com os quais trabalha com as demandas mais abrangentes da realidade social.

1.3 Justificativa para a escolha do tema

1.3.1 O Contador nas Organizações: um novo contexto

O universo sofre processos de mutação. Tais mudanças ocorrem pelo movimento próprio dos fenômenos da natureza, mas também pela intervenção do homem sobre a natureza. Os processos de mudança são, portanto, de caráter atemporal, quando relacionados à natureza, e têm o caráter de dimensões históricas, quando da intervenção do homem sobre a maneira de produzir e de organizar a sua vida.

No universo das organizações, uma maneira predominante e complexa, de o homem produzir e organizar a sua vida, o fenômeno de maior impacto que tem provocado mudanças em diferentes níveis é denominado globalização. A globalização pode ser considerada como uma totalidade de fenômenos colocados em movimento pela cultura da civilização humana e que, no estágio atual, assume a sua dimensão concreta através dos avanços tecnológicos, da estruturação política, do desvelamento de culturas, do ordenamento econômico e do agir social. Esses fenômenos sempre estiveram presentes na história da civilização humana; no entanto, o que os diferencia de outros contextos no estágio atual é a rapidez do impacto que causa sobre a vida das pessoas e das organizações.

No que se refere ao universo das organizações, os avanços e as mudanças caracterizam-se pelos instrumentos e maneiras de organizar a gestão administrativa e a gestão produtiva. As organizações que já atuavam com base em tecnologias necessitam agora, além

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da contínua implementação tecnológica, ampliar seu processo de gestão e produção com base em conhecimentos produzidos na era global de novos conhecimentos e de informações.

As organizações, no modelo de sociedade vigente, mais que permanecer no mercado global e concorrencial, precisam ser competitivas no ramo em que atuam para potencializar novas e exigentes demandas, não somente do universo consumidor, mas sobretudo das exigências do capitalismo, o que implica a constante manutenção dos itens de qualidade, custos e dos aspectos diferenciais em seus bens e serviços.

Dessa maneira, as novas formas de organizar a produção implicam conseqüentemente em novos desenhos organizacionais, entre os quais os modelos de organização e gestão do trabalho. Na contemporaneidade, os novos modelos de gestão do trabalho surgem das mudanças ocorridas na base técnica de produção. Mudanças que vão sendo articuladas com o conceito de internacionalização da economia e que, por sua vez, demandam novas estratégias de competitividade. No capitalismo, em especial na reestruturação produtiva, a articulação entre as formas de organização do trabalho e as novas tecnologias intensifica o uso da força de trabalho e desta forma ajuda a responder às novas demandas dos desenhos organizacionais modelados para a competitividade.

A característica da organização competitiva decorrente do cenário globalizado é a da organização flexível, que tende a ser caracterizada por unidades de negócios, nas quais visualizam-se cadeias produtivas com potencial de geração e distribuição de riquezas e têm como perspectiva a transição para a construção de um novo modelo de sociedade.

Estamos testemunhando o desmoronamento da hierarquia, uma gradual substituição da ênfase burocrática na ordem, na uniformidade e na repetição, por uma ênfase empresarial na criatividade e na execução de acordos. Mas, ao mesmo tempo, estamos também assistindo ao surgimento de novos dilemas sociais com a chegada dessa mudança (KANTER, 1997, p. 66). Um dos dilemas colocados para as organizações refere-se ao perfil de um trabalhador capaz de compreender os processos de gestão e de produção e assim lidar com as novas tecnologias. Um trabalhador que seja polivalente, criativo, com competências e habilidades que possibilitem à organização aprendizagens contínuas, demanda uma formação plena, abrangente e não fragmentada, que considere o homem como sujeito histórico, crítico e participante do cotidiano. Esse novo trabalhador não se produz na mesma dinâmica em que são produzidas as novas tecnologias.

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Esta nova realidade exige novas formas de mediação entre o homem e o conhecimento, que já não se esgotam no trabalho ou no desenvolvimento da memorização de conteúdos ou formas de fazer e de condutas e códigos éticos rigidamente definidos pela tradição taylorista/fordista, compreendida não só como forma de organização do trabalho, mas da produção e da vida social, enquanto paradigma cultural dominante nas sociedades industriais modernas (KUENZER, 2000, p. 19).

Também neste contexto, penso ser desejável que o contador tivesse uma formação crítica, que permitisse superar a formação fragmentada e assim contribuir para o desenho de um novo modelo de sociedade.

Na contradição existente entre uma nova organização do processo de trabalho e um trabalhador polivalente, situa-se como demanda do capitalismo contemporâneo a superação de formas fragmentadas de educação, que baseadas no modelo taylorista-fordista, atava o trabalhador a uma e exclusiva ocupação parcelarizada por toda a sua vida. Impõe-se, agora, como necessidade do próprio capital, substituir esse trabalhador taylorista-fordista pelo trabalhador polivalente, trabalhador multitarefa ou chamado trabalhador flexível. A contradição situa-se porque ao mesmo tempo em que o desenvolvimento capitalista recoloca a demanda da dimensão de totalidade para superar a dimensão fragmentada, intensifica e precariza o trabalho por meio do desemprego estrutural, inviabilizando desta forma a retomada de totalidade.

Ainda segundo Kuenzer,

a qualificação profissional passa a repousar sobre conhecimentos e habilidades cognitivas e comportamentais que permitam ao cidadão/produtor chegar ao domínio intelectual da técnica e das formas de organização social de modo a ser capaz de criar soluções originais para problemas novos que exigem criatividade, a partir do domínio do conhecimento (KUENZER, 2000, p. 20).

No espaço dessa contradição suponho que o trabalho do contador pudesse ser substantivo e não meramente instrumental no sentido da superação das estratégias de formação do profissional polivalente para a acumulação flexível e ao mesmo tempo tomar essa recomposição de totalidade polivalente no sentido da superação das condições de exploração desse trabalhador.

A polivalência como decorrente da valorização do capital busca superar a formação fragmentada, mas para o capital, retomá-la na dimensão de totalidade é muito perigoso, porque não pode se dar para a totalidade dos trabalhadores e, assim, quanto mais a produção flexível exclui o trabalhador do processo de trabalho, mais inviabiliza uma formação flexível

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para a maioria dos trabalhadores. Assim, ao mesmo tempo em que é viabilizada a polivalência, também dessa forma se impede e se inviabiliza a categoria totalidade. O papel do ensino crítico da contabilidade é usar esse espaço de contradição para aprofundar as possibilidades de superação desse modo de produção excludente.

Outro desafio posto às organizações consiste na busca de maneiras de articular a realização de seus objetivos com novas formas da estrutura organizacional. Superar as formas da organização burocrática não quer dizer eliminar o modelo burocrático, mas sim pensar alternativas para a gestão organizacional ao novo contexto, considerando as experiências construídas culturalmente.

Uma vez que no presente estágio histórico é inconcebível que qualquer sociedade venha jamais a ser capaz de descartar completamente as atividades de natureza econômica, certo grau de hierarquia e coerção será sempre necessário para a ordenação dos negócios humanos, como um todo. No âmbito de seus respectivos enclaves, as economias burocratizadas podem-se tornar mais produtivas para seus membros e para os cidadãos em geral (RAMOS, 1989, p. 150).

Pelo visto, o contexto atual é um contexto concorrencial e de desafios constantes. A dinâmica dos processos de comunicação exige agilidade e otimização nas ações referentes aos negócios da organização. Neste panorama de nova organização, o que se busca é integrar todas as áreas de trabalho a todas as atividades, desde o planejamento até a discussão dos resultados obtidos em cada período. Esse processo, ao pretender-se dinâmico, prevê múltiplas e novas aprendizagens.

A contabilidade, como uma área de conhecimentos de fundamental importância para as organizações, além de otimizar o controle econômico e financeiro do patrimônio, através da relação custo e qualidade na execução de seus bens e serviços, necessita entender a organização e a sua missão por meio dos atributos essenciais da informação e do conhecimento contábil.

a informação sempre foi instrumento essencial em qualquer atividade humana, agora, quando vivemos em uma economia globalizada, em que o nível de concorrência é cada vez mais acirrado e complexo, e considerando-se a satisfação a que o homem chegou nas comunicações, o estar correta e tempestivamente informado é a única possibilidade de manter-se de pé e crescer de acordo com os objetivos estabelecidos (ABRANTES, 1998, p. 06).

Muitas organizações enfrentam o dilema da transição e ainda não compreenderam a plenitude da globalização. Não é apenas a passagem para processos robotizados, esse é um

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entendimento linear e artificial não compatível com o ambiente competitivo. A intensificação de informações propicia um ambiente de insegurança administrativo-organizacional, pois a mera substituição de equipamentos pesados por processos flexíveis não é suficiente para inserir a organização em ambientes de competitividade. O fluxo de eventos, muitas vezes denominados de informação, precisa ser filtrado para consolidar decisões no âmbito das transições. A informação que tem origem em dados, fatos, fenômenos ou mensagens de qualquer natureza, ao ser decodificada, pode ser utilizada em situações objetivadas num contexto e tempo real.

Com a caracterização destes desafios e dilemas não quero dizer que o modelo da reestruturação produtiva é o modelo que tende a ser hegemônico e que, portanto, tende a superar estruturalmente as formas taylorista-fordista da organização do trabalho. A lógica parece ser a permanência da diversificação dos modelos de organização e gestão, porque o segmento mais reestruturado somente se mantém como dinâmico na medida que ele se alimenta das formas tradicionais, e é isso que tem garantido a competitividade. Portanto, não está em questão a superação do modelo burocrático, mas uma nova forma de incorporação de formas primárias, inclusive do trabalho escravo, que viabilize a competitividade do modelo capitalista, que cada vez mais se apóia na precarização do trabalho humano. Portanto, a possibilidade da competitividade reside na incorporação das formas exploradas e com formas de organização que pretensamente estariam sendo superadas historicamente.

Assim sendo, para esse contexto e para as exigências sempre transitórias das organizações, o contador necessita agir para além dos processos de escrituração e emissão dos demonstrativos contábeis. A ação do contador é de pensar a organização através dos conhecimentos contábeis e, neste sentido, requer-se um profissional capaz de articular as competências de sua área de atuação às necessidades do contexto organizacional em novas dimensões.

As informações oriundas dos procedimentos contábeis não podem ser apenas meras transcrições e leituras dos fenômenos passados e devidamente registrados pela contabilidade. O que as empresas em contextos competitivos demandam são informações confiáveis, por meio das quais poderão tomar decisões e assim decidir em favor de sua missão.

A confiança da sociedade em uma organização decorre, hoje, fundamentalmente das ações desenvolvidas pela empresa no contexto em que se insere. Desta forma, a gestão e os empresários necessitam estar assessorados para que as decisões, além de manterem a empresa em níveis competitivos, conquistem a respeitabilidade da sociedade.

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No conjunto dessas ações o contador tem um papel relevante a desenvolver a partir do seu trabalho e das suas ações, decorrente da relação que estabelece entre os conhecimentos contábeis e destes com as demais áreas do saber. Desta forma, visualizo a contabilidade nas organizações como mais que um fazer de procedimentos rotineiros, mas sim um fazer que, pela constituição do corpo teórico da ciência contábil, possibilitará que sejam procedimentos justificados e mediados pela reflexão da ação.

A contabilidade como ciência sócio-econômica tem delimitado seu objeto de estudo que é o Patrimônio, porém é através da amplitude de entendimentos sobre o patrimônio, sobre a sua constituição histórica, assim como o resultado de sua manipulação no modelo de sociedade vigente que o contador poderá contribuir com os processos de aprendizagem organizacional em contextos de imprevisibilidade. Assim, ao ampliar sua competência técnico-formal por meio de uma formação plena, mais abrangente, ampliará a dimensão substantiva do seu trabalho no espaço organizacional, tendo como conseqüência possível a superação do modelo excludente.

O desafio de superar o modelo de homem operacional (Ramos, 1984), buscando alcançar a dimensão multidimensional do contador na organização, está presente nas possibilidades de ação frente às novas exigências de gestão que são marcadas por incertezas e instabilidades do contexto global. Tais exigências visam superar o modelo de procedimentos rotineiros por procedimentos de aprendizagens. Entretanto, para essa perspectiva do contador nas organizações o que se requer é um processo que amplie a sua formação inicial mediante processos de formação continuada, caracterizando razões substantivas de intervenção do seu trabalho no contexto em que se insere.

Contemplar a articulação de espaços substantivos na organização para substituir o modelo de homem operacional por uma concepção de homem parentético requer uma estrutura de múltiplas aprendizagens entre a natureza humana e a natureza das organizações.

A concepção de homem parentético implica um reconhecimento do homem como um ser genérico e, assim, como um sujeito de intervenções em seu contexto, o que significa dizer que é um ser que age mediante procedimentos de reflexão, tornando-se capaz de afastar-se do seu ambiente para ser um espectador do cenário social. Nessa dimensão, Ramos configura deliberadamente o homem como capaz de perceber-se como crítico do seu contexto e que, ao distanciar-se da sua realidade imediata incorpora em suas ações a ética da convicção para pensar o coletivo na direção das atividades que o situa em condições de autonomia.

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Na realidade, o homem parentético não pode deixar de ser participante da organização. Porém, justamente por tentar ser autônomo, ele não pode ser psicologicamente enquadrado como aqueles indivíduos que se comportam de acordo com os modelos reativo e operacional. Ele possui uma consciência crítica altamente desenvolvida das premissas de valor presentes no dia-a-dia (RAMOS, 1984, p. 05).

O homem somente poderá ser concebido como multidimensional quando possuir autonomia para compreender a organização e as suas ações no contexto em que se insere. É essa consciência dos seus atos, no seu cotidiano, obtida pelos processos de aprendizagens que permite ao homem multidimensional o desenvolvimento para novas e contínuas aprendizagens.

O desafio de maior significado e abrangência social que se coloca para o contador é que este seja capaz de elaborar diferentes maneiras de gerar resultados, para na mesma medida, fazer a sua distribuição por meio do conhecimento contábil. Assim, para que as competências do contador possam emergir no âmbito das organizações competitivas e de aprendizagens, é preciso considerar o seu acesso às novas tecnologias, ao significado de novas formas de comunicação, de abstração e de cálculos e possibilidades de solução, a idiomas que traduzem manuais e noções operacionais, entre outras habilidades do seu saber-fazer. A esse conjunto de requisitos não cabem os cursos de treinamento aligeirados e artificiais, mas um processo qualitativo de formação básica, de sólida fundamentação conceitual específica, de experiências práticas relacionadas e de interdisciplinaridade com conhecimentos genéricos; esse processo inicial deve ser contínuo e acontecer em ambientes significativos.

Aprender é uma experiência social; o aprendizado ocorre através de interações com outras pessoas e de seu auxilio. Para passar dos objetos e ações para o campo dos significados, o aprendiz conversa com outras pessoas para expandir seu campo de entendimento. Durante o diálogo, idéias e experiências são compartilhadas e o aprendiz expõe seus problemas, gera hipóteses, conduz experimentos e reflete sobre os resultados (SCHUCK, 1997, p. 243).

Esse entendimento sobre relações de trabalho e de aprendizagens é completamente inverso ao modelo ainda hoje aplicado nos diferentes níveis de ensino formal, assim como nos cursos informais. Também as organizações precisam incorporar o conjunto destas mudanças, bem como propiciar processos de aprendizagens socialmente mediados para um novo tipo de sociedade.

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1.3.2 Novas Exigências para o Contador: as bases na formação do professor de contabilidade

O mundo do trabalho passa por transformações gerais e radicais. O ritmo acelerado do reordenamento econômico em escala mundial e a modernização tecnológica e gerencial alteram completamente o perfil da oferta de empregos. O desemprego aparece como uma realidade estrutural, em vez de uma suposta disfunção do sistema econômico. Simultaneamente, novas exigências se impõem à qualificação profissional: o que se exige agora do trabalhador é que apresente e desenvolva certas qualidades que vão muito além daquelas habilidades gerais ou técnicas que os processos educativos convencionais podem oferecer (CASALI, 1997, p. 15).

A vida cotidiana é marcada pela racionalidade substantiva1, mas, sobretudo, pela racionalidade instrumental, a qual se faz presente nas instituições da sociedade contemporânea. As instituições, por seu caráter público e/ou privado, têm maneiras próprias na consecução de seus objetivos. Na atualidade, permeada de ideologia, o fenômeno da globalização, assenta-se no paradigma da economia mundial, e ao exaurir o seu alcance, delineiam-se alguns beneficiários, potências políticas e megacorporações com caráter hegemônico de novas exigências. Também por um discurso hegemônico é a globalização caracterizada como irreversível e inevitável do ponto de vista dos avanços tecnológicos. No entanto, não imobilizado por diferentes procedimentos de análise, o que significa não emudecer à razão de céticos valores e dogmas que intrinsecamente avançam aumentando as desigualdades sociais, busca-se uma compreensão diversa de organizar a vida social e produtiva.

Os fenômenos econômicos e sociais que determinam a reestruturação dos ambientes de produção de bens e serviços por meio dos avanços tecnológicos que ampliam as formas de comunicação exigem competência profissional nas mais diferentes áreas do trabalho.

No atual contexto de competitividade, em que oportunidades de negócios e a urgência nas decisões são determinantes para a inserção e continuidade das diversas organizações, são requeridas do contador, também, atribuições nos atos de gerir o patrimônio alheio. Para essa atividade, são necessários atributos de competência profissional decorrentes

1

Diz-se que é substancialmente racional todo ato intrinsecamente inteligente, que se baseia num conhecimento lúcido e autônomo de relação entre fatos. É um ato que atesta a transcendência do ser humano, sua qualidade de criatura dotada de razão. Aqui, a razão, que preside ao ato, não é a sua integração positiva numa série sistemática de outros atos, mas o seu teor mesmo de acurácia intelectual (RAMOS, 1983, p.39).

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de sua formação específica e geral, bem como das diferentes experiências fundamentadas teórica e empiricamente. Desta forma, a exigüidade dos recursos à disposição das entidades requer habilidades e fluência no discurso e nas diferentes formas de comunicação que objetivam procedimentos para realizar negócios com empresas comerciais, industriais e de serviços, assim como para implementar o uso da tecnologia, que vai desde os conceitos básicos aos mais elaborados e pertinentes à ciência contábil e suas relações com diferentes áreas.

A contabilidade, como ciência social, ao ampliar seus objetivos sobre seu objeto, o patrimônio das organizações, insere-se nesse movimento para contribuir com esse processo. Em tal movimento imbricam-se diversas formas, filosofias e mentalidades empresariais, cujas ações repercutem em intrincados e singulares modos de ser e de agir.

O contador, como gestor do patrimônio das entidades, tem funções mais abrangentes do que apenas o registro dos eventos contábeis; precisa decidir e agir em condições de continuidade e competitividade do empreendimento. Assim, as novas formas de organizar o trabalho contábil, com a gestão organizacional, exigem competência profissional que envolve um complexo processo de formação inicial e continuada do contador, processo esse que confrontará diferentes maneiras de aprender com as organizações e sujeitos multiculturais. O perfil desse novo contexto faz exigências ao profissional da contabilidade para que tenha condições de delinear projetos de trabalho por meio de visões prospectivas e sistêmicas, nas diferentes filosofias organizacionais.

A reflexão sobre as ações, assim como sobre os resultados das decisões, requer a intermediação de um processo de formação continuada para desenvolver novas estratégias e sistemas organizacionais, envolvendo não somente um estilo gerencial, mas também um rigor metodológico na tomada de decisões junto aos fenômenos contábeis em articulação com a diversidade cultural dos sujeitos e instituições.

Questões relacionadas à ética humana e profissional estarão sempre presentes nas decisões, no âmbito da gestão e do contexto no qual se situa a organização, indiciando uma atenção-preocupação com os usuários e/ou consumidores de bens e serviços, com atitudes de cooperação na resolução de problemas ou alternativas viáveis.

A comunicação das ações de uma organização com seus interagentes deverá ser expressa através dos diferentes demonstrativos contábeis, os quais, em seus limites e especificidades, buscam informar sobre as ações, as decisões e sobre os resultados. Assim, a contabilidade, como ciência sócio-econômica, por meio de um profissional com competência e habilidade, ao atuar no mundo dos negócios, muitas vezes perverso, busca alternativas na

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amplitude de sua atuação na dimensão da ética, da preservação da natureza e dos interesses de um mercado consumidor cada vez mais exigente em termos de qualidade, baixo custo e responsabilidade social.

A construção de uma prática contábil que se configure pela preocupação com a inclusão social não é possível por meio da aridez mecanicista e desprovida da compreensão das relações mais abrangentes do ensinar-e-aprender. É nesta perspectiva que o tema deste estudo focaliza a formação do bacharel em Ciências Contábeis por meio da formação do professor de contabilidade.

A função dos professores define-se pelas necessidades sociais a que o sistema educacional deve dar resposta, as quais se encontram justificadas e mediatizadas pela linguagem técnica pedagógica. O conceito de educação e de qualidade na educação tem acepções diferentes segundo os vários grupos sociais e os valores dominantes nas distintas áreas do sistema educativo. A imagem da profissionalidade ideal é configurada por um conjunto de aspectos relacionados com os valores, os currículos, as práticas metodológicas ou a avaliação (NÓVOA, 1995, p. 67).

No sentido de instrumentalizar novas formas de agir do profissional da contabilidade, frente ao contexto de transitoriedade do mundo, é preciso discutir a formação do professor de contabilidade.

Ao propor o estudo sobre quais são os componentes epistemológicos do processo de ensino que organizam o trabalho pedagógico do professor de contabilidade no ensino superior para compreender os fundamentos epistemológicos da organização deste trabalho no ensino superior, entendo como necessário contribuir com esse profissional no que diz respeito à reflexão sobre sua prática e aos aspectos que influenciam o seu trabalho.

Em pesquisas realizadas2 foi possível constatar a recorrência das objeções por parte dos alunos em relação aos procedimentos dos professores quanto aos conteúdos, sua distribuição e formas de ensinar. As análises dessas pesquisas levadas a cabo enumeram a insatisfação quanto à consolidação de conhecimentos contábeis para inserir-se no trabalho. Pesquisa realizada no Rio de Janeiro também conclui que “A opinião da maioria é de que o estudante, ao concluir o curso de Ciências Contábeis, não está apto a exercer atividades profissionais3.”

2

LAFFIN, Marcos. (1) O perfil sócio-econômico dos alunos de Ciências Contábeis 97/99 – (2) Avaliação: uma primeira abordagem no Departamento de Ciências Contábeis da UFSC –1999 - (3) Orientação de Monografias de Conclusão de Curso.

3

COELHO, C.U.F. Uma análise do ensino superior de contabilidade e do mercado de trabalho no município do Rio de Janeiro. Revista CRC – SP, março 2001

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