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Perfil nutricional de alimentos de transição industrializados destinados a crianças de primeira infância: A oferta é saudável?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

PERFIL NUTRICIONAL DE ALIMENTOS DE TRANSIÇÃO INDUSTRIALIZADOS DESTINADOS A CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA: A OFERTA É

SAUDÁVEL?

BYANCA RODRIGUES CARNEIRO

NATAL - RN

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BYANCA RODRIGUES CARNEIRO

PERFIL NUTRICIONAL DE ALIMENTOS DE TRANSIÇÃO INDUSTRIALIZADOS DESTINADOS A CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA: A OFERTA É

SAUDÁVEL?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final para obtenção do Grau de Nutricionista.

Orientador (a): Profa. Dra. Karla Danielly da Silva Ribeiro Rodrigues Coorientador (a): Ms. Karini Freire da Rocha

NATAL - RN 2020

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde – CCS

Carneiro, Byanca Rodrigues.

Perfil nutricional de alimentos de transição industrializados

destinados a crianças de primeira infância: a oferta é saudável? / Byanca Rodrigues Carneiro. - 2020.

41f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Nutrição) -

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Nutrição. Natal, RN, 2020.

Orientadora: Karla Danielly da Silva Ribeiro Rodrigues.

1. Nutrição da criança - TCC. 2. Perfil nutricional - TCC. 3. Alimentos infantis - TCC. 4. Nutrientes críticos -TCC. I. Rodrigues, Karla Danielly da Silva Ribeiro. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 613.22

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BYANCA RODRIGUES CARNEIRO

PERFIL NUTRICIONAL DE ALIMENTOS DE TRANSIÇÃO INDUSTRIALIZADOS DESTINADOS A CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA: A OFERTA É

SAUDÁVEL?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final para obtenção do Grau de

Nutricionista.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________ Dra. Karla Danielly da Silva Ribeiro Rodrigues

Departamento de Nutrição

__________________________________________________________ Ms. Karini Freire da Rocha

Nutricionista

___________________________________________________________ Dra. Juliana Fernandes dos Santos Dametto

Departamento de Nutrição

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Dedico este trabalho aos meus pais Marlos Carneiro e Maria Lucilene. E ao meu amado avô, Francisco Moisés Carneiro (in memoriam).

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus, por todas as bençãos e por me dar sabedoria para persistir firme em busca dos meus objetivos.

Agradeço aos meus pais Marlos Carneiro e Maria Lucilene, por me ensinar a priorizar os estudos sempre, por investirem na minha educação, por acreditarem e me apoiarem em todos os momentos desta trajetória, por fazerem o possível e o impossível por mim.

A minha irmã Maryana Carneiro, pela paciência em aguentar meus estresses e crises de ansiedade na etapa final de elaboração deste trabalho.

À minha avó Maria Cícera por me apoiar em todos os momentos e por toda ajuda. E ao meu avô Francisco Moisés Carneiro (in memoriam), lembrar você me inspira e me faz persistir, e sei que onde estiver o senhor está feliz por tudo que venho conquistando.

Agradeço também a todos os meus familiares (tias, madrinha, primos...), por todo carinho e por sempre apoiaram e torceram por mim.

À minha orientadora, Karla Danielly, pela atenção, confiança e pela oportunidade de ser sua orientanda. Obrigada por todos os ensinamentos e pela disponibilidade em todos os momentos que precisei de ajuda e também pelas portas abertas em projetos de pesquisa, extensão e monitoria, seus ensinamentos com certeza foram muito importantes e valiosos para o meu crescimento profissional.

À minha coorientadora Karini Freire, por toda ajuda e disponibilidade durante o desenvolvimento deste trabalho, sempre atenciosa e disponível.

À professora Juliana Dametto, por aceitar o convite para compor a minha banca. Muito obrigada por todas as considerações feitas ao meu trabalho e todo conhecimento compartilhado no decorrer da minha formação.

À minha dupla Amanda Freitas, que desde o primeiro período da graduação esteve comigo nessa jornada, obrigada pelos momentos compartilhados, por cada palavra positiva quando eu achei que nada daria certo, pelo companheirismo e amizade durante esses quase cinco anos de graduação. Você com certeza fez com que essa trajetória se tornasse muito mais leve.

Às minhas amigas Ana Carolina, Lorena Thalia e Juliane Medeiros, muito obrigada por estarem junto a mim nessa caminhada, pelo companheirismo, pela amizade e pelos bons momentos vividos no decorrer da graduação.

Meu muito obrigada à toda família do Laboratório de Bioquímica dos Alimentos e da Nutrição (LABAN), pelos ensinamentos e conhecimentos compartilhados, pelas horas

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compartilhadas em análises no laboratório, pelas oportunidades e pela contribuição no meu crescimento acadêmico e pessoal, e principalmente por despertar em mim ainda mais o encanto pela Nutrição Materno-Infantil.

Enfim, sou grata a todas as pessoas que de alguma maneira contribuíram direta ou indiretamente ao longo da minha formação na concretização desta etapa, o meu muito obrigada a todos!

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“Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.”

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CARNEIRO, Byanca Rodrigues. Perfil nutricional de alimentos de transição industrializados destinados a crianças de primeira infância: A oferta é saudável? 2020. 41f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição) – Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2020.

RESUMO

Há uma mudança no padrão alimentar das crianças, com um crescente consumo de alimentos industrializados, de maior densidade energética e de baixo valor nutricional, em comparação aos alimentos frescos. Dessa forma, é preciso avaliar o perfil nutricional de alimentos industrializados destinados à alimentação infantil, uma vez que a prevalência de práticas alimentares inadequadas tem provocado um aumento do excesso de peso e obesidade na infância. Assim, o presente estudo tem como objetivo analisar o perfil nutricional de alimentos de transição industrializados destinados a crianças de primeira infância, comercializados em Natal-RN, segundo o Modelo de Perfil Nutricional da Organização Pan-Americana de Saúde (MPN/OPAS). Trata-se de um estudo quantitativo, transversal e exploratório recorte de uma pesquisa maior, composto por alimentos infantis industrializados do tipo papas/purês/sopas disponíveis em estabelecimentos comerciais de Natal-RN. A coleta de dados foi realizada através do questionário móvel do aplicativo Baby Food desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), onde foram inseridas as informações nutricionais presentes nos rótulos dos alimentos. Os dados dos alimentos foram extraídos do banco de dados

Baby Food e analisados em dois grupos: papas/purês de fruta ou vegetal e sopas

industrializadas. Para classificação quanto ao perfil nutricional, analisou-se a presença de teores de nutrientes críticos (sódio, gorduras totais, gorduras saturadas, gordura trans, açúcares livres e presença de outros edulcorantes) por 100 g do produto, sendo classificados como “alto valor de” os que estavam acima dos critérios estabelecidos pelo MPN/OPAS. A análise estatística foi realizada no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Os resultados foram descritos em mediana e desvio padrão para as variáveis quantitativas, e as variáveis categóricas foram apresentadas por frequências pontuais e relativas. Todas as diferenças foram consideradas significativas quando p < 0,05. Foram analisados 27 produtos diferentes após a exclusão dos repetidos, sendo 44,4% (n = 12) papas/purês de fruta ou vegetal e 55,6% (n = 15) sopas. As análises do perfil nutricional mostraram que apenas 7,4% (n = 2) dos produtos analisados não apresentaram excesso de nutrientes críticos. Dos 12 produtos do tipo papas/purês, 83,3% (n = 10) apresentaram excesso de açúcares livres, todas as sopas foram

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classificadas com excesso de gorduras totais e mais da metade delas (60%) apresentaram mais de 1 mg de sódio por 1 Kcal. Nenhum produto analisado apresentou edulcorantes em sua composição. Dessa forma, considerando a classificação do MPN/OPAS conclui-se que os alimentos infantis comercializados são de baixa qualidade nutricional, pois, em sua maioria, apresentaram pelo menos um nutriente crítico, destacando-se o excesso de açúcares livres, gorduras totais e sódio, fornecendo um inadequado perfil nutricional a alimentação infantil. Assim, é importante que a indústria alimentícia forneça alimentos de melhor perfil nutricional e que pais e responsáveis priorizem a oferta de alimentos com menor nível de processamento.

Palavras-chave: Nutrição da Criança; Perfil Nutricional; Alimentos Infantis; Nutrientes Críticos.

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CARNEIRO, Byanca Rodrigues. Nutritional profile of industrialized transition foods for early childhood children: Is the offer healthy? 2020. 41f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição) – Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2020.

ABSTRACT

There is a change in the children's eating patterns, with an increasing consumption of industrialized foods, with higher energy density and low nutritional value, compared to fresh foods. Thus, it is necessary to assess the nutritional profile of industrialized foods intended for infant feeding, since the prevalence of inappropriate eating practices has caused an increase in overweight and obesity in childhood. Thus, the present study aims to analyze the nutritional profile of industrialized transition foods for early childhood children, marketed in Natal-RN, according to the Pan American Health Organization Nutritional Profile Model (MPN/PAHO). This is a quantitative, cross-sectional and exploratory study, part of a larger research, composed of industrialized infant foods such as porridge/purees/soups available in commercial establishments in Natal-RN. Data collection was carried out through the mobile questionnaire of the Baby Food application developed by the World Health Organization (WHO), where nutritional information on food labels was inserted. Food data were extracted from the Baby Food database and analyzed in two groups: porridge and fruit or vegetable purees and industrialized soups. For classification regarding the nutritional profile, the presence of critical nutrient contents (sodium, total fats, saturated fats, trans fat, free sugars and the presence of other sweeteners) per 100 g of the product was analyzed, being classified as “high value of” those that were above the criteria established by MPN/PAHO. Statistical analysis was performed using the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) program. The results were described in median and standard deviation for quantitative variables, and categorical variables were presented by point and relative frequencies. All differences were considered significant when p < 0,05. 27 different products were analyzed after the exclusion of the repeated ones, with 44,4% (n = 12) porridge/fruit or vegetable puree and 55,6% (n = 15) soups. The analysis of the nutritional profile showed that only 7,4% (n = 2) of the analyzed products did not present an excess of critical nutrients. Of the 12 porridge/puree products, 83,3% (n = 10) had excess free sugars, all soups were classified as excess total fat and more than half (60%) had more than 1 mg of sodium per 1 Kcal. No analyzed product had sweeteners in its

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composition. Thus, considering the MPN/PAHO classification, it is concluded that the commercialized infant foods are of low nutritional quality, since, in the majority, they presented at least one critical nutrient, highlighting the excess of free sugars, total fats and sodium, providing an inadequate nutritional profile to infant feeding. Thus, it is important that the food industry provides food with a better nutritional profile and that parents and guardians prioritize the supply of food with a lower level of processing.

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 13 2. OBJETIVOS ... 16 2.1 OBJETIVO GERAL... 16 2.2OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 16 3. REVISÃO DE LITERATURA ... 17

3.1 EXCESSO DE PESO E PRÁTICAS ALIMENTARES NA INFÂNCIA ... 17

3.2 REGULAMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS DESTINADOS AO PÚBLICO INFANTIL ... 19

3.3 AVALIAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL DE ALIMENTOS – MODELO DE PERFIL NUTRICIONAL DA ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (MPN/OPAS) ... 21

4. METODOLOGIA ... 24

4.1 CARACTERIZAÇÃO E DELINEAMENTO DO ESTUDO ... 24

4.2 COLETA DE DADOS ... 25

4.3 ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS DE TRANSIÇÃO INDUSTRIALIZADOS, SEGUNDO O MPN/OPAS ... 26

4.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA ... 28

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 29

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 35

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1. INTRODUÇÃO

O leite materno é capaz de fornecer nutrientes entre outros constituintes para suprir as necessidades nutricionais que o recém-nascido precisa para o seu crescimento e desenvolvimento. Além dos benefícios nutricionais fortalece a imunidade, diminui o risco de alergias e doenças, ajuda no desenvolvimento cognitivo, entre outros benefícios (BRASIL, 2015).

Nessa perspectiva, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o Aleitamento Materno Exclusivo (AME) durante os seis primeiros meses de vida e complementar até dois anos ou mais. A partir do sexto mês se dá a introdução de outros alimentos, pois é a partir dessa idade que o leite materno deixa de ser suficiente para suprir todas as necessidades do lactente (WHO, 2017; SCHINCAGLIA et al., 2015).

A alimentação infantil, no início da história da humanidade, era compreendida de maneira diferente da atualidade. Por volta de 4000 a. C., na ausência do aleitamento materno, só era capaz de uma criança ser amamentada com outro leite materno, ou seja, não havia alimentos disponíveis para suprir as necessidades dos lactentes se não fosse por intermédio de uma ama de leite (BRASIL, 2015a).

Em 1668, o conceito sob a alimentação infantil começou a sofrer modificações. Essas ocorreram principalmente em relação à alimentação de lactentes onde mães que não tinham leite para amamentá-los passaram a preferir as papas que incluíam em sua composição um ingrediente líquido (leite, caldo de legumes ou carne, água), um cereal (arroz, farinha de trigo ou milho, pão) e outros aditivos tais como açúcar, mel, temperos, etc. (CASTILHO, BARROS FILHO, 2010).

Atualmente, o novo Guia Alimentar Para Crianças até Dois Anos, criado pelo Ministério da Saúde do Brasil, aborda através de uma linguagem simples, 12 passos para se atingir uma alimentação saudável para crianças menores de 24 meses. Além disso, traz o tipo de processamento dos alimentos, estimulando o consumo dos alimentos in natura ou minimamente processados e consequentemente a diminuição do consumo dos processados e ultraprocessados (BRASIL, 2019).

Nesse sentido, entre os vários alimentos disponíveis para constituir a introdução alimentar de crianças de primeira infância, os alimentos infantis industrializados também podem estar presentes nessa alimentação, principalmente devido a sua disponibilidade e facilidade de aquisição e preparo, como também pela influência da publicidade nas redes sociais

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e aos hábitos alimentares da família já estabelecidos que podem influenciar na escolha e no aumento do consumo de industrializados (SOMBRA et al., 2017).

Esses alimentos na maioria das vezes possuem em sua lista de ingredientes substâncias alimentares nunca ou raramente usadas em cozinhas como xarope de milho e óleos hidrogenados ou aditivos utilizados para tornar o produto mais palatável ou atraente dentre eles os intensificadores de sabor, corantes, emulsificantes, adoçantes, sendo conhecidos como alimentos ultraprocessados (MONTEIRO et al., 2019).

Há muito tempo são conhecidos os agravos para a saúde que podem decorrer do consumo insuficiente ou excessivo de alimentos. Recentemente pesquisas tem apontado que o consumo elevado de alimentos ultraprocessados, comercializados para substituir refeições devido a conveniência e acessibilidade, ricos em açúcar, sal, gordura e aditivos tem sido associado a impactos negativos na saúde. Estudos têm associado o consumo desses alimentos a alterações cardiomatebólicas em crianças e adolescentes e ao risco aumentado para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas a dieta como diabetes mellitus, sobrepeso e doença celíaca nas fases iniciais da vida (FILGUERAS et al., 2019; ROCHA et al., 2017; AGUAYO-PATRÓN, BARCA, 2017).

Tendo em vista o aumento da introdução de alimentos industrializados e a prevalência da obesidade no público infantil, foi criado o Modelo de Perfil Nutricional da Organização Pan-Americana da Saúde (MPN/OPAS). Esse documento foi criado com a preocupação de analisar o perfil nutricional de alimentos e tem como objetivo realizar a classificação desses quanto as quantidades excessivas de nutrientes críticos como açúcar, sal, gorduras totais, saturadas e trans (OPAS, 2016).

Paralelo aos critérios de classificação do MPN/OPAS, no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) recentemente aprovou a Resolução n° 429, de 8 de outubro de 2020, que dispõe sobre a rotulagem nutricional de alimentos industrializados e sugere a inclusão de selos frontais de maneira clara e objetiva visando atrair a atenção do consumidor para as informações sobre a presença de altos teores de nutrientes críticos prejudiciais à saúde. A nova rotulagem assemelha-se aos critérios definidos pelo MPN/OPAS, visto que o documento também busca ajudar na concepção e implementação de várias estratégias relacionadas com a prevenção e controle da obesidade e excesso de peso, dentre elas usar advertências na parte frontal das embalagens (BRASIL, 2020; OPAS, 2016).

Nessa perspectiva, considerando o desenvolvimento da criança e que os produtos alimentícios industrializados se fazem cada vez mais presentes na alimentação infantil, esses devem ser devidamente analisados para averiguar se a oferta traz riscos à saúde da criança caso

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sejam introduzidos na alimentação (MARQUES, SOARES, 2016). Assim, o presente estudo tem como objetivo analisar o perfil nutricional de alimentos de transição industrializados do tipo papas/purês de fruta ou vegetal e sopas, comercializados em estabelecimentos de Natal-RN, segundo critérios do MPN/OPAS.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o perfil nutricional de alimentos de transição industrializados destinados a crianças de primeira infância, comercializados em Natal-RN, segundo os critérios do Modelo de Perfil Nutricional da Organização Pan-Americana da Saúde (MPN/OPAS).

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar os alimentos de transição industrializados destinados a crianças de primeira infância;

 Analisar a composição nutricional de papas/purês de fruta ou vegetal e de sopas industrializadas;

 Analisar o teor de nutrientes críticos dos alimentos, segundo o MPN/OPAS;

 Classificar os alimentos de transição industrializados quanto ao excesso de sódio, excesso de açúcares livres, presença de outros edulcorantes e excesso de gorduras (totais, saturadas e trans), conforme critérios do MPN/OPAS.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 EXCESSO DE PESO E PRÁTICAS ALIMENTARES NA INFÂNCIA

Os primeiros anos de vida de uma criança, especialmente os dois primeiros, são caracterizados por crescimento acelerado e grande evolução no processo de desenvolvimento. Uma boa nutrição na primeira infância é essencial para garantir o crescimento e desenvolvimento ideal, estando relacionada aos hábitos alimentares na vida adulta, além de ser fator importante para a prevenção da desnutrição em todas as suas formas, incluindo sobrepeso e obesidade e outras doenças não transmissíveis relacionada à dieta (ARAÚJO; CAMPOS, 2008; WHO, 2019).

Sabe-se que as práticas alimentares saudáveis nos primeiros anos de vida do ser humano interferem positivamente no seu estado nutricional, favorecendo o seu crescimento e desenvolvimento ao longo da vida adulta (GUILHERME, NASCIMENTO, 2013). Sendo assim, deficiências nutricionais ou práticas inadequadas no que diz respeito à alimentação podem acarretar em riscos à saúde ainda nessa fase da vida (GARCIA, GRANADO, CARDOSO, 2011).

Na população infantil, a avaliação nutricional é fundamental para averiguar se o crescimento está próximo ou distante de um padrão de referência já conhecido, visto que neste período, distúrbios do crescimento, déficit ou excesso de peso, podem ocasionar consequências a longo prazo, como o déficit estatural ou o excesso de peso, sobrepeso e obesidade, deixando a criança predisposta ao desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) (ROCHA, 2015).

Para acompanhar esse crescimento e desenvolvimento na infância têm-se usado estratégias, como as Chamadas Nutricionais, que se caracteriza por inquéritos nutricionais realizadas dentro do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Essas chamadas ocorrem em período de Campanhas Nacionais de Imunização com o objetivo de motivar a participação da população e dos gestores de saúde sobre a importância do acompanhamento à criança, através da coleta de informações referentes à situação de saúde, os dados antropométricos e consumo alimentar dos menores de cinco anos de idade. A realização das chamadas tem contribuído de forma essencial para o planejamento, a programação, o monitoramento e as intervenções em saúde coletiva, além de produzir em pouco tempo, dados relevantes para o desenvolvimento de pesquisas (BRASIL, 2007).

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O excesso de peso na infância acarreta serias consequências à saúde, dentre elas as doenças cardiovasculares, a hiperlipidemia, o diabetes mellitus, dificuldades respiratórias, aumenta o risco de fraturas e resistência à insulina (WHO, 2010). Outros danos, principalmente no âmbito psicológico e social também podem ser desenvolvidos, como por exemplo, comprometimento da autoestima e dificuldade de inclusão (COSTA et al., 2011).

A partir da análise de dados contidos em relatórios públicos, correspondentes ao estado nutricional de crianças entre 1 e 5 anos, que estão disponíveis pelo Sistema de Informação do SISVAN, no ano de 2019, 17,06% das crianças foram avaliadas com risco de sobrepeso, 7,86% com sobrepeso e 7,02% no quadro de obesidade (BRASIL, 2019).

Essa realidade demonstra que a obesidade é considerada um grave problema de saúde pública, onde a prevalência de excesso de peso em crianças tem crescido em ritmo alarmante nos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil, o que é preocupante, visto que crianças com sobrepeso ou obesidade possuem risco aumentado de se tornarem adultos obesos (RODRIGUES et al., 2011).

Alguns fatores podem influenciar o ganho de peso durante a infância, como o crescimento intrauterino, o peso ao nascer, a amamentação, a alimentação complementar e o ganho de peso nos primeiros anos de vida (OLIVEIRA, 2017). Na população infantil, o desmame precoce e a introdução de alimentos industrializados com alto teor de calorias, gorduras saturadas, carboidratos simples, sódio e edulcorantes indicam o estado nutricional e contribuem para o excesso de peso (ROCHA, 2017).

Nesse sentido, a identificação precoce do excesso de peso em crianças e implementação de esforços que abordem a redução do consumo de alimentos ultraprocessados, densos em calorias e pobre em nutrientes destinados ao público infantil pode auxiliar na redução dos riscos para desenvolvimento de doenças crônicas e consequentemente impactar de maneira positiva nos custos do sistema de saúde, além dos benefícios individuais (MULLER et al., 2014).

A infância é uma fase da vida na qual se inicia a formação dos hábitos alimentares e uma nutrição de qualidade é imprescindível para o crescimento e o desenvolvimento adequado. Apesar do aleitamento ser importante para o estabelecimento de práticas alimentares saudáveis na infância, o leite materno está cada vez mais cedo sendo substituído por outros alimentos, levando à introdução precoce de alimentos não saudáveis, de água, chás e outros leites já no primeiro mês de vida. Tais informações são preocupantes, visto que se sabe que há uma maior probabilidade para o desenvolvimento de processos alérgicos e de DCNTs (CARDOSO et al.,

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2013; MARTINS et al., 2014; CAMINHA et al., 2010; VENANCIO et al., 2010; BRASIL, 2009).

Com o avanço da industrialização inúmeros produtos alimentícios destinados a complementar a alimentação de lactentes e crianças de primeira infância foram desenvolvidos. Por conseguinte, tal situação favoreceu a diminuição das taxas de AME no mundo e o aumento dos índices de morbimortalidade em diversos países (SILVA, DIAS, FERREIRA, 2008).

Coelho et al. (2015) em seu estudo avaliaram os hábitos alimentares de crianças menores de 24 meses, onde 41,1% das crianças avaliadas menores de 6 meses e 98,7% daquelas entre 6 e 23 meses apresentaram ingestão alimentar inadequada. Foram observados o desmame e a introdução de alimentação complementar precoce, observando-se a baixa ingestão de frutas, legumes, verduras, carnes e feijões e expressivo consumo de sucos processados ou refrigerantes.

O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) ao comparar os resultados preliminares obtidos com dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) dos anos de 1986, 1996 e 2006, observou que há um aumento dos índices de aleitamento materno no país. Entre as crianças menores de quatro e seis meses de idade houve um aumento de quase 13 vezes e cerca de 16 vezes, respectivamente. Em se tratando do aumento de crianças em aleitamento materno após os 12 meses de idade, houve um aumento de 22,7% em 1986 para 53,1% em 2020 (BRASIL, 2020a). Atualmente, 60,0% de crianças com menos de 4 meses de idade são amamentadas exclusivamente. Já nas menores de seis meses, 45,7%, sendo o aleitamento materno mantido em 53,1%, das crianças no seu primeiro ano de vida.

Nessa perspectiva, a realização de ações de promoção ao aleitamento materno e de regulação dos alimentos infantis industrializados constituem um enorme desafio para o sistema de saúde e depende de esforços coletivos intersetoriais, para a melhora no comportamento dos responsáveis no que diz respeito a alimentação infantil (BRASIL, 2009a; COELHO et al., 2015).

3.2 REGULAMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS DESTINADOS AO PÚBLICO INFANTIL

Medidas legislativas são consideradas importantes ações de promoção da saúde. No Brasil, a ANVISA é o órgão responsável por regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e os serviços que evolvem riscos à saúde pública, onde incluem os alimentos, as embalagens, os

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aditivos, os contaminantes, os resíduos, etc. (GARCIA, VIEITES, DAIUTO, 2015; BRASIL, 1999).

Particularmente, com relação aos lactentes e às crianças de primeira infância, existem legislações específicas que normatizam os produtos industrializados destinados a estes dois grupos. No Brasil a regulamentação dos alimentos infantis e realizada pelas resoluções específicas da ANVISA para determinados tipos de alimentos infantis sendo elas: as RDCs n° 45 e 47/2014 que regulamentam as fórmulas infantis, a RDC n° n° 68/2016 que regulamenta os alimentos de transição para lactentes e crianças de primeira infância e a RDC n° 170/2017 a qual regulamenta os alimentos à base de cereais (BRASIL, 2016; BRASIL, 2017; BRASIL, 2014a; BRASIL, 2014b).

Além das legislações da ANVISA, destaca-se a a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos Para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL), que através de um conjunto de regulamentações dispõe estratégias sobre a promoção comercial e a rotulagem de alimentos e produtos destinados a recém-nascidos e crianças de até três anos de idade, fazendo destaque a Lei n° 11.625/2006, o Decreto n° 9.579/2018 (BRASIL, 2006; BRASIL, 2018)

O Decreto 9.579/2018, traz atos normativos dos direitos fundamentais da criança e do adolescente acerca do controle quanto à comercialização, à publicidade, à qualidade, à rotulagem e divulgação de alimentos comercializados ao público menor de 36 meses objetivando assegurar o uso apropriado desses de forma que não haja interferência na prática do aleitamento materno, e ainda dispõe de outras temáticas além da alimentação no que diz respeito ao lactente, à criança e ao adolescente (BRASIL, 2018).

Já a Lei n° 11.265/2006, trata da comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância e produtos de puericultura. Essa lei proíbe a oferta de descontos e exposição dos alimentos e produtos em estabelecimentos comerciais, proíbe que as embalagens contenham fotos, desenhos e textos que induzam ao uso e obriga que elas apresentem a idade indicada para o consumo. Ademais, é exigido que os rótulos apresentem destaques sobre os riscos do preparo inadequado e instruções para o uso correto, inclusive medidas de higiene a serem observadas e dosagem para diluição, quando necessário (BRASIL, 2006).

Quanto as resoluções específicas da ANVISA, essas são responsáveis por regular a identidade e características mínimas de qualidade a que devem obedecer aos alimentos chamados de transição para lactentes e crianças de primeira infância, visando a proteção à saúde do público infantil. A RDC n° 68/2016 regula especificamente esses alimentos de transição à base de frutas, hortaliças e vegetais (papinhas, purês, sopas) e classifica-os de acordo com a sua

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forma de exposição, seu aspecto e tamanho de suas partículas. Com relação aos alimentos de transição à base de cereais, esses são regulados pela RDC n° 170/2017 a qual classifica-os quanto à composição, a tecnologia de processo e quanto à forma de preparo para consumo (BRASIL, 2016; BRASIL, 2017).

No Brasil, a rotulagem de alimentos é regulamentada pela ANVISA, sendo utilizada como um instrumento de saúde pública, alertando sobre alergênicos, gorduras transgênicas, tabela nutricional, lista de ingredientes etc. (BRASIL, 1999; YOSHII, 2019). Esse órgão, recentemente, aprovou a nova norma sobre rotulagem nutricional de alimentos industralizados que entrará em vigor 24 meses após a sua publicação. A nova regulamentação visa auxiliar o consumidor a realizar escolhas alimentares mais conscientes através de declarações, no formato de símbolos informativos na parte frontal, daqueles alimentos que execedem os limites de nutrientes que têm relevância para a saúde, sendo eles os açúcares, o sódio e as gorduras (BRASIL, 2020).

Sendo assim, os elementos contidos nos rótulos dos alimentos destinados ao público infantil necessitam estar em conformidade com a legislação brasileira, através de informações adequadas e compreensíveis sobre o conteúdo nutricional. Garantindo, dessa forma, a segurança alimentar e nutricional dos consumidores, evitando que haja, desconhecimento quanto a natureza, a composição, a procedência, o tipo, a qualidade, a quantidade, a validade ou forma de uso do alimento e, cosequentemente, reduzindo o risco de doenças relacionadas à alimentação e à nutrição (COUTINHO, 2007).

3.3 AVALIAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL DE ALIMENTOS – MODELO DE PERFIL NUTRICIONAL DA ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (MPN/OPAS)

Nos últimos anos é perceptível uma mudança no padrão alimentar das crianças, com um aumento no consumo de alimentos industrializados que possuem maior densidade energética e de baixo valor nutricional, e uma consequente diminuição do consumo de alimentos in natura e minimamente processados. Tal fato é preocupante, pois a prevalência de obesidade na infância vem aumentando significativamente e pode estar associada à práticas alimentares inadequadas (LOPES et al. 2018; LEME et al., 2019; KARNOPP et al., 2017; COSTA et al., 2019; TOLONI, et al., 2011).

Nesse contexto, legislações referentes a análise do perfil nutricional de alimentos têm sido empregadas com o objetivo de garantir a promoção de uma alimentação adequada e

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saudável e de qualidade. Em 2016, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) criou um modelo de análise do perfil nutricional que classifica os alimentos em relação a quantidade excessiva de nutrientes críticos à saúde (OPAS, 2016).

Esse documento tem como objetivo principal ajudar na implementação de estratégias relacionadas à prevenção e controle da obesidade e do excesso de peso em crianças e adolescentes, utilizando os mais diferentes artifícios. Dentre eles está incluso a classificação de alimentos infantis quanto a quantidade excessiva de nutrientes prejudiciais à saúde, redução da comercialização de produtos e bebidas açucaradas não saudáveis para crianças; a rotulagem nutricional nas embalagens; a definição de políticas a fim de que o consumo de alimentos não saudáveis seja limitado, a regulamentação da publicidade e promoção de alimentos infantis e a melhoria da nutrição escolar (OPAS, 2016).

O MPN/OPAS recomenda que nos rótulos haja a identificação da presença de nutrientes considerados críticos quando consumidos em excesso tais como sódio, açúcares, gorduras totais e suas frações e edulcorantes. Nesse sentido, indicam que os produtos apresentem informações sobre alto teor de alguns itens, sendo expostos com contendo “muito açúcar”, “muito sódio”, “contêm adoçantes”, entre outros (OPAS, 2016).

Devido à grande variedade de produtos destinados à comercialização para o público infantil, como exemplo, as fórmulas infantis, alimentos de transição (produtos à base de cereais, refeições à base de carne, papas e purês de frutas ou vegetais etc.) e leites em geral a análise do perfil nutricional de alimentos é uma ferramenta prática com o intuito de classificar alimentos específicos de acordo com a sua composição nutricional relacionada a razões como a prevenção de doenças e promoção da saúde (WHO, 2015).

Elliott e Scime (2019) em seu estudo realizado no Canadá comparou diferentes modelos de perfil de nutrientes de produtos alimentícios comercializados em supermercados e direcionados ao público infantil. De acordo com o modelo da OPAS, verificou-se que 7,0% dos produtos alimentares analisados eram permitidos para comercialização para crianças e quanto ao limiar de nutriente específico determinado no documento, 86,5% dos produtos eram excessivos em açúcares livres, 36,2% foram excessivo em sódio, 28,7% em gordura total e 32,5% foram considerados excessivos em gordura saturada.

Já Labonté et al. (2017) compararam a concordância entre os modelos de perfil de nutrientes aplicando-os no contexto canadense. O número e a proporção dos alimentos que seriam elegíveis para comercialização para crianças segundo o modelo da OPAS foi de 15,8%.

A análise do perfil nutricional de alimentos infantis vem sendo realizada através de estudos desenvolvidos no Canadá e México, sendo alimentos mais encontrados nos

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supermercados e destinados ao público infantil os purês de frutas ou vegetais (LABONTÉ et al., 2017; CONTRERAS-MANZANO et al., 2018; ELLIOTT, SCIME, 2019). Recentemente, estudos desenvolvidos no Brasil analisaram o perfil nutricional de alimentos ultraprocessados consumidos por crianças de 6 a 59 meses de idade e o perfil nutricional de bebidas açucaradas destinadas ao público infanto-juvenil, ambos segundo o MPN/OPAS (ANASTÁCIO et al., 2020; SCRAFIDE, GANEN, 2020),

Dessa forma, pelo fato de o MPN/OPAS ter sido publicado recentemente, ainda são poucos os estudos relatados na literatura que aplicaram os parâmetros nele propostos em metodologias de análise do perfil nutricional em alimentos de transição destinados a crianças de primeira infância do tipo papas, purês e sopas. Assim, o presente estudo se mostra importante, uma vez que contribui para o conhecimento a respeito da qualidade nutricional de alimentos destinados alimentação infantil.

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4. METODOLOGIA

4.1 CARACTERIZAÇÃO E DELINEAMENTO DO ESTUDO

Este trabalho é um recorte da dissertação “Metodologia Baby Food no Brasil: Uma avaliação do perfil do processamento de alimentos comerciais destinados a crianças de 0 a 36 meses”, projeto vinculado ao Departamento de Nutrição (DNUT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e da tese “Nutrition composition of industrialized food for 0 to

36 months old children: case study in Brazil and Portugal”, realizado pelo Programa de

Ciências do Consumo Alimentar e Nutrição, da Universidade do Porto, em Portugal.

Trata-se de um estudo do tipo quantitativo, transversal e exploratório, no qual foi analisado o perfil nutricional de alimentos de transição industrializados destinados a crianças de primeira infância disponíveis para comercialização em estabelecimentos comerciais do tipo farmácias, supermercados, mercadinhos e padarias dos bairros de maior e menor renda per

capita do município de Natal-RN, onde foi considerado dois bairros de diferentes rendas de

cada um dos quatro distritos (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição dos bairros de coletas e seus respectivos distritos e renda.

Distrito Bairros

Menor renda Maior renda

Norte Lagoa Azul Potengi

Sul Nova Descoberta Capim Macio

Leste Mãe Luiza Petrópolis

Oeste Guarapes Cidade da Esperança

*Nos distritos Sul e Leste também foram incluídos na coleta de dados quatro supermercados e duas padarias localizados em bairros centrais e de boa representatividade comercial da cidade (Lagoa Nova e Tirol).

Para busca dos estabelecimentos comerciais foi realizada uma busca refinada por bairro e tipo de estabelecimento através dos sites de busca na web: App local

(https://applocal.com.br/), Guia Mais (https://www.guiamais.com.br/natal-rn/) e Telelistas

(https://www.telelistas.net/).

Em um segundo momento, foi confirmada a existência dos estabelecimentos através da busca pelo endereço dos estabelecimentos via Google Maps

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selecionados 345 estabelecimentos para a realização da coleta de dados e após a consulta quando a existência ou não restaram 142 estabelecimentos e 6 foram incluídos durante as coletas de dados (Figura 1).

*Dentre esses estabelecimentos, 6 foram inseridos durante a coleta.

Figura 1. Apresentação esquemática da seleção dos estabelecimentos comerciais para coleta de dados em Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.

Após a busca pelos estabelecimentos, foi realizada uma consulta aos dados disponíveis no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (https://mapas.ibge.gov.br/bases-e-referencias/bases-cartograficas/malhas-digitais) onde foi feito o download do mapa do estado do Rio Grande do Norte dividido em setores censitários. Os mapas foram impressos, numerados e separados por distritos, os mapas referentes aos setores correspondentes a cada estabelecimento selecionado para coleta. Foi realizado um sorteio para definir a ordem de coleta dos distritos e em seguida um novo sorteio dentro de cada distrito para definir a ordem de coleta nos estabelecimentos comerciais.

4.2 COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada no período de novembro/2018 a abril/2019 através do questionário móvel Project Baby Food Brazil da plataforma KoBoCollect desenvolvido para

345 estabelecimentos selecionados (Sites de busca)

203 não existiam (Google Maps)

142 confirmados (Contato telefônico)

2 negaram participar do estudo

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smartphones com sistema operacional Android. Esse questionário foi desenvolvido pela OMS

(WHO, 2019) para a coleta de dados relacionada a disponibilidade e composição nutricional de alimentos infantis direcionados para lactentes e crianças de primeira infância através da coleta de informações nutricionais do rótulo como especificação de idade, informação nutricional, lista de ingredientes, modo de preparo, alegações de saúde e de nutrientes e informações visuais. Foram coletados os dados de todos os produtos disponíveis à venda nos estabelecimentos que possuíam no rótulo a identificação de idade entre 0 a 36 meses. Em todos os estabelecimentos comerciais a coleta foi realizada para todos os produtos encontrados dentro do critério de inclusão, mesmo o produto já tendo sido coletado em outro local.

Cada alimento foi cadastrado no aplicativo através de 50 questões que compõe o questionário a respeito das características do estabelecimento e do produto, e para este recorte foram consideradas as informações do tipo do alimento, faixa etária, lista de ingredientes, marca do produto, informação nutricional e o registro fotográfico de todas as partes do rótulo dos produtos do tipo papas/purês de fruta ou vegetal e sopas industrializadas destinadas a alimentação de lactentes e crianças de primeira infância.

4.3 ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS DE TRANSIÇÃO INDUSTRIALIZADOS, SEGUNDO O MPN/OPAS

Os alimentos e as bebidas que devem ser avaliados conforme os critérios estabelecidos no MPN/OPAS são limitados a produtos processados e ultraprocessados, não havendo necessidade de aplicar os critérios de identificação aos produtos não processados ou minimamente processados (OPAS, 2016).

Desta forma, através da consulta da lista de ingredientes dos produtos incluídos no presente estudo foram classificados os alimentos processados como sendo àqueles produtos alimentícios e bebidas que são produzidos industrialmente usando sal, açúcar ou outros ingredientes para preservá-los ou torná-los mais palatáveis; e ultraprocessados, àqueles que possuem em sua composição substâncias extraídas de alimentos (caseína, soro de leite e proteínas isoladas) ou substâncias sintetizadas a partir de constituintes alimentares (óleos hidrogenados, amidos modificados e sabores).

Após a classificação em processados e ultraprocessados, os alimentos foram analisados, com base em 100 g do produto, e classificados quanto ao teor excessivo de sódio, de açúcares livres, de gorduras saturadas, de gorduras totais, de gorduras trans, além da presença de outros edulcorantes, segundo os critérios do MPN/OPAS (Tabela 2).

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Tabela 2. Critérios do MPN/OPAS para a identificação e classificação de produtos processados e ultraprocessados com teor excessivo de nutrientes críticos.

Nutriente critico Classificação

Sódio ≥ 1 mg de sódio por 1 Kcal

Açúcares livres ≥ 10% do valor energético total proveniente de açúcares livres Outros edulcorantes Qualquer quantidade de outros edulcorantes

Gorduras totais ≥ 30% do valor energético total proveniente de gorduras totais Gorduras saturadas ≥ 10% do valor energético total proveniente de gorduras saturadas

Gorduras trans ≥ 1% do valor energético total proveniente de gorduras trans Fonte: OPAS, 2016.

Quanto a classificação do excesso de açúcares nos alimentos, quando o rótulo não informava a quantidade de açúcares livres presentes no produto, essa análise foi realizada de acordo com o método proposto pela OPAS (2016), onde foram calculados os açúcares livres com base na proporção de 75% dos açúcares totais declarados no rótulo do produto, conforme descrito na Tabela 3.

Tabela 3. Método para cálculo de açúcares livres com base na quantidade de açúcares totais declarada no rótulo de alimentos e bebidas do produto, conforme critérios do MPN/OPAS.

Se o fabricante declara... A quantidade calculada de açúcares livres é igual a...

0 g de açúcares totais 0 g

A adição de açúcares Os açúcares adicionados declarados Os açúcares totais, e o produto faz parte de um grupo de

alimentos que não contêm ou contêm quantidade mínima de açúcares

Os açúcares totais declarados

Os açúcares totais e o produto é iogurte ou leite, com açúcares na lista de ingredientes

50% dos açúcares totais declarados Os açúcares totais e o produto é uma fruta processada com

açúcares na lista de ingredientes

50% dos açúcares totais declarados Os açúcares totais e o produto têm leite ou frutas na lista de

ingredientes

75% dos açúcares totais declarados Fonte: OPAS, 2016.

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4.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados referentes aos alimentos do tipo papas/purês de fruta ou vegetal e sopas, foram extraídos do banco de dados do aplicativo Baby Food em uma planilha no Software Excel Microsoft® e analisados estatisticamente no Software Statistical Package for the Social

Sciences (IBM SPSS®) versão 7.0 para Microsoft Windows®.

Para avaliar o perfil nutricional dos produtos foi considerada a mediana de calorias e percentual (%) de calorias em relação a energia total de gorduras totais, de gorduras saturadas, de gorduras trans, de sódio e de açúcares dos produtos alimentícios, e edulcorantes se são presentes ou não nos produtos alimentícios.

A normalidade da distribuição das variáveis foi verificada pelo do teste de Kolmogorov-Smirnov. Para avaliação das diferenças no perfil nutricional entre os grupos de alimentos foi aplicado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney. A presença/ausência de outros edulcorantes nos produtos foi avaliada pelo teste Qui-quadrado.

Os resultados foram descritos em mediana e desvio padrão para as variáveis quantitativas. As variáveis categóricas foram apresentadas por frequências pontuais e relativas. Todas as diferenças foram consideradas significativas quando p < 0,05.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período de coleta de dados, em 100 estabelecimentos comerciais de Natal-RN, foram inseridos no aplicativo Baby Food 460 produtos do tipo papas/purês e sopas industrializadas destinados a crianças de primeira infância, dos quais 27 foram incluídos e considerados para as análises no presente estudo, após a exclusão dos repetidos.

Destes, 44,4% (n = 12) foram do tipo papas/purês de fruta ou vegetal e 55,6% (n = 15) sopas. Todos os produtos foram de sabores distintos e de uma única marca disponível, e a maioria era destinado a crianças a partir de 6 meses de idade. Com relação a porção comercializada e pronta para consumo, 83,3% dos alimentos do tipo papas/purês e 60% das sopas apresentaram porção de 120 g e 170 g, respectivamente (Tabela 4).

Os achados do presente estudo diferem dos resultados encontrados no estudo Baby

Food Europa o qual coletou alimentos para bebês e crianças pequena em 516 estabelecimentos

de cidades da região Europeia. Os alimentos coletados, em sua maioria, eram do tipo purês de fruta ou vegetal e eram direcionados a crianças menores de 6 meses, tais achados não corroboram aos obtidos no presente estudo.

Tabela 4. Caracterização dos alimentos de transição industrializados destinados a crianças de primeira infância disponíveis nos estabelecimentos de coleta de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, novembro/2018 a abril/2019.

Características Papas/Purês Sopas p valor

n (%) n (%) Marca - Marca A 12 (100) 15 (100) Faixa etária < 0,001 > 6 meses 12 (100) 6 (40,0) > 8 meses 0 (0,0) 5 (33,3) > 12 meses 0 (0,0) 4 (26,7) Porção > 0,05 115 2 (16,7) 6 (40,0) 120 10 (83,3) 0 (0,0) 170 0 (0,0) 9 (60,0)

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A Tabela 5 descreve as variáveis sobre a composição nutricional dos rótulos analisados. A composição pode ser expressa “por porção” comercializada e pronta para consumo, mas o MPN/OPAS recomenda que ela seja expressa por 100 g do produto. Sendo assim, observou-se que o grupo das sopas apresentou maior valor energético (75 Kcal) quando comparado aos alimentos do tipo papas/purês de fruta ou vegetal (52 Kcal) (p = 0,003), maiores teores de proteínas (3,8 g) e sódio (91,8 mg), e foi o único que apresentou gorduras totais e saturadas de 3,0 g e 0,4 g, respectivamente. Nenhum grupo apresentou teores de gorduras trans, e as papas/purês continham teores de 12,5 g (p = 0,200) e 1,3 g (p = 0,021), respectivamente, de carboidratos e fibras.

Tabela 5. Composição nutricional dos alimentos de transição industrializados disponíveis nos estabelecimentos de coleta em Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, novembro/2018 a abril/2019.

Componentes nutricionais Papas/Purês (n = 12) Sopas (n = 15) p valor* M (DP) M (DP) Energia (Kcal) 52 (13,8) 75 (4,9) 0,003 Gorduras totais (g) 0,0 (0,0) 3,0 (0,3) < 0,001 Gordura saturada (g) 0,0 (0,0) 0,4 (0,2) < 0,001 Gorduras trans (g) 0,0 (0,0) 0,0 (0,0) - Carboidratos (g) 12,5 (3,6) 8,2 (1,3) 0,200 Proteína (g) 0,3 (0,4) 3,8 (0,7) < 0,001 Sódio (mg) 0,0 (5,2) 91,8 (56,4) < 0,001 Fibras (g) 1,3 (0,5) 1,1 (0,3) 0,021

n: Número de produtos. M: Mediana. DP: Desvio Padrão. *Teste de Kolmogorov-Smirnov. p valor: Nível de

significância (p < 0,05).

Modelos de perfil nutricional são ferramentas usadas para avaliar ou classificar a qualidade nutricional de alimentos. Esse recurso de avaliação é de suma importância, uma vez que, auxilia os profissionais de saúde como e as autoridades responsáveis na formulação e aplicação de políticas, como rotulagem específica para determinado tipo de alimento e estratégias de restrição da publicidade infantil de alimentos poucos saudáveis, por exemplo (WHO, 2015a).

Nessa perspectiva, avaliar o perfil nutricional de alimentos seguindo os parâmetros da OPAS é uma estratégia importante para analisar a qualidade nutricional de produtos comercializados ao público infantil que vêm sendo cada vez mais utilizada em estudos

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conduzidos em diversos países (LABONTÉ et al., 2017; CONTRETAS-MANZANO et al., 2018; ELLIOTT, SCIME, 2019; ANÁSTACIO et al., 2020; SCRAFIDE, GANEN, 2020).

No presente estudo os alimentos foram avaliados quanto aos limites percentuais de nutrientes críticos (sódio, açúcares livres, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans e presença de outros edulcorantes). As Figuras 2 e 3, demonstram o perfil nutricional dos alimentos infantis de acordo com os critérios do MPN/OPAS.

n: Número de produtos. %: Percentual. M: Média de percentual dos teores do nutriente. p valor: Nível de significância (p < 0,05).

Figura 2. Perfil nutricional crítico de alimentos infantis industrializados do tipo papas/purês e sopas comercializados em Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, novembro/2018 a abril/2019, segundo o MPN/OPAS.

Verificou-se que todas as sopas apresentaram excesso de gorduras totais (36,4%) visto que apresentaram valores superiores a 30% do valor calórico total provenientes de gorduras totais e 60% (n = 9) (Figura 2) delas foram excessivas em sódio (> 1,5 mg/1 Kcal). Esses altos teores de gorduras podem ser alarmantes, visto que o alto consumo de gorduras representa fator de risco para o desenvolvimento de dislipidemias e outras alterações lipídicas, e

0 83.3* 0 0 0 0 60.0* 0 0 100.0* 0 0 0 20 40 60 80 100 120

Alto em sódio Alto em açúcares livres Outros edulcorantes Alto em gorduras totais Alto em gorduras saturadas Alto em gorduras trans %

Perfil nutricional dos alimentos infantis

Papas/Purês de fruta ou vegetal Sopas

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consequentemente de doenças cardiovasculares na infância (MOZAFFARIAN; WILSON; KANNEL, 2008).

Na literatura estudos apontam que alimentos industrializados ofertado a crianças apresentam concentrações de sódio superiores as recomendadas para essa faixa etária (LONGO-SILVA et al., 2015; LEAL et al., 2015; TOLONI et al., 2014). Costa e Machado (2010), ao avaliarem o impacto do alto consumo desse mineral constataram que o consumo de alimentos com teores elevados de sódio contribui para o aumento do risco de desenvolvimento de doenças hipertensivas ainda na infância. Além disso, o sódio atua interferindo na absorção de outros minerais, como por exemplo, a perda de cálcio pela urina podendo ocasionar o desenvolvimento de outros agravos à saúde da criança (FERREIRA, 2015).

Quanto ao excesso de gorduras saturadas não foi observado teores críticos nos alimentos do tipo papas/purês, no entanto no grupo das sopas obteve-se um percentual de 0,6% do valor calórico do alimento provenientes de gorduras saturadas, mas segundo os critérios de classificação do MPN/OPAS esses produtos não foram classificados como alimentos excessivos em gorduras saturadas uma vez que o percentual foi inferior a 10%. Nos dois grupos analisados não foi observado o excesso de gorduras trans, visto que os rótulos não continham as informações sobre tal fração lipídica.

No grupo das papas/purês de fruta ou vegetal 83,3% (Figura 2) dos produtos analisados eram excessivos em açúcares livres, pois representavam 54,9% do valor calórico do alimento provenientes dos açúcares livres. Esses achados corroboram com os resultados de um estudo realizado na Europa que coletou dados de produtos direcionados ao público infantil e constatou que mais da metade das papinhas industrializadas continham, do total de calorias, mais de 30% de açúcar (WHO, 2019).

Em relação a presença de “outros edulcorantes”, não foi observada na lista de ingredientes dos produtos nenhum tipo de edulcorante. Esse achado também é importante a exposição precoce a edulcorantes a longo prazo pode ocasionar efeitos adversos a composição corporal e a microbiota intestinal, como também pode promover hábitos por alimentos com muito açúcar desde a infância (SWITHERS, 2015; REID et al., 2016). Sendo assim, evitar o consumo de alimentos que contenham edulcorantes é uma forma prudente de evitar possíveis e futuros efeitos negativos a saúde.

Os resultados do presente trabalho evidenciaram que 92,6% (n = 25) dos produtos analisados apresentaram teores excedentes de nutrientes considerados críticos pela OPAS, mostrando a baixa qualidade nutricional dos produtos que são ofertados a crianças.

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Esse achado assemelha-se aos obtidos por Giménez et al. (2017) no qual ao avaliarem o perfil nutricional de produtos destinados ao público infantil comercializados em supermercados de Montevidéu, constataram que 97% dos alimentos foram classificados como ultraprocessados e todos foram incluídos em pelo menos duas das categorias de quantidade excessivas dos nutrientes críticos pelo MPN/OPAS. Contudo, vale ressaltar que as categorias mais comuns de alimentos analisadas no estudo foram balas, chocolates, biscoito, salgados, laticínios e cereais matinais, o que difere da amostra que foi analisada no presente estudo.

Apenas 7,4% (n = 2) dos alimentos, da categoria papas/purês, foram considerados de perfil nutricional adequado segundo critérios do MPN/OPAS, uma vez que não apresentaram excesso de nenhum nutriente crítico a saúde. Esse achado corrobora com um estudo realizado no Canadá, que também analisou o perfil de nutrientes de alimentos voltados para crianças através do MPN/OPAS, e mostrou que 7,0% dos produtos alimentícios eram permitidos para comercialização, sendo esses do tipo bebidas, snacks de fruta ou molho de maçã, barras e snacks de granola/cereais (ELLIOTT, SCIME, 2019).

O atual estilo de vida da população adulta, infantil e adolescente do mundo, e o avanço da tecnologia na indústria alimentícia contribui para transição dos hábitos alimentares, fez com que houvesse uma redução no consumo de alimentos in natura e aumento do consumo de alimentos processados e ultraprocessados. Particularmente, em relação ao público infantil, a inserção desses alimentos vem sendo associado ao comprometimento da saúde ainda na infância como também na vida adulta, relacionando-se ao desenvolvimento de sobrepeso, obesidade e outras DCNTs (MOUBARAC et al., 2013; BESSERRA et al., 2019; LONGO-SILVA et al., 2015).

Acrescido aos resultados do presente estudo, os alimentos industrializados no Brasil e que são classificados como excessivos em nutrientes críticos ainda não apresentam em sua rotulagem tais especificações, diferentemente de alimentos e bebidas comercializados no Chile. A lei chilena da rotulagem frontal obrigatória foi a primeira a ser implementada no mundo e vêm fazendo com que outros países se adequem e introduzam modelos semelhantes quanto a presença de altos teores de nutrientes críticos para a saúde (MINISTÉRIO DE SALUD, 2015). O perfil nutricional da OPAS possui critérios para definir quais quantidades representam uma excessiva quantidade de sódio, açúcar, “contêm adoçantes” ou “contém gordura trans”, entre outros e recomenda que ícones de advertência estejam presentes na parte superior das embalagens frontais (OPAS, 2016). Conforme essas orientações, no Brasil a ANVISA aprovou recentemente a inclusão obrigatória e visível de selos nutricionais frontais

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de advertência destacando o alto teor de nutrientes críticos presentes nos alimentos industrializados (BRASIL, 2020).

Um estudo realizado com mães chilenas de crianças e adolescentes, demonstrou a eficácia do novo modelo de rotulagem frontal sobre a forma como essas mães passaram a entender melhor a qualidade nutricional dos alimentos escolhidos para compor a alimentação dos seus filhos. A nova proposta foi compreendida por mais de 90% das participantes do estudo as quais disseram entender e valorizar a presença dos símbolos nos alimentos e cerca de 50% alegaram fazer uso dessa informação para distinguir alimentos saudáveis dos não saudáveis no momento da compra (CORREA et al., 2019). Assim, espera-se que com a aplicação da nova regulamentação nos rótulos de produtos industrializados destinados a alimentação infantil, os pais e responsáveis possam realizar escolhas alimentares mais conscientes e saudáveis dos produtos que irão compor a alimentação de suas crianças.

Vale lembrar também que apesar da facilidade e praticidade que os alimentos industrializados oferecem, a alimentação complementar adequada para lactentes e crianças de primeira infância deve ser a mais natural possível sendo baseada em alimentos in natura ou minimamente processados, segundo as recomendações do Guia Alimentar Para Crianças Menores de Dois Anos (BRASIL, 2019).

Embora muitos dos estudos discutidos no presente trabalho tenham sido desenvolvidos em outros países, a partir dos resultados deste trabalho podemos observar que a realidade brasileira não é muito diferente. Os achados deste trabalho são de grande relevância pois apresentou resultados esclarecedores sobre o perfil e qualidade nutricional de alimentos comercializados ao público infantil.

Contudo, pensar que não são apenas os alimentos analisados no presente estudo que fazem parte da alimentação de crianças na primeira infância, desperta a necessidade de posteriores desenvolvimento de estudos que ampliem e contribuam as evidências sobre o perfil nutricional de outras categorias de alimentos destinados a alimentação infantil, uma vez que no presente trabalho avaliou-se apenas duas categorias desses alimentos.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nem todos os alimentos industrializados específicos para o consumo por lactentes e crianças de primeira infância são a melhor opção. O desenvolvimento saudável da criança depende de que o AME seja oferecido até o sexto mês e a partir dessa idade, complementando o leite materno, seja ofertado outros alimentos, priorizando os in natura e minimamente processados, seja iniciada a partir dos seis meses.

Nesse sentido, a partir dos resultados obtidos no presente estudo e respondendo à pergunta inicialmente proposta no título: a oferta dos alimentos infantis comercializados não é saudável, segundo critérios da OPAS, principalmente se estejam presentes frequentemente na alimentação das crianças, visto que possuem excesso de pelo menos um nutriente crítico em ambas as categorias de alimentos analisadas, destacando-se o excesso de sódio, açúcares livres e gorduras totais.

Portanto, é importante o desenvolvimento de ações de educação nutricional com pais e responsáveis para desestimular o consumo frequente de papas/purês e sopas industrializadas, e priorizar a oferta de refeições preparadas com alimentos in natura e minimamente processados, proporcionando assim a familiarização da criança com os alimentos e diminuindo o consumo frequente de alimentos industrializados na primeira infância. Além disso, ressalta-se a necessidade de que os órgãos públicos competentes fiscalizem a rotulagem dos alimentos destinados a alimentação infantil e que a indústria alimentícia forneça alimentos com menores teores de nutrientes críticos prejudiciais à saúde.

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REFERÊNCIAS

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